Nota da autora: Foi tanto comentário de uma vez que fiquei animada para escrever este aqui a partir do original e acrescentar mais partes. Só não deu pra terminar antes porque fiquei com um problema de saúde desde o início da semana.

Obrigada pelos comentários: ShivaAurora, Isa Raissa, 05csomoragnes11, Connychan94, DindaT, Jo-Anga, HelloBraga, Dica-chan, Autumnbane e Barbara Rettoree. Muito obrigada!

Espero que gostem e que possam comentar o que acharam da última parte!

(se eu melhorar, tem capítulo na quinta ou sexta que vem!)


UM CAMINHO PARA DOIS

CAPÍTULO 42

Por mais que o caminho mude...

Hakudoushi andava pelo jardim da casa pisando duro, chutando cada pedra que tinha no caminho do jardim até o dojo. Não tinha dado nem meio-dia e já tinha passado por uns cinquenta níveis de aborrecimento que não estavam registrados em qualquer livro de História.

— Aquele sujeitinho...

Meu plano para fazer você cair do telhado não deu certo, então.

Eu não separei ninguém, Hakudoushi. Quem fez isso com a sua família foi você.

Desculpe, o copo caiu da minha mão.

— Droga! – ele exclamou furioso, chutando a pedra com força e fazendo-a voar até uma janela vizinha, ignorando um grito feminino e o som de vidro quebrando.

A irmã ia casar com aquele tal de Setsunamaru! Como ela podia fazer uma coisa daquelas? E logo com quem não foi com a cara... Só de lembrar as provocações dele... O modo com que ele tratou Rin quando todos resolveram comer direito... Quando ele e os pais conversaram... Na decisão dele de casar com a irmã...

Que cara mais pretensioso! Hakudoushi tinha passado anos cuidando de Rin sozinho e depois aparecia alguém que nunca tinha visto na vida achando que poderia cuidar melhor dela!

Pela forma como não está falando com ninguém da sua família, o último a saber vai ser você, Hakudoushi. E saiba que não é uma ideia ruim. E me refiro a você ser o último a saber que Rin e eu vamos casar, claro.

Não tinha culpa se Rin tinha decidido seguir um caminho diferente e ficar longe da família. A culpa era dela e daquele Korosemaru!

E logo depois teve muitos telefonemas. Muitas chamadas a membros da família Nozomu. Aos membros da família dele. A novidade logo se espalhou graças a Jakotsu. Logo já estavam decidindo onde seria a cerimônia para o noivado relâmpago, a apresentação do casal para as duas famílias e, claro, a data do casório com cerimônia tanto budista quanto xintoísta. Alguém da família Nozomu que trabalhava na prefeitura de Nagoya ajudaria no registro na prefeitura.

Rin não estaria mais com eles muito em breve.

Andou até o dojo e encontrou o primeiro aluno do grupo que estava treinando para a competição em outra cidade.

— Ei, sensei, o...

O rapaz nem terminou de falar porque Hakudoushi enfiou a cara dele na parede e o fez deslizar por ela.

Entrou na sala e viu todo mundo conversando.

— EM POSIÇÃO! – ordenou ao entrar e ver os alunos conversando animadamente e muito à vontade no dojo.

Os alunos se posicionaram numa muralha, um ao lado do outro.

— Ikikame, você é o primeiro! – Hakudoushi ordenou, e logo um rapaz se destacou da fileira carregando um shinai, indo para o centro da sala e se curvando diante do mestre.

Hakudoushi nem ao menos perguntou se o outro estava pronto e avançou.

Quem via a cena encolhia os ombros e alguns fechavam os olhos a cada grito, golpe, xingamento, soco, chute e gemido de dor do colega apanhando de Hakudoushi.

Segundos depois, o sensei tinha um pé apoiado nas costas do pobre rapaz enquanto estalava os dedos para mostrar que estava com vontade de bater em mais alguém.

— QUEM É O PRÓXIMO? – Hakudoushi vociferou.

A fileira deu um passo para trás, mas um infeliz não acompanhou o movimento e ficou à frente. Quando ele percebeu, olhou para os lados e arregalou os olhos quando viu o mestre avançar.


