EPISÓDIO 8
As duas semanas passaram como uma bolha de sabão num dia de ventania.
O sábado amanheceu luminoso e os madrugadores chegaram à praia com os primeiros raios de sol. A cidade fervilhava de visitantes querendo aproveitar os últimos dias do verão. Muita gente nas ruas e muitas cadeiras e guarda-sóis na areia. Dezenas de carrinhos de comida com estoques cheios estacionavam em pontos estratégicos. Crianças corriam, bolas eram erguidas e arremessadas de um lado para o outro, casais jovens vestiam roupas iguais, casais de todas as idades caminhavam de mãos dadas, grupos de amigos festejavam e muita gente se aventurava a entrar nas águas frias antes das nove da manhã.
Na curva leste da praia, depois de uma formação rochosa, havia uma extensão de terra que a maioria dos turistas evitava por não querer vadear o riacho que tornava aquele chifre de areia se insinuando para o mar aberto um point da população nativa. Os rapazes que chegaram mais cedo garantiram o local tradicional para o acampamento do Santuário, próximos aos barcos de pescadores que não saíram nesse dia. Montaram a tenda e as mesas para as frutas, as bebidas e as comidas e distribuíram alguns guarda-sóis para delimitar o lugar.
- Esse ano precisamos de mais espaço. – Régulus comentou, fincando a última fronteira.
- E precisaremos ficar de olho nas crianças. Estamos parecendo uma creche. – Yato disse, lembrando dos dias que passou com a turma sub-10 anos enquanto a ferida da perna cicatrizava.
- Vamos jogar bola com as garotas? – Teneo sugeriu, terminando de ajeitar as mesas na tenda.
- É a primeira vez que venho a uma praia. – Kiki olhava para tudo com espanto. – Nós moramos no Himalaia e lá só tem lagoas. – permanecia longos minutos parado em frente ao mar, parecendo em transe, até que um dos outros o cutucava. – Jamais pensei que houvesse tanta água no mundo.
- Conseguimos em tempo recorde esse ano! – Orfeu exclamou, ajeitando os óculos escuros e testando as cordas da tenda.
Os cinco de camisetas sem manga, bermudas coloridas e óculos escuros, atraíam a atenção de quem estava ali perto. Aos poucos, os demais chegavam trazendo seus próprios kits de praia – guarda-sóis, cadeiras, chapéus, filtros solares, toalhas e caixas térmicas. Logo as garotas se juntaram a eles, rindo e conversando, com seus vestidos frescos e leves.
- Pavlin pegou o carro do papai. – Yuzuriha informou, tirando o vestido. Seu biquini era rosa com bordas pretas. – Eles vêm com a srta. Saori.
- Podemos começar a organizar a mesa. – sugeriu Pavlin, que chegara de quimono de praia combinando com o biquini em padrões de verde, amarelo e vermelho, como penas de pavão. – Selinsa, posso deixar minha bolsa aqui?
- Vou pedir a Teneo para colocar mais um guarda-sol. – ela usava um maiô azul-escuro com bordas brancas, que destacava sua pele clara e os cabelos azuis-claros curtinhos. - Daqui a pouco o sol vai esquentar.
- Vou para a tenda. – Eurídice usava um top verde com flores brancas e amarelas e shorts jeans. – Assim terminamos mais rápido.
A caminho da tenda, cumprimentou o casal que acabara de escolher onde se instalaria.
- Já vou ajudar vocês, garotas! Yuna, o limite é o guarda-sol rosa. – Eiri apontava para a fronteira no meio da areia. – Não aceite nada de estranhos e se algum desconhecido falar com você, corra para cá, entendeu? – ela trançava o cabelo da filha enquanto Hyoga abria os dois guarda-sóis e as cadeiras.
- Marque a nossa cor e a distância que estamos da tenda. – ele instruiu, levando a caixa térmica para o lanche comunitário. – Só entre na água com um dos adultos junto, tudo bem?
A brisa fresca trouxe os gritos do trio Shiroi Amamiya, disparados pela areia molhada. Eles já tinham um local cativo para montarem sua base e ficaram pulando ali até os pais os alcançarem, carregados de cadeiras, mochilas e demais apetrechos.
- Yunaaa! – Yorie gritou, correndo com seu maiô vermelho de bolinhas brancas para a garotinha.
- Vem brincar com a gente! – Yuki exclamou, pegando um saco de brinquedos da mão do pai e levando para a sombra da tenda. Seu biquini rosa-choque com lacinhos brancos e babadinhos combinando com os aros dos óculos escuros.
- Vou ajudar você, papai. – Yuuto segurou a corda para abrir o guarda-sol, puxando com força para fazer o nó.
- No próximo ano, você vem com Régulus e os outros para ajudar a montar a tenda, hein? – Shun afirmou, observando-o abrir e enfileirar as cadeiras, pendurando as sacolas nas traves.
- Esse ano será animado! – June prendeu os cabelos num coque, o biquini preto visível pela abertura do quimono florido de fundo branco. – Vou levar a caixa térmica e ver o que elas estão aprontando.
O espaço que os rapazes reservaram permitia que os grupos ficassem próximos sem estarem colados. Eles tiravam as camisetas e permaneciam com seus shorts ou bermudas, chamando ainda mais a atenção das garotas ao desfilarem pela orla ajudando a trazer equipamentos e mochilas. Algumas tentavam se fazer visíveis com risinhos ou estirando as toalhas pela rota dos jovens.
- Ah, os meus tempos de juventude. – a voz de Aiolia soou displicente, reparando na movimentação ao redor enquanto seguiam pela parte úmida da areia com várias caixas com garrafas de água e gelo. – Preciso ficar de olho nos rapazes esse ano.
- Você era tão tímido que eu praticamente tive que forçá-lo a me beijar. – Marin comentou, com duas grandes mochilas, uma saída de banho de renda branca deixando ver o biquini com quadradinhos de várias tonalidades de marrom e rosa e um chapéu dourado de abas largas.
Os dois acompanhavam Orfeu e Teneo, assoberbados com equipamentos para montar os lugares das crianças do orfanato. As vinte, entre quatro e doze anos, dormiram no Santuário e o ônibus acabara de estacionar.
- Quero todas em duas filas. – Miho as guiava pela aglomeração crescente. – Esperem até chegar ao lugar onde vamos ficar para soltar o ombro um do outro.
- Ainda bem que conseguimos roupas de banho bem coloridas esse ano. – Seika dividia com ela o peso da grande caixa de brinquedos. – Lembra da confusão do ano passado?
- Kouga, Haruto, Arya e Ryuho, vocês também ficam na fila, junto com os outros. – Seiya caminhava ao lado das crianças, vendo que os três queriam correr até a tenda, que viam à distância.
- Assim que chegarmos, vocês vão poder brincar e correr à vontade. – Shiryu guardava o outro lado, as ondas molhando seus pés.
Os dois vinham igualmente carregados de mochilas e guarda-sóis. As camisetas iguais à de Aiolia, branca com o emblema do Santuário em dourado e vermelho.
- O dia não poderia estar mais bonito. – Saori comentou, ajeitando o chapéu branco e azul, combinando com o quimono azul-escuro com bordas brancas e o biquini de flores brancas em fundo azul. – Estou adorando essa mania de fazer tudo em conjunto!
- Bem que Eiri avisou que nem parecem os estereótipos de japoneses. – Shunrei escolhera um conjunto de maiô e vestido com figuras geométricas laranjas, lilases, azuis e roxas. Um lenço por baixo do chapéu largo. – Dá uma sensação tão boa de pertencimento, não é?
