EPISÓDIO 7
- Desculpe ter atrapalhado o seu treino, só quis contar. – Shunrei sentou-se numa das cadeiras do 3º. andar do hospital, vigiando se alguém aparecia. Estava tão feliz após a reunião com o diretor, dr. Kaito Abe. Ele a convidara para uma vaga. – Eu aceitei um período de experiência.
- Excelente notícia! – ouviu a voz animada de Shiryu. – Ele não seria muito esperto se deixasse uma profissional como você passar. – ela mordeu o lábio, enrubescendo como fazia quando ele a elogiava. – Já viu Éden? Seiya e Saori devem estar chegando aí.
- Estou indo agora. Depois, vou à loja de móveis para fechar o nosso pedido e ao supermercado.
- Enviarei uma lista. – ele falou mais baixo. – Quero cozinhar para você hoje. – ela soltou uma risadinha. – Vamos comemorar mais depois. Amo você.
Shunrei seguiu pelos corredores, tentando prestar atenção para se familiarizar. Não era grande como o Hospital Graad em Gangseo-gu. No térreo, a emergência e as enfermarias. Havia apenas dois andares de internação com quartos e a UTI. No terceiro andar, ficavam os consultórios e o café para os pacientes e seus acompanhantes. No quarto andar, a diretoria, o refeitório e alguns ambientes para reuniões e palestras.
Passou na ilha de enfermagem para se atualizar do quadro e, com um enfermeiro, ia para a visita quando viu os amigos caminhando rapidamente pelo corredor.
- Queríamos ter vindo antes, mas a irmã de Seiya pediu para ser hoje. – Saori ajeitava o vestido azul-claro rodado com cinto vermelho. Shunrei sabia que há tempos ela queria conhecer a irmã do noivo e nunca tivera a oportunidade. Viu os olhos lilases cintilarem de ansiedade.
- Fiquei mais calmo por você ser a médica dele, Shunrei. – Seiya fez uma pequena reverência. – Disse a Seika que não poderia ser melhor. – ela notou uma ansiedade diferente no tom de voz dele.
Não vira Seiya demonstrar um apego maior ao sobrinho do que aos outros garotos. Shun parecia mais atento a Éden, talvez por ter mais experiência como pai.
"A vida sempre nos ensina e nos recoloca em nosso caminho."
A doutora sorriu para o casal, deixando que entrassem à sua frente.
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- Agora vamos correr em volta do campo! – Régulus bateu palmas, esperando seus alunos terminarem o alongamento. Seus olhos verdes percorrendo os rostinhos curiosos e desordeiros. – Eu dou o ritmo e vocês venham atrás de mim! – ele viu Yato sentado na arquibancada, a perna enfaixada, tentando não rir.
O grupo começou desorganizado, os alunos tropeçando uns nos outros, mas Régulus às vezes corria de costas, chamando a atenção e corrigindo-os, de forma que na terceira volta no campo gramado eles encontraram um bom ritmo e disciplina espacial. O loiro piscou para o amigo, satisfeito. Ele gostava dessas tarefas que o pai costumava lhe dar e os meninos não eram ruins, só nunca tiveram orientações de treinamento.
- Podem descansar um pouco agora! – ele bradou, vendo-os se jogar no gramado, as barrigas subindo e descendo com as respirações ruidosas. – Sentados! – eles prontamente responderam ao comando. – Hoje é só o primeiro dia, não façam corpo mole!
As meninas começaram a amarrar os cabelos mais alto. Yuna e Yuki refizeram as tranças e Arya as ajudou. Os meninos tentaram manter as colunas eretas. Haruto não conseguia tirar a franja dos olhos e Arya, agoniada, pegou uma das presilhas de Yuna e prendeu o cabelo, fazendo-o corar furiosamente. Kouga, Yuuto e Ryuho se apoiaram para se levantarem.
- Não deixe eles descansarem demais, irmão. – Yuzuriha aconselhou, sentando-se ao lado de Yorie, que observava de cara amarrada junto a Yato. Ela acabara de passar no ambulatório de Shun para trocar o curativo na mão. – O que foi que aconteceu, Yorie? – a menininha estava com um bico enorme e os bracinhos cruzados. Não se dignou a responder.
- Ela não pode treinar com os outros. É muito pequena. – Yato disse, enrubescendo levemente ao olhar para a garota. – Como está a mão? – Yuzuriha ergueu e mexeu as pontas dos dedos.
- O dr. Shun disse que em dois dias poderei tirar a faixa. E a perna? – eles viam o grupo fazendo exercícios individuais. Ela sorriu pelo controle que o irmão conseguiu sobre as crianças. – Ele tem jeito até para ensinar. Só não consegue ficar sentado quieto.
- Serei liberado até o final da semana. – Yato respondeu, abrindo a boca e piscando ao ver o sorriso da moça. – Régulus consegue descobrir muito rápido como seduzir... quero dizer... – seu rosto ficou quente quando ela o olhou, uma sobrancelha erguida. Gaguejou um pouco. – Isto é, descobre como fazer as pessoas colaborarem com ele.
A expressão da loira era um mistério. Ela permaneceu em silêncio enquanto os exercícios duraram. Assim que Régulus começou a dividi-los em duplas, ela se levantou para ajudar o irmão. Yato franziu os lábios, pensando que fizera papel de bobo na frente dela, como na semana anterior, quando ficaram com as crianças na sala de TV. No meio do caminho, ela se virou, jogando o rabo de cavalo para o lado.
- Quando estiver recuperado, vamos tomar um sorvete na cidade? – esperou dois segundos antes de piscar para ele e correu para orientar as duplas que começavam a ensaiar movimentos de luta.
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- Seiya! – Seika ergueu os olhos quando a porta abriu e se levantou para abraçar o irmão. Passara a noite numa cadeira ao lado da cama do filho, sem conseguir descansar direito. – Que bom que veio!
Havia mais três pacientes na enfermaria em suas rotinas matinais com os acompanhantes. Miho, que olhava pela janela, virou-se ao ouvir o nome, o sorriso morrendo em seus lábios assim que o viu acompanhado. Ao invés do abraço que costumava lhe dar, aproximou-se devagar e fez uma pequena reverência.
- Seika, Miho, essa é minha noiva, Saori Kido. – Saori estendeu a mão para as duas.
- Há muito tempo queria conhecê-las. Seiya fala muito de vocês. – Seika sorriu para ela, mas Miho foi menos calorosa. – Uma pena que seja numa circunstância como essa.
- Como está Éden? – Seiya perguntou, chegando perto da maca e olhando o garotinho adormecido.
- Ele dormiu até o amanhecer. Começou a se mexer agora a pouco. – Seika pousou a mão na faixa da testa.
Shunrei se aproximou acompanhada pelo enfermeiro.
- Vou examiná-lo. – mediu a temperatura e a pulsação. Murmurava para o garotinho enquanto o descobria e esquentava o estetoscópio para auscultar os pulmões. – Ainda está um pouco febril. – recitou ao enfermeiro os resultados do exame, pedindo que trocasse os curativos enquanto ele ainda dormia. – Ele deve acordar em até uma hora e precisa ser movido o mínimo possível. Podem liberar a dieta dele e vamos ver como o organismo reage.
- À noite, o ferimento na testa começou a sangrar. – Seika informou, observando com atenção a doutora.
Shunrei assentiu, levantando a faixa e vendo que o hematoma ainda estava inflamado. Franziu um pouco a testa. Pediu que o enfermeiro trouxesse o exame de sangue novamente.
- Os machucados de Éden sempre demoraram a fechar? – tanto a mãe quanto Miho negaram. Shunrei viu que os ferimentos da perna também estavam inflamados e seu semblante anuviou. Ela pediu licença para rever os exames do dia anterior.
Os quatro notaram a expressão preocupada. Seiya tomou o lugar de Shunrei ao lado do garotinho. Saori e Miho ficaram lado a lado aos pés da cama. Miho tentava não demonstrar o desconforto que sentiu ao ver a noiva de Seiya toda arrumada, enquanto ela vestia a calça jeans e a blusa simples com que fora ao orfanato no dia anterior. Piscava várias vezes, tentando olhar apenas para Éden e Seika.
A ruiva respirou fundo.
- Shunrei é uma das melhores profissionais que eu conheço. – Saori disse, vendo a apreensão da cunhada. – Tenho certeza de que Éden está em ótimas mãos.
- Shun me mostrou o currículo dela, mas mesmo assim... – Seika suspirou novamente. – Ele nunca ficou desse jeito antes. – Saori mordeu os lábios, notando o cansaço dela. Sabia que era uma situação difícil para conhecer a irmã de Seiya e demorou alguns minutos para entender o motivo da frieza da amiga deles.
- Talvez seja bom se você fosse descansar. – Miho falou, antes que Saori pudesse continuar. – June já deixou o quarto preparado e me deu a chave. Eu fico com ele.
Éden se mexeu um pouquinho, abrindo a boca e piscando os olhos. Pararam para ver se ele despertava, mas apenas moveu as pernas e braços devagar e voltou à imobilidade.
- Eu posso ficar também. – Seiya falou com firmeza. - Marin me dispensou para estar com vocês o tempo que for preciso. – Seika franziu os lábios. – Pode ficar tranquila, ele é tão forte quanto você. – ofereceu um meio sorriso à cara de dúvida da irmã. – Está fazendo muito sucesso com as outras crianças.
