Nota da autora: Demorei muito de novo porque tive que voltar a fazer viagens de trabalho. Em agosto fico de férias, então poderei atualizar com frequência :)
Vocês vão ver que este capítulo mostra mais o cotidiano dos dois depois de formados. Percebam o título e imaginem o que pode vir no próximo.
Obrigada a quem comentou: HelloBraga, JamiliRibeiro11, Jo-Anga, Isabelle36, Autumnbane, Li'LuH, ShivaAurora e Dica-chan. Obrigada!
Para este capítulo, pedi mais duas fanarts de duas cenas para Gabi :) Quem quiser ver, pode acessar o grupo!
Estou ainda me recuperando de COVID, então mandem comentários de presente :')
UM CAMINHO PARA DOIS
CAPÍTULO 34
Caminhos que se abrem
Um mês depois
Rin andava com pressa, quase correndo até, pelo jardim que servia de atalho do apartamento à Universidade. A roupa que tinha escolhido, uma saia florida de seda, uma blusa azul e um casaco amarelo felizmente eram uma boa escolha para um dia quente na capital japonesa.
Não queria admitir, mas estava a ponto de chegar atrasada.
— Ai, eu vou me atrasar! – ela exclamou para si mesma ao apressar ainda mais o passo, sentindo o pavor possuir aos poucos espaço no estômago.
Minutos depois, conseguiu por fim alcançar a entrada do hall que dava acesso à sala onde teria que fazer a prova do mestrado.
Faltando apenas um minuto para as portas fecharem, ela entrou na sala e sentou-se na primeira cadeira vaga que viu no fundo da sala em formato de auditório, próximo à saída.
Respirou fundo e tirou apenas o que era necessário da bolsa: canetas, lápis, borracha e a identidade.
Depois de um curto momento de espera, a prova começou a ser distribuída. Era apenas um ensaio de caráter classificatório com atribuição de nota. No período da tarde, ela teria que passar por uma entrevista. Já havia recebido um bom parecer com a análise do histórico da graduação.
Enquanto aguardava a prova chegar às mãos, pensou no risco que correu com o atraso naquela manhã. Havia dormido demais e sem Sesshoumaru. Todas as vezes que passavam a noite juntos, ele era o primeiro a acordar e também a despertava para que não se atrasasse. Mas o casal já não se via há três dias – ela porque estava estudando para a prova; ele porque havia começado a trabalhar em um departamento do Império.
Não podia depender dele como um despertador pessoal. Teria que aprender a mexer no celular e a programar o despertador para acordá-la com antecedência no horário certo. Era muita sorte morar atualmente perto da universidade porque certamente não seria possível chegar a tempo para a prova se tivesse que pegar o metrô.
Disfarçou um suspiro e estendeu a mão para receber a folha de papel, dando um sorriso em agradecimento para o funcionário que conferia a identidade.
— Bem, vamos lá... – ela murmurou para si mesma ao preparar-se para ler o comando, tirando a tampa da caneta.
Horas depois, ela estava na frente da sala onde teria que fazer uma entrevista diante de três professores. Leu os nomes dos inscritos apenas para confirmar o horário que teria que entrar, arregalando os olhos quando viu o nome de um certo professor.
— Não, não, não...
Olhou para trás e viu o pesadelo ambulante se aproximar como um exterminador do futuro – era o professor que sempre perdia os trabalhos e que, depois das denúncias dos alunos de certos alunos na ouvidoria, havia sido transferido para aquele departamento.
— Nãããão... – ela choramingou baixinho apenas para ela ouvir.
O professor passou por ela e outros candidatos sem realmente se importar em reconhecê-los ou cumprimentá-los antes de entrar na sala.
Preocupada, Rin sentou-se em uma cadeira próxima e revisou mais uma vez o plano de continuar morando na cidade e se haveria alguma chance de ser reprovada, apesar de ter se preparado tanto para aquele momento nas últimas semanas.
— Não! – ela falou numa voz mais determinada, muito diferente do que havia murmurado anteriormente. Aquele nome não a impediria de fazer um bom trabalho. Havia estudado e feito um bom preparo para aquele momento.
Esperou alguns minutos e o primeiro nome foi chamado, vendo uma garota provavelmente da mesma idade passar pela porta.
Não demorou muito para que a mesma pessoa saísse correndo chorando da sala, fazendo os demais candidatos arregalarem os olhos.
