EPISÓDIO 5
A temperatura estava bem mais agradável e o dia fora tão intenso que eles resolveram estirar-se no gramado e observar o céu noturno.
- Os treinamentos são diferentes das lutas de verdade. – Teneo comentou, as mãos atrás da cabeça.
- Nunca tinha visto alguém lutar como o sr. Milo. – a voz de Yato exprimia o espanto que ainda sentia ao lembrar. – Como se fossem ataques de escorpiões mesmo. E aquela tiara que ele usa?
- Mas o sr. Shaka não se preocupou com as firulas dele. – Selinsa, do outro lado de Teneo, ponderou. – O estilo de luta dele é impressionante, com aquelas coisas que ele faz com as mãos e depois atingindo o oponente nos pontos vitais.
- São mudras. Ele canaliza a energia antes de golpear. – Kiki informou, erguendo o braço para demonstrar algumas das posições. – O sr. Shaka e o sr. Milo têm estilos semelhantes para atingir o outro lutador, acertando em pontos específicos. Pena que o Mestre Mu não participou.
- Ele estava auxiliando o sr. Shion, não é? – Eurídice sentara-se um pouco afastada do grupo, acariciando os cabelos volumosos do namorado, com a cabeça em seu colo. – Ele é muito discreto e prestativo. O sr. Mu tem nos treinado e ele é um excelente instrutor, não é, Selinsa? – a amiga assentiu, tentando, novamente, encostar o dedo mindinho na mão de Teneo. O garoto tinha sorte por estar escuro e ninguém ver seu rosto ficando completamente vermelho ao mesmo tempo que afastava discretamente o braço.
- O Mestre Camus disse que eles serão consagrados oficialmente com as constelações na nossa cerimônia. – Orfeu virou a cabeça para ver o rosto sereno de Eurídice. Os cabelos loiros caíam por seus ombros, a lua refletindo nos olhos escuros.
O namoro começara oficialmente há pouco mais de um mês e eles sabiam que seus movimentos eram observados por todos. Não havia proibição de relacionamentos entre os membros do Santuário, mas havia regras a serem seguidas na convivência e os casais eram bastante discretos, mesmo os mais antigos. Orfeu, como o mais velho dos aspirantes, tinha que dar o exemplo para os demais, o que incluía suas duas irmãs mais novas.
- A Mestra Shaina disse que será a maior cerimônia que já tivemos. – Selinsa disse. – Os senhores Milo, Mu e Shaka, além de Pavlin, Orfeu, Eurídice, Yuzuriha e Yato.
- No próximo ano, vamos competir nos torneios nacionais. – Teneo se consolava com esse pensamento. Ele era o mais empenhado nos treinos para a seleção dos representantes do Santuário. – O que vocês acharam da luta entre o Tigre e o Dragão?
- Será que poderemos fazer tatuagens como as deles? – a voz de Yato parecia sonhadora. – Eu bem que gostaria de ter o Unicórnio no braço.
- Você não pode revelar a sua constelação antes da cerimônia! – Eurídice exclamou. Orfeu sentou-se, pegando a lira ao lado e dedilhando uma melodia. – A tradição é apenas o seu Mestre e o sr. Shion saberem.
- Gostei da luta deles. Foi menos coreografia e mais contato físico. – Kiki enquadrava as estrelas entre os dedos, separando as constelações que aprendera nas aulas daquela semana. – Eu preciso pensar em qual será a minha. – quem estava do seu lado começou a fazer o mesmo.
- Não é você quem escolhe. – Orfeu continuava a tocar, preenchendo o silêncio que sua declaração causou. Era um dos melhores músicos que já passara por ali. Diziam que suas doces melodias formavam belas imagens nas mentes de sua audiência, tendo o poder de produzir sonhos felizes. – A constelação escolhe você. Desde o início, segundo Mestre Camus, foi assim. Lembram do que ele disse na aula? É como se fosse nossa constelação protetora. – todos pararam de olhar para o céu. – Foi assim que me senti. Ela apareceu para mim em sonhos.
- Eu também senti isso. – Yato confirmou. – Pouco antes do Mestre Aiolia me explicar sobre elas, via imagens de unicórnios em todos os lugares. Até pelúcias em bancas na rua.
As notas saíam límpidas das cordas da lira e Orfeu deixou que os amigos refletissem sobre o real significado daquilo.
- Se o sr. Seiya estivesse aqui, vocês poderiam fazer uma apresentação para nós. – Eurídice disse baixinho, dobrando as pernas para apoiar a cabeça nos joelhos. Ela viera para o Santuário ainda criança, trazida por Marin de uma de suas viagens à Grécia, e tinha a mesma idade de Yuzuhira. Chegara a morar algum tempo com a família Sollis e apenas há pouco menos de um ano decidira se tornar Amazona. – Vocês dois fazem serenatas muito bonitas.
- Ele deve voltar bem tarde hoje... Se voltar. – Kiki comentou displicente, ouvindo a risada abafada de Yato. – Parece que esses dois foram hipnotizados, Orfeu. – apontou Selinsa e Teneo cochilando ao seu lado.
O dedinho de Selinsa encostado no dedinho de Teneo.
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- Isso está muito bom! – as bochechas de Seiya estavam estufadas e ele mastigava depressa. – Fazia tempo que não comia uma comida tão gostosa!
- É como dizem, a fome é o melhor tempero. – Eiri riu, escolhendo outro pedaço de frango crocante na embalagem. – Está bom, mas não é para tanto.
- Você não comeu nada depois da visita? – Saori o olhava divertida, servindo-lhe um pouco mais de salada.
- Tivemos uma reunião, eu tomei banho e vim. – Seiya engoliu com esforço e seus olhos lacrimejaram. Hyoga balançou a cabeça, mordendo um pedaço bem pequeno da coxa em sua mão.
- Tome um pouco de refresco e respire. O frango já está morto, empanado e frito. – o loiro ergueu as sobrancelhas.
Os quatro estavam sentados na mesinha da sala ainda por organizar, com as embalagens de frango, salada e arroz e as garrafas de cerveja e refresco. Eles mal tiveram tempo de arrumar os quartos e colocar Kouga e Yuna para dormir antes de Seiya chegar.
- Seiya, quero agradecer a você por hoje. – Saori sabia que havia um outro motivo para essa orgia alimentar do noivo. – Foi realmente importante termos feito como combinamos. Não pode haver nenhuma suspeita de favorecimento nessa fase inicial. – ele ficou subitamente sério, erguendo as sobrancelhas e contraindo os lábios.
- Mas, Saori, eles não podem acusá-la de omitir o relacionamento de vocês no futuro? – Eiri acompanhara o planejamento para a visita e não quisera se manifestar à época. – Afinal, logo será de conhecimento geral o noivado.
- Quando for, o investimento já estará consolidado. – Saori respondeu, provando um pouco da salada com uma lasca de frango. - Os conselheiros precisam ter a certeza de que a minha prioridade no negócio é a Fundação.
- Kouga ficou um pouco confuso. - o tom de Seiya mostrava sua insatisfação com a situação. O único motivo que o fizera ceder ao pedido de Saori fora a vontade de colaborar com ela e descobrira ter sido a decisão errada. – Foi estranho para ele não poder ficar perto de você. – ela franziu os lábios.
- Eu sei que não foi fácil. Conversei com ele mais cedo. – ela sorriu ao olhar para os amigos. – Depois de hoje, não vamos mais precisar fazer isso. A visita foi um sucesso!
