EPISÓDIO 13

Singapura, a rica cidade-estado situada numa ilha no sul da Malásia, ficava a 7h30 de vôo de Tóquio e figurava em qualquer lista de destinos turísticos asiáticos por ser tão singular, muito avançada quanto à qualidade de vida e uma das maiores economias do mundo. Era um dos Tigres Asiáticos. Os arranha-céus mais extravagantes que qualquer um dos dois já vira estavam no pequeno território da cidade, o que contrastava com a paisagem bucólica de Kamakura.

- Eu nem tenho roupa para um evento desses. – Shunrei disse, admirada com a grandiosidade e a criatividade investidas já no aeroporto Changi.

Ela estava decidindo se o que mais a impressionara fora o teto-redoma de placas de vidro, que formava um cone no meio e por onde corria uma cachoeira de 40 metros de altura que caía no centro de uma floresta tropical; ou se foram os pisos e a distribuição das lojas, que faziam esquecer que estavam em espaço interno.

- É como se estivéssemos numa colônia humana no espaço. – Shiryu concordava que a ostentação ali passara de qualquer limite. – Naqueles filmes de ficção norte-americanos.

Seguindo o conselho de Lee Kang e Moon Cha Young, eles estavam com os celulares a postos para filmar e fotografar, o que fizeram sem pressa de sair. Após as longas horas no avião, foi bom poder caminhar sem compromisso pelo lugar bastante movimentado.

Seria apenas uma semana e então a rotina se tornaria mais intensa ainda, com a proximidade das competições aumentando as horas de treino de Shiryu e os compromissos de Shunrei no hospital e no Santuário cada vez maiores. Por isso, eles caminhavam de mãos dadas, com as malas rodando atrás de si, animados com os novos ares.

Shunrei observava a paisagem pela janela do táxi, querendo capturar o máximo de informações visuais possível. Ela sabia que Singapura era um dos centros mundiais de arquitetura moderna e mesmo assim não estava preparada para os edifícios futuristas mesclados à arborização e construções que pareciam ter séculos de história.

- Lua-de-mel? – o motorista perguntou, seus olhos castanhos observando-os pelo retrovisor. Shiryu confirmou. – Coréia ou Japão?

- Um pouquinho dos dois. – o japonês informou, o tom de voz descontraído. – Índia? – o motorista acenou que sim, embora não precisasse, pois, a decoração do veículo falava por si. O painel tinha uma estatueta do casal Vishnu e Lakshmi (1) e outra de Ganesha (2) e uma bandeirinha indiana. Shiryu emitiu um meio sorriso, prestando atenção na estrada, com palmeiras e árvores contrastando com o céu azul sem nenhuma nuvem.

- Pode nos indicar lugares para visitar, senhor? – Shunrei perguntou, a janela aberta para sentir a brisa morna no rosto.

- Vários! – o homem, que aparentava ter por volta de 50 anos, começou a listar nomes de lugares, de restaurantes e de bairros imperdíveis. – Little Índia e Chinatown para compras mais baratas e templos religiosos e o centro para presentes mais luxuosos. Precisam conhecer também a ilha de Sentosa. Muitos locais para recém-casados. – ele entregou um mapa onde os principais pontos turísticos foram sinalizados e vários folders de atrações e locais para comer.

A recepção do hotel Marina Bay Sands era enorme e parecia uma estação de trem de tão movimentada. O pé-direito altíssimo e o formato curvo da construção eram necessários para segurar no topo a imensa estrutura em forma de navio que unia os três edifícios do que, mais que um hotel, era uma verdadeira cidade. Havia as acomodações, restaurantes, spa, cinemas, cafés, lojas das mais famosas e caras marcas do mundo. E jardins, plantas e água em todos os lugares.

- Nem sei o que falar para Lee Kang e Cha Young. – Shunrei se aproximou da parede de vidro com vista para os Jardins da Baía e, mais ao longe, o Oceano.

Sobre a mesa da pequena sala-de-estar, a título de boas-vindas, uma bandeja com frutas, balde de gelo com uma garrafa de champanhe e pequenos doces lilases, brancos e vermelhos em formato de coração, que ela descobriu pelo olfato serem de lavanda, jasmim e rosas.

- Muito obrigado. – Shiryu despediu-se do carregador, suspirando ao fechar a porta. A visão da esposa, destacada na paisagem magnífica, o fez sorrir de contentamento. – Eu sei exatamente o que dizer a eles. – em cinco passos a alcançou, abraçando-a por trás. – Mas terão que esperar porque minhas prioridades são outras no momento. – sua voz grave provocou choques nas extremidades do corpo dela.

Os lábios quentes percorriam a pele de sua nuca e as mãos puxaram a camiseta para fora da calça jeans, entrando e procurando o fecho frontal do sutiã. A respiração de Shunrei pesou pela boca entreaberta. Ela ergueu os braços, tentando alcançar o rosto do marido com os dedos, sentindo a excitação crescente dos dois ao moverem lentamente os corpos enquanto continuavam admirando as estruturas futuristas dos Jardins lá embaixo.

- Ela me disse que a roupa de cama parece feita de nuvens. – Shunrei conseguiu sussurrar, sua mente ficando úmida com as mãos quentes massageando seus seios e o corpo rígido pressionando cada vez mais o seu. O riso abafado fez seu corpo todo arrepiar.

- Sou a favor de fazermos um teste. – Shiryu beijava e lambia seu pescoço, esfregando seu rosto nos cabelos macios, lutando para controlar seu desejo de arrancar as roupas deles e tê-la ali na janela. Ela já apoiava as duas mãos no vidro, seu quadril o provocando lentamente. Ergueu-a nos braços, parando ao lado da cama larga. Os dois tiraram as camisetas da viagem.

- Me deixa começar dessa vez. – ela pediu antes que ele pudesse tomar a iniciativa. Despiu-o da calça jeans escura e da cueca box, empurrando-o para sentar e se alojando entre suas pernas. – Estou vendo que estive fazendo algo de certo aqui. – disse, examinando-o atentamente.

- Não consigo esconder nada de você. – ele adorava a expressão dela nesses momentos, o rosto vermelho e o olhar de quem planeja algo muito importante. Gemeu longamente quando ela começou a lambê-lo, as mãos delicadas acariciando o interior de suas coxas.

- Ele vai ficando maior e mais quente. – Shunrei comentou, envolvendo-o com a boca e passando a língua pela região mais sensível, encorajada pelos gemidos e sons roucos de Shiryu. Ele acariciava sua cabeça, indicando como queria que ela fizesse. – Assim está gostoso? - seu corpo começou a reagir aos estímulos cada vez mais intensos. Quando ele começou a mover os quadris para frente e para trás, ela sabia que ele tentava a todo custo ser gentil e respondeu acelerando os seus próprios movimentos.

Ela sentiu o orgasmo forte, os músculos tremendo sob sua mão e ele latejar em sua boca. O cheiro pungente e lento dele a deixou tão inebriada que se assustou com as mãos que a puxaram para cima e a despiram antes de a deitarem em meio às nuvens.

- Me fala o que você quer. – Shiryu a provocou, roçando os lábios nos dela e uma mão passando entre as pernas, tocando-a e fazendo-a arquejar. – Aqui é tão úmido e macio.

A expressão dele tinha pouco a ver com o homem sensato que as outras pessoas viam. Sua boca exibia um meio sorriso, as faces vermelhas e os olhos a ponto de fazer algo muito travesso. Shunrei esperava que ninguém mais o visse desse jeito.

- Você me deixou assim. – ela o puxou para um beijo com os lábios sensíveis e trêmulos. – E não chegamos sequer à metade do nosso primeiro dia. – ele riu, rolando por cima dela.

- Então, vou ter que assumir a responsabilidade.

Muito tempo depois, os dois ofegavam e uma fina camada de suor cobria as peles marcadas por apertos e fricções.

- Quer tomar banho primeiro? – Shiryu ofereceu, assistindo as pupilas contraírem nos olhos azuis. Sua mão descansava abaixo dos seios, acompanhando a subida e descida da respiração dela.

- Pode ir. – Shunrei enrolava uma mecha dos cabelos espessos no dedo, vendo o contraste da pele clara de sua mão com a morena do braço dele. – Demora mais tempo para secar essa peruca.

Esticou-se na cama, espreguiçando-se como uma gata satisfeita quando ouviu o som de mensagem recebida. Pegou o celular na mesinha de cabeceira e era um número desconhecido.

Uma sequência de três fotos:

# Um menininho de uniforme escolar, atravessando a rua.

# Dois homens num ringue de luta, sem as uwagis.

# Três cabeças de peixe cobertas por larvas.

Ela piscou repetidas vezes, seu coração voltando a bater descontrolado, embora não sentisse prazer algum naquele momento. Clicou no número, procurando alguma informação sobre o remetente, mas não encontrou nada. Sentiu o sangue bater com força atrás de seus olhos arregalados. Fechou o aplicativo e procurou nos contatos. Nada também. Abriu de novo. O menininho parecia Ryuho. Ampliou as imagens para ver se havia algo escrito.

Seus olhos dardejaram ao redor do quarto. Aguçou os ouvidos, mas o único som era do chuveiro. Seus braços perderam a força quando um quarto arquivo apareceu. Era um vídeo sem som ou legenda, apenas mostrando em loop um cutelo que subia e descia, separando corpos e cabeças de peixe, empurrando-as para uma bacia.

"O que é isso?" Sua mente tentava encontrar explicações.

- Prontinho. – Shiryu voltou com a toalha amarrada na cintura, secando os cabelos com outra. Sua voz a fez pular na cama. – O chuveiro parece uma cachoeira, você não vai querer sair de lá... O que houve, Shu? – aproximou-se do rosto pálido.

