Nota da autora: Bem, fechei o mês com 3 capítulos postados, espero conseguir finalizar a história agora em maio, como fiz com a primeira versão :)

O capítulo ficou um pouco grande, então tive que dividir. Espero que gostem, principalmente de uma parte envolvendo ação.

Obrigada a quem está comentando: ShivaAurora, 05csomoragnes11, autumnbane, Isa Raissa, Jo-Anga, Dica-chan e Conny-chan94. Obrigada, gente T-T

Próximo capítulo sai no próximo final de semana (sexta ou sábado).


UM CAMINHO PARA DOIS

CAPÍTULO 43

Andanças em caminhos de pedras

Deitado na cama do quarto de hóspedes da casa da família Nozomu, Sesshoumaru olhava para o teto do quarto de hóspedes, algo que usualmente fazia em casa quando acordava cedo.

Lançou um olhar para Rin, que se remexeu ainda de olhos fechados ao lado dele na cama que dividiam.

Diferentemente de quando passava a noite no apartamento dela na capital, com trânsito e barulho a qualquer hora do dia ou da noite, ali em Nagoya era tão tranquilo que ele entendia agora por que Rin estava tão acostumada a dormir. Era um bairro tranquilo, seguro e bastante silencioso.

Mas tinha um motivo para estar acordado numa hora como aquela.

Momentos depois, escutou o que queria – um barulho tão leve, um click que indicava que alguém tinha acabado de abrir e fechar uma porta de forma a não acordar os moradores.

Sentou-se na cama e andou até a janela. Pelo jardim, viu Hakudoushi atravessar o caminho para chegar ao dojo.

Os cantos dos lábios subiram e os olhos estreitaram de leve.

Estalou o pescoço e voltou rápido para o lado de Rin, aproximando a boca para sussurrar próximo ao ouvido:

— Vou conversar com o seu irmão.

Rin não se moveu.

— Vamos resolver isso hoje, minha Rin. – ele insistiu.

Viu-a resmungar algo e mudar de lado, fazendo com que o lençol descesse e os ombros ficassem descobertos.

Cobriu-a novamente e tratou de vestir uma roupa especial para aquela situação. Depois lançou mais um olhar por cima do ombro para vê-la ainda na mesma posição, saindo silenciosamente do quarto.


Sentado no centro da sala de treinamento, Hakudoushi tentava se concentrar. As pernas estavam cruzadas, as mãos apoiadas nos joelhos e olhos fechados apenas complementavam a pose, porque o rapaz não estava minimamente tranquilo.

A preocupação no momento era em relação ao homem que casaria com a irmã. Harunamaru a pediu em casamento e Rin deixaria de ter o nome da família Nozomu... E provavelmente os dois iriam morar em Tokyo, longe da família. Provavelmente só voltariam a vê-la em ocasiões especiais, quando ela estivesse de passagem pela cidade.

Tudo culpa do Korosemaru! Por que tinha que ser com alguém de lá? E ainda mais com um que seria advogado, descendente da família do Imperador, que tinha uma situação financeira boa.

O tal de Amegamaru era algum adepto de artes marciais porque, sempre que tentava jogar algum objeto ou tentar torcer o pescoço dele, o rapaz conseguia se desviar com uma habilidade e reflexos impressionantes.

E também estava grávida, para completar a situação.

O rosto dele se contorceu numa careta, mas ele permaneceu de olhos fechados.

Rin estava grávida.

Ia ser tio.

Tio Hakudoushi.

Rapidamente a imaginação dele mostrou a irmã sorridente e o marido sisudo chegando na estação de Nagoya segurando a mão de duas crianças, mais um bebê no colo de Rin e ainda grávida de mais um.

Será que ela ficaria bem nos estudos? Diziam que os professores de pós-graduação eram mais exigentes com mulheres do que com homens. Imaginava que seriam ainda mais com as gestantes.