Sesshoumaru desligou o celular e olhou para Rin apreensiva atrás dele, com mãos cruzadas como se tivesse que fazer alguma prece. Tinha acabado de falar com Bokuseno para avisar sobre os novos planos e de como teria que apressar determinadas coisas. Casariam em poucos dias, tanto na tradição xintoísta quanto budista, e a família dele chegaria em dois dias para ajudar também nos preparativos.

Se tudo desse certo, Rin seria oficialmente uma Taisho em poucos dias.

Notou a forma como ela agora protegia o estômago, talvez para controlar o enjoo provocado pelo nervosismo, e como olhava para ele com aqueles enormes olhos castanhos.

— O que foi?

— Sess... Eu queria conversar...

— Com licença... – Jakotsu interrompeu os dois para tirar medidas de Rin para a saia com uma fita métrica.

— Meu avô está vindo para cá para conversar com os seus pais sobre a união das famílias. Falei também para convidar Houshi e sua amiga. Kagome vem com Inuyasha.

— Sango-chan também vem? – ela não conversava há tempos com Sango, tudo porque a amiga trabalhava muito. Agora não tinham os mesmos horários de quando estudavam juntas.

— É o que você quer, não? Que todos os seus amigos estejam aqui. – ele não desviou o olhar do dela – Eu converso com eles.

Rin sentiu os olhos levemente marejados. Parecia extremamente sensível ainda e Sesshoumaru sabia exatamente como acalmá-la com poucas palavras ou um simples toque no rosto.

— Um minutinho... – Jakotsu novamente interferiu para passar a fita métrica no quadril da prima, anotando os dados no caderninho depois.

— Você não precisa se preocupar com nada, eu já disse. – ele a assegurou.

Jakotsu puxou a fita bem na cara de Rin para ver as medidas para o wataboshi, o chapéu que ela deveria usar durante a cerimonia xintoísta.

— Sess... – ela murmurou.

O primo prendeu a respiração tão repentinamente que finalmente chamou a atenção deles, olhando fixamente o caderninho.

— O que foi? – ela perguntou assustada.

— Suas medidas mudaram. – ele respondeu gravemente.

— Mentira! Não pode ser! – ela arregalou os olhos e tentou pegar o caderno dele. Não poderia ser verdade porque nem mostrava ainda barriga com dois meses. Provavelmente seria uma daquelas mulheres cuja gestação ninguém notava de tão pequenas e magras que eram.

Jakotsu fechou-o com as duas mãos e escondeu no bolso na calça. Depois pegou Rin pelo colarinho do casaco de pele e começou a arrastá-la em direção às escadas, falando numa voz musical:

— Vamos, Rin-chan, temos que rever suas roupinhaaaas~

Kyaaaaaaa... – ela gemeu quando se viu cada vez mais afastada de Sesshoumaru.

Depois os pais dela apareceram para ver Sesshoumaru.

— Bem... está na hora de conversarmos sobre algumas coisas.

Sesshoumaru lançou um olhar para Rin sendo levada para o andar de cima por Jakotsu.

— Ela vai ficar bem com ele. Jakotsu vai começar a selecionar a roupa para cada cerimônia dos próximos dias.

Sesshoumaru concordou com a cabeça e lançou mais um olhar por cima do ombro antes de seguir o senhor Nozomu em direção ao escritório.

Ao entrar, viu-se dentro do antigo ambiente de trabalho de um antigo político, com diplomas, certificados, prêmios. Livros e fotos de família também estavam em exposição pelas quatro paredes.

Notou várias fotos de Rin em vários momentos – quando bebê, quando criança, adolescência... Os olhos passaram também por um retrato de família com os pais biológicos e uma foto da mãe de Rin ainda grávida.

— Logo colocaremos uma do noivado e do casamento aí. – a senhora Nozomu, acomodada em uma confortável poltrona, fez-se presente.

Pelo canto dos olhos, Sesshoumaru os observou. Os dois pareciam também apreensivos com o rumo das coisas – eles só tinham vindo para a cidade para uma visita, conversar sobre o fato de Rin precisar mudar e contar sobre a gravidez.

