EPISÓDIO 3

Shunrei segurou as lágrimas enquanto passava pelos corredores movimentados. Ela caminhara centenas de quilômetros ali durante aqueles sete anos e várias histórias vinham incessantemente à tona, como cenas de um filme repetindo diversas vezes em sua mente. Quantos pacientes, cirurgias, amizades, rivalidades, disputas, aprendizados, conquistas e revezes estavam submersos no imenso e profundo lago das suas memórias no Hospital Graad?

Cumprimentava os conhecidos, carregando o buquê de tulipas no colo e um sorriso cansado no rosto. De vez em quando, Shiryu parava a cadeira de rodas para ela se despedir, ouvindo desejos de felicidades e pronta recuperação. Do seu lado, sua fiel secretária, Park A-ha, levava as caixas de presentes que a dra. Nishi ganhara assim que a notícia da licença de longo prazo se espalhou.

"Preciso me despedir corretamente de todos." Para Shunrei, não haveria retorno para aquele lugar, para aquelas pessoas. Passara aquelas duas semanas orientando seu substituto como diretor da Unidade Especial de Pesquisa a Traumas Neurológicos Infanto-Juvenis. Fez reuniões com as suas duas equipes e deixou tudo organizado para a sua ausência. "Está doendo como eu imaginei." Sua vida estava prestes a girar 180º graus e sua ansiedade ficava cada vez mais evidente.

- Nós precisamos ir. – Shiryu tocou o ombro da noiva, percebendo que o esforço de concentração a estava esgotando. Acompanhara enquanto ela ia desatando os laços com sua vida, seu coração diminuindo por compreender o que aquilo realmente significava para Shunrei. Por mais que ela sorrisse e garantisse que estava confiante, ele a conhecia o suficiente. – A srta. Park A-ha pode levar os outros presentes depois. – a secretária confirmou. – O Mestre está nos esperando.

"Os cabelos estão crescendo rápido." A mão dela ia a todo momento coçar a touca e depois ajustar para cobrir todo o couro cabeludo. Ele sorriu triste ao notar o gesto inconsciente. "O que mais posso fazer para você ficar tranquila?" Shiryu a apoiou mesmo sem concordar com sua decisão e por mais que tenham aceitado a sugestão de Dohko, estava claro que Shunrei não pretendia voltar. "Ainda não consigo compreender totalmente... Vou aproveitar essa oportunidade para cuidar de você, Shu."

Ao chegarem na porta larga do hospital, o dr. Lee Kang os aguardava para se despedir de sua pupila e amiga.

- Nos esforçaremos para manter tudo funcionando enquanto você não estiver aqui. – ele apertou a mão de Shunrei e fez uma longa reverência. – Se recupere, leve o tempo que precisar.

Com a ajuda do noivo, ela entrou no carro e enfim deixou lágrimas silenciosas marcarem suas faces, brotando das pálpebras fechadas.

Moon Cha Young estava em seu apartamento para organizar as medicações e emplastros no quarto e na cozinha, além de levar um bom suprimento de comida.

- Acho que finalmente vou começar a minha formação gastronômica. – ela comentou, mostrando a eles os pratos que preparara e os guardando na geladeira. – Você foi uma das responsáveis, amiga, por isso quero visitar vocês em Kamakura. – Shunrei sentara-se numa das cadeiras, com o noivo ao lado.

- Teremos um quarto esperando por você. – ela respondeu, acomodando melhor o braço imobilizado. – Não tenho dúvidas de que comeremos muito bem, não é, Shi?

- Não sei, o Mestre falou que eu engordei desde que conheci vocês duas. – ele informou com uma expressão de pesar. - Más influências para um lutador profissional. – a chinesa sorriu.

- Ele está fazendo mistério. Não quer me mostrar a casa onde ficaremos. – Shiryu girou o copo de refresco de framboesa nas mãos, cantarolando para fingir que não ouvira.

- Então vocês já têm a casa? – Moon Cha Young arregalou o rosto. – E quando irão?

o.o – 0.0 – o.o – 0.0 – o.o

O vôo era rápido, entretanto era a primeira vez que as duas crianças entravam em uma aeronave e elas estavam eufóricas.

- Nem acredito que finalmente estamos indo para casa. – Eiri comentou, vigiando a garotinha que corria para olhar pela janela junto com o novo amiguinho. – Depois de quase um ano de relacionamento.

- Logo terei que viajar novamente, mas será rápido. – Hyoga relembrou. – Não me arrependo de termos ficado em Seul esses meses. – indicou Yuna com as sobrancelhas.

- Como vocês estão se adaptando? – Seiya apoiou-se na poltrona do outro lado do corredor. – Fiquei feliz por terem conseguido permissão para viajar com ela.

- Bem, precisei colocar todo o meu conhecimento e os meus contatos nas varas de família nos dois países. – a grega suspirou. – Ainda não é definitivo. A papelada vai demorar um pouco, mas poderemos esperar em casa. Viva a adoção internacional! – ergueu o punho em sinal de vitória.

