EPISÓDIO 17
GANGSEO-GU - CORÉIA
"Traz lembranças."
Shunrei suspirou, observando a fachada da farmácia enquanto esperavam a permissão do sinal verde. A ruiva ao seu lado emitiu um riso abafado.
- Pode ser reconfortante ou perturbador. – Marin repetiu o que dissera quando ela externara o desejo de ir até lá.
- Como representante da família, é meu dever vir até aqui. – Shunrei piscou e as imagens daquele dia distante apareceram na sua mente. A manhã em que precisara urgente melhorar de uma ressaca. – Já estamos em Seul há uma semana, não posso adiar mais.
- Na verdade, você quer algo para se distrair. – o sorriso sarcástico não abandonou o rosto de Marin, que tocou seu cotovelo, indicando para atravessarem a rua.
A sra. Yin Seon-in estava atrás do balcão, concentrada na tela do computador. Lee Ha-Ra organizava algumas prateleiras, cantarolando baixinho. As duas deram as boas-vindas ao ouvir o sino da porta e ambas levaram um susto ao ver quem entrava.
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ATENAS – GRÉCIA
Era mais uma manhã luminosa em Atenas.
O céu muito azul, sem nuvens, refletia no Mediterrâneo, que ele podia ver da sacada do escritório do sogro, no terceiro andar da residência onde estavam há mais de uma semana. Hyoga respirou fundo, experimentando o drink com maçã, menta e ouzo que o sr. Othonos preparara enquanto esperavam o início da reunião.
- A aparência engana. – a voz do cunhado mais velho, Momos, soou divertida ao ver sua careta quando o líquido desceu queimando seus órgãos. – As bebidas de mulheres deixamos na sala de visitas. Essa é para engrossar a voz.
- Não exagere. – Filotes piscou para ele, indicando a garrafa d'água e os aperitivos. – Deixe um pouco para a noite.
Filotes era 12 anos mais velho que a irmã e Hyoga sentiu a pressão de ser o sujeito que levara a preciosa e única filha da família para longe. Na verdade, esse era o maior período que Hyoga passara com os Othonos.
E que semana!
Como ele sobrevivera às pegadinhas de Momos, o irmão que assumira a gestão das empresas da família e cuja missão parecia ser demonstrar o qual inadequado o lutador de artes marciais era para colocar as mãos na caçula, e ao humor inusitado de Filotes, um playboy de meia-idade que povoava as páginas de colunas sociais por todo o Mediterrâneo e que pareceu desiludido ao constatar a seriedade do cunhado meio russo? Não saberia dizer.
- Exótico. – Hyoga declarou, virando o líquido todo antes de deixar a dupla sob o sol e entrar na sala refrigerada. "Prefiro vodka."
Seu sogro, o sr. Quíron, examinava alguns documentos na cabeceira da mesa de reuniões. Fez um sinal para ele se aproximar.
- Eles devem chegar a qualquer momento. – Hyoga sentiu a atenção sobre si, embora os olhos escuros de tempestade permanecessem no papel e a expressão continuasse neutra, como estivera durante toda a semana e mesmo antes, quando o loiro se hospedara na vinícola dos Othonos. – Notícias das garotas?
- Sim, senhor. – Eiri, Yuna, a mãe, as cunhadas e as sobrinhas saíram em uma excursão ao Parthenon e ao Cabo Sunion. Hyoga buscou no celular fotos enviadas pela esposa e mostrou ao homem alto e largo, que parecia bem mais novo que os seus quase 83 anos.
Os afiados olhos cor de chumbo pareceram menos duros ao vê-las se divertindo.
"Ainda bem que eu não ouvi o Seiya."
O Sr. Othonos concordara a muito custo em marcar essa reunião. Momos escolhia como gerenciar a rotina dos negócios, mas as decisões importantes ainda cabiam a ele. E Hyoga jamais teria conseguido convencê-lo sem Eiri. Apesar das orientações, ele não hesitou em contar tudo a ela: as armações dos alemães, o envolvimento dos Solo, as medidas de defesa, contenção e contra-ataque da Fundação e do Santuário. Sabia que a esposa não o ajudaria de outro modo.
- Eu estava disposta a te defender dos meus irmãos. – ela declarara, sentada na cama com ele na noite em que chegaram, após o marido ser nocauteado pelas implicâncias dos homens da família. – Mas vou atuar em outra frente de batalha. – fora o fim de uma longa discussão. – Agradeço por, finalmente, confiar em mim.
- Os segredos não são apenas meus. – ele a encarara na penumbra, a pele clara em contraste com a camisola azul-escura e os cabelos soltos cacheando nas pontas atraindo sua mão para o braço dela. – Estou tranquilo ao ver a estrutura da sua família. Eles a protegerão se necessário.
- Veja bem, genro. – o sr. Othonos enfatizou a palavra, para lembrá-lo quem realmente conseguira a sua ajuda. – Não vá colocar tudo a perder. Você não sabe como funcionam os acordos entre comerciantes, então fale o mínimo possível. Será ruim para os negócios se os Othonos e os Nix se desentenderem. Ainda não estou convencido de que está prestes a acontecer uma traição. Vamos agir pelas costas dos nossos parceiros centenários.
- Eu entendi perfeitamente a sua explicação, senhor. – Hyoga decidira ser bastante formal e respeitoso com o sogro, cuja personalidade de empresário era oposta à do pequeno produtor de cidra de maçã que ele conhecera anteriormente. Quíron sinalizou para ele se calar.
- É claro que você não entendeu e nem poderia. Sabia que na escola de filosofia do grande Pitágoras os novatos ficavam cinco anos sem falar nada? Apenas escutavam e aprendiam. – os olhos de aço voltaram a cortar como navalhas. – Tenha isso em mente.
- Será que eles vão demor...? – Filotes estacou a um gesto do pai e deu meia-volta com o irmão. Não sem antes lançar um olhar de divertimento ao cunhado, pensando na descompostura destinada a ele agora.
Hyoga respirou fundo. Passara a semana ouvindo como Eiri fizera um péssimo negócio ao se casar com um sujeito "de fora". Não por ele ser estrangeiro, mas por não ser comerciante. Momos fizera uma série rápida de perguntas apenas para demonstrar sua inutilidade para sequer negociar nas barraquinhas da feira. Filotes simplesmente assumira que ele era suscetível a golpes e tentara lhe vender diversos objetos estranhos e duvidosos.
- Se a minha Eiri o escolheu, você deve ter algum discernimento. – Quíron esperou ficarem a sós para continuar. – Não gosto de afiançar situações das quais não tenho pleno conhecimento. Mesmo não conhecendo o cenário completo, quero que se lembre: esse é o meu terreno. – Hyoga assentiu, o rosto impassível.
- Agradeço muito por ter concordado em marcar esse encontro, senhor. – ele realmente se surpreendeu quando o sogro concordara, após longas conversas. – Continuo afirmando que não tenho qualquer intenção de desonrar o nome dos Othonos e nem de estragar a relação entre os grupos. Muito ao contrário, como o senhor verá. – mentalmente, pediu desculpas por não revelar tudo que aconteceria naquela reunião. Provavelmente, o início de uma crise.
A luzinha verde piscou no telefone ao lado. O sogro atendeu e permitiu a entrada dos convidados.
- Chame-os. – apontou para a sacada.
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SANTUÁRIO – KAMAKURA - JAPÃO
- É realmente impressionante a recuperação. – Shiryu ouviu um dos médicos comentar em voz baixa com a auditora.
Um leve sorriso passou brevemente por seus lábios enquanto ele abotoava a camisa, sentado na maca do ambulatório. Os três inspetores da Federação voltaram para comprovar a eficácia dos tratamentos do Dr. Amamiya e sua equipe.
"Não puderam evitar. Tantos ferimentos inesperados... e todos de treinamentos no Santuário." Pelo menos foi o que Shun decidira contar aos auditores quando eles viram os prontuários dos atletas que participaram da luta na estrada entre Tóquio e Kamakura. "Foi algo grande demais para esconder."
- O senhor foi tratado apenas com os medicamentos descritos aqui? – a auditora quis confirmar, aproximando-se para examinar o rosto ainda arroxeado. Os olhos pretos moviam-se rapidamente, buscando os detalhes nas faces e no nariz cheios de curativos novos. – Na semana passada, estava bem mais inchado. As manchas escuras sumiram daqui e daqui. – ela comparava com as fotos da vistoria anterior.
Shiryu viu, por cima do ombro da doutora, Shun morder os lábios para não rir.
"Muito perto!" Ele sentia a respiração dela em sua pele sensível.
- Meu tratamento é conduzido pelo dr. Shun e a minha esposa. – ele enfatizou a palavra, embora não visse alteração na postura da mulher, que tentava ver seus poros.
- A dra. Nishi Suiyama está acompanhando o caso? – o médico que examinara os ferimentos no tórax e abdômen perguntou a Shun.
- Ela permanece em viagem à Coreia, atendendo a um pedido de seu grupo de estudos no Hospital Graad de Seul. – Shun endireitou-se no portal para responder. Acompanhara os exames dos demais atletas e Shiryu era o último, então ele estava exausto. – Mantemos contato para discutir os casos. – a pequena mentira que Mayura os fizera cometer garantiu credibilidade, embora fizesse seu coração encolher.
