EPISÓDIO 4

O belo portão de madeira escura, com os kanji de Santuário entalhados dentro do círculo dourado de metal, se destacava no meio do muro coberto de trepadeiras, em uma área residencial que ela descobriria ser típica de Kamakura, com as casas e sobrados em terrenos relativamente grandes.

- Ali é a casa de Aiolia e Marin. – Shiryu apontou para o portão azul do outro lado da rua, quase em frente de onde eles estavam. – E aquele portão cinza-escuro, quatro casas depois, é de Shun e June.

- Yuuto e Yuki! – Ryuho falou, animado pelas novidades que pareciam não ter fim. – Nós vamos lá, papai?

- Depois podemos ir, sim, embora eu acredite que os três estejam aqui dentro. – Shiryu tateou sobre o portão até encontrar uma trava que, com um clique, abriu um dos lados. – Eles estão de férias como você, filho.

O elemento proeminente era a natureza avassaladora que foi cuidadosamente canalizada e fez Shunrei abrir a boca de espanto.

O caminho de pedra através de arbustos de hortênsias, amores-perfeitos e de bordos levava ao interior do terreno. Uma série de degraus largos e antigos surgiram entre as árvores majestosas, lembrando a atmosfera de um templo no meio de uma floresta. Essa escada levava ao jardim no meio do qual estava o prédio comprido de paredes vermelhas.

- O sr. Shion e o Sr. Camus pensaram nas espécies de plantas que trariam flores o ano todo. – Shiryu informava, à medida que iam adentrando o caminho curto e deslumbrante. - Ameixeiras no final do inverno, início da primavera, cerejeiras na primavera, hortênsias agora e as folhas avermelhadas dos bordos no outono e inverno.

- É magnífico! – os olhos azuis estavam enormes, captando o máximo do cenário. Durante semanas, o sentimento de maravilha se renovaria sempre que entrasse ali. – Vocês plantaram tudo isso?

- Algumas já estavam aqui. – ele sorriu, lembrando-se dos debates acalorados sobre o lugar onde cada planta ou decoração ficaria, invariavelmente vencidos por Camus, com seu senso estético apurado desde jovem. – E quem reside aqui cuida diariamente. Algumas vezes por ano, há mutirões para fazer uma faxina mais completa. É o que fizeram na nossa casa, não tenho dúvidas. Por isso, foi uma ótima ideia trazer esses presentes. – ele piscou, levantando o grande cesto coberto por um forro com flores bordadas.

Ouviram sons da porta dupla aberta no edifício e sombras passando lá dentro. Shunrei percebeu que a construção era simples, porém elegante, com seu telhado tradicional japonês e suas grandes janelas de folha dupla, nesse momento abertas para entrar o ar fresco daquela manhã de verão.

- No andar de cima, são os alojamentos para quem mora ou passa temporadas. No térreo, ficam o refeitório, as salas de aula e treinamento, os escritórios, biblioteca e a sala de TV. – ele continuava informando aos dois enquanto venciam a distância do gramado. – No caminho à direita, vamos até o lago e os dois pequenos templos para meditação. No caminho à esquerda, vamos ao anfiteatro. – Shunrei o olhou em dúvida ao ouvir o nome ocidental. – Ideia do Mestre após deixar Marin e Aiolia para uma temporada na Grécia. Você verá. – sorriu, seu semblante brilhando por estar de volta, apresentando para ela o lugar que considerava seu lar.

- Se eu soubesse que vocês iriam dormir tão pouco, teria esperado. – o próprio Dohko veio ao encontro deles. – Chegaram em uma boa hora, estão todos no refeitório.

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O dia começara cedo na mansão Kido. Nos quartos os últimos preparativos e na cozinha os primeiros do dia. O motorista limpou novamente o carro que sairia hoje. Bagagens foram descidas e acomodadas no porta-malas, o café fora servido duas horas antes do habitual e o motor do veículo roncava em frente à porta do imponente edifício imaculadamente branco.

- Vamos, garotas, ou chegaremos atrasados. – o loiro disse, observando as três descendo a grande escada que terminava no centro do hall. Sua voz não transparecia a impaciência que sentia. – A viagem até lá é longa.

- Pode ficar tranquilo, Hyoga, chegaremos a tempo. – a mulher de cabelos lilases curtos garantiu calmamente. – Não poderia deixar vocês partirem sem agradecer a companhia durante essas semanas.

- Já está tudo no carro? – Eiri sorriu quando Yuna correu para perto dele.

- Podemos partir. – ele assentiu, pegando a mãozinha oferecida.

- Olha o que a tia Saori me deu, papai Hyoga! – a garotinha mostrou a gargantilha com uma pedra verde em forma de losango, que destacava ainda mais os olhos expressivamente verdes. – A mamãe Eiri ganhou aqueles brincos! – a mulher passou a mão nos delicados pendentes dourados na orelha.

- São presentes muito bonitos. Obrigado, Saori. – ele fez uma pequena reverência.

- E esse é para você. – ela estendeu uma caixa que guardava um rosário com a Cruz do Norte. As duas sorriram da expressão de espanto tão rara. – Eiri me contou que a jóia era de sua mãe e eu pedi que fosse restaurada. – ele demorou a se recuperar.

Com tudo que passara durante aqueles anos, o rosário ficara com algumas pedras faltando, arranhado e com pequenos amassados na cruz. Seu coração parou ao ver o ouro reluzir e os rubis da cruz de volta aos seus lugares. Hyoga engoliu em seco, fechando o rosário na mão.

- Não tenho palavras para agradecer a vocês. – Yuna apertou seus dedos. – Significa muito para mim.

- Não precisa chorar, papai Hyoga. – os adultos riram, emocionados.

- É melhor irmos. – Eiri comentou, vendo-o enrubescer mais.

- Vamos, sim. Tatsumi, estamos saindo. – Saori assentiu ao mordomo, que esperava na porta. - Estou com saudades dos meus meninos também. Duas semanas desde que Seiya levou Kouga.

