Nota da autora 1: Pessoal, perdão pela demora. Muito trabalho presencial agora e um pouco de desânimo para continuar escrevendo. Só terminei o capítulo por causa do evento do SessRin day (20/03) – aí fiquei mais animada e pensando no capítulo :) Não sei se deixei passar algum problema ortográfico na revisão... Qualquer coisa, podem avisar e eu reviso depois :)

Obrigada a quem comentou no capítulo 39: ShivaAurora, Isa Raissa, Autumnbane, Dica-chan, HelloBraga, Jo-Anga e um muito obrigada aos guest reviews :) Um beijo especial para a Aika-sama que está comentando nos capítulos passados e deixando autores felizes, hahahah!

Ah, notaram que agora, quase 20 aos depois da publicação da história original, Um caminho para Dois está com uma capa? O que acharam? Gaby (Twitter: ohmagaby) foi quem desenhou a fanart. Eu estava pensando em fazer um pdf gratuito com toda a história e as ilustrações, como um livro. O que acham?

Bem, vou deixar o capítulo com vocês. Divirtam-se!


UM CAMINHO PARA DOIS

CAPÍTULO 40

A caminho

Rin despertou mais cedo que o normal sentindo o estômago incomodado. Piscou lentamente, olhou para os lados, mais especificamente para o espaço que Sesshoumaru costumava deitar, e viu tudo vazio.

Foi apenas quando tentou erguer-se que notou um corpo grande e pesado dormindo tranquilamente em cima dela, cobrindo-a quase inteiramente e com a cabeça parcialmente nos seios, usando-os como uma confortável almofada.

Ah... é...

Deslizou um dedo pela testa de Sesshoumaru, afastando o cabelo prateado da franja. Era a segunda vez que o via dormir, o que era um indicativo de que estava muito cansado depois de mais de 24 horas sem dormir. Normalmente ele já estava acordado mais cedo para trabalhar. Mesmo quando ainda faziam faculdade juntos, ele era o "despertador" responsável por fazê-la levantar mais cedo nos dias que tinha aula em horários que considerava desumanos.

Ele parece um menininho assim, pensou ao deslizar o dedo pelo rosto tranquilo dele, levando um momento para admirá-lo.

Na noite anterior, ao falar que precisava voltar para Nagoya, ele disse que precisavam resolver "uma coisa por vez", deitando-se ao lado dela. Agora ele estava por cima e...

O estômago girou novamente e a mão que tocava a testa do namorado foi rápido à boca.

Tentou mover-se e sair debaixo dele, mas foi inútil. Sesshoumaru era muito possessivo quando dormiam juntos, preferindo sempre dormir abraçado, principalmente naqueles dias mais recentes, quando começava a esfriar no outono.

— Rin, eu sempre deixo você dormindo até tarde quando pede. – ele falou ainda de olhos fechados e voz firme de reclamação.

— Sess... – ela gemeu assustada com o que poderia acontecer nos próximos minutos – Sai...

Sesshoumaru ergueu a cabeça e o torso e franziu a testa, notando a palidez dela.

— Está se sentindo mal?

Aproveitando a chance, ela o empurrou e pulou da cama, correndo porta afora para ir direto ao toalete do corredor. Lá, ajoelhou-se e despejou o conteúdo do estômago na privada.

Segundos depois, sentiu alguém segurar o cabelo com uma mão e com a outra deslizar calorosamente pelas costas.

— Melhor? – ouviu Sesshoumaru perguntar.

Rin confirmou com a cabeça e ele a ajudou a levantar-se e lavar o rosto, sempre com ele ao lado.

Respirando fundo, ela envolveu o ventre com um braço e olhou preocupada para ele.

— O que foi? – ele perguntou.

— Eu... Eu ainda não me acostumei...

— "Acostumou"? – foi a vez dele estranhar.

Alguns segundos de silêncio depois, ela revelou:

— Com o bebê... – ela admitiu de vez com uma voz sussurrada como numa confissão triste.