Olhando sem muito interesse para os lados por distração, Sesshoumaru aguardava de surpresa por Rin na frente do prédio. Não haviam se falado e nem tinha avisado que estaria por ali depois que ela terminasse a entrevista, já quase no fim da tarde. Se tudo desse certo, a namorada estudaria em uma das salas do segundo andar naquele prédio.
Quase não tinham mais tempo para se verem. Teriam que pensar em uma maneira de fazer encontros com mais frequência, como faziam na época que estudavam juntos.
Olhou o relógio. A prova havia acabado e logo ela apareceria.
Minutos depois, ele a via na entrada do prédio preocupada do prédio. A testa estava franzida de tão forma que ela demorou para perceber que ele estava ali por ela. Quando finalmente o notou ali, ficou extremamente surpresa. O casaco amarelo claro que tinha escolhido para o dia estava jogado por cima dos ombros e quase caiu no chão quando exclamou o nome dele e apressou o passo para aproximar-se:
— Não sabia que viria aqui... – ela murmurou ao fechar os olhos para sentir o beijo dele na testa, segurando-se nele pelos ombros – Achava que ia passar o dia todo trabalhando.
O rapaz estreitou de leve os olhos para observar o rosto que tentava esconder a preocupação e não alarmá-lo. Também não parecia desconfiar do motivo de ele estar ali.
— Está tudo bem? – ele perguntou.
Rin deixou de franzir a testa e deu um sorriso, ajeitando a gravata com um nó Oxford levemente torto. Como sempre acontecia naquele momento, ele apenas observou aquelas pequenas mãos quentes tocarem o nó e mover um pouco para o lado. Infelizmente o avô sempre errava o ponto e agora ele teria que sair para trabalhar sem Rin ajeitando a gravata antes de entrar em serviço.
— Acho que está... Pensei que ia me livrar de um professor da graduação e acabou que ele veio parar neste prédio.
— Oh. – ele murmurou com a testa franzida. Aquilo não parecia bom para quem se preparou tanto para as provas e entrevistas.
Antes que Sesshoumaru pudesse perguntar mais detalhes sobre a prova e a entrevista, ela perguntou:
— Eu ia ligar mais tarde pra saber se teria tempo de sair comigo no fim de semana. Não imaginava que viria aqui.
— Adiantei meu horário hoje para levá-la para jantar.
Por alguns segundos, ela pareceu ainda mais surpresa com o convite. Piscou uma ou duas vezes e depois deu um sorriso.
— Eu adoraria. – ela encostou-se nele por um momento, agarrando-se ao braço dele quando começaram a andar juntos – Aonde vamos?
Sem responder, ele a conduziu pelo caminho até o estacionamento, em poucos minutos alcançando o veículo.
— Daqui a pouco você descobre. – ele falou ao abrir a porta para ela entrar antes.
Rin apenas observou tudo curiosamente, piscou e finalmente deu um aceno de cabeça para concordar antes de entrar no veículo sem fazer outras perguntas.
O Takazawa continuava um lugar tão atraente e confortável quanto da primeira vez que Rin pisou ali. Um ano antes, os amigos a levaram lá depois de uma frustrante visita a apartamentos novos em uma época mais difícil, quando ainda tinha dúvidas sobre ficar ou não em um apartamento grande e longe da faculdade, lembrando-se também sobre o quanto estava extremamente infeliz e sem saber ainda que rumo ter ali na cidade.
— Acho que só viemos aqui uma vez, né? – ela comentou ao entrar ainda agarrada ao braço direito de Sesshoumaru – Eu adorei a comida daqui. Mas precisa fazer uma reserva, né?
— Já reservei. – ele se antecipou.
— Oh... – ela murmurou e deixou aparecer um sorriso. Ele sempre se adiantava naquelas coisas. Pensou também que poderia levá-lo a um lugar especial para ela em Nagoya na primeira oportunidade. Ele sempre a levava para restaurantes ou espaços agradáveis em Tokyo e queria ter a oportunidade de fazer o mesmo algum dia na outra cidade.
Diferente da primeira vez, ele sentou-se ao lado dela em seiza e não de frente, como se fossem simples conhecidos estudando juntos.
Depois de fazerem os pedidos, Rin apoiou-se confortavelmente nele para suspirar pesadamente.