Mas ele tinha quase certeza que eles perceberam o que havia acontecido durante a conversa no dia anterior e evitavam falar, assim como Bokuseno havia feito dias antes.

— Sente-se, por favor, Sesshoumaru. – o pai ofereceu uma poltrona de visita.

Educadamente, ele sentou-se e colocou uma perna em cima de um joelho.

— Percebi que não gosta de falar muito, então vou tomar a liberdade de começar.

Sesshoumaru continuou impassível, mas visivelmente atento a qualquer coisa que fosse dita:

— Não temos nada contra nossa filha mudar alguns planos quando ela só pretendia estudar na capital e voltar formada para casa. Planejamos inclusive que ela trabalhasse para a família. E isso foi numa época que estávamos preocupados com o estado dela depois da morte de Akihito. Creio que já sabe da história.

Deu uma pausa e viu Sesshoumaru confirmar com a cabeça.

— Mas ainda estamos preocupados com algumas coisas. – desta vez, quem falava era a senhora Nozomu – Se pretendem voltar para Tokyo casados, o mínimo que esperamos é que tenham um lugar para ficar. E, pelo que Rin contou, vocês ainda vão procurar um enquanto ela ainda está fazendo pesquisas e estudando e você está trabalhando.

— Isso não será um problema. – Sesshoumaru começou calmamente – Eu me adiantei e conversei com meu avô. Vamos ficar um tempo morando na casa da minha família por pelo menos um ano. Ele também gostou da ideia, considerando que Rin poderia precisar de ajuda enquanto ainda está estudando.

Os pais de Rin se entreolharam ainda preocupados, o que fez Sesshoumaru franzir a testa. Para ele, as coisas estavam bem encaminhadas.

— Meu avô gosta dela. – ele completou.

— Ela gostou que jogam go com frequência.

— Sim.

A porta deslizou para o lado e Rin entrou no cômodo trajando um vestido de mangas curtas em tom azul claro.

— Sess! – ela choramingou ao tentar se aproximar do namorado.

A mão de Jakotsu na gola do vestido a impediu de se aproximar:

— Ah, então você tava escondida aqui, né, sua danadinha? Bora logo escolher a roupa do almoço de família. Tem ainda um guarda-roupa inteiro com peças que você nunca usou, hohohoho...~

Kyaaaaa... - ela choramingou de novo ao ser arrastada para fora do escritório do pai.

Novamente Sesshoumaru não pareceu alarmado ao observar a cena.

— Jakotsu deve está tentando distraí-la para que ela não se preocupe com nada hoje. – o senhor Nozomu observou – É um problema de Rin: ficar preocupada demais com as coisas.

Obviamente que Sesshoumaru havia notado que o primo queria um tempo para conversar com Rin e muito provavelmente conseguiria deixá-la mais tranquila.

— Bem, vamos ter um almoço hoje em família, será no lugar onde teremos a cerimônia oficial do noivado. Você vai conhecer as primas de Rin.

Houve apenas um movimento de confirmação por parte do jovem.

— Há mais alguma coisa que esteja incomodando vocês? – ele perguntou para resolver de uma vez qualquer pendência.

Esperava que não estivessem preocupados com Hakudoushi interferindo porque nem Rin estava pensando nele.

— Rin está bem mesmo, não é? – o senhor Nozomu perguntou.

Havia muita coisa por trás daquela pergunta tão simples e Sesshoumaru optou por uma resposta igualmente simples:

— Ela está sim.


No quarto de Rin, Jakotsu tentava tirar à força o casaco da prima com o intuito de destruí-lo.

— Você não precisa usar esse monte de animal morto, Rin. – Jakotsu asseverou.

— Não vou tirar! – ela, de casaco, se abraçava pela cintura e balançava a cabeça para os lados – É meu agora!

— O seu futuro marido deveria saber que você usa apenas as roupas selecionadas por mim. – ele cruzou os braços e empinou o nariz – Você tem tanto casaco da minha marca fabricado com material sustentável e prefere usar esse? É uma facada no meu coração.