- Aprendendo a cada dia. – Hyoga respondeu. – Nós tivemos pouco tempo para nos preparar e precisamos ajustar muito bem tudo. O principal é ter atenção e disponibilidade.

- Sra. Eiri, nós podemos tomar suco? – Yuna perguntou da janela. Ela e Kouga corriam de um lado para o outro, não querendo perder nenhum pedaço de terra que viam entre as nuvens.

- Podem, sim. Uma caixinha cada um, ok?

- Também estou com saudades de casa. – Saori ajoelhou-se na poltrona para se virar e falar com eles. – Preciso organizar muitas coisas na mansão. – ela sorriu para o casal. – Tomara que vocês gostem.

- Não será por muito tempo, Saori. – Hyoga afirmou. – Já temos algumas casas e apartamentos para visitar. Se o nosso não fosse tão pequeno, não precisaríamos incomodá-la. – ela sacudiu a cabeça.

- Não é incomodo nenhum! Fui eu quem ofereceu. Será ótimo vocês conosco.

- Vocês já decidiram se vão ficar em Tóquio ou Kamakura? – a voz de Marin soou do outro lado de Seiya. Ela terminara de organizar a grande sacola com os presentes para os filhos e os jovens do Santuário.

- Vamos olhar residências nas duas cidades. Tóquio facilita para Eiri e Kamakura para mim. E temos que pensar em Yuna agora. Provavelmente, já poderemos matriculá-la no próximo ano letivo. – o loiro virou-se para Seiya. – A mesma decisão que vocês terão que tomar.

- É algo que ainda precisamos conversar. – Seiya olhou de soslaio para Saori. - Por enquanto, Kouga vai ficar na mansão Kido.

- Vocês estudaram em Kamakura e foram muito bem. – Marin informou. – Está certo que você deu mais trabalho ao Shion, – ela piscou para o discípulo. – mas também se formou.

- Por pouco. – Hyoga provocou, fazendo o amigo semicerrar os olhos castanhos.

- Yuna, é o oceano! – Kouga exclamou alto. – Quanta água! – ele grudou o rosto no vidro, tentando ver o máximo possível da imensidão azul.

Marin sorriu da espontaneidade deles, observando a paisagem da sua pequena janela. Estava ansiosa para chegar em casa. Aiolia lhe contara sobre as dificuldades com as suas crianças e ela percebeu que ficara longe além do que deveria.

- Ainda bem que o próximo campeonato será apenas dentro de oito meses. – Seiya comentou baixinho, acomodando-se na poltrona ao lado dela. – Teremos tempo para organizar a vida, não é? – ela concordou com a cabeça. – Obrigado por você ter topado a minha idéia de ficar na Coréia, Marin. Sem você e Aiolia, não teríamos conseguido. – um meio sorriso passou pelos lábios da ruiva.

- Foi uma boa temporada. Só espero que você tenha juízo para manter o que conquistou lá. – ela o olhou de soslaio, vendo a expressão séria que ele assumiu ao ouvir o tom de sua Mestra.

- Não decepcionarei você. – ela reclinou a poltrona, fechando a janelinha e as pálpebras.

- Você nunca me decepcionou, garoto. – Seiya sorriu satisfeito. - Se começar depois de velho terá problemas. Me acorde quando chegarmos.

Sentiu a felicidade do discípulo com o raro elogio quando ele se levantou de um salto, indo brincar com as crianças. Ela também estava satisfeita com o que a Coréia fez com eles. Agora precisava se preparar para os desafios no Japão. Cochilou ouvindo os mais jovens fazendo seus planos.

o.o – 0.0 – o.o – 0.0 – o.o

Shiryu estivera atento durante todo o dia. Após a despedida de Moon Cha Young, Shunrei ficou numa das poltronas observando o rio Han. Ele levou os chás e os remédios na hora certa para ela e a cobriu com uma manta.

- Os móveis já chegaram, então? – Dohko perguntou, devolvendo o celular depois de ver as fotos da casa enviadas por Shun. – Ficou muito boa.

Os dois conversavam enquanto encaixotavam os livros e objetos no escritório. Os cômodos estavam repletos de caixas e eles já haviam coberto alguns móveis com lençóis.

- Em duas semanas, os quartos e a cozinha estarão organizados. O restante, vamos comprando com o tempo. – ele suspirou, colocando uma caixa cheia em cima do sofá e montando uma nova. – Nem acredito que estou voltando. – ele crispou os lábios. – O senhor conversou com o Mestre Shion?

- Ele mal pode esperar para nos ter de volta. – a voz de Dohko estava descontraída. Desde que acertaram a ida para Kamakura, ele estava cada dia mais animado. – Nós precisamos mexer no cronograma de treinos com tudo que está acontecendo, mas a nossa ida para o Santuário é providencial. E será bom para Shunrei também, tenho certeza. – Shiryu assentiu.

- Espero que sim... E espero que as expectativas dela não estejam altas demais.

- Estão bastante altas. – eles se viraram para a porta. Ela caminhava devagar, apoiando a mão livre na parede. – Chegando, mais ou menos, à estratosfera. – ela sorriu. Shiryu fez menção de ir ajudá-la e ela sinalizou que estava bem. – Desculpe fazer vocês trabalharem tanto.