- O que exatamente a Fundação espera de nós, Saori? – Hyoga aproveitou o assunto. – Nós recebemos algumas canecas, bonés, uma equipe veio gravar um vídeo. Estamos investindo em novos lutadores confiando no patrocínio de vocês. Seremos garotos-propaganda, vamos vender produtos, o que?
Saori abriu e fechou a boca, sem saber por onde começar.
- Ainda estamos estudando as possibilidades, mas há propostas desde vocês comparecerem em eventos até que sejam modelos de uma linha de bonecos. – Eiri tapou a boca tentando parar o riso. – A Fundação Graad tem interesses em vários ramos de negócios e à medida que vocês forem conhecidos vão se tornar mais valiosos, entendem? Mostrei os seus outdoors na Europa e é esse tipo de coisa que a Fundação quer. Então, a imagem e a reputação de vocês são seus bens mais preciosos agora.
- Estou lembrando da sua cara emburrada tirando fotos na propriedade do meu pai, querido. – a grega tinha lágrimas nos olhos de segurar o riso.
- Você quer dormir aqui, Seiya? – Hyoga preferiu ignorar o comentário da esposa. – Ou vai me deixar passar vergonha sozinho?
Seiya esticou os braços, estalando os dedos.
- Eu gostaria de ficar, aí posso te ensinar algumas poses boas para fotos. – sentiu-se fulminado pelo olhar azul gélido. – Estou te imaginando num mangá, Cisne. Vai vender como água no deserto! – esquivou-se do osso lançado em sua direção. – Sobre o que precisamos fazer hoje, Saori, não foi agradável nem para mim e nem para o Kouga. Conheço as justificativas, mas eu gostaria muito de pedir, de novo, que você não tenha medo de mostrar que está comigo. – ergueu a mão direita com a aliança idêntica à dela.
Saori não deixou de encará-lo. Pousou a mão sobre a dele.
- É uma promessa.
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- Então você se divertiu? – Seika sentia seu coração mais leve ao ouvir a felicidade na voz do filho.
- Eu gostei das lutas. O papai e o sr. Aiolia são muito bons! A voz do papai parecia um trovão, mamãe! Ele quase venceu, se o sr. Aiolia não fosse tão rápido. – Éden falava em alta velocidade, sentado no chão ao lado da mesinha do telefone. – Vamos ter aulas no Santuário até as aulas na escola começarem.
- Miho vai adorar saber. – a mãe mordeu os lábios antes de continuar. – O tio Seiya nos convidou para passar o final de semana que vem aí. Tudo bem para você?
O garotinho olhou para Esmeralda e Souma, assistindo TV ali perto. Sua expressão ficou séria.
- Virão todos? – Seika podia ouvir a insegurança na pergunta. Suspirou, inclinando-se sobre a mesa do seu escritório no orfanato.
- Será uma boa oportunidade para estarmos juntos. Quero conhecer seus novos amigos e rever os meus. – ela esperou uma resposta que não veio. - Estou com saudades de você, filho. – Depois da noite em que ele, num impulso, fora parar no orfanato, eles não tinham mais se visto, por decisão do garoto.
Éden piscou os olhinhos verde-água, tentando parar a dor que sentia no peito. Ele não conseguia sair das sombras onde entrara desde a separação dos pais há seis anos. Sentia que não pertencia a nenhum lugar e que era um fardo para eles. O casamento do pai com Esmeralda e a ida deles para a América apenas corroborou essa percepção. Quando a mãe se casou também, ele simplesmente parou de falar e de interagir. Foi um período de grande apreensão e a solução encontrada fora enviá-lo para morar com Ikki.
- Faça como a senhora achar melhor. – Seika se segurou para não transparecer como estava ansiosa.
- Vai se um bom final de semana. Quero muito ver você, filho. – ela ouvia a respiração acelerada dele. – Eu amo muito você.
- Preciso desligar. Boa noite. – os dois franziram a testa, deixando o gancho cair e cortar a ligação.
- Éden, conseguimos sintonizar aquele programa que você gosta. – a voz de Esmeralda o despertou do embotamento. O sorriso dela o convidou para sentar-se do seu outro lado. Só por essa noite, ele se aconchegou a ela, sentindo como nunca falta do calor do corpo da mãe.
- Seika, você vai perder o último trem. – Miho entrou sem bater e ela precisou limpar as lágrimas às pressas. – Quer uma carona até em casa? Vamos jantar em algum lugar e depois deixo você.
- Melhor eu ir direto. – Seika organizou os papéis sobre a mesa e as duas saíram para o corredor. – Podemos combinar outro dia.
Se despediram das colegas e do vigilante que dormiriam com as crianças hoje e saíram para o pátio de entrada.
- De qualquer forma, te levo. – Miho abriu a porta do passageiro e ela não teve como negar.
- Estou sempre dando trabalho a você. – a ruiva falou, abrindo a janela para a brisa refrescante. – Você vai a Kamakura? – Miho suspirou.
- Claro! Vai ser ótimo revê-los. – o tom neutro não enganava a amiga de toda a vida. – Já deve ter uns dois anos que não vejo June e mais tempo os que estavam fora do país. – Miho pigarreou. – Você estava falando com Éden? – a ruiva balançou a cabeça.
- Às vezes, penso se não é melhor que ele fique comigo. Eu poderia levá-lo há um psicólogo. – a morena meneou a cabeça. – Ikki disse que eles são muito parecidos e que ele se afeiçoaria ao Souma, mas nada aconteceu até agora. Talvez ele pense que eu o deixei de lado. Me sinto perdida com o Éden.
- Ele é um garoto tão bom e era tão alegre. – a morena olhou para o rosto preocupado. – Precisamos encontrar o que se quebrou dentro dele. Vamos ver como ele interage com o restante do pessoal. Talvez pedir aos tios para ajudarem de alguma forma. – Seika respirou fundo.
- Por falar em Seiya... – Miho mordeu os lábios.
- Não se preocupe comigo. Foi só uma paixonite adolescente, nada mais que isso. Ele está feliz, isso que importa.
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O dia amanheceu chuvoso e Shunrei aspirou o cheiro bom de terra molhada ao abrir a porta lateral da cozinha, que dava acesso aos grandes pinheiros vistos da rua principal.
"Eu os perdi." Os três já tinham saído quando ela desceu. Deixaram o café no balcão da cozinha e um bilhete para ela descansar. "Estão me mimando." Ela descobriu as tigelas, triste por ter dormido demais. "Estava tão cansada, mas não posso deixar isso acontecer de novo." Comeu pouco, ouvindo o tamborilar da chuva no telhado e nos vidros de portas e janelas. "Por onde eu começo?"
Naturalmente, se viu no andar de cima, ajustando a mesa que viera da Coréia perto da estante que já existia no cômodo que seria seu escritório. Montou o computador, organizou uma parte das prateleiras, mas fazia tudo muito devagar porque perdia o fôlego a todo momento. Há dias sabia que estava forçando seu corpo além dos limites.
"Não quero ser um empecilho." Quando a respiração se tornava difícil, sentava-se em frente à janela e apertava os pontos de acupuntura que o dr. Heo Im lhe ensinara, aliados aos exercícios de Dohko. "Quero que eles sejam felizes."
- Olá! Tem alguém em casa? – era a voz de Saori. – Será que ela ainda está dormindo?
- Se quiser, pode ficar lá me casa e voltar mais tarde. – a voz de Esmeralda argumentou.