Sesshoumaru olhou o rosto dela com cuidado e depois a conduziu de volta ao quarto. O corredor estava vazio e silencioso, mas ele conseguiu sentir o cheiro de comida sendo preparada no outro andar. A madrinha já estava acordada e muito provavelmente o avô também.

— Pode preparar um banho para nós dois? – ele começou a desfazer o nó do roupão dela antes.

— Hmm... – ela parecia sentir-se culpada com o que havia acontecido minutos antes, timidamente respondendo – Eu preferia comer alguma coisa antes.

— Kaede deve estar preparando ainda o café da manhã. – ele roçou um dedo pelo rosto já corado, deixando-o ainda mais vermelho – Preciso conversar com meu avô antes disso.

— Oh... – ela concordou com a cabeça – Eu não preciso ir com você?

— Ainda não. – ele continuou deslizando o polegar suavemente pela maçã do rosto – Eu subo para tomar banho com você e depois descemos para o café, certo?

Rin ainda parecia preocupada, mas não comentou nada, apesar da vontade.

— O que houve?

— A gente precisa conversar... – ela falou novamente um fio de voz como se estivesse falando sobre alguma coisa inapropriada, o que muito o desagradava. Ele não a queria que ela se comportasse daquela maneira – Estou preocupada com muita coisa agora...

Por um momento, ele perguntou-se se como a conexão entre os dois podia ser tão forte. Ele também estava preocupado e listando mentalmente as coisas que precisavam discutir e decidir o quanto antes: onde morariam, a situação do apartamento dela, a viagem para Nagoya, a gravidez.

— Você vai voltar para o seu apartamento hoje ou quer passar de novo a noite aqui? – quis saber.

— Queria ficar com você hoje. – Rin admitiu. A preocupação estava evidente na forma como franzia a testa e ele notou isso.

— Então conversamos depois do café. Precisamos procurar um apartamento para nós dois.

Apartamento? – ela franziu ainda mais a testa – Eu não queria sair hoje pra ver isso.

A mão dele foi ao rosto dela para fazer uma carícia, o que ela muito apreciou de olhos fechados e com um suspiro.

— É a primeira coisa que temos que resolver, Rin. – ele começou – Não podemos ficar no seu e não quero continuar aqui com minha família. Eu gostaria de resolver isso antes de conhecer a sua família.

Rin enterrou o rosto no peito dele e o abraçou na altura da cintura, arregalando os olhos quando ouviu o próprio estômago roncar alto.

— Ahh... – ela rapidamente afastou-se dele e abraçou-se na cintura, sentindo o rosto ficar aquecido de vergonha – Eu não acredito que vou ficar comendo toda hora que em a Kagura!

Sesshoumaru soltou hunf e andou até a porta, olhando por cima do ombro ao colocar a mão na maçaneta da porta do quarto.

— Vou descer para falar algo a meu avô e volto logo para tomar um banho com você, certo?

Rin deu um sorriso e concordou.


Sesshoumaru desceu as escadas e caminhou decidido até a biblioteca. Pelo barulho, Kaede já estava na cozinha naquela manhã de domingo preparando as refeições com grande quantidade de cebola para irritar Inuyasha. Não conversaria ainda com ela – a pessoa com quem queria falar estava em outro lugar.

Ao entrar na biblioteca, o local favorito do avô, viu-o em pé com um livro sobre estratégias de go em uma mão e movendo algumas peças pretas de um tabuleiro com a outra, como se estivesse treinando uma estratégia.

Com o barulho da porta deslizando, olhou por cima do ombro e arqueou uma sobrancelha.

— Achei que iria dormir até tarde hoje depois do que aconteceu. – ele comentou.

Sem se incomodar em responder à observação, Sesshoumaru anunciou:

— Rin está grávida.

A mão que colocava uma peça preta num ponto preciso do tabuleiro paralisou por milésimos de segundo.

Direto que nem o pai, como sempre.

Bokuseno apenas virou o rosto e perguntar num tom meio ingênuo, meio surpreso:

— É mesmo? De quem?

A resposta de Sesshoumaru foi um olhar estreitado e o avô balançou a mão para que ele entendesse que era uma piada, largando o livro em cima da cadeira que fazia parte daquele cenário do tabuleiro de go e foi à poltrona da grande mesa de estudos.