Shiryu até sentiu pena do balde de água fria que essa informação causou nos inspetores. Apesar de Shun seguir afirmando que Shunrei não tinha prazo para retornar, eles alimentavam esperanças de encontrar a famosa neurocirurgiã que atuava em missões da ONU e publicava artigos sobre recuperação neural. Lembrava-se das expressões de choque quando Shun lhes entregara a carta-apresentação e as recomendações anotadas que ela deixara para cada um dos atletas.
- O senhor acredita que ele estará apto a participar do campeonato? – outro médico anotava as respostas no tablet.
- Não tenho dúvidas. Shiryu é o paciente com o estado mais delicado, contudo reafirmo o mesmo de antes: ele vai competir. – a firmeza na voz de Shun fez os três erguerem as sobrancelhas juntos. – Se os tratamentos mantiverem a evolução vista até o momento, não há motivos para eles não participarem.
Os três se reuniram de novo, lendo os prontuários e pegando os frascos de medicamentos. A recuperação deles fora tão acelerada que levantara fortes suspeitas e dúvidas. Coletaram amostras de sangue e saliva, embora não houvesse nenhuma evidência de que o Santuário estivesse trapaceando.
- Como o senhor se sente, sr. Suiyama? – a médica perguntou, finalmente se afastando do rosto dele.
- Minha respiração continua pela boca. Não sinto mais dor na face e a temperatura do fígado e do pâncreas não incomoda mais. – ele se inquietou com o olhar insistente da mulher, percorrendo seu corpo para os locais citados. – As pernas estão mais firmes e os ombros recuperaram a mobilidade. Sem tonturas. Dor controlada. – terminou de fechar os botões e calçou os tênis. – Estou dispensado?
Era a primeira vez que retornava ao Santuário em mais de uma semana e não queria passar sua tarde no ambulatório.
- Só um momento. – Shun saiu junto com ele e fechou a porta antes de continuar. – Nos vemos mais tarde? – a ansiedade no tom do amigo diminuiu novamente seu coração. – As crianças já embalaram os presentes de despedida e vamos levar os três para Ikki e Esmeralda às 20 horas.
- Claro! – a veemência na voz foi acompanhada de um aceno forte que fez uma dor fisgar seu pescoço. Fez uma careta. – Ryuho está animado.
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LOJA DE TRAJES TRADICIONAIS e SORVETERIA – KAMAKURA - JAPÃO
- Devíamos ter aceitado a oferta dos garotos. – Eurídice soltou o ar de uma vez, encostando na lateral do carro após soltar o embrulho no porta-malas. – Por que insistimos em vir sozinhas?
- Para bater-papo, claro. – Yuzuriha respondeu, colocando o seu fardo sobre os demais. – Não imaginei que fossem tantos!
- Até parece que vocês não conseguem carregar isso. – Pavlin organizou as sacolas que lotaram o porta-malas. – Vamos nos despedir das senhoras.
As duas mais novas emitiram sons de desagrado, mas a acompanharam de volta à loja que fabricava os quimonos do Santuário. As duas senhoras, como sempre, recomendaram não molhar levianamente os tecidos e que eles deveriam ser guardados dentro das bolsas de tecido com ramos de lavanda e citronela e pendurados para tomar ar dois dias antes do uso.
- Será uma grande cerimônia. – Yuzuriha comentou, minutos depois, quando se sentaram numa das mesinhas da sorveteria do sr. Afrodite Norgaard.
- Acredito que será a maior da nossa história. – Pavlin confirmou, tirando a jaqueta que vestira quando saíram bem cedo. As três loiras soltaram os cabelos e provocaram pequenos engarrafamentos na calçada. De repente, o fluxo na entrada da sorveteria intensificou a ponto de formar fila.
- Já passamos na floricultura, nos acessórios, nos quimonos, no buffet, – Eurídice apontou em direção a Enoshima, onde foram conferir os preparativos no restaurante dos senhores Costa e di Medici. – e as sobremesas. – voltou o polegar para a porta azul rodeada de rosas vermelhas ao lado da mesa. Marcava em suas anotações um ok ao lado de cada apontamento. – Agora, enviar as mensagens de confirmação e orientações sobre a cerimônia. Cada uma assume um grupo, ok? – as outras duas concordaram.
- Pensei que, com os últimos acontecimentos, a cerimônia seria adiada. – Yuzuriha encostou na cadeira, observando, sem nenhum interesse, o movimento e os olhares dos homens sobre elas. – Pelo visto, mamãe não estará presente. – Pavlin mordeu os lábios.
- Elas podem retornar a qualquer momento, não podem? – Eurídice questionou, anotando os contatos que elas precisavam fazer e repassando para as duas. – Enviei para vocês as mensagens que a Mestra Shaina repassou. Precisamos distribuir hoje ainda para eles terem tempo de se organizar. Lembrem dos ensaios.
- Acredito que ainda não seja o momento. – Pavlin encarou dois rapazes que insistiam em passar bem perto da mesa. Eles tentaram fazer gracinhas, mas ela nem piscou até o clima ficar insustentável e eles se afastarem, resmungando. – Mamãe só voltará com a missão finalizada. – retornou a atenção para as companheiras, como se nada tivesse acontecido.
- De qualquer forma, os preparativos estão concluídos. – Eurídice tomou um gole do suco de amora. – Mesmo que remarquem a cerimônia de investidura, nada será perdido... Talvez as flores... O buffet não é preparado com tanta antecedência...
As três eram as encarregadas de organizar o evento para admitir formalmente os Cavaleiros que reativariam suas constelações e alguns que as receberiam pela primeira vez. Devido às exigências - se realizar antes do campeonato internacional, antes da festa de casamento de Seiya e Saori e na lua cheia -, estavam ficando sem opções.
Essa era a parte fácil. Mayura jamais desperdiçaria tanta juventude apenas com produção de cerimônias. Além dos treinos para o campeonato, cada uma monitorava determinados Cavaleiros, Amazonas e suas conexões, reportando movimentos suspeitos ou inesperados que pudessem comprometer as atividades do Santuário. Isso exigia até acompanhar notícias de países distantes, como a Grécia, os EUA e o Peru. Elas, orientadas por Shaina e June, eram os olhos e ouvidos da sra. Mayura. Se referiam ao seu pequeno grupo como As Aves do Zodíaco, com a visão ampla e alta.
- Complicado conciliar com a faculdade. – Yuzuriha disse casualmente, terminando seu sorvete de morango. – Não sei como os outros fizeram. Como você conseguiu, Pavlin?
- Escolhendo um curso que permitia pegar apenas três matérias por semestre. – ela iria se formar no final daquele período com notas altas, para desespero da irmã e, principalmente, do caçula. – Vocês vão se sair bem. - Eurídice e Yuzuriha escolheram o mesmo curso, como uma forma de se apoiarem nos quatro anos de faculdade. – Precisam avisar o quanto antes sobre o campeonato. Já planejaram as faltas para não atrapalhar a frequência em sala? Verifiquem se haverá avaliação extra. Não deixem nenhum lado descoberto. – as duas concordavam com as recomendações. Pavlin acompanhava o desempenho escolar delas desde crianças e elas a consideravam sua guia para assuntos acadêmicos.
- Vocês estão nervosas com o campeonato? – Eurídice rodava a taça de sorvete na mão. – Os vídeos das adversárias têm servido? Às vezes, só consigo dormir depois de fazer flexões ou correr em volta da sede várias vezes. – as irmãs trocaram olhares preocupados. – Não participei de tantos campeonatos quanto vocês, então fico um pouco insegura...
- Amazona de Lince! – Yuzuriha bateu na mesa, fazendo Eurídice pular na cadeira. – Você acha que o Grande Mestre daria o quimono da constelação se você não merecesse? – a amiga negou. Três garotos na mesa ao lado lançaram olhares espantados. – Você duvida das nossas Mestras? – outra negativa. – Então o que é isso? – a outra respirou fundo.
- Não sei de onde veio essa sensação... – Eurídice começou a responder baixinho. – Você não fica nervosa, Yuzuriha? E se nós falharmos? A Fundação está investindo tanto dinheiro em nós. E se decepcionarmos todos eles? Não sei se eu conseguiria viver com isso.
- Claro que ela fica. Só quem não tem humanidade não fica nervoso numa luta. – as três olharam para a fonte da voz grave e irônica. Era o próprio dono da sorveteria, Afrodite. – Desconfio que até Mayura fique nervosa, embora ela consiga disfarçar muito bem. – o tom de divertimento era evidente. Ele trazia mais sucos para elas. E um dos seus arranjos de rosas vermelhas, quase tão famosos quanto os sorvetes com receitas suecas. – Por conta da casa. Espero que os nossos quimonos estejam muito bem bordados. – ele as observou por um tempo maior que o normal. – Posso dar um conselho a vocês? – elas confirmaram, sem querer contrariar um dos Cavaleiros Dourados. – É algo que aprendi há muitos anos e talvez sirva algum dia... É importante se esforçar ao máximo para realizar seus sonhos, porém, se você insiste tanto a ponto de se perder, tudo pode facilmente desmoronar. Seja o que for, quando e com quem for, sempre lembre quem você é. – ele piscou e girou nos calcanhares, os longos cabelos azuis-claros esvoaçando com o movimento fluído.
