Nota da autora: O outtake de UCP2 "Três dias" foi finalizado e estará disponível (com ilustrações SessRin) a partir de 25/02 (que foi o dia que a organização da antologia estabeleceu para publicação em outros lugares). Quem tiver interesse em ler, entre em contato por aqui porque eu não poderei postar no site :)

Obrigada a quem está lendo e comentando.


UM CAMINHO PARA DOIS

CAPÍTULO 28

O caminho de não retorno – parte I

Rin abriu os olhos lentamente, piscando com suavidade ao tentar reconhecer o lugar onde estava.

Franziu a testa e sentou-se lentamente na cama. Era estranho ver-se no apartamento de Tokyo, de yukata e tudo, não tendo a mínima lembrança de como havia chegado lá. Notou que já havia amanhecido e a cortina da pequena varanda estava parcialmente aberta para permitir que luz natural entrasse no ambiente.

Quando foi que eu...?

Recordava-se vagamente de ter ido a uma papelaria, de ter falado com algumas pessoas, mas não de pegar o trem de retorno e chegar à estação. Teve uma conversa com Eri, com o pai, com a mãe, falou por telefone com Sesshoumaru, com o primo Jakotsu e com...

Deitou novamente a cabeça no travesseiro e sentiu os olhos marejados, encolhendo-se na cama.

Hashi...

Havia tido uma discussão com o irmão. E ele falou não queria mais vê-la e cortou relações.

Fez contornos com a ponta do dedo no lençol da cama. As palavras duras de Hakudoushi ainda ecoavam na memória. Já haviam tido outras brigas antes, principalmente por ele exercer o papel de irmão mais velho, mas era a primeira vez que se sentia extremamente magoada.

De repente, ouviu um barulho na cozinha – uma porta da despensa abrindo e alguém mexendo nas xícaras e nos pires. O cheiro de café também ficou forte.

Levantando-se, andou lentamente até a local, já sabendo quem estava ali.

Sesshoumaru estava de costas para ela, enchendo uma xícara com café na bancada da pia e recolocando a jarra de vidro na cafeteira. Depois começou a procurar o açúcar nos pequenos potes sortidos que estavam arrumados ali, provando alguns goles mesmo antes de começar a adoçar.

Pareceu ter sentido a presença dela, pois parou o que fazia e olhou por cima do ombro para vê-la com o yukata que ficava enorme nela.

Deixou o pote de açúcar na pia e virou-se para encará-la. Não demonstrou nenhum tipo de emoção. Nem iria falar algo como "eu avisei". Ele já sabia como ela estava se sentindo.

Ficaram naquela troca de olhares enquanto ele calmamente levava a xícara aos lábios:

— Eu falei a Kaede que iríamos mais cedo hoje para tomar café. Você pode se arrumar logo?

O tom era sério e o rosto sem qualquer expressão, como se nada tivesse acontecido na noite anterior. Ele havia dormido pouco, acordando de vez em quando para verificar se ela estava realmente bem. Algo desnecessário, pois Rin dormiu profundamente, sequer falando alguma coisa relacionada a comida.

E ela, sentindo-se como uma criança prestes a receber um sermão, baixou o rosto e fez sim com a cabeça.

— Deixei suas coisas no carro. – ele falou, por fim – Posso subir tudo depois.

Dito isto, ele virou-se para terminar de procurar o açúcar e provar o café, observando pelo canto dos olhos o movimento de ir e vir de Rin do quarto ao banheiro até terminar de se arrumar em poucos minutos.


No carro, a situação não era muito diferente no trajeto até a casa de Sesshoumaru. Ele dirigia sem dizer uma única palavra; ela também não se sentia incentivada ou tinha qualquer desejo de conversar.

Ao lado dele, Rin subiu os pés no banco e abraçou as pernas, apoiando um lado do rosto nos joelhos. Observava indiferentemente a paisagem mudar pela janela, notando os galhos secos das árvores durante o inverno.

— Você sabe que vamos ter uma longa conversa sobre o que aconteceu, não é? – ele falou de repente num tom suave.

Rin não respondeu e nem virou o rosto, e ficou daquele jeito até chegar à propriedade da família Taisho.

Quando Sesshoumaru estacionou, ela saiu do carro e ajeitou-se: ajustou o casaco, ergueu a cabeça, endireitou as costas, posicionou as mãos na frente do corpo.

Sentiu a palma quente da mão de Sesshoumaru tocá-la suavemente no fim das costas e guiá-la do jardim até a entrada da casa, onde foram recepcionados por um Jaken com vários gestos efusivos, como habitualmente acontecia.

— Bem-vind...

O mordomo baixinho demorou o olhar por alguns segundos em Rin. Ela parecia normal, mas tinha certeza que não estava nada bem, apesar de estar apresentável como sempre e extremamente elegante com um casaco de tweed. Geralmente estava sempre sorrindo, contrastando com o rapaz que sempre a acompanhava como um cão de guarda.