- Consegui um quarto. – Shunrei anunciou, voltando com dois enfermeiros e uma maca. – Vamos mudar a medicação e ver como ele reage.
O quarto tinha maior privacidade e um sofá-cama, que acomodaria melhor o acompanhante. Assim que o colocaram na cama, Éden abriu os olhos e gemeu baixinho. Seika imediatamente segurou a mãozinha quente e se colocou no campo de visão do filho.
- Sou eu, meu garotinho. – a voz dela falhava. – Como você está se sentindo?
- Quente. – ele murmurou, os olhinhos verde-água embaçados. – Água, mamãe. - Seika olhou para Shunrei, que assentiu. Apontou a jarra e orientou para oferecer com o canudo.
- Olá, Éden. É a tia Shunrei. – sorriu para ele, o tom suave e compassado. – Fica tranquilo, viu? Nós estamos no hospital. Você lembra do que aconteceu? De como você salvou o Souma? – ele tentou balançar a cabeça e fez uma careta. – Você consegue falar? Pode responder com a mão também, viu?
- Sim senhora, tia. – ele falou baixinho. – Ele... – engoliu, fechando os olhinhos e respirando fundo. Seika apertou a mãozinha. – Ele... o meu irmão está bem?... O Souma.
- Está, sim! Ontem à noite eu fui vê-lo. Ele quer que você fique bom logo. – a doutora viu os olhos ficando mais focados e as pupilas dando espaço às íris claras. – Você está com fome? O que gosta de comer pela manhã?
- Panquecas com mel e manteiga. – o sorriso dela aumentou, sabendo que Esmeralda era ótima em panquecas. – E salada de frutas.
- Vou te confessar, eu ainda não sei qual o cardápio daqui. Que tal se a gente fizer assim: vou pedir para trazerem o que tiver agora e mais tarde providencio as melhores panquecas para você? – ele concordou. – Agora me conta, onde está doendo?
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- O que eu já disse sobre atacar antes do tempo certo? – Shaina ralhou, parando Selinsa e Eurídice. – Vou mostrar novamente. – sinalizou para Pavlin tomar posição à frente dela. As duas se cumprimentaram e assumiram suas posturas de combate.
Era o dia das aspirantes a amazonas no anfiteatro e Shaina marcara o treino para antes do amanhecer, de modo que elas estavam ali havia horas. O suor grudava as roupas de ginástica nos corpos. As respirações de Selinsa e Eurídice condensavam no ar frio do início da manhã e elas aproveitaram para tomar água e recuperar o fôlego.
Shaina e Pavlin iniciaram o reconhecimento da adversária, circulando lentamente, jamais abandonando as posturas de defesa. Shaina movimentava as mãos à frente do tronco, os cotovelos altos. Pavlin movia-se muito ereta, os braços junto ao tronco e as mãos em riste paralelas ao chão. Seus longos cabelos loiros balançavam com a brisa fria e os olhos verdes-claros quase não piscavam. Ambas pareciam que jamais atacariam, cautelosas.
Então, os olhos de Shaina brilharam e ela desferiu seu golpe, elevando a mão com os dedos como dentes de uma serpente. Pavlin desviou e rodou para o lado dela, usando as unhas das mãos como lâminas em direção ao braço da oponente. Shaina saiu de perto e voltou com um chute, novamente desviado por Pavlin, que girava o corpo com muita agilidade. Deu um soco mirando o queixo de Shaina, que jogou o corpo para trás e tentou um chute que a loira defendeu com as duas mãos.
Tudo acontecia em alta velocidade. Uma vez as unhas de Pavlin feriram o braço de Shaina. A Amazona de Ofiuco conseguiu cravar os dedos no ombro da aspirante, fazendo-a ajoelhar de dor. Seu gancho de direita acertou Shaina e a deixou zonza. Quando parecia que iria cair, se recuperou e prendeu as canelas de Pavlin, rolando e fazendo a garota tombar no chão do tatami.
- Isso é atacar no momento adequado. – os cabelos de Shaina estavam úmidos de suor quando se levantou e estendeu a mão para Pavlin. – Se não estiverem cem por cento focadas, jamais perceberão. Isso serve para qualquer momento da vida e mais ainda para os decisivos. – sua voz era fria e rigorosa. – Selinsa, Eurídice tirou vantagem dos segundos em que você hesitou em se mover. – a garota corou, mas sustentou o olhar reprovador. – Eurídice, você pensou que Selinsa era uma presa fácil e acabou errando o golpe. Jamais façam isso! Tenham respeito por todos os adversários, no tatami ou fora dele. – os lábios da loira se contraíram e ela acenou com a cabeça. - E você, Pavlin, peça a Marin para lhe ensinar a cuidar melhor de suas pernas. Sua Mestra tem golpes fortes com os pés e as coxas e você precisa melhorar nesses quesitos. Eu descobri seu ponto fraco desde o início.
A aspirante assentiu.
- A senhorita já havia me alertado. Vou me esforçar mais.
- Agora serão as três. – apontou para as mais novas. – Quero ver como se saem com mais de um oponente.
Enquanto elas se enfrentavam, os olhos de Shaina foram atraídos pela dupla que aparecia correndo do outro lado do anfiteatro. Seus lábios tremeram num leve sorriso, que ela logo disfarçou, ao vê-los ziguezagueando pelas arquibancadas, tomando um longo caminho até chegar ao outro tatami.
Revirou os olhos quando os dois despiram as uwagis sem deixar de se encarar.
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- Ataque! Ataque! Vamos, garoto! – a voz de Dohko o fazia socar e rodopiar, tentando acertar algum golpe. – Use todo o seu corpo! Não me envergonhe na frente das garotas. – havia um tom divertido e Shiryu franziu levemente a testa, desviando o olhar um instante para o outro tatami. Levou um soco no estômago. – Você só pode estar brincando!
Os dois se moviam tão rápido que chamaram a atenção das atletas.
- O senhor sabe que eu vou cozinhar hoje, não posso machucar as mãos. - Shiryu acertou o cotovelo nas costas do Mestre, ganhando uma pequena vantagem e tentando desequilibrá-lo.
- Mais uma razão para você levar o treinamento a sério. - Dohko antecipou a rasteira e pulou, pretendendo acertar um chute no rosto do discípulo, colidindo canela com antebraço. – Ou a dra. Nishi terá mais um paciente no hospital.
As aspirantes começaram a lutar com mais afinco, a energia dos dois grupos ficando bastante semelhante. Shaina apenas observava os lutadores nos dois tatamis, os braços cruzados.
- O senhor está tentando se exibir, Mestre? - Shiryu ajoelhou-se e passou por baixo do oponente, usando os dois pés para atingir as costas e atirá-lo longe. – Parece que quem está desatento hoje é o senhor.
- Jamais subestime o seu oponente, discípulo! - Dohko se segurou nas cordas do tatami e se recuperou em tempo de evitar o soco. Girou no próprio eixo e empurrou Shiryu para as cordas, desestabilizando seu centro gravitacional.
- Me lembro bem disso. – Shiryu falou entredentes, rolando para se afastar do ataque seguinte, ficando de pé de um salto. – Que tal? – segurou Dohko pela cintura e tentou atirá-lo no chão.
- Vai ter que se esforçar mais! – o Mestre ofegou pelo aperto, atirando-se para trás para cair em cima de Shiryu. – Precisa recuperar a vantagem agora. – seu cotovelo encontrou a lateral do tronco de seu discípulo, tirando o restante de ar dos pulmões já vazios pela queda.
Shiryu passou os braços pelas axilas de Dohko e o prendeu forte. Tentou algumas vezes e por fim conseguiu rolar os dois corpos até parar por cima. Eles ficaram imóveis um segundo.
- Desculpe por ter estragado seus planos, Mestre. – Shiryu sussurrou, conseguindo ver as mulheres no tatami ao lado, as três garotas empenhadas no confronto mútuo e feroz. – Estamos sendo observados. – Dohko riu, usando as pernas para inverter a posição e se desvencilhar do aperto, impulsionando o corpo para frente com força. Pegou Shiryu de surpresa ao se colocar em suas costas e imobilizá-lo, sustentando as tentativas do discípulo de se soltar.
- Ainda tenho um ou dois truques na manga. – Dohko disse, agora sério.
- Que manga, Mestre? – Shiryu sentiu o tapa do lado da cabeça.
- Vamos de novo! – o Mestre o soltou. - Se hoje você vai cozinhar, precisamos treinar com o dobro de vontade na metade do tempo, ou vamos jantar só amanhã.
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- Você avalia que ele corre perigo ainda? – Seika perguntou quando as quatro se sentaram à mesa da cafeteria do hospital. – Ele está febril e os ferimentos ainda inflamados. - estava pálida e com um péssimo humor pela noite mal dormida e a preocupação que não diminuíra.
Shunrei olhou para ela, detectando os sinais de estresse no tom da voz e nas mãos levemente trêmulas. Sem retribuir o olhar raivoso, bebeu um gole do chá quente antes de responder, sua visão periférica apenas registrando as expressões confusas e intrigadas de Miho e Saori.
- A medicação que eu receitei ontem não teve uma boa resposta do organismo de Éden. – a neurologista tinha bastante experiência com parentes no estado dela. Falava com tranquilidade e clareza. - Embora tenham conseguido que o quadro não piorasse. Esses que estamos administrando agora são mais novos e tenho certeza de que serão mais efetivos. – os lábios de Seika desapareceram de tão comprimidos.