Nos segundos em que ela o olhou e voltou para o celular os arquivos foram excluídos. Ela abriu e fechou a boca, decidindo em uma fração de momento.

- Não foi nada, algum engano. – fechou o aplicativo antes que ele pudesse ver qualquer coisa, recompondo-se rapidamente. – Estou morrendo de fome. Vai escolhendo onde vamos almoçar, por favor. – beijou a bochecha dele, correndo para o banheiro.

Suas mãos tremiam levemente e ela precisou enfiar a cabeça embaixo da cascata que era o chuveiro para raciocinar.

"Era um engano. A pessoa viu que era engano e apagou as mensagens... Não pareciam os meus garotos, isso é coisa da minha mente traidora." Lavou os cabelos e o corpo repetindo as frases até se acalmar.

- Pensei em comermos algo por aqui mesmo e passearmos pelos Jardins, até a barragem. – o moreno disse ao vê-la com o turbante de toalha na cabeça. A simples visão dele numa calça preta e camisa azul-escura a fez sorrir. Os cabelos ainda úmidos atados por uma fita preta no meio das costas e os pés descalços. – Como é nosso primeiro dia, não quero forçar demais a barra.

- Você acha que eu vou deixar você sair com essa roupa? – ela ergueu as sobrancelhas, fingindo-se de ofendida, postando as duas mãos na cintura. – Vi os olhares sorrateiros para o meu marido no saguão. E ainda vai colocar os óculos? – notou o acessório pendurado no botão da camisa, balançando a cabeça em negação.

- Espero que você me proteja de qualquer ataque. – observou-a vestir um macacão branco com estampas de pequenas flores coloridas, uma blusinha branca e pentear os cabelos curtos, passando seu costumeiro batom cereja. – Se bem que talvez eu tenha que lutar com um ou dois pela sua honra. – ele pegou a carteira e o celular. – Vamos?

Ela assentiu, checando que as imagens continuavam apagadas antes de guardar o aparelho na mochila. Seguiu seu marido pela porta afora, decidida a viver uma verdadeira lua-de-mel.

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- Parecem estar se divertindo. – Shaina comentou, vendo o vídeo por cima do ombro de Dohko.

- Sim. – ele sorriu para os acenos de Shunrei antes de embarcar para algum passeio. – Sem nenhuma preocupação.

- Eles estão andando de helicóptero? – Haruto, sentado do outro lado de Dohko, via boquiaberto as fotos e vídeos curtos enviados para o celular do adulto.

- Acho que eles estão dentro de uma garrafa gigante. - Ryuho voltara o vídeo várias vezes, abismado com os pais voando sobre uma mata fechada.

- Chama-se teleférico. – Dohko procurou uma explicação. – É como se, ao invés de usar as escadas para descer do quarto até aqui, vocês tivessem uma cabine que fosse até lá.

- É como um elevador, Mestre? – Ryuho perguntou, feliz e curioso. Shaina riu, levando as tigelas do jantar para a cozinha.

- Isso!, um elevador. – ergueu as sobrancelhas. – Mas, que se movimenta suspenso por um cabo e não em linha reta. Quando formos a Enoshima vamos andar em um, ok? – olhou para os dois garotinhos que assentiram, encerrando a sessão fotos e vídeos da noite para continuarem os deveres de casa. – Vou ajudar a srta. Shaina com a louça. Se precisarem de ajuda, me chamem. – novos assentimentos.

Era a segunda noite da viagem dos pais e Ryuho estivera ansioso por notícias. As fotos e o vídeo do passeio o tranquilizaram.

- E acabou o medo de Shunrei estar doente de novo. – Dohko comentou, colocando as sobras do jantar em potes e guardando na geladeira. – Ela fez questão de enviar muitas fotos porque sabia que ele ficaria desconfiado. – Shaina balançou a cabeça, um riso abafado ao se virar para a pia cheia de tigelas e louças.

- Precisa tomar cuidado com essa supervalorização. – Dohko franziu a testa, encostando na pia de braços cruzados ao lado da namorada. – Ela só enviou as fotos mais bacanas.

- Você nunca foi ciumenta.

- Vocês não percebem o quanto estão expondo a garota desse jeito. – ela cortara os cabelos verdes mais curtos e repicados, acentuando seu perfil esguio e elegante. Ele gostava da curva de seu pescoço e do formato do queixo. – Já conversamos sobre isso. Por mais que Shaka seja bom, ela não tem treinamento. – olhou para o rosto sério de Dohko. – Nós estamos enfrentando gente como Behemoth e Minos, sem falar nos Solo.

Ele soltou o ar todo de uma vez, bagunçando os cabelos castanhos e exibindo os músculos definidos que ela tanto apreciava no processo.

- Shion acha que a deixarão em paz e eu concordo com ele. – Shaina franziu os lábios. Aprendera a gostar da chinesa e esperava que a insistência em alertar o namorado não o indispusesse consigo.

- Os Solo talvez, mas os outros, não. – Shaina enxugou as mãos e cruzou os braços em frente a ele. – Eles já perceberam que ela é um ponto que pode desestabilizar o Santuário, justamente por declarações como as suas e as de Shiryu. Para não falar no efeito dela sobre Julian Solo.

- Eles estão seguros em Singapura. – Dohko afirmou, entendendo aonde ela queria chegar. - Mayura ajudou nisso, como fez nas investigações na Grécia. Dessa vez, estamos melhor preparados. – tocou o braço de pele clara da Amazona de Ofiúco. – Com o retorno dos outros, estamos mais fortes. Shunrei não pode carregar um fardo tão pesado só por se envolver conosco.

- Cada um tem um destino, Libra. – o tom dela era severo, mas ele já se acostumara, depois de tantos anos de conhecimento. – Cada um tem uma vida que precisa ser vivida. Foi o que você me disse quando resolveu fazer sua peregrinação pelo mundo, lembra? – ele confirmou. – Se vocês pararem de fazer propaganda do qual importante Shunrei é para vocês, já vão colaborar com ela. Não se esqueça que da última vez eles colocaram espiões ao nosso redor. – cutucou seu peito com o indicador fino. – Você é o Cavaleiro do equilíbrio e da justiça. Não subestime e nem superestime ninguém em público.

- Mestre Dohko, terminamos. – as vozinhas dos meninos o chamaram em uníssono.

Ele deu um selinho nela.

- Por isso mantenho você perto de mim. – piscou, fazendo-a sacudir a cabeça. – Vou conversar com os dois quando voltarem. Está na hora deles saberem algumas coisas.

Foi corrigir a lição dos 'netos'.

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- O que estão aprontando por aqui? – Shun apareceu na porta do quintal, estranhando o silêncio dos cinco. Encontrou-os, como esperado, apreciando a novidade da casa: uma mamãe gata e seus seis gatinhos. Os filhotes tinham pouco mais de uma semana de vida e as crianças tratavam a família felina como um tesouro precioso. – Yuki, lembre-se do que conversamos, tudo bem? – a miniatura de June assentiu, repetindo para os outros as regras para manusear os animais. – Yorie, sem apertar. – a miniatura de Shun assentiu, um dos filhotinhos no colo. – Olhem para mim. – os cinco pares de olhos atenderam à ordem. Shun escolheu sua voz mais grave e séria. - Eles são pequenininhos e frágeis e a mamãe não gosta que peguem os filhotes por muito tempo. Pensem que estão lidando com bolinhas de sabão.

Quando teve certeza de ser obedecido, voltou para o sofá, ao lado da esposa.

- Acho que vocês levarão um ou dois. – sentenciou para o casal à frente. – Éden e Souma foram hipnotizados.

- Desde que Yuuto contou a eles, não nos deixaram em paz para ver com os próprios olhos. – Esmeralda confirmou, rindo da impaciência dos meninos. – Na minha família sempre tivemos animais em casa. Acho que não fará mal eles terem um bichinho. – olhou para o marido, que meneou a cabeça.

- Veremos. – Ikki sentenciou, querendo soar definitivo e conseguindo uma chuva de risadas em resposta.

- Acho que daqui alguns dias teremos mais um avô de gato. – June comentou, servindo mais refresco para eles. – Agora que os treinos para os campeonatos começaram para valer, vai ser bom para eles terem os gatinhos para se ocupar... Como foi a ida a Yamagata (3), Esmeralda?

- Uma experiência e tanto acompanhar a colheita do açafrão-bastardo. – a loira trouxera saquinhos da especiaria para distribuir aos amigos. – É uma tradição comovente. Essa blusa é tingida com o açafrão. O trabalho do pessoal da cooperativa é bonito, de respeito ao modo antigo de cultivar e colher. Foi uma boa despedida das pautas culturais. – ela piscou para a cunhada. – Agora vou entrar com tudo nas competições esportivas. Já consegui contrato com dois veículos mexicanos e um colombiano e vocês serão os primeiros entrevistados. – apontou para o trio.

- Eu sou só o médico. – June riu da declaração do marido. Já o alertara da disposição de Esmeralda.

- Vai me contar tudo sobre as receitas que os fazem não ficarem gripados mesmo treinando em baixas temperaturas. – Ikki emitiu uma risada abafada.

- Imaginem a minha posição de não poder dizer que estou ocupado e dispensar a repórter enxerida. – ganhou um tapa no ombro. – Tomem cuidado ou ela vai revelar até nossos golpes secretos... Ela já andou conversando longamente com Milo e Aiolia e os dois são boca-aberta. – June se engasgou de tanto rir.

- Eu falo com você, cunhada.