Elas vinham com caixas com garrafas térmicas e sacolas com toalhas. Era a primeira vez que viam aquela parte da praia. Havia um caminho mais raso no riacho e elas atravessaram com água até o joelho. As crianças atravessaram nas costas dos adultos. A faixa de areia era um pouco estreita e havia muita vegetação em volta. A prefeitura mantivera a comunidade caiçara e permitira alguns restaurantes, que abriam suas varandas para o mar. Chamavam-na Praia da Ferradura pelo formato peculiar, entre duas formações rochosas. As pequenas embarcações pontilhavam as águas ou permaneciam ancoradas perto de onde a tenda estava montada e ao seu redor se espalhavam os guarda-sóis vermelhos.
- Nós começamos a vir aqui no primeiro verão em que chegamos ao Santuário. – Ikki informou descendo Souma dos ombros e recolocando a grande mochila nas costas. – Comprávamos peixe dos pescadores e nadávamos com os filhos deles aos finais de semana.
- Soa como uma infância boa. – Esmeralda passou uma visão panorâmica, o vestido amarelo-claro com delicadas ilustrações em nanquim preto e vermelho em cuja abertura se entrevia o biquini preto com as mesmas ilustrações em branco e vermelho. – Vamos, meninos!
- Se a gente andar um pouco mais rápido, conseguimos alcançar eles. – Souma apontou o retângulo com as crianças mais à frente.
- Para quê apressar se vamos encontrar com eles em poucos minutos? – Éden comentou, vestindo uma camiseta de manga comprida por cima do braço com o gesso todo desenhado e assinado. Até Yorie tinha feito uma batata sorridente no cotovelo.
Os quatro seguiam devagar, acompanhando o ritmo de Éden. A manhã trazia cada vez mais pessoas, mais agitação, risos e luminosidade.
- Tudo bem aí atrás? – Dohko perguntava, rindo para Mu e Shion, que tropeçaram e caíram no riacho. – Podem tirar a roupa aqui mesmo.
- Ainda bem que estou de óculos escuros. Eles vão refletir o sol como espelhos. – Milo comentou, segurando o riso enquanto os dois torciam as camisetas, revelando os troncos definidos e espantosamente brancos.
- Você acha que está melhor que eles, depois dos anos na Sibéria? – Camus implicou, flanando sem dificuldades pela areia com as últimas cadeiras para o acampamento praiano.
- Se vocês não discutissem tanto, teríamos chegado horas atrás. – Shaina andava com a coluna bem ereta, o corpo num movimento gracioso valorizando o biquini dourado com bordas vermelhas que a saída de tecido fino não cobria.
- Nunca estive numa praia antes. – Shaka informou, a camiseta do Santuário e a bermuda jeans parecendo estranhas nele, que preferia as túnicas e as calças de seda indianas. Usava um boné que ganhara de Aiolia e pareceu à vontade em sua estréia à beira-mar. – Claro que já estive, mas é a primeira vez num momento de lazer.
- Então aproveite, meu caro. – Mu, sem se importar com Milo cobrindo os olhos, pendurou camiseta e bermuda no ombro e seguiu animado com vários guarda-sóis. – É uma experiência única a nossa primeira vez. – Milo riu alto, fingindo limpar lágrimas dos olhos.
- Os idosos chegaram! – Shion exclamou ao ver a quantidade de gente falando, correndo, indo de um lado para o outro. Marin e Eiri acenaram para eles, mostrando os lugares já montados. – Dessa vez, vamos ganhar daqueles aspirantes, hein?
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Uma estratégia foi montada para que as crianças corressem e brincassem em segurança. Surpreendentemente, não houve maiores disputas do que decidirem qual seria a próxima brincadeira. O maior nó era como seriam os banhos de mar, afinal seria o caos mais de 25 pequenos seres humanos ao mesmo tempo dentro da água.
Ryuho estava particularmente ansioso, pedindo constantemente para, pelo menos, molhar os pés, puxando qualquer pessoa maior que ele para ir junto. Ele, Yuuto e Haruto começaram a construção de um castelo de areia e logo Yuna, Kouga e Souma se uniram na ampliação do projeto. Em pouco tempo, várias das crianças do orfanato se juntaram a eles, montando uma cidade inteira, cuidando para manterem as casas e ruas longe das ondas. Arya, Yuki e Yorie se uniram às demais para explorar o local, indo até as rochas depois dos barcos ancorados para verem de perto a vegetação. Éden foi com elas, seguido de perto por Seika, Milo e Orfeu.
Perto das 10 horas, dividiram-nas em pequenos grupos para, enfim, mergulhar. Houve gritos de alegria e medo. Duas meninas novinhas se agarraram com força ao pescoço de Seiya e Hyoga e começaram a gritar ao sentirem a água fria e salgada nas perninhas. O menininho mais novo do grupo não quis soltar as pernas de Miho e só molhou as canelas até Yorie trazer um baldinho e jogar água na cabeça dele, provocando uma crise de choro. Ao meio-dia, uma confusão tomou conta da tenda e guarda-sóis próximos quando elas foram almoçar. A comida e o calor venceram o entusiasmo, atuando como sonífero. Shaina, June e Shun estenderam toalhas e desceram encostos de cadeiras para acomodá-las.
Teriam umas duas horas até elas acordarem novamente.
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- Cuidado com a maré! – Marin exclamou para Teneo, Yato, Kiki, Orfeu, Régulus e Selinsa, que passaram correndo para se atirarem na água. – Pelo menos, dizer para usarem filtro adiantou hoje. Ano passado tivemos uma semana de pomadas de algodão e cânfora.
- O verdadeiro milagre foi não ter ficado nenhuma mancha neles. – Yuzuriha se deitara ao sol, ao lado do guarda-sol onde elas se sentaram para ver o mar. – A pele de Régulus e Teneo parecia de frangos fritos.
- Shun fez uma fórmula cicatrizante muito boa. – June tomou um gole da cerveja, observando a roda de passe formada por Shun, Mu, Shiryu, Shaina, Pavlin, Eurídice e Milo. – Ele preparou um estoque grande dessa vez também.
- Será que podemos levar um pouco? Vi algumas das crianças bem rosadas. – Miho deitara o encosto da cadeira, metade do corpo à sombra e as pernas expostas ao sol.
- É um dos passeios que elas mais esperam. – Seika abriu outra lata de cerveja. Via, pelo canto do olho, um outro grupo embaixo dos guarda-sóis mais perto da água.
Éden tivera alta seis dias depois do acidente e ela fora bem-sucedida nos bons termos de convivência. As duas voltaram para Tóquio e ela adotara a rotina de ligar para o filho ao menos uma vez ao dia. Também se forçava a falar com Esmeralda ou Ikki. Portanto, não esperava se sentir pouco à vontade na presença deles como estava acontecendo. Ficou com Éden a maior parte da manhã, aliviada pela ausência do marido. O garotinho a abraçara com tanta força que a emocionara.
- Posso me sentar com vocês um pouco? – Shunrei vinha da tenda com uma garrafa térmica e um copo de refresco. Tirou o chapéu e o lenço. – A viagem com a turminha foi boa? – perguntou ao instalar-se ao lado de Miho, cuidando para ficar à sombra.
- Foi ótima! – Miho a saudara feliz. Elas se aproximaram nos dias de vigília no hospital, numa simpatia mútua. - Nós saímos cedo ontem para eles aproveitarem os dois dias.
- Vocês vão embora amanhã mesmo? – Yuzuriha perguntou, virando-se para expor a outra metade do corpo.
- Estamos com desfalque de cuidadoras. – Seika informou. – E temos que nos preparar para a volta às aulas. Vocês vão conseguir passar no orfanato?
- Talvez dê tempo, sim. – June disse. – Nós vamos ficar na mansão Kido para nos arrumar, mas podemos chegar antes a Tóquio. – Miho já conseguia manter a expressão neutra ao ouvir menções a Saori.