— Isso me fez lembrar que há tempos não saímos com Sango-chan e Miroku-sama. Sinto falta da rotina com eles.
Sesshoumaru ergueu uma sobrancelha ao tentar entender o motivo para ela citar os dois nomes naquele momento até dar-se conta que Rin ainda queria ter contato com os antigos colegas de turma.
— Quis dizer que passávamos muito tempo com eles também. Agora mal temos tempo de encontrá-los nos fins de semana. – ela relaxou contra o braço dele, fechando os olhos e sorrindo – Vou ligar pra Sango-chan e perguntar se podemos sair no sábado. Espero que dê certo para todo mundo se ver.
O chá de boas-vindas chegou naquele momento e foi servido aos dois, o que fez Sesshoumaru limitar-se a concordar com a cabeça enquanto servia-se.
— E como foi o seu dia? – ela quis saber. Não era novidade que ele estivesse calado. Era a única pessoa que conseguia manter uma boa conversa com Sesshoumaru apenas daquele jeito.
— Trabalho burocrático como nos últimos dias. – foi a resposta calma e direta dele.
— Eu adoraria conhecer seus novos colegas. – ela comentou.
Os dois trocaram olhares em silêncio como se pudessem ler alguma coisa no rosto um do outro.
— Não quer falar sobre trabalho, né? – ela falou por fim e deu um sorriso sem graça.
— É só um trabalho. – ele fechou os olhos – Gostaria mais de saber como foi o seu dia.
— Hmm... – ela corou um pouco e olhou para o chão, começando a explicar depressa e quase sem pausas – Você não dormiu comigo e hoje acordei alguns minutos depois do horário! Tive que me arrumar às pressas e correr pra chegar a tempo na prova!
O absurdo daquela frase que o culpava pelo atraso fez com que ele erguesse uma sobrancelha em dúvida.
— A culpa é minha por perder o horário de acordar? Por que não usa um alarme? Seu celular tem um.
Rin deslizou os dedos pelo braço dele, sem deixar de sorrir.
— Você me acostumou mal nas semanas antes de começar a trabalhar.
— Hunf. – ele se limitou a proferir.
O sorriso seguro dela desapareceu antes de começar a falar:
— Acho que meu ensaio estava bom, mas fiquei nervosa na entrevista. Aquele professor psicopata agora tá no departamento do mestrado e estava lá fazendo perguntas.
Era perceptível que ela estava preocupada com o resultado e ele estendeu a mão para tirar uma mecha de cabelo para colocá-lo atrás da orelha como uma forma de tranquilizá-la. Sabia que ela teria um bom resultado naquela seleção.
— Você vai passar a noite no meu apartamento?
A mão paralisou e a cabeça inclinou para um lado como se pudesse analisar o rosto dela melhor daquele ângulo.
— Você quer?
Rin confirmou com a cabeça.
— Achei que a gente não se veria hoje. – ela deu um sorriso tímido e depois um suspiro de cansaço – Percebi só agora que era mais comum nos vermos na faculdade, mesmo com tanto trabalho e problemas. Eu tinha pensado que teríamos mais tempo depois de formados.
— Achei que queria que eu dormisse hoje para acordar mais cedo por causa de algum compromisso.
— Hunf. – ela empinou o nariz com superioridade – É a sua tarefa já que acorda tão cedo sem necessidade.
— Não vou trabalhar pela manhã... – ele começou fechando novamente os olhos – Mas terei que procurar um lugar pra ficar. Meu avô pediu para sair de casa.
Apenas Rin notou que a tensão na voz quando o rosto parecia tão calmo.
— Achei que o seu avô deixaria você ficar por lá por um tempo. – ela falou num sussurro suave. Já havia falado que achava injusto Sesshoumaru, como herdeiro mais velho, ter que sair da casa apenas porque não ia cumprir um acordo antiquado como aquele de prometer casamento entre os filhos de duas famílias tradicionais.
O rosto tranquilo também transmitiu a mensagem que ele não cumpriria o acordo algum.
— Eu gosto do seu avô. Não entendo como ele pode ainda exigir essas coisas... – ela parecia um pouco chateada – Posso ir junto? Acho divertido procurar apartamentos aqui.
— Como há um ano. – ele comentou sem tirar os olhos dela.
Rin franziu a testa sem entender o que ele queria dizer.