- A comissão da Federação virá na próxima semana inspecionar o ambulatório. – Shun suspirou. – Pedi que viessem quando Shunrei estiver presente também. E a equipe precisará ser maior do que nas competições anteriores, para acompanhá-los nas duas cidades das etapas iniciais.

- Papai, - Éden entrou pisando com cuidado. – olha que bonitinho. – os enormes olhos verde-água se derretendo pelo gatinho frajolinha que miava em seus braços.

- Ele não quer mais descer do colo, tio. – Yuuto comentou, mostrando as garrinhas fincadas na camiseta do primo.

- A gente pode ficar com ele? – Souma apressou-se a dizer, fazendo carinho no corpinho enroscado.

O gatinho encarou Ikki com os olhinhos cinzentos e miou, como se pedisse também.

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O restaurante grego estava cheio e barulhento, cheirando a comida suculenta e descontração.

Passaram o dia passeando por Sentosa, uma das pequenas ilhas que formavam Singapura, e agora seguiam a recomendação do motorista indiano, deliciando-se com a culinária mediterrânea.

- Jamais esperei encontrar tanta diversidade num lugar tão pequeno. – Shunrei montava diligentemente azeitonas, queijos, tomates, manjericão fresco e diferentes tipos de carnes sobre pãezinhos pita e oferecia para Shiryu.

Os dois escolheram se instalar de frente para a vidraça de onde viam o show de luzes do Wings of Time e ficaram lado a lado, bem juntinhos.

- Uma coleção de todas as culturas e partes do mundo. – Shiryu concordou, mais bronzeado depois da tarde à beira-mar. Depositara as sacolas com os presentes e lembrancinhas entre os pés, testando se gostava dos sabores inventados pela esposa. – Se o Mestre visse isso, me faria passar por um detox só de água e folhas amargas. – os dedos de Shunrei brilhavam de azeite.

- Não vou falar nada. – ela piscou, colocando mais um mini-sanduíche na boca dele. – Você passou o dia em intensa atividade e carregou esse monte de embrulhos e mochila, precisa se alimentar bem.

- Só eu? – ele ergueu a sobrancelha, vendo a divisão discrepante. A cada três porções para ele, ela fazia uma para si.

- Estou comendo, não se preocupe. – Shunrei desviou os olhos para as luzes coloridas que desenhavam estruturas no reflexo nas estruturas brancas da praça. Os dedos do marido entrelaçados nos seus.

O segundo dia em Singapura fora pura diversão.

Andaram de teleférico, de trem, mergulharam nas águas mornas do oceano. Ela ficara boquiaberta com os imensos tanques do Sea Aquarium, tirando dezenas de fotos com os animais marinhos iluminados pelo azul das luzes. Os túneis transparentes, como se caminhassem dentro da d'água, os deixava atônitos. Pareciam crianças no Universal Studios, gritando na montanha-russa e tirando fotos com os pinguins de Madagascar.

Shiryu realizara o sonho de praticar mergulho contemplativo, deixando Shunrei aflita ao demorar além do tempo para voltar à superfície, animadíssimo com a experiência. Aproveitaram a privacidade das palmeiras próximas à praia para namorar, os beijos e carícias antecipando o que viria à noite. Ele a convencera a irem ao túnel de vento, de onde vinha a foto dos dois se beijando em pleno ar que enviaram aos amigos naquela tarde.

A última parada antes de voltar ao Marina Bay era o show de luzes. De repente, num momento de explosões mais claras, ela percebeu alguém a olhando fixamente, piscou e a pessoa desapareceu.

"Tenho certeza de que já o vi antes." Procurou discretamente e não viu o homem de novo. O susto a despertou. Quase ao final da apresentação, novamente olhos voltados para ela. "Mas esse é outro." Inclinou-se sobre a mesa e o homem já não estava mais lá. Franziu a testa, instintivamente apertando a mão de Shiryu. Ele beijou o dorso e apoiou-a na coxa, concentrado no show que agora era acompanhado por músicas instrumentais chinesas.

Os olhos azuis procuraram na multidão e não encontraram nada, o que não a fez se acalmar. Engoliu em seco, tentando descobrir de onde conhecia aqueles rostos.

- Está muito escuro. – falou em voz alta sem perceber.

- Assim que terminar, nós iremos. – Shiryu respondeu sem tirar os olhos da apresentação. – Você deve estar cansada. – ela negou, não querendo transparecer a inquietação que sentia.

- Aqui está bom. – ele passou o braço por seu ombro e a puxou para perto. – A comida foi realmente pesada e me deu sono.

Logo que as luzes apagaram, após uma explosão de fogos de artifício que iluminou toda a praça, a multidão se dispersou e ela procurou algum rosto familiar. Esperaram o movimento diminuir para pedirem a conta e sair sem alvoroço.

- Esqueceu alguma coisa, Shu? – Shiryu estranhou-a olhar para trás algumas vezes enquanto caminhavam até a estação teleférica.

- Não, não é nada. – ela se apressou a dizer. – Pensei ter visto alguém conhecido, mas com certeza é por causa do sono... Você viu alguém conhecido ali no restaurante?

- Não, não vi ninguém. – ele olhou em volta. Muita gente seguia o mesmo caminho para voltar à ilha principal. – Quem poderia ser?

- Não consigo lembrar... Deve ser coisa da minha cabeça. – enlaçou o braço do marido, querendo tirar aquela sensação do peito.

No hotel, outra garrafa de champanhe gelada os aguardava, com mais docinhos de flores em formato de coração. Os dois iniciaram as carícias ainda no banho e terminaram na cama, se amando várias vezes até adormecerem nos braços um do outro. O cansaço do dia não impediu que os corpos se procurassem e se misturassem em meio à maciez das nuvens.

Com o dia quase amanhecendo, Shunrei abriu os olhos, completamente desperta.

"Lembrei!" lutando contra sua vontade, saiu debaixo do edredom e do abraço de Shiryu, sentando-se no chão com o celular para procurar fotos do evento da Federação na internet. Após vários minutos, suspirou, sem conseguir localizar os homens que, agora ela sabia, havia visto lá. "Era tanta gente." Resolveu pedir ajuda e digitou uma mensagem com as descrições para Eiri e Esmeralda. As duas foram as que estiveram com ela por mais tempo e teriam maior probabilidade de também terem visto. "Preciso dormir."

Esfregou os olhos, ciente do dia repleto de atividades que Shiryu planejara para eles. Procurou na geladeira o terço final da garrafa de champanhe e bebeu um grande gole. Quase não se alimentara por estar enjoada e o álcool fez efeito rápido.

- Me abraça. – pediu baixinho, sendo prontamente atendida.

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- A reforma foi rápida. – Eiri comentou, entrando na pequena cozinha cheia de utensílios e armários. – Ficou excelente!

O cômodo fora ampliado para comportar os eletrodomésticos maiores, como a geladeira de duas portas e os fornos elétricos, ganhando uma estrutura moderna, embora Saori pedisse para manter alguns charmes tradicionais, como o fogão a lenha que se ligava ao ofurô no banheiro ao lado, e a bomba d'água fora da porta que saía para o quintal. Os dois agora eram automáticos. A parte sanitária continuava separada do quarto de banho, com seus dois ofurôs e o espaço para a higiene inicial sendo complementados pelo chuveiro.

- Era o que realmente precisava de uma repaginada. – Saori respondeu, terminando de mostrar as mudanças mais significativas no pequeno bangalô. – No restante, foi apenas reforçar o assoalho, trocar alguns painéis, essas coisas.

- E ela supervisionou tudo de Tóquio. – Seiya via as crianças correndo ao redor da casa. Por ser em estilo tradicional, a movimentação dos painéis externos permitia que se visse grande parte do extenso terreno onde fora construído. – É impressionante como a noção de dentro e fora de casa muda com essas paredes móveis.

A pequena residência ganhara também paisagismo profissional e uma garagem para dois veículos, que fora inteligentemente escondida por arbustos e um telhado verde. Por decisão do Conselho da Fundação, também foram instalados equipamentos de vigilância e havia o serviço de seguranças 24 horas, como em todos os locais onde a presidente Kido estivesse.

- Foi de casinha do interior a miniatura de mansão. – Hyoga concordou, acompanhando os demais para se sentarem na sala, que recebia uma brisa refrescante àquela hora. – E ainda conseguiram fazer os dois quartos aqui embaixo. – os painéis que separavam os cômodos íntimos estavam abertos para o ar circular.

- Deixamos o sótão para Kouga brincar ou quarto de hóspedes. – Saori indicou a cordinha que puxavam para a escada surgir. Depositou a jarra de suco de limão e hortelã junto com as tigelas de petiscos, alojando-se ao lado do noivo.

- Hyoga estava certo, tem uma energia de paz muito grande aqui. – Eiri balançava as pernas para fora da varanda.

- Mamãe! – Yuna acenou para ela antes de se arrastar entre os arbustos. Arya e Kouga a seguiram, em silêncio planejado.

- Quisemos fazer um lugar estimulante para Kouga e acabamos com uma casa no campo de revista. – Seiya brincou. – Acho que a empresa da reforma fez propaganda porque Saori já recebeu vários pedidos para fotografarem.

- E quando será o casamento? – Hyoga provocou, lembrando das reportagens que saíram após o evento de estréia do Campeonato Internacional.

- Deixa o Shiryu voltar que vamos resolver isso rapidinho. – Seiya retrucou, piscando para a noiva. – Venham lanchar! – gritou para as crianças, gesticulando para se lavarem da poeira e das folhas na bomba d'água. – Já marcamos a data.

- Vai ser antes do início do Campeonato, algo bem menor que o de Shunrei e Shiryu. – a japonesa começou a explicar, parando ao ver a expressão de incredulidade da loira.