— Foi por causa disso que vocês brigaram? – ele perguntou – Kaede ficou muito preocupada.

— Não quero falar sobre isso agora. – Sesshoumaru preferiu ficar em pé na frente da mesa – Por causa dela, demoramos muito para resolver essa situação.

— Bem... – o outro arqueou as sobrancelhas – Acredito que não tenha resolvido completamente. E não fale assim de Kaede. Ela sempre se preocupa demais com essas brigas. Ela perdeu parte da visão em uma.

Sesshoumaru ficou com uma expressão levemente surpresa.

— A irmã dela e um namorado. Foi há bastante tempo, antes de você nascer. Foi uma tragédia na família da sua mãe. Por isso ela preferiu que vocês se afastassem.

Sesshoumaru virou o rosto para o lado e ficou pensativo.

— Eu jamais agrediria Rin.

— Mas não tinha como ela saber disso. Não tem como prever essas coisas, principalmente depois de ter passado por uma briga que a deixou quase cega.

Sesshoumaru continuou olhando o chão pensativo.

— O que pretende fazer agora? – Bokuseno quis saber, olhando-o de canto.

— "Fazer"?

— Sim. Geralmente esperamos três meses para anunciar esse tipo de coisa... Você vai seguir isso? Você vai assumir a criança? Quais são os planos de vocês?

— Não discutimos isso ainda. – ele parecia tranquilo apesar da montanha de questionamentos que levava a outras indagações.

— Bem... – ele cruzou os braços, enfiando as mãos nas grandes mangas do yukata que geralmente usava em casa – E quando você vai viajar para Nagoya?

— Preciso tirar uma licença de alguns dias. Devemos ir este final de semana.

— E você sabe como resolver essa situação com a família dela, certo?

Sesshoumaru estreitou ainda mais os olhos.

— Por mais que Rin-chan sempre fale com muito orgulho sobre o Sr. Nozomu ser muito moderno e menos tradicional que nós, tenho certeza de que ele não vai gostar de saber que investiu muito na educação da filha em Tokyo para ela voltar grávida para casa. – Bokuseno completou bastante sério.

O cenho de Sesshoumaru franziu, ligeiramente preocupado e pensativo, tão pensativo que ele saiu da biblioteca sem nem ao menos falar que estava de saída.

— Ué...? – ele murmurou.

De volta ao quarto, Sesshoumaru ouviu o barulho no banheiro de Rin ainda preparando o banho. Tirou mais alguns minutos para mandar mensagens para a agência imobiliária e explicar a situação sobre a mudança nas preferências que precisava fazer.


Algum tempo depois, os dois desciam de mãos dadas as escadas para tomar o café da manhã em atitudes decididas. Teriam que contar para a família dele sobre o que havia acontecido e que ele iria sair de casa para morarem juntos. Talvez, Sesshoumaru havia dito para Rin, precisassem ficar alguns dias até conseguirem um lugar que aceitassem crianças. Era tão difícil agora encontrar um lugar adequado com o país mais e mais voltado para trabalhadores e aposentados. Os espaços eram sempre pequenos e os contratos de aluguel eram apenas para casais sem filhos.

Ao chegarem à mesa, viram quase todos reunidos esperando por eles – Inuyasha já catando cebolas do prato, Bokuseno aparentemente preocupado com alguma coisa e bastante pensativo, Jaken arrumando e tirando qualquer sujeira com um pano. A última a chegar havia sido Kaede, trazendo uma chaleira.

— Oh, bom dia. – ela os saudou ao colocar o recipiente com água quente em cima de um descanso, puxando uma cadeira para sentar-se.

— Bom dia. – Rin falou timidamente pelos dois, ainda sem jeito com o que havia acontecido antes. Ao lado dela, Sesshoumaru estranhamente evitava olhar para a madrinha.

— Boa refeição. – falaram todos ao mesmo tempo depois de se acomodarem.