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O cômodo estava cheio, as atenções voltadas para o homem de pé do lado oposto ao que eles entraram. Shunrei contou 40 pessoas, incluindo as crianças. Viu os amigos conhecidos e outros tantos que ainda não sabia os nomes, mais jovens e mais velhos do que ela. Assim que entraram, Dohko seguiu até a frente, junto ao homem de longos cabelos verde-claros e olhos dourados. Alguns rostos se viraram para trás e acenaram para Shiryu, que retribuía com pequenas reverências, apertando com força a mão dela.

"Vai ficar tudo bem." Ela acariciou seu braço. Sabia da apreensão e da ansiedade dele. Três anos que ele saíra dali sem dar maiores explicações.

Ele apontou um lugar para ela se sentar e Ryuho foi para o seu colo.

- Como sabem, hoje é o dia da visita dos nossos novos patrocinadores, a Fundação Graad. Planejamos algumas atividades para mostrar a eles as habilidades de cada lutador e quais os nossos planos para os próximos três anos. – a voz do homem transmitia muita confiança. – Durante essa semana, cada um foi instruído sobre o comportamento esperado dos membros, sejam Amazonas, Cavaleiros, Aspirantes ou funcionários. Qualquer dúvida que tenham, os instrutores e mestres estarão sempre por perto. Não preciso reforçar como essa é uma ocasião importante para o futuro do Santuário. – Dohko pousou a mão em seu ombro, pedindo a palavra.

- Temos aqui excelentes atletas e esperamos o máximo empenho de todos. – Shunrei sorriu com o ânimo que a voz dele insuflava. Sentia as pessoas próximas endireitando as posturas enquanto ouviam. - Alguns de nossos membros antigos estão retornando e também terão a oportunidade de interagir com os patrocinadores. Para os familiares que não são membros, pedimos que sejam corteses e indiquem algum instrutor para responder se forem interpelados por alguém da Fundação.

- Que seja um dia produtivo e auspicioso. Ao ouvirem o sino, no anfiteatro. – o homem de cabelos verdes encerrou a reunião e todos se levantaram.

A maioria saiu. Marin e Aiolia vieram falar com eles, acompanhados de um garoto que era idêntico ao pai.

- Como você cresceu, Régulus! – Shiryu assanhou os cachos castanhos. – Está do tamanho do seu pai. – o grego ergueu uma sobrancelha.

- Faltam uns doze centímetros. – Marin revirou os olhos, abraçando Shunrei.

- Queríamos ir à casa de vocês ontem, mas a vinda da Fundação foi antecipada e tivemos que organizar tudo. – viu o rostinho curioso de Ryuho. – Esse é o meu caçula, Régulus. – o garoto sorriu, cumprimentando-os com uma reverência. – Você viu quem mais está aqui, Ryuho? – apontou para o grupo infantil, perto da porta da cozinha: Yuki, Yuuto, Yorie, Éden, Souma, Kouga e duas crianças que ele não conhecia.

- Pode ir, filho. – Shunrei o encorajou e ele saiu correndo, quase esbarrando na mulher de cabelos verde-escuros que vinha ao lado de June e Esmeralda. As duas loiras acenaram para Shunrei.

- Ora, ora, quem diria?! – ela cruzou os braços na frente de Shiryu, que ficou com as costas eretas. – Não esperava vê-lo novamente, Dragão. – ele apertou os lábios, engolindo em seco. – Quando dizem que milagres não acontecem, hein? Primeiro Ikki. – apontou para o lado, onde os irmãos Amamiya conversavam com dois homens. – Agora você.

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- Não me lembrava que a estrada era tão bonita. – Saori comentou, vendo os infinitos tons de verde e as flores como um tapete colorido nos dois lados da pista. – Já sentimos uma mudança no ar, mais puro. Eu vinha de vez em quando com meu avô durante as férias. Ficávamos em Enoshima. – Hyoga balançou a cabeça.

- A ilha que vimos da praia. – explicou para Eiri.

Eles procuraram uma residência durante três semanas, até encontrarem o apartamento ideal, ao pé da colina do Santuário e perto do centro da cidade, onde Eiri planejava montar seu escritório.

- Kamakura é muito bonitinha e pacata. – a grega disse. – Eu gostei também por não ser tão longe de Tóquio. De trem, em duas horas estarei lá.

- Não sei se me acostumaria com uma vida tão tranquila. – os olhos violeta de Saori acompanhavam as curvas da estrada, pensativos. – Gosto da agitação de Tóquio.

- Nada é definitivo, Saori. – Hyoga disse, ajeitando a cabecinha de Yuna, que dormia sentada ao seu lado. – Há momentos que precisamos simplesmente deixar a vida fluir.

- Sim, nem sempre temos o controle de tudo e está bem desse jeito. – Eiri piscou para o marido, feliz por ele repetir para a amiga o que ela própria lhe dissera quando começaram a namorar. – Se eu ponderasse, não sei se teria saído da minha vida bem estabelecida em Atenas para morar numa pequena cidadezinha no sul do Japão. – Saori enfim tirou os olhos da janela.

- Vocês estão tentando me seduzir. – os dois negaram. – Sabem que o Seiya também precisa escolher, não é?

- E ele provavelmente está tendo essa conversa com todo mundo que conhece. – um leve sorriso passou pelos lábios do loiro.

- De qualquer maneira, você vai passar uns dias conosco e aí terá tempo para pensar. – Eiri apontou ao ver a cidade embaixo no vale, depois de uma curva. – Chegamos.

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- Espero que esteja contente em me ver, srta. Shaina. – ele a cumprimentou, sério.

- Você só pode estar de brincadeira, garoto! – ela bateu no braço dele, abraçando-o. – Você está alto demais para eu te dar uns cascudos por sumir como se não devesse explicações para ninguém. Agradeça ao Dohko eu não te bater até você cair inconsciente. – ela disse no ouvido dele. – Shaina Aniello, como vai? – estendeu a mão para a chinesa.