- Shiryu eu não sei, mas eu estou gostando. – os cabelos de Dohko apontavam para todo lado enquanto ele subia na cadeira para alcançar as prateleiras mais altas e passar os objetos para seu discípulo. – Quero me enfurnar nos bosques e nunca mais ir a uma cidade grande na vida! – o comentário fez Shunrei rir. Ela se espremeu entre uma caixa e outra no sofá. - Vocês não sentem que é como se o futuro nos chamasse para construí-lo?

- Estou muito ansiosa! – Shunrei exclamou. – June enviou tantas fotos bonitas de lá. Parece ser um bom lugar para Ryuho também.

- A escola fica perto da nossa casa. – Shiryu disse, a atenção nos menores movimentos dela. – Todos nós moramos próximos do Santuário, mas a nossa casa é duas ruas acima, então conseguimos uma boa visão da Baía. Você vai ver como a vista é bonita e o ar é puro. – viu que os dois tentavam não rir. – O quê?

- Para quem estava emburrado de ir embora de Gangeo-gu, você andou pensando bastante na nossa colina, hein? – Dohko debochou, batendo um livro na cabeça dele.

o.o – 0.0 – o.o – 0.0 – o.o

- Ikki, eu quero muito ajudar vocês, mas não estou encontrando uma forma. – Esmeralda passou os dedos nos ombros do marido, levando mais uma das caixas de roupas para o quarto.

O movimento trouxe de volta a mente que voava ao observar os três garotos brincando no pequeno quintal da casa alugada. Piscou os olhos e sacudiu a cabeça.

- Ele é parecido demais comigo. – ela sorriu dos cabelos azuis mais bagunçados que o habitual pelo trabalho desde a manhã. – Pensei que ele iria se encontrar convivendo com Souma, como foi comigo e Shun. – ele ergueu com facilidade dois volumes com utensílios de cozinha e levou até o balcão, organizando-os nas gavetas e armários.

Éden, Souma e Yuuto, depois de ajudarem os adultos, foram para o quintal, onde se empenhavam em decidir em qual galho de bordo o balanço de pneu ficaria e o melhor local para a mesa com as cadeiras de plástico. As vozes das crianças chegavam aos cômodos da frente da casa simples que conseguiram alugar ali perto do Santuário.

- Os dois se deram muito bem, eu até fiquei surpresa. – a loira descansou as costas no batente da porta. – A última vez que Éden tinha visto o irmão, Souma era praticamente um bebê. – amarrou os cabelos para cima. – Quem sabe quando a escola começar? – via pela tensão na postura que Ikki não se convencia. Pegou um cacho das pequenas uvas roxas e doces da bandeja de frutas que ela preparara para o dia da mudança. Ofereceu uma a ele, que se assustou com o glóbulo aparecendo de repente em seu campo de visão. Ela riu da expressão de surpresa, fazendo os músculos dele tremerem num sorriso rápido e abrir a boca. – São deliciosas, né? June que me mostrou no mercado. – deu-lhe mais duas.

- Eu queria apenas conseguir chegar até ele. Desde que Seika se casou de novo, ele se fechou mais ainda. – ele desmontou as duas caixas vazias e as jogou na pilha cada vez maior no canto da cozinha. Apoiou-se no balcão ao lado da esposa.

- A partir de amanhã ele vai com você aos treinos e você vai ter mais oportunidades. – Esmeralda o chamou para a sala, indicando outros fardos pesados para ele levar aos quartos.

Eles optaram por aquela casa simples por causa do quintal com o limoeiro, a ameixeira e o bordo e os três quartos. Pela idade e por estar no menor terreno daquela rua, ficou muito tempo fechada, por isso o aluguel saíra em conta. Há quatro dias, houvera um mutirão dos amigos para limpar, pintar e reparar a edificação. Apararam a grama e podaram as árvores. Shun e Shaina trouxeram muitos vasos de plantas para a escada da frente. Aiolia e Shion repararam os armários e instalaram as prateleiras no banheiro. Camus liderou os jovens na empreitada de limpar as janelas e os recém-chegados Shaka, Mu e Milo se encarregaram da pintura das paredes.

- ¡Papá! – Souma chegou afobado, os olhinhos castanho-claros brilhando, usando o espanhol a que se habituara nos três anos entre Peru, Colômbia e México. – ¡Ya hemos elegido la rama para el columpio! – parou na frente de Ikki, animado.

- Ótimo. – deixou o garotinho de seis anos puxar seus dedos, erguendo as sobrancelhas para Esmeralda. – Vamos arrumar logo isso para vocês nos deixarem terminar.

Os outros dois estavam com a corda e o pneu, marcando o lugar escolhido. Ikki agachou-se, mostrando aos meninos como amarrar o pneu de caminhão que encontraram na oficina ao pé da colina.

- Passem várias vezes a corda pelo pneu e amarrem aqui em cima, assim ficará seguro. – deixou-os tentar puxar e desfazer e riu internamente com os rostinhos espantados. – Éden, segure para medirmos a altura. – passou a corda pelo galho e puxou.