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DISTRITO COMERCIAL – KAMAKURA - JAPÃO
"Eu espero que elas fiquem bem."
Orfeu observava as duas contentes à sua frente, olhando as vitrines. Ele sentia um orgulho enorme por levá-las às compras, mesmo sendo coisas simples como material escolar ou roupas de segunda-mão, como agora. Sua fonte constante de preocupação. Afinal, eram três órfãos estrangeiros e mesmo a segurança do Santuário poderia acabar em um piscar de olhos.
- Arya, talvez encontremos seu vestido ali. – Selinsa apontou o pequeno brechó com roupas infantis penduradas na porta. Segurava a mãozinha da irmã, guiando-a pelas tentações da rua comercial.
- Será que tem também o livro que a professora pediu? – os enormes olhos azuis de Arya brilhavam com as novidades. Era a primeira vez que os irmãos a traziam.
- Podemos perguntar. – Selinsa afirmou, sem muita certeza.
- Vou ficar aqui fora, Selinsa. – Orfeu informou, escolhendo um local de onde elas o veriam mesmo do fundo da loja. – Não tem muito espaço. Me chame se precisar. – a irmã assentiu.
Nesses momentos, ele agradecia silenciosamente ter encontrado Aiolia em Atenas, há tantos anos.
"E pensar que eu quase afanei a carteira do Leão...". A lembrança o fez rir e sacudir a cabeça. "Um graveto esfomeado contra um Cavaleiro... Só o desespero me fez acreditar que tinha alguma chance." Enfiou as mãos nos bolsos do jeans, apreciando a brisa fresca no pescoço. Prendera os cabelos azuis-claros, a característica marcante da família Panagos.
- Não sei onde fica esse lugar... Japão... Não vou deixar minhas irmãs! – sua própria voz de criança ecoou em sua mente. – Como eu sei que você não vai levá-las, eu também não vou!
"Ele teve muita paciência comigo... Ainda bem." Viu Selinsa apontando o vestidinho amarelo que seria o presente de aniversário da caçulinha.
Mas não seria Aiolia quem tomaria conta dele. Um órfão da sarjeta de Atenas de repente se vira na Sibéria, treinando artes marciais para que as irmãs pudessem se alimentar no Japão. Seu Mestre, Camus, exigia muito de seus discípulos. Eles ficariam dois anos inteiros naquela remota vila congelada com o único objetivo de ficarem mais fortes. Foi quando conheceu melhor Hyoga e Isaac, seus veteranos. Treinaram até 12 horas por dia, além de cuidarem de todas as necessidades de sobrevivência, como manter a cabana aquecida e pescar ou caçar.
Uma das maiores felicidades de Orfeu foi passar de aprendiz a aspirante por dois motivos: voltaria ao Santuário para reencontrar Selinsa e seu salário compraria doces para Arya, que permanecia no orfanato em Tóquio. Ele não tinha, naquela época, noção da enormidade do gesto do Santuário ao decidir acolher três crianças gregas e levá-las, legalmente, para o Japão. Apenas recentemente a sra. June lhe contara os meses de trâmites para a adoção deles pelo seu Mestre.
- Mano, venha aqui. – Selinsa o chamou da porta.
Após ser sagrado Cavaleiro e começar a receber os prêmios dos campeonatos que participava, trouxera Arya para o Santuário. Seu próximo objetivo era conseguir uma casa para os três.
A menininha rodopiou para ele ver o movimento da saia, arrancando um sorriso do irmão mais velho.
- Será que podemos comprar também sapatos novos para ela? – Selinsa perguntou. – Arya só tem os que trouxe do orfanato e os pés cresceram. Esses não são tão caros. Se colocarmos enchimento, ela poderá usar mais tempo. – mostrou o par meio gasto e com numeração maior.
Ele suspirou, fazendo cálculos. Apesar de ser um Cavaleiro iniciante, era um dos favoritos de sua categoria segundo as projeções da Fundação Graad. Isso lhe garantiria mais recursos.
"Elas são garotas, não podem andar desleixadas." Selinsa se esforçava o máximo possível para que os três tivessem aparências dignas. Ela era objetiva e realista, colecionando cupons de desconto, atenta às promoções e escolhendo objetos de boa qualidade e duradouros.
- Claro. – Orfeu concordou. Arya bateu palmas. – Você também está precisando de uma nova saia para a escola, não é? Veja se encontra aqui também. – Selinsa enrubesceu, talvez pensando que ele não notara a barra puída e os furos na peça. Eram pequenos, mas ele percebia que ela tentava disfarçar usando uma meia-calça escura, mesmo no calor.
- Logo eu receberei o meu primeiro salário, mano. – ela afirmou com convicção. - Ficará mais leve para você.
O Santuário fornecia alimentação para os residentes e um pequeno ordenado para despesas pessoais básicas. Algumas vezes conseguiam doações de roupas e material escolar para os aprendizes. À medida que se subia na hierarquia e nas atribuições para manutenção da organização, o salário aumentava. Aprendizes; aspirantes e, por fim, cavaleiros/amazonas. Aspirantes podiam participar de torneios menores, para amadores, que em geral não davam prêmios em dinheiro. Os profissionais ficavam com 75% dos valores dos prêmios que ganhavam. A proposta do Santuário era bastante simples: os recursos vindos das premiações e patrocínios eram investidos em auxiliar novos aprendizes e aspirantes a adquirir sua própria independência. Em troca, exigia dedicação exclusiva até os cinco primeiros anos como profissional.
Há algumas semanas, Selinsa fora formalmente aceita como aspirante, após entrevistas com as Mestras Shaina e Mayura e o Grande Mestre Shion.
- Não se preocupe. – a voz dele soou suave. – Que tipo de homem eu seria se não conseguisse cuidar da minha família? – Selinsa revirou os olhos, mas gostou da confiança e do brilho no tom do irmão. "Foi um longo caminho para ele falar assim." – Depois nós vamos tomar sorvete, que tal?
- Oba! – Arya vibrou, abraçando as pernas longas de Orfeu e o deixando sem graça.
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GANGSEO-GU - COREIA
- Testei uns cinco ou seis atendentes, mas preferimos ficar sozinhas por enquanto. – a sra. Seon-In respondeu, tomando um gole da xícara de chá. – Não poderíamos deixar a farmácia fechada por vários dias, por isso não conseguimos ir ao casamento. – retornou ao primeiro assunto. Shunrei assentia para comunicar que compreendia e não estava chateada pela ausência das duas.
- Muito obrigada pelo convite e pelas fotos. – Lee Ha-Ra disse pela terceira vez desde que chegaram. – Fico aliviada pelo presente ter sido bem utilizado.
- Foi ótimo! – Shunrei exclamou para tranquilizá-la. – Em Singapura, Shiryu comprou uma calça com um grande dragão bordado para ele e um quimono com o céu ao anoitecer para mim. – mostrou fotos dos dois com as roupas novas. – E ainda conseguiu duas pelúcias de dragão que são uma fofura. Uma azul e outra vermelha.
- Será que ele sabe que existem outros animais mitológicos? – Marin comentou balançando a cabeça. – Parece Régulus com leão. Ainda bem que Pavlin e Yuzuriha gostam de aves, como águias e grous.
As quatro se reuniram nos fundos da farmácia, em meio às prateleiras de estoque. Lee Ha-Ra observava a porta de entrada e atendia os clientes. Por sorte, a visita ocorreu em um horário de pouco movimento.
- Estou feliz por ter dado certo entre vocês. – a dona da farmácia afirmou, seus olhos observando atentamente o rosto de Shunrei. As duas se viram poucas vezes, mas a médica sabia do modo protetor como a farmacêutica agia com seus empregados. Sempre se sentia analisada em detalhes. – Aquele garoto é muito ingênuo, mas é um bom sujeito. Aprende rápido e é leal.
- Parece um cachorrinho. – Marin disse, pegando o celular para ler a mensagem que vibrou dos contatos de emergência. A sra. Seon-In ergueu as sobrancelhas, sem ser atingida pelo humor ácido da ruiva. – A inspeção terminou. Está tudo bem. – informou, digitando enquanto se afastava.
- Ou um homem dedicado. – ela sussurrou para Shunrei. – Torço para que continuem sendo o melhor um para o outro. Não entendo o que você está fazendo aqui sozinha logo depois do casamento.
- Como já disse, tenho alguns assuntos para resolver em Seul e não queria que ele parasse os treinos. – Shunrei desejou não corar com a pequena mentira. Tentava se convencer de que não faria diferença elas saberem ou não do que ocorrera de fato. – Pendências do meu antigo emprego.
- Sabe aquele figurão europeu de quem você era noiva? Ele vai se casar com a princesinha das ferrovias. – Lee Ha-Ra surgiu após mais um atendimento. – Eles têm aparecido juntos nos sites de notícias quase diariamente. – procurou e mostrou dezenas de fotos de Julian com a jovem que Shunrei vira no evento da Federação, deixando a chinesa desconfortável.
- Ela é mais nova do que ele. – Marin observou por cima do seu ombro. – Mas os dois parecem se dar bem.