- Impossível, Saori. – a advogada afirmou. – Se fizerem isso, vai ser pior para as reputações de vocês. Vão começar especulações de que estão escondendo algo. – ela queria mesmo dar esse toque aos amigos e foi a oportunidade certa. - Acredite, quando fui buscar o registro definitivo do Kouga – ela apontou para o envelope sobre a mesa do computador. – e a atendente viu quem eram os pais, me perguntou se eu sabia quando seria o casamento. A união entre a presidente de uma das grandes fortunas da Ásia e o campeão mundial de artes marciais vai ser notícia, quer vocês queiram ou não.

Seiya ergueu as sobrancelhas. Haviam conversado sobre isso algumas vezes e ainda não conseguiram realmente fechar questão. Ele sabia que seria difícil driblar o assédio da imprensa, mas não impossível. Para atender um pedido de Saori ele seria capaz de tudo. Na verdade, ele julgava casamento uma convenção que poderia ser usada ou não.

- Nós já vivemos juntos. Não entendo esse frenesi todo. – o moreno ponderou. – É um assunto que só interessa a nós e nossa família, mais ninguém.

- Podem realizar uma festa em Tóquio, para a imprensa e a sociedade. – Hyoga sugeriu. – E a cerimônia aqui, sem alarde, como vocês querem. – Saori meneou a cabeça, avaliando.

- Mamãe, nós descobrimos um ninho de passarinhos! – Yuna exclamou. O trio vinha com os cabelos pingando e as roupas úmidas, mas limpas. – O Kouga conhece todas as passagens.

- Nem são tantas assim. – o ruivinho coçou a nuca, bagunçando os cabelos como o pai fazia quando ficava envergonhado. – Nós fomos até o riacho, papai.

- Podem ir até lá, mas só até onde eu sinalizei, hein? – Seiya passou pasta de grão de bico, colocou uma fatia de queijo e tomate e fechou o sanduíche para o pequeno. – O que você vai querer, Arya? - a garotinha continuava tímida com os adultos. Não conseguiu falar, apenas apontou as tigelas de azeitonas, nato, tofu e carne desfiada.

- Tomem bastante suco porque o dia está quente. – Saori encheu os copos e os três passaram a comer com afinco. – Temos muitas decisões a tomar e muitos fatores a levar em consideração. Essa semana, recebi a visita de representantes das outras três grandes patrocinadoras e eles pareciam estar nos sondando. Claramente, acham que por ser nosso primeiro ano no Campeonato seremos fáceis de manipular. – um brilho de desafio passou pelos olhos violeta.

Quando as crianças subiram a escada escondida, ela contou como foram as reuniões.

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- Não tem como não lembrar dele. – Shunrei olhava para a enorme estátua de Buda sentado sobre o lótus numa das praças do distrito de Little India. – Shaka adoraria isso aqui.

Eles visitaram o templo hindu e sua fachada alta com cenas multicoloridas em alto relevo de Deuses e Deusas, percorrendo as ruas cheias de aromas típicos da culinária indiana. Depois da discrição sofisticada do centro de Singapura, caminhar ali era uma explosão para os sentidos deles. A música com seus instrumentos característicos, as conversas no idioma cadenciado de notas sonoras diferentes, as roupas de cores vivas e brilhantes, os cheiros pungentes de pimenta, doce e fritura; eram uma confusão alegre e descontraída para os dois.

- Ali não parece Mu e Kiki? – Shiryu indicou com a sobrancelha um homem de cabelos compridos comprando o que parecia ser um doce para o filho de cabelos arrepiados. Shunrei deu uma risada abafada, cutucando as costelas dele.

Era o quarto dia de passeio e os dois sentiam-se tranquilos e relaxados. De vez em quando, nos momentos em que o marido não estava, Shunrei buscava ao redor e não via nada nem ninguém suspeitos. As amigas retornaram as perguntas com nomes dos quais ela não se lembrava e, após pensar um pouco mais, decidiu não se preocupar sem que acontecesse algo de concreto. Ela estava encantada demais com a felicidade de Shiryu para estragar a lua-de-mel.

Ele costumava ser discreto com suas emoções e ela achava adorável como ele encontrava formas alternativas de demonstrar carinho e cuidado; um aperto de mão, uma postura protetora, um meio sorriso. Apenas em raras ocasiões ele fora efusivo. Em Singapura, o normal passou a ser ele a abraçar pelos ombros, a puxar inesperadamente para bem perto e a beijar em ocasiões inusitadas. Caminhava ao seu lado como se desfilassem numa estrada de tijolos dourados. Contava histórias de suas viagens para as competições, dos empregos na Coréia, de seus planos para o futuro.

"Ele finalmente está me deixando participar também." Ela pensava ao vê-lo escolhendo lembrancinhas numa das barraquinhas perto da estátua. "Aquela mulher o machucou tanto, mas não para sempre. Ele finalmente entendeu que não iria abandoná-lo."

- Acha que Shion e Mayura gostarão? – ele veio com dois xales compridos e ricamente bordados. – O que foi? – perguntou ao ver o largo sorriso da esposa.

- Estou pensando aqui como você é corajoso e lindo e como seria perigoso se as pessoas soubessem disso. – aquilo o fez ruborizar. – Você é a melhor coisa que aconteceu na minha vida, Shiryu Suiyama. – ele piscou e riu, balançando a cabeça, o que a fez desejar pular em cima dele. – Sim, são perfeitos para eles. Esse preto com fios prateados para o sr. Shion? – ele confirmou. Fez que ia para a barraquinha e voltou para dar um selinho, surpreendendo-a.

- Tem mais de onde veio esse. – murmurou antes de se afastar.

- Espero que sim. – Shunrei falou alto. Recebeu os dois copos de sorvete e as garrafas d'água que pedira na barraquinha próxima e escolheu um lugar à sombra para esperar.

Assim que ela se aproximou do banco, viu pelo canto do olho alguém se mover. Franziu a testa, pois a pessoa deixara um embrulho ali. Ela chamou, mas quem quer que fosse se misturou à multidão. Ela se aproximou e era uma sacola de plástico. Respirou fundo, guardando as garrafas na mochila e se sentando o mais longe possível. O marido voltou rápido e não ela teve tempo de mudar de lugar.

- Não toque nisso. – falou para Shiryu quando ele fez menção de pegar.

- Mas está fedendo. Não dá para ficar aqui com isso. – olhou em volta e todos os lugares à sombra estavam ocupados.

- Então a gente vai para outro lug... – ele suspendeu a sacola para atirá-la na lata de lixo. Assim que fez isso, o fundo se abriu e o conteúdo úmido e fétido derramou. Eram cabeças de peixe cheias de larvas.

O gatilho em Shunrei foi imediato.

Ela se dobrou e vomitou, soltando os copinhos de sorvete. Tentou respirar e veio uma nova onda de náuseas. Em instantes, todo o conteúdo do estômago estava no chão e ela tossia e tremia. A aflição de Shiryu devia ser visível porque o vendedor da barraquinha de xales veio ajudar. Conseguiram levá-la para longe, mas a imagem ficava repassando na mente dela sem parar, trazendo de volta as que recebera pelo celular.

"Só pode ser coincidência." Ela repetia, fechando os olhos para não ver a expressão preocupada do marido. "Tem um restaurante que vende cabeça de peixe com curry aqui perto. É isso." Sentou-se no que parecia ser os fundos da barraquinha e encostou na parede.

- Shunrei, - o tom do chamado a fez abrir os olhos. – beba água. – ele se agachara na frente dela, observando o rosto pálido. Abriu a garrafinha e o líquido fresco tocou seus lábios. – Devagar para não vomitar. Se sentir enjôo, coloque a cabeça entre os joelhos. – ela assentiu, levantando os olhos para o banco sujo do outro lado da praça. – Melhor? – ele mexeu na franja, assoprando para refrescar sua cabeça. – Quer voltar para o hotel? – ela sorriu, negando.

- Só mais alguns minutos e podemos continuar.

- Ela está bem? – o vendedor reapareceu, junto com um garoto de mais ou menos 12 anos. Traziam dois baldes, uma vassoura e duas guirlandas de flores amarelas. – Desculpe, senhora. Nunca aconteceu isso aqui na praça. Vamos falar com o dono do restaurante. Posso? – ele sinalizou que queria colocar o colar nela. Shunrei ofereceu o pescoço. – Para proteção e alegria. – colocou também em Shiryu. – Seu marido me disse que estão em lua-de-mel. Que sejam abençoados por Lakshmi com prosperidade e muitos filhos! – fez a saudação indiana namastê e foi com o garoto limpar o banco.

Os dois partiram para conhecer a mesquita mais antiga da ilha, Masjid Abdul Gaffoor. Foi um esforço mental tirar as imagens nojentas do caminho, mas Shunrei conseguiu aproveitar o passeio prestando muita atenção no momento presente, nos detalhes arquitetônicos e nos objetos do pequeno museu anexo. Quando entrou no movimentado mercado Arcade, foi mais fácil se distrair com a quantidade enorme de informações sensoriais novas.

Shiryu pareceu se convencer da recuperação da esposa, voltando ao semblante descontraído. Comentara que a comida temperada demais poderia ter irritado seu estômago e a visão do lixo piorara tudo. Ela apenas concordou, não querendo pensar naquilo. Queria se concentrar em estar e fazê-lo feliz.