— Jaken. – Sesshoumaru o chamou enquanto terminava de tirar o casaco e pendurá-lo, ajudando Rin a tirar o dela segundos depois.

Ajeitando a postura, ele fez apenas um gesto na direção da sala onde faziam as refeições.

— Perdão. Bem-vindos de volta. O café da manhã já está servido, Sesshoumaru-sama. Rin-sama.

Rin piscou um pouco sem reação. Por que ele havia mudado o tratamento? Ela já havia falado para chamá-la de Rin-chan.

— Venha, Rin. – Sesshoumaru já estava andando na direção indicada.

No recinto, encontraram a mesa apenas com Kaede servindo-se de chá verde e bolinhos de kobachi.

— Ah, vocês chegaram. – ela comentou com aparente surpresa, pousando o copo de cerâmica num pires – Achei que viriam mais tarde.

— Bom dia, Kaede-sama. – Rin curvou-se brevemente.

A idosa a observou por alguns segundos, voltando a tomar o chá e fazendo um sinal breve com a cabeça.

Nenhum dos dois comentou uma palavra enquanto assumiam os lugares. Kaede também estava confortavelmente quieta, sorvendo o chá com um pequeno sorriso. Era o tipo de tranquilidade que qualquer um invejaria e que Rin precisava no momento.

Jaken trouxe a refeição e Sesshoumaru e de Rin separadamente.

— Obrigada pela refeição. – ela murmurou, pegando a tigela de misô com soba.

Os três faziam as refeições em silêncio até Bokuseno aparecer no recinto, confortavelmente em roupa social azul escura dentro de casa. Sesshoumaru franziu a testa, obviamente intrigado com a presença do outro.

— Bom dia a todos. – ele saudou e fingiu surpresa – Ah, olha só quem está aqui... Bom dia, Rin-chan.

— Você esperou Rin chegar para descer? – Sesshoumaru estreitou de leve os olhos, mas a voz não tinha tom de ameaça.

— Mas hoje é sábado. Por que eu iria acordar cedo? – ele se acomodou confortavelmente na cadeira da ponta da mesa.

— Você não ia praticar Tai Chi Chuan com o grupo da quarta idade no templo Higurashi hoje? – o neto perguntou.

— Ei, esse grupo nem existe. – ele parecia extremamente ofendido, completando depressa meio timidamente – Só vai até terceira idade, tá?

— Ele soube que Rin viria hoje e resolveu faltar ao exercício. – Kaede explicou entre um gole e outro do chá.

— Vocês achavam mesmo que eu não iria tentar encontrar a minha jogadora de go?

O "minha" da sentença do avô por pouco não fez Sesshoumaru rosnar. Aquela provocação havia começado semanas antes e o rapaz percebia claramente o quanto o outro estava se divertindo em tentar ser mais agradável com Rin depois do desastroso jantar de aniversário.

— Vamos jogar go depois daqui. – Bokuseno avisou como uma ordem, batendo palmas decididamente – Hoje tenho uma jogada sensacional que vi no livro "Ataque e Defesa de Go".

— Rin não veio para jogar. – Sesshoumaru explicou.

— Você a quer só pra si, Sesshoumaru. Tente ver que ela vai ficar bastante tempo longe da família e só com você em Tokyo.

Rin remexeu-se inquieta com a observação e Sesshoumaru continuou lançando um olhar estreitado na direção do idoso.

— E-Eu não vejo problema. – ela falou educadamente. No fundo, ela não queria mais causar brigas de qualquer espécie – É bom, ajuda a pensar.

Os olhares se voltaram para ela, inclusive o do namorado. Ela forçou um sorriso e engoliu em seco.

— Isto é, se não houver problema. – ela tentou mais uma vez usar um tom tranquilo, embora não se sentisse tanto assim por dentro.

Nenhuma briga mais de qualquer espécie.


Sesshoumaru reprimiu um suspiro cansado para que os outros não notassem. Por fora parecia tranquilo como sempre, mas por dentro ele queria entrar no quarto e descansar. Não necessariamente para dormir, mas aproveitar a privacidade para conversar com Rin e saber o que havia acontecido.

Naturalmente que, depois do café, o avô arrastou a namorada para a biblioteca para jogar. Normalmente faziam isso depois do jantar, bebendo um pouco de vinho, mas, justo quando queria ficar sozinho com ela, apareceu aquela figura que nem era para estar ali.

— Que bom que o seu pai está bem, então. – ele comentou ao mover uma peça preta – Por quanto tempo ele ficará de recuperação?

— Uns seis meses... – ela respondeu forçando o interesse na conversa, movendo uma peça na vez – Não sei ao certo.