Depois de algum tempo, Kaede resolveu perguntar algo sem esconder a preocupação:

— Você já está se sentindo melhor, Rin? Jaken contou que cuidou de você em casa.

Sesshoumaru olhou de canto para a namorada. Ela havia contato que Jaken ficou no apartamento até ela sentir-se melhor, mas não havia contado que estava grávida. Ele insistia que ela precisava cuidar daquele resfriado e ainda organizou as coisas até ir embora.

— Ah, sim, estou um pouco melhor. – ela deu um sorriso sem graça.

— Tome um pouco desse chá que fiz. – ela indicou com o rosto o recipiente e imediatamente Jaken apareceu do nada para pegar a chaleira e prontamente encher a xícara perto de Rin.

Tomou um pouco do gole e sentiu o rosto ficar um pouco corado. Estava gostoso. Chá de maracujá com limão agora era um dos favoritos dela.

Sesshoumaru deu uma leve tossida para chamar a atenção.

— Temos um comunicado a fazer...

— Ah, é? – Kaede ergueu as sobrancelhas em surpresa. Inuyasha parou de comer por alguns segundos, segurando o hashi com arroz a centímetros do rosto.

— Sesshoumaru vai para Nagoya com Rin esta semana. Ele me avisou primeiro. – o avô interrompeu sorridente.

O rapaz olhou para o avô primeiro e depois para a madrinha. Rin franzia a testa um pouco preocupada.

— Oh. – ela deixou de tomar o chá e olhou para Sesshoumaru – Quanto tempo vai ficar por lá?

— Podia ser pra sempre. – Inuyasha falou.

Uma azeitona acertou o meio da testa do irmão como um tiro e o derrubou da cadeira.

— Alguns dias. – o rapaz respondeu.

— Temos que pensar em algum presente para levar. – Kaede manteve a postura elegante, enchendo uma xícara de chá para entregar a Bokuseno – Não pode conhecer a família de Rin de mãos vazias. Quando vocês vão exatamente? Preciso encomendar algumas coisas. Um presente para o pai de Rin. Outro para a mãe, claro. Você também tem um irmão, não é?

— Isso não é realmente necessário... – Rin balançou a mão negativamente para que a ideia fosse deixada de lado – Nós vamos...

Bokuseno bebeu o chá de uma vez e colocou a xícara novamente na frente de Kaede:

— Mais chá, por favor.

Surpresa, ela o olhou desconfiada.

— O que você tem hoje? – perguntou.

— Podemos talvez mandar alguma caixa de chá de um fabricante local. – ele voltou a falar com o casal – Ou chocolate. Sua família gosta de chocolate também, né?

— Oh, eles gostam sim. Eu também gosto muito. – Rin corou com a vontade repentina de comer chocolate apenas com a sugestão. Há tempos que ela não comia um. Há muitos dias. Agora estava com uma vontade quase insaciável.

— Ótimo. Vamos comprar algumas caixas de um chocolate artesanal de um amigo meu! – ele bateu um punho decisivo na mesa de madeira nobre.

Kaede olhava para Bokuseno ligeiramente boquiaberta, voltando novamente a atenção para Rin:

— Que bom que ele vai conhecer sua família. Eu estava preocupada que isso nunca fosse acontecer. – Kaede opinou como se Sesshoumaru nem estivesse ali.

Inuyasha levantou-se usando um braço como apoio na mesa, lentamente aparecendo novamente. Lançou olhares malignos para o irmão e sentou-se massageando de leve o meio da testa.

Mantendo o olhar no impassível Sesshoumaru, o mais novo começou a colocar no prato as batatas assadas, omelete japonês com queijo branco com legumes e pedaços de melão.

Do lado oposto, Rin começou a mover o nariz delicadamente para inalar o ar. Havia um cheiro delicioso ali e era de alguma coisa que nunca havia comido antes.

— Com licença... – ela pegou um pedaço e comeu, murmurando um hmm discreto em apreciação.

Depois comeu outro. E mais outro. Pedaços e mais pedaços do omelete cortado sumiam aos poucos e ela parecia totalmente indiferente aos olhares de espanto de alguns.