— Você realmente não lembra que dia é hoje? – ele perguntou.
Como ela ainda não entendia, Sesshoumaru baixou o rosto para aproximar a boca da orelha dela.
— Nós viemos aqui há um ano. Você também estava procurando outro local para morar. Eu também a levei para casa.
— Acho que foi uma das primeiras vezes que fez isso. – ela lembrou com um sorriso – Eu achava tão gentil isso. Você também esperava até eu entrar no prédio.
Por um momento ela o encarou tentando lembrar o que mais havia acontecido, até que o rosto suavizou e ficou levemente ruborizada ao ter memórias de uma certa parte da noite na frente do antigo prédio onde morava.
— Ah... Aquela noite.
— Eu tive que beijá-la nesse dia quando me disse que voltaria para Nagoya. Eu tinha que ver se você entendia que ia ser um problema ficar dois meses longe durante as férias. – ele completou – Eu lembro até o gosto da sobremesa que você pediu nessa noite.
Rin sentiu o rosto ficar levemente aquecido.
— Você me chamou pelo meu nome pela primeira vez. Eu lembro que senti minhas pernas tremerem nessa hora. Foi muito intenso.
— Foi, é?
Um dedo deslizou pelo maxilar e Rin aninhou o rosto na palma, concordando levemente com a cabeça.
— Há um ano os meus planos eram outros. – ele começou – Eu pensei apenas em terminar o curso e ficar longe da minha família. E daí você apareceu no primeiro dia e começou a chamar minha atenção.
— Eu também tinha outros planos. – também ela encostou-se mais nele e fechou os olhos quase sonhadora – Estou feliz com as escolhas que fiz. Vou ficar aqui mais algum tempo com você.
A taça de vinho de Rin chegou e ela tomou um gole antes de começar a rir suavemente:
— Lembro agora que não estava falando muito com você por causa de Asano. Eu achava mesmo que vocês estavam juntos e não queria ser atacada por namoradas ciumentas nos corredores da faculdade. Hoje parece uma história lá atrás.
— E eu estava furioso com essa sua atitude na época. – ele falou no tom mais sério que tinha, não deixando de desencontrar o olhar.
— É... – ela coçou um lado do rosto em evidente desconcerto – Não foi uma atitude muito adulta. Mas eu lembro que...
Sesshoumaru a viu tomar mais um gole do vinho antes de continuar como se precisasse daquilo para ter coragem:
— Eu lembro que quando ela apareceu naquela sala e fiquei chateada quando soube que vocês tinham uma história juntos. Acho que foi a primeira vez que me senti triste por não ter me contado que tinha outra pessoa. – ela encolheu os ombros e forçou um sorriso tímido como se tivesse feito alguma coisa errada – Pensando agora, acho que eu não queria que você tivesse outra pessoa.
— E eu nessa época pensava que você era uma princesinha. – ele deslizou a boca pelo orelha tão discretamente que ninguém de outras mesas percebeu a forma como estavam envolvidos.
— Sou muito longe de ser uma. – ela riu e bebeu outro gole do vinho para esconder o rosto corado atrás do copo – Elas não podem fazer o que querem. Apenas imagino o quanto são infelizes.
— Pode ser que sim... – ele continuou deslizando a boca – ... Quando querem, elas têm pessoas servindo o tempo todo.
Rin continuou observando o rosto dele até que percebeu que ele não iria continuar até que ela insistisse nas perguntas:
— E o que isso tem a ver comigo?
Um pequeno sorriso, tão discreto que ela só notou porque um dos cantos da boca subiu.
— Eu queria servir você o tempo todo.
Os olhos ficaram surpresos com a revelação, piscando lentamente até a expressão começar a suavizar aos poucos.
— Oh... então... os biscoitinhos daquela sala do Centro, as caronas... Os restaurantes... Muitos momentos favoritos. – ela murmurou com um sorriso tímido.
— E mesmo assim você demorou para perceber. Queria quimonos e pentes dourados também, princesinha? – ele a provocou com um sussurro.
A resposta foi outro sorriso e os dedos tocando suavemente os lábios e o queixo dele.
— Quero passar a noite com você. – ela sussurrou o pedido como se fosse uma ordem real e trocou um olhar com ele.