- Está aberta. Vou entrar. Obrigada, Esmeralda.
- Mais tarde trago o almoço para vocês. – ouviu o portão ser fechado e passos suaves no assoalho de madeira.
- Aqui em cima, Saori. – ela se esforçou para falar alto.
- Que casa grande, Shunrei! – Saori exclamou quando chegou ao topo da escada. – Onde você está?
- Tentando organizar um pouco as coisas. – a morena sorriu, levantando-se para abraçá-la.
- Eu fiquei preocupada com você ontem. – Saori escrutinou seu rosto, a expressão fechada. - Pensei que estaria no Santuário. Por que está sozinha aqui? Suas mãos estão geladas!
- Você tem algum doce? – a amiga sempre tinha balas ou frutas secas na bolsa pois constantemente ficava muito tempo sem se alimentar. Saori lhe deu um saquinho de bananas desidratadas e buscou a jarra de água.
- Melhorou? – Shunrei assentiu. Saori insistiu para ela deitar um pouco e a levou para o quarto. – Quer conversar? – perguntou quando o silêncio se prolongou. Shunrei respirou fundo. – Não tenho sido uma boa amiga, não é? Estive tão envolvida com outros assuntos, me desculpe. – a chinesa negou.
- Você está toda molhada. – Shunrei tentou sorrir, mostrando onde pegar uma toalha. – Vista uma das minhas roupas. – respirou fundo várias vezes, tentando se acalmar. – Ficou bem. – Saori voltou a sentar na cama, encarando-a. "Você não vai deixar pra lá, não é?" – A minha recuperação está sendo mais lenta do que eu preciso. – falou devagar. – Não consigo levantar e acompanhar a rotina da casa... Meu cabelo não cresce... Ontem eu quase desmaiei na frente do sr. Shion... – engoliu para tentar fazer a garganta parar de doer. – Anteon... anteontem... Anteontem, eu insisti para fazermos amor e depois tossi sangue... – a boca de Saori se abriu.
- Shunrei, por que...? – "Eu sabia que havia algo muito errado ontem. O que vou fazer?"
- Saori, eu não sei o que fazer... – as lágrimas embaçaram a imagem da amiga e a deixaram nervosa. – Não posso mais ser médica, minha mão não me obedece... Não posso ter filhos, o que eu sempre desejei... Eu estou tentando, mas eu nem... Eu nem...
Saori a abraçou muito forte.
- Você não falou com Shiryu sobre nada disso? – ela negou. – Quer que ele esteja livre para retomar a vida dele? – ela assentiu, sem conseguir falar. Saori mordeu o lábio. – E você acha que ele não está percebendo?
- Ele diz que está tudo bem e que nós vamos estar sempre juntos... – Saori acariciou o rosto transtornado de Shunrei, que soluçava, pronunciando as palavras aos solavancos. - Eles estão tão felizes. Eu não aguento quando eles se detêm por minha causa... Fico furiosa comigo... Estou tentando muito... mas não estou conseguindo... Não consigo nem me reconhecer mais...
- Shunrei, por que demorou tanto? Podia ter me ligado. – Saori sentia seu coração aflito pela condição da amiga. – Há coisas que só conseguimos fazer juntas. Você não precisa passar por isso sozinha. Até onde você acha que conseguiria chegar nesse estado?
- Não quero dar trabalho...
- Você está confundindo cuidado com dependência. – os olhos violeta viam os detalhes da expressão, as olheiras, os lábios crispados, a palidez. – Shiryu e Dohko sabem que há algo errado e estão no escuro porque você não se abre. Eles vieram falar comigo ontem. – Shunrei se espantou. – Se você compartilhar conosco, vai ver que essa dor aqui – pousou a palma no peito, os dedos tocando a base do pescoço que pulsava descontroladamente. - esse sofrimento vai diminuir e passar. Se escondendo, você está dando mais trabalho ainda, com todos tentando adivinhar o que está acontecendo.
- Tenho muito medo de perdê-los... – Saori precisou se esforçar para escutar o murmúrio.
"Eu sei que você consegue, minha querida amiga. Já passou por tantos problemas. Já me ajudou e ajudou tanta gente..."
- Se você continuar se violentando, vai acontecer pior: você vai se perder de si mesma. – ela apertou os dedos frios. – Você ainda pode ser médica, mesmo que não possa fazer cirurgias, há tantas outras maneiras de exercer. – Shunrei piscou, limpando as faces com as costas das mãos. - Os cabelos e os pulmões só precisam de paciência. Dohko está fazendo exercícios de respiração com você, não é? – ela assentiu. – E esse cabelinho fez você rejuvenescer uns sete anos... Eu sei que não é um período fácil, ao contrário, se eu estivesse passando por metade, estaria em casa deitada na cama, não construindo uma nova vida. Sabe o quanto eu admiro você. Você é muito forte, mas a fortaleza é também saber aceitar ajuda. – Shunrei respirou fundo.
- Uma vez, Shiryu pediu para deixá-lo cuidar de mim... – ela comentou baixinho.
- Não só ele. – Saori a fez erguer o rosto, a voz emocionada. – Você é uma pessoa tão linda, precisa perceber como as pessoas querem estar ao seu lado, como elas se encantam por quem você é. Não estou pedindo para sair alegre e saltitante daqui agora, só para não permitir que essas emoções e pensamentos tolos te afastem de você mesma e de nós.
- Sei que você está certa, Saori. Mas eu não consigo...
- Não precisa resolver tudo de uma vez. Vamos começar com o que é mais fácil. Lembra?, você mesma me ensinou: quando o problema parecer grande demais, a gente vai cortando e resolvendo aos pedaços. – os olhos azuis observavam a objetividade de Saori, seus gestos decididos. - Você tem um homem inteligente e atencioso do seu lado. Aliás, dois, mas acho que é melhor você começar com o que conhece há mais tempo. – Saori piscou para ela, tentando fazê-la sorrir. – Divida seus planos, as suas preocupações. Não deixe que ele pense que o problema é ele.
- Não! – Shunrei levou a mão à boca. – Nenhum dos três é.
- Aproveite a estada em Kamakura e invista no que realmente importa para você. Parece um bom lugar para recuperar a saúde física e mental. É o que eu pretendo fazer. – finalmente Shunrei emitiu um leve sorriso. – Nós podemos começar indo ao supermercado e depois, se estiver tudo bem, que tal se nós fôssemos ver as lojas de móveis da cidade para dar uma arrumada nesse casarão? A Eiri pode ir conosco. Ela disse que comprou tudo aqui mesmo, então pode ter dicas. – a chinesa assentiu. – Depois do almoço iremos. Enquanto isso, quer continuar a organizar as estantes?
- Não, é melhor eu tomar um banho. – Saori sorriu.
- Essencial!
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- Tente mexer o pulso. – Shaina torceu para um lado e para o outro o membro enfaixado. Shun sorriu.
- Use o adesivo anestésico pelo menos três dias. – entregou mais emplastros para ela. – Fazia tempo que June não manuseava o chicote.
- Não tem problema. Só está me incomodando para levantar as garotas. – Shaina abriu a porta da enfermaria e o barulho das salas de treinamento ficou maior. – Quando chove parece que estamos numa feira em Roma.
- O pessoal está animado. – Shun viu vários grupos pelo corredor, esperando para entrar nas salas de treinamento ou nas aulas teóricas. – Os alunos estão indo bem?