- Shunrei Nishi. – Shaina ergueu as sobrancelhas, rapidamente voltando à neutralidade. – Estou bem, recuperada da viagem. – Shunrei percebeu a mudança na expressão e imediatamente passou a mão no lugar onde se esforçava para os cabelos curtos esconderem a cicatriz da cirurgia. – Você é uma das instrutoras? – a mulher com traços ocidentais confirmou.

- Marin e eu tentamos colocar ordem aqui. Depois vou lhe apresentar as minhas discípulas. – ela ofereceu um meio sorriso a Shunrei. - Você é da mesma região de Dohko, não é?

- Sou, sim. Nós dois nascemos em Rozan. – a chinesa pensou ver um brilho diferente nos olhos verdes de Shaina. – Uma grande coincidência.

- Sim, realmente. – dessa vez, ela franziu levemente a testa. - Bom, Marin e eu temos algumas coisas a resolver. – chamou a ruiva para saírem do refeitório.

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- Esse aqui é o Haruto. – Kouga apresentou o menino de cabelos castanho-escuros e olhos verdes, de óculos redondos. – Ele é da idade do Éden. Os dois vão estudar juntos.

Os mais velhos se olharam. Éden, as mãos nos bolsos dos shorts, observou sem expressão Haruto consertar os óculos e tirar a franja do olho.

- E nós vamos ficar na mesma sala! – Yuuto falou, apontando para si mesmo, Ryuho, Souma e Kouga.

- Eu ainda não sei onde vou estudar. – o ruivinho Kouga corrigiu.

- A Arya e eu vamos ficar juntas também. – Yuki puxou a garotinha muito branca, de cabelos azuis. – Ela é irmã do Orfeu e da Selinsa e veio passar as férias conosco. Talvez ela fique de vez.

- Não conheço eles. – Ryuho informou. – Moram aqui no Santuário? – as cabeças balançaram em concordância.

- Se a Yuna realmente vier, também vai estudar na nossa sala. – Souma continuou enumerando quem estudaria com quem.

- E eu? – Yorie cruzou os bracinhos, chateada por não estar em nenhuma turma. Os outros se entreolharam.

- Acho que como você é a mais nova, vai ter que ficar um dia em cada sala, Yorie. – Arya, que era muito tímida, falou baixinho. – Aí você vai poder aprender um pouquinho de cada coisa. – a garotinha aceitou a explicação, contente.

- Haruto, você também mora aqui no Santuário? – Ryuho perguntou. O garotinho confirmou.

- Meu pai é amigo do sr. Shion e pediu que eu ficasse aqui para estudar e ter treinamento. Na nossa vila, não há escolas. – a franja insistia em cair no olho direito e ele desistiu de tirá-la. -Cheguei há duas semanas.

- Enquanto as aulas não começam, nós vamos brincar de quê? – Souma chamou a atenção para um ponto importante. Começaram a aparecer as propostas.

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Shunrei novamente passou as mãos nos cabelos e no vestido rosa, pensando que ele estivesse inadequado para a ocasião. O escolhera por ser fresco, com mangas curtas, que combinavam com os brincos de pérolas pendentes que comprara para melhorar a aparência sem os cabelos que tanto gostava, mas ficou insegura ao ver as práticas roupas de ginástica ou as calças jeans das outras mulheres.

- Tudo bem? – o rosto de Shiryu apareceu no seu campo de visão. Ela sorriu, balançando a cabeça.

- Conseguiu descansar, Shunrei? – Esmeralda perguntou.

- Fiquei preocupada por termos ficado tanto tempo com vocês. Deviam estar querendo um banho e uma cama. – June comentou.

- Não, imaginem, foi ótimo. – seu sorriso aumentou. - Eu estou é encantada com esse lugar!

- Se quiser, posso mostrar o lugar para a senhorita. – Régulus se ofereceu. – Fui designado o guia oficial.

- Claro que quero, obrigada! – o sorriso dele era muito franco, como o de Aiolia, e os olhos eram afiados como os da mãe, ela podia sentir. – Talvez depois da visita do pessoal da Fundação.

- Ótimo! – ele pediu licença para ir falar com seu grupo. – Vem comigo, pai?

- Eu alcanço você. – Aiolia puxou Shiryu para conversar.

- Também fiquei boba com o Santuário. – Esmeralda afirmou, aproximando-se dela. Deve ter notado algo diferente. – Você está bem mesmo?

- Sim. – Shunrei apressou-se a responder. – Muita coisa em poucos dias. Estou tentando prestar atenção a tudo.

- Não se preocupe, Shunrei. – June disse. – Nós estamos planejando uma noite só das garotas, assim que Hyoga e Eiri se instalarem.

- Também não conheço todos ainda. – o forte sotaque latino de Esmeralda a fez sorrir genuinamente.

- Trouxemos isso para agradecer a vocês pelo trabalho com a nossa casa. – ela tirou o pano que cobria a cesta, cheia de caixas transparentes de Namagashi.

- Como vocês conseguiram trazê-los? – June arregalou os olhos. – Eles são deliciosos, Esmeralda.

- Eu sei, ela levou para mim uma vez. – Esmeralda piscou para a amiga. – Acho que foi no Líbano. – Shunrei confirmou.

- Esqueci que vocês se conhecem. – June escolhia qual doce iria pegar.

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- Está como você esperava? – Aiolia perguntou.

- Melhor. – Shiryu sorriu, passando a vista rapidamente pelo salão. – Estou feliz por estar de volta. – os olhos verdes de Aiolia brilharam ao ver o contentamento no rosto do amigo.

- Já separei alguns alunos para você. – As sobrancelhas do moreno se ergueram. – Achou que ficaria só nos treinos? Depois dos últimos resultados nos campeonatos, apareceram vários pedidos de ingresso em regime de internato.

- Pensei que teria algumas semanas para estar à disposição de Shunrei. – Aiolia a observava conversando animada com as garotas.

- Não serão todos os dias e nem o dia todo. Depois da visita da Fundação, vou mostrar a você o cronograma e podemos fazer ajustes. Shunrei gostará de não ter você a superprotegendo o tempo todo. – fez sinal para o japonês não o interromper. – Tem que tomar cuidado. Ela está acostumada a ser independente. Além disso, será bom ter uma renda um pouco maior, não é? – o grego ofereceu um meio sorriso. – Você sabe que fará uma apresentação com o Mestre Dohko? – os olhos verdes de Shiryu arregalaram.