- Por que não os utilizou ontem, então? – a voz dela saiu mais alta e estridente do que o normal e ela mesma se assustou. Baixou o volume. - Ele já estaria melhor agora!
- Seika, por favor... – Miho disse num tom de leve repreensão, pousando o copo de refresco de morango na mesa e tentando segurar o braço da amiga. – O que você está fazendo?
- Há uma gama de opções de medicamentos para os médicos escolherem, Seika. – Shunrei respondeu com calma. – Os medicamentos de ontem foram os que encontrei no estoque do hospital. São excelentes. A questão é que cada organismo reage de uma maneira. – apontou a amiga, sentada à sua direita na mesa redonda. - Ontem à noite, pedi à Saori para trazer de Tóquio os que vamos usar a partir de agora. Eles chegaram apenas hoje de madrugada. – Seika abriu e fechou a boca, o rosto ruborizando ao olhar de uma para outra.
- Foi ótimo termos encontrado tão rapidamente. – Saori se apressou a dizer. – Meu mordomo enviou um dos carros na mesma hora. Trouxemos o suficiente para vários dias, embora eu tenha certeza de que Éden não ficará tanto tempo aqui. – seus olhos violeta sorriram, querendo transmitir confiança a Seika. Ela engoliu em seco e Saori temeu que fosse desmoronar.
- Me desculpe. – murmurou, respirando fundo. – É a primeira vez que meu filho passa por algo assim... – a voz da ruiva falhou.
- Está tudo bem. – Saori a observava com o coração dolorido. – Nós vamos fazer o possível para Éden se recuperar o quanto antes. – olhou para as outras duas, que assentiram.
- Você precisa descansar, Seika. – Miho continuou insistindo. Pegou a chave da bolsa e deslizou para ela. – June deixou a chave. Não tem ninguém lá na casa deles agora, você vai poder tomar um banho e dormir um pouco.
- Podem ir as duas. – Saori falou, recebendo um olhar enviesado de Miho. Ergueu levemente a sobrancelha e tentou não demonstrar que percebera. – O meu motorista pode levá-las quando quiserem.
Seika abaixou a cabeça e elas viram as lágrimas caindo nas mãos. Sua sensação era de tristeza e frustração pelo acidente. A culpa corroía sua garganta e amargava seu estômago. Shunrei e Saori olharam para Miho. A morena não estava muito melhor. Conhecia Éden desde o nascimento e o tinha como filho. Seu rosto também estava riscado de lágrimas, mas ela respirou bem fundo, soltando o ar pela boca. Sua amiga precisava dela.
- Éden é muito forte. – a voz de Miho saiu um pouco trêmula. Pigarreou e recomeçou. – Ele tem pais fortes e valentes e muita gente que está fazendo o possível para ele ficar bom o quanto antes. Logo estará fora desse hospital, pode acreditar. – segurou o braço de Seika. – O mais importante, Éden sabe que você o ama. – essa frase teve o efeito de fazê-la chorar mais.
As três se entreolharam.
- Seika, eu conheço Éden muito pouco. – Saori falou, tentando ser ouvida entre um soluço e outro. – Me pareceu um menino muito inteligente e observador. Kouga disse que ele cuida dos garotos mais novos. – a menção de seu filho com Seiya fez Miho arregalar os olhos, mas Seika levantou a cabeça. – Principalmente o irmão caçula. Outro dia, ele socorreu Souma e Yuuto, que tiveram a brilhante idéia de pular do alto da escada do Santuário. – um sorriso trêmulo passou rápido pelo rosto agora muito vermelho. – Éden realmente age como um irmão mais velho.
- Ryuho gosta muito dele. – Shunrei comentou. – Nós somos vizinhos e Ryuho passa muito tempo com Éden e Souma. Ouvi ele contando a Shiryu que Éden nem sempre entra nas brincadeiras, mas que as brincadeiras com Éden são mais legais. Mais tarde, Shiryu e Ryuho devem vir visitá-lo. E eu vou acompanhá-lo de muito perto. – um sorriso tímido apareceu em meio às lágrimas.
- Viu? – Miho arrematou a conversa. – Éden conquista todo mundo que o conhece. Sei que está nervosa e chocada com o que aconteceu, mas ele precisa da mãe ao lado, uma mãe sem ter o humor afetado pelo cansaço. – batucou na chave na mesa.
Seika suspirou e fez um aceno leve com a cabeça enquanto bebia o chá já morno.
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- Não pense que eu não vi isso! – Marin exclamou, os olhos castanho-claros faiscando do ponto mais distante no campo gramado. – Conserte essa postura, Teneo! Treine com mais seriedade! Aiolia deixou vocês mal-acostumados.
O garoto, cansado das várias horas de treinamento, começara a relaxar na execução dos exercícios individuais, sua atenção na disputa entre Kiki e Orfeu.
- Desculpe, sra. Marin. – ele murmurou, torcendo o nariz ao voltar à posição de equilibrar as duas balanças cheias de pesos enquanto caminhava sobre uma corda suspensa.
- Foi uma ótima ideia do Grande-Mestre trocar os instrutores hoje. – ela se postou no meio dos três.
Orfeu e Kiki formavam uma dupla inusitada. O indiano era mais novo e menor do que o grego, o que não fazia absolutamente nenhuma diferença. Os dois eram observadores e atacavam com uma precisão assustadora. Inicialmente, Marin colocara os dois mais novos para lutar e ela faria o treino com Orfeu, contudo trocara a tática ao ver Kiki derrubar Teneo várias vezes.
- O único páreo para ele é Régulus. – Teneo se justificara, sendo imediatamente presenteado com os exercícios para desenvolver equilíbrio e força nos músculos das coxas e da coluna.
Kiki emulava diversas posturas de seu mestre, Mu, acrescentando criações próprias, como fingir levar o tronco para um lado e conseguir mudar a trajetória tão rapidamente que desnorteava o adversário. Marin já o vira fazer isso algumas vezes com Orfeu e o garoto mais velho suava para neutralizar o golpe.
Não que a vida de Kiki estivesse fácil com Orfeu. O rapaz contra-atacava o tempo todo, com mais assertividade. Sua técnica, herdada de seu mestre, Camus, conseguia bloquear as investidas e devolvê-las, com uma força maior do que a inicial. Marin via que os dois eram equivalentes.
- Pode descansar um pouco, Teneo. – ela percebeu que o extenuava além do limite. – Vocês dois, aqui. Bebam água ou os mestres de vocês vão reclamar comigo depois.
Os três tombaram na grama com as garrafas ao lado.
- Bem que Seiya nos avisou que a senhora é rigorosa. – o comentário de Kiki fez os outros dois olharem como se ele tivesse duas cabeças. – Meus rins estão me matando! – ela ergueu uma sobrancelha, parecendo que ia repreendê-lo severamente.
- Você vai gastar os seus 10 minutos conversando fiado? – ela cruzou os braços diante da expressão de espanto. - Devo entender que não precisam desse tempo todo para recuperar o fôlego?
Ela se virou ao ouvir o barulho de passos e viu o grupo sair da trilha na outra extremidade do campo, passando por eles. Estreitou os olhos, as bochechas subitamente rosas, quando os olhos verdes do marido brilharam e piscaram para ela. Agradeceu por seus alunos não terem visto sua reação. Mordeu os lábios, disfarçando o sorriso involuntário.
"Ele não perde por esperar!" Acompanhou o grupo se alojar ao alcance de seus olhos e ouvidos.
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- Milo e Aiolia, aqui desse lado. – Camus instruiu, parando o grupo na metade do gramado que dividiriam com a equipe de Marin. – Hyoga e June, perto da árvore. Dessa vez, não delimitarei tempo. Só falarei ao final. – os quatro fizeram reverências ao Mestre. – Comecem.
Ele cumprimentou Marin com um aceno. Um dos pedidos de Shion fora que os aspirantes presenciassem alguns dos treinos dos Cavaleiros e Amazonas.
As lutas dos dois pares chamaram a atenção pela postura elegante e altiva dos quatro e pela ferocidade com que desferiam seus golpes. Mesmo Hyoga, que gostava de analisar bem o oponente, sua principal característica sendo poucos e certeiros golpes, não conseguia ficar parado no mesmo lugar. June não permitia, investindo contra ele e o forçando a investir de volta. Ao contrário das expectativas, nenhum deles demonstrava o menor cansaço após vários minutos de quedas e retomadas. O rosto de Hyoga apresentava uma leve coloração rosa e June mantinha a respiração controlada.
Aiolia e Milo, impulsivos e irônicos na mesma medida, pareciam ter molas nos pés e nos punhos, os impedindo de manter os membros quietos mesmo quando se distanciavam um do outro. E as línguas soltando gracinhas um para o outro, embora Milo fosse bem melhor que Aiolia nesse quesito. Provocou tanto o Leão até quase ser mordido por ele. Já Aiolia enervou Milo não permitindo que ele o acertasse em nenhum ponto vital, rindo a cada tentativa frustrada.
Camus conhecia muito bem as técnicas dos quatro e fez sinal para Marin se aproximar. Olhou para as câmeras filmando as duas equipes.
- Difícil com elas? – os dois pararam de costas um para o outro.
- Nem lembro a maior parte do tempo. – ela comentou com sinceridade. – Será que eles virão todos os dias?
- Provavelmente. – a voz dele parecia divertida. – Farão pequenas peças para divulgação. Também devem usar os vídeos para decidir qual estratégia de marketing é melhor para cada lutador.