- Assim está bom, pai. – o menino informou, pensando nos dois mais novos. Ele também estava animado com a tarefa e ofereceu um raro sorriso ao pai. – Se for mais alto, eles não conseguirão usar. – Ikki assentiu, pedindo para ele segurar enquanto passava outras voltas no galho e terminando de amarrar no tronco da árvore alta.

- Quem quer testar? – os três gritaram juntos. – Acho melhor o Éden ser o primeiro. – sinalizou para ele sentar, impulsionando-o de leve. Podia ouvir a respiração ofegante do filho. – Vamos mais alto? – a cabecinha concordou, as mãozinhas agarrando o nó da corda com força.

Éden desceu entusiasmado após balançar alto, sentindo o vento fresco no rosto. Abraçou as pernas do pai e o coração de Ikki pulou no peito. Infelizmente a espontaneidade durou o tempo de Souma e Yuuto gritarem pedindo para testar também. O menino percebeu o que fizera, afastando-se com os punhos fechados e o rosto vermelho. Ikki tentou não demonstrar a decepção, assanhando mais ainda os cabelos azuis idênticos aos seus, indo atender aos outros dois.

- Éden, vou continuar a arrumação. Você fica responsável pelos dois, tudo bem? – o menino o encarou sério e assentiu.

Da porta da varanda, Esmeralda assistira à interação, fotografando os quatro.

"Um passo de cada vez." Ela esperou o marido para entrarem. Ainda tinham muito trabalho para tornar aquela casa um lar.

o.o – 0.0 – o.o – 0.0 – o.o

CINCO SEMANAS DEPOIS

o.o – 0.0 – o.o – 0.0 – o.o

À medida que se afastavam de Tóquio para sudoeste, o coração deles acelerava.

Os quatro chegaram no primeiro vôo da manhã, carregando as quatro malas grandes. Após um café da manhã rápido no aeroporto, embarcaram no trem que os levava a Kamakura, a cidade que já fora capital do país e que agora era destino turístico. Eram mais de 20 templos budistas e santuários xintoístas e relíquias históricas que lembravam a glória dos shoguns. E havia as praias de areias escuras que atraiam multidões nos meses de verão, como agora.

- Ainda bem que viemos durante a semana. – Dohko comentou, sentando-se com Shiryu após acomodarem a bagagem. – Na sexta-feira, vai estar mais cheio.

- Me lembro das pessoas querendo visitar o Santuário, pensando que era um dos templos abertos à visitação. – Shiryu observava os indefectíveis turistas admirarem a paisagem, com suas roupas informais, mochilas e câmeras fotográficas.

- Houve um ano em que permitimos e até cobramos ingresso, lembra? – o Mestre riu. – É bom voltar, não é? – seu discípulo concordou.

Há semanas, os dois faziam planos para esse momento. O retorno de ambos marcava uma nova etapa em suas vidas e eles tinham plena consciência disso. Estavam elétricos, relembrando histórias e conjecturando o que encontrariam, a expectativa de reverem seus lugares favoritos e os amigos soltando suas línguas.

Do outro lado do corredor, Ryuho olhava a paisagem com a testa grudada no vidro da janela, atento a tudo. Shunrei também admirava o cenário, testando de vez em quando o ombro esquerdo e sorrindo levemente ao ouvir os dois comentando sobre Kamakura. Ela fizera uma breve pesquisa, descobrindo algo sobre a história da, hoje, pequena e pacata cidade para onde decidira se mudar.

- Mamãe Shunrei, nós vamos morar aqui? – o garotinho perguntou ao ver a vegetação cerrada das colinas.

- Vamos morar numa casa perto do Yuuto, da Yuki e da Yorie, lembra? Você vai gostar. – ela afirmou, apontando o Oceano para ele e depois as primeiras casas e prédios baixos.

Ao descerem na estação central, June os aguardava, abraçando-os bem forte.

- Shun queria vir também, mas aí teríamos que fazer Shiryu ir a pé.

As ruas estavam cheias de pessoas, mas não havia os arranha-céus de Seul, nem as ruas largas ou o trânsito caótico. O céu estava azul e límpido, como o ar. June riu porque todos respiraram fundo ao mesmo tempo.

- É assim o ano todo? – Shunrei perguntou, tentando fazer sua mente relaxar.

- O ano todo. É a vegetação em volta. – a loira sinalizou para as montanhas que envolviam a cidade em todas as direções, menos no sul, a Baía de Sagami curvando o litoral. – E onde moramos é melhor ainda.

Começaram a subir lentamente, deixando a movimentação do centro para trás. Os quatro ficaram silenciosos, antecipando a chegada.

- Aqui é a nossa rua. – June apontou para uma rua à esquerda onde Shunrei viu um enorme muro coberto de trepadeiras do lado direito e várias casas do lado esquerdo. – Nossa e de Marin e Aiolia.

- Esse muro é do Santuário. – Shiryu explicou. – Podemos vir aqui mais tarde, se você quiser.