Algum tempo depois, no apartamento dela, Rin estava sentada na poltrona com o rosto de Sesshoumaru entre as pernas, uma delas jogada por cima do ombro dele enquanto o pé da outra encontrava suporte no braço do móvel. Tentava controlar os gemidos com a mão na boca e outra segurando a cabeça dele no local.
— Vamos, Rin. – ela beijou a parte interna da perna e ela gemeu mais ainda, confirmando o que quer que ele quisesse movendo "sim" com a cabeça. Era tão bom o que ele provocava nela desde que se beijaram há um ano e era sempre tão difícil se controlar naquelas horas.
Horas depois, já na cama, com Sesshoumaru deitado e ela parcialmente por cima dele, os dois fitavam-se sem dizer nada, com Rin concordando com alguma coisa que ele dizia apenas com os olhos.
Com mais uma vez ela concordando com a cabeça, ele tocou o rosto deslizando os longos dedos por trás da orelha e beijar mandíbula, queixo e boca com a delicadeza que tinha apenas para com ela.
— Pra quê você precisa de um lugar tão grande pra morar sozinho? – Rin perguntou discretamente olhando as paredes brancas de um apartamento cheio de mobília de madeira.
Era o terceiro imóvel que visitavam naquela manhã, o segundo com a presença da mesma pessoa. Os outros lugares eram ou muito pequenos ou muito próximos do centro da cidade e, portanto, próximos de fonte de barulho.
Perto deles, uma mulher de meia idade elegantemente vestida com um terninho preto apontava para a direção a outro cômodo:
— O quarto tem 30 metros quadrados e é bastante confortável para um casal sem filhos como vocês dois.
Rin sentiu o rosto aquecer com o comentário e apertou a mão dele, sem receber, no entanto, qualquer indicativo de que corrigiria. Seguiu-o por um corredor até os três chegarem ao impressionante cômodo com uma enorme cama, mesa de cabeceira, poltrona, estante vazia e closet. Havia também muito espaço vazio para a pessoa colocar outros móveis.
— Dá o meu apartamento aqui nesse quarto. – ela sussurrou.
Sesshoumaru limitou-se a trocar um olhar com ela e apontar para a cama com a cabeça, como se perguntasse a opinião dela.
— Parece muito confortável. – ela falou de uma vez, como se estivesse falando do quarto.
— Sim, e a vista é muito boa daqui. – a mulher abriu as cortinas da sacada e abriu as portas de vidro, permitindo entrar o vento no ambiente – Como falei, é um lugar ótimo para duas pessoas e...
Enquanto a outra falava, Rin voltou a apertar a mão dele para chamar a atenção de Sesshoumaru:
— Você não pensou em conversar com o seu avô sobre ficar em casa? Eu ainda não acho justo que tenha que sair de lá.
— Eu não vou conversar com ele. – Sesshoumaru falou secamente.
— Hmm... – ela deixou escapar timidamente olhando desconfiada para as paredes vazias e que tinham espaço de sobra para os próximos proprietários pendurarem quadros ou fotos emolduradas. Sentia o quanto ele parecia decidido a se afastar da família, mesmo tendo uma solução que parecia tão simples.
— O toalete e o banheiro são separados como nas casas tradicionais e ficam do outro lado do corredor. – a mulher os interrompeu e apontou para fora do quarto – Vamos ver?
O casal a seguiu em silêncio.
Ao entrarem, viram um espaço com banheira, armários e banquinho na área lajotada de lavagem.
— Oh, eu gostei. – Rin murmurou num tom que os dois poderiam ouvir – Eu visitei alguns apartamentos que tinham toalete e banheiro juntos e fiquei muito incomodada. A equipe que projetou deveria ter a licença revogada.
— Alguns prédios são realmente assim, mas são raros. Geralmente os ocidentais alugam porque são acostumados com esse estilo. – a mulher comentou – Em bairros mais populosos como Akihabara são projetados assim.
— Ainda bem que não são comuns por aqui. – ela murmurou.
— O toalete fica de frente para o banheiro e é absolutamente adorável. – a mulher saiu do cômodo e preparou-se para abrir a porta como se fosse para mostrar um reino mágico – Vejam só.
Ao abrir a porta, Rin arregalou os olhos: a parede era cheia de desenhos de cachorros de vários tipos, como poodle, pastor alemão, salsichas, chiuauas, akitas.
— Não é realmente maravilhoso? – a mulher perguntou.