"Finalmente ele encontrou alguém que compartilhe os mesmos gostos." Shunrei os viu sorrindo para as câmeras, lembrando de si própria naquele papel e do incômodo no estômago que sempre sentia em ocasiões como aquelas. "Que ela consiga fazê-lo esquecer do passado." As fotos mais recentes chamaram sua atenção.
- Ah, essas são de um jantar há dois dias. – Lee Ha-Ra seguiu seu olhar. – Foi num restaurante em Gangnam. – clicou na foto e dezenas de outras do mesmo evento surgiram. - Esse outro casal é alemão.
- Ele é dono de uma das patrocinadoras do Campeonato Internacional de Artes Marciais. Nós o vimos em Tóquio há alguns meses. – Shunrei informou. – Então essa é a esposa dele? – ainda não vira Perséfone Heinstein e levou um choque com a exuberância e o magnetismo dela. Até as lentes pareciam apaixonadas por ela, enquadrando-a no centro em todas as fotos.
- Ela parece bem íntima do sr. Solo. – Marin reparou. Emitiu uma interjeição abafada antes de começar a digitar novamente no celular. – Tudo saindo conforme o planejado. – balbuciou.
De fato, a mão de dedos delicados repousava no braço de Julian, que se inclinava para ela enquanto seus pares os ladeavam caminhando e ignorando a situação.
- Quanto tempo vocês ficarão em Gangseo-Gu? – a sra. Seon-In perguntou, curiosa com as reações das duas. – Quero enviar algumas vitaminas e roupas para Ryuho e escrever uma carta a Shiryu.
- Assim que conseguir resolver as pendências no Hospital Graad. – Shunrei devolveu o celular e se forçou a conversar, sua mente em alta rotação com a revelação das fotos. – Quando souber o dia, informo à senhora. Shiryu vai gostar muito de saber que nos encontramos. Vocês foram fundamentais para ele e eu agradeço por sempre cuidarem do meu marido. – fez uma reverência para as duas.
- O seu cabelo é tão brilhante, Marin! – Lee Ha-Ra disse de forma inesperada. – O que você usa? Venha aqui para te mostrar umas pomadas que são ótimas! – foi a vez da ruiva erguer as sobrancelhas, mas a seguiu para o salão da farmácia. Assim que as vozes das duas ficaram mais distantes, a sra. Seon-In se aproximou mais de Shunrei.
- Você não é do tipo que desiste. Desde a primeira vez que ouvi falar de você, sempre soube que seria a mulher que o faria crescer. – um sorriso rápido passou pelos lábios da farmacêutica. – Não sei o que está acontecendo, mas como o conheço há mais tempo, vou te dizer: ele vai entender se você explicar. Por mais complicado e improvável que pareça, ele vai se esforçar para entender. – Shunrei suspirou, deixando as palavras da mulher mais velha flutuando ao redor. Ela não conseguiu evitar de seus olhos marejarem.
- Eu o fiz reviver um sofrimento muito grande. Não fui forte o suficiente... – sua voz tremeu. Ela respirou fundo para se recuperar. – Não sei se quero ser perdoada... Preciso de um tempo...
- Não faça assim. – a sra. Seon-In negou com a cabeça. – Não deixe a distância sedimentar esse sentimento dentro de vocês. Brigas, desentendimentos, machucados, são normais em qualquer relacionamento. – ela mordeu os lábios. – Sei que não nos conhecemos muito bem, por isso, peço desculpas por insistir... – Shunrei fez um gesto de que aquilo era irrelevante. – Se não puder conversar tudo agora, não o abandone. Fale com ele, mantenha o vínculo entre vocês.
- Marin me disse o mesmo. – a médica enxugou os olhos, recuperando a serenidade. – É incrível a senhora perceber.
- Tenho algumas décadas a mais que vocês. – a farmacêutica piscou para ela. – Sabe, Shunrei, no início de um relacionamento queremos que ele seja perfeito e nós queremos ser perfeitas. É um padrão impossível de manter por muito tempo. Diferenças de opinião são normais. O que não é normal é deixar para resolver quando já é tarde demais. Acredite: tudo na vida tem um tempo certo para acontecer, até mesmo o amor.
- Shunrei, precisamos ir. – Marin apareceu na porta, mostrando o celular. – Desculpe interromper vocês. Conseguimos a audiência.
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ATENAS - GRÉCIA
- Voltando àquele ponto que debatemos mais cedo, sobre as porcentagens de lucro dos transportes entre Oriente Médio e Europa. – a voz de Quíron alcançou a extensão da mesa de 20 lugares, embora só sete estivessem ocupados. – Vamos repassar mais uma vez para todos entenderem. – não era uma pergunta, tampouco uma ordem. Soou como uma concessão.
Hyoga sabia que ele estava ganhando tempo.
"Se eu sei, todos aqui sabem também." Tempo para se convencer a assinar os papéis que os representantes da Fundação Graad trouxeram já redigidos. O patriarca dos Othonos não gostava de ser colocado contra a parede. Nas longas horas de duração da reunião, a Fundação o apertava e ele sempre conseguia se desvencilhar. Era um negociador nato.
Mas a presidenta do Conselho de Administração da Fundação na Grécia também era.
- O que nós precisamos é ameaçar os Nix no lugar onde está o maior lucro deles. – ele se lembrou da explicação de Saori na videochamada. – Dar trabalho para os aliados dos Heinstein.
- Acima de tudo, Hyoga, precisamos que esse acordo com os Othonos seja duradouro e confiável, especialmente para eles. – seu Mestre Camus surgira na tela, reforçando as orientações de antes da viagem. – Quando os Heinstein e o Nix perceberem, será tarde demais.
Seus cunhados estavam impacientes com o pai. O acordo proposto pela Fundação era vantajoso, sendo um terço maior do que o renovado com os Nix há seis anos. Abrangia não só as empresas diretamente gerenciadas pela Fundação, como as subsidiárias e onde ela tivesse participação societária. Incluía também porcentagem pela utilização das estruturas, entrepostos e transportes entre o Mediterrâneo e o Mar Cáspio, chegando por terra e mar ao subcontinente indiano e o Japão. Havia apenas uma exigência: exclusividade.
Para além de ir contra os seus instintos de não colocar todos os ovos num único cesto, Quíron Othonos não parecia disposto a romper os contratos e os laços comerciais que remontavam ao século 13. As duas famílias cresceram e prosperaram juntas, expandindo as rotas de comércio por terra, mar e ar.
- Senhor Othonos, estamos entre amigos aqui. – a presidenta do Conselho da Fundação recostou no espaldar alto da poltrona. – Já discutimos cada artigo e parágrafo do contrato. Por favor, externe seus pensamentos sobre a nossa proposta para que as dúvidas sejam sanadas.
O velho Quíron cravou os olhos no rosto queimado de sol de sua antiga gerente de relações internacionais, tentando ler por trás da expressão neutra o real significado de tudo aquilo.
- Que eu saiba, a Fundação Graad tem acordos comerciais com os Solo e os Hecaterian tanto no Mediterrâneo quanto na Ásia Menor. Por que vir a nós agora?
- Talvez seja porque a presidente da Fundação no Japão conheceu nossa irmã. – Filotes não se importou com possíveis repreensões do pai. Falou apontando para os representantes e o cunhado. – Eiri pode estar brincando de advogada de família, mas ela tem sangue de comerciante nas veias. Com certeza falou sobre nós para a srta. Kido.
- Da forma como vejo, o acordo proposto pela Fundação tem garantias que vão agradar nosso Conselho Deliberativo. – Momos ponderou, sua versão do contrato toda sublinhada e com anotações nas laterais. Enquanto o pai interrogava os proponentes, ele fazia contas e comparações. – Além disso, nos traria a possibilidade de entrada nas Novas Rotas da Seda.
Hyoga permaneceu calado praticamente a reunião inteira, se pronunciando apenas sobre comentários genéricos quanto à sua relação pessoal e profissional com a Fundação. Gostou de saber que a presidenta da Fundação ali era uma conhecida dos Othonos.
Astrea Ceos aparentava ter 60 anos. Tão alta quanto Quíron, sua pele cor de oliva realçava os olhos e cabelos castanho-claros e sua expressão era sempre serena como sua voz. Ela deixava que todos falassem para só então emitir sua opinião. Hyoga aprovou a escolha da negociante. Descobrira que o sogro precisaria de toda sua força de vontade para contrapor os argumentos dela. Suas duas acompanhantes, Leto e Febe Ouranos, eram gêmeas bem mais novas do que sua chefe, embora demonstrassem conhecer a fundo os negócios e os relacionamentos dos Othonos. O Cavaleiro de Cisne apenas esperou o momento no qual o sogro o usaria como rota para diminuir a pressão.
- Senhora Ceos, deve entender o que essa proposta pode fazer com os meus negócios apenas pela fala dos meus dois filhos imprudentes. – o volume da voz de Quíron continuava alto, o que fez as gêmeas franzirem a testa levemente. – Vocês vieram para nos desestabilizar e isso não vou tolerar. Eu ensinei a você a coisa mais valiosa de um comerciante: lealdade para com os leais. – um sorriso iluminou o rosto de Astrea.