— Tem queijo e ovo nisso aí. – Kaede falou um pouco preocupada.

Rin deu uma pausa.

— Mas tem um cheiro tão bom. E tá gostoso. – ela engoliu o resto e pegou outro. E depois outro e mais outro para colocar no prato.

— E-E-Ei... – Inuyasha ficou ansioso ao notar que o prato principal estava quase vazio e avançou com o hashi para pegar o último, mas falhando miseravelmente quando Sesshoumaru alcançou com o talher oriental primeiro e entregou a Rin.

Os olhares dos irmãos trocaram faíscas quase visíveis a quem estava observando à mesa, exceto por Rin por estar devorando a refeição.

Kaede olhou de lado Bokuseno, que por vez decidiu olhar para o teto disfarçadamente.


Horas mais tarde, Rin sentou-se cansada em um sofá. Respirou fundo uma, duas, três vezes de olhos fechados e tentou ouvir a conversa no outro cômodo da casa que estavam visitando: aparentemente havia um problema com o tamanho da propriedade – apenas um quarto de casal e sem espaço para acomodar um bebê.

—Vamos? – ouviu a voz dele próxima e abriu os olhos, vendo a mão estendida para ajudar a levantar-se.

— Sinto muito... – ela ouviu também a voz da corretora falando atrás dele – Vou procurar outros lugares e...

Deu um suspiro e perguntou num sussurro:

— Nada?

Viu-o apenas balançar a cabeça para os lados e deu outro suspiro.

— ... Mas uma colega minha tem mais informações de casas em Kichijoji, com vista para o parque Inokashira. Algumas devem aceitar crianças, já que é uma região familiar.

Aquilo despertou o interesse dos dois, inclusive de Rin. Mesmo cansada, ela parecia com vontade de visitar.


Na segunda casa, os dois se viam frente a frente e sem poder se mover muito porque a mulher que os acompanhava, uma outra funcionária da agência imobiliária, estava no mesmo cômodo. Nem podiam mover os braços direito.

— É uma casa muito adorável. – ela começou, apontando para a parte de baixo: uma sala/cozinha com sofá e pequeno fogão elétrico e outros utensílios, frigobar e balcão que servia de mesa de refeição com três cadeiras altas, incluindo uma para criança – Acho que seria perfeito para vocês e...

— Não dá uma criança aqui dentro. – Sesshoumaru a interrompeu.

— No andar de cima há um futon para casal. Talvez dê para colocar um berço para criança.

Rin olhava para o alto e arregalou os olhos. Havia apenas ripas de madeira servindo de proteção. Não havia tela nem nada, e imediatamente a mente dela trabalhou em cenas malignas de um bebezinho rolando inocentemente pelo chão e escapulindo dali para o andar de baixo como uma bola de papel levada pelo vento.

— O vento joga um bebê de lá que nem uma folha de papel. – Sesshoumaru falou num tom mais assertivo porque obviamente aquela mulher não entendia que não havia a menor condição de ele morar ali sem acordar todos os dias batendo com a cabeça no teto.

E, claro, Rin arregalou os olhos porque era quase a mesma coisa que ela havia pensado.

— E a vista para o parque?

— Oh, um momento... – a mulher continuava sorridente e foi até ao minúsculo fogão, abrindo uma cortina tão pequena que Rin nem havia notado que estava ali.

Depois abriu a janela e curvou-se para tentar enxergar alguma coisa ali, fazendo um gesto com a mão para chamar Rin para se juntar a ela.

Sesshoumaru fechou os olhos com impaciência porque já imaginava o que aconteceria. Rin, desconfiada, aproximou-se apenas para entender, segundos depois, que da minúscula janela era possível ver alguns topos das árvores do parque.

— Vamos, Rin. – Sesshoumaru avisou já do lado de fora da pequena casa.


Na porta da última casa que visitavam naquela manhã, Rin arregalava os olhos sem se atrever a entrar no local: um corredor que era também a sala e a cozinha, com uma escada de madeira com guarda-corpo de madeira que levava ao outro andar com espaço para apenas o futon de casal. Quem tivesse que morar ali teria que andar o tempo todo de lado.