- Será uma boa oportunidade para conhecer o Filhos das Estrelas. - Shunrei sorriu, vendo Dohko, Shion, Camus e Shaka se juntar aos que estavam na água. – Parece que tudo que tem a ver com o Santuário tem relação com o céu e as estrelas.
- No fundo, as pessoas são românticas e querem se conectar com algo maior que a vida delas. – Marin observava o mar. - Já conseguiu organizar os seus horários, Shunrei?
- Consegui estruturar uma rotina e estou em paz. – ela suspirou. – Dois dias no Santuário, dois dias no hospital e três dias em casa. – ela franziu os lábios. - Ainda não consigo contribuir mais.
- Olá, damas. – o grego fez uma breve reverência, agachando-se para cochichar no ouvido de Marin. Ela sorriu, assentindo e oferecendo as duas mãos para ele puxar. – Juízo até nós voltarmos, filha! – exclamou feliz.
- E vocês se divirtam! – Yuzuriha, sustentou o tórax com os braços e piscou para os pais. – Nenhum juízo para vocês. – Marin ia falar algo, mas o marido a levou por entre os guarda-sóis e eles logo sumiram de vista. – É bom vê-los assim de vez em quando.
- Shun está encantado com você como parceira. – June abria outra lata de cerveja, vendo Seiya, Eiri e Hyoga se juntarem à roda de bola e Shun e Eurídice entrarem no mar. – Está conseguindo ficar mais em casa com as crianças sem nenhuma preocupação.
- Estou aprendendo tanto com ele. Não apenas sobre medicamentos tradicionais. Os exercícios para circulação do Chi (1) estão me revigorando. – Shunrei afirmou. – Faço com Ryuho pela manhã e já sentimos os resultados. - recolocou o lenço e o chapéu. – Vou caminhar um pouco.
- Posso ir com você? – Miho perguntou, apressando-se a levantar. Shunrei assentiu.
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- De jeito nenhum! – Eiri ria, colocando as cartas em cima das de Ikki. – Eu nasci jogando pôquer, meu caro.
Ikki reconheceu que seu par de valetes não era páreo para o trio de reis e revirou os olhos enquanto a loira amealhava todas as tampinhas de plástico da mesa como se juntasse moedas de ouro.
- Finalmente terminou. – Aiolia comentou displicente, tomando um gole do refresco gelado da garrafa térmica. – Não aguentava mais ver o seu sofrimento em jogar contra uma advogada grega. – emitiu um meio sorriso. – Parece que não aprendeu nada convivendo comigo.
- Você está me devendo... – Eiri contou as tampinhas. – 42 garrafas de cerveja! Mas eu troco tudo isso por uma ida ao karaokê que descobri perto do meu escritório. – Hyoga meneou a cabeça, disfarçando o riso da cara de inocência da esposa ao olhar para um Ikki cada vez mais vermelho.
- Ah, que ideia excelente! – Seiya exclamou. – Aquela vez que fomos lá na Coréia foi ótima! Estou dentro. – completou, virando o restante da latinha de cerveja.
- Eles têm sala onde caiba todo mundo? – Esmeralda se interessou. – Sei qual é o karaokê, mas ele parece pequeno.
- Podemos reservar várias salas, se forem mais que oito ou dez pessoas. – Saori ponderou, fazendo as contas. – E precisa ser essa semana, porque na próxima estarei de volta a Tóquio.
- Olha como vocês são. – Ikki cruzou os braços. – Sonhando com situações sendo que eu posso simplesmente comprar as cervejas e deixar no apartamento do Patinho e pronto.
- Se você não se importar de ser fuzilado por 4 pares de olhos, fique à vontade. – Hyoga perguntou com um gesto se queriam continuar com os jogos de baralho e as cabeças negaram. Retirou a mesa do meio deles. – Mas seria interessante saber se você tem potência vocal ou esse peitoral é só fachada.
- Lá vem as piadas com peitos masculinos. – Aiolia passava latas de cerveja e copos de refresco de dentro da caixa de gelo.
Ele e Ikki exibiam suas tatuagens, feitas no mesmo dia, que cobriam boa parte dos tórax. A juba escura tomava todo o ombro e parte do antebraço direito, com o rosto do leão no peito, as presas à mostra e os intensos olhos dourados mirando quem o olhasse. A fênix em tons de laranja, amarelo e azul, com as asas transformadas em chamas abertas de ombro a ombro, a cabeça erguida e o bico aberto num eterno grito.
- Será difícil conciliar um dia para irmos todos. – Seiya preferiu não alimentar a troca de gentilezas. – É melhor marcarmos e aí vemos quem pode. – Ikki abriu a boca e depois desistiu, soltando um barulho que parecia um riso anasalado.
- Eu quero dar um mergulho. Vem comigo? – Esmeralda esperou o marido levantar antes de sinalizar que iria conversar com ele.
- Também vou deixá-los. – Aiolia anunciou, indo em direção ao outro grupo para chamar sua ruiva.
- Melhor aproveitar enquanto as crianças dormem. – Hyoga estendeu a mão para Eiri. – Que tal jogarmos bola com o pessoal? – perguntou para Seiya e Saori. O moreno se ergueu animado, mas Saori soltou a mão dele.
- Vou caminhar com as meninas. – justificou, afastando-se rápida em direção à dupla que começava a se distanciar pela orla.
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- Não podíamos ter escolhido dia melhor! – Miho sentia a brisa fresca no corpo, vendo a natureza brilhar ao seu redor. – Não está tão quente e as ondas estão calmas. – respirou fundo.
- Concordo. – Shunrei aspirou o cheiro do mar. Acenou para Orfeu, Dohko e Régulus, que saíam da água um pouco a frente. – Senti falta de vocês. Conseguiram ver Éden ontem? – Miho confirmou.
- Ele dormiu conosco no Santuário. – os cabelos curtos de Miho estavam soltos e ela os sentia fazer cócegas na pele dos ombros e do pescoço. – Está tão diferente com Seika, mais aberto e carinhoso, quase como ele era mais novo.
- Sim, parece que estamos conseguindo fechar também as feridas no coração dele. – Shunrei tirou o chapéu e o lenço, deixando à mostra o cabelo curtinho, que ela já conseguia pentear de lado e cobria todo o couro cabeludo. - Souji está melhor? – Miho pedira ajuda com a febre com vômito e diarréia de um menininho de oito anos. – Ele não veio.
- Achamos que era melhor ele se recuperar mais antes de um passeio de dois dias. – pararam ao ouvir uma voz chamando. - Ele ficou muito chateado por não poder conhecer você pessoalmente. – ela parou um instante de respirar ao ver Saori se aproximando.
- Resolvi acompanhá-las. Tudo bem, Miho? Ontem não pude ir ver vocês. – Saori meneou a cabeça, sorrindo.
- Olá, srta. Kido. – Miho fazia questão de tratá-la com formalidade.
- Conseguiu organizar a casa? – Saori acenou a confirmação para Shunrei. – Ainda bem que deu certo antes de você voltar para Tóquio.
- É uma casa pequena e antiga, mas só de estar limpa e com os móveis é uma vitória. – os cabelos lilases de Saori foram cortados com as laterais da frente maiores que as camadas anteriores, repicadas nas pontas. Miho reconhecia que ela era muito bonita. - Ainda vamos fazer uma pequena reforma, apenas para modernizar a cozinha e o banheiro. Na próxima semana, a empresa vai começar. – Shunrei guiou-as para reiniciarem a caminhada. – Se vocês ficassem mais tempo poderiam conhecer, Miho. Seiya me disse que vocês já voltam amanhã.
- Não podemos deixar o orfanato por tanto tempo, senhorita. – o tom de Miho com Saori tinha um toque de impaciência, Shunrei percebeu. Era muito sutil e tinha a ver com o timbre agudo no final das frases, que não estava ali ainda a pouco.