- Estamos com 52 hoje. – ela arrumou os cabelos verdes e endireitou o quimono. – Um ou dois podem até se tornar aspirantes.
- Doutor Shun, descuido meu. – Yato vinha encharcado pelo corredor, mancando e a canela com um pano amarrado. – Caí de mau jeito e deslizei nas pedras.
- De novo, garoto? – o tom da amazona era severo. – Se continuar assim, não vai sobrar nada de você.
- Vou tomar mais cuidado, srta. Shaina. – Yato se desculpou, baixando a vista. Shaina balançou a cabeça. Shun viu que o pano não estancara o sangramento.
- Venha, me deixa ver isso. – abriu espaço para o garoto entrar. Shaina se despediu e Shun foi procurar uma toalha ou um cobertor para Yato parar de tremer. Cortou o pano, revelando um talho do joelho até metade da perna.
- Você teve muita sorte. – Shun franziu a testa. – Parece feio, mas não foi fundo. – vestiu luvas para examinar mais de perto. - Vai doer para limpar. – mediu um dos remédios naturais que tinha no armário de vidro. – Tome, vai diminuir a sensibilidade. Como está o treinamento lá fora? – Yato ergueu as sobrancelhas e riu.
- Intenso. Não sabia que seria assim, treinar até na chuva.
- Quando terminarmos, é melhor encontrarmos cobertores para todos e aquecê-los. – Shun começou a limpar externamente o ferimento. – E ferver muita água para chás. Você me ajuda? – Yato assentiu, fazendo uma careta quando o algodão com antisséptico tocou na carne exposta.
- Papai! Papai! – Yuuto chamou, abrindo esbaforido a porta. Ele e Haruto traziam Souma, com um corte na cabeça que sangrava muito. – Ele caiu da escada. – Shun piscou para os garotinhos, lembrando de exigir um ajudante na enfermaria.
- Haruto, pegue uma daquelas gazes para mim. – Limpou um pouco o lugar e constatou não ser nada de grave. Levantou a vista para a mesa e viu Éden segurando o batente da porta, os olhos enormes para o irmão caçula. – Pode alcançar aquele frasco transparente? Esse mesmo. – Haruto passou rapidamente o líquido desinfetante. – Éden, pode segurar a gaze aqui enquanto eu termino de atender o Yato? – notou as mãozinhas frias e trêmulas. – Vai ficar tudo bem. – tocou os ombros dos sobrinhos. – Yuuto, diga aos outros que eu mandei não chegarem perto da escada. Fiquem na sala de TV, entendeu?
- Yuki já levou todo mundo para lá. – o pai sorriu internamente, despachando os dois.
– Levem esse bilhete para as senhoras da cozinha, por favor. Elas vão dar uma bacia de frutas e refrescos para vocês. – virou-se para o paciente na maca. - Yato, como você vai precisar de repouso, pode ficar com eles? – perguntou enquanto terminava de limpar e enfaixar a canela. Os cabelos verde-escuros do garoto ainda pingavam e a expressão era de desalento, mas ele assentiu. – Troque de roupa antes, não quero ninguém gripado aqui.
- Ele vai ficar bem, tio? – Éden ficou de lado, olhando o mais perto possível o local do machucado.
- Vai, sim. Seu irmão tem a cabeça dura, não é Souma? – os olhinhos castanhos ainda estavam chorosos e ele fechou a cara, fazendo o adulto rir. – Está vendo que foi apenas um corte? Esse sangue todo é normal em cortes na cabeça.
- Ai, ai, ai! – Souma se encolheu com o medicamento. – Está ardendo, tio!
- Como aconteceu? – Shun fez um curativo para parar o sangramento e limpou o rosto do garotinho.
- Eles inventaram de subir a escada pulando os degraus. – o tom de Éden era de repreensão. – Ainda bem que não conseguiram chegar no alto.
- Esses dois e suas ideias. – Shun testou a visão e os reflexos, ficando satisfeito. – Brincar normalmente não querem, não é?
- Nós estamos de férias, tio! – Souma protestou, recebendo um olhar severo do irmão mais velho. – Promet...
- Sr. Shun, desculpe interromper. – mais uma pessoa encharcada. – Está doendo muito.
- Você também, Yuzuriha? – a jovem entrou segurando a mão que começava a inchar. Havia um corte transversal de um lado ao outro da palma esquerda. – Por que vocês não podem simplesmente treinar no gramado? O que deu na cabeça de todo mundo hoje? – Shun suspirou, indicando para ela uma toalha e a maca. – Meninos, vão ficar com os outros. Vou pedir para levar o almoço de vocês lá também.
- Muitos atendimentos hoje, sr. Shun? – ela comentou quando eles saíram. – Quando tem muita energia junta, os acidentes tendem a aumentar. – ficou impassível quando ele limpou o ferimento.
- Acho que hoje bateu o recorde dos últimos meses. – ele sorriu, entregando o analgésico natural para ela tomar. – Treinamento na chuva sempre tem seus contratempos, mas dá para minimizar. Foi mais fundo do que o corte na perna de Yato. Quem está conduzindo o treino das amazonas hoje?
- Mestra Marin está com as aspirantes. – Yuzuriha informou, vendo-o colocar ervas secas na mão ferida e envolvê-las com uma atadura. - Mestre Dohko está com os dourados, Mestre Camus com June e os demais cavaleiros e o Mestre Aiolia com os aspirantes.
- Dourados? – Shun franziu levemente a testa, sem entender.
- É como estamos chamando os senhores Mu, Shaka e Milo, além dos mestres. São os Cavaleiros de Ouro. – Shun riu. – Porque eles foram escolhidos pelas constelações da elíptica e são mais fortes do que nós.
- Vocês são ótimos! – Yuzuriha flexionou a mão com o curativo e ainda latejava. – Espere só até o sr. Shion ouvir isso. – ela arregalou os olhos verde-oliva herdados do pai. – Vai ficar de molho na sala de TV com Yato e as crianças, ok?
- O coreano se feriu também? – Shun pensou ver um leve rubor nas faces dela.
- Dr. Shun, com licença. – uma das senhoras da cozinha entrou. – Preciso só de uma pomada para queimadura. – mostrou o antebraço riscado de vermelho. – Fui liberar um dos fornos como o senhor pediu e uma das formas escorregou.
- Shun, - o sr. Shion apareceu atrás da senhora. – pedi que passem aqui antes do almoço. Consegue preparar os tônicos para fortalecer o sistema imunológico para eles até lá?
Shun revisou o estoque e confirmou. Suspirou, pronto para mais uma rodada de atendimentos.
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- Chegamos! – Shiryu anunciou da porta.
- Que cheiro bom! – a voz de Ryuho reverberou pela sala.
- Quente! – Dohko respirou fundo ao entrar em casa. A chuva continuava forte. - Maravilha!
A sala estava iluminada e tinha uma mesa nova.
- Bem-vindos! – Shunrei veio contente da cozinha e parou de chofre ao ver o estado dos dois homens. – O que significa isso? - eles estavam completamente encharcados, formando enormes poças na entrada. – Vocês conhecem uma invenção chamada guarda-chuva? Não! – ela sinalizou para eles pararem quando fizeram menção de continuar. – Tirem essas roupas, torçam e depois deixem na lavanderia, só então subam e tomem um banho quente.
Os dois adultos se entreolharam.
- Nós passamos o dia treinando, Shunr... – Shiryu começou a explicar.