— Oh, é um tempo razoável. Vai passar rápido e logo poderá visitá-lo de novo. Sua família virá para a formatura, mesmo assim?

A mão de Rin estremeceu e até mesmo Sesshoumaru ficou incomodado com aquela questão levantada. Como ficaria essa parte? Rin queria muito que eles viessem para a celebração e ela contava também viajar com ele para Nagoya para passar alguns dias.

Uma jogada errada por parte dela, ainda desconcentrada com aquela pergunta, fez com que Bokuseno sorrisse em triunfo ao fazer a própria jogada.

— Eu não sei se alguém virá agora.

— Entendo. É compreensível depois de um acidente desses... Pelo menos o seu irmão vem?

Outra vez Rin errou a jogada e foi a vez dela de esconder um suspiro para não parecer mal educada.

— Não tenho certeza. – ela forçou um sorriso enquanto tentava consertar o erro e evitar pensar no irmão ao mesmo tempo.

Os olhos do idoso não saíam de cima dela. Era óbvio que percebera que havia um problema a cada vez que mencionava algo relacionado à família ou à viagem.

— Ooops... – ele murmurou quando uma peça dele caiu dentre o polegar e o indicador e foi parar aos pés de Rin – Desculpe por isso.

— Sem problemas. – ela murmurou sem emoção e abaixou-se.

Foi então que Sesshoumaru viu o avô pegar duas peças brancas e uma negra e guardar depressa dentro do bolso da calça, olhando para o lado esquerdo como se fingisse estar distraído.

A ação não durou nem três segundos. Rin voltou à posição normal e franziu a testa ao olhar o tabuleiro. Inclinou a cabeça para um lado, depois para o outro, analisando as peças.

— Eu ganhei? – ela perguntou num tom quase de afirmação ou de incredulidade. Tinha sido ruim o jogo inteiro, desconcentrada em todos os lances. Nem as jogadas favoritas haviam funcionado em alguns momentos.

— Não havia percebido? – Bokuseno perguntou em tom de surpresa – Está distraída hoje para deixar passar uma dessas, Rin-chan.

— Hmm... – ela baixou o rosto. Estava ainda intrigada com aquilo.

— Vamos, Rin. – Sesshoumaru se levantou e estendeu a mão para ela para que se levantasse, como sempre fazia.

A garota fez uma curta reverência e viu Bokuseno acenar até o momento em que eles saíram pela porta, quando baixou a mão e assumiu uma expressão preocupada.


Sesshoumaru a guiou da biblioteca até o quarto dele segurando-a pela mão, percebendo, a uma distância segura, que ela apertava os dedos dele para chamar a atenção.

— Acho que seu avô trapaceou. – ela falou timidamente.

Quando pararam na frente do quarto, Sesshoumaru abriu a porta e deu passagem. A pergunta saiu depois num tom calmo e suave:

— Como ele pode ter trapaceado se você ganhou?

— Hmm... – ela olhou pelo canto dos olhos de um lado a outro, pensativa – Eu não tinha notado a posição de algumas peças.

— Você pode jogar com ele mais uma vez depois para se certificar. Mas você sabe como ele é extremamente competitivo e poderia aproveitar alguma distração sua para vencer. – tentando encerrar a conversa, ele estendeu a mão para que ela aceitasse – Venha.

Caminhando até a cama de mãos dadas, Sesshoumaru sentou-se na beirada enquanto ela decidiu deitar-se de lado. Alguns segundos se passaram e ele a imitou, deitando-se também para poderem ter uma conversa cara a cara.

Ficaram algum tempo em silêncio, com ele tirando algumas mechas do cabelo negro da vista para colocar atrás da orelha dela. Havia um pouco da melancolia que ele vira naquela hora que a encontrou naquele vagão de trem.

— O seu avô fez alguma coisa com as peças, né? – ela sussurrou tristemente.

Sesshoumaru continuou colocando atrás da orelha o cabelo tão teimoso quanto a dona, de quando em quando enrolando os fios nos próprios dedos:

— Creio que ele percebeu que você estava chateada e não quis se aproveitar disso.

Ouviu um suspiro por parte dela e a pergunta que ele queria fazer desde o dia anterior veio naquela hora:

— Vai me contar o que aconteceu?

Rin deu um sorriso triste e desencontrou o olhar do dele.

— Meu irmão disse que não quer mais me ver.

Como ela não continuou com a história, ele tentou ajudá-la a falar:

— Por que você decidiu ficar aqui?

Rin franziu o cenho como se aquilo a ajudasse a pensar na melhor resposta.

— Mais ou menos.

— Não existe mais ou menos, minha Rin. – ele falou suavemente – Ou foi isso ou não foi.

— Ele disse que eu não me importo com nossa família... – os olhos dela marejaram ao fazer a revelação – Que eu esqueci nossos pais e o Aki e por isso não vou prestar homenagens.