- Estava pensando em conhecer o orfanato. – já a voz de Saori não aparentava nenhuma intenção, embora Shunrei apostasse que a amiga tinha um propósito em estar ali. – Talvez até antes do evento daqui 15 dias. Ou talvez vocês possam me visitar na mansão. Que tal? – as faces de Miho ficaram vermelhas.
- Bem, nós não queremos atrapalhar. – ela gaguejou. – Será muito bom recebê-la, mas o orfanato é um lugar simples, acho que a senhorita não vai se sentir à vontade.
- Miho, vou te ajudar. – Shunrei soltou um riso anasalado. – Não adianta. Quando Saori coloca alguma coisa na cabeça, ninguém segura.
- Muito obrigada pela sua contribuição! Até parece que eu obrigo as pessoas. – Saori reparou que elas, lentamente, passavam da fronteira do guarda-sol rosa. Decidiu ser direta. – Sabe, Miho, eu queria conversar mais com você. Você é a amiga mais antiga e querida do Seiya. Ele fala muito de você e do tempo no orfanato. Vou me esforçar para ficarmos mais próximas. Para mim, é importante que vocês, que são a família dele, estejam perto de nós.
As três caminharam em silêncio, os sentidos preenchidos pelo som e o cheiro do mar, o festival de cores e corpos pela areia e na água, as peles aquecidas pelo sol e refrescadas pela brisa. Saori e Miho sentiam dificuldade de respirar. Uma na expectativa da resposta e a outra numa luta interna entre suas emoções.
- Miho, acredite que eu quero e vou fazer o Seiya feliz. – Saori modulou a voz para a suavidade. – É uma promessa.
Shunrei sentiu a mão gelada da jovem na sua e soube que ela fora pega de surpresa. Com duas frases, Saori dissera tudo que precisava. Miho engoliu em seco, reconhecendo a inevitabilidade daquele momento.
- Ei, gatinhas! Querem comer churrasco conosco? – a voz vinha de algum lugar à direita delas, do meio da multidão.
– Vocês estão sozinhas? – uma outra voz, mais grave, veio da mesma direção.
- Vocês são muito lindas. Podem vir aqui um pouquinho? – Shunrei identificou o dono da voz como o homem alto de bermuda que vinha até elas, seguido de perto por outros três. – O tempero da carne é muito bom.
- Não, obrigada. – Saori ergueu o queixo. – Não estamos com fome. Vamos continuar nosso passeio. – dois dos homens fecharam o caminho à frente.
- Não estamos interessadas. – Shunrei foi categórica, vendo-os se aproximar mais. – Nós estamos no acampamento do Santuário. – apontou para trás, mas não conseguiu se virar sem esbarrar no homem alto.
- O sotaque é de Tóquio. – Miho pensou ter murmurado, mas as risadas lhe informaram que não foi baixo o suficiente.
- Isso mesmo, belezinha! – a primeira voz soou enquanto o homem mais baixo e forte dos quatro se postava de modo a não deixar nenhuma saída para elas. – Estamos hospedados em Enoshima, mas resolvemos nos divertir por aqui hoje e vejo que foi uma ótima ideia. Vocês não são monjas, são? – elas se sentiram examinadas dos pés à cabeça pelos olhos cobiçosos. - Não se vestem como.
- Não se façam de difíceis. Nós queremos apenas conversar. – o homem de sunga e camiseta larga à frente delas disse. – Eu tinha razão, não tinha? Elas são muito bonitas, especialmente essa aqui. – apontou para Miho.
- Nós queremos passar. – Saori disse pesando cada sílaba. Tentou dar dois passos e foi impedida pelo quarto homem, de óculos escuros e camisa florida aberta. Algumas pessoas olhavam curiosas a cena. – O que você pensa que está fazendo? – sua voz indignada.
- Nada demais. Apenas apreciando a paisagem. – o homem passou a mão pelo abdômen definido. Saori franziu a testa. – Sabe, seria sensato se vocês simplesmente fossem conosco.
- Não há nada que eu queira menos na vida. – Miho declarou, dando um passo em falso para trás e quase caindo. O homem de sunga agarrou seu pulso e ela deu um gritinho. – Não encoste em mim! – tentou girar o braço. Saori bateu com a lateral da mão no braço do homem, fazendo-o largar de surpresa.
- Isso é maneira de agradecer? – imediatamente, os outros seguraram os pulsos de Saori e Shunrei.
Ela tentou morder os dedos grossos e levou um tapa que fez sua bochecha sangrar. O anel grande do homem cortara sua maçã do rosto. Saori rilhou os dentes, torcendo o pulso e o corpo ao mesmo tempo que tentava chutar e socar. Miho pisou no pé do homem que a segurava tão violentamente que seu braço parecia prestes a quebrar.
Apesar dos esforços, os quatro eram maiores e mais fortes.
- Soltem a gente agora! – Shunrei falou alto, firmando os pés na areia. Algumas pessoas próximas começavam a olhar para os lados, esperando que alguém viesse resolver a situação, outras limitavam-se a assistir.
- As senhoritas conhecem esses sujeitos? – perguntou um homem de cabelos castanho-claros que acabava de sair do mar com sua prancha de surfe. Os olhos verdes estreitaram ao ver as expressões delas. – Precisam de ajuda? – ele se aproximou, endireitando a coluna.
- Nós estamos apenas nos divertindo! – o homem alto rosnou. – Saia daqui se sabe o que é bom para você!
- Precisa de ajuda, senhorita? – o surfista ignorou os rostos desdenhosos dos agressores, olhando para Miho. Ela acenou freneticamente com a cabeça. Ele deu outro passo para perto. – Soltem elas!
- Desapareça daqui, eu já disse! – o homem se virou completamente para o surfista, empurrando Miho para outro imobilizar. - O que pode fazer sozinho?
- O que vocês pensam que estão fazendo? – Shunrei respirou aliviada ao ouvir a fúria na voz que soou perto, em algum lugar atrás dela. Ela estivera tão focada em sair dali que se surpreendeu e sorriu em meio aos rostos que se viravam do surfista para a direção oposta.
- Soltem-nas imediatamente! – Saori e Miho tentaram ver o dono da voz que raramente assumia esse tom de comando. – Agora!
- Parece que não estou sozinho afinal. – o surfista aproveitou a distração e bateu a prancha no braço que prendia Miho. Ela empurrou o homem para longe e se virou para ajudar as companheiras.
Ao mesmo tempo, Shiryu saltou em cima do que mantinha Shunrei, derrubando-o com um soco na altura dos rins, puxando-a para fora do círculo. Seiya avançou e segurou o braço do captor de Saori, torcendo com facilidade.
- Sabia que esses seus músculos eram de brinquedo. – desdenhou, fazendo o homem ajoelhar ao torcer o braço até as costas.
Saori puxou Miho para perto de Shunrei, as três com os olhos arregalados.
O surfista ameaçou com a prancha o único que ainda permanecia de pé.
- Por que não tentam fazer o mesmo que fizeram com elas? – Shiryu permaneceu de pé junto ao homem, impedindo-o de se levantar e forçando-o a engatinhar para junto dos outros. – Só querem ser os fodas com mulheres? – Seiya riu alto.
- Se eu fosse vocês, desapareceria daqui. – empurrou o homem que imobilizava de cara na areia. Shiryu endireitou as costas, fazendo o dragão se mover. - Ele nunca fala palavrão.
- O que foi que aconteceu? – Régulus vinha apressado.
– Vimos a movimentação. – Kiki o acompanhava. – Eles estavam causando problemas? – os dois pararam ao lado das mulheres. – A senhorita está com um corte no rosto.
- Já está tudo bem. – Shunrei respondeu, limpando o sangue com o lenço.