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Os quatro carros do comboio passaram pelo centro da cidade, cheio de turistas transitando de um templo para as barraquinhas de comida e de lá para um santuário ou caminhando para a praia.

- Será que foi uma boa idéia virmos em uma sexta-feira? – Saori ouvia o motorista falando com os outros carros. – É fácil nos perdermos nesse trânsito complicado.

- Tudo bem, logo sairemos das ruas mais movimentadas. – Hyoga abriu a portinhola que os separava da parte da frente do carro e começou a indicar o caminho.

- O nosso prédio é aquele ali. – Eiri informou quando passaram em frente ao edifício baixo com grandes varandas, a entrada acessível por um lance de degraus. – 2º andar.

As construções foram rareando à medida que subiam a montanha.

- Já chegamos? – Yuna coçou os olhinhos, olhando para a paisagem verdejante.

- Quase lá. – Eiri respondeu, passando a mão pelos longos cabelos loiros da garotinha. – Está animada para ver os amiguinhos?

- Sim! – ela se virou contente para os adultos. Enrubesceu quando o estômago roncou alto.

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- Não sabia que vocês se conheciam. – Aiolia e Shiryu voltavam ao grupo.

- Eu fazia a cobertura jornalística e Shunrei era da equipe médica de missões da ONU. – Esmeralda informou. – Nós nos encontramos em várias ocasiões. - o grego assentiu, sério.

- Quer dizer que a ONU designou vocês para resgatar esses dois japoneses desgarrados e trazê-los de volta à razão? – as três riram. – Agora tudo faz sentido. É o espírito solidário que é forte em vocês.

- Sr. Aiolia, – um garoto de cabelos repicados azuis-claros veio até eles. – precisamos do senhor.

- Venha se apresentar, rapaz. – Aiolia fez o garoto se aproximar e fazer uma reverência. - Esse é Orfeu Panagos. Ele e as duas irmãs estão aqui no Santuário. – apontou para o grupo infantil. – Arya é a irmã mais nova e chegou essa semana.

- Muito prazer em conhecê-los. – Shunrei sorriu para a voz melodiosa dele, as faces vermelhas pela leve repreensão. – Sou discípulo do Mestre Camus.

- Agora, sim, podemos ir! – Aiolia indicou a porta e os dois saíram. - Régulus e Teneo estão dando trabalho de novo? – eles o ouviram exclamar do corredor, com seu rosnar característico.

- Vamos levar os doces para a geladeira e distribuímos depois do almoço. – June chamou Esmeralda, deixando Shunrei e Shiryu sozinhos novamente.

– Aiolia me informou que irei me apresentar hoje. – ela abriu a boca e piscou de espanto. – Haverá um momento em que mestres e seus discípulos mais antigos se apresentarão. Precisarei ficar com os demais Cavaleiros. – Shunrei assentiu. - Vou pedir a Régulus que fique com você.

- Pode ficar tranquilo. – ela falou enfaticamente. – Você vai ter que ir em casa buscar o quimono. – ele confirmou, os olhos postos no grupo ao fundo.

– Pronta para mais apresentações? – Shiryu a guiou. Fez uma longa reverência perante os três homens que ali estavam. Shunrei o acompanhou.

- As maravilhas do mundo não têm fim. – ela ouviu a voz do homem que discursara. – Não esperava vê-lo novamente, Dragão.

- Espero que me veja todos os dias a partir de agora, sr. Shion. – o tom de Shiryu era um pedido de desculpas.

Shunrei piscou seguidas vezes para o silêncio que perdurou mais do que ela esperava.

- E trouxe a família toda. – a voz grave lhe era desconhecida.

- Sim, sr. Camus.

- Shiryu, eu não acredito em acaso. – o sr. Shion continuou. – Mais tarde conversaremos sobre a sua experiência, pode me procurar. Por hora, - ele se adiantou, tocando o ombro do jovem. – bem-vindo de volta.

Shunrei viu o noivo soltar a respiração e endireitar a coluna. Ela o seguiu rápido demais e sua cabeça girou, fazendo-a oscilar. Shiryu imediatamente a segurou pela cintura.

- Quer se sentar? – ela negou.

- Tudo bem. – disse, mais alto do que gostaria. Os quatro se preocuparam, dando passos em sua direção.

- A culpa foi minha, senhorita. – Shion a cumprimentou com uma pequena reverência. - Dohko me informou da sua recuperação. – ela sentiu a mão quente dele em seu cotovelo. - Devia ter sido mais cuidadoso. Me perdoe.

- Shiryu, leve-a para casa. – algo na voz de Dohko a fez querer chorar, mas ela se segurou.

- De forma nenhuma. Esse é um dia importante e eu quero participar. Estou tão envergonhada. – fechou os punhos e endireitou a coluna.

- Gosto de pessoas determinadas. – ela viu os olhos lilases do sr. Camus sorrirem, mesmo com a expressão impassível. – Por favor, aceite pelo menos um copo de água com mel.

- Eles chegaram! – Shaina anunciou na porta do refeitório.

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Eles haviam combinado como seria o evento, mesmo assim, ela se sentiu desconfortável. Os 15 executivos da Fundação, entre conselheiros e assistentes, desceram dos carros e entraram no Santuário, sendo recebidos por Aiolia, Marin e Seiya. Ela viu o sorriso começar a se formar em seus lábios e sacudiu a cabeça levemente.

"Lembre-se de quem nós somos nesse momento." Tentou transmitir. Seja como for, ele se recompôs.

- Bem-vindos ao Santuário. – Aiolia os cumprimentou, apresentando-os e guiando o grupo até a porta, onde estavam outras quatro pessoas. – Esses são a senhorita Shaina Aniello, os senhores Camus Martel e Dohko Jiang, também instrutores e mestres, e o senhor Shion Mukherjee, nosso diretor-responsável.