— É que... – ela uniu a ponta dos indicadores timidamente, ficando evidentemente vermelha – Tem o cheiro dele e eu gosto.

— Você vai ter tempo de sobra pra ficar com o cheiro dele. Vamos logo, tira isso. – ele colocou as mãos na cintura – Esse casamento em cima da hora é culpa dele. Já sabe que nem vai dormir pelos próximos dias, não é?

Andando até o armário e deslizando as portas para os lados, ele respirou fundo:

— Bem, agora vamos escolher agora a roupa pro jantar de mais tarde.

Começou a vasculhar e a tirar uma peça por vez, jogando tudo para trás ou para o lado como se não valessem mais nada:

— Você já usou essa. Essa aqui também. Ah, essa aqui também... EU NÃO ACREDITO QUE NÃO TEM NADA AQUI PRA VOCÊ USAR!

— É claro que tem. Não usei nem metade do que tem aí!

— Isso tudo aqui está fora da estação ou você já usou uma vez. – ele gesticulou com desprezo – Ninguém na minha família usa uma roupa mais de uma vez enquanto eu estiver vivo.

Rin cruzou os braços e empinou o nariz:

— Então eu vou sem roupa, pronto.

— Duvido muito que aquele Sesshoumaru permita uma coisa dessas.

Viu então a prima ficar vermelha e relaxar a pose, lançando um olhar tímido ao primo. Jakotsu, por vez, soltou um hunf seguido de um sorriso.

— Deu pra notar pela forma como ele olha pra você que ele jamais permitiria que vestisse algo que valesse menos. – ele deu uma risada divertida e vasculhou novamente o armário até encontrar algo que o deixasse satisfeito – Isso aqui serve pra hoje à noite enquanto eu preparo o vestuário pros próximos dias.

A prima olhou a peça – uma saia de duas camadas, de seda azul escuro e chiffon florido, e uma blusa social de manga comprida no mesmo tom da seda. Tinha também uma faixa grande na cintura que lembrava o obi de um quimono.

— Pronto, não vai mais pelada pro jantar. – ele deu uma risada sincera de tão feliz que estava com o momento – Vai ser tão divertido preparar suas roupas pro casamento, minha prima.


Sesshoumaru parou o carro na frente de uma enorme residência fora dos limites da capital – uma casa com estrutura mais moderna e mais ocidental que a de Rin. Era o local escolhido para a comemoração do rápido noivado e para a festa do casamento depois das cerimônias budista e xintoísta. Do veículo, desceram também Rin e os pais dela.

— Ah, bem-vindos. – duas jovens com mesmo modelo de roupa em cores diferentes apareceram sorridentes na entrada da residência e acenaram para a família.

— Botan! Momiji! – Rin acenou enquanto o grupo se aproximava.

— Vovô, vovó. – as duas falaram ao mesmo tempo com uma pequena reverência em sincronia.

— Soubemos que vão querer nosso espaço para fazer uma celebração. – Botan falou alegremente.

— Ficamos muito feliz com a escolha. – Momiji completou e escondeu o sorriso divertido atrás da mão – A casa fica sempre melhor com festa.

As duas então notaram a presença do visitante e sentiram o rosto corar.

Parece coisa de família mesmo, Sesshoumaru concluiu.

Sentiu Rin segurar o braço dele e encostar o rosto.

— Meninas... – Rin deu um sorriso tímido – Esse aqui é Sesshoumaru-sama.

As duas responderam à prima com um sorriso e um olhar significativo, fazendo uma pequena reverência ao recém-chegado.

— Vamos apresentar a casa pra Sesshoumaru e decidir algumas coisas importantes sobre a cerimônia. – a senhora Nozomu anunciou.

— Então Rin pode nos ajudar com o chá e a comida. – Botan falou, já puxando Rin por um braço e levando-a para o interior da casa e longe de Sesshoumaru.

— Vamos, Rin-chan. – Momiji pegou o outro braço.

Kyaaaaaa... – ela choramingou ao ser arrastada novamente.

Sesshoumaru apenas observou de longe e depois seguiu os pais de Rin pelo jardim.