- Todo ano, esses riquinhos de Tóquio vêm causar na praia. – Régulus comentou, olhando ao redor, talvez esperando ver mais playboys. – Ano passado, alguns tentaram atormentar as minhas irmãs. – um meio sorriso surgiu nos lábios dele ao recordar. – Foi divertido ver o que elas fizeram.
- Deixe-os ir. – Saori se dirigiu a Seiya e Shiryu. – Duvido que se atrevam a sair de perto da churrasqueira agora. – havia um toque de impaciência na voz dela. – Vamos voltar para o nosso acampamento.
Os dois olharam para o surfista, que abriu espaço e os quatro correram desabalados.
- Jabu, é você? – Régulus perguntou, reparando melhor no surfista. – Não sabia que estava de volta!
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A grande fogueira estalava. As crianças admiravam com assombro as fagulhas subirem, dançando pelo ar, cada vez que uma das achas caía.
- Nós precisamos mesmo ir embora? – Kouga perguntou pela quinta vez. – Quero dormir aqui.
- Daqui a pouco vai ficar mais frio. – Yuki respondeu pela quinta vez. – Podemos ficar resfriados.
- Mas o papai tem um remédio que não deixa a gente ficar doente. – Yuuto, cujos olhos cinzentos como os da mãe e da irmã mais velha refletiam o brilho do fogo, argumentou. – Ia ser legal acordar na praia.
- O que será que acontece de noite? – Arya, os imensos olhos azuis observando a movimentação dos adultos em volta, refletia. – Será que alguém mora aqui?
- Talvez aquele cara que voltou com os tios more. – Souma conjecturou, vendo o homem conversando com Teneo, Orfeu e Miho. – Ele tem uma prancha, pode dormir em cima dela.
O acampamento precisava ser desfeito antes do anoitecer, então Mu tivera a ideia de fazer uma fogueira e colocar as crianças em volta, lanchando, enquanto desmontavam e carregavam as bagagens para os veículos. Os adultos se revezavam em verificar se estava tudo em ordem.
- É bonito o pôr-do-sol na praia. Vi lá em Busan e em Jeju, na Coréia. – Ryuho comentou. – Quem sabe, se a gente pedir, eles nos deixem ficar para ver?
- Uma vez a minha família ficou na praia até a noite, mas eu era pequeno e dormi. – Haruto se deitara sobre a toalha, admirando o céu multicolorido do final do dia. – Lembro que era escuro e frio. E que a gente conseguia ouvir melhor o vento e o mar.
- Trouxe mais duas para se juntar a vocês. – Eiri trazia Yuna e Yorie pela mão. – Está tudo bem por aqui? – eles responderam que sim. – Logo iremos embora. Vocês devem estar doidos para tomar um banho e dormir. – responderam que não, fazendo a mulher rir. – Sei que não. Na idade de vocês, eu aproveitava cada minuto antes de voltar para casa.
- Pelo menos, podemos ficar um pouco mais que o pessoal do orfanato. – o comentário de Kouga fez todos acenarem para as crianças que partiam seguindo Miho, Seika, Pavlin, Shion, Mu e Jabu. Éden se destacou, vindo em direção a eles após se despedir da mãe e da madrinha. – Pensei que você fosse com eles.
- Eles vão para o Santuário. – Éden se alojou na mesma toalha do irmão. – Minha mãe disse que é melhor irem antes para se organizarem porque é muita gente. – Souma lhe ofereceu um sanduíche de carne defumada.
- Parece que aquele moço novo vai entrar para o Santuário. – Yuna informou, recebendo risadinhas de Arya, Yuki e Yorie como resposta. Os garotos ergueram as sobrancelhas, sem entender. – Ouvi papai Hyoga dizer.
- E o que tem isso? – Yuuto olhou para os amigos. – Muita gente entra e sai. Começam a treinar e depois vão fazer outra coisa da vida. – as risadinhas aumentaram.
- Acho que a srta. Miho deve ter gostado de saber disso. – Yuki disse, fazendo Haruto e Éden revirarem os olhos.
- Mamãe, podemos ficar para ver o pôr-do-sol? – Ryuho perguntou ao ver Shunrei se aproximar. Ela estava com a maçã do rosto inchada e um band-aid sobre o corte do anel. – Não vai demorar.
- Não prometerei nada. – ela piscou, acariciando a cabeça do garotinho. – Vocês precisam se comportar e quem sabe o que pode acontecer. Vamos precisar de ajuda para organizar as toalhas, pratos e talheres lá na tenda. Vim recrutar vocês.
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A temperatura caía mesmo antes do sol desaparecer. O silêncio e a escuridão tornavam a atmosfera quase sobrenatural. As chamas da fogueira bruxuleavam, colocando as sombras para dançar. A maioria deles se sentava em volta do calor, embora alguns preferissem olhar o reflexo das estrelas e da lua crescente nas águas em movimento perpétuo. Seja para qual cenário voltassem os olhos, o fogo e a água convidavam à meditação. As conversas eram quase desnecessárias e soavam rudes frente à serenidade daquele momento.
Os adultos cuidando de crianças estenderam toalhas sobre os pequenos corpos adormecidos.
- Você não quer ver o que as meninas estão fazendo? – a voz grave soou-lhe no ouvido. Marin escondeu o sorriso no peito de Aiolia.
Os dois estavam deitados em um dos barcos encalhados, depois de colocarem toalhas para amaciar as tábuas do fundo.
- Elas têm mais juízo do que nós dois juntos. – Marin beijou o pescoço e o queixo dele. – Pavlin deve ter ido com Seika e Miho. Yuzuriha estará com Yato e os outros vendo o mar. – sentiu a respiração do marido parar um instante. – Conversei com ela sobre o interesse dele. A sua filha disse para não nos preocuparmos. – sentiu a mão quente de Aiolia mover-se em sua cintura e a outra apertar seus dedos.
- Ainda não sei se aprovo. – Aiolia suspirou, fazendo o corpo dela subir e descer. – Me preocupo que Régulus não tenha outro interesse que não as lutas e Pavlin os estudos. Agora minha caçulinha está querendo ficar com aquele menino. Ele é muito novo para ela! – Marin endireitou-se para beijá-lo longamente. Com todos os deveres no Santuário, essa era a primeira vez em anos que conseguiam aproveitar tantos meses juntos. Aiolia a puxou para ficar inteiramente sobre ele. – Vai me falar que é ciúme de pai. – ela assentiu, seus dedos brincando com os macios cachos dourados. – Você está tentando mudar de assunto? – novo assentimento. Marin se moveu, fazendo um sorriso brilhar nos olhos que refletiam as estrelas.
- É o primeiro ano em que não precisamos cuidar de nenhuma criança ou adolescente. – ela sussurrou, voltando a beijá-lo. – E escolhemos um barco distante do acampamento. – os braços de Aiolia a envolveram. – Você não está com frio? – foi a vez dele rir. Ela sabia que frio era uma sensação desconhecida para o leonino.
- Quer que eu te abrace mais forte? – os lábios dele iam para as bochechas e a orelha, fazendo-a arrepiar. Uma das mãos aventurando-se dentro do biquíni.
- Sempre. – os lábios dela roçaram os dele, os olhos castanho-claros hipnotizando os verdes.
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- Estou cansado. – Yato comentou, encostando no braço de Yuzuriha. Os dois preferiram observar as estrelas à beira-mar. – Não paramos um minuto desde o nascer do sol. – bebeu outro gole do chá com uma pitada de saquê que Ikki lhes dera para aguentar o frio.
- É um dia intenso mesmo. – ela sorriu de leve pelo contato. – Quando eu era criança, não tinha a tenda e nem delimitávamos um espaço nosso. – aceitou o copo com o chá, o líquido descendo quente pela garganta. – Vocês querem? – falou mais alto para o casal à sua direita.