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Os cabelos compridos das duas pareciam chicotes estalando no ar. Pavlin mantinha os seus soltos, uma cascata dourada que ela aprendera a domar perfeitamente em seus anos de treinamento. Yuzuriha e seu habitual rabo-de-cavalo alto pareciam desafiar os espectadores a descobrirem como ela conseguia desferir golpes tão certeiros. As duas suavam pelo treino rigoroso, os tórax expandindo vigorosamente e os membros rígidos do esforço físico. Os idênticos olhos verde-oliva pareciam não enxergar mais nada a não ser a adversária à sua frente. Há alguns minutos elas tinham parado até de gritar ao desferir os golpes, economizando energia para continuar lutando. As uwagi jaziam nos cantos do tatami e elas enrolaram as calças na cintura o máximo possível para tentar refrescar os corpos. Os movimentos eram rápidos e precisos, embora não tão numerosos quanto da disputa ao lado.

Os dois garotos paravam durante poucos instantes, os cabelos empapados pelo suor escorrendo para os rostos concentrados. Também tiraram as uwagi, as camisetas brancas transparentes de umidade e as calças imundas por terem rolado diversas vezes no chão. Os olhos ardiam e eles limpavam com as costas das mãos, as respirações ruidosas. Nenhum queria se dar por vencido. Em um dos raros períodos de imobilidade, os olhos afiados de Régulus acompanharam o ruivo Kiki pender para a direita e notaram uma possível brecha. Na verdade, fora uma armadilha do tibetano, que aproveitou para derrubar o loiro. Não conseguira manter a posição por muito tempo porque Régulus se soltara e tudo recomeçou. Os braços tinham vários arranhões, mas eles continuavam sem parar.

- O que foi que eu disse? – Shaina se juntou a Marin na arquibancada do anfiteatro. A Amazona de Águia aplicava a prova de resistência e os quatro já estavam ali há quase duas horas, atraindo uma pequena multidão para acompanhar o que era um novo recorde. – Eles estão prontos. Inclusive os dois garotos.

Marin suspirou, os olhos atentos às duplas. As meninas davam mostras de exaustão. As pernas tremiam e elas procuravam não medir mais forças. Os garotos, apesar do ímpeto, perdiam a precisão dos golpes. Olhou ao redor e viu os Mestres de Kiki e Régulus na entrada do palco, observando atentos. Trocou um olhar rápido com Mu e Aiolia.

- Mu concordou? – ela perguntou sem se virar para a amiga. Shaina era tão Mestra das garotas quanto ela.

- Sim. – o tom era um pouco impaciente. Marin sabia que ela era a única a não concordar que o filho se tornasse aspirante. – Ele nasceu para isso. – Ouvia as palavras de Aiolia saindo da boca de Shaina e respirou fundo.

- Acabou! – projetou a voz para ser ouvida por todo o anfiteatro. Os lutadores esperavam apenas esse comando para caírem de joelhos. Alguns dos amigos deles bateram palmas e assobiaram em algum lugar das arquibancadas, mas Marin não se virou para ver quem eram. Suas meninas se deitaram no tatami. Correu até elas. - Tome, bebam água. – ela e Shaina conseguiram fazê-las se sentarem. – Devagar.

No outro tatami, Aiolia e Mu amparavam os meninos.

- Conseguem se levantar? – ouviu a voz do marido. – Vamos para o ambulatório e depois para o banheiro.

- Pode me ajudar, mãe? – Pavlin ainda estava trêmula, mas esboçava um sorriso.

Marin guiou-as para a sala de TV, para esfriarem o corpo. As fez beber água até que fossem atendidas por Shun. Após a inspeção médica, tomaram um banho e levaram-nos para salas ao lado do ambulatório, com paredes cor de lavanda onde havia macas e que eram utilizadas para repouso dos pacientes.

- Não falem nada, apenas relaxem os músculos. – sussurrou quando ela e Shaina as massagearam para que o corpo não colapsasse. – Podem dormir o tempo que precisarem.

As provas de resistência eram periódicas e todos os membros e aspirantes do Santuário as faziam. Ao permitir que o filho participasse, ela atendia à insistência de Aiolia e Shion. Enquanto desfazia os nós das coxas e panturrilhas de Pavlin, sua mente lutava com seu coração. O perfume suave da cânfora e do capim-limão do óleo de Shun parecia fazer efeito também sobre seus temores.

Claro que ela sabia que o destino de Régulus eram as lutas. Nem se ela fosse cega negaria aquilo. O problema era que nunca tiveram sucesso em fazê-lo se interessar por outra coisa que não as artes marciais.

Até esse ano.

Não soubera como ele se mostrara mais maduro e controlado. Os professores continuamente reportavam como Régulus mudara. Poderia ser a influência de Shunrei? As seções de meditação com Shaka? A convivência com outros garotos do Santuário da mesma idade? As responsabilidades com os mais novos? Marin não podia mais negar o que ele pedia. Não depois de demonstrar que, finalmente, abandonara a inconsequência da infância e a rebeldia da adolescência.

- Vamos deixá-las descansar. – Shaina a chamou para saírem do quarto. – Elas vão se recuperar logo. – a ruiva assentiu, vendo os dois homens saindo do quarto ao lado. Na porta, os esperavam Shoko e Yato e Marin quis rir do olhar ameaçador que Aiolia lançou ao namorado da filha. O coreano fingiu não notar.

- Eles vão dormir algumas horas. – Mu informou, um leve sorriso na voz. – Estão bem, só extenuados.

- As meninas também. – Shaina disse. – Não acordarão nem com uma explosão.

- Com licença, quando poderemos vê-los? – Yato não aguentou esperar. – Elas quase não conseguiam andar.

Aiolia apenas suspirou, mas Marin o conhecia bem para saber que ele concordava com o garoto e ao mesmo tempo o julgava impertinente por se intrometer na conversa deles.

- Podemos ficar com eles até acordarem? – Shoko, a ruivinha de rosto delicado e braços ágeis e fortes, recebeu um olhar mais carinhoso do sogro e Marin novamente teve que segurar o riso.

- Vocês ainda têm treinamento, não têm? – Aiolia falou. – Podem ir. Quando terminarem, voltem aqui. – sinalizou a porta para o lago e seu tom de comando os impediu de retrucar. – E então? – esperou os alunos saírem para olhar a esposa. – Depois de duas horas, você se convenceu?

Marin franziu os lábios, sem deixar de encará-lo. Fora ela quem pedira para aplicar a prova de hoje, pois sabia quem eram os lutadores. Só não sabia que os levaria ao limite. Viu nos olhos verde-oliva que o marido reprovava, contudo não diria nada nem na frente de Mu e Shaina.

- As garotas passaram na prova. Podemos inscrevê-las nas competições. – disse devagar. – Os garotos também... Estão aptos a serem aspirantes. – o semblante sério de Aiolia se abriu num sorriso. Apertou a mão de Mu e Shaina e a pegou no colo. – Psiu, não podemos fazer barulho!

- Eles não vão acordar nem se uma bomba cair aqui, Marin. – Shaina lembrou, rindo da amiga sendo rodopiada. – Mu, vamos dizer a Shion.

- Você foi rigorosa com eles. – ao ficarem sozinhos, Aiolia enfim disse o que realmente queria. – Pensei que teríamos que levá-los ao hospital.

- Eles são nossos filhos. Não podemos mostrar nenhum favoritismo. – ele a devolveu para o chão, mantendo-a abraçada pela cintura. – Além disso, conheço minha alcatéia. – piscou para o leonino.

- Régulus vai ficar mais duas horas no tatami quando souber da sua decisão. – ele sorriu, radiante. – Que bom que você está confiando nele. – ela assentiu, sentindo que escolhera corretamente, mas que teria muito trabalho pela frente.

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O corpo dele pesava sobre ela. Os corações acelerados e os diafragmas trabalhando em tensão máxima, bombeando oxigênio para o sangue. Os cheiros dos dois recendendo por todo o quarto, misturando-se em suas peles úmidas. As bocas secas puxavam o ar como podiam. Os espasmos do último orgasmo deles reverberando por seus músculos. Ela podia sentir o gozo dele dentro de si. Ele a sentia pulsar e contrair com força ao seu redor, como se quisesse prendê-lo para sempre ali. As coxas dele ainda pressionavam as dela na lateral da cama. Ela sorriu ao senti-lo se mover, os lábios beijando seu ombro e suas costas.

Shunrei emitiu um muxoxo quando ele saiu dela para buscar na geladeira o champanhe que sobrara e a bandeja com os indefectíveis docinhos de flores. Admirou-o desfilando nu pelo quarto, voltando para junto dela, no chão ao lado da cama.

- Desse jeito não vamos sair desse quarto hoje. – Shiryu sorriu e ela percebeu que a intenção do marido era justamente essa. – Por isso está fazendo propaganda da sua figura lindamente esculpida para mim?

- Parece estar funcionando bastante bem. – ele pegou um dos docinhos, molhou na bebida e ofereceu a ela. – É nosso último dia inteiro, podemos aproveitar mais esse quarto.

- Mais? – a chinesa exclamou, ciente de que ele a olhava intensamente. – Acho que o único lugar onde não fizemos amor foi em cima do frigobar. – Shiryu ergueu uma sobrancelha, analisando o eletrodoméstico. – Podemos ficar aqui amanhã até o horário de partir. – ela propôs. – E voltar mais cedo hoje.

- Direto do teatro para casa? – ele quis confirmar o acordo. Ela assentiu, ganhando outro docinho mergulhado no champanhe. - Vou tomar um banho para irmos. – ele anunciou depois que terminaram a garrafa e os docinhos.

Shunrei ficou no chão acarpetado, concentrando-se nos momentos finais em que seu corpo ainda guardava a lembrança dele. Há meses eles não usavam preservativos, entretanto, a possibilidade de gerarem um filho era remota, por mais que se esforçassem.