Minutos depois, já dentro da casa, Rin, já acomodada em uma cadeira, olhava para a mesa para esconder o rosto vermelho enquanto Momiji preparava a chaleira e Botan arrumava petiscos para servir as visitas.

As duas sentaram e continuaram sorrindo para Rin até ela ter que perguntar:

— O... O que foi?

— Não vai nos contar? – Momiji incentivou.

— "Contar"?

— Como está se sentindo? – Botan completou – Você vai casar, Rin-chan! Vai casar mesmo com aquele homem lindo de morrer!

— Tá feliz? – Momiji perguntou.

— Tá, né? – Botan unia as mãos e tinha um olhar sonhador.

— Ele é muito bonito. Muito, muito bonito mesmo. – Botan cutucava Rin.

— Corrigindo minha irmã, ele é maravilhoso. A gente nem consegue encontrar adjetivo pra descrever! – Momiji ria e cutucava também – Ele tem algum irmão ou primo ainda solteiro?

— Aviso logo que já estou de olho no irmão. – a voz de Jakotsu soou na cozinha e as três olharam para a porta – Mal posso esperar pra conhecer o I-Nu-Ya-Sha.

— Jakko! – Momiji começou.

— O que veio fazer aqui? – Botan completou.

— Ah, não... – Rin estremeceu. A presença dele ali significava que...

— Ah, sim, minha prima. – ele deu um sorriso maligno e estalou os dedos. Imediatamente, homens empurrando cabideiros e mais cabideiros entraram no recinto e o trio arregalou os olhos – Vamos experimentar algumas roupinhaaaas~

Kyaaaaaaa... – novamente Rin foi arrastada pela gola para outro cômodo, deixando as gêmeas se entreolhando.

Minutos depois, elas levavam em bandejas separadas o chá e comida para as visitas que estava verificando o espaço onde seria anunciada a união entre as famílias.

— Vimos que Jakotsu chegou com um furgão. a senhora Nozomu comentou ao aceitar uma xícara de chá.

— Trouxe as roupas pra Rin experimentar. – Botan escondeu o sorriso divertido atrás da mão – Parece que ele tem já arquivos preparados com os modelos de casamento de todo mundo da família.

— A de Rin deve ser maior, ela é a prima favorita dele. – Momiji completou divertidamente e sem um traço de malícia. Ela realmente parecia ser sincera sobre aquilo – Vocês vão ver como ele só vai descansar depois do casamento.

Botan olhava para os lados, apenas naquela hora dando-se conta de uma coisa:

— Ué, Hakudoushi não veio, vovô?

O silêncio se fez naquele momento respondeu à dúvida dela.

— Ah, que imbecil. – Momiji cruzou os braços em irritação – Eu não acredito que ele vai fazer isso no casamento da própria irmã.

Não, Sesshoumaru opinou apenas em pensamento, estreitando de leve os olhos. Ele não vai fazer.

Olhou de canto e viu o senhor Nozomu encarando-o. Era claro que os dois concordavam em uma coisa.


Horas depois, Rin olhava para os lados para se certificar de que estava realmente segura em andar pela casa das primas e que Jakotsu não estava perto. Tinha sido difícil distraí-lo e fugir do quarto onde foi forçada a experimentar cada peça de três cabideiros. Para tudo o que vestia ele dizia que o modelo era bom, lindo, que ficaria perfeito nela, ficando mais difícil escolher o que usar na cerimônia, na assinatura dos documentos na prefeitura, nas festas, em cada recepção programada para os próximos dias.

Deu um suspiro. E ela ainda sentia fome, para piorar a situação.

Será que era demais arriscar uma corrida até a cozinha para fazer um lanche?

Escondida entre as plantas do jardim, ela abriu uma brecha entre os arbustos e olhou para cima, procurando ver se Jakotsu não estava ali no terraço.

Mas não viu ninguém além de Sesshoumaru com os braços apoiados na proteção, olhando para baixo e...

Sesshoumaru?

Lembrou-se imediatamente do dia em que pareceu ter sonhado acordada com a presença dele ali quando ainda nem estavam juntos. Tinha sido há meses, mas ela lembrava-se tão bem que...