- Melhor não. – Selinsa abanou a mão, agradecendo. Ela e Teneo estavam tão juntos que a mesma toalha de praia fazia às vezes de manta.
- Se não bebermos, teremos que ficar perto da fogueira. – a voz de Teneo tremia de leve. – Estou congelando aqui. – Selinsa apertou-se mais contra ele.
- Não está muito forte, não. – Yuzuriha afirmou, esticando o braço para entregar a garrafa a Teneo. – O sr. Ikki não daria nada alcóolico em demasia para nós. – Yato ergueu as sobrancelhas, duvidando, mas ficou quieto.
Os quatro conversavam aos sussurros, rindo das observações um do outro sobre os acontecimentos do dia, como a partida de futebol. Yato dizia que jamais esqueceria a disputa entre Shiryu e Orfeu e os dribles de Seiya em cima de Shion. A barriga de Teneo doeu de tanto rir ao lembrar quando forçaram Shaka e Mu a entrarem, substituindo Camus e Aiolia. Os indianos não sabiam as regras e em um determinado momento Shaka arremessou a bola com a mão e não aceitou que seu gol fosse invalidado.
- Depois do que aconteceu com as senhoritas, o nosso vôlei ficou desfalcado. – Selinsa comentou, sentindo a mão fria de Teneo apertar a sua, quente. – A Mestra Shaina não deu chance para nenhuma dupla.
- Pena a srta. Miho ter ficado tão abalada. – Yuzuriha finalmente permitiu que o braço de Yato passasse pelas suas costas, alojando-se em sua cintura. – Ela é muito boa. E disseram que a srta. Saori jogava no time da escola.
- Orfeu, que tal tocar alguma coisa para a gente? – Yato aumentou o volume da voz para chegar ao casal à sua esquerda. Demorou para o jovem virar-se para eles, os lábios inchados pelo que se via na luminosidade fraca da fogueira.
- O sr. Seiya disse que íamos tocar juntos hoje, mas Pavlin foi embora mais cedo. – ele comentou, os cabelos azuis-claros despenteados esvoaçando com a brisa marítima. – Estou esperando por ele. – Eurídice passeava uma mão pelas costas largas do jovem e ele acariciava sua coxa e quadril.
- Seria o fechamento perfeito para o dia. – ela disse, feliz. Fora a parceira de Shaina no vôlei e vibrara muito com a vitória. – Até que horas vamos ficar?
- O sr. Milo disse que até acabar a bebida. – Yato respondeu, passando a garrafa com o chá batizado de saquê para Orfeu.
- Pavlin deixou o carro comigo. – Orfeu passou para Eurídice, que bebericou um pouquinho e devolveu. – Podemos ir quando vocês quiserem.
- Orfeu! – a voz de Seiya veio lá da fogueira. O jovem se virou e viu a silhueta do homem acenando com o violão. – Quando você quiser!
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- Acho que atrapalhei algumas coisas. – Seiya comentou para Saori, segurando o riso. – Daqui a pouco eles vêm.
- Tomara que não demorem. – Saori disse baixinho, puxando a toalha para cobrir a cabeça de Kouga. – Estou querendo um banho e uma cama.
- Vai ser difícil levar as crianças dormindo. – ele voltou a abraçá-la, beijando sua bochecha. - Ainda bem que o dono do restaurante vai nos deixar passar.
- Está tão bom aqui, mas a nossa casa deve estar quentinha e o colchão macio nos esperando. – ela falou com a voz manhosa, abraçando o braço dele.
- Fala de novo. – Seiya pediu, os lábios roçando sua orelha. – Diz "nossa casa" de novo.
- Por quê? – Saori questionou, os olhos violeta de soslaio. – Você não escutou?
- Fala de novo ou as consequências serão severas. – ele gostava do efeito que seu tom provocava. Conseguia sentir o arrepio da pele macia sob sua mão.
- Nossa casa. – ela disse mais baixo. – Nossa casa... Uma das nossas casas. – completou, aconchegando-se mais a ele. – Obrigada por ir nos ajudar hoje.
- Obrigado por estar se esforçando para ficar bem com Miho e Seika. – Seiya disse com simplicidade. Riu ao ver a boca dela se abrir. – Eu só pareço desligado... Sabia que você tomaria a iniciativa.
- Quando você for a Tóquio, leve Kouga e Éden e faremos um jantar com a família toda. – ela mordeu os lábios, refreando um sorriso. – Será bacana levar o surfista também. – ele riu.
- Jabu já treinou no Santuário um tempo atrás. Ele e sua turma de colégio. – Seiya apontou para o casal à esquerda deles. – Shun era quase sempre o oponente dele nos treinos.
- Tão bonitinho os três dormindo juntos. – Saori via o trio dormindo bem juntinho à frente dos pais. – Quantos você quer ter? – a pergunta fez Seiya engasgar com o chá.
- Nós nem casamos ainda e já temos um filho. – a frase saiu entre uma tosse e outra, fazendo-a rir. – Está bom por enquanto, não? – Saori o surpreendeu com um beijo carinhoso.
- Vamos ensaiando, então. – sugeriu, voltando a se aninhar nos braços do noivo, ouvindo a respiração próxima ao seu ouvido e os braços apertando-a pela cintura.
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- Amanhã eu quero ficar até mais tarde na cama. – June declarou, sentindo o calor do corpo de Shun às suas costas. – Suspeito que os três também. – o marido riu, apertando mais os braços ao seu redor.
- Assim espero. – a respiração de Shun estava tranquila com o perfume dela misturado ao cheiro do mar entrando suavemente em suas narinas. – Uma manhã de sono seria muito bem-vinda. Depois, podemos preparar as refeições da semana, que tal? Aí teremos um tempinho livre todos os dias. – ela concordou, admirando os casais ao redor da fogueira.
- Eu não estava pensando exatamente em dormir. – June comentou em tom displicente, sendo sacudida pelo riso abafado de Shun. – Sabe que hoje eu ouvi umas mulheres comentando como você está bonito? Pelo que entendi, elas sempre vêm à praia perto de nós para ficarem observando os nossos rapazes. – as sobrancelhas de Shun se ergueram.
- Espero que você tenha dito a elas que não 'estou', eu 'sou' bonito. – ele afastou os longos cabelos para beijar o pescoço dela. – Mas que só tenho olhos para quem planeja não dormir de manhã comigo.
Observaram os garotos se juntarem a eles ao redor da fogueira. Orfeu trazia a lira e começou a dedilhar as cordas ao mesmo tempo que Seiya ajustava o violão.
- Na próxima semana teremos mais amazonas e cavaleiros. – ela disse mais baixinho, cuidando para Yuuto não descobrir as irmãs ao se virar nas toalhas. – E as aulas começam na semana seguinte.
- Estou muito feliz por Ikki e Seika terem acertado que Éden vai estudar aqui. – Shun disse, ajeitando-a melhor nos braços. – Parece que tudo está entrando nos eixos, não é? Ele tem me escutado. Resmungando e protestando, mas ao menos escuta. Quer dizer, não que eu seja o dono da verdade, só que trocar experiências nos ajuda a tomar nossas decisões. – June se virou, deixando os lábios ao alcance dos dele.
- Logo as competições recomeçarão e as equipes precisarão viajar. – ela sentia os dedos quentes passeando pela lateral de seu tronco. – Vamos fazer o nosso melhor enquanto estivermos perto. – sorriu antes de ser beijada.
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- É como se estivéssemos em outra dimensão. – Milo comentou, ajeitando a toalha nos ombros. Os finos cabelos azuis esvoaçavam com a brisa marítima e seus olhos observavam os pequenos grupos ao redor da fogueira. – Não esperava ter essa recepção.
- Eu sempre garanti a você que não haveria problema algum. – a voz de Camus soou um pouco aborrecida, embora houvesse um sorriso discreto nos olhos lilases. – Você nos fez perder muito tempo.