- Aiolia e Milo com certeza vão participar de programas de comédia. – Marin achava difícil não revirar os olhos com as provocações e piadinhas sobre felinos felpudos e rabos de insetos.
Camus soltou uma risada irônica.
- Está na hora de colocar os seus aspirantes novamente em foco. – os garotos se levantaram, interessados nas lutas. - Hoje enviaram algumas vinhetas com os treinos de ontem para escolhermos as propagandas que irão ao ar no próximo mês. Os três fizeram muito sucesso para atrair mais alunos.
- Precisamos aumentar nossa equipe de instrutores, Camus. – ele assentiu, vendo June cair e rolar para longe, se erguendo de um salto.
- Depois da cerimônia, ao menos Milo, Shaka e Mu poderão ter turmas só deles. – Marin sinalizou para Teneo e Kiki atacarem Orfeu por dois minutos. – E também retornaremos aos treinos para os campeonatos. No próximo ano, nós competiremos. – ele apontou para si mesmo e para ela.
- Aiolia comentou. Ele ouviu rumores de outras equipes se estruturando nos mesmos moldes que nós. - ela ouviu o rugido do marido e novamente disfarçou um sorriso. - Será um ano duro.
- E ainda temos que ajudá-los com os problemas e ajustes das famílias deles. – o tom de Camus tinha pouco de instrutor. Parecia um pai conversando com a amiga sobre os filhos. Marin o acolheu.
- Eles cresceram tão rápido, não é? – falou mais baixo, com um toque de carinho. – Quem diria que estaríamos vendo as famílias e os filhos deles? Seiya, Shun, Ikki e June com Éden no hospital, Hyoga lidando com a família recém-formada, Shiryu tentando reerguer a vida.
- Você às voltas com as travessuras da sua, como Aiolia diz, alcatéia. - outra risada irônica dele. Milo acabava de acertar um golpe em Aiolia e levou um soco no estômago. Marin gritou com os três, mudando os atacantes para Orfeu e Teneo. – Uma casa com dois cavaleiros e três amazonas.
- Régulus ainda não. – ela suspirou, sabendo a opinião de Camus. – Se eu o deixar mergulhar aqui agora não conseguirei mais domá-lo.
As câmeras vieram para perto e os dois foram cuidar de seus grupos, as instruções e exercícios durando até o almoço.
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- Como você está, irmão? – os olhos cor de mel de Souma estavam enormes enquanto escrutinavam a figura enfaixada e engessada. Ele fora acomodado aos pés da cama, de modo que pudesse ver Éden comendo devagar as panquecas que Esmeralda cortava miudinhas e oferecia a ele. – Está doendo? – o irmão mais velho balançou a cabeça.
- Estou um pouco tonto, mas não dói nada. – terminou de mastigar e engoliu aos pouquinhos. – E você, se machucou? – Souma negou veementemente, abrindo um sorriso cheio de pesar.
- Você tem que ficar bom logo! – exclamou com a nota de descontração que irritava e alegrava o irmão em igual medida.
A mesma varredura visual Ikki fazia, de pé do outro lado do filho. Ele não dormira nem um minuto e falara pouco, limitando-se a responder monossílabos quando lhe dirigiam a palavra. Ao entrar no quarto e encontrar Seiya, seu semblante suavizara um pouco e ele se esforçava para sair de dentro da caverna onde se auto-exilara. Esmeralda o ensinara a manter a entrada da caverna aberta, por mais que sua tendência fosse selá-la completamente. O alívio que sentira ao ver o garotinho acordado fez seu corpo todo relaxar.
- Está difícil engolir? – perguntou ao ver a careta de incômodo. – Quer um pouco de água? - Éden assentiu e Esmeralda o ajudou a beber o chá que a enfermeira trouxera. Os olhos verde-água encontraram os azuis do pai e estremeceram. – O que foi, filho?
- Desculpe, papai. – o garotinho falou tão baixo que Ikki só entendeu por leitura labial. – Eu não queria causar essa confusão. – o coração do adulto diminuiu e parou. – Não quero dar trabalho.
Ikki sentia a dor querendo sair, barrada pela máscara de invencibilidade que construíra por tantos anos. Procurou Esmeralda, cujos olhos brilhavam úmidos para os dois.
- Não, Éden. – não permitiria que o garotinho cultivasse esse tipo de pensamento. - Você não fez nada errado. Você salvou o Souma e me deixou muito orgulhoso e preocupado. – o filho abriu a boca, ousando buscar confirmação das palavras que pensava ter ouvido no rosto do pai. Ikki sorriu. – Orgulhoso da sua coragem e lealdade para com seu irmão. Preocupado por ter um filho tão impulsivo quanto eu mesmo.
O rostinho se iluminou. Olhou feliz para o pai e para Esmeralda, que abrira o pote com a salada de fruta que ele gostava.
- Nós é que temos que pedir desculpas a você, Éden. – ela ofereceu uma pequena porção a ele. – A vocês dois. – incluiu Souma com o olhar. – Nós nos descuidamos e quase aconteceu uma tragédia. Estou aliviada que você está se recuperando. A nossa casa não é a mesma sem você lá. – ela limpou a boca dele com um guardanapo. - Quero que você saia logo daqui.
O coração de Éden era aquecido pelo carinho das vozes e dos olhares. Ele sentia que algo frio trincava dentro de seu peito.
- Viu, garoto? Eu te falei que não precisava ter medo de levar bronca. – Seiya brincou, a mão no ombro de Souma. Notou o sobrinho recusar a salada com dois terços intactos e metade das panquecas com mel. – Quem sabe mais tarde você consiga levantar e dar uma volta com o tio?
- Você não precisa ficar, Seiya. – Ikki afirmou. – Eu vou ficar com ele.
- Então ficamos os dois. – Seiya piscou para o amigo. – Será bom colocarmos a conversa em dia. Ultimamente você e Shiryu têm andado de segredinhos. – Ikki revirou os olhos.
- E você está aproveitando para fazer mais bobagens, não é, Pangaré Alado? – os garotos seguraram o riso e Esmeralda escondeu o rosto procurando mais potes de comida na sacola que trouxera. Seiya riu também.
- Sabem, meninos, o pai de vocês adorava colocar apelido nos outros, mas fica todo chamuscado quando o chamamos de Franguinho Assado. – o moreno não se abalou com a expressão de poucos amigos. – Ou quando a gente sugere para ele abrir uma franquia de frango frito. – Ikki se levantou, sinalizando para ele parar. – Precisam ver o que acontece se algum de nós disser perto dele 'peito de frango é a parte mais seca'.
Os reflexos de Seiya o salvaram de ser apanhado pelo borrão que era a mão de Ikki. De repente os dois estavam correndo pelo quarto, com Seiya rindo e Ikki trovejando para ele parar e aguentar as consequências. Os meninos olhavam boquiabertos e Esmeralda balançava a cabeça e ria, pedindo para eles se acalmarem.
- Devo avisar que o isolamento acústico não é à prova de crianças crescidas. – a voz de Shunrei soou da porta.
As quatro mulheres estavam de volta.
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- Podemos sentar com vocês? – Dohko não esperou resposta para alojar-se em frente à travessa de ensopado. – Estamos com muita fome.
Shiryu foi menos informal, cumprimentando-os antes de acomodar-se ao lado de Shun.
- Notícias do hospital? – perguntou, escolhendo pedaços de polvo e tofu para acrescentar aos legumes cozidos já servidos na tigela.
- Liguei para lá agora a pouco. Éden acordou. – Shun informou. - Ainda está com febre, mas conseguiu comer um pouco e agora está com a família. – Shiryu franziu a testa para o tom pouco animado de Shun com a última parte da frase. – Espero que Ikki e Seika consigam se entender. – suspirou, mastigando um pedaço de cenoura. – Shunrei conseguiu um quarto para ele.
- Ela deve ter dito que a paz dos outros pacientes estaria em perigo se ele continuasse na enfermaria. – Dohko comentou, comendo palitos de pepino em conserva. – Filho de Ikki e Seika, sobrinho de Seiya, Shun e June. Esmeralda e Saori devem estar lá também. – ele assobiou, fazendo até Mu rir.
- Espero que esse acidente ensine algumas lições a eles. – Shion observou os três do outro lado da mesa. – Há questões para as quais a vida é a única Mestra.
- A médica responsável é a sua noiva, Shiryu? – Mu o olhava com curiosidade. – Ela já está recuperada?
- Agora ela deve se recuperar mais rápido. – o moreno respondeu, feliz. - O diretor chamou-a para trabalhar lá. Hoje à tarde, vou buscá-la e aproveito para visitar Éden.
- As feridas da alma são mais difíceis de curar. – Shaka disse, escolhendo pequenas porções de legumes para comer. Sua dieta era bem restrita e os outros lutadores ficavam intrigados de onde ele tirava tanta energia. – Quando conversei com ela, tive a impressão de alguém que seguia seu caminho mesmo com os pés e o coração sangrando. – Shiryu o encarou sem saber o que dizer sobre aquela declaração.
- Se tem algo que a torna única é sua vontade inabalável. – a diversão deu lugar à gravidade na voz de Dohko. – Tenho certeza de que ela caminharia sangrando por todos os poros se disso dependesse a vida de quem ela ama. Mas ela jamais precisará fazer algo assim porque tem nós dois. – os olhos castanhos brilharam determinados para Shaka.