— Rin. – ele falou na voz calma de sempre – Vai ficar escondida aí até quando?

Feliz por vê-lo ali, ela deu um enorme sorriso.


Longe dos outros pela primeira vez naquele dia, os dois aproveitaram o momento de paz em silêncio à sombra de uma árvore. Ele tinha as costas apoiadas no tronco, com Rin respirando suavemente com o rosto novamente colado na base do pescoço dele.

— Você está bem? – ele perguntou para quebrar o silêncio.

Rin virou parcialmente o rosto com uma expressão triste.

— Eu fico com vergonha de dizer... Mas estou com muita fome.

— Por que falou para as suas primas? – Sesshoumaru arqueou as sobrancelhas – Elas prepararam bastante coisa hoje para nos receber.

— Agora elas estão com Jakotsu... E ele ia me tirar de perto de você. – ela apertou os braços no pescoço dele, aproveitando para esfregar o nariz no local – Não quero mais trocar de roupa.

— Mas vai precisar escolher a todas as roupas para o nosso casamento.

— Ele muda de ideia. Aí troco de novo. – ela fez um beicinho – Eu achava que você ia me resgatar em algum momento. Eu não aguentava mais.

— Deu para notar que suas primas e seu primo queriam se divertir com você. E sobre eu ir resgatá-la, como disse, você poderia ter me ligado ou mandado mensagem. O que me faz lembrar...

Houve uma pausa e Rin o viu tirar um celular novo do bolso da calça e mostrar para ela.

— Você vai precisar disso mais do que nunca, agora.

— Um celular? – ela piscou, surpresa – Mas eu já tenho um.

— Você sabe onde deixou esse e os outros quatro que comprou desde que nos conhecemos, minha Rin?

— Hunf. – ela deu de ombros e tentou ignorar aqueles detalhes como se não fosse culpa dela.

— Você vai precisar disso para falar com sua família e comigo. Eu preciso falar com você para saber se está se sentindo bem. Você está grávida e não vai me deixar preocupado quando eu estiver trabalhando e você na faculdade com aqueles professores que a deixam estressada. Aceite.

Sentiu-a ficar tensa nos braços e depois se afastar, sentando-se em seiza. Pegou o celular e ficou olhando para ele, a testa franzida, os lábios pressionados em uma linha fina.

— Você quer falar alguma coisa? – ele perguntou calmamente.

— Você... Você tem certeza de que... – Rin engoliu em seco – Que quer casar?

Inclinando o rosto para um lado para observá-la melhor, ele quis saber:

— O que quer dizer com isso?

— Você me pegou de surpresa com essa história de casamento... Você poderia ter me avisado antes, sabe...? Eu fiquei tão sem reação que acho que meus pais iam acabar decidindo que não por mim.

Um vento um pouco frio soprou e Rin, que estava de novo sentada nas pernas dele, abraçou-se para ficar aquecida, esfregando as mãos com força ao longo dos braços e evitando encontrar o olhar dele, pensando que talvez ele não tivesse gostado do que havia falado.

Até os lábios dele estavam entreabertos, como se pela primeira vez hesitasse em fazer uma pergunta:

— Você não quer casar comigo, Nozomu Rin? – escutou-o perguntar.

— Mas é claro que quero! – ela respondeu depressa para tentar se corrigir.

Em silêncio, os dois trocaram um olhar. Ela ainda sentada em seiza, com as pernas ligeiramente afastadas, ele descansando as costas na base da árvore, vendo-a abraçar-se como se sentisse frio, o celular firme em uma das mãos.

Depois corou ao vê-lo curvar os lábios, satisfeito ao escutá-la confirmar. Não era para ter dito daquela forma, mas...

— Então agora você já sabe, Rin. – ele falou calmamente – Você vai casar comigo.

Viu-a baixar o rosto e tentar esconder o rosto corado. Ele sempre a deixava daquele jeito. E era um pedido oficial de casamento, não?

— Certo? – Sesshoumaru perguntou.

Rin moveu a cabeça num "sim", sorrindo.