Nota da autora: Este é o último capítulo desta fase. O próximo terá uma pequena passagem de tempo e já encaminho para o final. Pelos cálculos, teremos mais uns 6 capítulos (isto é, se não ficarem grandes e eu não tiver que dividi-los).
Obrigada a quem comentou! Espero que gostem deste aqui e que possam dizer o que pensam se for digno de um comentário. Ficarei feliz e honrada de receber um. Vai ter mimo também :) (acho que era assim que eu escrevia nas antigas notas hahahah).
UM CAMINHO PARA DOIS
CAPÍTULO 29
O caminho de não retorno – parte II
— O rapaz lá fora está acompanhando você? – perguntou a mulher elegantemente vestida com um terninho preto acomodada numa poltrona na frente de Rin.
Sentada na outra confortável poltrona da sala do consultório, a jovem tinha as mãos fechadas em punho nos joelhos, olhando ora para uma das paredes cheia de quadros e fotografias, ora para outra com uma estante com livros clássicos e de psicologia.
Ao ouvir a pergunta, ela ergueu o rosto.
— Sim... – ela começou – É meu namorado.
— Hmm... – a mulher deu um sorriso enquanto levava uma xícara com delicados ramos de cerejeira pintados na porcelana à boca – Fui buscar café e passei por ele. Parece um cão de guarda lá fora. Será que ele não quer dar uma volta?
Rin deu um sorriso. Era uma boa definição para descrever Sesshoumaru. Um cão protetor. Ele estava preocupado, afinal de contas.
— Ele é assim mesmo. Vai me aguardar até o final.
Por um momento, a mulher se concentrou em deixar o pires e a xícara em cima da mesinha de centro em uma posição que facilitasse na hora que quisesse beber enquanto as duas conversassem.
— Você se incomoda se eu tomar meu café de vez em quando?
— Não. – um sorriso preocupado apareceu no rosto de Rin. Ainda parecia tensa com o que ia ter que relembrar algumas coisas e contar novamente o que passou até chegar ali.
Mas as coisas funcionavam daquela forma. A terapeuta recomendada por Sango era uma das melhores da área e Rin precisava de ajuda.
Olhou para a parede que dava para a sala de espera como se pudesse ver quem esperava por ela do lado de fora. Ele queria que ela se sentisse bem.
— Você não é daqui, não é?
A atenção da jovem se voltou para a terapeuta e deu um sorriso antes de responder:
— Oh... Não. Sou de Aichi. – ela murmurou e forçou um sorriso – Eu faço o possível pra controlar o sotaque.
— Eu consigo reconhecer. Minha mãe também veio do Oeste. Mora aqui há mais de quarenta anos.
A mulher ajeitou-se confortavelmente, tomando mais um gole de café antes de colocar a xícara na mesinha antes de pegar um caderno grande para as anotações.
— Bem... E o que veio fazer aqui tão longe de casa, Nozomu-san? – ela abriu o caderno e começou a anotar as coisas antes mesmo de ouvir os relatos.
Rin levou um tempo. Ela tinha escrito e analisado algumas coisas para conversar naquele momento.
Por fim, escolheu a resposta mais simples:
— Eu estava triste e não queria me sentir mais assim. – a voz saiu numa confissão.
A mulher não parou de fazer as anotações e mantinha o olhar fixo no da outra.
— Precisou mudar para a capital para não se sentir mais assim?
— Perdi uma pessoa e não quis mais ficar na cidade. Tudo me lembrava dele. Ele foi meu primeiro namorado e estávamos noivos.
— Perdeu de que jeito?
A palavra demorou para sair e a outra inclinou o rosto para tentar de novo:
— Nozomu-san?
Umedecendo os lábios, Rin respondeu quase num sussurro:
— Ele morreu depois de um tempo muito doente.
A mulher parou de escrever para apenas olhar.
— Quanto tempo?