Uma sombra passou pelo rosto de olhos fechados. Se algum professor fizesse algo que prejudicasse Rin e o bebê e aquele Nakamaru não fizesse nada, ele mesmo ia pessoalmente para Tokyo para dar uma lição naqueles professores velhotes e ia...

— Acho que sua meditação não está funcionando: você me parece mais nervoso ainda. – Sesshoumaru falou repentinamente, quebrando o silêncio da sala e fazendo Hakudoushi dar um berro de susto.

Outro traço de família, Sesshoumaru pensou. Rin era exatamente daquele jeito quando morava no antigo apartamento.

Hakudoushi contou até dez, virou o rosto devagar e deu um sorriso cínico ao ver o causador de tantas preocupações tranquilamente encostado na parede que exibia algumas tabuletas com o nome dos antigos mestres e premiações que havia recebido em vários campeonatos. Os braços cruzados, o olhar calmo, a postura imponente... Era tudo que ele odiava na personalidade orgulhosa e pretensiosa de Sesshoumaru.

Como a irmã ia casar com um cara desses? Não tinha ela noção de que ele era exatamente o oposto dela?

— Vou trabalhar daqui a pouco. – Hakudoushi falou num tom controlado – Melhor sair daqui.

— Algum aluno sobreviveu aos seus treinamentos ontem? Achei que todos tinham ido parar no hospital. – Sesshoumaru perguntou numa ironia apenas para receber um olhar ameaçador de Hakudoushi.

— Eu não sei se alguém sobreviveu... – ele estreitou os olhos – Mas se você não sair daqui agora, alguém não vai.

Sesshoumaru apenas ficou em silêncio e descruzou os braços. Só então foi que Hakudoushi percebeu que ele tinha, ao lado do corpo, um shinai.

— Ei, onde foi que você...? – Hakudoushi olhou para a estante de shinai que estava perto dele, com um gancho vazio.

Como foi que ele pegou uma sem que eu percebesse?

Hakudoushi não teve muito tempo para pensar. Arregalou os olhos quando viu Sesshoumaru partir para cima dele, pulando no momento em que um golpe acertou o piso em que meditava e destruindo a madeira.

Deslizou os pés pelo chão, levantando um pouco de poeira, esticando o braço para pegar, durante o movimento, uma shinai da estante e posicionando-se para atacar:

— Bem que notei que 'cê tem reflexos rápidos. – falou ao recuperar a pose – Você também treina kenjutsu, não é?

Assim que a poeira baixou, Hakudoushi viu o outro com a shinai apoiada nos ombros, batendo de leve na nuca. Era uma pose confiante, pensou. E era mais uma coisa que detestava naquele homem que ia casar com a irmã.

Copiou a pose do agora adversário, com a shinai na mão direita,estreitando os olhos ao falar:

— Eu nunca vi seu nome nas ligas e na associação de lutadores do país. – Hakudoushi falou mais sério.

Sesshoumaru estreitou de leve os olhos.

— Ohhh... – o mestre de kendo continuou com um sorriso irônico/debochado – Você fez alguma coisa pra não estar lá? Foi expulso?

Uma sombra passou pelo rosto do outro.

— Foi isso, né?

O rosto de Sesshoumaru ficou ainda mais sério. Ele não tinha obrigação de explicar para o futuro cunhado que teve um desentendimento com o filho de um patrocinador, coincidentemente irmão de Asano Sara, e que por isso havia sido expulso da associação há anos. Tinha sido o preço a pagar para livrar-se daquele acordo entre famílias e poder estar com Rin agora.

A única pessoa que tinha que saber os detalhes era a própria Rin.

— Um espadachim expulso. – Hakudoushi continuou o deboche, batendo de leve na nuca com a shinai – Não deve ser grande coisa, então.

Sesshoumaru ergueu uma sobrancelha e viu o adversáriocaminhar lentamente na direção dele, dando um passo em frente ao outro com tal técnica que chegava a ser perigoso.

Os Passos do Tigre. Claro que ele conhecia bem aquele movimento. Hakudoushi estava se aproximando como se ele, Sesshoumaru, fosse uma presa.