Era um muro alto e que se perdia de vista, acompanhando a montanha. Parecia haver um bosque enorme lá dentro. Shunrei se admirou com o tamanho e com a capacidade dele se mesclar com a vegetação em volta, quase como se não estivesse ali. Estava deduzindo o comprimento quando viraram à direita duas ruas depois, entrando na última rua, com casas apenas do lado direito. Pararam na esquina, em frente a um sobrado verde-claro com janelas grandes e quadradas.

- Preparada? – Shiryu estendeu a mão para ajudá-la a descer.

O muro baixo de pedra tinha logo atrás uma cerca-viva alta, que escondia o térreo da casa. O terreno era comprido na frente e o portão era largo e gradeado. A entrada tinha um pequeno gramado com uma cerejeira do lado esquerdo e a garagem do lado direito. Ao entrar, ela sentiu o leve cheiro de óleo para madeira e incenso. O assoalho escuro estava lustroso, bem como os painéis de madeira até a metade da parede. Após o curto corredor da entrada, abria-se um espaço que agora estava desocupado e que poderia ser para as refeições, com a cozinha à direita. À esquerda, um outro ambiente que ela imaginava ser a sala de estar. A escada ficava entre essa sala e a lavanderia.

- Uau! – Shunrei moveu os lábios numa exclamação muda. Tudo limpo e as caixas e malas que eles despacharam de Gangseo-gu estavam distribuídas nos ambientes pelas etiquetas.

- O inquilino não ficou muito feliz, mas saiu a tempo de limparmos um pouco. – June justificou, puxando uma das malas de rodinhas e deixando em frente à escada. – Mas Shiryu não guardou nenhum móvel, então vocês terão que improvisar por um tempo. Compramos apenas as camas e alguns utensílios da cozinha, fogão e geladeira.

- A verdade é que eu não esperava voltar aqui. – o próprio informou, parando junto à bagagem para rever a casa. – Poderemos colocá-la do nosso jeito. – tocou o ombro da noiva, cujos olhos azuis não paravam quietos. – Vem, quero te mostrar o restante. – puxou-a para o andar de cima. – São seis cômodos, fora os banheiros. Pensei em deixar os dois da frente para o seu escritório e uma despensa. E os de trás para os nossos quartos. A casa tem muitos locais de armazenamento no corredor e embaixo da escada.

Ele mostrava os ambientes vazios, menos os três quartos, que já estavam com as camas e as cortinas, limpos e igualmente com leve cheiro de incenso e óleo. Eram quatro suítes, o que não parecia condizer com a tradição japonesa de estrutura de residência. Parecia uma pousada mediterrânea, nas referências visuais dela.

- Não sabia que era tão grande. – Shunrei observava a vista da janela de seu quarto, com os telhados em meio à vegetação descendo a montanha até alcançar o vale abaixo e depois o mar. – Parece serena.

- Era a casa de campo de alguma família rica e depois ficou abandonada muitos anos. Acabei comprando em um leilão. Demorei meses reformando. – ele a convidou até a pequena sacada que se abria no final do corredor, de onde era possível ter uma vista ampla do quintal gramado, ladeado pela cerca-viva. Dos lados do sobrado havia pinheiros. Ao longe, a maior parte da cidade na planície, a Baia de Sagami e as dezenas de barquinhos coloridos, brilhando ao sol. – Bem-vinda. - sussurrou, abraçando-a pela cintura. - Só consegui voltar aqui por você. – beijou a nuca descoberta, fazendo-a arrepiar.

Shiryu temera sua própria reação ao pisar novamente naquela casa, mas as recordações passadas se desbotavam e evanesciam perto do seu presente. Seu Mestre o convencera que ali era o lugar ideal para ela se recuperar e ele faria o impossível para isso acontecer. Passou a mão pelos cabelos curtinhos de Shunrei, que ele sabia ainda a deixarem insegura, apesar dos seus elogios.

- É maravilhosa! – ela se preparara para limpar e montar móveis. Shiryu dera poucas informações sobre o lugar, provavelmente para causar essa reação. – Obrigada por cuidar de tudo. Sinto que seremos felizes aqui. – ela apertou-se contra ele, respirando devagar o ar fresco.

- Papai! Mamãe! – Ryuho acenou para eles do jardim. – Visitas!

Na sala estavam Shun, June e um novo casal.

- Viemos conhecer os vizinhos. – o homem de pele bronzeada e cabelos azuis informou, ao lado da loira de olhos verdes para quem a chinesa piscou seguidamente.

- Esmeralda Reyes? Não acredito! – o choque era evidente para todos.

- Shunrei Nishi! Esse mundo é minúsculo mesmo! – as duas se abraçaram.

- Vocês se conhecem? – Shun perguntou.

- Nós servimos em missões da ONU algumas vezes. – Shunrei informou, a expressão espantada e feliz. – O que você está fazendo aqui? Há quanto tempo não nos vemos!

- Vim com meu marido. – virou-se para o homem que exibia uma expressão irônica.