Depois viu Sesshoumaru dar as costas sem dizer uma única palavra, nem ao menos falando "Vamos, Rin".

— Ah, Sess, me espera! – disse ao correr com os braços estendidos para alcançá-lo.


No caminho de volta, passaram no apartamento de Rin para que ela pudesse trocar de roupa e levar algumas para a casa dele, onde passariam a noite de novo.

Enquanto ele observava o prédio da antiga faculdade, organizava mentalmente a agenda da semana. Havia conseguido dez dias de afastamento que usaria para viajar com Rin, para procurar uma casa, para acompanhá-la em exames, para...

Os braços de Rin contornaram a cintura dele e sentiu o rosto dela às costas.

— Já acabei. – ela informou.

Por cima do ombro, ele viu a mochila com a alça arrebentada no chão, no meio do quarto, depois voltou a olhar a vista da janela.

— Aconteceu alguma coisa? – ela perguntou.

— Estou pensando sobre onde vamos morar.

— Oh... – ela ficou tensa por alguns segundos e desfez o contato logo em seguida, afastando-se para voltar a atenção à mochila.

Antes que se aproximasse, era a vez dele de abraçá-la por trás, suavemente pousando o queixo no ombro dela.

— Sei que está relutante em aceitar, mas há bastante tempo eu já queria isso e agora não consigo parar de pensar que realmente vamos morar juntos.

Rin balançou a cabeça.

— Não estou mais relutante. – ela virou-se nos braços dele para tocar o rosto – É que nunca conversamos sobre isso e eu pensei que demoraria pra acontecer. Pelo menos quando eu estivesse já formada. Só queria poder continuar estudando. Ou ter conseguido um emprego.

— "Queria"? – ele franziu a testa – Como assim?

Rin olhou de soslaio em direção aos topos dos prédios da universidade e começou a resmungar:

— Eu não acho que meus professores vão ser gentis comigo por estar grávida. Prefiro dar um tempo um pouco antes de...

— De forma alguma. – ele a interrompeu e gentilmente a conduziu para a poltrona onde costumeiramente ficavam juntos desde o primeiro momento. Sentou-se primeiro, depois a mão elegantemente segurou a dela para que ficasse bem acomodada em cima das pernas dele, a cabeça descansando no vão entre o ombro e o pescoço.

Não deixou de notar também que ela aproveitou a posição para esfregar o nariz na região. Obviamente que ele notou que ela novamente estava

— Você não precisa largar seus estudos. Sabe que pode contar comigo se precisar da minha ajuda.

Rin mudou de posição para poder fitá-lo melhor e dar um sorriso

— E você pode contar comigo também.

— Então eu vou contar com você continuar os seus estudos enquanto eu cuido do resto.

Por um momento, ela lembrou-se de alguém do passado que também ficou preocupado com as decisões que havia tomado em relação aos estudos.

Como se soubesse sobre o que ela estava pensando, o polegar dele deslizou suavemente pelos contornos da mandíbula e tocou o lábio inferior.

— Lembra da primeira vez que sentamos aqui? – ele perguntou de repente.

Um sorriso apareceu nos lábios dela, confirmando com a cabeça. Havia sido no dia um do namoro – após um dia no estágio dele e quando ela passou dificuldades com um salto que machucou o pé. Ambos ficaram sentados na varanda enquanto ela cuidava dos pés em uma bacia com água quente e sais.

E não apenas tinha sido uma, mas várias vezes usaram aquela poltrona para diversas atividades – não apenas para observar o topo dos prédios da universidade.

— Vou sentir falta daqui. – finalmente ela admitiu com uma estranha saudade. Ela havia gostado daquele espaço. Era bom ter um lugar para voltar depois de sucessivas viagens para Nagoya para rever os pais. Queria apenas ter outro lugar que desse a mesma sensação.

Um carro passou em alta velocidade e, instintivamente, ela fechou os olhos e encolheu os ombros como se o barulho tivesse a machucado na alma.

— Você está sensível a sons. – ele observou com os olhos perspicazes – E a cheiros também.