- Sabe quantas horas vai demorar para secar esse cabelo, sr. Suiyama? E o senhor, sr. Jiang, que ideia foi essa? – ela inspecionou os três. - Ryuho, pelo menos você sabe usar o guarda-chuva. Quando descerem, tragam o secador de cabelo e as toalhas. – voltou para a cozinha e os ouviu resmungar enquanto tiravam as roupas grudadas e passavam correndo para os banheiros.
# Esmeralda Reyes 'Imprensa ONU': Amiga, socorro! O que faço com esses homens? Parece que rolaram na lama o dia inteiro! Como Ikki chegou aí?
# Eiri Othonos 'Hyoga': Eiri, acredita que depois de tudo que andamos hoje, estou cozinhando e os dois me chegam encharcados em casa? Me fala como Hyoga chegou.
# Shunrei Nishi ONU: Ainda bem que aqui só tenho um! Os meninos chegaram secos e limpos, mas o pai deles... Ninguém merece! (emoji com a mão no rosto)
# Shunrei 'Shi' Nishi: Mulher, se eu não visse, não acreditaria. O cabelo dele está MARROM! Saori me disse que Seiya enviou uma foto completamente imundo. Estou chocada! (foto do bolo de cabelo cheio de lama e um pente fino) Se ele não se limpar, vai dormir no sofá!
Ela riu, respondendo que iria ficar horas secando o cabelo de Shiryu e Dohko e que amanhã iria ao Santuário resolver isso.
"Pensei que fossem pessoas ajuizadas... Nem adianta mandar mensagem para June ou Marin, devem estar na mesma situação."
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- É amargo, mas vai impedir que haja maiores consequências. – Shun incentivou-a a tomar o creme escuro. – E vai ajudar o seu organismo a resistir à gripe.
June fez uma careta, ciente dos três pares de olhinhos a observando. Tapou o nariz e virou de uma vez a caneca, tossindo e batendo no peito.
- Isso é horrível! – bochechou a água que Yuki lhe ofereceu. Eles estavam na cozinha, preparando o jantar, quando June começou a espirrar.
Yuuto e Yorie começaram a rir da reação da mãe e logo os outros também riam.
- Vocês também andaram aprontando, que eu sei. – June usava a toalha como um turbante e decidira usar um vestido largo estampado de bolinhas roxas e verdes. – Que história foi essa de pular na escada, Yuuto? – os olhos cinzentos do garotinho voltaram-se à tarefa de lavar o arroz.
- A gente não ia subir lá no alto. – ele se justificou.
- Espero que tenha servido de lição. – a mãe limpava o peixe que iria fazer assado. – Vocês dois poderiam ter se machucado feio.
- A gente passou a tarde assistindo desenho, mamãe. – Yorie separava num recipiente os temperos de folhas, ajoelhada numa cadeira para alcançar a mesa. Os cabelinhos verdes amarrados em duas maria-chiquinhas. – A Yuzuriha e o Yato ficaram com a gente. – Yuki se juntou a ela em risadinhas misteriosas.
Shun e June se entreolharam, entendendo o que elas tanto acharam engraçado.
- E eles brincaram com vocês, não foi? – o pai continuou a conversa, colocando o arroz na panela elétrica. – Quando fui buscá-los, vocês pareciam bastante envolvidos. – os três riram. – Yuki, atenção com a faca. – a garotinha estava cortando os legumes com uma faquinha de serra.
- Era pique-pega, papai. – a filha mais velha informou, entregando a bacia para o pai colocar no vapor. – Amanhã vamos de novo?
- Amanhã não precisamos ir. – June selava a forma com o peixe temperado e a colocava no forno elétrico. – Que tal se fôssemos passear com o tio Hyoga, a tia Eiri e a Yuna?
- A Yuna não foi com o tio Hyoga hoje. – Yuuto comentou.
- Ela deveria estar ajudando a tia Eiri a arrumar a casa deles. – Shun respondeu. – Vamos chamar o tio Ikki, a tia Esmeralda e os meninos também? – o trio concordou em uníssono.
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- Shunrei também não está feliz. – Eiri comentou, deixando o celular sobre a máquina de lavar. – Não sei o que vocês têm na cabeça. – esperou Hyoga colocar a toalha sobre os ombros. – Tínhamos um cachorrinho que gostava de se esfregar na lama e eu era sempre a escolhida para dar banho e tirar a sujeira.
- Então você tem experiência. – o loiro comentou, curvando o tronco para o tanque. Ela resmungou, dando um tapa em sua nuca.
- Nem pense em tripudiar. – abriu a torneira e foi sacudindo os cabelos para a terra se desprender. – A Saori ficou tão impressionada que subiu a colina para ver o Seiya.
- Como você ficou assim, papai Hyoga? – Yuna estava boquiaberta com a imundice. Ela subiu no balcão da cozinha, os olhinhos verde-claros incrédulos.
Ele chegara com a roupa e o cabelo enlameados e os braços com arranhões.
- Fui descuidado. – ele conseguiu falar em meio à cascata de água fria e lama. – Não precisa se assustar, Yuna. Já estou acostumado.
Eiri esfregou e passou o pente até os últimos grãos de terra saírem do couro cabeludo. Depois, o despachou para o banho e pediu delivery do jantar.
- Nós fizemos um bom trabalho, filha. – sorriu, guiando a pequena para a sala, já totalmente organizada. A garotinha se sentou à sua frente e ela começou a trançar os cabelinhos loiros-claros. – Você quer uma trança só ou posso fazer muitas?
- Mamãe Eiri, eu vou precisar voltar para o orfanato? – Eiri engasgou.
- Por que essa pergunta agora, Yuna? - "De onde ela tirou isso?" – Yuna entregou um dos elásticos para prender uma das várias tranças fininhas.
- A diretora disse que vocês ficariam só poucas semanas comigo e eu já ajudei a organizar a casa. – Eiri separou outra porção de fios e fez mais duas trancinhas em silêncio. Abriu a boca para aliviar a pressão no peito.
"Como as pessoas podem ser tão cruéis?"
- Você quer voltar para lá? – Yuna brincava com os dedos e os elásticos coloridos na saia do vestidinho creme.
- Não. – falou baixinho. – Eu quero ficar com vocês.
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- Vocês poderiam cogitar a possibilidade de cortar essas cabeleiras, não é? – Régulus lançou o comentário aleatório, apoiado no batente da porta do banheiro. Seus cabelos apontavam para todo lado pela fricção insistente com a toalha. – Para amazonas, não é prático.
Pavlin jogou um rolo de papel no irmão. Estava sentada no banquinho enquanto Yuzuriha usava o secador de cabelos.
- Sai daqui, garoto! – ela exclamou. Ele segurou o rolo e o colocou sobre a pia, rindo.
- Régulus, preciso de ajuda. – a mãe chamou da cozinha. – Vou fazer curry. Pode cortar as verduras e a cebola?
Marin vestia uma calça de moletom cinza e uma camiseta baby-look laranja, os cabelos ruivos brilhantes e secos.
- Você tomou a fórmula de Shun? – ele assentiu, piscando para ela. Puxou a tábua de madeira e começou a calcular os cortes dos vegetais.
- É a única coisa que impede os resfriados. – a mãe o observava pelo canto do olho. Ele escolhera shorts verde-escuro comprido e duas camisetas, a preta sobre a branca de mangas longas. – Lembra quando eu não quis tomar e acabei ficando de cama uma semana? – ela sorriu, confirmando.
- Seu pai me disse que você ajudou Yato hoje. – ela terminou de picar o peito de frango e preparou a panela para começar o cozimento.