"E como nos esforçamos!" Ela sorriu, mordendo os lábios ao pensar nas peripécias da semana e na manhã que encerraram ajoelhados bem ali. "Estamos ficando muito bons nisso!" Pousou as mãos no ventre, pedindo silenciosamente por um milagre. No templo hindu, ela fizera oferendas à Lakshmi, como o vendedor sugerira. No dia seguinte, na visita ao centro da cidade, jogara moedas na fonte dos desejos.

- Adoro quando você faz essa expressão de séria e satisfeita ao mesmo tempo. – Shiryu voltara, continuando a desfilar nu e atrapalhando a concentração dela ao escolher a roupa para o compromisso da tarde e noite. – E esses cabelos parecendo uma auréola ao redor do seu rosto dão o toque final. – ele vestiu a cueca e ela reuniu toda a sua força de vontade para tomar banho também.

Sabia que devia aproveitar essa descontração da lua-de-mel porque a rotina os aguardava e não teriam tempo nem privacidade para fazerem essas brincadeiras.

"Ele está tão relaxado e expansivo." Divertia-se ao lembrar das correrias e risadas dos dois durante essa semana. Mesmo com os incômodos das imagens e vídeos que recebia, ela conseguira cumprir seu objetivo com essa viagem: sentia que ele, em seu coração, finalmente compreendera que seu compromisso era verdadeiro. "A ponto de não pisar em ovos para fazer piadinhas com meus cabelos." E a sensação, para os dois, era libertadora.

Os corações estavam emaranhados, como Marin aconselhara que precisavam estar.

A tarde foi uma continuação da manhã bem-sucedida. Eles caminharam de mãos dadas pelas ruas de Chinatown, apreciando a limpeza e organização do bairro, mesmo com uma multidão nas ruas. Demoraram-se comprando mais lembrancinhas e presentes e tirando selfies com as casinhas coloridas. Foi ali que encontraram móbiles e pelúcias de dragões e tigres e roupas boas e baratas para os três rapazes da família. Em algum momento, Shiryu sumiu. Voltou depois de um tempo considerável com um brilho suspeito no olhar, sem revelar onde estivera.

Quando viram o volume das compras, as despacharam para o hotel. Visitaram os museus e os monumentos históricos. No final do dia, antes do compromisso principal, sentaram-se na Chinatown Street Food para Shunrei apresentar alguns pratos típicos.

- Se você quiser, pode fazer comida chinesa em casa. – ele sugeriu, aprovando os sabores mais adocicados. – Aiolia sempre faz pratos gregos.

Estava contente com o casamento e a lua-de-mel e convencido de que agira da maneira correta, nem muito afoito e nem lerdo demais. Uma sombra saiu de seu coração desde o momento em que a esposa aceitou realizar a cerimônia e ficou mais e mais iluminado à medida que Shunrei se fortalecia e os dois aparavam as arestas da relação.

Estavam absolutamente felizes como só dois recém-casados poderiam estar ao entrarem no pequeno teatro numa das travessas da rua principal. Subiram a estreita escada vermelha, entusiasmados pelas duas apresentações anunciadas no panfleto que pegaram no primeiro táxi em Singapura.

"Não posso me iludir apenas com esses poucos dias. A vida real vai exigir um empenho contínuo... Não vou fazer como da outra vez... Preciso continuar atento." Shiryu gostava do aperto no laço que eles faziam ali, agora era encontrar o equilíbrio para não sufocar e nem soltar demais. "O Mestre tem razão: os chineses me fazem bem." Sorriu para a história dela sobre a primeira vez que vira o teatro de sombras, numa feira que acontecia mensalmente na vila aos pés da montanha dos Cinco Picos Antigos. "E eu quero fazer bem a eles."

O auditório lotou. As luzes apagaram e pela próxima meia-hora eles veriam a lenda chinesa do Tigre e do Dragão. Shunrei deitou a cabeça em seu ombro e entrelaçou dos dedos nos dele, fazendo-o sorver seu perfume em longas respirações.

"Você me traz tanta paz, chinesinha geniosa."

Após os artistas do teatro de sombras, vieram os atores da ópera cantonesa com seus rostos expressivamente maquiados e suas roupas coloridas. Shunrei explicava baixinho o que os personagens cantavam e o que significava a rica maquiagem de cada um. Era uma peça sobre uma batalha entre dois grandes mestres das artes marciais pelo controle de uma escola.

- Fazia mais de dez anos que não assistia ópera cantonesa! – ela exclamou, animada, assim que colocaram os pés na rua. Outras atrações estavam programadas, mas eles queriam voltar cedo para o hotel, então saíram para a travessa vazia.

- Eu nunca tinha visto. – Shiryu comentou, vendo que os bares na rua principal estavam movimentados. – Aquelas armas são de verdade? Pareciam tão reais. – ele os guiou em direção à multidão.

- Eles fazem de metal mesmo, mas acho que são cegas. – conversavam despreocupados, subindo a rua devagar.

Quando passaram por uma marquise mais escura, Shiryu trocou de lugar com ela, segurando seus ombros. Shunrei não entendeu até ver que havia dois homens sentados, cobertos por capas grossas, completamente alienígenas no clima tropical da cidade. Ela franziu a testa pois era a primeira vez que via algo assim em Singapura. A cidade-estado punia severamente atividades ilícitas.

Tarde demais para desviar, então Shiryu tentou passar o mais rápido possível. Assim que pisou ao lado deles, tentaram passar-lhe uma rasteira. Ele desequilibrou, mas conseguiu manter-se de pé, puxando Shunrei para trás de si.

Ela olhou ao redor, mas não havia mais ninguém na rua fracamente iluminada. A movimentação ainda estava longe demais para gritar e ela não sabia se eles estavam armados.

Os dois homens saltaram e começaram a atacar Shiryu, que se defendia com relativa facilidade enquanto recuava com a esposa para o meio da rua. Até Shunrei percebeu que eles tinham treinamento em artes marciais. Não demorou para os golpes serem mais efetivos e dois socos acertarem o abdômen de Shiryu. Ele tentou não dobrar o corpo, rodopiando para acertar chutes nas pernas dos dois.

- Shunrei, quando eu disser, você corre.

- De jeito nenhum! Não vou deixar você. – assim que ela fechou a boca, um dos homens, cujos rostos estavam cobertos por máscaras escuras, acertou o queixo dele, fazendo-o levantar do chão e cair.

Imediatamente, Shunrei se colocou de pé sobre Shiryu. Eles tentaram dar a volta e ela os acompanhou.

- Sabem qual a pena para ladrões aqui? – sua voz soou firme, embora ela estivesse tremendo. – Por que estão fazendo isso? – eles apenas riram, como se as palavras dela fossem vazias, mas não se aproximaram. – Se for dinheiro, aqui tem. – ela abriu a bolsa, pegou as notas que tinha e jogou em direção a eles, que sequer se moveram.

Shiryu se apoiou nas mãos e conseguiu se levantar. O rosto sangrava e as mãos arranhadas. A camisa preta de botões dourados rasgara onde os socos acertaram e Shunrei viu um soco inglês na mão do homem mais alto e largo, com a risada gutural. Os pêlos da nuca de Shiryu arrepiaram e ele franziu o rosto inteiro, encarando demoradamente aqueles dois.

Uma mão enluvada pousou na boca dela e um braço forte a levantou do chão. Shunrei esperneou e tentou gritar, o que fez Shiryu virar-se e receber golpes nas pernas e na nuca. Shunrei viu o corpo cair como um títere sem cordas e seu rosto ficou vermelho de tanto gritar na mão que a sufocava. Foi empurrada rudemente para dentro de uma van.

- Shiryuu! – ela aproveitou que a pressão nos lábios diminuiu para gritar, vendo que os dois arrastavam-no para a mesma marquise escura. – Shir... – levou um tapa no rosto e mais outro. Foram quatro tapas que fizeram sua cabeça girar.

- Se quer que ele viva, cale a boca. – era uma voz diferente, modificada por algum aparelho eletrônico.

O homem que a sequestrara mantinha seus braços presos e a cabeça virada para fora, de modo que ela visse que eles continuavam a chutá-lo. Lágrimas de raiva brotaram e ela assentiu.

- Quietos. – a voz disse e os homens do outro lado da rua pararam, tomando posição de vigia. – Veja.

Shunrei demorou a entender o que eram as imagens que apareceram na tela na parte de trás do banco. Eram dela no hospital. Piscou seguidas vezes.

"Quando foram gravadas?"

Ryuho apareceu correndo, abraçando-a na porta da escola. Ela caminhando na rua perto do hospital com as amigas. Cenas do casamento. A mente dela tinha dificuldade em apreender o que era aquilo. Entre uma gravação e outra, piscavam na tela as fotos que ela recebera no primeiro dia. Cenas dela conversando com os convidados. Até imagens dela cuidando do jardim com Dohko no sobrado verde. Seu diafragma doía terrivelmente. Por fim, cenas da semana em Singapura. Ela engoliu várias vezes para não vomitar.

- Chega! – rugiu entredentes. – O que vocês querem?

- Nos disseram que você é inteligente. – a voz deturpada ironizou. – Se você continuar, algum deles vai ter que sair. Nós...

A porta da van foi aberta com violência e a luz a ofuscou.

- Quem autorizou isso? – havia fúria na voz. Ela ouviu barulho de portas abrindo e viu silhuetas nas janelas, tudo muito rápido. Ela foi puxada atordoada para fora. – Vocês estão completamente loucos! Olhe para o chão! – a última frase foi para ela. Uma mão a mantinha virada para a parede do beco onde estavam.

Iniciou-se uma discussão em italiano, espanhol, inglês e alemão. A cabeça de Shunrei latejava de dor, tentando acompanhar alguma pista.