- Essa, sim, é uma reviravolta. – Ikki comentou, estendendo a mão para ela. – Ikki Amamiya. Somos vizinhos de porta e, pelo visto, o mundo é realmente uma pequena vila. E você, Lagartixa, não vai dizer nada? – Shiryu balançou a cabeça.

- Vizinhos e as nossas garotas se conhecem. – puxou o amigo e os dois bateram forte nas costas um do outro. – Devo ter cometido uma falta grave na outra vida para merecer isso, Franguinho Assado.

- Ikki é meu irmão, Shunrei. – Shun a abraçou, sacudindo a cabeça pelos apelidos. June tentava não rir. – Como pode ver, eles ainda estão na quinta série.

- Para dentro, agora! – a voz de Dohko foi seguida pelos três meninos: Ryuho, Éden e Souma, indo imediatamente para perto dos respectivos pais. O Mestre sorriu ao ver a reunião na sala. – Ora, ora, então estamos todos aqui.

o.o – 0.0 – o.o – 0.0 – o.o

- Vou chegar em casa primeiro! – Yuuto exclamou, correndo desabalado colina abaixo.

Os pais caminhavam devagar, de mãos dadas, aproveitando o raro momento a sós.

- Acha que eles ficarão bem? – Shun perguntou, vigiando o filho já na metade do muro do Santuário. June confirmou.

- Quem diria que as duas se conhecem. – June comentou. – Será fundamental para eles.

- Ainda não acredito que estejamos juntos novamente. – ela abafou o riso. – Lembra que cheguei a comentar que talvez o grupo estivesse se extinguindo? Não poderia estar mais errado.

- Foi bom ver vocês se provocando. Parecia que estavam se divertindo pela primeira vez em anos. – ele apertou sua mão.

- Desculpe, June. – ela franziu o cenho. – Não tenho sido um bom companheiro.

- Não foi isso que eu quis dizer. – ela enlaçou-lhe o braço. – Eu gostei de ver como vocês estavam felizes, só isso. Fiquei orgulhosa de você, que pensou nesse arranjo deles serem vizinhos. – Shun beijou sua mão.

- Nós formamos uma boa dupla. – agora ela sorriu abertamente.

- Dupla? Negativo, Shun de Andrômeda! Eu ganho de você a qualquer hora! – ele debochou. – Se você chegar em casa antes de mim, deixo escolher duas peças de roupa para eu tirar. – June sussurrou e saiu correndo.

"Parece que não somos só nós que estamos animados." Shun perdeu meio segundo pensando antes de seguir o rastro da loira.

o.o – 0.0 – o.o – 0.0 – o.o

A luz cheia iluminava a noite, cercada por tantas estrelas como ela só vira em Rozan. Os sons do vento nas árvores e o silêncio eram estranhos aos seus ouvidos acostumados à vida frenética de Gangseo-gu. Sentou-se na escada para o quintal, agradecendo pelo dia.

"Não há sinal mais positivo do que encontrar Esmeralda." Tomou um pouco do chá das folha de limão que os vizinhos trouxeram. "E os garotos voltaram para casa." A felicidade nos rostos dos três era sua maior recompensa.

- Você deve estar cansada. – Dohko instalou-se ao seu lado, os cabelos ainda úmidos do banho. Ofereceu a garrafa de cerveja. Shunrei mostrou a caneca de chá, fazendo-o revirar os olhos.

- Não fiz nada, só conversei e organizei armários. – ele a viu girar o ombro esquerdo e sorrir. – Vocês estão me mimando.

Ficaram em silêncio, aproveitando a companhia um do outro. Dohko observava a silhueta da jovem, decidindo que ainda era cedo para perguntar o que realmente queria.

- Era o que você esperava? – ela terminou o chá, estendendo a caneca para ele a servir e tomando a cerveja de um gole só. Sacudiu a cabeça com uma careta, fazendo-o rir alto.

- Até agora está sendo melhor do que sonhei. – enfim virou-se para ele. – Não se preocupe, Mestre Dohko. Já enfrentei desafios maiores, mas eu os enfrentei e segui em frente. – as pupilas escureciam os olhos de Shunrei. - Se eu desmoronar aqui, será o meu fim. Se me deixar abater, nunca vou me recuperar. – os olhos castanhos brilharam com a firmeza da voz dela. - Se desistir, não sei o que será de mim.

Ele olhou para o céu, apontando um conjunto de estrelas particularmente brilhante.

- A humanidade utiliza as estrelas há milênios como lamparinas, guias e objeto de especulações filosóficas, mas as estrelas não sabem disso e acredito que se soubessem não se importariam. Elas simplesmente brilham porque é a natureza delas, embora cada uma tenha uma cor, uma intensidade e uma forma diferente de emitir luz. – serviu mais um pouco de cerveja na caneca. – Da mesma forma, cada pessoa deve encontrar qual é a sua cor e sua forma de brilhar, sem se incomodar com o que os outros pensam. Muitas vidas são desperdiçadas porque não aprendemos a seguir o nosso coração, a nossa verdadeira essência.

Ela assentiu, virando o líquido da caneca novamente. Quando falou, a voz tornara-se úmida e baixa.