Soltou um hunf quase inaudível. Tinha sido importante acompanhar algumas lutas de Hakudoushi pela televisão quando Rin ainda torcia pelo irmão durante o campeonato nacional e ele a ignorava.

Sabia que, num instante, os pés do tigre sumiriam. Teve que, então, desviar quando Hakudoushi apareceu na frente a ele no outro segundo para acertá-lo com a mão esquerda.

Canhoto?

Esquivou-se do ataque e viu Hakudoushi acertar o chão atrás dele e perder o equilíbrio, apoiando uma das mãos no chão e dar uma risada sarcástica.

— Ah, então você conhece os Passos do Tigre. – Hakudoushi comentou ao se levantar, ainda segurando a shinai.

— Nada que eu não consiga acompanhar. – Sesshoumaru rebateu.

Hakudoushi deu um sorriso ainda mais irônico e só então que Sesshoumaru notou o filete de sangue escorrer pelo lado esquerdo do rosto, um corte mínimo que indicara que havia sido atingido.

Ficaram os dois em silêncio, com Sesshoumaru aproveitando um segundo para limpar o ferimento com as costas da mão esquerda. Depois mudou de posição.

Frente a frente, corpos posicionados de lado e olhares que estudavam a fisionomia de cada um, tentando adivinhar qual seria o próximo movimento.

E como nada mais foi dito em pelo menos dois minutos que ficaram assim, partiram para o ataque.


Rin ainda tinha os olhos fechados quando abraçou com força um travesseiro, murmurando numa voz sonolenta:

— Sess... Tá frio...

Como não sentiu o cheiro que gostava e nem teve o abraço que esperava, ela relutantemente abriu os olhos e viu a cama vazia e o travesseiro que segurava:

— Ah, é só isso...

Sentou-se e esfregou os olhos, espreguiçando-se. Sesshoumaru deveria ter acordado mais cedo, como era habitual, e descido para o desjejum.

Teve vontade de continuar na cama ao lembrar o que tinha para fazer naquele dia. Teria que experimentar mais e mais roupas no atelier de Jakotsu. Antes de dormir, havia conversado com Sesshoumaru sobre aquela compulsão do primo para tratá-la como uma boneca, deixando-a mais cansada, e toda aquela indecisão dele sobre cada peça a ser usada nas cerimônias ou brigar com ela por cada escolha que ousava fazer. Era casamento dela e nem ao menos parecia ter alguma palavra naquela parte.

Minutos depois, ela descia as escadas arrumada e entrava na cozinha. Os pais já estavam sentados, comendo e lendo as notícias do jornal do dia, e lançaram um olhar para ela.

— Bom dia, papai. Mamãe. – ela os cumprimentou com um sorriso como sempre fazia, sentando-se em seiza.

— Bom dia. – eles responderam ao mesmo tempo.

— Sesshoumaru já comeu? – ela perguntou já com um pedaço de omelete na boca.

O pai lançou um olhar curioso para ela.

— Ele não está dormindo?

Rin negou com a cabeça, já com um hashi com uma porção de arroz enfiado na boca.

— Oh, então ele deve estar andando por aí para conhecer o bairro. Ontem falamos bastante sobre vocês considerarem ter uma casa aqui depois do seu mestrado. Ele achou bem tranquilo morar aqui. Quer dizer, nós falamos bastante, ele nem tanto.

— Hmm... – ela franziu ainda com comida na boca, imaginando rapidamente o pai falando e falando e Sesshoumaru apenas ouvindo tudo sem expressar qualquer reação. Aparentemente eles tiveram vários momentos assim e conseguiam se entender – Ele não me falou nada disso.

— Converse depois com ele, Rin-chan. – a senhora Nozomu complementou o marido – Pelo menos ter uma casa de verão aqui.

— É... – ela continuava com a testa franzida. Estava com uma estranha sensação, como se estivesse esquecendo alguma coisa.