- E quem é você para impedir? – ela conseguiu distinguir essa frase entre as várias. Houve lutas silenciosas atrás de si e ela fechou seus olhos, zonza e a vontade de vomitar mais forte do que nunca. Apoiou a testa na parede, desesperada para ver o marido.

A mão a puxou com violência, empurrando-a para atravessar a rua. Ela ouviu sons das portas do veículo batendo.

- Não olhe para cima! – a voz furiosa esbravejou ao menor sinal dos olhos dela irem em direção ao seu rosto. – Se você sabe o que é melhor para você, finja que isso nunca aconteceu. Não tente nada de esperto, pois você tem muito a perder. – ela ouvia mais dois passos atrás deles. – Sumam daqui! – ordenou aos homens mascarados antes de atirá-la em cima do corpo inerte. – Com isso, Dragão, não lhe devo mais nada!

Só quando os passos deles se tornaram inaudíveis Shunrei se mexeu. Suas mãos geladas não tremeram ao sentir os sinais vitais de Shiryu ou ajeitar o corpo o melhor que conseguiu. Pegou o celular e discou para o hotel e depois para o serviço de ambulância. Em nenhum dos minutos em que esperou sozinha o socorro ousou olhar para o lugar onde estava a van. Sabia que não estavam mais ali e se concentrou nos hematomas e nos tons de vozes que conseguira distinguir. Ela sabia que as ouvira antes.

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- As reuniões com Mayura são diferentes. – Camus informou, subindo as escadas ao lado de Milo. – Shion tem uma visão filosófica do Santuário. Mayura é, como vou dizer?... Mais pragmática.

- Ela me pareceu objetiva e sagaz. – os dois falavam baixo, pois a maioria dos residentes já se recolhera em seus quartos. Ao passarem pelo corredor, viram as luzes por baixo das portas e as conversas de alguns na varanda. – Gosto de pessoas como ela, com uma visão realista do mundo.

- Afinal, a filosofia é a base da entidade, mas ela é mantida por decisões firmes. – a voz de Shaka soou atrás deles. O loiro trazia duas caixas grandes nas mãos.

A iluminação se tornou mais suave à medida que subiram o último lance de escadas e entraram no estreito corredor que se abria para o terraço onde costumavam se reunir à noite. Na mesa longa, Dohko, Aiolia e Mu terminavam de arrumar copos, hashis, colheres e pratos. Shaka entregou as caixas com os petiscos e Camus e Milo distribuíram as garrafas de bebidas não-alcóolicas.

- Se há algo que nunca falta nesse lugar é comida e bebida. – Aiolia comentou, abrindo uma garrafa de suco de melancia.

- Por isso, você é o primeiro a chegar e o último a sair. – Milo provocou, fazendo o mesmo. Mu ergueu as sobrancelhas. Era o mais novo ali e, no entanto, estava sempre pedindo ponderação àqueles dois.

- Hoje teremos a companhia de duas Damas. É melhor vocês se comportarem. – Camus franziu a testa, mas o tibetano não teve tempo de explicar, pois, os três últimos integrantes chegaram.

- Boa noite, senhores. – os olhos cor de mel brilharam para eles. Mayura caminhava ao lado do marido, que os cumprimentou com acenos de cabeça. – Senti falta daqui.

Do outro lado do Grande Mestre, vinha Saori. Via-se nos olhos lilases inquietos que era a primeira vez dela ali, onde se via o céu noturno estrelado e a Via Láctea cortando o universo. Shion indicou para ela a cadeira ao lado de Dohko.

- Daqui algumas semanas, precisaremos de uma mesa maior. – ele próprio se sentou no meio, em frente a Camus. – Se Marin viesse hoje, estaríamos apertados. Como estão os três, Aiolia?

- Se recuperando, Grande Mestre. Fiquei com eles durante o dia e Marin está com eles agora. – o grego informou, sinalizando para Mu. – Shun está ajudando a cuidar deles e de Kiki também. – Shion acenou com a cabeça.

- A investidura dos antigos cavaleiros está organizada. – o libriano se adiantou à pergunta, servindo um copo de refresco a cada dama. – A tempo de inscrevê-los no campeonato. Conversei com cada um e a debandada não vai se repetir. – o tom de Dohko era tranquilo, embora todos ali soubessem que algumas conversas foram tempestuosas. No dia anterior, houvera gritos na sala onde ele se encontrava com Di Medici. No final, a paz reinou, mas Dohko tivera que usar toda a sua autoridade e poder de persuasão. – Os gêmeos foram os mais fáceis, por incrível que pareça. Devem ter tomado juízo com a srta. Elian.

- Me parece um comportamento estranho, pois foram eles quem vieram procurar o Santuário. – Shaka ponderou.

- A mente humana é um mistério. – Mu comentou, servindo-se dos salgadinhos que o virginiano trouxera. – Cada pessoa precisa de um tipo de estímulo, mesmo para realizar algo que o beneficiará.

- Pois eu fico feliz que eles toparam. – Milo afirmou, olhando para os demais. – São experientes e fortes. Nos treinos, são adversários respeitáveis. A Fundação está de acordo, srta. Kido?

- Sim, o Conselho assistiu às últimas filmagens e as contratações foram aprovadas. – ela sorriu para eles. – A partir da próxima semana, vocês receberão os protótipos dos seus bonecos. – Aiolia escondeu o risinho atrás do gargalo do suco. Os olhos verdes brilharam maliciosamente para Milo. - Também as equipes virão gravar as primeiras propagandas. O plano de marketing precisa ser de conhecimento de amazonas e cavaleiros, especialmente a identidade visual. Todos já receberam as camisetas, batas, bonés e jaquetas? – eles assentiram. – Agora que os eventos de abertura terminaram, vamos investir em tornar vocês conhecidos e desejados pelo público em geral.

Começou um burburinho de especulações e sugestões de como devia ser a campanha. Era um dos assuntos mais comentados no Santuário, com alguns membros mais favoráveis e outros mais reservados. Saori pediu para enviarem por escrito as idéias mais interessantes.

- Podemos brincar depois, rapazes. – Mayura silenciou-os com sua voz grave. – A srta. Kido se reuniu com representantes de das grandes patrocinadoras deste Campeonato e tem pontos interessantes a repassar para nós.

- A Northern Lights Enterprises, a Atlantis Team e a Subway Army nos procuraram quase ao mesmo tempo. – Saori começou, séria. – Isso não é algo incomum no mundo corporativo, mas as questões que eles apresentaram foram. Nós, claro, fornecemos apenas as informações que são de conhecimento público, como a experiência dos nossos atletas e a origem dos recursos investidos. Entretanto, a nossa impressão é que eles vão utilizar dados pessoais para minar o Santuário. O sr. Shion me disse que muitos de vocês já lutaram contra lutadores atualmente contratados por eles. – ela viu várias cabeças confirmarem. – Nós esperamos algo vindo pela imprensa ou até mesmo denúncias à Federação. – ela suspirou. Ao decidir financiar a Zodiac Team, não esperava ter que lidar com esse tipo de obstáculo.

- Saori, nós sempre lidamos com algum nível de espionagem e difamação no meio das artes marciais. – Aiolia ponderou, querendo amenizar o clima de tensão. – Sei que a escala este ano é maior, mas temos como contornar isso.

- Não com as famílias Solo e Heinstein no jogo. – Camus afirmou. – Eles têm métodos perigosos e você viu o tipo de gente que está na equipe deles. – pelo tom de desprezo, se lembrava de Isaac Kraken. - Precisamos ser cuidadosos e ter estratégias para nos defender antes que nos arrastem para situações desfavoráveis. Além das soluções jurídicas e de assessoria de imprensa de praxe.

- A nossa rede de informação pode nos dar algum tempo de reação, mas não muito. – Mayura recusou um dos salgadinhos vegetarianos de Shaka. – O ideal é que não deixemos as situações escalarem.

- O primeiro obstáculo será a inspeção da junta médica, na próxima semana. – Shion disse. – A Federação nunca agiu da forma como está agindo agora. Os medicamentos e os exames de saúde passam por avaliações periódicas e sempre foram aprovados. Procurei o presidente e ele informou que eram procedimentos novos. Apesar dos meus protestos, eles virão. Ainda bem que contratamos a dra. Nishi Suiyama antes da notificação, ou não conseguiríamos mais fazê-lo sem levantar suspeitas.

- A partir de agora, qualquer atitude suspeita, qualquer movimentação deslocada, qualquer incidente fora da rotina, mesmo que aparentemente inofensivo, precisa ser reportado a Shion ou a mim. – a antiga Amazona de Pavão retomou a palavra. – Precisamos nos antecipar. O mesmo vale para membros e aspirantes. Por favor, alertem os discípulos e alunos de vocês. Conversei com os funcionários da cozinha e zeladoria.

- Também instalaremos câmeras no perímetro e haverá vigilância 24 horas. – Saori completou.

- Vocês estão esperando algum tipo de ataque? – Milo perguntou, franzindo a testa sem entender. – Começamos falando de difamação e denúncias vazias e de repente passamos para seguranças e câmeras.

- Há algumas décadas, quando tivemos nosso primeiro embate com os lutadores que hoje estão na Atlantis Team e no Subway Army, descobrimos espiões e tentativas de sabotagem. – Dohko explicou. – Foi um período muito difícil para o Santuário e nós quase fechamos as portas. O que nos salvou foram os garotos. – ele sorriu com a lembrança de vê-los trabalhando no cais de Tóquio, pequenos, selvagens e desesperados. – Agora estamos melhores do que naquela época e não permitiremos que nos derrubem de novo.