Patético. Miserável. Imbecil, Sesshoumaru pensou sob uma faceta de indiferença.

Rin fez desenhos imaginários com a ponta dos dedos no espaço entre eles.

— Hashi nunca aceitou minha vinda pra cá. Acho que tem a ver com isso de ficar perto da nossa família e porque a capital é mais perigosa...

Sesshoumaru não revirou os olhos por educação, também jamais faria aquilo na frente de Rin. Mas internamente perguntava-se em que mundo paralelo aquele rapaz vivia para achar que os moradores da capital viviam constantemente em perigo. A julgar pelo que Rin contava sobre pequenos incidentes que já tivera, ela estava até mais segura em Tokyo do que em Nagoya.

—... mas agora ele disse que não queria mais me ver e cortou relações comigo... – ela completou tristemente e desolada – O meu próprio irmão disse que não quer mais me ver.

Hakudoushi deve ter percebido que ela pode escolher um caminho diferente do que ele queria e decidiu apelar.

Os planos dela eram tão diferentes no começo... E agora ela estava ali na mesma cama que ele sofrendo por causa de uma decisão que beneficiaria a ambos – principalmente a ele.

— E o que você vai fazer? – os dedos dele tocaram novamente as mechas para tornar a colocá-las atrás da orelha – Vai querer voltar?

Demorou um tempo até Rin entender o que ele queria dizer: "voltar" para Nagoya, no caso. Ficar com a família. Fazer a vontade do irmão.

— Por que eu iria voltar? Eu já disse que quero tentar uma carreira aqui e ficar com você.

— E como ficará essa situação entre você e seu irmão?

— Só queria que ele não pensasse que esqueci os outros... Nossos pais... Aki... – ela fez um beicinho infantil, um lábio ficou trêmulo – Eu não sou assim.

Idiota, ele continuou a xingar o outro em pensamento.

— Hmm... Sess?

Com o olhar, ele perguntou o que mais ele queria falar.

— Obrigada por me buscar e cuidar de mim... – ela sussurrou – Eu conversei muito com meu primo. Ele me fez ver que o que eu faço com você não é muito saudável.

— "Não é saudável" em qual sentido? – ele estreitou de leve os olhos.

Notou que Rin estava novamente com aquela mania terrível que pensava ter perdido – o de não olhar diretamente para ele e falar girando o canto dos olhos de um lado a outro. Ela havia deixado de fazer aquilo por um tempo.

— Eu devia conversar mais com você antes de tomar uma decisão... Não ter saído tão depressa pra Nagoya. Você não gosta quando eu vou pra lá, né?

— Não. – ele falou num tom sincero, suave e direto, voltando a tirar o cabelo rebelde do rosto dela – Não gosto.

— Jakotsu falou que quero largar tudo pra cuidar dos outros. Mas eu fico preocupada com meu pai... Ele já está velhinho e esse acidente me deixou preocupada... Mas eu não ia ficar muito tempo, queria só...

A mão dele, quente, voltou a tocar o rosto de Rin, interrompendo o pensamento dela.

— Hm... Pra ficar aqui, eu vou continuar preocupada com minha família. Com minha mãe também. E... E com Hashi também.

É claro que vai continuar se preocupando com o energúmeno do irmão, ele pensou enquanto deslizada o polegar pela maçã do rosto dela.

— Você prefere ficar com eles e nos encontrarmos nos fins de semana aqui ou lá?

Rin pareceu surpresa com a pergunta dele. Depois, sentando-se na cama, balançou a cabeça com força para os lados para negar.

— Quero ficar aqui. Já me decidi. Antes eu vim pra cá pra fugir de algumas coisas, mas agora quero ficar com você.

— E a sua família?

— Hmm... eu...

Antes que ela começasse aquela mania horrível de olhar confusa para os lados, ele, ainda deitado, voltou a tocar o rosto dela para fazer com que os olhares se encontrassem.

— Eu não sei o que fazer. – ela falou por fim, deitando-se novamente.

— Neste caso... – ele começou suavemente – Você tem que se planejar da mesma forma que fez quando decidiu vir pra cá. Você não se planejou para um ano? Pode se planejar para mais dois.

Isso se ela não arranjasse um emprego permanente aqui, ele pensou rápido com certo egoísmo. Ele não queria que ela fosse embora, mesmo tendo uma casa em Nagoya e um emprego garantido na família, mas se fosse o caso...

O rosto de Rin suavizou as linhas mais duras e preocupadas e ela confirmou com a cabeça.

— Você tem que sentar e se planejar. Ver o que é melhor neste caso. – ele tomou cuidado na escolha das palavras, resolvendo deixar mais claro ainda – Eu gostaria que você ficasse aqui porque vejo que você fica bem comigo.

— Eu também gosto da minha vida aqui. – ela falou timidamente – Eu pensei antes que não iria gostar.