Rin olhou para o rosto impassível de Sesshoumaru um segundo antes de ele dar as costas para sair dali.
— Ah, Sess...! – ela o seguiu enquanto olhava de vez em quando por cima do ombro para ver a mulher em choque e sem saber o que fazer com a insatisfação de um provável cliente.
O rapaz parou de andar apenas do lado de fora, permitindo que ela o tocasse no braço.
— Você vai procurar outro lugar? – ela perguntou suavemente.
— Mais dois lugares. – ele mantinha o rosto calmo – Em bairros afastados também.
Sesshoumaru a viu franzir o cenho e olhar para o relógio no pulso. Sabia que ela tinha outra entrevista de emprego e que precisaria também ver o resultado das provas na Universidade e que, se o acompanhasse nas entrevistas, poderia atrasar-se.
— Você quer que eu a leve até onde vai fazer a entrevista?
Rin balançou a cabeça negativamente e deu um sorriso gentil, aproximando-se dele para colocar as mãos nos ombros e ficar na ponta dos pés para beijá-lo no canto da boca:
— Converse com o seu avô. – ela tentou mais uma vez – Não faz sentido você sair da casa onde morou a sua vida toda por causa de um acordo que nem vale mais para as duas partes.
— Você mesma disse que poderia ser um "teste" para eu escolher outro caminho.
— Mas eu sei que a casa significa muito para você por causa dos seus pais. – ela tentou mais vez – Por que não conversa com ele? Pode ser que ele entenda a situação de outra forma agora.
O outro observou quando ela mais uma vez ficou na ponta dos pés para beijá-lo.
— Eu só queria que você me encontrasse no final da tarde na Universidade... Podemos sair pra comemorar... ou não. – ela deu um sorriso.
— É claro que será para comemorar. – ele fechou os olhos com superior tranquilidade e confiança, não dando espaço para que ela tivesse dúvidas sobre o destino que teria.
Ele sempre tem um plano para tudo, ela deslizou a mão com carinho pelo maxilar dele. Mesmo que eu reprove, ele vai dar um jeito em tudo.
— Você está rosnando? – ela perguntou ao tentar entender o som que ele emitia do fundo da garganta com aquela carícia.
— Não. – ele respondeu secamente.
O tempo de caminhada da porta de entrada do prédio da faculdade até o quadro de avisos com os nomes dos candidatos aprovados era de longos cinco minutos em passos normais. No dia anterior, Rin havia conseguido correr e chegar a tempo para a prova em menos de dois minutos, mas agora propositalmente arrastava o andar por medo de ver os resultados.
Em um minuto, ela pensou no que fazer caso não fosse aprovada e não tivesse um emprego para se sustentar depois que o pai parasse de ajudá-la.
Em outro momento, planejou o que fazer caso conseguisse um emprego que pagasse bem até tentar seleção em outra universidade.
Para completar, ela também pensou em voltar para Nagoya e conseguir emprego, voltando para visitar Sesshoumaru quando...
Viu-se diante do quadro de avisos e ficou em pé como uma criancinha, ansiosamente procurando com os olhos o que a interessava.
Prendeu a respiração e olhos ficaram maiores como se tivesse tido uma revelação.
Do lado de fora, Sesshoumaru olhava para o relógio do celular e franzia a testa. Ela já deveria ter saído há cinco minutos. Havia marcado com Rin para levá-la ao café que mais gostava e estava atrasada.
Talvez significasse que ela não tinha...
— Não. – murmurou secamente para ninguém em especial.
Não adiantava ligar porque ela nunca tinha aquele celular na bolsa como qualquer pessoa normalmente faria.
Olhou novamente a entrada e a viu assustada na entrada.
— Rin?
Viu-a dar alguns passos lentos e ficar a pelo menos dois metros dele – ele em pé diante do prédio e ela bem embaixo dos marcos das portas automáticas, impedindo que fechassem.
Até finalmente tomar um impulso e correr para os braços dele, envolvendo-o pela cintura com os dela.
— Rin? – ele tentou de novo.
Demorou para que ela erguesse o rosto para mostrar um sorriso.
— Eu passei... – ela estava feliz além da conta — Você estava certo de novo.
Sesshoumaru fechou os olhos por um momento e deslizou a mão pelas costas dela.
— Tchi... É claro que eu estava.