Só então percebeu, pela forma como estava sendo observada, que havia começado a beliscar as coisas sem nem ao menos arrumar o prato.

— Ah, desculpe! – ela largou o hashi e preparou a refeição: pedaços de legumes assados, peixe grelhado, arroz, um pouco de miso, omelete japonês... Em segundos o espaço acabou e ela teve que pegar outro prato.

O senhor e a senhora Nozomu trocaram olhares silenciosamente.

— Boa refeição. – Rin murmurou.

Respirou fundo e começou a comer como se tivesse receio que a comida fugisse do prato, alternando entre goles do suco, de sopa e de arroz durante a mastigação, tudo sob um olhar atento dos pais.

Na primeira pausa, com o prato quase vazio, a mãe deslizou uma terrina com mais omelete.

— Fiz mais para você. Coma.

— Ah, obrigada! – ela pegou mais alguns pedaços com o hashi.

Enfiou o talher na boca e franziu a testa ao ouvir um barulho.

— O que foi isso?

— Hakudoushi está treinando desde cedo. – o pai resmungou – Destruindo o dojo. Nem veio comer ainda.

Hmmmmmmmmm... – o cérebro de Rin processou a informação. Hakudoushi ainda não tinha aparecido para comer e estava destruindo o dojo... E ninguém havia visto Sesshoumaru...

— Quer wakame, Rin-chan? – a mãe oferece uma tigela com o feijão verde.

— Ah! Obrigada, mamãe. – o pensamento anterior foi deixado de lado por alguns segundos em troca daquela ótima refeição.

Comeu mais um pouco até que arregalou os olhos ao lembrar de algo enterrado num fundo da memória, que mais parecia ter sido algo dito por Sesshoumaru como num sonho:

Vou conversar com o seu irmão.

Baixou a tigela (já vazia) de wakame e murmurou:

— Obrigada pela refeição...

Os pais notaram como a filha parecia preocupada com alguma coisa.

— O que vai fazer agora, Rin-chan? Mais tarde você vai ver as suas roupas de casamento, né? – a mãe quis iniciar a conversa.

— Vou procurar o Sesshoumaru, ele deve estar por perto... – ela deu um sorriso sem graça – Não vou demorar, tá?

Deu um beijo no rosto de cada um e saiu depressa, deixando-os sozinhos.

— Ainda bem que o Hakudoushi passa pouco tempo aqui agora. – a mãe comentou num sussurro – Imagine se ele descobre que ela está grávi...

— Shh. – o senhor Nozomu a impediu de dizer a palavra ao colocar um dedo em riste na frente dos lábios, voltando a ler o jornal para encerrar o assunto.


Sesshoumaru olhou a bagunça na parte principal do dojo Nozomu. Parte do piso de madeira estava quebrado, as placas com os nomes dos mestres estavam espalhadas ou partidas ao meio, a estante com as espadas de bambu estava quase vazia, com apenas uma shinai ainda aguardando para ser usada.

O silêncio era geral, mas sabia que não estava sozinho ali.

Não conseguia sentir a presença de Hakudoushi em nenhum canto há alguns segundos. Era o único armado, depois de ter destruído a penúltima shinai de Hakudoushi, e esperava que ele aparecesse para pegar a que ainda estava na estante.

— Gostei da sua técnica, o Ataque do Dragão Azul. – a voz de Hakudoushi soou de algum canto – Se não tivesse sido expulso do kendo, poderia ter aperfeiçoado e usado com mais frequência.

Sesshoumaru mantinha o semblante tranquilo ao olhar de canto para a esquerda, depois para a direita. Queria saber de onde Hakudoushi atacaria.

— Eu já conhecia os seus ataques das lutas que vi com Rin. Ela gostava de acompanhar.– ele começou, soltando um hunf enquanto dava um sorriso maligno – Claro que isso foi antes de você estragar tudo o que tinham juntos.

Ficou em alerta ao escutar um ruído e ergueu o rosto.

Em cima!