— Você não gostava de nada do começo. – ele a corrigiu enquanto deslizava suavemente os dedos pelos contornos da orelha – Era uma reclamação atrás da outra. Eu me perguntei várias vezes se era tão ruim assim quando eu queria tanto que gostasse daqui.

Rin corou quando as lembranças de quando se conheceram voltaram. Houve um dia que ela estava tão chateada por causa da mão machucada que ela fez as malas e ele esteve com ela o tempo todo, inclusive falando que ela deveria fazer o que a fazia sentir-se bem.

— Você poderia visitar seus pais com regularidade. – ele sugeriu. Agora deslizava um dedo pelo lábio inferior dela – Fins de semana, por exemplo. Ou sempre que quisesse. Ficar aqui não significa que vai deixar de lado a sua família. Você está fazendo isso por eles também e seu irmão deveria entender isso.

Rin continuou triste, apenas sentindo a carícia da mão dele pelo rosto: maxilar, toques na orelha, no queixo, nos lábios.

— Eu não gosto de ir a cemitérios. – ela continuou com o desabafo – Não fui ao funeral do Aki pra me despedir. Eu não acho isso ruim, mas eu sinto que todo mundo me julga por isso. As pessoas deveriam entender que não me sinto bem e nem vejo sentido.

— Você falou que ainda faz terapia em Nagoya. – ele começou – É ainda para tratar disso?

Sesshoumaru sentiu que ela ficou tensa sob o toque dele, depois viu uma leve confirmação de cabeça.

— Sabe que pode continuar fazendo aqui isso, não?

— Eu só quis evitar trazer alguns problemas pra cá.

— Como a caixa preta. – ele contornou a cicatriz dela ao lembrar-se da explicação que ela deu – Você não pode fazer isso. Vai ter que lidar com isso o quanto antes. Não pode fazer isso de classificar e separar os seus problemas em Nagoya e Tokyo.

A mão dela segurou a dele e o impediu de continuar tocando o local.

— Eu sei... – ela entrelaçou os dedos com os dele – Eu só achei que era bom deixar isso de lado por um ano que eu estivesse aqui.

— Mas você não vai mais ficar apenas por um ano. – ele apontou.

Rin deixou escapar um suspiro.

— Vou procurar um e marcar uma consulta.

Sentiu-se envolvida pelos braços dele e ficou fechou os olhos.

— Falei que você passaria o fim de semana aqui. – ele comentou – Mas vi que tem muita coisa para resolver.

Rin aproveitou para tentar contornar os braços no corpo dele para retribuir o abraço.

— Você pode me levar pra casa amanhã? Tenho medo de ter perdido muita coisa de alguns seminários. Vou pedir ajuda a Sango-chan.

— Você também pode pedir ajuda para mim. – ele soou um pouco ofendido por não ser a primeira pessoa em quem pensou naquela situação.

A garota afastou-se um pouco e franziu a testa.

— Eu sei que está cansado. Só não queria dar mais trabalho. Acho que você pode acabar se cansando de mim por causa desse monte de coisa que tenho pra resolver.

Novamente ele a envolveu nos braços depois de soltar um discreto "hunf".

— Não seja tola. – disse, por fim.

Maldito seja, Hakudoushi.


O caminho de vinte minutos que Rin percorria do apartamento até a universidade era relativamente tranquilo, exceto pelo caso de ciclistas que não respeitavam a faixa e entravam no caminho dela e a fazia desviar aqui e ali para não ser atropelada.

De meia calça preta, saia preta até os joelhos, casaco de tweed abotoado até o pescoço, com o echarpe e as botas preferidas completando o visual do dia, ela revisava mentalmente a agenda do dia a caminho da faculdade para encontrar o orientador e rever as tarefas do estágio.

Outro ciclista passou repentinamente na frente dela, sem buzinar, e ela esqueceu no que estava pensando antes porque estava ocupada imaginando-se furando o pneu da pessoa.

Tirando aqueles incidentes, era um caminho tranquilo e sentia-se tranquila para andar sozinha e ver um conhecido aqui e ali, como o orientador de estágio dela, que naquele momento estava beijando alguém à sombra das árvores e...

Rin estancou e voltou dois passos para olhar mais atentamente ao canto onde um homem e uma mulher se beijavam.

E não era qualquer casal: era o orientador Hosogawa com Asano Sara.

O choque foi tão grande que ela ofegou alto e quase foi ouvida, tendo que tapar a boca depressa. Correu para se esconder atrás de outra árvore, conseguindo ver, esticando o pescoço, o desenrolar daquela cena com ávida curiosidade.

É Hosogawa-sensei e Sara! Sara e Hosogawa-sensei! Hosogawa-sensei e Sara!, ela pensava em choque, a mão tentando fechar a boca aberta com a visão.

Não parecia ser algo engraçado. Era algo realmente tão inesperado que ela agora estava confusa e sem saber o que fazer.