- As damas do Santuário carregam a mesma tenacidade, mostrando-a de acordo com cada personalidade. – Shaka falava com tranquilidade. – Por mais que os cavaleiros queiram protegê-las, há batalhas que elas precisam enfrentar sozinhas. Isso as torna mais fortes do que aço temperado. – Shiryu assentiu, reconhecendo o elogio.
- Shun nos contou que ela é uma excelente profissional. – Mu retomou a conversa. – Espero que esteja logo em sua plena capacidade. Nós bem que precisávamos de mais um médico. – olhou para Shion e Shun.
Houve um burburinho quando uma das câmeras entrou no refeitório. Mestres e discípulos tinham recebido instruções de como lidar com elas. Era como se fizessem parte de um reality show.
- Nas próximas semanas, a nossa visibilidade vai aumentar. – Shion comentou. – Precisamos estar preparados para receber mais pedidos de inscrição e convites para participar de eventos. Será um período intenso.
- E temos o treinamento para os campeonatos que começarão no próximo semestre. – Shiryu acrescentou. – E as nossas famílias.
- Teremos que exercitar a organização e a paciência – os olhos dourados de Shion pareciam analisar a alma que o encarava no fundo dos olhos verdes. – Se formos inteligentes e trabalharmos juntos, conseguiremos manter tudo funcionando bem, inclusive nós mesmos. Quero que vocês dêem o melhor de si e não tolero sacrifícios inúteis.
- Nós recebemos alguns pedidos especiais de adesão. – Dohko confidenciou, a animação novamente na voz. – O patrocínio da Fundação já é conhecido em alguns círculos de lutadores. Por isso, nos próximos meses nossa equipe profissional poderá crescer mais.
Dohko e Shion começaram a contar sobre alguns dos candidatos. Ao final da refeição, Shion pediu para falar com Shiryu em sua sala.
- Alguns dos troféus são novos para você. – o Grande-Mestre comentou, sentando-se na poltrona atrás da escrivaninha.
Shiryu confirmou, observando os vários livros da estante e como o escritório mudara desde que entrara ali pela última vez, há seis anos. Ele ainda ficara em Kamakura algum tempo após a briga com Dohko, mas se atirara numa jornada de autodestruição que estava finalmente encerrada.
- Espero trazer alguns para colocar ali, Mestre Shion. – apontou para algumas prateleiras com espaços vazios.
- Você mudou, Dragão. – a sombra de um sorriso passou pelos lábios de Shion. – A vida realmente é a principal mestra que temos. Que bom que você conseguiu aprender. – Shiryu teve novamente a impressão que tinha sua alma exposta. – Gostaria de falar com você sobre dois assuntos. O primeiro tem a ver com a dra. Nishi. – o discípulo ergueu as sobrancelhas. - Shun veio falar comigo e Mu estava certo, precisamos aumentar nossa equipe médica. Não esperava que o diretor fizesse o pedido antes de nós, ainda assim quero conversar com ela. Gostaria de saber como seria para você se ela viesse trabalhar aqui. – Shiryu pensou um momento antes de responder. Sabia que Shion não perguntaria sem um bom motivo.
- Ela não atrapalharia os treinos. Nós não nos encontraríamos tanto como possa parecer. Shun e eu passamos dias sem nos vermos. – enquanto as palavras saíam da sua boca, ele percebia que a questão não era essa. Ficou em silêncio, pensando como Shion sabia do que ele sentia em seu íntimo e não revelara nem ao seu Mestre. – Eu ficaria mais tranquilo se ela estivesse em segurança aqui. Ainda não sabemos como aconteceu o acidente na Grécia e se Shunrei estiver no Santuário nada poderá atingi-la. – foi o máximo que ousou revelar. Para seu alívio, o Grande-Mestre entendeu.
- Será bom tê-la aqui. Farei o convite hoje mesmo. – a expressão de Shion lhe transmitia segurança e inquietação. Desde criança, Shiryu achava que ele tinha uma aura de poder e infalibilidade. - Pode trazê-la à noite? – o Dragão assentiu, incapaz de expressar a alegria com a notícia. Seu coração acelerara com a simples sugestão de colocar mais um ladrilho no novo caminho da noiva. – O outro assunto é que você foi um dos escolhidos pela Fundação para comparecer ao evento que celebrará nossa parceria. – o queixo dele pesou, fazendo Shion esboçar um sorriso. – Não é o fim do mundo. Provavelmente tem a ver com o seu histórico, ou com a sua tatuagem. O fato é que você precisará comparecer ao primeiro evento, que será a abertura da temporada.
O suspiro foi tão espontâneo que Shiryu nem reparou ter chamado a atenção de Shion, que olhava para a tela do computador.
- E o que precisarei fazer nessas ocasiões, Mestre Shion? – o homem lhe entregou um papel com as datas, os horários e os endereços de vários compromissos durante os próximos três meses.
- Serão eventos para apresentar as equipes participantes da Federação e terão a participação de convidados seletos. Não se preocupe, em cada um haverá outros cavaleiros e amazonas. Apenas eu estarei em todos, como representante do Santuário. – Shion achou divertida a cara de alívio do discípulo. – Especificamente nesses três, com ampla divulgação na mídia e entrada restrita, poderão levar suas parceiras ou parceiros. Sei que você tem consciência do que são essas ocasiões para nós. – Shiryu confirmou. - Quero reforçar, com você em particular, que a sua presença será vista como o retorno do bi-campeão mundial, após um período dedicado à família. Um atleta de raro talento, sem dúvida. Em algum momento, trechos do seu passado poderão vir à tona na imprensa.
O rosto do Dragão se fechou à medida que se lembrava do trago amargo da fama.
- Não tenho nada do que me envergonhar, Mestre. – apressou-se a dizer.
- Sei que não. E sei também que Shunrei tem experiência em lidar com a imprensa. – a menção dela fez seu cérebro dar uma volta. – O meu alerta é para os dois não serem pegos de surpresa. – os olhos verdes se arregalaram ao finalmente compreender o motivo da conversa. - Há momentos em que a proteção física surte pouco efeito e é preciso exercitar o entendimento do que realmente importa na nossa jornada. Entende, Shiryu? Vocês vão precisar estar em harmonia com o que se passa no centro de vocês, para além de carreiras ou desejos momentâneos de sucesso. – os olhos dourados de Shion capturaram os seus. – Estou me colocando inteiramente à disposição de vocês, especialmente de Shunrei. Você tem maior familiaridade com as técnicas para silenciar emoções e pensamentos indesejáveis. – Shiryu engoliu em seco.
- Sim, Grande-Mestre. – fez uma reverência. – Obrigado.
- Pode ir agora. – Shion despediu-se com um aceno. - Dohko deve estar impaciente para saber o que conversamos. – observou o jovem abrir a porta sem ruído. – Ah, Shiryu! Estou muito orgulhoso do homem que você está moldando.
O elogio pegou o Dragão desprevenido. Fez uma longa reverência e saiu para a tarde ensolarada. Sua mente relembrando imediatamente as rotinas de autocontrole.
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- Vocês me salvaram! – Seiya exclamou, correndo para perto das quatro. – Mais um pouco e eu seria um Pangaré esturricado. – isso fez os meninos e Esmeralda rirem muito. Ikki emitiu uma risada seca e endireitou a coluna ao vê-las entrar, a expressão de divertimento esmaecendo.
- Nós trouxemos algumas das comidas que Éden gosta. – Esmeralda achou por bem quebrar o silêncio constrangedor. – Ele comeu um pouco de panqueca e frutas. – cumprimentou-as com uma reverência e fixou o olhar em Shunrei, que entendeu o pedido e tomou a iniciativa de se aproximar. – Vou deixar aqui almoço e lanche. – mostrou os potes. – Mais tarde, enviarei o jantar.
A doutora viu os olhinhos sonolentos do garotinho. Mediu a temperatura e testou os reflexos oculares.
- Que bom que você conseguiu comer. – sorriu para o paciente. – Quer dormir? – ele negou, lutando para ficar acordado. – A sensação de calor diminuiu? – confirmou. – Descanse bastante. Assim que você conseguir andar, estou sabendo de uns planos para mantê-lo ocupado, sabe? – ela piscou para ele, dando espaço para Seika e Miho se aproximarem.
- Filho, a mamãe vai ficar um pouco na casa do tio Shun e volto à tarde, tudo bem? – Seika acariciou os cabelos azuis, beijando a testa por cima da faixa. – Se você precisar de qualquer coisa, pode pedir para o tio Seiya.
- Eu vou ficar com o nosso filho. – Ikki informou, parado aos pés da cama, ao lado de Souma, que ficara anormalmente quieto. – Não se preocupe. – o clima de descontração desapareceu quando Seika emitiu um bufo de exasperação. Ikki franziu a testa.
- Éden, a dra. Shunrei tem razão. – Miho falou mais alto do que o normal, tentando desanuviar a tensão. – Quanto mais você descansar, menos tempo ficará no hospital. Por isso durma bastante, tome água e se sentir qualquer dor, informe imediatamente, ok? – a atenção do garotinho estava dividida entre as recomendações e as expressões dos pais. Piscou várias vezes para eles. – Assim que tivermos descansado, voltaremos, não é Seika?
- Seiya, não deixe Éden sozinho até eu voltar. – a ruiva olhava para Ikki ao recomendar. – Fique com ele o tempo todo. – enfatizou cada palavra. Seiya, que ficara mais afastado com Saori, aproximou-se, tocando seu ombro.
- Irmã, pare com isso. – sua voz estava séria. – Éden está bem. Foi um acidente.