— Nós ficamos quatro anos juntos, mas ele passou os três últimos anos em hospitais. Eu tranquei o curso no último ano pra poder cuidar dele.
A mulher ficou calada e Rin entendeu que precisava continuar.
— Hmm... Depois eu fiquei muito deprimida e aconteceram algumas coisas. Tive um acidente em casa e vi que precisava fazer um tratamento. Eu não sei lidar bem com perdas. Eu não fui ao funeral e até hoje não fui visitá-lo no cemitério.
Depois de algum tempo, ela continuou:
— O meu primo é um dos meus melhores amigos e ele sugeriu mudar de cidade para ter outras experiência por alguns meses. Eu vim pra Tokyo porque a universidade me aceitou.
— Oh, a Universidade aceitou. – ela falou com certa surpresa, dando um sorriso – Impressionante para um lugar que não aceitava tantas mulheres.
— Meu pai também comentou a mesma coisa... – Rin tentou esconder um sorriso sem graça. Tinha sido um momento constrangedor para a família quando o senhor Nozomu descobriu para onde iria – Mas no fim tudo deu certo.
— Ele gostou da ideia?
— Oh, eu não tive problemas com ele. Nem com minha mãe. Mas...
A mulher ergueu uma sobrancelha, aguardando a continuação.
— Eu tenho um irmão e ele não aceitou muito bem. Meu relacionamento com ele não era complicado antes e acabou se tornando.
— Seu irmão vai ser chefe da família?
— Hmm... sim.
Depois de alguns segundos de silêncio, ela continuou:
— Ele é muito protetor e quer me ter por perto. Ele não gostou da ideia de mudar de cidade porque ele fica preocupado, eu acho. Brigamos muito até ele ceder, mas depois ele parou de falar comigo e só fizemos as pazes um dia antes de eu viajar.
Mais um momento de silêncio.
— Ele cuidou de mim e me levou pra terapia depois do acidente. Meu irmão não é uma pessoa ruim, mas ele me magoa muito ao dizer que não quer mais me ver porque agora eu planejo não voltar pra casa depois de terminar o curso. Quero continuar na cidade pra fazer carreira aqui.
— Por causa do rapaz lá fora?
Rin pensou na melhor forma de dar a resposta mais apropriada. Ela não queria ficar na cidade apenas por causa dele, mas sim também porque gostou dos amigos e da vida ali.
— Pode parecer que é, mas ele já falou que poderíamos pensar em algo juntos se eu tivesse que voltar pra Nagoya e trabalhar pra minha família. Mas fui eu quem tomou a decisão. Gostei daqui e do que eu tenho com ele também. Ele me deixou escolher.
— Há quanto tempo estão juntos?
— Apenas alguns meses. Ele foi a primeira pessoa que conheci na faculdade quando cheguei aqui.
Houve novamente um momento de silêncio entre as duas e Rin mudou de posição, deixando de ficar tensa ao decidir descansar as costas no encosto da poltrona.
— Eu demorei a aceitar a ideia de me envolver com outra pessoa. Continuei muito deprimida nos primeiros meses e com saudades de casa e das pessoas. E ele foi uma das pessoas que mais me ajudou aqui, mesmo sabendo que tinha algo de errado comigo e que eu não iria ficar muito tempo. E eu gosto muito do que temos juntos. Fazemos planos e ele me apoia muito. Também brigamos porque não sei como agir algumas vezes. Ele reclama que eu me escondo pra não ter que resolver as coisas.
— Você está aqui exatamente por quê? Para tratar disso?
Rin olhou para um lado, depois para outro. Estava tentando se decidir como explicar.
— Eu tive uma discussão com meu irmão sobre ficar aqui por mais dois anos e ele ficou chateado. Falou coisas que eu nunca esperava dele. E eu fiquei muito deprimida de novo depois de meses e voltei pra cá. Meu namorado está preocupado comigo e insistiu pra eu continuar o tratamento aqui.