Acreditando ter ouvido alguma coisa estranha, o professor e a estudante pararam de se beijar e olharam para os lados para procurar um possível observador, tendo Rin que voltar a se esconder. Estava tão assustada que tapou a boca com força para que não ouvissem a respiração ofegante.

— Acho que ouvi alguma coisa. – ele falou.

Ficou em silêncio e esperou. Esperou e esperou.

Minutos depois, não sabia quanto ao certo, Rin arriscou a novamente esticar a cabeça e olhar ao redor.

Os dois já haviam ido embora e ela viu-se sozinha e livre para prosseguir andando até a universidade.

Hosogawa-sensei e Sara! Juntos! Juntinhos! AAAAHHHH!

— O que eu faço? O que eu faço? O que eu façoooo? – ela murmurou apenas para ouvir o próprio pensamento.

Pelo horário, sabia que Sesshoumaru já estaria lá. Ela precisava conversar com alguém a respeito do que tinha visto.

Hosogawa-sensei e Sara! Aos beijos! AAAAAAAAHHHH!


Sesshoumaru olhou o horário no celular mais uma vez antes de mentalmente calcular o tempo e as atividades que tinha planejado para aquele horário antes dos próximos compromissos. Ele tinha uma parte das coisas pessoais para arrumar em caixas na sala do Centro e depois...

— Sess?

O rapaz parou e olhou para o lado onde ouvira aquela voz inconfundível.

Viu Rin meio vermelha, meio constrangida ali na parede que levava a outro corredor, o corpo ainda escondido e apenas o rosto aparecendo.

— Você está chegando ou está saindo? – ela perguntou num sussurro.

Piscando, ele tentou entender o que ela queria dizer, até dar-se conta que ela parecia assustada e queria entrar na sala também, como se quisesse se esconder.

— Estou chegando. Vim pegar minhas coisas.

— Hm... – viu-a olhar receosa para trás e para os lados – Será que eu posso ficar com você aí?

Já um pouco preocupado com aquela pergunta que mais parecia uma súplica, ele abriu a porta oferecendo passagem, o que ela rapidamente aceitou ao entrar quase correndo.

Olhando para trás para tentar ver se havia alguém atrás dela e não encontrando ninguém, ele entrou e trancou a porta. Depois andou até a grande mesa e, apoiando-se de costas no móvel, ele abriu os braços para recebê-la, sentindo o queixo tocar o topo da cabeça dela.

— O que aconteceu? – ele perguntou suavemente contra o cabelo negro – Não teve estágio de novo?

Rin ergueu o rosto e ele a viu com os olhos estranhamente arregalados e assustados.

— E-Eu não fui trabalhar ainda.

Sesshoumaru franziu a testa.

— Está atrasada, não?

Rin olhou de canto para um lado, depois para o outro. Estava pensando se valia mesmo a pena contar o que vira.

— Hm... eu vim andando por aquele atalho e...

Houve uma pausa prolongada e dramática, mas ele não se irritou com aquilo.

—... "E"? – tentou ajudar.

— E... E eu vi... O Hosogawa-sensei. E a Sara.

Sesshoumaru pacientemente esperou pela continuação. O que quer que fosse havia deixado Rin daquele jeito. Ela não ficaria assim só por ver o próprio orientador.

— Eles estavam juntos. Juntinhos, sabe? Estavam se beijaaando. – ela revelou com o rosto levemente corado e prolongando uma das sílabas com um forte sotaque, olhos arregalados pela revelação.

Por um momento, ela não conseguiu ler a expressão de Sesshoumaru porque ele não parecia tão surpreso quanto ela. Mas, normalmente, nada era impressionável para ele.

Até que ela entendeu que ele estudava as feições dela, como se aquilo ajudasse a entender o que havia se passado, e só depois e que ele ergueu um pouco uma sobrancelha e os cantos da boca ergueram.

— Ohhh? – ele perguntou num tom de relativa curiosidade para entender aquela história.

Siiiim! – ela confirmou com a cabeça com muita ênfase – Beijando de boca! Eu vi! Tive que me esconder pra não me verem!

Sesshoumaru franziu a testa.

— Eles não estavam conversando muito próximo um do outro? Falando alguma coisa perto do ouvido dela?

Nãããão! – ela balançou com força e exageradamente a cabeça para os lados – Eles estavam se beijando muito! Eu fiz um barulho quando me escondi e eles pararam pra ver se não tinha alguém por perto! Tenho certeza que eles têm a mesma coisa que nós! Acho que eles estão namorando mesmo!

O rosto dele ficou ligeiramente sombrio.

— Este Sesshoumaru duvida muito que esses dois compartilhem a mesma coisa que nós temos.

O rosto dela ficou mais rosado ainda.

— Diga-me... Como exatamente eles estavam se beijando, minha Rin?