- Com certeza não permitiremos. – Mu corroborou as palavras do libriano. – Precisaremos estar fortemente unidos no nosso objetivo de manter o Santuário. Não é fácil lutar sozinho. – ele engoliu em seco. – Proponho que cada membro tenha uma tarefa específica a desempenhar, para que se sinta parte da defesa do Santuário e seus valores. Quando cada um sabe o seu lugar e o seu propósito, toda a comunidade se fortalece.

- Muito bem colocado, Mu. – Shaka, que optara por apenas ouvir e passar a caixa de salgadinhos, se manifestou. – Está na hora da preparação mental ter a mesma relevância da física para todos, não apenas para os mestres e instrutores.

- Marin me contou sobre a época que você citou, Dohko. – os lábios de Aiolia estavam finos. – Não permitiremos que façam o que quiserem conosco. É como conversamos no dia do evento, não é apenas um campeonato de artes marciais. Eles pensam que nos destruindo poderão impor sua forma de agir aos demais.

- Pelo visto, a única coisa que os espiões deles verão será o quanto estamos determinados. – Mayura emitiu um dos seus raros e luminosos sorrisos. – Dohko, sem celulares. – a tela brilhou na penumbra quando ele o tirou do bolso da calça. Quase ao mesmo tempo, o dela também vibrou.

- Esse eu preciso atender. – Dohko se afastou com o aparelho no ouvido. - Lúshān huā, o que está fazendo acordada?... O que? – começou a andar de um lado para o outro. Mayura mostrou a tela para Shion. – Você está sozinha com ele? A polícia está com vocês? – essa pergunta fez todos se virarem para ele. Shion deu a volta na mesa, parou na frente dele e mostrou a mensagem. – Espere um pouco, Shunrei. Isso é confiável? – a pergunta foi para o amigo, que assentiu. Dohko respirou fundo pela boca. – Não precisa se preocupar. Fique com ele no hospital... Você está bem? Eles a machucaram?... O que?... Shunrei, você agiu corretamente... Tenho certeza de que não farão mais nada... – ele voltou a se afastar, conversando com ela mais alguns minutos.

- O que diz a mensagem? – Saori estava aflita ao ouvir o nome da melhor amiga.

- "Nada grave em Singapura. Posso considerar minha dívida paga." – Mayura leu. – Nem todo anjo tem asas brancas.

- Nem todo anjo tem consciência da sua condição. – Shaka seguiu o pensamento e ela emitiu um meio sorriso. – Ao menos, pelo visto, esse agiu de acordo.

Saori seguia Dohko com o olhar, querendo notícias.

- Como eles estão? – ela perguntou assim que ele se aproximou.

- Shiryu está internado, mas nada sério. – ele olhou para os demais. - Talvez eles fiquem mais um ou dois dias lá. Pelo que Shunrei descreveu, eles queriam intimidá-la. A polícia falou com ela, mas imagino que os responsáveis não estejam mais no país. – suspirou audivelmente. – Começou.

o.o – 0.0 – o.o – 0.0 – o.o

Shiryu despertou de uma vez, seus sentidos alertando que estava em um lugar desconhecido. Tentou mover o pescoço e uma dor fina atravessou seu cérebro. Ao respirar, a lateral direita latejou de dor. Suas pernas arderam ao tentar movê-las e ele precisou de acalmar e respirar algumas vezes para virar a cabeça e ver alguém dormindo na poltrona ao lado. O curativo na bochecha dela trouxe os acontecimentos à sua mente.

"Como eu pude ser tão ingênuo?" Rilhou os dentes, tentando passar as mãos nos olhos, que enxergavam enevoado. "Eu devia ter me preparado desde o evento... Jamais pensei que pudessem fazer algo assim." O corpo não respondia ao comando de sentar, ainda traumatizado pela surra que levara.

Ele engoliu em seco, tomando consciência de onde estavam. Sentiu o colar cervical e as bandagens em seu abdômen, a região do fígado quente indicando uma inflamação. Aos poucos, conseguiu mover as pernas, mas não dobrar os joelhos.

- Shunrei. – chamou, a garganta seca raspando. Tentou novamente e ela pulou na poltrona.

- Que bom que você acordou. – tentou sorrir, mas ele viu o rosto inchado e suas entranhas reviraram. – Está com sede? – pegou o copo com o canudo e o ajudou a beber. – Pensei que você fosse dormir até o amanhecer. – ela pegou uma lanterna e um estetoscópio na gaveta da mesinha e o examinou. – Reflexos bons. – as pupilas contraíram com a luz forte. Ela aqueceu o metal antes de auscultar coração e pulmões e medir a pressão. Pediu que ele apertasse sua mão e espetou as plantas dos pés. Respirou aliviada. – Nenhum dano neurológico sério. – afastou a franja volumosa, beijando-lhe a testa.

- Minha vista está embaçada. – ela continuava segurando sua mão e acariciando seu rosto.

- É por causa da batida na nuca. – ele se lembrou. Em anos de treinamento e competições, passara por ferimentos assim. – Fez você bater a cabeça no chão. O médico pediu uma ressonância e não vimos nenhuma seqüela. – outro sorriso triste fez o coração dele diminuir no peito. – Logo enxergará normalmente.

- Eu não consegui te proteger. – ele levou a mão enfaixada à bochecha inchada. – Me perdoe. – ela negou, os olhos úmidos, nadando em água salgada.

- Você fez o possível. – segurou a mão entre as suas. – Não aconteceu nada de grave. – ele suspirou, pedindo que ela contasse. – É melhor você descansar. Eu conto quando acordar pela manhã. Poderemos tirar o colar também.

Os olhos azuis estavam enormes, escrutinando seu rosto. Ele decidiu dormir para que ela também descansasse. Fechou os olhos, as cenas do incidente revividas incessantemente. Sentiu as lágrimas brotarem por baixo das pálpebras e a mão delicada as secando. De novo os lábios macios em sua testa.

"Se alguma coisa acontecesse com você, eu jamais me perdoaria." Pareceu que Shunrei aplicou um calmante, pois a mente dele apagou.

Ao acordar novamente, o quarto estava claro e ele ouvia uma voz masculina com ela. As múltiplas dores faziam cada movimento precisar ser calculado.

- Bom dia. – os dedos chegaram à sua mão antes do rosto dela em seu campo de visão. – Está melhor? Esse é o dr. Pavel. Ele veio trazer o resultado dos exames e tirar o colar. – o médico de pele morena e olhos pretos o cumprimentou.

- No início, talvez sinta um desconforto, sr. Suiyama. A dor é devido à contusão. Não há nenhum dano neurológico, como sua esposa já lhe adiantou. – o alívio da retirada do imobilizador foi eclipsado pela dor. – O senhor é lutador de artes marciais, então já deve ter tido lesões semelhantes. – o doutor mexeu com seus joelhos e ele parou de respirar por um instante. – Esse é o que mais me preocupa, para falar a verdade. – tocou a região sensível do fígado, fazendo-o gemer. – Conversei com sua esposa e concordamos em vocês ficarem mais um dia aqui, para monitorarmos a recuperação do fígado. Não há nenhum osso quebrado ou órgão comprometido, então faremos dessa forma por precaução.

Shiryu ouvia em silêncio, assentindo ocasionalmente. Sabia que Shunrei escolheria o melhor tratamento. Ela o observava atentamente, embora não falasse nada durante a explanação. Franziu levemente a testa ao notar que o doutor não se referia a ela como médica, então lhe afirmou que acataria as decisões da esposa.

Assim que o médico saiu, ela levantou a cabeceira, até o limite em que ele não sentisse tanta dor. Trouxe a bandeja de café da manhã e o ajudou a segurar a colher com a mão enfaixada.

- Você já se alimentou? – ela negou, sentando-se do outro lado da mesinha.

- Comerei no hotel. Preciso fazer o check out e despachar a nossa bagagem. – percebeu o olhar perdido dela. O inchaço nas bochechas permanecia. – Vou colocar algumas roupas na mochila e enviar o restante para casa e depois volto para cá.

- Shunrei, - ela piscou e focou seu rosto. – quero que você descanse no hotel. Peça para eles despacharem a bagagem e só volte para cá depois de dormir e comer. – ele escolheu o tom de sensei. Ela apertou a boca, contrariada. – Ou isso, ou eu vou sair daqui para cuidar de tudo. – ela engoliu em seco, mas assentiu.

- Eu vou assim que você terminar. – ela sinalizou para a bandeja. Ele queria deixá-la descansar, cair num sono reparador de esquecimento, mas não podia. Ainda não.

- Me conte o que aconteceu. – procurou um jeito de ficar sentado sem pressionar o lado direito. Os olhos dela tremeram. – Me conte com o máximo de detalhes que conseguir.

Ela suspirou e contou.

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1. Vishnu e Lakshmi – um dos casais de Deuses do hinduísmo. Vishnu é responsável pela conservação e sustentação do universo. Lakshmi é associada ao amor, à sorte, saúde, riqueza, abundância e fertilidade. Os dois sempre encarnam juntos nas lendas indianas.

2. Ganesha – Deus hindu do intelecto, da sabedoria e da fortuna.

3. Yamagata – é a cidade onde a protagonista do anime Memórias de Ontem vai ajudar na colheita do açafrão. Uma das obras-primas do Studio Ghibli, embora precise-se de persistência para assistir.

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Olá!

Olha, esses dois não podem viajar que dá problema. Como pode isso? Sem paz até na lua-de-mel. Ainda bem que houve momentos felizes também.

E então, alguém arrisca a dizer o que acontece agora?

Agradeço por acompanharem esse dorama/fic até agora.

Abraços e até o próximo episódio.

Jasmin Tuk