- Pensei que sua lição mais valiosa era: venda o máximo que puder, pelo maior preço, com o maior lucro e no menor tempo possível. – a voz dela era serena e baixa, um contraste brutal com o trovão gutural e dominador de Quíron. – Sim, eu estou tentando lhe vender esse acordo, mas não pense que ele é vantajoso apenas para vocês. Nós temos vários pequenos contratos, só que nenhum em escala continental. – Astrea articulava as palavras completas, como uma professora em sala de aula. Entrelaçou os dedos sobre a mesa, numa clara sinalização de que não estava ali para antagonizar. - Veja, meu caro, nós representamos uma das maiores companhias do mundo, mas ela não é eurocêntrica e isso dificulta as relações comerciais. Mesmo com os Solo, não conseguimos expandir para além da Grécia e nossa presença na América é ainda menor. Com a sua ajuda, podemos atingir toda a Europa e o norte da África. Ninguém sai perdendo aqui. – sua postura não demonstrava sinal de cansaço ou enfado, ao contrário dos Othonos mais novos, que estavam cada vez mais impacientes. Então, deu sua cartada final. – Se lembra quando conversávamos sobre aumentar nossas relações asiáticas? Singapura, Honk Kong, Seul, Tóquio, via Irã, Índia, China e as repúblicas "tão" dos russos? É a nossa chance! – exclamou, enérgica. – Entretanto, essa proposta está de pé apenas até às 22 horas de hoje. Se até lá não conseguirmos nos entender, faremos um contrato adicional com os Solo e os nórdicos da Northern Lights. – Hyoga viu os rostos dos cunhados abrirem de espanto, simultaneamente buscando o relógio e se desesperando. Os olhos cor de chumbo do sogro estreitaram perigosamente. – Quem não quer rotas de livre comércio, não é mesmo?
- Pai... – Momos murmurou, engolindo em seco. Conhecia Astrea desde criança. Sabia que ela não blefava.
- Faltam 15 minutos! – Filotes exclamou, sem se importar com mais nada.
Quíron mexeu o queixo de desgosto. Há décadas não negociava em condições tão desfavoráveis. Hyoga sentiu toda ira direcionada a si quando o sogro apontou o dedo para ele.
- Você. Venha. Agora. – foi o que o loiro entendeu dos rosnados e gestos. Acompanhou o homem quase duas vezes mais largo do que ele para o corredor. – Não se atrevam a dar um pio! – lembrou aos filhos antes de bater a porta.
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SORVETERIA – KAMAKURA – JAPÃO
- Até que enfim vocês chegaram! – Yuzuriha exclamou, acenando ao ver o grande grupo atravessando a rua.
- Não acredito que você o chamou... – as bochechas de Pavlin ficaram vermelhas ao ver o namorado no meio da turma jovem do Santuário.
- O cara merece se divertir um pouco. Ficar só na barra do sr. Shion deve cansar. – a irmã piscou para ela.
- Vamos precisar de mais três mesas. – Eurídice tratou de organizar o local, subitamente lotado. – Logo Orfeu e as meninas devem chegar também.
- Isso aqui vai ficar bem movimentado agora. – Misty, um dos ajudantes de Afrodite, constatou, virando-se para dentro da sorveteria. – Jamian, mais três bandejas de macarrons e uma Prinsesstarta inteira!... Agora, seu preguiçoso!... Meninas, querem leite? – Eurídice confirmou, já que as outras duas estavam ocupadas recebendo o grupo e redistribuindo os lugares. – Duas jarras de leite fresco. – ele analisou o conjunto e rodopiou nos calcanhares, deixando as madeixas loiras brilhantes esvoaçando.
- Não podemos demorar. – Teneo comentou, ajudando a colocar as cadeiras em volta das mesas. Sentou-se perto de Haruto e Kiki, deixando espaço para os ainda ausentes.
- Desculpe ter atrapalhado o seu dia... – Pavlin estava encabulada e se surpreendeu com a tranquilidade com que Mu segurou sua mão e a guiou para perto de Kiki.
- Foi uma ótima ideia. Ainda não viemos aqui, mesmo com Afrodite convidando. – os olhos cinza-escuros brilharam de contentamento ao olhar a decoração da fachada. – E os mestres deles os deixaram sob minha responsabilidade.
- Pode ficar descansado, Mu. Nós conhecemos bem essa parte da cidade. – Yuzuriha puxou Yato para sentarem no meio da mesa e ficarem de olho em toda a movimentação.
- Depois vamos até a livraria do sr. Jabu. – o coreano apontou para onde ficava a loja, mais adiante na rua. – O sr. Shun pediu para entregar um remédio para ele. – Yuzuriha assentiu, muito interessada no comportamento dos dois à sua frente.
Régulus parecia uma chaleira de tão vermelho. Não parava de mexer na parte de trás da cabeça, desfazendo os cachos dourados e fazendo os cabelos espetarem para todos os lados. A outra mão firmemente segurando a da garota igualmente tímida ao seu lado. Era a primeira vez que saía com Shoko como namorada. Os dois sorriam sem graça e chamavam mais a atenção do que se estivessem sentados.
- Se vocês continuarem aí, vão confundi-los com dois pirulitos de morango. – a irmã indicou os dois lugares vagos. – Vou tirar uma foto e mandar para mamãe e papai.
- Yuzuriha! – o irmão rugiu, levantando muito nervoso e arrancando risadas de todos, menos Mu e Pavlin.
Shoko também riu e o puxou de volta para a cadeira.
- Deixa de bobagem. – ela pediu baixinho. – Está tudo bem. Eles são seus amigos, não são?
- Mas eles precisam respeitar a gente. – ele argumentou, olhando por cima da cabeça dela para a irmã, cuja atenção já estava em outro lugar.
- Até parece que você não zoava a gente, Leãozinho! – Teneo disparou. – Agora aguenta.
- Mestre, posso pedir três bolas de sorvete? – Kiki inspecionava as taças nas mesas próximas e salivava por uma taça com três bolas equilibradas sobre uma banana. – Prometo que farei minhas lições de casa hoje ainda, assim que retornarmos. – uniu as mãos tentando vencer a expressão de incredulidade de Mu. – Srta. Pavlin, é uma combinação boa, não é? – Pavlin gaguejou. Sabia que não deveria se intrometer entre os dois. Considerava Mu um mestre menos rigoroso que sua mãe, mas bem mais rígido que seu pai, e não queria desautorizá-lo. Desde o início do namoro, sentia que Kiki testava os limites dela. Em mais de uma ocasião, Pavlin se provara mais rigorosa que Mu.
- Você sabe as consequências de não cumprir uma promessa ao seu Mestre, não sabe? – ela arriscou, acompanhando a reação do namorado. Kiki confirmou com acenos frenéticos. – Que tal esperar para ver o que já pedimos? Se ainda assim você quiser aí veremos, está bem? – sentiu um aperto em sua mão.
- Kiki, uma das virtudes de um bom guerreiro é analisar o ambiente onde está e depois as opções que se apresentam para ele. – a voz de Mu continuava tranquila. – Paciência e concentração, em qualquer circunstância. - Kiki assentiu com mais cerimônia.
- Aqui estão os macarrons. – Misty anunciou a chegada dos doces, colocando bandejas de dois andares no centro de cada mesa. – As jarras de leite. – Jamian distribuiu pratos e copos. - E ela! – exclamou quando a torta verde de maçapão aterrizou no centro do grupo. Anotaram pedidos individuais de chás e cafés e voltaram para o interior da sorveteria.
- Eu corto as fatias. – Eurídice se ofereceu, puxando a travessa para perto e começando a dividir a torta. – Yato, você me ajuda passando os pratos já servidos?
- Acho que sei quem vai se casar primeiro aqui. – Yuzuriha comentou, admirada com a destreza da amiga. – Ah, se Orfeu visse isso!
- Visse o quê? – o próprio chegava com as irmãs e algumas sacolas. – Boa tarde a todos. – cumprimentou-os antes de se aproximar da namorada.
- Yuzuriha acha que eu já posso casar porque consigo cortar um bolo. – os olhos de Eurídice cintilaram na direção dele.
- Bem, tenho certeza de que você será uma excelente esposa, sabendo ou não cortar um bolo. – a declaração despreocupada rendeu uma onda de exclamações. Os dois eram o casal mais antigo da mesa e Orfeu não era mais suscetível às provocações dos amigos. – Vou ajeitar Arya e já volto.
- Aqui, Orfeu. – Teneo e Régulus falaram juntos. Os dois prontamente trocaram de lugar com as namoradas, de modo que Selinsa e Shoko ladeassem a pequena Arya. Eram os dois aspirantes mais próximos do Cavaleiro de Lira, tendo-o como um modelo de lutador jovem.
Teneo também era discípulo de Camus, portanto os dois passavam várias horas juntos diariamente. Orfeu ajudara Pavlin a cuidar de Régulus nas ausências dos pais desde a infância. As famílias Kodama Sollis e Panagos sempre estiveram juntas. Alguns ficaram desapontados que Orfeu não escolhesse uma das filhas de Aiolia como par romântico. Eles riam das suposições, pois se consideravam irmãos.
- Que bom que nos sentamos perto uma da outra, Arya. – Shoko a recebeu com um sorriso de quem assumia a responsabilidade. – Você vai me mostrar o que tem dentro dessa sacola? – a garotinha confirmou após um rápido olhar de permissão para a irmã.