Os olhos dela deixaram de fitá-lo para descer e observar a boca, depois retornaram para o olhar habitualmente sério de Sesshoumaru.

Na ponta dos pés, ela aproximou o rosto e beijou o maxilar, quase o canto da boca, para dar o exemplo.

— Só isso? – ele ergueu uma sobrancelha quando ela se afastou, o rosto ainda sério – Não é sequer um beijo. Talvez você tenha se enganado.

Novamente, ela esticou-se na ponta dos pés, encostando a boca na dele. Primeiro mordiscando o lábio, depois ousando deslizar a língua para encontrar a dele naquele primeiro beijo desde que ela voltara para a cidade.

Sesshoumaru rosnou baixinho e ela gemeu.

Rin sentiu a palma dele às costas para puxá-lo para si, ficando ainda mais acomodada entre as pernas dele, mal percebendo quando a mão subiu pelas costas e alojou-se na nuca para orientar o movimento da cabeça, guiando o beijo.

— Hmm... Sess... – ela sussurrou e voltou a ser calada por ele.

Pode até ser que ela tenha iniciado, mas era evidente que ele queria mostrar que desejava mais.

Eventualmente, o ritmo diminuiu até cessar, com Rin passando de leve a língua entre os lábios para umedecer – ou provar o que ainda tinha ali.

Ao afastarem os rostos, ela continuou com o rosto próximo ao dele, aninhando-se no peito.

— Não foi tão forte quanto esse... mas algo assim. – ela falou timidamente.

— Ainda tenho minhas dúvidas. – ele deslizou os lábios nos dela apenas para mordiscá-los, deslizando a boca pelo maxilar e alojando-o no pescoço – O que temos é muito diferente do que esses dois escondem. Sem os mesmos problemas que eles terão.

— Eu ainda não acredito. – ela murmurou ainda preocupada – Coitada da esposa dele.

— O casamento vai ser a menor das preocupações dele depois que descobrirem que está tendo um relacionamento com uma estudante, minha Rin. Orientanda do estágio, ainda por cima.

— Não pode? – ela parecia mais assustada ainda.

— Claro que não. Tenho certeza que em Nagoya também não aceitariam algo assim. É caso de processo administrativo. Ele pode inclusive ser demitido.

— Oh... hmm... agora que você falou, eu acho existe isso também. – Rin ficou pensativa – Eu nunca entendi por que ele veio pra cá. A família dele é muito conhecida.

— Hunf. – ele tinha uma leve suspeita agora que ela mencionou. Muito provavelmente aquele professor já tivera alguns casos na outra cidade – Ele era primo dele, não?

-Sim... eram primos... – ela sussurrou enquanto pensava e perguntava tanto para ele quanto para si mesma – Será que começou há muito tempo mesmo? Ou teve outras antes?

Intimamente, Sesshoumaru sentia-se aliviado por Rin ter tido tão pouco contato com alguém que parecia um predador. Ele já havia achado estranho aquele professor não ter feito nenhum tipo de seleção e ter simplesmente convidado quem ele quisesse para trabalhar com ele.

— Hmm... Sess... – ela começou não tão timidamente, mas um pouco preocupada. A testa estava franzida e a voz tinha um tom hesitante – Eu marquei uma consulta com uma terapeuta que Sango-chan recomendou. Eu vou hoje depois do estágio... Você vai mesmo comigo?

Sesshoumaru inclinou o rosto e estreitou de leve a testa.

— Sim. Vou terminar de arrumar as caixas com as minhas coisas daqui e espero você perto da sala.

Rin deu um sorriso em agradecimento meio triste, meio preocupado.

Depois, processando o que ele falou, olhou ao redor e notou os livros arrumados em duas pilhas e uma caixa em cima da mesa.

— Ué, mas por quê?

— Eu vou sair do comando agora que estamos perto de formar. Outras pessoas vão assumir agora.

— Oh. – ela havia esquecido que aconteceria uma outra eleição antes do fim do curso. E ficou tão desligada dos demais eventos da faculdade e preocupada com os estudos que nem procurou se informar ou perguntou para Sesshoumaru a respeito daquilo.

— O que foi? – ele notou a preocupação dela.

— Pensei que você falaria alguma coisa sobre isso... Mas acho que eu não ia ser de muita ajuda mesmo... – ela voltou o rosto para o lado – Desculpe.

— Eu não vou demorar com isso. – ele explicou – Não preciso de ajuda.

— Hmm... – ela deslizou o dedo pelo lábio dele – Eu tenho um pedido...

Com os olhos, ele perguntou o que era.

— Você pode passar a noite no meu apartamento? – ela pediu num fio de voz – Eu não queria ficar sozinha hoje.

Sesshoumaru ergueu uma sobrancelha, depois moveu a cabeça num "sim".