Saori os cumprimentou como se não tivesse passado os últimos meses vendo-os diariamente. Era fundamental separar a mulher Saori da presidente do Conselho. Seu coração bateu forte quando viu os olhinhos castanhos de Kouga a observarem. Ele também sabia o que precisava fazer.

"Mais tarde, meu pequenino." Ela piscou para o ruivinho.

- Gostaria de começar a visita apresentando as nossas instalações. – os executivos entraram com Shion e os demais instrutores.

Eles já haviam assistido ao vídeo encomendado há alguns meses, portanto Saori acreditava estar ciente do que veria e mesmo assim ficou satisfeita. Sua confiança crescia a cada sala, cada ambiente que conheciam. Os alojamentos eram impressionantes para uma entidade tão pequena. Ela podia ver que os executivos aprovavam o que viam. Alguns faziam perguntas gerais sobre a organização, a hierarquia, os membros e os alunos. Quatro ficaram particularmente interessados no conceito de Cavaleiros e Amazonas e a ligação com as constelações.

Ao saírem para os jardins, os demais lutadores se uniram ao grupo e eles puderam interagir.

"Não tinha reparado que são várias nacionalidades." Ela ouvia os sotaques e acentos linguísticos. Era uma visita institucional e havia uma etiqueta a ser seguida, mas ela encorajou discretamente seu grupo a dialogar com os atletas, desde os mais jovens até os mais experientes.

Ainda que a visita transcorresse bem, seu peito doía ao não poder abraçar e conversar com as pessoas amigas. Viu Shunrei sentada no salão de refeições e se preocupou com sua palidez, mas só pôde lhe dar um pequeno aceno.

- Preparamos algumas apresentações para os senhores e senhoras no nosso anfiteatro. – Shion anunciou, levando-os pela trilha que unia o lago e o jardim de estátuas ao local de treinamento ao ar-livre.

Havia uma mesa com comidas e bebidas e eles puderam apreciar a construção em pedra clara que acompanhava a curva ascendente da montanha, parecendo que uma mão gigante encaixara a estrutura em meio à vegetação.

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- Tomara que eles gostem! – Seiya comentou para ninguém em especial.

O grupo dos discípulos aguardava em um dos lados do palco do anfiteatro, com seus dois tatamis.

- É difícil saber o que se passa na cabeça de um executivo, mas parece que eles estão à vontade. – Hyoga disse, observando as pessoas acomodando-se na plateia.

- Além de mestres e discípulos, haverá também os novos Cavaleiros residentes que já receberam uma constelação. – June disse. Seu Mestre não estava mais no Santuário, por isso ela lutaria com o srta. Shaina. – Ikki, você chegou a combinar com Aiolia? – ele ergueu as sobrancelhas e emitiu um sorriso irônico.

- Vou controlar a entrada de vocês. – Shun estava atento ao outro extremo, onde os mestres estavam.

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- É aqui que vamos ganhar ou perder o contrato. – Eiri ajudara Shunrei e Esmeralda a trazer as crianças para uma parte sombreada. Elas estavam sentadas acima do grupo de aspirantes e membros, alunos e discípulos.

- É sempre impressionante vê-los em ação. – Shunrei estava com as faces menos pálidas. Sabia que as duas a observavam, embora não se sentisse mais tonta.

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- Plateia selecionada hoje. – a voz de Milo denunciava a excitação que sentia, as mãos na cintura enquanto via os grupos se acomodarem. Ele adorava a adrenalina daqueles momentos antes das competições. – Pena que é apenas uma apresentação.

- É uma grande responsabilidade convencer as pessoas que o que fazemos vale o investimento. – Shaka sentou-se ao lado de Aiolia e Shaina.

- Não podemos demorar para eles não ficarem entediados. – Camus ajeitava seu quimono, analisando se os outros estavam prontos. Ele assentiu para Shion, que se ergueu e começou a falar.

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- O nosso grupo nasceu estruturado em três pontos: fraternidade, disciplina e desenvolvimento. – a voz de Shion soava clara até ali no alto, onde elas estavam. Shunrei percebia porque ele fora escolhido o Grande Mestre. Sua autoridade e elegância eram impressionantes. – Aqui encontrarão pessoas de várias nacionalidades, idades e gêneros, pois buscamos fortalecer a união para além das diferenças; harmonizar pessoas, ideias e sentimentos. – apontou para o grande grupo de membros. – Exigimos de nossos integrantes a observância de alguns pontos: - enumerou erguendo um dedo por vez. - treino contínuo, respeito aos superiores, honestidade e cordialidade, nunca demonstrar maneiras rudes e evitar a cobiça e a agressividade. – ele sorriu levemente, talvez percebendo a impressão positiva que transmitia. – E acreditamos em desenvolver o ser humano como indivíduo e sua integração à sociedade e à natureza, como elemento ativo e consciente para melhorar o mundo.

- Nunca tinha pensado nisso. – Esmeralda sussurrou. – Boa forma de explicar que eles ajudam órfãos a terem um propósito de vida e os tornam bons seres humanos usando os ensinamentos das escolas budistas de artes marciais.

- E muito gatos. – Eiri completou, piscando para as duas. – Apreciem o desfile, damas.

- As demonstrações que veremos agora são a expressão física dos nossos ideais. – Shion encerrou, acenando para os dois grupos de lutadores virem para o centro do palco.

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- Primeiro serão Marin e Seiya. – Shun sinalizou para os dois entrarem no tatami. – Em seguida, Camus e Hyoga; Shaina e June; Dohko e Shiryu; Aiolia e Ikki e para fechar, Shaka e Milo. – apontava para cada dupla.

- Lembrem-se que é apenas uma demonstração e não pode durar mais do que cinco minutos cada. – Camus disse, seu olhar enfatizando para Ikki e Milo. – Precisamos fechar bem essa visita. – todos assentiram.

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- Parece bem perigoso. – ela ouviu uma das assistentes comentar atrás de si.

- Esse é o atual campeão mundial. – ela comentou para o conselheiro ao seu lado, sua voz alta o suficiente para os demais ouvirem. – Segundo o diretor Shion, ele nunca se feriu gravemente. – o conselheiro balançou a cabeça, a atenção voltada para a luta frenética no tatami.