— E o que o seu irmão disse que a deixou tão chateada?
Rin fez um beicinho e as mãos voltaram a ficar apoiada nos joelhos. Ela parecia uma criancinha de castigo e percebeu apenas segundos depois o que estava fazendo, voltando a encostar-se na poltrona para tentar parecer mais relaxada ao responder:
— Nossos pais morreram no desastre de Kobe e vivemos com os nossos avós. Eu os considero meus pais, mas pro meu irmão sempre foi muito claro quem eles são. Mas, na última vez que discutimos, ele falou que eu esqueci nossos pais porque sempre é ele quem lembra de ir ao cemitério todo mês. Disse esqueço as pessoas... nossos pais, meu ex. Como se eu fosse uma ingrata. – ela tentava controlar o tremor da voz sussurrada, dando uma pausa para suspirar – Eu não sou ingrata. Eu não quis ir ao enterro do meu ex porque estava muito mal.
— E o que o seu namorado diz que você não resolve e prefere se esconder?
Rin pressionou os lábios e deslizou a língua entre eles para umedecê-los. Parecia que a sessão, que não tinha chegado ainda nem à metade, já havia deixado a garganta seca e tirado metade das forças.
— Nós brigamos algumas vezes e eu preferi faltar aos compromissos ou ficar longe dele a ter que sentar e resolver de uma vez. Várias vezes aconteceu isso.
— Como era com o seu outro companheiro?
Rin ficou pensativa, novamente olhando ora para a estante, ora para os quadros e fotografias pendurados.
— Bem... era muito tranquilo. Não brigávamos porque ele vivia num hospital. Eu tinha uma boa rotina com ele e Aki nunca me impedia de fazer as coisas, mas acho que porque ele não queria aborrecimentos ou porque realmente não podia me impedir de nada. Ele inclusive brigou comigo no último dia que ele... Nós brigamos porque ele queria me ver formada e não sabia que eu tinha trancado o curso pra cuidar dele. Agora com Sess... Digo, com Sesshoumaru, eu tenho que discutir as coisas que me incomodam e que ele também não gosta e isso nunca aconteceu antes.
A mulher deixou a caneta de lado e observou a jovem por alguns minutos, estreitando o olhar de vez em quando. Parecia ser a forma habitual de analisar a situação.
— E qual desses problemas que você apresentou você gostaria de discutir primeiro?
Rin baixou o rosto timidamente e perguntou:
— São muitos acumulados, né?
Dando um discreto sorriso, a mulher confirmou com a cabeça.
— Parece que teve um longo caminho até aqui. Entre luto, um curso inacabado, briga com o irmão e um novo relacionamento, preciso saber o que gostaria de discutir primeiro. Podemos ver um por um nas próximas sessões, isto é, se pretender continuar a sua terapia.
— Ah... claro. – a outra também concordou com a cabeça para enfatizar – Pretendo continuar sim.
— O rapaz lá fora realmente não vai se incomodar em esperar uma hora em cada sessão?
Rin novamente olhou para a porta e o imaginou calmamente sentado, ainda aguardando por ela, e balançou a cabeça negativamente.
— Ele está mesmo preocupado com você, não é?
— Bastante. – ela deu um sorriso triste – Eu não quero mais que ele se sinta assim.
Ao sair do consultório, Rin encontrou Sesshoumaru exatamente como a terapeuta havia descrito: como um cão de guarda – de braços cruzados, perna elegantemente apoiada sob um joelho, expressão calma e pensativa.
Quando a porta abriu, ele ergueu o rosto e os olhares se encontraram. Ela notou uma coisa estranha, mas, pensando tratar-se apenas de uma impressão, deixou passar aquilo.
— Vamos? – ela deu um sorriso gentil, colocando as mãos unidas em frente ao corpo. Estava de blusa social bege lisa e saia vermelha, além das habituais botas e meia-calça de inverno.