Rin ficou novamente na ponta dos pés para beijar um lado do rosto dele.

— Sua lembrança de Nagoya veio na mala. Acho que foi meu primo quem colocou. – ela ajeitou distraidamente a gravata como sempre fazia – Outro globo com neve pra enfeitar sua mesa.

Alguma coisa o incomodou na mente, mas ele deixou de lado por alguns minutos.

— Eu passo a noite sim. Vai querer jantar fora?

Rin corou e fez "não" com a cabeça.

— Eu prefiro ficar com você em casa. Posso preparar o jantar.

Obviamente ele aceitou o convite, por mais que não estivesse ainda acostumado a ter refeições sem carne. Mas entendia que ela queria ficar sozinha com ele e não fazer a costumeira saída com os amigos dela.

— É melhor você ir para o seu estágio. – ele avisou – Nós nos encontramos depois.

Mais um beijo no rosto dele e ela afastou-se e deu as costas depois de alguns passos, andando até a porta.

— Rin. – ele a chamou.

Viu-a parar e olhar por cima do ombro.

— Antes de entrar na sala, bata na porta.

Confusa, ela franziu a testa.

— Do seu orientador. – ele explicou com calma – Eles não sabem ainda que você retornou. Antes de entrar na sala agora, você deve se anunciar. Pode ser que os encontre em alguma situação comprometedora.

A lembrança do que vira mais cedo, a caminho dali, voltou a assombrá-la e ela corou com vergonha alheia. O que seria da faculdade se alguém mais descobrisse?

— Você vai denunciá-lo? – ele quis saber.

— Hm... Eu não sei. – ela voltou a ficar pensativa – Eu estou aqui pensando que terei problemas pra me formar se acontecer alguma coisa com ele e cancelarem meu estágio.

Aquilo tinha sido algo que ele também pensou no instante que ela revelou a novidade do dia. E haveria mais problemas se algum desocupado do novo canal de notícias sobre a vida alheia resolvesse soltar aquela novidade.

— Vamos conversar sobre isso mais tarde. – ele avisou – Ver o que é melhor para você.

Rin piscou suavemente, observando aquela expressão tão segura de Sesshoumaru, depois deu um sorriso e confirmou com a cabeça.

O rapaz a viu sair e fechar a porta e, sozinho, balançou a cabeça. Permitiu-se também dar um suspiro.

Não importava-se com quem Sara estava no momento ou que tipo de problemas aquele professor teria para manter a carreira na Universidade, mas aquele relacionamento representava um risco para Rin. Ela teria problemas se o caso fosse descoberto e o estágio acabasse sendo cancelado por conta disso.

Balançou a cabeça novamente e pôs-se de pé. Depois girou a cabeça para um lado e depois para o outro para se concentrar na tarefa do momento: arrumar a mesa de trabalho.

Os olhos fixaram no móvel e a testa franziu. Havia alguma coisa errada ali e o pressentimento voltou a ficar forte.

Inclinou a cabeça de um lado. Estreitou os olhos. Inclinou o rosto para o outro.

Foi então que percebeu: não havia uma coisa errada, mas sim faltando. Neste caso, era o primeiro presente que Rin trouxe de Nagoya quando nem eram namorados ainda que havia desaparecido.

A mão tirou alguns livros do lugar. A caixa em cima da mesa foi parar no chão. A lâmpada de mesa quase caiu enquanto ele procurava embaixo dela, intrigado, onde o outro globo havia ido parar.

Ao levantar um livro tão grande quanto um tijolo, ele viu algo que o intrigou mais ainda: era uma carta dobrada ao meio com o nome dele.

Pegou o papel e abriu. Havia uma mensagem escrita de maneira irregular com letras cortadas de revistas e jornais:

PEGAMOS ALGO IMPORTANTE. ENTREGUE O CELULAR DO GOSSIP COP E DEVOLVEREMOS O BRINQUEDINHO.

Dez segundos depois da segunda leitura, quase indo para a terceira, o telefone tocou e ele já sabia quem era:

Eu achei que nunca fosse perceber. – a voz falou.

Sesshoumaru andou até uma janela e ficou na frente dela, imponente, olhando para a direção do jardim cheio de plantas e árvores mortas pelo inverno.

Não demorou muito para encontrar Houshi Miroku segurando um binóculo com a mão direita e o celular com a esquerda.

Eu juro que ia parar de olhar se vocês começassem a fazer outra coisa aí.

Sesshoumaru nada comentou. Era óbvio que jamais tentaria fazer com Rin algo do nível que alguém como Miroku faria num lugar daqueles.

Devolva o que é meu e eu devolvo o que é seu. – ele avisou extremamente sério.

E desligou na cara do outro.

Segundos depois, o rapaz lentamente afastou o celular da orelha e segurou o aparelho com força, trincando a tela com uma foto de Rin usando uma camisa social dele.