Não teve tempo suficiente para se mover, pois Hakudoushi descera do teto para posicionar-se habilmente na frente dele de mãos vazias. O objetivo não era pegar a única shinai intacta da estante, mas sim lutar sem ela. Sesshoumaru só teve tempo de colocar a arma na horizontal e tentar para defender-se e acertá-lo.

Hakudoushi, porém, foi tão rápido em esquivar-se que teve tempo para saltar e ficar, durante milésimos de segundos, em na shinai do adversário.

Sesshoumaru largou o cabo e deu um salto para trás, deslizando pelo chão no momento em que a arma se quebrou num o rápido movimento dos pés de Hakudoushi, estreitando os olhos ao vê-lo de novo parado, com a arma partida no chão.

Ao deslizar pelo tatame, pegou a última espada de bambu da prateleira e ficou em pé.

— Você ainda não disse o que veio fazer aqui. – Hakudoushi começou. Tinha cortes nas mãos e no rosto e um braço dolorido, provavelmente com algum roxo provocado pelo único golpe que Sesshoumaru acertou nele.

Sesshoumaru estalou o pescoço. Havia pensado que aquilo acabaria rápido, mas teimosia era uma outra característica de família, principalmente entre aqueles irmãos tão ligados e também tão diferentes.

— Vim avisar que sua irmã vai casar em alguns dias e parece que você não se deu conta de que também precisa estar presente.

O rosto do outro ficou sombrio, mas com um sorriso maligno formado nas linhas da boca.

— Veio me entregar o convite do casamento, é? – ele perguntou.

Sesshoumaru assumiu uma postura de ataque, deslizando a ponta do shinai no piso ao redor dele e erguendo-a na posição horizontal. O cabo estava firme nas mãos – uma perto da tsuba e outro firme no final do cabo.

— Essa sua atitude... – colocou o pé direito para trás para tomar impulso e depois avançou – Só vai deixar Rin mais triste.


Rin tentava manter o cuidado ao andar depressa pelo caminho de pedra da casa principal até o dojo do irmão. Já havia feito aquele percurso tantas vezes, mas apenas agora sentia medo com o que poderia encontrar em instantes.

De longe, ouvia sons. Parecia até que duas ou até mais pessoas estavam quebrando o que tinhalá dentro.

Sess... será que ele...?

Deslizou a porta para os lados de uma vez e arregalou os olhos ao ver a cena:

O irmão e Sesshoumaru estavam... duelando. Todas as espadas de bambu da estante estavam quebradas. E, na falta de armas, os dois aderiram aos chutes, socos e outros golpes de artes marciais de outros estilos. Tudo era possível para atacar e se defender. As roupas estavam sujas, com rasgões que indicavam os locais que foram atingidos, e era quase impossível de saber quem estava ganhando. Tanto um quanto outro pareciam confiantes e até satisfeitos em brigar. Os movimentos de Sesshoumaru eram até mais rápidos que os de Hakudoushi, mas o outro não pareceu se importar e não perdia a chance de dar um golpe em algum instante via Sesshoumaru abrir uma brecha na defesa.

— O que vocês estão fazendo? – Rin perguntou num tom curioso e imediatamente os dois pararam o que faziam para ver quem estava ali: Sesshoumaru segurava um dos braços de Hakudoushi e estalava os dedos da mão livre enquanto Hakudoushi preparava-se para fazer o mesmo, ficando os dois naquela posição por alguns segundos.

Com um golpe rápido, Sesshoumaru moveu a perna para fazer Hakudoushi tropeçar e cair no chão meio destruído do dojo.

— Ei! Não valeu! – ele gritou e foi ignorado por Sesshoumaru, que começou a andar até Rin.

— Já teve o seu café da manhã? – ele perguntou.

Rin confirmou com a cabeça, a testa franzida ainda intrigada com o que estava acontecendo. O irmão parecia bem, já em pé eestalando o pescoço e as mãos no meio da sala, movimentando o corpo num aquecimento para continuar o combate.