- Foi o meu mano quem comprou. – ela informou, animada, assistindo o irmão voltar para perto da namorada. – A mana me ajudou a escolher.
- Então essa é a nova geração do Santuário? – Afrodite veio cumprimentar os recém-chegados. – E você está confortável no meio deles, Mu?
- Pode não parecer, Afrodite, mas eu tenho 23 anos. – o sorveteiro deu uma risadinha debochada, supervisionando Misty servir os chás e cafés que espalharam aromas de ervas e especiarias pela mesa.
- Vai me desculpar, você não luta como quem tem 23 anos. – Yato comentou, bebendo um gole do leite e deixando um bigode branco.
- Obrigado, Yato. – Mu corou de leve. – Você também é da nova geração do Santuário, Afrodite. – os cabelos azuis dançaram quando ele balançou a cabeça.
- Eu sou de uma geração perdida que está tentando reencontrar o caminho de volta. – ele piscou, atirando uma das rosas que emolduravam a porta na direção do outro Cavaleiro de Ouro. Mu a pegou sem dificuldade. – Estamos apostando nossas fichas novamente no Santuário.
Mu acariciou as pétalas entre seus dedos.
- Nós da nova geração agradecemos a vocês a oportunidade de vê-los em ação. – fez uma leve reverência. – Daremos o nosso melhor para honrar o caminho que vocês abriram para nós. –Afrodite riu. Respondeu à reverência e desapareceu no interior da loja.
- É interessante que as gerações passadas do Santuário não começavam como nós estamos começando. – Pavlin disse, oferecendo um macarron para Selinsa. – Nenhuma outra tinha tantos relacionamentos amorosos. – explicou, gesticulando para formar um círculo abarcando as pessoas da mesa. – Será que isso é uma boa?
Selinsa iria responder e desistiu. Pavlin era sua veterana, já era uma Amazona.
- Só aqui temos cinco casais. – Régulus, Selinsa, Teneo e Yato enrubesceram diante da constatação de Yuzuriha. – Isso é uma coisa boa, não é? Quer dizer, nós somos muito unidos. Mostra união.
- E se os relacionamentos terminarem? – Yato perguntou imediatamente. – Quem vai sair do Santuário?
Fez-se um silêncio quebrado apenas pela conversa de Shoko e Arya, que girava em torno das roupas novas. Mu pediu uma das presilhas da cunhada e prendeu a rosa no cabelo de Pavlin.
- Vocês estão fazendo a pergunta errada. – Régulus tomou coragem e deixou o rubor de lado. – Não podemos assumir compromissos dessa forma. Meu pai me disse uma vez que mesmo se ele fosse expulso do Santuário, jamais deixaria minha mãe. Eu não estou com a Shoko porque ela estuda no Santuário e sim porque eu... eu... eu gosto dela – ele voltou a ruborizar porque a namorada ouvira seu nome e se virara para ele, abrindo um sorriso enorme e envergonhado.
- Você está certo, Régulus. – Orfeu o apoiou do outro lado da mesa. – São compromissos diferentes.
- O Mestre Camus, por exemplo, ficou muito tempo longe do sr. Milo e nunca abandonou o Santuário. – Teneo lembrou. – Já o sr. Shun deixou de ser Cavaleiro e continuou casado com a sra. June.
- São vários exemplos de relacionamentos diferentes. – Selinsa se pronunciou. – Não há fórmula certa ou errada. O importante é não misturar as coisas.
- O que não é nada fácil. – Shoko entrou na conversa também. – Sei que sou a mais nova no Santuário, mas consigo perceber que esperam muito de nós, muita dedicação também... Às vezes, pode ficar complicado. Por exemplo, a sra. Marin e a sra. Mayura ficam muito tempo fora. E o sr. Shiryu se machucou tão seriamente que não viu a esposa indo embora.
- Vocês bem que estão aproveitando a ausência da mamãe, não é? – Yuzuriha zombou, recebendo o olhar fulminante de Régulus. – Falando sério, é um equilíbrio que precisa ser acordado pelo casal.
- Mas você não me avisou que... – Yato ia protestar e mordeu os lábios, se lembrando dos conselhos de Aiolia sobre confiança. – Nada não... – sinalizou para a namorada continuar.
- Posso falar por mim. – Eurídice terminara a partilha da torta, empurrando o restante para o meio do grupo. – Por nós... Um dia, a sra. June disse que o segredo era harmonizar o que incomodava, tanto no relacionamento quanto no Santuário. Não deixar para resolver os problemas depois... Isso não é fácil porque não depende só de mim, mas ao meu redor há pessoas tão empenhadas quanto eu. – ela emitiu um dos seus raros sorrisos. Era uma garota que quase morrera de fome e chegara ao Santuário praticamente pele e ossos. O sofrimento a tornara séria e introspectiva. Ficara semanas catatônica, sem reagir a qualquer estímulo. A lira de Orfeu fora a única coisa que a fizera se mover. Seus olhos enchiam de lágrimas. Ele se assustava, mas ela o segurava pela manga e pedia que continuasse a tocar.
- Harmonia é uma bela palavra. – Selinsa constatou. – É como a Mestra Shaina diz: harmonia entre corpo, mente e espírito.
- As culturas antigas orientam esse exercício constante de harmonia dentro e fora de nós. – todos se viraram para Mu. Era raríssimo ele e Pavlin sentarem-se para conversar com aquele grupo mais jovem. No Santuário, ele teria a patente mais elevada. Dentre os novos Cavaleiros, fora o único com permissão para manter seu discípulo. Ali fora, ele era mais respeitado como namorado de Pavlin, embora suas colocações estivessem proporcionando uma reputação própria. – Acredito que o segredo de manter o compromisso seja exercitar três virtudes: força de vontade, consciência e dedicação. – ergueu um dedo para cada virtude nomeada. - E dar o nosso melhor.
- Vejam, um grupo como o nosso não é a soma das habilidades de cada um. – Pavlin pediu para provar o chá de cardamomo que o namorado pedira. – Nossa força é a multiplicação. Nós potencializamos uns aos outros. – Mu sorriu, concordando. – Seja como equipe esportiva, como amigos ou como família. Nós assumimos que fazemos a diferença e faremos. – cabeças concordaram. Ela viu o brilho nos olhos deles e ficou feliz.
- Como disse um anime que assisti, "a oportunidade surge para quem está preparado". – Kiki estava acompanhando a conversa por trás de uma montanha de bolo. Seu Mestre o olhou boquiaberto, fazendo-o sorrir com a boca cheia de chantilly. – Eu vou me preparar e serei um grande Cavaleiro e um bom namorado, podem apostar!
- Cuidado, damas do Santuário! – Yato arrancou gargalhadas da mesa.
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ATENAS - GRÉCIA
- Se eu sentir que alguma vírgula está no lugar errado... – Hyoga sentia o hálito do sogro. Ele tinha um cheiro de perfume almiscarado, azeitonas e sal. - Se eu acordar à noite com um sonho ruim sobre naufrágios... Se uma folha cair virada no meu caminho a partir de agora, irei atrás de você. – os braços fortes o seguravam pelo pescoço contra a parede e ele não queria desrespeitá-lo se desvencilhando com facilidade, então permaneceu impassível diante da expressão ameaçadora. – Você mexeu com o meu orgulho, moleque... Eiri conseguiria um homem mais adequado...
Duas vezes empregados surgiram na entrada do corredor e voltaram em silêncio ao ver os dois homens do lado de fora do escritório. Essa última frase conseguiu um leve tremor na bochecha do loiro. Eles não desviavam o olhar um do outro. O debate já durava quase dez minutos.
- O senhor conhece a reputação da Fundação Graad e da srta. Kido. – Hyoga escolheu um tom bem suave, parecido com o que usava para ninar Yuna. – Sei que os seus contatos na guilda fizeram um diagnóstico favorável, então suponho que seu receio tenha outra origem, sogro. – a entonação destacou intencionalmente a palavra. Como esperado, o rosto do velho Quíron ficou mais vermelho. – Imagino que não seja pela iminente expansão das suas operações. Eiri me disse que o senhor reergueu o império mercante dos Othonos retomando antigas parcerias e abrindo novas rotas. – os olhos cor de chumbo estreitaram perigosamente, como duas facas. – Eu percebi essa semana que o senhor sente muita falta del... – o antebraço pressionou mais ainda o pescoço do genro, dificultando a respiração. Os braços de Hyoga permaneceram soltos ao longo do corpo. – Eiri tem um... bom... tino comercial... – o loiro puxou o ar e sentiu uma dor aguda.
Hyoga sabia dos telefonemas longos entre Eiri e o pai todas as noites desde o primeiro dia dela fora de casa. No início, ele achava que era para assegurar a integridade da filha maluca que resolvera se lançar numa aventura romântica com um completo desconhecido. Com o passar do tempo, ouvindo pedaços das conversas, o motivo real ficou mais evidente. Ao conhecer seus cunhados, ele tivera certeza. O simpático produtor de cidra, outrora entusiasmado com o jovem lutador de artes marciais, o recebera com vinagre e pedras. Se não fosse sua sogra, Cháriklo, seu sofrimento teria sido bem maior. Ela ajudara Eiri a amaciar os ataques que ele recebia dos homens da família.