Viu-o confirmar com a cabeça e levantar-se, tomando a mão dela para saírem juntos da sala.
Nas escadarias do prédio com vários consultórios de diversas especialidades, localizado em um bairro central de Tokyo, ele a chamou:
— Rin.
Parando para ouvir o que ele tinha a dizer, ela franziu a testa. Lembrou-se também de como o viu preocupado minutos antes, quando ainda estavam no consultório.
— Sei que me pediu para jantar em casa, mas você não gostaria de encontrar Inuyasha e outros em um restaurante perto daqui?
Confusa, ela inclinou o rosto para analisar o dele.
— Por favor. – ele insistiu numa voz tão suave que alguns diriam ser sedutora, tão próximo dela que viu a pele do rosto mudar da cor habitual para um tom rosado.
— Er... Hmm... Eu não vejo problema, mas... – ela tentou esconder o rubor. Era a primeira vez que ele falava daquele jeito – Vai passar a noite comigo, né?
A mão possessiva deslizou pelas costas dela para guiá-la.
— É claro que sim. – ele reafirmou ao descerem as escadas juntos.
No tradicional restaurante Kikko, um estabelecimento rústico localizado no distrito de Asakusa, os três casais estavam reunidos em mesas laterais em uma das salas privadas. Sentados em seiza à mesa baixa, aguardavam a refeição enquanto conversavam sobre as últimas novidades, principalmente a respeito de Kagura, agora sob restrição médica para sair para qualquer lugar até o final da gestação, e sobre a faculdade.
Do grupo, apenas Rin evitava comentar sobre alguma coisa relacionada à viagem e ao estágio. A vontade de contar era maior, mas ia seguir o conselho de Sesshoumaru de não revelar aquilo sob o risco de a notícia se espalhar e acabar saindo prejudicada da história.
Trocou um olhar com ele por um segundo ou dois. Parecia que também sabia o que ela estava pensando e moveu a cabeça num discreto sim. "Sim", era melhor ficar em silêncio.
— Finalmente acabei meu estágio... – Sango começou sorrindo enquanto tomava um gole – Minha roupa da festa vai ser um presente do primo da Rin-chan.
— O estilista? – Kagome bateu os punhos na mesa – Como faço para conseguir um desses?
— Er... – Rin forçou um sorriso.
As três começaram a conversar enquanto Inuyasha, alheio a tudo, ignorava uma troca de olhares entre Miroku e o irmão.
Uma troca extremamente intensa de olhares.
— Como está indo o estágio de Rin-chan? – Miroku perguntou.
Rin parou de conversar com as meninas e sentiu um leve estremecimento, tentando entender por que aquilo veio à tona.
— Ah... É mesmo. Falta só a Rin-chan terminar agora. – Kagome apoiou o rosto em uma das mãos – Minha prima não está dando trabalho, né? Não está mais incomodando vocês dois?
Rin sentiu o rosto aquecer e sabia que estava vermelha, contendo a vontade de rir de nervoso e de querer dar todos os detalhes do que tinha visto pela manhã.
— Sara está em uma situação complicada em alguns seminários, pelo que soube. Isso incluindo problemas com o nosso professor que sempre perde os trabalhos. – Miroku cruzou os braços e assumiu uma pose séria inédita até para ele – Acredito que não vamos vê-la na formatura.
— Não vai fazer falta também. – Inuyasha resmungou, cruzando os braços.
— Inuyasha...! – Kagome falou num tom de aviso.
— Keh! – ele virou o rosto para o lado – Por causa dela que vou ter que ficar como líder da família porque Sesshoumaru não vai casar com ela nem em sonhos!
A namorada puxou a orelha, arrancando algumas lágrimas de dor.
Enquanto todos se distraíam e divertiam-se com aquela cena, Miroku também sentiu dor. Algo como um projetil tocando o lado esquerdo do rosto.
Descobriu que tinha sido uma azeitona com o formato certeiro de uma bala.