Saori sorriu intimamente com os suspiros e as exclamações com os golpes, embora o que ela mais admirasse era a postura orgulhosa de todos os lutadores que passaram pelo tatami e recebiam aplausos entusiasmados.

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- Foi uma boa idéia colocar mestres e discípulos. – Shunrei disse, vendo a agitação nas arquibancadas abaixo, especialmente das crianças e dos aspirantes mais novos. De vez em quando, eles se levantavam em um golpe mais ousado ou escondiam o rosto quando a queda era feia. – Vejam a imponência do sr. Camus.

- Ainda me parece inusitada a elegância nos movimentos deles. – as sobrancelhas de Esmeralda se ergueram ao ver a mistura de dança e luta. – É como se estivessem nos ensinando como nos comportar. Além de ser incrivelmente sexy.

Elas aplaudiram vigorosamente quando os dois saíram encerraram a apresentação.

- Agora são os seus garotos, Shu. – Eiri falou. Não chegou a fechar a boca porque os dois tiraram as uwagi, postando-se em lados opostos. Olhou para Shunrei, que mantinha a expressão neutra.

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Em vários momentos, Saori virou-se para comentar algo engraçado ou curioso e parava no último instante, consciente da distância até suas amigas. Permitiu-se olhar uma vez, localizando os olhos de Kouga grandes como pires presenciando a agilidade de Seiya ao escapar dos chutes de Marin e sua velocidade em desferir seus socos. Engoliu em seco.

"Não é o meu papel agora." Ela se inclinou para responder a uma das conselheiras, esforçando-se para guardar sua felicidade para mais tarde.

- Eles podem lutar sem o quimono? – a senhora perguntou, corando ao ver os dorsos e braços torneados, a precisão dos movimentos e as tatuagens nas costas, vivas ao se moverem junto com os músculos.

"De boba a senhorita não tem nada, dra. Nishi." Ela precisou morder os lábios para não rir ao ouvir as exclamações por todo o anfiteatro.

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- Foi um pedido de Camus. – Dohko falava baixo para não atrapalhar a exibição, tentando convencê-lo.

- Aiolia e Ikki também têm tatuagens. – Shiryu enrubesceu. Conhecia as reações ao dragão verde e preferia que elas ocorressem em privado. – Por que nunca pedem a eles?

- Sei que você prefere lutar sem a uwagi, então, aproveite. – Dohko emitiu um sorriso malicioso, que fez seu rosto queimar.

- O senhor também, Mestre. – a risada do chinês encerrou a conversa.

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"O que eu vou fazer com esses dois?" O sorriso não abandonava o rosto de Shunrei ao vê-los brincar com o dragão sinuoso com as garras em riste e a enorme cabeça do tigre com as presas à mostra. As mulheres ficaram em polvorosa e os homens boquiabertos. "Agora sei de onde Shiryu tirou o hábito de ficar sem camisa."

- Novos níveis de adrenalina. – Esmeralda a cutucou.

- Amiga, o que é isso, hein? – o tom de Eiri era de espanto. – Já não bastava o cabelão?

- E o olhar implacável do sr. Dohko? Parece que vai devorar Shiryu. – Esmeralda observou.

"Os olhos deles mudam. Parecem prontos para enterrar garras e dentes na carne um do outro." Shunrei se arrepiou, seu coração aliviado por vê-los tão à vontade.

- Agora vocês descobriram porque me apaixonei. – ela riu.

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- Ufa! – Shion suspirou ao entrar em seu escritório no final do dia.

- Ou eu estou bastante enganada ou eles gostaram do que viram. – Marin comentou, sentada em um dos sofás. Ela e Shaina estavam apenas com as camisetas sem manga que usavam por baixo das uwagi.

- Talvez tenha sido demais para eles. – Shaina servia o refresco gelado nos copos com gelo. O dia fora quente e só agora a adrenalina se normalizava. – Vi algumas caretas na apresentação de Shaka e Milo. Quando os dois usaram seus golpes em pontos e mutuamente se paralisaram. Ainda bem que você teve presença de espírito. – entregou um dos copos a Shion.

- Acho que não esperavam que as duas Amazonas tivessem um combate tão acirrado. – Aiolia tomou um grande gole. – Está dolorido? – ele indicou o pulso ainda vermelho por ter sido imobilizado com o chicote que June manuseou especialmente para a apresentação. Shaina negou, recostando-se.

- Deixe Shun dar uma olhada. – Shion alojara-se em sua mesa, prendendo os longos cabelos verdes-claros no alto da cabeça, aproveitando a brisa que entrava pela janela atrás de si.

- E então, o que tem a nos dizer, Shion? – Camus colocava mais gelo em seu copo, sentado na poltrona no canto oposto, ao lado da estante alta onde estavam alguns dos troféus ganhos nas competições mundiais. A maioria ficava exposta na sala de TV. – Nosso entusiasmo está nos enganando ou foi realmente uma visita bem-sucedida?

Os olhos dourados de Shion brilharam e ele abriu um largo sorriso.

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CENA BÔNUS 1

- Yuna, nada de correr em casa! – a recomendação de Eiri ecoou pelo apartamento repleto de caixas. Apenas os móveis maiores estavam nos lugares.

A sala era grande o suficiente para colocarem sofás e a mesa das refeições, com a estante para os livros. A cozinha quadrada era separada dos três quartos por um corredor onde estavam os armários e o banheiro.

- O trunfo é a varanda. – Hyoga comentou, colocando as sacolas com as compras no balcão da cozinha. – Logo estará cheia de plantas. – piscou para a esposa, pedindo licença para tomar um banho. – Yuna e Kouga, descansem um pouco e depois desceremos para a praça. – elas o ouviram dizer ao passar pelo quarto onde as crianças conversavam sem parar.

- Eles vão demorar a dormir esta noite. Muito estímulo. – Saori sentou-se ao lado da mala que trouxera. – Ainda não me sinto à vontade ficando com vocês.