- Seu fedelho de merda! – Quíron rilhou os dentes e Hyoga pensou que ele quebraria seu pescoço. – Você enfeitiçou a minha filha! Eiri tinha um futuro promissor. Eu a estava preparando para assumir o meu lugar. Não vou perdoá-lo por arruinar a vida dela.
Hyoga não sabia que sua postura de não reagir era o que mais irritava o sogro. Se ele soubesse, pelo bem da missão teria socado o queixo do sujeito. Ao invés disso, moveu os lábios.
- Ela parece arruinada para o senhor? – murmurou, colocando as mãos para limitar o aperto e evitar que desmaiasse. – Eu jamais forçaria uma mulher a qualquer coisa, muito menos Eiri. O senhor a conhece melhor do que eu, sogro. Sabe que ela decide a própria vida. – não havia animosidade no tom da voz de Hyoga. "Permanecerei atento para não fazer com a minha filha o que você tentou fazer com a sua." – O acordo com a Fundação não tem nada a ver com o nosso relacionamento pessoal, mas vou tranquilizá-lo assim mesmo: Eiri está casada comigo com separação total de bens. Até uma semana atrás, eu não sabia nada sobre os Othonos além da propriedade das maçãs. Estou com ela porque a amo. – em nenhum momento os olhos azuis desviaram do rosto vermelho do grego.
Quíron se espantou com a força das mãos do genro. Sem agressividade, Hyoga o afastou o suficiente para desencostar da parede.
- Você veio com o intuito de destruir a minha família!
- Não. Vim para salvar a minha. E isso inclui os Othonos. – Hyoga disse as palavras com firmeza, fazendo o sogro piscar sem entender. – Eu seria uma espécie de monstro se deliberadamente trabalhasse para destruir a família da mulher que amo. O senhor sabe que não há nada de errado com o contrato. Os ciúmes de pai e estão interferindo em seu discernimento como comerciante. Entendo perfeitamente a dor de não a ter por perto. Eiri é uma mulher extraordinária e ela sempre fala como o senhor a ensinou agarrar as oportunidades quando surgem, sem medo. Por que o senhor acredita que esse acordo está sendo oferecido especificamente aos Othonos?
A pele de Quíron voltava lentamente ao tom rosado normal. As palavras do genro finalmente começavam a fazer sentido. Parecia que ele o compreendia pela primeira vez.
- Eiri me contou que tem feito trabalhos para a srta. Kido. – o grego respirou fundo. – Certamente comentou nosso ramo de negócios. A Fundação Graad precisa de estrutura de logística entre a Europa e a Ásia e África. – sua voz retornou ao tom determinado de comerciante. – Pelo que Astrea disse, a expectativa é de aumento de volume de circulação em mais de 170% nos próximos quinze anos.
- Eiri Othonos não perde oportunidades de negócio. – Hyoga respirou fundo, apesar da garganta arder. – A Fundação está disposta a confiar na recomendação indireta dela. Resta saber se o senhor está disposto a fazer o mesmo.
Uma sensação de alívio percorreu seus nervos quando ele acompanhou o sogro de volta à sala de reunião.
"Perdão por suas conversas descontraídas com Saori terem se tornado jogadas de marketing, querida." Jogou o pensamento para o ar, esperando não ter que explicar essa conversa em detalhes.
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PORTO DE INCHEON - COREIA
Shunrei conhecia bem aquela sala de espera. Mesmo quando podia entrar livremente, ela jamais o fizera sem ser anunciada.
- Nós merecemos. – Marin se mexeu ao seu lado. Ela não gostava de ficar parada. – Ele faz essas coisas de propósito. Na Grécia era do mesmo jeito. – afirmou, bufando de impaciência, rememorando a juventude na universidade em Atenas, onde convivera com o jovem Julian Solo e suas excentricidades.
Essa semana as aproximara. Shunrei descobrira que Marin era, além de ótima conselheira, uma companheira leal, com uma usina aparentemente inesgotável de energia e determinação.
Precisaram de criatividade para esperar aquela ligação.
Para Shunrei era a Unidade Especial de Pesquisa a Traumas Neurológicos Infanto-Juvenis. A equipe ficara encantada com suas visitas. Ela demorara meio dia para se ambientar totalmente. Ficou orgulhosa da evolução da unidade e chegou a participar de reuniões entre as equipes presenciais e à distância. Gostou de rever a dra. Pauline Blanche, que fora em seu auxílio há tantos meses. Seu coração expandiu ao constatar as engrenagens funcionando sem grandes problemas, faltando apenas desenvolver o braço da pesquisa.
Marin não podia ficar longe da chinesa, então se esforçou para encontrar locais para treinar nos jardins bem cuidados ao redor do prédio da Unidade Especial. Evitava contatar o Santuário, embora se reportasse à Mestra Mayura à noite. Por instruções dela, só falara com Aiolia uma vez. Em algumas ocasiões, ela sentia segurança suficiente para deixar Shunrei sozinha e tentava se aproximar de Julian Solo pessoalmente, já que ele ignorava suas ligações. Apenas uma vez o avistara, mas fora impedida pelos mesmos sujeitos sentados no sofá à frente delas.
Ela conhecia os três dos campeonatos de artes marciais. Era lutadores experientes, adversários fortes dos Cavaleiros em diversas ocasiões, embora fosse a primeira vez que estivessem patrocinados pela Solo Corporation. Eram da mesma idade da geração de Seiya e Shiryu e pareciam deslocados no elegante hall com seus agasalhos de treinamento nos quais se lia "Generais Marinas". As cumprimentaram formalmente e agora se distraíam com seus celulares. Para todos os efeitos, eram atletas em intervalo de descanso.
Marin pegou uma revista da mesinha de centro, seus sentidos expandindo em alerta.
Shunrei se lembrava do homem de cabelos rosa-chiclete, repicados e apontando para todos os lados. Ele fora chamar Julian a pedido de Sorento, no evento da Federação Internacional.
"Scylla." A voz de Julian ecoou em sua mente. "Os olhos vermelhos exalam confiança." O cabelo volumoso, os traços ocidentais e a pele branca contrastavam com as do homem ao seu lado. "Parece indiano ou paquistanês." Ela sacudiu a cabeça, ao pensar que presumia por estereótipos porque o sujeito tinha a pele morena e os olhos delineados dos indianos que conhecera. "Exceto Shaka e Mu... O moicano branco só pode ser uma espécie de marca registrada, tipo as tatuagens dos Cavaleiros." Para completar o visual agressivo, um berloque em formato de presa de marfim perfurava a orelha esquerda.
- Chrysaor lutou três ou quatro vezes com Shiryu. – Marin rompeu o silêncio que tinham combinado. – Eles se enfrentam desde os torneios juvenis. Já Scylla e Lymnades costumavam cair nos grupos de Shun e Ikki. – ela comentou alto o suficiente para os três ouvirem. – Os rapazes vão ficar encantados ao saber que os encontramos. Pelo que me lembro, o placar está favorável à Zodiac Team.
O terceiro lutador tinha a aparência mais curiosa para Shunrei: a pele tão branca que parecia brilhar lilás na luz fluorescente, a boca larga com um persistente sorriso no canto, os cotovelos apoiados nos joelhos com o celular encobrindo todo o seu rosto menos os olhos, focados sem disfarces nas duas mulheres. Os cabelos verde-escuros curtos deram à chinesa a desagradável imagem de alguém retirado do fundo do mar.
A descontração foi desmontada no instante em que a maçaneta girou. Os três endireitaram as posturas e os celulares sumiram.
- É claro que sim. – uma voz feminina soou divertida. – Na primavera nós estaremos juntos, com certeza!
- Como nos velhos tempos. – o tom de Julian era de alegria. As duas vozes se aproximavam da porta. – Mais uma vez, agradeço a visita, prima. Espero que seu marido não esteja impaciente.
- Ele me devia um passeio. – a dona da voz suave saiu para o hall e os olhos castanho-claros miraram diretamente Marin e Shunrei. O sorriso no rosto delicado aumentou e a mulher as cumprimentou com um leve aceno de cabeça. – Tem sido uma experiência diferente do consultório. Rever tantas pessoas queridas e conhecer outras.
- Senhora, me perdoe, mas receio que estejamos atrasados. – o último a sair do escritório foi o mesmo homem que Shunrei vira junto a Alone Heinstein. As sobrancelhas franzidas e a expressão raivosa eram sublinhadas pelos olhos pretos compenetrados e os cabelos azuis-escuros espetados. A aparência agressiva era o oposto da suavidade da mulher que respondeu indo até o elevador.
- Você tem razão, Kagaho. – ele caminhou à frente dela, segurando a porta do elevador.
- Façam uma boa viagem de volta. Siga meu conselho e parem em Dubai por três dias. – Shunrei ergueu as sobrancelhas para o tom carinhoso de Julian e o gesto de tomar e beijar as mãos que tocavam o pingente de rosas de rubi ornamentando três caveiras de diamante no colo da bela mulher. Só depois que o elevador desceu, ele reconheceu a presença delas, sinalizando para aguardarem.