Arregalou os olhos e olhou para os lados, vendo apenas Sesshoumaru tomar uma xícara de chá verde com uma expressão indiferente e imperturbável.
Miroku estreitou os olhos.
— Algum problema, Houshi-sama? – Sango chamou discretamente a atenção dele.
Olhando de soslaio na direção do outro rapaz, ele murmurou um "não" e recebeu uma sobrancelha erguida da namorada. Ela parecia desconfiada.
— Você não aprontou nada, né? – ela quis saber.
— É claro que não! – ele sussurrou entredentes num volume suficiente para não chamar a atenção dos outro.
Sango lançou uma última olhada desconfiada antes de voltar à conversa com Kagome e Rin, e Miroku aproveitou para beber um pouco de chá verde.
Outra azeitona acertou a testa dele e deixou uma marca vermelha no local, quase na forma de uma meia-lua.
Olhou novamente para Sesshoumaru e viu-o ainda absorto em beber o chá, olhos quase fechados como se estivesse em meditação.
Um atendente entrou no local e fez uma discreta reverência.
— Alguém de vocês é dono de um Toyota Yaris Sedan?
Miroku sentiu toda a energia ser sugada para fora do corpo como num mau pressentimento e, não sabia como, conseguiu erguer uma mão trêmula para indicar que o veículo era o dele.
— Os fiscais de trânsito estavam fazendo a ronda e verificaram que ele está com os quatro pneus furados, senhor.
Quase todos ali arregalaram os olhos. A xícara de chá caiu das mãos de Miroku e partiu ao meio na mesa baixa.
— Mas como é que...?
Miroku teve que olhar para Sesshoumaru e notou-o com os dourados brilhando de raiva, ainda bebendo o chá.
Ao entrarem no apartamento, Sesshoumaru e Rin tiraram os sapatos, os casacos e os cachecóis ao mesmo tempo, em movimentos quase sincronizados. A sapateira do genkan já tinha um espaço reservado para o par dele, assim como um cabide para que ele pendurasse o casaco de inverno e o cachecol ali.
— Que coisa estranha isso com Miroku-sama, né? – ela comentou com a testa franzida, evidentemente preocupada com o amigo – Ainda mais quando ele caiu do nada na saída do restaurante.
Sesshoumaru preferiu manter-se calado.
Depois de calçar os pés com as pantufas de andar em casa e com as mãos unidas na frente do corpo, ela perguntou num tom suave e gentil, mais como um convite do que como uma súplica:
— Quer tomar banho comigo?
Deslizando os pés nos calçados que usava quando estava no apartamento, Sesshoumaru concordou com a cabeça. Não havia como negar um pedido como aquele.
— Vamos conversar depois. – ele falou.
Por um momento, ela pareceu nervosa, como se conversar fosse algo ruim, mas a expressão suavizou e logo concordou com a cabeça.
Depois, já de yukata e abraçados na poltrona do quarto que agora ele considerava como favorita, Sesshoumaru deslizava a ponta do nariz na parte favorita do pescoço dela, uma das mãos suavemente acariciando as costas, enquanto ela observava por uma fresta da cortina da varanda as luzes se apagarem no prédio da Universidade.
— Você está preocupado com alguma coisa? – ela quis saber num tom mais triste.
— Com algumas coisas. Com a sua consulta. O seu estágio. – ele admitiu sem parar os movimentos.
— Mas foi tudo bem hoje. Fiz como você falou: bati na porta e eles estavam cada um num canto. Fingi que não sabia de nada.
— Consegue fazer isso? – ele observou as feições dela, deslizando o polegar pela maçã do rosto – Geralmente quando fica constrangida nessas situações a sua pele fica o tempo todo vermelha.
— Ah, eu consigo sim! – ela fez uma cara irritada e brava, ficando mais vermelha – Eles ficaram só trocando olhares de vez em quando... Não sei se estavam insinuando algo ou...