— Foi horrível tentar dormir aqui. Desculpe não ter percebido antes como se sentia. – ela voltou a encostar o nariz na base do pescoço dele – Só o seu cheiro é bom. Os outros são tão ruins... Ah, o da comida de Kaede-sama também é bom.

— Hunf. – ele zombou com uma expressão impassível.

A mão voltou a deslizar pela delicada pele do rosto, até parar por mais um segundo.

— Eu consegui dez dias de licença. – finalmente ele revelou, chamando a atenção dela – Comprei nossas passagens também.

— Êh? – ela murmurou com um sotaque tão característico dela. Se não se controlasse, em pouco tempo já estaria falando com ele sem perceber – Podia ter me falado.

— Não quis incomodá-la. Já vamos ter que nos preocupar com a bagagem e com a conversa com a sua família.

— Parece que seu avô não quer que a gente fale da gravidez.

— Ficou claro que ele não quer que Kaede saiba. – ele apontou.

— Eu não vejo motivo. Ela me parece bem compreensiva.

— Você sempre vê outro lado da minha família. – ele continuou a deslizar a ponta do dedo pela maçã do rosto – Kaede pode ser bem rígida em relação a regras. Creio que ela a trata bem por educação e aceitava o nosso relacionamento como algo temporário, mas preferia que eu seguisse as regras e ficasse com alguém próximo à nossa família.

Rin franziu a testa em evidente preocupação. Ela queria ser aceita na família dele como muito provavelmente a própria família aceitaria... com exceção do irmão porque aparentemente ele não gostava de ninguém, claro.

— Não se preocupe com nada, Rin. – ele falou no tom mais sério que tinha – Eu vou conversar com o seu pai.

Rin piscou uma, duas, três vezes, apenas dando-se conta, naquele momento, de que Sesshoumaru iria conhecer a família Nozomu.

— O que foi? – ele quis saber quando notou um certo alarme nos olhos dela.

— Você vai conhecer minha família.

— É claro que vou.

— Vai conversar com o meu pai e a minha mãe.

O rosto dele continuava sem expressão, mas a mente trabalhava para tentar entender a que ponto ela queria chegar.

— Vai conhecer minhas primas gêmeas. E meus tios democratas. E o Jakotsu! – as mãos foram ao rosto para enfatizar o terror que sentia, quase como uma pintura de terror.

— Vamos, chega. Você está cansada. – ele levantou-se de vez com ela nos braços como se não pesasse nada – Vamos voltar para casa. Ainda preciso conversar sobre você passar alguns dias lá enquanto não arranjamos um lugar.

O estômago dela roncou e a fez corar absurdamente e esconder o rosto no vão do pescoço.

— Está com fome também. – ele completou, colocando-a no chão.

— Desculpe. – ela fez um beicinho – Queria um chocolate quente agora.

E, novamente, ele estendeu a mão direita para ela, pegando a mochila com a outra.


Na sexta-feira à tarde, Sesshoumaru e Rin terminavam de arrumar as malas quando viram Kaede entrar sem bater no quarto com alguns embrulhos enfeitados com laço – os presentes para a família dela.

— Ah, espero que ainda tenha espaço. – ela falou num tom sério – Entregaram um deles só agora aqui em casa.

— Tem espaço sim. – Rin respondeu por ele.

Kaede aproximou-se da cama e colocou com um gesto elegante três presentes em cima do cobertor – para os pais e para o irmão dela, naturalmente que sem saber que os dois não se falavam.

— Espero que façam uma boa viagem. – ela falou gentilmente – Cuide dele. Sesshoumaru nunca andou por essas bandas.

— Vou cuidar dele. – ela agarrou o braço dele, encostando-se nele – Ele não vai se perder na plataforma.

Kaede olhou para fora para observar o tempo, franzindo a testa.

— Vi nos noticiários que vai esfriar muito hoje. É melhor levarem os casacos. Não queremos que fique doente de novo, certo?

— Oh... – Rin ficou preocupada – Esqueci de trazer um do apartamento. Será que dá pra pegar lá quando...