- A minha intenção é fazer você nos ajudar na organização. – Eiri procurou a garrafa de chá gelado que compraram e ofereceu um copo à amiga. – Um brinde a esse dia histórico!

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CENA BÔNUS 2

- Uma pena não estarmos lá. – Pavlin observou, marcando a página do livro com o lápis.

- Régulus, como foram as lutas de mamãe e papai? – Yuzuriha veio da cozinha com a travessa de frutas que colocara na geladeira pela manhã.

O irmão pegou um punhado das cerejinhas satonishiki e a maior das peras nashi. Cada garota pegou uma mikan.

Ele contou como foi o dia, as lutas, a chegada dos executivos da Fundação, o retorno de Shiryu.

- Mostrei o Santuário à noiva dele, a srta. Nishi. Nunca vi tanta movimentação ali! – elas sorriram do entusiasmo em cada palavra dele. – O pessoal comentou que a investidura de vocês será na próxima lua cheia. - Pavlin assentiu, séria.

- Provavelmente, teremos maiores detalhes quando mamãe e papai voltarem.

- Está na hora de tomar uma decisão definitiva. – Yuzuriha mordeu a metade de um morango, pensativa.

Pavlin e Régulus se olharam antes de rir da expressão sonhadora da irmã.

- Temos que falar com mamãe. Nós somos capazes de conciliar todas as partes da nossa vida. – a irmã mais velha afirmou, mastigando um gomo da mikan.

- Se vocês conseguirem, vai facilitar para mim. – Régulus jogou duas cerejas na boca, sentando-se no encosto do braço do sofá ao lado de Yuzuriha.

- Você precisa ajudar a si mesmo, garoto! – a irmã deu um peteleco. – Eu ouvi o sermão da mamãe ontem. Você precisa se emendar logo.

O caçula reagiu com uma careta e as duas riram da expressão forçada de desalento.

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CENA BÔNUS 3

- Onde está Shaka? – Dohko perguntou ao chegar à cobertura do edifício com dois baldes grande com gelo e cervejas. Haviam construído esse ambiente para que pudessem contemplar o céu noturno para satisfazer os garotos, que tinham saudades de ficar no telhado do porto de Tóquio. Havia cadeiras, uma mesa e um telescópio. – Ainda está no quarto?

- Ele disse que talvez demorasse um pouco mais. – Milo informou, ajudando-o a distribuir as cervejas pela mesa. – Ah, estão geladas! – tomou um grande gole.

- É a lira de Orfeu? – Mu passou as duas travessas com tempurás pela mesa iluminada por dois pequenos lampiões, para não ofuscar as estrelas. O som da conversa no jardim chegava como um leve burburinho. – Ele toca muito bem.

- De vez em quando, ele, Seiya e Pavlin tocam juntos. – Shion comentou, recebendo a garrafa de Aiolia. – Shaina e Marin não quiseram ficar?

- Marin está empenhada em vigiar Régulus e Shaina foi falar com as meninas sobre a cerimônia. – Aiolia ergueu as sobrancelhas ao escolher uma das tempurás.

- Boa noite, senhores. – Shaka surgiu com os longos cabelos loiros molhados. – Que brisa agradável!

- Shaka, estava esperando você para levantar um brinde ao dia de hoje. – Camus ergueu sua garrafa, acompanhado pelos outros cinco. – E agora você pode repetir o que disse para o Milo na apresentação?

- Aquilo foi muito inesperado! – Milo exclamou, um meio sorriso malicioso nos lábios. – Pensei que você ia começar a pregar para a platéia.

- A verdade é imensamente profunda e gloriosa. – o tom da voz de Shaka era imponente. - Infelizmente, mesmo depois de ter passado por muitos milhões de vidas, é difícil para um homem entender e alcançar a verdade.

Todos ergueram as garrafas, saudando-o.

- Foi tão impressionante que calou o burburinho e deu relevância à luta além da demonstração física. – Dohko piscou para o indiano. – Da mesma forma que a sua performance, Milo. E a sua, Aiolia. – saudações alcóolicas para os dois.

- Milo e sua flexibilidade e dedos mortais – Mu mexeu o dedo indicador e médio. - e Aiolia, que controlou as chamas da fênix na base do rugido. – abriu os cinco dedos, como se jogasse algo no ar. – Tem sido uma honra conviver e aprender com vocês.

- Consigo ver que as lutas são mais do que simples trabalhos físicos para vocês. – a voz de Shion trazia autoridade, mesmo numa roda de amigos. – É importante que vocês externem isso sempre que possível, pois vocês são exemplos para os mais jovens e eles precisam compreender que não é apenas um ganha-pão.

- Às vezes, nós mesmos precisamos lembrar disso. – Aiolia terminou sua cerveja e Dohko pegou outra no balde de gelo. – Há valores a serem exercitados num verdadeiro combate justo.

- Vou puxar mais esse assunto nas aulas. – Camus afirmou. – Provavelmente, novos membros chegarão e precisaremos manter a alma do Santuário viva nas nossas atitudes e no nosso cotidiano.

- Foi por isso que escolhi vir para cá. – Shaka disse, um brilho de contentamento nos olhos azuis.

- Camus sempre me falou sobre o espírito e os princípios do Santuário. – Milo mordeu metade de uma tempurá de camarão. – É bom ver que não é só marketing.

- E a comida é muito boa também! – Dohko abriu mais garrafas e distribuiu. – Amigos, o futuro está à nossa frente. Vamos nos manter unidos e com o objetivo de espalhar o ideal do Santuário!

- Sim! – os seis brindaram novamente.

- Já decidiram onde vão fazer as tatuagens? – Aiolia perguntou e Mu engasgou.

- Mas é obrigatório? – o grego fez cara de mistério. Mu olhou para Shion, que fingiu interesse no rótulo da cerveja. Camus mostrou o desenho da constelação de Aquário em seu ombro direito.

- Alguns são menos espalhafatosos. – o francês indicou o peito de Aiolia e as costas de Dohko.