— Vocês estavam brigando? – ela perguntou.

— Vim conversar sobre algumas coisas para o seu irmão já que não tivemos tempo antes por causa do seu primo. – Sesshoumaru respondeu num tom sério para não deixá-la preocupada – Volte para casa, vamos comer daqui a pouco com os seus pais.

Rin ofegou ao nota o corte no rosto dele.

— Você se machucou! – ela tocou o local e olhou com a cara mais brava possível para o irmão – O que você fez com ele?

Hakudoushi piscou, surpreso, e respondeu:

— Foi ele quem veio conversar comigo... Eu dou aulas aqui, esqueceu?

Rin deixou escapar um hunf irritado.

— Vou buscar a caixinha pra fazer os curativos. – ela deu as costas e falou por cima do ombro direito – Volto logo.

Os dois limitaram-se a concordar com a cabeça.

A testa franzida de Rin ainda não tinha sumido quando ela lançou um último olhar preocupado e reprovador aos dois, saindo do dojo para voltar à casa.

A sala de treinamento ficou em silêncio por alguns instantes, com os dois olhando para a entrada.

Hakudoushi então sentou-se no chão em posição de lótus. Depois subiu a manga do kimono de treinamento para ver a extensão do ferimento no braço direito.

— Você quebrou o seu braço esquerdo, né? – ele perguntou.

Sesshoumaru olhou para o membro em questão. Inuyasha tinha sido responsável por aquilo durante a infância e ele ficou meses com o braço imobilizado.

— Você é mais lento quando usa o braço esquerdo. Eu consigo notar. – Hakudoushi explicou, tirando as sandálias e as meias para mover os dedos e descobrir se havia quebrado algum sem perceber – Você gosta mesmo de pisar nos pés do adversário ou faz isso sem perceber?

Sesshoumaru não respondeu às perguntas porque sabia que o outro estava tentando mudar de assunto, optando por continuar o que tinha para resolver ali:

— Você vai mesmo deixar a sua irmã decepcionada no casamento dela, Hakudoushi? Rin só está fazendo o que ela quer da vida.

— Você fala como se não tivesse uma parcela nisso. – ele voltou a colocar as meias e as sandálias – Eu nem falei pro velho que ela está grávida pra evitar o falatório na família. Imagine o que nossa família ia dizer se soubesse.

— E eu vou assumir todas as minhas responsabilidades e estar presente em tudo o que Rin precisar.

Hakudoushi estreitou de leve os olhos:

— Foi você que protegeu a Rin naquela história da mão quebrada, né? Eu lembro dessa sua voz pelo telefone.

Sesshoumaru reservou alguns segundos para lembrar-se do que havia acontecido na ocasião das primeiras férias de Rin com a família depois de conhecê-la e do dia que ela resolveu ligar para ele. Obviamente que foi o pior momento para descobrirem que ela havia quebrado os dedos da mão para tentar defender-se do assediador de uma importante família da capital, expulso da faculdade semanas depois.

— Vocês já estavam juntos naquela época? – o outro o interrompeu.

— Não.

— Hmmm... – Hakudoushi ainda estava desconfiado.

— Não me incomodo que não acredite em mim. – Sesshoumaru foi extremamente seco – Rin ficou abalada por muito tempo e só melhorou porque foi atrás de ajuda e de tratamento. É injusto o tratamento que está dando agora quando ela levou tanto tempo para se recuperar e seguir com a própria vida.

Silêncio se fez novamente enquanto esperavam pelo retorno de Rin. Não havia a menor necessidade de terem atendimento em hospital. Eram apenas cortes superficiais e em poucos dias estariam bem, mas era evidente que Rin não havia gostado de vê-los brigando e nem daqueles ferimentos leves.

Falando em hospital...

— Ela contou sobre o acidente dela...? – Hakudoushi começou vagamente, como se estivesse inseguro de continuar.

Algo na expressão de Sesshoumaru apenas confirmou que ela havia contado sim.