- Ele é um pouco afoito e ainda não conhece muito bem o terreno. Acabou caindo e se machucou. – Régulus cortava as cenouras e a cebola em cubos do mesmo tamanho. Aquele era o tipo de atividade que fazia a sua mente focar. Era a mesma sensação de quando estava no tatami.
- Se você não o tivesse segurado, teria sido pior. – Aiolia entrou, os cachos úmidos pingando um pouco na camiseta azul-escura sem mangas. A calça jeans era a mais antiga, surrada e macia que tinha. Beijou o alto da cabeça da esposa. – Fez bem, filho. – assanhou mais ainda os cabelos de Régulus. – Ele vai ficar só uns três dias de molho. – o garoto abriu um grande sorriso.
- Aqui, mamãe. – entregou as verduras para serem refogadas com o frango. Ficou parado ao lado do fogão, assistindo os movimentos precisos de Marin e tomando coragem. – Eu quero continuar o treinamento quando as aulas voltarem. Quero ser um aspirante.
Aiolia parou a lavagem das folhas e tomates por alguns segundos. Podia ouvir a respiração de Marin mudar. Ela continuou mexendo a panela enquanto refogava o frango até dourar. Previra que ele falaria com ela por esses dias. Aiolia já adiantara que o filho queria competir no próximo ano.
- Você quase não passou no último semestre. – ela começou a argumentar. – Conhece as regras: estudos em primeiro lugar.
- No semestre passado, fiquei chateado por não poder competir e fiz coisas patéticas. Nesse vai ser diferente, eu prometo. – Régulus se aproximou da mãe e Marin mais uma vez constatou a semelhança dele com o pai, especialmente quando decidia ser sedutor como agora. – Não vou negligenciar os estudos. Combinei com Yato e Teneo de termos horas de estudo. Talvez o sr. Shion ou o sr. Camus possam nos ajudar também. – o sorriso dele subiu para os olhos verdes brilhantes – Eu consigo, mãe.
- Marin, eu conversei com Shion. – Aiolia, virou-se para a mesa, ficando de frente para os dois. – Estarei no Santuário no próximo período e ficarei de olho nele. – ela sabia que não conseguiria negar nada a eles. "Isso é covardia!" – Podemos dar um voto de confiança a esse leãozinho. – piscou para a ruiva, que bufou.
- Vocês dois são terríveis! – provou o tempero do curry, corrigindo o sal. Soltou o ar de uma vez, estreitando os olhos para eles. – Tudo bem! – Régulus a abraçou, comemorando. - Mas eu quero o mesmo desempenho das suas irmãs, ouviu?
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Shunrei esquentou bem o caldo, acrescentando mais carne e folhas escuras. A chuva continuava e o som a fez se acalmar. Aumentou o aquecimento da sala.
- Comam enquanto está quente. Fiz bem espesso para tomarem bastante.
- Obrigado pela comida. – os três disseram em uníssono. Estavam com muita fome, pois as tigelas rapidamente precisaram ser reabastecidas.
- E essa mesa? – Dohko misturou metade da tigela de arroz no caldo, sendo imitado por Ryuho, com as bochechas estufadas. Tinha uma toalha na cabeça e usava um roupão azul escuro por cima do moletom e da camiseta folgada.
- Ryuho, a comida não vai desaparecer. – Shunrei observou, sinalizando para ele ir devagar. O garotinho, já vestindo o pijama de flanela com estampas de planetas, engoliu devagar e escolheu uma pequena porção de arroz. – Saori, Eiri e eu fomos ao supermercado e depois a umas lojas de móveis. Era o item mais urgente para nós, mas não sei, talvez fique melhor no jardim. O que acham? Queria escolher os móveis com vocês.
- Precisamos mesmo mobiliar e rápido. Eu gostei. – Shiryu, com uma toalha nos ombros sobre a camiseta e a bermuda pretas, sorriu para ela. – Podemos levar para fora em dias de festa.
Ela terminou de comer e se dedicou a secar os cabelos, enquanto conversavam sobre como seria a organização da casa. Ryuho foi o primeiro a ficar pronto, depois de quatro tigelas de caldo, indo dormir arrastando os pezinhos. Os cabelos curtos de Dohko logo ficaram secos. Ele abriu uma garrafa de vinho para continuarem conversando enquanto Shunrei e Shiryu dividiam esforços, secador e toalhas, nos espessos cabelos pretos.
- Me prometam que não vão mais fazer isso. – ela pediu, suando com o calor e os movimentos repetitivos. – Não quero vocês doentes.
- Faz parte do treinamento, Shunrei. – Dohko disse, gesticulando para ela sentar e tomando seu lugar na secagem. – O que podemos fazer é prender melhor os cabelos dele, mas não podemos não treinar na chuva ou na neve ou no sol. – ela franziu os lábios, pensativa, rodando o copo de vinho.
- Não se preocupe, Shu. – Shiryu penteava e passava a toalha nos fios, retirando a umidade para o secador terminar. - Nós treinamos assim desde crianças. Shun tem um xarope que previne resfriados.
A noite ia adiantada quando guardaram a louça e subiram para os quartos.
- Amanhã não teremos treinamento. Podemos ir ao templo que fica perto daqui. – Dohko convidou antes de entrar. Os dois concordaram. – E ver as lojas de móveis também. – piscou para eles à guisa de boa noite.
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- Boa noite, mamãe. – Yuuto deu um beijo estalado e correu para sua cama. – Yorie, nada de chorar hoje, hein? – a irmãzinha fechou o rosto, mostrando a língua.
- Sem tumulto agora. – June deitou novamente a caçula, subindo a grade. Ela era tão agitada que tiveram que instalar uma que conseguiam destacar e encaixar em qualquer parte da lateral da cama. – Amanhã vamos descer a colina.
- Nós vamos tomar sorvete? – Yorie virou-se de lado. – Eu vou levar a minha boneca! – Yuuto ficou sentado até a mãe deitá-lo também.
- Nós vamos passear na praia? – June sorriu, percebendo o quanto eles estavam carentes dos pais. Beijou a testa do pequeno.
- Pensei em passearmos pelo centro. Na próxima semana, iremos à praia. – desligou a luz. – Precisam dormir para estarem descansados amanhã.
- Conseguiu fazê-los pelo menos deitar? – Shun terminava de limpar a cozinha. Ela o esperou na porta.
- Estão eufóricos. – June sentia a adrenalina do dia dar lugar à quietude do sono. – Sentem nossa falta. – ele suspirou, vindo até ela. – O seu dia foi cheio também? – ela estendeu-lhe a mão.
- Yuki vai sonhar com esse passeio hoje. – Shun disse enquanto caminhavam para o quarto. – Eles estão crescendo rápido, nós precisamos nos adaptar.
- Não podemos ficar levando-os para o Santuário dessa forma. – June trocou de roupa, trançando os longos cabelos e os prendendo num coque. – Mas não sei como faremos. Precisamos dar mais atenção a eles, Shun. Yuki está sobrecarregada cuidando dos irmãos. – Shun abriu a cama, vestindo sua bermuda favorita de algodão branco.
- Lembra quando Yuuto nasceu e Aiolia nos alertou que precisaríamos fazer escolhas? – June se aconchegou a ele, esperando os braços suaves a envolverem. – Chegou o nosso momento de escolher. – ele beijou seu ombro e pescoço. – Vou conversar com Shion e pedir um ajudante ou algum outro médico para revezar comigo, então poderei ficar mais tempo com eles.