- Não foi um acidente. – ela respondeu, os olhos castanhos duros ao passar por todos no quarto. – Foi negligência.
Ikki sentiu como se uma torrente de lava subisse de seu fígado até a boca. Respirou forte, refreando as palavras ao pensar nos filhos os observando.
- Quero falar com você agora. – se surpreendeu com a calma na voz.
- Eu não... – Seika começou a dizer.
- Agora! – ele articulou cada letra com força. - Lá fora. – abriu a porta e os olhos azuis incidiram como adagas sobre ela. Seguiu-a para o corredor, fechando a porta.
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Vários segundos de mal-estar. Ninguém queria se mover no quarto até Seiya voltar para perto de Saori. Os olhos verde-escuros de Miho acompanharam o movimento.
- Você quer que eu fique? – ela perguntou, preocupada com o que presenciara.
- Não precisa. Eu fico com Éden e Ikki agora, será suficiente. – ele disse baixinho, mas no silêncio todos ouviram.
- Como hoje é o meu primeiro dia, Éden é o meu único paciente. – Shunrei constatou. – Quanto menos pessoas agora à tarde melhor porque ele precisa dormir.
Miho se aproximou do garotinho e acariciava seus cabelos, cantando baixinho uma música para fazê-lo dormir. Sinalizou para diminuírem o volume das vozes. Esmeralda terminou de organizar os alimentos e desceu Souma da cama.
- Nós vamos para casa. – os dois se despediram de Éden. – Envio o jantar quando Shiryu vier buscar você. – abraçou Shunrei e a médica notou que a loira tremia. – Obrigada, amiga. – falou no ouvido dela. Shunrei a abraçou de volta.
- Não vai esperar Ikki? – Esmeralda negou.
- Nós conversamos depois. Souma, despeça-se das pessoas. – guiou o filho para fora.
- Eu levo as duas, sim. – Saori afirmou para Seiya, buscando o rosto de Miho e acenando. – O carro pode ficar à disposição delas.
- Talvez seja melhor comprar algo aqui no centro porque o almoço costuma sair cedo no Santuário. – o moreno ponderou, vendo Miho se aproximar. Éden adormecera rápido. – Miho, como você está? – os olhos sorriram para sua amiga mais antiga. – Que bom que pôde acompanhar a Seika.
- Você está nos devendo uma visita, sr. Cavaleiro de Pégaso. – cruzou os braços, mas a voz estava calma. – As crianças estão sentindo falta de jogar futebol com você! – ele coçou a cabeça, subitamente envergonhado.
- Faz tempo mesmo. É que estivemos às voltas com muitos acontecimentos nos últimos meses, sabe? Mas parece que as coisas estão se ajeitando. Eu prometo que logo vou levar Kouga para conhecer a garotada do orfanato. – ela tentou disfarçar o choque ao ouvir o nome mordendo os lábios.
- Seika me contou que você adotou um garotinho na Coréia. – O coração de Miho disparou e ela temeu que eles pudessem ouvi-lo quebrando suas costelas.
- Sim, Saori e eu o adotamos. – Shunrei achava incrível que ele não percebesse a tristeza no rosto da moça. Saori, ao lado dele, parecia feita de pedra. - Ele é um garoto incrível, Mih...!
- Tenho certeza de que sim, Seiya! – ela o interrompeu sem querer. Ele piscou e olhou para as outras duas.
- Que tal se fôssemos almoçar no restaurante que tem aqui ao lado? – Shunrei apreçou-se a mudar de assunto. – De lá, as garotas voltam para o Santuário e eu vou fechar uma compra que reservei ontem. Quem dos rapazes for conosco traz a comida para o outro. – as duas balançaram a cabeça concordando. - Eu acabei de me mudar para Kamakura, Miho, e preciso de móveis para casa. – tentou ser amigável com a mulher com a expressão desamparada.
- Eu posso ficar aqui enquanto vocês almoçam! – Saori se ofereceu. – Não estou com fome. – emendou ao ver a boca de Seiya se abrir para protestar. – Shunrei pode escolher para mim. – a chinesa confirmou rapidamente, reconhecendo que a amiga precisava de tempo para digerir o que acontecera ali. – Vamos só esperar Ikki e Seika voltarem.
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- Eu entendo que você esteja nervosa, cansada e com medo. – Ikki começou assim que encontraram um quarto desocupado. – Entendo perfeitamente. Mas não vou admitir que você trate as pessoas que querem ajudar o nosso filho daquela maneira. Não vou admitir que você se refira a mim de forma desrespeitosa.
- Como é que você permitiu que isso acontecesse? – ela disse entredentes, tentando não gritar de raiva. – Você supostamente deveria estar cuidando dele, não é? Como você quer que eu o respeite se eu deixo meu filho com você e ele foge, depois é atropelado? O que vem a seguir? Será que ele vai perder um braço ou uma perna?
- Seika, eu conheço você e você me conhece. – os olhos azuis sustentavam os castanhos. – Nós sabemos o que nos machuca e onde dói mais. Também sabemos o que nos cura e o que nos une. Éden não precisa que nós briguemos ou sejamos cruéis um com o outro. – o tom dele era baixo e deliberadamente comedido. Seika tremia. – Eu sei que errei em muitas coisas, não sou e nem nunca quis ser perfeito. Sinto muito pelo que aconteceu. – ela parou de respirar e seu coração bateu forte nas costelas. – Já conversei com Éden. Precisamos mostrar a ele que pode confiar em nós. Nós somos os adultos. – ele parou um instante. – Sei que era sempre você que agia como adulta e que ficava enquanto eu batia a porta e fugia. Não sou mais assim. A vida me ensinou, como você disse que aconteceria.
- Ikki, eu pensei que ele fosse morrer. – ela confessou, a voz trêmula. – Tive tanto medo. Que tipo de mãe manda o filho para longe? Como pude fazer isso? Ele deve pensar que eu o larguei para ficar com um homem qualquer.
- Ele não pensa isso, embora eu acredite que ele deseje você mais perto. – ela abriu e fechou a boca, sem conseguir articular os pensamentos. – Quero que Éden continue comigo. Aqui ele tem aprendido muito e tem se soltado um pouco. E quero que você esteja mais com ele, não apenas quando ele está entre a vida e a morte.
As lágrimas finalmente transbordaram pelas faces de Seika.
- Você vai ter que me provar que mudou, Ikki Amamiya. – a voz não tremeu e ela agradeceu por isso. – Quero que você seja o pai de Éden, não apenas o sujeito que, por acaso, engravidou a namorada e não soube lidar com a responsabilidade. – os olhos azuis estreitaram por um segundo. – Desculpe ter falado com você daquela forma. Eu estava procurando alguém em quem jogar a culpa que estou sentindo.
- Sobre Esmeralda... – foi a vez dos olhos castanhos estreitarem.
- O que tem ela? – ele cruzou os braços, esperando. – Não a ofendi de nenhuma forma.
- Agiu como se ela fosse parte da decoração. – os lábios dela voltaram a ficar finos. Assentiu com relutância.
- Vamos voltar. Eu preciso desesperadamente de uma cama.
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- Aqui. – a caneca do relaxante chá de lírio branco apareceu em frente ao seu rosto. – Beba enquanto está quente. – ela recomendou, pedindo com um toque no joelho para ele abrir as pernas e se sentando entre elas no degrau abaixo.
Os odores e os sons calmantes da noite faziam as respirações dos dois se aprofundarem, ensaiando o ritmo do repouso.
- Foi um dia difícil? – a voz de Shiryu descia pelos cabelos curtinhos, entrando morna em seus ouvidos.
- Pacientes com famílias complicadas são comuns na pediatria. – ela tomou um gole do chá. – Qual a história?
- A mãe de Seiya e Seika morreu no parto e os dois foram enviados para o mesmo orfanato de Miho. – Shiryu começou devagar, puxando o fio da memória. – Nós as conhecemos quando acompanhamos Seiya nas visitas que ele fazia. Seika é uma garota muito boa e responsável. Miho implicava e brigava demais com ele, mas acho que ela sempre teve uma quedinha pelo Seiya. Ele desconversava se a gente comentasse. – riu da lembrança de um Seiya muito vermelho ameaçando bater nele e em Hyoga se não parassem de chamá-la de namoradinha do Pangaré.
- Isso ficou bastante evidente hoje. – Shunrei comentou, a voz sorridente. – Tanto que ela gosta dele quanto que ele não enxerga um palmo na frente do nariz.
- Bem, assim que começamos a competir e ganhar algum dinheiro, Ikki e Seika começaram a namorar. - Shiryu parou um pouco para concatenar as informações. - Foi um período complicado porque o mestre dele começou a agir de forma estranha e ele acabou se isolando de nós. Ela foi muito importante para ele, segurou toda a barra junto. – a mão dele pousou no ombro de Shunrei e ela a cobriu com a sua.
- O mestre dele era violento?
- No início, não. Mas eles foram treinar em Tóquio e os abusos começaram. – ele suspirou, fechando os olhos para lembrar. – Quando Shion e os outros souberam, meses já haviam se passado. Isso desestabilizou Ikki e só não teve consequências piores porque Seika estava com ele. Então, ela engravidou e eles foram morar juntos. Quando Éden nasceu, parecia que ficaria tudo bem. Era um garotinho muito alegre. Lembro dele aprendendo a andar bamboleando pelo corredor do Santuário. Seiya e Shun, então, babavam no menino.