- Não entendo o que aconteceu comigo, nem o que acontece com uma cirurgiã que não controla suas próprias mãos, nem o que pensar sobre isso e como devo reagir. Não consigo entender isso agora. – seu sorriso de gratidão aqueceu o coração do Mestre. – Vejo vocês se esforçando ao máximo para escalar a montanha à frente de vocês. Então também quero tentar, vou me esforçar para subir a minha montanha, custe o que custar.

- Obrigado por me deixar ficar ao seu lado nessa jornada, Flor de Rozan.

o.o – 0.0 – o.o – 0.0 – o.o

- Boa noite, mamãe. – Souma correu para a cama.

- Vou deixar a luz do banheiro acesa, ok? – Esmeralda regulou o aquecedor e conferiu se o garotinho estava bem coberto. – Só mais essa noite. – deu um beijo estalado na testa dele. - Gostou do novo amiguinho? – ele confirmou.

- Amanhã a gente vai se ver de novo lá no Santuário. – ela ergueu as sobrancelhas.

- Bom saber. Então precisa descansar para poder mostrar tudo a ele. E não se esqueça de levar o Éden, está bem? – nova concordância.

Deparou-se com Ikki na porta do quarto em frente, observando Éden separar os brinquedos que levaria amanhã.

- Já está na hora de dormir, meninos. – ela anunciou, tocando o braço do marido. Éden levantou os tristes olhos verde-água, fechando a mochila. Assentiu, sério. Esmeralda encorajou Ikki a ir até ele. – Souma me disse que vocês irão ao Santuário amanhã junto com seu pai.

- Sim, senhora. – ele respondeu formalmente, seguindo a movimentação de Ikki em cobri-lo bem e ajustar o aquecedor. As noites na colina eram bem mais frias do que no México.

"Ele mudou tanto." Esmeralda lembrava-se do garotinho sorridente antes da separação dos pais. Os últimos dois anos foram difíceis para ele, com o novo casamento da mãe. Queria abraçá-lo, embora soubesse que ele não aceitaria nesse momento. "Nós vamos conseguir chegar até você."

- Vou preparar um café especial para vocês, então. O que você vai querer, Éden? – ele pareceu notar o esforço, abrindo um leve sorriso.

- Se a senhora puder fazer aquelas panquecas fininhas, eu gosto. – Esmeralda fez sinal de positivo e piscou para ele, fazendo-o ruborizar.

- Se precisar de alguma coisa, pode nos chamar, filho. – Ikki bagunçou os cabelinhos azuis à guisa de boa noite.

Quando os adultos fecharam a porta, se entreolharam e suspiraram silenciosamente, relaxando os corpos depois do dia cansativo. Ikki fez sinal para ela manter o silêncio, puxando-a para a porta mais adiante no corredor.

"Aguento mais algumas horas acordada." Esmeralda pensou, um sorriso travesso aparecendo em seus lábios.

o.o – 0.0 – o.o – 0.0 – o.o

- Que frio! – Shunrei correu do banheiro e entrou debaixo do edredom grosso.

- Ei, não encosta essas mãos geladas em mim! – Shiryu se afastou, fazendo-a rir.

- Pensei que você estivesse esquentando a cama para a sua noiva friorenta. – ele olhou ao redor da penumbra.

- Foi mesmo, cadê ela? – começou a tatear em volta. – Não estou vendo. – virou-se para Shunrei, deslizando a mão por cima da camiseta do pijama. – Ah, acho que encontrei, embaixo de um monte de cobertas. – fez cócegas até que ela o puxou para beijá-la. Os lábios dele acariciaram o seus com suavidade. – Esse gosto fresco é bom. – ela sentia a respiração morna em suas faces. – Posso provar mais? – perguntou, as bocas já se encaixando novamente.

Shunrei acomodou melhor o corpo de modo alcançar as costas dele, os espessos cabelos pretos caindo ao seu redor. Sentiu os músculos reagirem sob suas mãos, enquanto a de Shiryu passeava em sua barriga, embaixo da camiseta.

Ele a ouviu suspirar ao mudar a profundidade do beijo e seus dedos subirem para explorar mais da pele macia que o pijama escondia. Desde que ela voltara para casa, Shiryu media até onde suas carícias podiam ir pelas reações do corpo dela e não pelas palavras, o que às vezes provocava discussões. Notava que ela insistia mais quando sua insegurança aflorava, por mais que seu organismo ainda não estivesse recuperado. Era um desafio enorme que ele se propusera porque a realidade é que o simples roçar na pele dela o incendiava.

- Como um corpo semi-nu consegue produzir tanto calor? – Shunrei sussurrou a pergunta quando o nariz dele acariciou seu pescoço. Estremeceu com a mão massageando seu seio. Suas mãos apertavam-no contra ela. – Você vai me torturar de novo?