As mãos dos dois se aqueciam no calor um do outro. Não era segredo algum o relacionamento deles no Santuário, embora fosse a primeira vez que andavam como namorados pela praia. Fora um dia agradável, com Camus se divertindo com Yuna e Arya na água e Milo fazendo par com sua conterrânea Eiri no vôlei, depois jogando futebol.
- Dohko tem razão, você é um ótimo avô. – Milo provocou ao vê-lo colocar mais uma toalha sobre as duas garotinhas, que dormiam abraçadas à frente deles.
Camus apenas bufou, voltando a abraçá-lo pelos ombros.
- Aquele senhor idoso não pode tripudiar de ninguém quanto a isso. – de repente, o sotaque francês se tornou perceptível, fazendo o grego se arrepiar. – Além disso, a minha neta é linda. – Milo mordeu os lábios tentando não rir.
- Você quer que eu diga 'como o avô', mas pode esquecer. – Camus sacudiu a cabeça, dando de ombros. Milo aproveitou para continuar a conversa interrompida pela chegada das meninas. – A não ser que você responda a minha proposta. Eu cansei do quarto no Santuário, já disse.
Camus respirou devagar pela boca entreaberta, escutando as primeiras tentativas de sons das cordas de Orfeu e Seiya.
- Não é tão fácil deixar o Santuário. – olhou sério para Milo, os rostos bem perto. – Foram décadas de investimento ali.
- Você só não vai dormir lá. – Camus reconheceu os acordes da música no violão e na lira e sorriu. – Todos os outros têm suas próprias casas. Além disso, com os pedidos de internato aumentando, vai ser bom ter mais espaço.
- Lembra dessa música? – Milo prestou atenção e sorriu também, os olhos azuis faiscando refletindo as chamas da fogueira. – Orfeu atendeu o meu pedido.
Era a música que tocava na estrada entre Tóquio e Kamakura, na madrugada da chegada de Milo.
- Não mude de assunto, Camus.
- Vou conversar com Shion. – ergueu a mão quando Milo abriu a boca para retrucar. – É o máximo que consigo agora. – o sotaque francês retornou e o namorado riu.
- Isso é jogo sujo. – Milo disse, antes de roubar um beijo por cima da mão estendida.
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- Não sabia que eles tocavam tão bem. – Eiri se aninhara entre as pernas do marido, os braços e a toalha ao redor. – Raro ver um jovem tocando lira.
- Bem, os mais velhos um dia foram jovens. – Hyoga quis fazer graça e recebeu uma cotovelada na cintura. – Sim, eu entendi a colocação. Aquela lira é a única lembrança do pai que Orfeu guarda. Quando o pai faleceu, a mãe não conseguiu manter os três filhos. Arya era recém-nascida, Selinsa tinha 7 anos e Orfeu 12. Eles acabaram no orfanato onde Seiya cresceu e num dos passeios, Orfeu ficou no Santuário. Depois veio Selinsa e agora Arya.
- Eles nunca mais viram a mãe? – a loira observou a jovem bem próxima do moreno Teneo. Selinsa tinha um semblante altivo e seguro assistindo o irmão tocar.
- Não sei, mas creio que não. – a voz de Hyoga adquiriu um sutil toque de orgulho. – O Santuário tem esse nome também por ser um porto seguro para quem perdeu tudo o mais.
- É muito interessante que você e Orfeu tenham o mesmo mestre e formas de lutar tão diferentes. – Eiri mudou o rumo da conversa. Olhou para o lado, acenando para Camus e Milo. O escorpiano acenou de volta e o aquariano fez um gesto quase imperceptível com a cabeça. – E Teneo também.
- Um bom mestre não ensina golpes, ele faz o discípulo mostrar toda a sua potencialidade. – Hyoga a abraçou mais, mostrando que percebera a manobra da esposa. – A minha forma de lutar é bem semelhante à do meu mestre porque nossas personalidades são parecidas, mas Orfeu e Teneo têm sua própria maneira de se expressar.
Uma melodia animada começou e algumas pessoas cantaram junto. Houve aplausos e gritos de pedidos. Dohko desafiou Seiya e Orfeu a tocarem uma canção antiga e os acompanhou com palmas e assobios.
- Os documentos de Yuna estão prontos. – Eiri disse, rindo de June e Shaina cantando uma das mais pedidas. – Podemos levá-la para Atenas antes de seus treinos se intensificarem.
- Ótimo. Quando estivermos em Tóquio, vamos providenciar o passaporte dela. – Hyoga assentiu, erguendo as sobrancelhas quando Seiya dedicou a ele um trecho de O Lago dos Cisnes. – Será bom para ela conhecer sua família. Às vezes, sinto que ela está um pouco deslocada das outras crianças. – só conseguia ver a pontinha da cabeça da filha.
- Yuki e Yorie tentam. – Eiri comentou, acenando e batendo palmas pela performance do ballet, agradecendo em nome do marido. – Logo ela vai se abrir mais. Assim que passar definitivamente o medo de ser devolvida. – Hyoga suspirou, beijando o pescoço dela.
- Ela vai conhecer os primos gregos e se esquecerá disso. – Eiri concordou, sentindo os lábios em sua orelha e bochecha.
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Ikki via a eternidade de estrelas e a lua no céu escuro, respirando devagar e profundamente, guardando na memória cada pequena sensação captada pelos seus sentidos. Em seus ouvidos, as ondas se misturavam aos acordes do violão e da lira. O corpinho de Souma subia e descia com o movimento de seu peito, os cabelos finos fazendo cócegas na pele de seu pescoço. No seu lado esquerdo, a cabeça de Esmeralda se apoiava em seu ombro. Em seu braço direito, Éden estava encolhido sob a toalha o melhor que o gesso permitia.
- Você ainda não dormiu, né? – ela sussurrou, roçando o nariz na orelha do marido.
- Não existe a menor possibilidade de isso acontecer. – ele acariciava suas costas, fazendo-a suspirar ocasionalmente. – Não perderia essa noite por nada no mundo.
Esmeralda tocava-lhe o rosto e o peito com as pontas dos dedos, encantada com a serenidade que emanava dele. Sorriu à visão dos três finalmente em harmonia, seu coração expandindo de alegria. Considerava uma vitória pessoal, embora guardasse a opinião para si. Ajeitou a cabecinha do filho e acariciou os cabelos azuis de Éden. Cantarolava as músicas e chegou a levantar para pedir uma que ouvira esses dias num dorama, feliz que Eiri, Selinsa e Eurídice conhecessem. Era uma letra romântica, que ela cantou baixinho para Ikki.
- Vou ensinar algumas latinas para eles depois. – ela afirmou, piscando para ele.
- Será ótimo mudar o repertório deles um pouco. – ele comentou. – São sempre as mesmas. – Esmeralda soltou um riso abafado.
- Seu charme é essa rabugice sem motivo, sabia? – Ikki revirou os olhos, voltando a atenção para o céu.
- Parece que somos tão pequenos, não é? – ela se aconchegou mais a ele, seus dedos brincando com os cabelos rebeldes e despenteados.
- Mas capazes de feitos tão grandes. – ele a apertou mais contra si. – O amor que somos capazes de gerar e tudo que deriva dele é o nosso brilho no universo.
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- Acha que deveríamos voltar? – Shaina perguntou, as silhuetas e a fogueira à distância. Sentava-se nas pernas dele, compartilhando as toalhas para se aquecerem.
- Daqui a pouco. – a cabeça de Dohko apoiada em seu colo. Ele aspirava o perfume em seu pescoço. – Ainda vão demorar a se cansarem da cantoria.