- Engraçado que eles hoje parecem até um pouco indiferentes. – Shunrei comentou quando o silêncio se prolongou. - Tirando o acidente, nunca vi Seiya perto do sobrinho. Shun é mais carinhoso, mas ele é um fofo com todo mundo, não sei se é algo especial.
- Acho que foram os anos longe. – Shiryu ponderou. – O afeto precisa da presença para ser cultivado. Resumindo bastante, as personalidades fortes e dominantes dos dois se mostraram incompatíveis. Quando Éden fez dois anos, Ikki já passava mais tempo aqui no Santuário do que com Seika e o filho. Aiolia e Marin conversaram muito com eles, mas não adiantou. Na última competição que ele disputou com a equipe, conheceu Esmeralda e os dois se casaram. Shun e eu nos casamos no mesmo período, com uma diferença de um ou dois anos. Logo veio Souma. Um pouco antes de eu ir para a Coréia, eles foram morar com os parentes dela no Peru, depois no México. Nós dois já não estávamos mais nos Cavaleiros do Zodíaco.
- A vida da gente dá uns nós de confusão de vez em quando. – Shunrei disse, testemunhando algumas estrelas cadentes riscando o céu. – Imagino o quanto ela sofreu. Por isso não confia nele.
- Seika decidiu manter-se em Tóquio, trabalhando no orfanato. O contato que tínhamos era através do Seiya e a vida foi afastando a gente até que chegou a notícia do casamento dela e que Éden não se dava bem com o padrasto. Shun me contou que a situação estava muito complicada e que a solução foi enviar o garoto para morar com Ikki no México.
- Esmeralda me contou o restante. – ela encostou-se nele, beijando os dedos em seus ombros. – Obrigada por me contar. Senti que estava no meio de um tiroteio hoje. Vai ser mais fácil agir sabendo o histórico. Espero que eles consigam se acertar, pelo bem deles e de Éden. Pelo menos quando vocês chegaram, Seika ouviu serena o reporte de Ikki e Seiya e deu o jantar preparado por Esmeralda para Éden.
- Ela é uma boa pessoa, você verá. Ela e Ikki mudaram muito durante esses anos. – Shiryu beijou-lhe a cabeça. – Amanhã você conseguirá falar com o Mestre Shion?
- Só amanhã o hospital vai começar a remanejar alguns pacientes para mim, então tenho apenas Éden. Se ele passar bem a noite, consigo ir logo pela manhã. – ela se arrepiou com a ponta do nariz dele passeando pelo seu couro cabeludo, evitando apenas o lado direito, local da cirurgia. – Ele não adiantou o assunto? – som de negação. – O que será que o Grande Mestre quer comigo? Espero que não seja para reclamar de você, hein? – som de risada abafada.
- O Mestre já saiu? – Shunrei confirmou com um aceno.
- Vocês vão me contar o que está acontecendo? – a pergunta tinha o som da diversão que ela não conseguira se furtar de sentir. – Por que ele estava vestido com tanta... Como direi?... Com tanto requinte? – Shiryu riu, lembrando da formalidade do terno preto de botões dourados, quebrada pelo enorme contorno do tigre também dourado às costas.
- Quando ele estiver pronto, contará a você. – o céu estava muito estrelado, com a lua minguante em sua fase inicial de foice. – Mas acho que ele não volta hoje. – Shunrei riu, encostando-se numa das pernas. – Ryuho não parava de falar no Santuário que você salvou Éden. – ela virou o rosto aberto de espanto.
- Então foi por isso que as crianças vieram apertar a minha mão? – Shiryu aproveitou e beijou-a. Os lábios doces se abriram para as bocas quentes do chá e a sensação das línguas se acariciando os fez arrepiar.
Embora eles evitassem esses beijos incendiários, Shiryu pensou que a ocasião merecia. Levou a palma da mão para o pescoço de Shunrei, seu polegar deslizando na bochecha de pele suave. Ouvia seus gemidinhos e os sons de sua respiração, forçando-a a abrir mais a boca, desejando saborear mais o gosto dela.
- Você é tão quente. – murmurou dentro da boca dela ao mudar a posição do beijo.
Shunrei girou o corpo para passar um braço ao redor do pescoço dele, entranhando os dedos pelo mar de cabelos pretos e espessos. Seu cheiro se insinuava ao redor, os músculos definidos de seus braços e tórax movendo-se, evidentes sob o toque da mão dela.
- Me dêem um hospital inteiro para salvar. – ela sussurrou quando os lábios se afastaram o suficiente para as pontas dos narizes se tocarem, acariciando as faces do outro.
Outro beijo, mais lento e apaixonado, os sentidos sensíveis ao mais suave som, ao toque mais sutil. O corpo de Shunrei formigava e aquecia, especialmente os seios, as orelhas e entre suas pernas. Shiryu ficava mais e mais excitado, a respiração quente e pesada, a boca úmida. Antes que a situação se tornasse irreversível, utilizando toda a sua força de vontade, ele levou os lábios num passeio pelo rosto dela, certificando-se de tocar cada milímetro. Uniu testa com testa, os olhos fechados para aguçar os demais sentidos. Shunrei emitiu um muxoxo, as duas mãos massageando o couro cabeludo e a nuca dele. Suas pálpebras escondiam das retinas o rosto colado ao seu.
- Que tal a sua sobremesa exclusiva?
- Sempre faço propaganda da sua comida, mas essa sobremesa eu manterei em segredo. – ele podia adivinhar a expressão travessa da noiva. Riu pelo nariz e afastou-se, endireitando a coluna.
- Muito gulosa. – a voz grave num tom de repreensão. – Demonstre mais compaixão pelos necessitados - Shunrei ergueu uma sobrancelha, encostando-se mais na perna.
- Você está dizendo que eu deveria dividir a 'minha' sobremesa com alguém? – Shiryu deu de ombros. Ela estreitou os olhos. – Pois fique sabendo, sr. Suiyama, que sou bastante ciosa das minhas exclusividades. A não ser que o senhor queira dividir as suas também.
Shunrei ofereceu-lhe um meio sorriso. Ele coçou o queixo, pensando. O sorriso da chinesa aumentou e ela se voltou novamente para a escuridão do jardim e o céu coalhado de estrelas.
- Essa conversa está enveredando por uma trilha inesperada. – puxou-a para dentro de seus braços. – Você é inspiradora. – beijou-lhe a nuca e o ombro, deixando-a se recostar nele. Via as estrelas refletidas nos olhos azuis. – Concordamos que há coisas que não precisam sair dos limites de nós dois.
Os dedos macios entrelaçaram com os dele.
- Daqui de dentro tudo parece possível.
Ela se viu embalada no calor morno do corpo do noivo, guiada para o sono. Não viu Shiryu a erguer com facilidade e levá-la para o quarto.
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CENA BÔNUS 1
- Vocês precisam se comportar! – Eiri exclamou quando as três meninas passaram correndo para o quarto. – Quase derrubaram as travessas! – conseguiu depositá-las intactas na pia.
- Nem parece que Régulus as fez pular o dia inteiro. – June comentou, equilibrando uma bandeja cheia de tigelas e copos. – Não sei o que vou fazer com Yorie. No almoço, ela me puxou até a sala de estudos para dizer que não quer mais ficar no Santuário.
- Ela ficou comigo no ambulatório à tarde. – Hyoga trouxe as últimas louças da mesa, organizando-as na lavadora. Acompanhou as duas de volta à varanda do apartamento, levando copos e garrafas de espumante e refresco de maçã. – É da propriedade do meu sogro. – informou, servindo quatro copos.
- Logo ele estará bem, você vai ver. – Shun conversava com Yuuto. O garotinho voltara bastante impressionado do hospital e passara todo o jantar sentado no colo do pai. Os olhinhos cinzentos bem abertos. – Você viu que Éden comeu o jantar da tia Esmeralda todinho? Então, isso significa que ele está se recuperando.
- Mas ele está cheio de machucados, papai. – ele falou baixinho, olhando desconfiado para os outros adultos. – Com aquele tubo no braço e todo engessado. – moveu a mãozinha em frente ao peito. – Será que ele vai ficar com medo de dormir lá? – Shun o observava, sério. Era a primeira vez que as crianças visitavam alguém hospitalizado. Ao contrário das meninas, que aceitaram a afirmação da pronta recuperação de Éden, Yuuto não conseguia parar de pensar no primo.
- Não precisa se preocupar, filho. A tia Seika vai dormir com ele hoje. – Shun beijou o alto dos cabelinhos azuis. – Amanhã de manhã nós ligamos para eles para saber como passaram a noite, que tal? – Yuuto pensou um pouco antes de concordar com a cabeça. – Não foi você quem me disse que seus primos são os mais fortes do mundo? Então, eu estou confiando na sua palavra.
- Eu também! – June disse com firmeza, piscando para o filho. – Éden estará de volta quando você menos esperar, Yuuto. – ele abriu um pequeno sorriso, encostando-se no peito do pai.
- Como foi seu primeiro dia no escritório? – Hyoga perguntou à esposa, enchendo-lhe novamente a taça com espumante. – Já mapeou tudo em volta?
- Pelo menos os restaurantes e as confeitarias, sim. – ela sorriu, cheirando a bebida antes de provar. – O melhor espumante da Grécia. – a voz dela soou saudosa. – No próximo ano, vamos todos para lá? Meus pais vão adorar conhecê-los.