- Talvez uma marca no tornozelo. – Shaka ponderou, tentando não rir do desespero de Mu. – Não é uma decisão fácil, meu caro amigo.

Os olhos verde-escuros arregalados fizeram todos rirem alto.

- Mu, você está perdido se até Shaka te zoar. – Milo tinha lágrimas nos olhos de tanto rir.

Eles ficaram até a madrugada conversando e elaborando seus planos. Foi com as mentes bem mais leves que foram dormir.

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CENA BÔNUS 4

- E vocês viram quando o papai fez aquele negócio de bater asas, igual uma águia? – Souma abriu os braços numa imitação do golpe que viram mais cedo no tatami. Correu ao redor dos outros dois, como se os sobrevoasse. – Aquilo foi incrível!

- Você sabe que é uma fênix. – Éden corrigiu, caminhando ao lado de Ryuho. – A fênix renasce das cinzas.

- O meu pai quase derrotou o Mestre Dohko! – Ryuho exclamou, a voz mais alta que o normal. Ele também imitou o golpe de Shiryu, pulando com o punho erguido.

- Mas o sr. Dohko é o Mestre dele. Isso é quase impossível. – Éden ponderou, tentando trazer alguma razão para a empolgação desmedida dos outros dois, sem nenhum sucesso.

- Os três vão demorar para dormir hoje. – Esmeralda comentou, suspirando. – Estou tão feliz por você estar aqui! – enlaçou o braço da amiga.

- Jamais imaginei que te encontraria num lugar como esse. – Shunrei confessou, sorrindo. As duas caminhavam um pouco atrás dos garotos, no crepúsculo. As sombras delas compridas no asfalto. – Me deixou mais tranquila. Você vai retomar os trabalhos de jornalista? – Esmeralda confirmou.

- Já enviei meu currículo para alguns jornais daqui e de Tóquio. Ofereci também reportagens de turismo para uns conhecidos no México e no Peru. Vamos ver o que rola. – a voz da loira ficou mais baixa. – Vim por causa dos garotos. Pode não parecer, mas os três estavam precisando desesperadamente daqui. – Shunrei piscou seguidas vezes. – Mas eu quero retomar a minha carreira. Acho que consigo.

- Faz a gente pensar que realmente existe um caminho que cada pessoa precisa trilhar, não é? – Shunrei chegou mais perto da amiga. – Eu nunca tinha pensado nisso até conhecê-los. – Esmeralda riu.

- Não lembro de termos falado sobre isso antes. Realmente, um relacionamento pode nos ajudar a nos conhecer melhor, não é? – Shunrei confirmou, rindo também. – Se os envolvidos estiverem dispostos, claro.

- É verdade que Ikki também tem uma tatuagem? – Esmeralda confirmou, sinalizando que ficava no tórax.

- É uma fênix rodeada por chamas. – as duas riram mais alto.

Os dois homens que andavam um pouco atrás delas ergueram as sobrancelhas com as risadas. Caminhavam para as casas deles, subindo tranquilamente a rua.

- Você continua muito veloz. – Shiryu comentou, um meio sorriso nos lábios ao observar as duas conversando baixinho.

- Não parei de lutar, só não era pelos Cavaleiros do Zodíaco. – Ikki flexionou o punho direito, que tinha sido bloqueado por Aiolia e estava um pouco inchado. – Você sumiu para a Coréia e eu para a América Latina.

- Hoje foi a volta dos filhos rebeldes, então. – Ikki soltou sua risada irônica. – Aiolia vai continuar o seu treinamento?

- Não sei o que Shion vai resolver. Tenho treinado mais com Milo, mas ele não pode ser mestre de ninguém ainda. – Shiryu assentiu, sabendo que não deveria falar muito mais sobre o Mestre do amigo. – Aiolia não seria mau.

- Provavelmente voltaremos às competições junto com June. – Ikki assentiu. – Você imaginou que estaria de volta? – Ikki demorou a responder, os olhos nos pequenos grupos a frente.

- Eu estava tão perdido que fui me procurar do outro lado do mundo e arrastei minha família comigo. – Shiryu procurou não demonstrar seu assombro com o amigo revelando esses pensamentos. – Nisso nós dois somos parecidos. Agora, mais do que voltar para o tatami, devemos fazer o possível para dar uma vida melhor para os nossos. Não vai ser fácil, Lagartixa.

No portão do sobrado, estavam esperando os dois.

- Conte comigo. – Shiryu estendeu a mão. Ikki segurou com força seu antebraço, a expressão resoluta. – Nós caminharemos juntos, Franguinho.

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O Santuário foi totalmente inspirado no Templo zen-budista de Zuisen-ji. Pelas descrições e fotos, é belíssimo. Chamado de "templo das flores", é conhecido por seus jardins e sua vegetação abundante. Procurem para ver!

Sempre achei o Santuário de Atena decadente no anime clássico e revendo agora, com a perspectiva de The Lost Canvas, fez sentido que ele fosse negligenciado nos anos em que Saga pensou tê-lo dominado por motivos egoístas. Em TLC, o lugar é muito organizado e limpo, arborizado, porque era gerenciado com um objetivo diferente. Assim, o Santuário de Kamakura reflete as intenções de seus habitantes.

Namagashi - é um tipo de Wagashi (doces tradicionais). São bolinhas de farinha de arroz recheadas com pasta de feijão azuki doce, geleias, frutas ou nozes. É o doce preferido de Shunrei, por isso ela trouxe para adoçar as bocas e os corações do pessoal do Santuário. Lembram da primeira temporada de Conexão Coréia?

Uwagi – é o "roupão" do quimono. Já sabem que Shiryu e Dohko não perdem uma oportunidade de arrancar a roupa, né?

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Olá!

Estava ansiosa para chegarmos a Kamakura e reunir todos novamente. Parece que os episódios serão maiores mesmo, devido à quantidade de personagens. Espero que não tenha ficado muito enfadonho.

E então, como foi a interação deles? Estão gostando mais de quais deles? Contem aí.

Vamos ver para onde nos levam os nossos queridos personagens!

Até o próximo episódio.

Beijos,

Jasmin Tuk