Eles entraram em um dos botes e observavam de longe a movimentação do grupo resistente ao frio e ao sono. As mãos de Dohko a seguravam com firmeza e ela beijava seus cabelos espetados para todos os lados.
- Shunrei parece ter aceitado bem a novidade. – Shaina ouvia a chinesa fazendo dupla com Saori em uma música da adolescência delas. – Me chamou para jantar com vocês.
- Ela gosta de fazer essas coisas. – ele disse, orgulhoso. – Está se esforçando tanto e cresce sempre. – Shaina brincou com os fios castanhos, sentindo a voz grave ressoar em seu tórax.
- Já decidiu contar a ela? – Dohko comprimiu os lábios por um momento. – Não é justo eu saber e ela não.
- Se algum dia ela precisar, eu contarei. – ele garantiu, beijando-lhe o ombro. – Shunrei e Shiryu já têm muito em que pensar. Precisam de paz por um tempo.
- Você chama o seu treino de paz? – ela ironizou, mudando de perna, deixando o braço dele a puxar para perto.
- Tão leve quanto um passeio na praia à meia-noite. – as mãos quentes dele tocavam a pele de sua nuca. – Quer recomeçar? Ainda temos tempo. – sinalizou para o ar, mostrando que as vozes ainda estavam animadas e receptivas às melodias.
Shaina segurou seu rosto com as duas mãos e o beijou até deixá-lo sem fôlego.
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- Consegue levá-lo? – Shiryu perguntou, vendo-a erguer Ryuho com dificuldade. Shunrei sinalizou que sim. Ele levava Haruto com a cabecinha apoiada no ombro.
Terminaram de guardar as toalhas e limpar o local da fogueira, transportando tudo pelo restaurante cujo dono era amigo do sr. Shion. Com os porta-malas cheios, voltaram para levar as crianças. Os clientes olhavam curiosos a procissão inusitada, tentando passar o mais discretamente possível.
- Vou colocar uma toalha para segurar os pescoços deles. – Shunrei entrou no banco de trás, ajeitando também os cintos. – Eles estão tão cansados que nem ressonaram. – comentou, procurando se mais alguém precisava de ajuda.
- Vamos esperar para ver se cabem todos. – Shiryu também observava a movimentação nos carros.
Os primeiros a sair foram Shun e June. Yorie acordara e chorara tanto que despertara os irmãos, mesmo assim o casal acenou animado para Shiryu e Shunrei ao passarem.
Hyoga e Eiri levaram Camus, Milo e a pequena Arya.
Orfeu e Yato terminaram de organizar as caixas no bagageiro do carro de Aiolia e também partiram com Selinsa, Teneo e Eurídice. Saori fez questão que Aiolia, Marin e Yuzuriha fossem com ela e Seiya.
Dohko terminou a conversa com o proprietário do restaurante com uma reverência.
- Realmente não tem problema, srta. Shaina. – Shunrei afirmou. – Não sei porquê fizeram tanto mistério com algo assim. – havia um tom de entusiasmo em sua voz. – Se eu tivesse sabido antes, já teria preparado o quarto melhor.
- O que está havendo? – Dohko chegou, sinalizando para entrarem no carro.
- Estou dizendo que não há problema na srta. Shaina ir conosco porque ela vai dormir lá em casa. – Shunrei informou, segurando o riso com o rubor que subiu no rosto dos dois. Dohko se recuperou primeiro, dando de ombros e piscando para Shaina.
- Mestre, o senhor vai com Ikki. – Shiryu voltou, quebrando o constrangimento. – Vamos? – insistiu para entrarem nos carros. - Foi um bom dia, não foi? – perguntou ao se colocarem em movimento.
- Do início ao fim. – Shunrei pousou a mão em sua coxa. – Nós estávamos precisando desse dia. – sorriu para o noivo.
- Como está o rosto?
- Ainda um pouco dolorido. Chegando em casa, vou passar um antisséptico. – ela o viu respirar fundo. – A srta. Shaina com certeza já teve ferimentos maiores do que esse, não teve? – se virou para trás, tentando mudar o rumo da conversa.
- Claro, mas todos em treinamentos ou competições. – os cabelos verdes esvoaçavam em torno do rosto branco com o vento que entrava pela janela. Os olhos da amazona se viraram para a chinesa. – Não se preocupem, não vai ficar nenhuma marca.
- Não é isso que me preocupa. – Shunrei disse, apontando para Shiryu com as sobrancelhas. – Vai ficar inchado por um dia ou dois, mas logo vai sumir.
Shaina franziu a testa sem entender.
- Ela quer que você diga que não tem problema nenhum, Shaina. – o tom irônico da voz de Shiryu fez Shunrei morder os lábios. – Realmente não há problema nenhum, mas não deixo de ficar bravo com o comportamento daqueles sujeitos.
- Ele disse palavrão, senhorita. – Shunrei disse, meio rindo, tocando o ombro do noivo. – Se não fosse o Seiya, teria batido neles. – isso fez Shaina se interessar.
- Como diz Shion, as maravilhas do mundo não têm fim. – a amazona ajeitou o corpinho de Ryuho, que deslizara no banco. – Há alguns anos, seria exatamente o oposto. – Shunrei teve a impressão de uma mudança no olhar de Shaina. – Realmente não tem problema eu ficar na casa de vocês? Posso ficar no Santuário e dizer a Dohko que eu não quis ir...
- Não. – Shunrei e Shiryu disseram juntos.
Dohko já os aguardava com o portão da garagem aberto. Ele e Shiryu levaram os meninos para o quarto.
- Pronto. – ele suspirou minutos depois, fechando a porta. – Agora posso dormir até depois de amanhã?
- Tomando banho, pode fazer o que quiser. – Shunrei retrucou, aparecendo com uma camiseta dele que atingia o meio das coxas. – Vem, eu penteio seu cabelo para tirar a areia.
Ela preparara a banheira com água quente e carbonata de cedro (2) e ele gemeu de gratidão. Aquilo tinha o efeito de relaxar todos os músculos do corpo.
- Deixei duas no banheiro do Mestre Dohko. – ela informou, piscando para ele
Shiryu tirou a sujeira no banquinho de banho e se deixou mergulhar ali, ficando só o nariz e os olhos de fora.
- Entra aqui comigo. – sua voz já estava lenta quando a chamou depois que ela limpou e prendeu seu cabelo com grampos.
Shiryu esfregou suas costas e ombros, como ela fizera com ele, acomodando-a por fim encostada em seu peito.
- Não podemos dormir aqui. – Shunrei conseguiu dizer com o raciocínio embotado.
- Infelizmente, só podemos fazer isso por enquanto. – o cérebro dele também não estava funcionando direito. Ela riu.
Nenhum dos dois se lembrava como, mas acordaram na cama pela manhã.
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(1) Chi - significa "ar ou sopro". Na Medicina Tradicional Chinesa, é a força vital e a medida final da vitalidade de uma pessoa.
(2) Carbonata – pastilhas de banho com várias fragrâncias. Muito populares no Japão. Os efeitos na água quente são os sentidos por Shi e Shu mesmo.
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Olá!
Gostaram desse episódio? Trabalhar com tantos personagens juntos é um desafio e fiquei parada aqui muitos meses. Ainda bem que consegui desenrolar esse novelo... rsrsrs!
Me falem aí qual o casal preferido de vocês.
Beijos e obrigada por lerem!
Jasmin Tuk
No próximo episódio:
- Qual é a ocasião? – Shunrei prometera não perguntar, mas ele não se aborreceu. Shiryu a abraçou.
- Você está mais linda. – ele sussurrou, sentindo o perfume da nuca dela. – Quero apenas passar um tempo nós dois. – abriu a porta do carro e estendeu-lhe a mão. – Confia em mim? – o sorriso dela ficou maior. – Fiquei esperando o momento certo e, como ele estava demorando, resolvi criar um.