- Nós vamos no Natal para eles conhecerem Yuna. – o loiro informou. – Mas a primavera é a melhor época para visitar, ou o outono.
- É uma delícia mesmo. – as bolhinhas fizeram cócegas no nariz de June. – Como é o suco? – perguntou para o filho.
- Quero mais! – Yuuto bebeu tudo de um só gole, estendendo o copo para a mãe.
Os quatro adultos riram. Logo a conversa enveredou para as rotinas de cada um, terminando com June passando alguns contatos profissionais para Eiri e Hyoga contando sobre os treinos do dia. Shun admitira a sobrecarga de trabalho e como o aumento da quantidade de alunos o estava pressionando ainda mais. Quando deram por si, as crianças estavam dormindo emboladas na cama de Yuna.
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CENA BÔNUS 2
- Realmente não quero dar trabalho. – Miho repetiu, sentindo as faces quentes. – Eu posso usar as minhas roupas.
- Ora, não tem nenhum incômodo. Não se preocupe, Miho. – Saori respondeu, guardando o celular no bolso da saia e voltando a sentar ao lado de Seiya. – Eles já trariam uma mala para Seika, não custa nada trazer a sua.
- Você vai poder ficar mais à vontade. – Marin concordou, aceitando a xícara de chá que o marido lhe trouxe e abrindo espaço para ele se acomodar ao seu lado. – Pelo que me disseram, Éden ainda vai ficar mais dias no hospital, não é?
- Pelo menos mais três dias. – Seiya confirmou, passando as xícaras para Miho e Saori. – Ele dormiu quase a tarde toda. Quando acordou estava com muita fome. – deu o copo de leite para Kouga.
- Eu escrevi no gesso dele. – Kouga riu com um bigode branco. – Nós quatro. – os cabelinhos ruivos estavam despenteados porque ele dormira todo o caminho de volta do hospital, vencido pelo dia de exercícios.
- Amanhã quem vai ficar com vocês é Pavlin. – Aiolia apontou a filha, sentada à mesa com um caderno e vários livros. – Régulus vai treinar comigo. – o rostinho se abriu de surpresa. O grego o olhou com gravidade. – Ela quem ensinou o irmão a lutar. – Kouga olhou rápido para Seiya, que deu de ombros.
- Você quem me disse que queria ser um Cavaleiro. – a declaração fez Miho rir.
- Seiya, assim você vai assustar mais ainda seu filho. – a morena comentou, falando com gentileza com o garotinho. – Kouga, não deixe esses dois marmanjos te deixarem com medo. Não há nada que você não possa enfrentar.
- Dê ouvidos à sua tia. – Saori corroborou a fala. – Você me disse que gostou de treinar com Régulus. Vai ser a mesma coisa com Pavlin.
- A questão é se a Yuzuriha vai estar também. – Kouga disse sério, provocando risadas nos adultos.
- Como está a compra da casa? – Marin perguntou. Acompanhara os dois em visitas a algumas casas à venda ali por perto.
- Estamos em dúvida entre duas. – Seiya disse. – Aquela na rua da escola, que tem três quartos. E aquele bangalô aqui pertinho de vocês.
- O da senhorinha que foi embora com a filha para Kyoto? – Aiolia franziu a testa. – Ele está muito velho, não? Acho que é um dos poucos originais aqui da rua.
- Eu acho que é uma graça. – Saori comentou. - Precisa só de uma reforma, mas nada que tire o charme dele. E a localização é o que realmente importa.
Miho ouvia tudo isso com um aperto no coração. Tentara ser o menos indiferente possível com Saori e gostara bastante de Kouga. O menininho ainda guardava nos olhos as mesmas emoções dos garotos do orfanato, uma mistura de dureza, carência e tristeza. Ela percebia como ele era apegado a Seiya, o imitando nos trejeitos e na postura.
- Só o Éden para me fazer passar a tarde com o Ikki. Ainda bem que você chegou mais cedo, Miho. – ela percebera que o estivera encarando. Sacudiu levemente a cabeça e viu que Saori a observava. – Me salvou de fazer monólogos. – ele sorriu para ela.
- É melhor nós irmos. – Saori disse, sinalizando para o sonolento Kouga. – Amanhã vamos acordar cedo. – Seiya assentiu.
Os quatro voltaram devagar para o Santuário. Kouga deitado no pescoço do pai e as duas uma de cada lado deles. Subiram as escadas em silêncio e primeiro deixaram Miho na porta do quarto. Pela porta entreaberta, ela ouviu Seiya entrando para colocar o garotinho na cama e depois se despedir da noiva com a voz carinhosa e um beijo.
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CENA BÔNUS 3
- Você não quer entrar? – Esmeralda chamou da porta para o jardim. – Já está frio.
- Daqui a pouco. – Ikki respondeu, levando a garrafa até os lábios. – É a última.
Ela suspirou e voltou para terminar de organizar a cozinha. Embalara as refeições que enviaria no dia seguinte, prestando atenção a Souma, sentado anormalmente quieto em frente à TV. Ele adotara essa postura desde a manhã.
- Filho, me ajuda aqui. – o garotinho veio em silêncio. – Pode nomear os potes com café da manhã, almoço e lanche, como fizemos hoje? É a mesma divisão de cores. – ele assentiu, pegando as etiquetas. – Você está tão caladinho. Quer conversar? – ele comprimiu os lábios e sacudiu a cabeça. – Sabe que pode falar o que quiser comigo, não sabe? – os olhinhos cor de mel assentiram.
Esmeralda tentava a todo custo manter a casa funcionando, os rapazes ativos e, o mais importante, a comunicação fluindo. Mesmo cansada, se dispôs a enviar as refeições diariamente para o hospital, pois sabia que Seika não se sentiria confortável se ela fosse até lá. Portanto, a comida era seu jeito de demonstrar a Éden seu amor e carinho.
- Quando o meu irmão voltar para casa, nunca mais vou brigar com ele! – a voz de Souma estava determinada e fervorosa. – Ele não vai mais precisar se preocupar comigo!
- Gostei de ouvir isso. – a voz do pai atraiu a atenção dos dois. – Isso significa que você está se tornando um homem. – Ikki entrou com as duas garrafas de cerveja vazias, depositando-as na pia. – Os homens de verdade sempre aprendem com tudo que acontece em suas vidas e não fogem dos desafios. – os olhos azuis faiscaram para os dois. O garotinho piscou.
- Papai, você me leva ao hospital amanhã? Quero ajudar a cuidar do meu irmão! – o adulto assentiu, sério.
- Você não comeu nada. – Esmeralda o observou retirando pão, queijo e presunto defumado da geladeira. – Eu esquento a comida. – ele sinalizou que não.
- Não estou com muita fome. – com três mordidas, terminou o sanduíche frio. – Hoje vou dormir mais cedo.
A testa da loira franziu ao ouvir a porta do quarto fechar.
- Se você quer ir com seu pai, precisa dormir cedo também, filho. – esperou a respiração do pequeno mudar, o que demorou bastante. Souma era um menininho ativo e bem-humorado, sempre vendo a vida por um lado positivo, mas o acidente com o irmão o fizera cair numa espiral de culpa e arrependimento. A mãe cantou várias canções peruanas e mexicanas para ele, assanhando os cabelos castanho-claros.
Ao entrar em seu quarto instantes depois, já tinha um plano traçado. Pegou o creme hidratante, descobriu o corpo do marido e começou a acariciar os braços.
- Vai me deixar fazer? – ela murmurou, tentando puxar a camiseta. Ele resmungou e tirou-a por conta própria. Esmeralda emitiu um sorriso abafado. Viu as cicatrizes nas costas largas, heranças dos treinos com o homem que ele um dia chamara de mestre. Reluziam na penumbra. Algumas eram altas, destacadas ao seu toque.
As mãos dela pressionaram todos os nós nos músculos tensos, passeando diligentes e certeiros, fazendo-o gemer e soltar a respiração ruidosamente. Em muitos momentos, não era fácil para ela estar casada com um homem como Ikki, embora ela reconhecesse o esforço que ele fazia para encontrar novas formas de lidar com as situações. Ficara feliz e orgulhosa com o modo como ele reagira naquele dia.
O pescoço, os ombros e as omoplatas deram mais trabalho e ficaram quentes e vermelhas quando ela se deu por satisfeita. Besuntara do cóccix até a base do crânio, se concentrando, por fim, no couro cabeludo.
Assim que pousou as palmas no meio das costas dele, Ikki se virou, envolvendo-a nos braços, silenciosa e diligentemente agradecendo a massagem, a dedicação e a partilha de vida.
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Olá!
Desculpem a demora enorme em atualizar a fic. Tive um período grande de crise de inspiração, mas acho que passou... rsrrs! Quis adiantar mais capítulos também, pois estava praticamente escrevendo o capítulo que postaria na semana. Como a história cresceu com a vinda de mais personagens, estava ficando bem complicado. Espero que agora consiga postar sem interrupções até o final.
Já sabem, né? Reviews fazem a vida da autora mais feliz!
Até o próximo episódio. :-)
Jasmin Tuk
No próximo episódio, vamos para a praia:
Os cinco de camisetas sem manga, bermudas coloridas e óculos escuros, atraíam a atenção de quem estava ali perto. Aos poucos, os demais chegavam trazendo seus próprios kits de praia – guarda-sóis, cadeiras, chapéus, filtros solares, toalhas e caixas térmicas. Logo as garotas se juntaram a eles, rindo e conversando, com seus vestidos frescos e leves.