— Você pensou sobre a denúncia? – ele a interrompeu deslizando a mão pela coxa coberta pela yukata, sentindo-a mais à vontade nos braços. Não queria mais falar sobre pessoas tão entediantes – Ou vai deixar de lado esses dois?
— Ah... – ela encontrou o olhar dele – Acho melhor deixar pra lá. Vou fazer meu trabalho e me formar.
— Ninguém vai poder saber. – ele avisou, aumentando a carícia nas pernas – Senti que queria contar sobre isso para todo mundo no jantar hoje, mas você não pode. Seu professor e Sara precisam tomar cuidado extra para ninguém daquele novo canal de notícias descobrir da mesma forma que você.
— Tomara que eles não fiquem se agarrando pelos cantos, então. – ela fechou os olhos para poder aninhar-se melhor no colo, virando o rosto para cima para poder encontrar o olhar dele – Pelo menos acho que ela não estará mais no seu pé.
— Hunf.
Rin deu uma risada e voltou a olhar as luzes. Havia ainda uma acesa de um dos andares.
— A sessão foi boa hoje. Conversei bastante sobre você. E sobre ficar aqui na cidade.
Sesshoumaru ficou em silêncio, mas a mão na perna pressionou mais o local como sinal para que ela soubesse que ele estava ouvindo.
— Vou sentar e organizar meus planos durante a semana. – ela disse com um sorriso confiante – Pensei em renovar o contrato deste apartamento assim que eu tiver o resultado do mestrado. Vou poder ir e volta da universidade pelo mesmo caminho.
— Cuidado para não encontrar seu orientador com Asano ou outra aluna.
— Ora... – ela ficou vermelha, admitindo baixinho numa reclamação – Ele podia ser mesmo mais discreto... Ainda acho tão esquisito isso...
— E o que mais vai fazer? – ele deslizou a boca para trilhar beijos leves no rosto dela, mais insistentemente deslizando a mão pela perna para que ela mudasse de assunto – Vai ter tempo para mim esta semana enquanto faz os seus planos?
Rin afastou o rosto, interrompendo o contato dos lábios com a mandíbula dela, e o encarou:
— Eu sempre tenho. – ela deu um sorriso – Pode me ajudar na renovação do contrato?
— Hmm. – ele já estava ocupado em mordiscar e beijar o pescoço dela – Você pode então me ajudar a procurar um lugar para ficar depois que eu tiver que sair da mansão por não fazer as vontades do meu avô.
Os beijos ficaram mais fortes, assim como os dedos acariciando a pele e abrindo o yukata.
— Você vai mesmo precisar sair? – ela estranhou – Você é o mais velho, ficaria com aquela casa, não? Não precisaria ser necessariamente o chefe da família... Ou precisa?
As leves mordidas começaram a ficar mais insistentes no ombro e Rin sorriu, entendendo que ele não queria conversar mais.
— Tudo bem... – ela realmente entendia. Ele havia passado dias sem ela e ainda deu todo aquele trabalho ao chegar... E nem puderam ficar realmente juntos no fim de semana, como haviam era costume entre eles.
A mão foi ao rosto dele e o aproximou para um beijo mais calmo e demorado, e quando se afastaram, ele pressionou a testa na dela para perguntar:
— Você está bem mesmo?
Ah... É como ela falou...
Rin acariciou um lado do rosto sério dele, sabendo o que estava por trás daquilo.
Sesshoumaru fica preocupado comigo.
— Eu estou bem agora. – ela respondeu.
E eu tenho que aprender a não deixá-lo assim.
Foi a resposta que ele precisava para carregá-la de uma vez da poltrona e impedi-la de ver a última luz do prédio se apagar. Rin arregalou os olhos, segurando-se firme para não cair, e acalmou-se depois que se viu deitada na cama com ele por cima dela, segurando-a pelos punhos com os dedos tocando os pontos sensíveis da pele.