Ela se impusera o limite desse dia para voltarem a fazer amor. Tentara outras vezes, embora tivesse consciência da dificuldade de seu corpo em sequer conseguir respirar direito. Mesmo sabendo que era essa a razão de Shiryu evitar, se sentia frustrada e acabava se exaltando na discussão. As dores das lesões diminuíam a cada dia com a acupuntura e os exercícios que o Mestre e Shiryu lhe ensinaram e ela queria ir até o fim no dia em que chegassem a Kamakura, não importava o que houvesse.

- Está doendo? – ele se afastou para examiná-la. Afagou a cicatriz do dreno na altura das costelas. Seus lábios tocaram o ombro cuja articulação eles começaram a mover apenas uma semana atrás com os exercícios de fisioterapia. Ela negou, sentindo-o tremer e arrepiar com seus dedos tocando-lhe tórax e abdômen.

- Você me provoca ficando sem camisa assim e depois me faz tomar banho frio. Se eu fizer isso hoje, vou ficar gripada. – ela se aproximou, beijando suas faces e seu pescoço. – E aí você já sabe, Farmacêutico.

A boca de Shiryu encontrou a sua com o ímpeto que ela queria. Gemeu baixinho quando o corpo dele se insinuou contra o dela. Ele tinha plena consciência do qual importante era para a autoestima dela não só se sentir desejada, como também conseguir corresponder, provar que seu corpo estava recuperado.

- Vou testar você primeiro. – afirmou, ajeitando-a para tirar o shorts do pijama, acessando livremente toda a feminilidade dela. Gostava de tê-la assim, completamente entregue a ele. Os sons de prazer o incentivavam e cada onda de tremores a deixavam mais viva em suas mãos. Não demorou a sentir o retesamento e a pulsação do orgasmo dela. Permaneceu atento ao menor sinal de desconforto e não viu nenhum.

- Aonde você vai? – ela ofegou quando ele saiu debaixo do edredom e abriu a gaveta da mesinha. – Hoje não. – parou o braço que buscava o preservativo. – Hoje eu quero sentir você em mim. – ela calou seu protesto com um beijo demorado.

- Tudo bem, chinesinha geniosa. – os olhos verdes de Shiryu pareciam brilhar quando ela tirou sua camiseta e o despiu, permitindo que ele a virasse para beijar suas costas. – Vamos assim para não forçar demais. – suas mãos deixavam um rastro quente no quadril e nas coxas dela. – Gosto tanto quando você faz isso. – a voz grave no ouvido a fazer emitir mais sons inarticulados. – Esses barulhinhos.

Ela o chamou, virando o rosto para que ele a beijasse, o sangue borbulhando nas veias ao senti-lo deslizar para dentro de si. O corpo dele fervia grudado ao seu. Sentia o coração dele batendo em suas costas. Entrelaçou os dedos com os dele em seu ventre.

Shiryu não soube em que momento ela assumiu o ritmo dos dois, a única coisa que importava era a sensação inebriante de se unirem após o desespero dos últimos meses. Todos os seus sentidos envoltos pelo cheiro, a temperatura, as texturas e o gosto dela. Voltou a si com a respiração entrecortada e os batimentos cardíacos ainda alterados, seu braço subindo e descendo, acompanhando o movimento da cintura dela. Sentia o corpo dela vibrar e os ecos do orgasmo dos dois reverberando até as extremidades dos seus dedos e o alto da sua cabeça. Seu peito suado roçava as costas úmidas. Acariciou os cabelos curtinhos, beijando-lhe a nuca.

- Como você está, Shu? – ela demorou a responder, fazendo-o deslocar a mão para o peito dela, encontrando um coração batendo loucamente como o seu.

- Querendo dormir doze horas seguidas. – ele riu, acomodando-se melhor, tentando mexer o mínimo possível com ela. – Me sentindo a mulher mais afortunada do mundo. E pronta para nossa nova jornada.

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Olá!

Episódio mais longo que o habitual, necessário para fazer a transição entre a Coréia e o Japão e vermos as primeiras horas de Shu em Kamakura e o retorno de Shi, Ryuho e Dohko. A despedida dela no hospital me fez chorar. Eu já tive experiência semelhante, de precisar deixar algo que desejava e pelo qual trabalhei muitos anos e não é fácil, apesar de sempre conseguirmos nos fortalecer. Vamos ver como será com ela. ;-)

A casa de Shiryu e Shunrei é inspirada na casa da família de Umi Matsuzaki no anime "Da Colina Kokuriko", do Studio Ghibli (e que é a capa da fic nessa semana). Quando penso no ambiente de Kamakura, imagino que seja parecido com o dessa obra, especialmente nos arredores do Santuário. Recomendadíssimo!

E vocês, como estão vendo essa mudança de cenário? Me contem!

Beijos e até o próximo episódio!

Jasmin Tuk

No próximo episódio: - As maravilhas do mundo não têm fim. – ela ouviu a voz do homem que discursara. – Não esperava vê-lo novamente, Dragão.

- Espero que me veja todos os dias a partir de agora, sr. Shion. – o tom de Shiryu era um pedido de desculpas.

Shunrei piscou seguidas vezes para o silêncio que perdurou mais do que ela esperava.

- E trouxe a família toda. – a voz grave lhe era desconhecida.

- Sim, sr. Camus.