— Temos casacos aqui. – Kaede a interrompeu – Vou buscar um.

Assim que a madrinha foi embora, Sesshoumaru voltou a abrir as malas para guardar os presentes da melhor forma possível.

— Vocês vão ficar realmente sem se falar? Ela não quis nos afastar por maldade. – Rin tentou.

A resposta dele foi o silêncio, aparentemente mais concentrado em colocar os presentes como peças de quebra-cabeça num canto e outro da mala que ele levaria.

Alguns minutos depois, Kaede voltava para o quarto com uma peça de roupa extremamente luxuosa e estendia para Rin: um tecido em tons roxos e lilases com borboletas amarelas e com pelúcia nas mangas, no colarinho e na barra. Talvez nem Jakotsu tivesse algo da mesma natureza.

— Era da mãe de Sesshoumaru.

— Oh. – Rin olhou para o namorado e o viu observando a peça nas mãos dela.

Depois era a vez dela de olhar observar curiosamente alguns detalhes.

— Isso é pele de verdade? – ela franziu a testa bastante preocupada. Aquilo era contra a natureza. E se fosse de algum animal em extinção?

Sesshoumaru rapidamente lançou um olhar desaprovador para Kaede, algo que dizia para que tomasse cuidado com o que fosse responder.

— É falso. – ela respondeu com um tom extremamente seguro e confiante.

— Ufa. – a garota parecia realmente aliviada e vestiu imediatamente, soltando um "oh" depois.

— O que foi? – ele quis saber.

— É bem quentinho. – ela enrolou a gola de pelo no pescoço e abraçou-se – E tem um cheiro bom. Quase como o seu.

Kaede e Sesshoumaru trocaram olhares silenciosos.

— Ah, lembrei de outra coisa... – Jaken e eu preparamos um chá para você levar. É para evitar essa gripe forte.

Rin deu um sorriso sem graça.

Algum tempo depois, Sesshoumaru e Jaken desciam as escadas com as duas malas, com Rin e Kaede andando lado a lado atrás deles.

— Espero que seus pais gostem dos presentes. Ah, e que não estranhem o silêncio do Sesshoumaru.

Rin lançou um olhar para as costas do namorado e deu um sorriso mais feliz. Silêncio nunca era problema entre eles.

— Bokuseno teve que sair hoje para uma reunião com o clube de go. Mas pediu que vocês ligassem de vez para avisar se chegaram bem.

— Vamos ligar sim. – ela concordou. Não era diferente dos pedidos que o pai havia feito para sempre ligar com notícias da capital, principalmente nos primeiros dias.

Do lado de fora, já estava aguardando por eles um táxi para levá-los à estação. Enquanto Sesshoumaru se encarregava de colocar as malas no veículo, Jaken parou Rin para entregar uma garrafa de metal com um líquido quente e um pacote com folhas de chá.

— Isso é para tomar durante a viagem. Também preparamos um estoque para os próximos dias. Vai fazer bem frio. Precisa se cuidar para não ficar doente de novo.

— Obrigada, Jaken-sama. – ela agradeceu com o sorriso mais sincero.

— Vamos, Rin. – Sesshoumaru avisou já abrindo a porta do carro para ela entrar.

Rin abraçou a garrafa e o pacote e curvou-se em uma reverência aos dois, acenando antes de entrar no carro e fechar a porta.

Assim Jaken e Kaede viram o táxi ir embora e transformar-se aos poucos em um ponto pequeno no horizonte, ela sentiu-se segura para falar para ele:

— Precisamos fazer o possível para Bokuseno não descobrir que Rin está grávida, Jaken.

— Claro, Kaede-sama. – ele concordou.

— Acha que ele está desconfiando? – ela perguntou.

— Acredito que não. – ele ponderou com a mão no queixo – Ela melhorou bastante dos enjoos depois que passou a tomar os chás pela manhã.

— Que bom. Vamos ver até onde podemos esconder dele. – Kaede suspirou aliviada e fechou a porta.


Nota da autora 2: Adivinhem quem vai conhecer quem no próximo capítulo... :)