Ao ouvi-la gemer, Sesshoumaru continuou deslizando a boca pelo pescoço, abriu mais o yukata e beijou os seios.
— Sess... espera...
O rapaz congelou e olhou para ela em dúvida. Ela não queria mais? Mas parecia tão à vontade com ele e...
— Está tudo bem mesmo? Parece preocupado ainda.
Sesshoumaru ficou por cima dela, o olhar sem desviar do outro. Entendeu então a respeito do que ela estava se referindo, respondendo:
— Só estou preocupado com o meu celular. A tela trincou. Amanhã eu resolvo.
— Oh. – ela franziu a testa – Isso não é um problema. É só deixar de usar.
Sesshoumaru inclinou o rosto para o lado como se analisasse bem aquela resposta, tentando decidir se ela falava realmente sério.
— É verdade, não é um problema. – ele comentou enquanto pensava no quanto ela era totalmente livre e independente daquelas tecnologias – Mas tenho fotos suas. Gosto de ficar vendo e a tela trincada atrapalha.
— Oh... Então... eu posso te dar algumas fotos minhas. – ela conseguiu se soltar para envolver o pescoço dele com os braços e fazer os rostos aproximarem – Como quebrou a tela? Deixou cair?
Sesshoumaru deixou-a completamente exposta embaixo dele. Estava vermelha como sempre, mas ainda assim muito à vontade.
— Pensei que fosse o único momento que deixasse de ser tagarela. Continua me surpreendo a cada dia, minha Rin. – ele a beijou e esticou o braço para pegar um preservativo na gaveta da mesinha ao lado da cama.
O jardim principal da Universidade de Tokyo, que dava acesso ao prédio da reitoria e outros departamentos, estava com árvores e plantas mortas, tudo coberto por uma fina camada de gelo. Era um campo aberto e representava um espaço neutro para negociações.
Houshi Miroku já estava esperando em pé, perto de um carvalho retorcido e seco. Um sorriso largo e malandro estava no rosto. Estava confiante sobre o que aconteceria em seguida.
Uma pedra o atingiu na nuca e ele levantou-se para olhar assustado para onde possivelmente teria saído aquele disparo.
Nada.
— Procurando alguém? – Sesshoumaru soou atrás dele e Miroku sufocou um berro. Todo o sistema nervoso parecia abalado com a presença do outro.
Deu dois passos para trás e viu-se a pelo menos um metro e meio dele. Uma distância segura para não ser acertado pela mão dele ou qualquer coisa que ele desejasse fazer para se vingar.
Confiança era a chave para tudo. Ele estava em vantagem ali e Sesshoumaru não poderia atacá-lo. Ajeitou a postura. Deu uma leve tossida antes de falar:
— Trouxe o que pedi? – ele perguntou.
Sesshoumaru jogou o aparelho no ar e Miroku o agarrou.
Após certificar-se de que era realmente o que ele tinha, ligou o aparelho.
— Nova senha?
— Dois zero um zero dois um.
Miroku tirou depressa uma caneta do bolso e anotou num pedaço de papel que mais parecia uma anotação de cola de algum seminário. Sesshoumaru sempre se perguntou como alguém como ele, que não tinha qualquer destaque ou talento na área, conseguiu entrar no curso e manter-se até aquele momento ali.
Ao inserir código, ele viu a tela levemente modificada. Era outra imagem de fundo, mas os aplicativos estavam todos ali nos mesmos lugares.
— Apagou alguma coisa?
Sesshoumaru estava indiferente e Miroku entendeu como um "não".
— Senha das nuvens?
— É a mesma.
Depois de acessar o conteúdo, ele mexeu o aparelho por alguns segundos para procurar algumas coisas. A testa estava franzida e o outro percebeu que também estava aparentemente preocupado com alguma coisa. Sesshoumaru dissera uma vez que apagou todas as fotos de Rin e o que era ligado a uma aposta, tanto do aparelho quanto de um driver especial.