- Não me sinto confortável com isso. – Shun entrelaçou os dedos aos dela. – Você queria fazer a sua especialização agora.
- Posso adiar, sem problema. – a voz dele soava tranquila. – Você vai precisar se empenhar bastante para voltar a competir. O seu treinamento ser junto com o dos outros que estão em nível internacional indica que será um período intenso. – June piscou seguidas vezes, tentando encontrar uma alternativa. - Podemos fazer como Aiolia e Marin: revezar os anos até conseguirmos equilibrar. Que tal?
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- Eu vou arrumar as coisas. – Eiri murmurou, fazendo o mínimo de ruído enquanto recolhia as tigelas da mesinha de centro onde os três jantaram o frango empanado crocante com arroz.
Hyoga assentiu, acomodando a cabecinha de Yuna, adormecida em seu peito. Aos poucos, ela se instalara no seu colo e quando os adultos perceberam, ela ressonava. Ele não sabia definir as emoções que enchiam seu coração.
"É quente, suave e vivo." A respiração movia todo o corpinho e ele sentia o coração dela batendo bem próximo ao seu. "Eu também quero que você fique conosco para sempre." Cheirou a cabecinha, aspirando o perfume de talco que ela mesma escolhera. Ele jamais tivera a experiência de cuidar de alguém que fosse tão frágil e que dependesse totalmente dele.
Lembrou-se de Shiryu dizendo que a melhor sensação do mundo era ter Ryuho dormindo em seu peito. Na época, ele listara uma dezena de coisas que acreditava serem mais prazerosas. Agora conseguia entender.
- Yuna está mudando você. – Eiri voltou, puxando a mesinha para ele conseguir levantar. – O seu olhar muda quando está com ela. – ele sorriu brevemente. – Gosto muito da expressão amorosa.
- Vocês duas conseguem mexer comigo e estão me ensinando. – o quarto da filha estava quase sem caixas. Com cuidado, ele segurou o corpinho inerte e inclinou-se para depositá-la na cama, ajeitando a cabecinha e libertando as trancinhas finas. – Pelo jeito, Saori resolveu ficar no Santuário essa noite. – ele comentou quando passaram na porta do quarto onde ela e Kouga dormiam.
- Ela avisou que talvez ficasse lá porque está preocupada com Shunrei e Seiya. – Eiri soltou os cabelos, que caíram em ondas pelas costas da camisola de alcinha. Juntou-se ao marido na cama, abraçando-o pela cintura. – Hoje nós saímos e ela ainda está debilitada.
- Shiryu também está bastante preocupado. – Hyoga pousou a mão sobre a dela. – Precisamos ter paciência. As cirurgias pelas quais ela passou são muito sérias. Cabe a nós apoiá-los no que for preciso.
- Estamos combinando uma noite das garotas. – Eiri bocejou, fechando os olhos. – Vamos precisar do apoio de vocês com as crianças.
- Eiri, o que conseguimos fazer para apressar o processo da Yuna? – ele perguntou baixinho. – Me incomodou muito ela pensar que pode ser descartada a qualquer momento. – eles ouviam a chuva na janela, vendo as gotas contra a luz que vinha de fora.
- Verei a possibilidade de uma videoconferência com a Coréia na próxima semana. – ela moveu a mão para o peito dele, acariciando a camiseta de algodão azul. - Vou esperar a adoção ser concluída e entrarei com uma reclamação contra aquela diretora. Como ela ousou falar aquilo para uma criança?
- Se precisar, iremos pessoalmente. – Eiri assentiu, sentindo os lábios dele roçarem sua testa.
Hyoga só adormeceu ao notar a mudança na respiração da esposa. Sonhou com a mãe vindo conhecer sua família, pegando Yuna no colo e dizendo que estava orgulhosa dele.
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- Vi que você começou a organizar o escritório. – Shiryu abrira o edredom e a observava preparar a última das três injeções diárias com medicamentos. – Vou instalar um moden lá para ter uma conexão rápida. – ela assentiu para o reflexo dele no espelho do banheiro. - Se você quiser, amanhã podemos ficar em casa e mexer um pouco nas caixas. – ela suspirou e fechou os olhos, tentando se concentrar para a mão não tremer.
"O secador... Tenho que ficar mais atento." Shunrei demorou a conseguir espetar a agulha. Em algumas ocasiões, ele aplicava as injeções, mas hoje ela fora para longe.
- Melhor comprar os móveis. Enquanto esperamos a entrega, vamos organizando o que conseguirmos. – ela sentou ao seu lado, entrelaçando sua mão direita com a dele.
- Está cansada? – Shiryu puxou-a para perto. Usou sua voz mais suave. – Desculpe o trabalho extra. – ela se arrepiou ao sentir o beijo ao lado da orelha.
- Tudo bem, eu só me assustei. – ele sentia o corpo dela se ajustando ao seu. O perfume dela era um bálsamo. – Quero conversar. – os dedos macios acariciavam levemente a superfície de sua mão. Shiryu flexionou a outra mão, pousada entre a cintura e o quadril da noiva. – Preciso que você responda as minhas perguntas bobas.
- Você nunca faz perguntas bobas. – a pulsação da ansiedade começou a acelerar a respiração de Shunrei, mesmo com a segurança que sentia com o braço dele ao seu redor. – Nem quando elas são sobre o seu cabelo ou se a sua comida é tão boa quanto a da Moon Cha Young. – o silêncio o fez se espantar. – Não vai me dizer que era isso! – ela riu.
- Na verdade, nem sei se são perguntas. Acho que quero dizer como estou me sentindo. – ela engoliu em seco, mudando de posição para se sentar de frente para o noivo. – Não está sendo fácil ter que rever os meus planos e os meus sonhos todos de uma única vez. Dediquei a minha vida a ser uma boa cirurgiã e agora não poderei mais ser. – respirou fundo. – Sempre quis encontrar um bom pai para os meus filhos e agora que um candidato se apresentou é quase definitivo que não poderei tê-los. – as lágrimas desciam livres por suas bochechas e ela tentava manter a voz firme. – Debilitada como estou é difícil para mim conhecer as suas pessoas. Pensei que não faria diferença, mas está fazendo. – Shiryu segurou a mão rebelde. – Sei que preciso de paciência e de dedicação. – o azul dos olhos estava quase totalmente eclipsado pelas pupilas dilatadas de emoção. Ele podia ver o peito dela movendo-se com a respiração forte. - Só não quero que você pense que o problema é com você. Não é com nenhum de vocês três. Sou eu... Não estou conseguindo...
Shiryu fechou os olhos, dedicando-se a beijar cada parte da delicada mão, falanges, nós, palma e dorso gelados. Até chegar ao pulso.