— Acho que foi esse acidente que fez com que ela mudasse de ideia e procurasse ajuda. Ela não queria nada disso antes. – ele piscava e parecia levemente assustado ao relembrar aquela época – Eu pensei que ela tivesse morrido nesse dia.

Sesshoumaru franziu a testa e estreitou de leve o olhar. Meses depois ela havia decidido mudar de cidade e se conheceram.

E agora eles iam...

— Não teve um minuto que eu não fiquei preocupado com ela desde que saiu daqui. – Hakudoushi continuou ainda com aquela incômoda expressão assustada sem deixar de encará-lo – Ela tava tão deprimida, nem parecia a Rin que todo mundo conhece. A gente só queria que ela saísse daquele buraco e voltasse a fazer as coisas que ela gostava. Ir pra outra cidade era uma ideia boa no começo, mas todo mundo se perguntava se ela tava comendo bem, se não tinha se machucado de novo, se ela tinha ficado sem dormir e só ouvindo música naquele ipod que era dele...

Um movimento no olhar periférico chamou a atenção dos dois e olharam para o lado, notando que Rin voltava apressada pelo caminho de pedra para junto deles com uma caixa de medicamentos em mãos.

Os dois nem precisaram pensar duas vezes para saber o que ia acontecer: Rin tropeçou em uma das pedras e largou a caixa, soltando um "oh" de surpreso e fechando os olhos.

Imediatamente Sesshoumaru preparou-se para correr e ampará-la antes que caísse.

No entanto, quem a segurou antes que se machucasse tinha sido Hakudoushi.

— Consegue andar? – ele perguntou suavemente para a irmã.

Corando e desviando o olhar para não encontrar o do irmão, ela moveu a cabeça num "sim".

Instantes depois, no chão parcialmente destruído do dojo, os três compartilhavam o silêncio enquanto Rin limpava o ferimento no rosto de Sesshoumaru com algodão e antisséptico, colocando band-aid depois.

— Eu preciso do esparadrapo. – Hakudoushi falou.

Um rolo do material acertou bem no meio dos olhos dele, deslizando pela cara e caindo no chão.

Evidentemente, Rin sentiu o olhar irritado do irmão às costas, mas continuou a limpar o rosto de Sesshoumaru sem se importar.

Quando estava para terminar, deu um gemido tão mínimo que apenas Sesshoumaru ouviu, o que o fez olhar para o rosto dela. Estava um pouco suada, incomodada com alguma coisa, e o motivo era o cheiro de suor e de sangue dos dois, ainda forte no ambiente. O olfato estava tão sensível que só de estar ali fazia com que se sentisse enjoada.

— Vou pegar o seu remédio. – ele falou suavemente, levantando-se.

Rin, sentada em seiza, apenas ergueu o rosto para encontrar o olhar dele e confirmar com a cabeça.

Sesshoumaru passou pelas portas deslizantes de papel e lançou um rápido olhar por cima do ombro para ver Rin de costas para Hakudoushi e este terminando de enfaixar o braço e prender a ponta com esparadrapo.

Depois seguiu para a casa. Tudo ficaria bem.

Pelo menos esperava que sim.

Antes de entrar na casa, viu a chegada de mais uma pessoa com quem teria que acertar as contas.

Aaaaaahhh... – Jakotsu chegava naquele momento com outra arara cheia de roupas encapadas em material reciclável, a voz como num lamento por encontrar o outro ali – Você está aqui ainda.

Que presunção de Jakotsu achar que, para o casamento com Rin, o noivo não precisaria estar presente.

Estreitando de leve os olhos, o visitante ainda pensava na difícil conversa que teria com aquela pessoa.

— O que aconteceu com o seu rosto? Ah, esqueça, não me interessa agora. Rin já está em pé, né? Vamos passar o dia todo no meu atelier.


Nota da autora 2: Estou devendo ainda um outtake do acidente da Rin e de como ela decide mudar de cidade. Acho que vou escrever esta semana e enviar por DM. Aguardem!