Mas mal sabia ele que Miroku tinha um plano B dentro de um plano B.
— Okay. Tudo o que preciso está aqui. – disse por fim, enfiando a outra mão no bolso do casaco para tirar outra coisa.
Sesshoumaru viu quando um embrulho de plástico bolha surgiu e Miroku o devolveu num gesto de paz e com um sorriso gentil.
— Foi bem cuidado. Jamais deixaria trincar, ainda mais que é dessa joalheria.
— Eu não quebrei a sua mão ontem por causa disso. – ele pegou o globo bem protegido e o guardou no bolso.
Depois, sem nada mais a dizer, deu as costas para Miroku para ir embora.
— Eu não vou deixar que vazem o caso do professor pra Rin-sama não ficar prejudicada. – escutou-o falar depois de alguns passos.
Sesshoumaru estancou.
— O que acontecer depois que ela se formar não vai atingi-la e nem poderá perder os créditos do estágio. – ele avisou – Vou conseguir conter o problema por algumas semanas até nos formarmos.
Sesshoumaru lançou um olhar irritado por cima do ombro e Miroku ofegou, dando dois passos para trás em choque para exclamar dramaticamente:
— V-Você pensou que eu era um vilão!
—Você entrou sem autorização na sala do Centro.
—Só por dois segundos.
— Roubou algo que é meu.
—Mas eu devolvi agora.
—Deixou um bilhete de sequestro. Você escreveu "INPORTANTE".
—Mentiraaaaaaaaa! – Miroku estava ofendidíssimo – Meu pai era monge e eu já sabia escrever poesia japonesa desde criancinha!
— Como sabia desse envolvimento? – Sesshoumaru quis saber. Se outras pessoas soubessem, o caso ficaria realmente complicado e Rin poderia ficar ser a mais prejudicada naquela história.
Miroku guardou o celular no bolso e cruzou os braços, assumindo uma pose mais séria – quase inédita tratando-se dele.
— No fim de semana passado, Sangozinha foi com a família a um onsen em Itabashi e viu os dois lá.
— Itabashi? – Sesshoumaru pronunciou cada sílaba lentamente. Não era tão próximo assim. Se fosse onde estava pensando, era um spa de luxo.
— Sangozinha achou que estivesse vendo pessoas parecidas, até que casualmente esbarrou na Sara e a viu assustada. Acho que ela pensou que não encontraria conhecidos. Depois Sango pediu pra Kohaku-kun verificar quem era o homem na ala masculina.
Sesshoumaru franziu a testa por meros segundos, depois soltou um "hunf" e foi embora.
Do jardim em frente à reitoria, ele andou na direção ao prédio da faculdade. Lá, encontrou Rin perto da escadaria abraçando-se para proteger-se do frio. As mãos protegidas por luvas, um presente dele, estavam fechadas em punho e ela parecia extremamente agoniada com a temperatura, mesmo com casaco longo, chapéu, botas de inverno e meia-calça.
— Ah! – ela sorriu quando o viu e começou a acenar alegremente, ignorando o frio por alguns minutos – Sess!
Aproximou-se e deu um beijo na testa dela, deslizando um braço pela cintura dela.
— Aonde você foi? – ela quis saber.
Sesshoumaru aproveitou alguns segundos para observar as feições dela. Estava tudo bem por enquanto.
— Estava na reitoria. Fui resolver uma coisa.
— Ah, é? – ela soou preocupada – Deu tudo certo?
Ficou alguns minutos em silêncio, aproveitando para apertar o quadril dela e puxá-la mais para si enquanto andavam juntos pelos corredores da faculdade. Estaria tudo bem. Ele ia confiar em Houshi Miroku. Tudo daria certo até a formatura.
Ignorou o toque de recebimento de mensagem e falou:
— Está tudo bem agora. – disse, por fim.