- Régulus veio falar comigo hoje. – os olhos verdes se abriram para fixar-se nos dela. – Ele me disse que nunca se sentiu tão bem em apenas ficar perto de alguém sem fazer nada. A mente permaneceu serena e concentrada e pôde conversar como se deve, palavras dele. – "Por favor, entenda o qual importante você é." - Régulus tem problemas na escola desde pequeno por não conseguir ficar quieto. – apertou a mão entre as suas, tentando aquecê-la. - Com um único vídeo, você fez meu Mestre voltar a falar comigo, depois de seis anos. Não vou nem falar do efeito da sua presença sobre mim. – ele escolheu seu tom mais seguro. – Eu queria ser capaz de apagar da sua vida qualquer insinuação de que você não é boa o suficiente. – "Se eu pudesse, extirparia Julian Solo da sua memória." - Acredite em mim, nenhuma das pessoas do Santuário está pensando assim. Nós não funcionamos desse jeito. – os olhos verdes refletiam a luz suave das lâmpadas cor de âmbar que escolheram para os quartos. – Sei o quanto você está frustrada com relação à cirurgia. Por isso decidiu vir para o mais longe possível do Hospital. – ergueu a mão para ela parar quando abriu a boca. – E sei o quanto está doendo renunciar a tudo que você conquistou. – franziu os lábios. – Por favor, não desista da medicina. Veja como uma nova etapa na sua carreira e esse período de recuperação como uma espécie de ano sabático.
- Eu ainda estou me sentindo sem rumo. – ela confessou. – Sinto que vai me sufocar.
- Já me senti sem rumo algumas vezes. – ele afirmou, tocando o rosto dela com a ponta dos dedos. – Você me ajudou a encontrar a minha estrada novamente, começando com pequenas atitudes. Não vou deixar você sufocar. Vamos começar com pequenas coisas, como arrumar a casa e o seu escritório. – Shunrei concordou e seu coração diminuiu por intuir o quanto estava sendo doloroso para uma mulher como ela aceitar que organizar a mesa fizesse alguma diferença. – São passos pequenos que podemos fazer juntos.
- Tudo bem. – a tentativa de sorriso não deu certo. – Vamos fazer juntos.
Como ela não parava de chorar, Shiryu segurou seu rosto entre as mãos e beijou os olhos, a testa, o nariz, as faces e os lábios.
"Preciso quebrar a influência nefasta daquele sujeito." Ele decidira insistir até que ela estivesse livre. Sabia que esse tipo de hábito mental não mudava de uma hora para outra. "Sei que o afastamento dele é recente, mas tenho que puxá-la para trilhar um novo caminho."
- Já que estamos conversando, tem uma coisa que não está boa para mim. – ela piscou seguidas vezes, assentindo com a expressão séria. Ele suspirou, brincando com a aliança no dedo dela. – Eu já tive costelas quebradas e pulmão perfurado. Sei quanto demora a recuperação... Vi o que aconteceu na noite em que chegamos... Não quero que você se force a fazer sexo comigo antes do tempo. – Shunrei ficou muito vermelha, mordendo os lábios trêmulos. – Shu, os meus sentimentos não mudaram, ao contrário. O meu amor e a minha admiração por você estão fortalecidos, portanto, não tenha medo. Nós somos bons nisso, mas não só nisso. – sorriu para ela. – Nós nos escolhemos para vivermos juntos, não para tirarmos prazer do outro a qualquer preço.
- Eu não queria demorar. – ela murmurou, engolindo várias vezes para destravar a garganta. – Queria que tudo voltasse ao normal. – ele aumentou o sorriso, um brilho travesso no rosto.
- Vai voltar ao normal quando a gente puder fazer amor a noite toda sem tossir sangue. – ela ficou mais vermelha ainda e o abraçou para evitar seu olhar. – Não estou te reconhecendo! Quem é você e o que fez com a mulher que desfilou nua na minha frente no nosso primeiro encontro? – recebeu um tapa no ombro.
- Estava inerte, mas você a está sacudindo. – ela riu, sentindo os braços fortes ao seu redor. – Você me faz tão bem. – murmurou, beijando a bochecha morena e acomodando-se para dormir. Ele a acompanhou, deitando-se e cobrindo os dois. – Shi, você desejava ser pai? – pronunciou cada palavra detidamente. Via os olhos dele atentos a ela na penumbra. Ficaram ouvindo a chuva no vidro da janela. – Por que você teve Ryuho tão rápido?
- Pelos motivos errados. – a voz dele saiu grave. – Não conseguia fazer Taeko feliz e pensei que ter o filho que ela tanto queria a satisfaria. Eu sempre quis ter uma família e parecia o certo a fazer. Só depois aprendi que um filho não deve ser um remendo e sim uma continuação do relacionamento. – ela o abraçou, encaixando a cabeça em seu ombro. – Claro que eu pensei em um filho seu, uma filha linda e teimosa como você... – deixou as palavras assentarem ao redor da cama, flutuando no quarto. - Quando eu soube que nós tínhamos perdido a bebê, chorei por dias... Ainda penso nela.
- Você nunca me contou. – a voz de Shunrei era um fiapo.
- A minha prioridade era trazer você de volta. – a voz dele estava embargada. – Aiolia e eu lançamos um barquinho branco ao mar por ela. Colocamos flores e eu escrevi uma carta dizendo que nós a amamos e pedindo que, na próxima vida, ela volte como nossa filha para podermos conhecê-la.
Shiryu ouviu os soluços de Shunrei e os seus próprios, seus olhos marejados e seu peito esmagado pela lembrança do barquinho desaparecendo nas ondas. Só Aiolia o vira chorando todas as noites no hotel em Atenas. Sentia o calor reconfortante do corpo dela, conseguindo enfim falar e compartilhar a dor da perda. Na cumplicidade da presença, do carinho e do cuidado eles choraram até as almas estarem um pouco mais leve.
- Na próxima vida, vamos nascer no mesmo país e vamos nos encontrar mais cedo para podermos nos amar mais e por mais tempo. – Shunrei falou quando os soluços amainaram. - Ou eu posso nascer no Japão para ficar com você, ou você pode nascer na China. Vamos ver nossos filhos crescerem e se tornarem boas pessoas.
- É o que eu mais desejo. – ele confessou com a voz suave. – Estar com você todos os dias dessa vida e das próximas, minha chinesinha geniosa. – sentiu os dedos macios secarem suas faces, inaugurando o silêncio que os conduziu ao sono, embalados pela chuva e os votos silenciosos.
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Mudras: do sânscrito, significa gesto das mãos, símbolos capazes de guiar o fluxo de energia para áreas específicas, purificado e equilibrando as emoções e os pensamentos. Funcionam estabelecendo uma conexão direta entre o corpo físico, a mente e o corpo energético. No caso do nosso querido "vocês já sabem quem", a conexão é entre Corpo – Mente – Cosmo. =)
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Olá!
Desculpem a demora nas postagens. Eu estivesse de férias essas semanas e ainda não consegui colocar tudo em dia.
Espero que gostem do episódio de hoje, com a chuvinha constante e vendo um pouquinho da rotina das famílias.
Acham que Shun vai conseguir segurar por mais tempo ser o único médico do Santuário? E Shunrei vai finalmente começar sua jornada para uma nova vida? Meu coração dói quando penso na situação dela e de Shiryu, tendo que recomeçar depois de uma tragédia.
E os aspirantes, como está sendo para vocês os momentos em que os vemos na história?
Contem o que estão achando! Reviews são alimento para escritores de fanfic. ;-)
Beijos e até o próximo episódio!
Jasmin Tuk
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Próximo Episódio:
- Cuidado! – Seiya gritou, mas já era tarde. O carrinho cheio de galhos e folhas que Yato levava para a compostagem bateu numa pedra fora do lugar, virando uma parte do conteúdo em cima de Saori. Ela se debruçara para arrancar uma erva daninha que crescia em meio a um arbusto de hortênsias e só teve tempo de colocar as mãos sobre a cabeça e gritar. – Você está bem? – os dois correram para tirá-la debaixo do entulho. – Garoto, se você a tiver machucado, é melhor sair daqui. Saori!