Shunrei notou que a expressão sorridente desaparecera. Ele fechou a porta ao voltar para o escritório.
- O sr. Solo as receberá agora. – a secretária anunciou, dez minutos depois.
"O perfume dela ainda é perceptível." Shunrei sentou-se na confortável poltrona de espaldar alto. Respirou fundo para tentar barrar a enxurrada de memórias que transbordaram assim que pisou dentro da sala. "Nem sempre foi ruim, não é mesmo? Ou não teria durado sete anos." O cheiro adocicado e insinuante comprimiu seu coração.
Marin lhe repassara as informações sobre Perséfone Heinstein e ela pensara estar preparada para o impacto. Mas a realidade se mostrara bem diferente. Era realmente uma figura impressionante.
Julian se levantou e as cumprimentou com uma reverência.
- Hoje é o meu dia de sorte. – sua expressão neutra destacava o divertimento brilhando nos olhos azuis. – Ao invés de políticos mimados, mulheres lindas... O que posso fazer por vocês, damas?
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SANTUÁRIO – KAMAKURA - JAPÃO
A nova decoração da sala do Grande Mestre aparentava ser caótica. Só ao atentar para as imagens e mapas cobrindo as paredes se notaria que havia uma harmonia ali. Cada folha ou foto receberam uma cor que a relacionava a outras do mesmo grupo. Estavam dispostas conforme o assunto geral, por exemplo, contenção da imprensa, ameaça física e neutralização. Cada pessoa a que dizia respeito tinha sua própria cor.
- As suas têm o post-it verde. – Mayura informou ao vê-lo tentando decifrar os códigos. – Todos do sobrado verde, na verdade. – ela se aproximou, apontando no mapa os alfinetes verdes em Kamakura, China e Coréia. – A família de Ikki é laranja. – alfinetes no Japão e América Latina e vários recortes de jornal com post-it da mesma cor. – A estratégia contra ele são as notícias falsas de desordem e descumprimento da lei.
- Ainda bem que a Fundação tem advogados tão dedicados. – Shion disse suavemente, indicando a cadeira em frente à sua mesa para Shiryu. – A sua aparência está bem melhor. Shun tem sido incansável para deixar todos em forma para o campeonato. – a voz do Grande Mestre tinha esse poder calmante, instigando a confiança em que a ouvia. - Dohko comentou que você quer voltar aos treinos, mas eu gostaria de saber se você estaria disposto a nos auxiliasse pelo menos até receber alta médica.
Apesar de morar no Santuário desde criança, Shiryu poucas vezes entrara na sala de Shion. Não que fosse proibido, mas, por alguma razão, ele pensava que era um local de grande seriedade e respeito. Quase um ambiente cerimonial. Se sentia um pouco intimidado.
- Com Marin fora e as outras Amazonas com a monitoria e cobertura dos nossos lutadores, precisamos de apoio com a segurança no Santuário, nas casas ao redor e nos locais das etapas do campeonato. – Mayura explicou, sentando na poltrona ao lado do Cavaleiro de Dragão.
- Imagino que você esteja ansioso para agir, Shiryu. Seiya e Ikki têm insistido bastante nisso, mas não precisavam se preocupar. – Shion ofereceu uma xícara de chá de alcaçuz. Incentivou com um sorriso o jovem a beber o líquido aromático e doce.
- O Mestre Dohko comentou sobre a necessidade de manter a nossa segurança. Além das câmeras, seria interessante combinarmos sinais de comunicação entre nós, para o caso de precisarmos alertar sobre diferentes ameaças. Também formas de comunicação menos rastreáveis entre Kamakura e Tóquio. – o chá pareceu destravar sua garganta. – À medida que o campeonato se aproxima, seria oportuno deixar os envolvidos a par da situação. Fora as pesquisas sobre os adversários, que Seiya, Ikki e Esmeralda têm feito, seria interessante promover um treinamento intensivo para todos os competidores.
A postura de Mayura relaxou e Shion emitiu um meio sorriso.
- Vejo que você pensou bastante sobre esses assuntos. – o Grande Mestre tinha a expressão cansada, mas os olhos dourados brilhavam. - Posso deixar sob sua responsabilidade pensar sobre os sinais e outras medidas de segurança? E também a organização do treino intensivo?
- Darei o meu melhor. – Shiryu afirmou, sentindo o coração leve por finalmente poder ser útil.
- Existem vários tipos de sinais: palavras, gestos, objetos, marcas, desenhos. – Mayura não perdeu tempo, chamando sua atenção para o quadro com as imagens e os post-it novamente. Shiryu a seguiu com a xícara de chá. – Precisamos que sejam simples para que mesmo as crianças consigam usá-los. Veja, aqui nessa situação na semana passada com os estudantes mais velhos, se houvesse sinais de alerta os outros poderiam ter agido mais rapidamente.
- Sim, me lembro da senhora nos ensinando como agir caso estivéssemos em apuros quando éramos crianças. – ela sorriu com a memória das aulas sobre atenção, leitura ambiental e espacial e gestos que comunicariam aos outros eventuais problemas. – Foi no que me baseei para repassar a todos.
- Fico feliz que ao menos você estivesse prestando atenção. Lembro dos outros impacientes e entediados. – Shiryu negou, afirmando que eles usaram as instruções várias vezes. – Eles me enganaram direitinho. Shion, você estava certo. – ela ofereceu um dos seus raros sorrisos ao marido, que colocara fones de ouvido e escrevia freneticamente no computador. Ele piscou e lançou um beijo para Mayura, que sacudiu a cabeça fingindo descrença. – Vamos para a biblioteca para não o atrapalhar. Ele terá uma reunião com o marketing da Fundação. Viu as propagandas com trechos das lutas de vocês? Parece que estão fazendo sucesso.
- Shiryu. – Shion o chamou quando ele saia, seguindo Mayura. – Sobre o treino intensivo, converse com Dohko, Camus e Aiolia. Temos que manter a escola funcionando normalmente. E sobre Shunrei, ela está bem. Ela tem suas próprias armas.
O Cavaleiro de Dragão curvou-se para dizer que entendia e se retirou. Estava sorrindo ao caminhar pelo corredor do Santuário.
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PORTO DE INCHEON – CORÉIA
- Entendo perfeitamente. – a expressão de Julian Solo estava anormalmente séria. – E estou disposto a cooperar. – os olhos de Shunrei começaram a abrir, por mais que ela se esforçasse para esconder sua surpresa com a atitude do ex-noivo.
Em nenhum momento Julian se insinuara para ela ou fizera qualquer brincadeira de humor duvidoso. Ouviu atento o relato das duas sobre os acontecimentos em Kamakura e Singapura, fazendo apenas algumas perguntas circunstanciais. Seus dedos unidos pelas pontas em frente ao rosto lhe emprestavam um ar de maturidade que o tornava ainda mais sedutor, na opinião da chinesa.
"Quem sabe se ele estivesse assim antes..." o pensamento passou pela mente de Shunrei e ela quase sorriu.
- Esses atritos não são bons para os negócios. – ele disse, olhando para ela, que presumiu que a presença dos três Marinas no escritório teria algo a ver com a escolha de palavras do grego. "Devem reportar a Sorento de algum modo." – Não é a prática da Solo Corporation. Estamos dispostos a cooperar para que haja tranquilidade e segurança para a realização do campeonato, evidentemente. Mas, - pausa dramática para Shunrei suspirar silenciosamente. - eu tenho uma exigência.
- Exigência? – quem estranhou a palavra foi Marin. Ela falara a maior parte do tempo, como as duas combinaram previamente. Acreditavam que ela, por ser companheira antiga de Julian, teria mais sucesso em ser ouvida. – Para declarar neutralidade? – ele assentiu.
- Na verdade são duas. – ele recostou na poltrona de couro preto. – Acredito que eu as possa fazer, uma vez que vocês estão pedindo que eu as escolha ao invés da minha querida prima Perséfone. – as duas se entreolharam antes de concordarem. Ele as enumerou, erguendo um dedo por vez. – Meus homens se tornarão sombras de vocês. – as sobrancelhas de Marin se ergueram. – Nós vamos sair para jantar todos os dias dessa semana. – as sobrancelhas de Shunrei franziram.
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SOBRADO VERDE - KAMAKURA - JAPÃO
Os risos iluminavam a sala. Ryuho corria de um lado para o outro com a gatinha tricolor.
- Cuidado com ela, filho! – Shiryu pediu da cozinha. – Ela ainda é pequenininha.
Eles mal colocaram os pés em casa após o encontro para adoção dos gatinhos e o garotinho fora mostrar a residência para a nova membro da família.
"Depois de semanas, um sorriso." Shiryu estava aliviado. "Espero que ajude."
- Eu vou mostrar a parte de cima para ela, papai. – Ryuho brilhava de alegria. – Ela pode dormir comigo?
- Vamos ver. – o pai disse, procurando ser firme. – Ela precisa aprender a se comportar. Pense em um nome para ela, Ryuho.
- O nome dela é Ma. – o garotinho declarou, fazendo Shiryu franzir a testa. Era como ele começara a se referir a Shunrei após o casamento.
O garotinho aparentava ter aceitado a ausência de Shunrei, mas de um jeito que preocupava os adultos: ele não citava mais seu nome e nem respondia quando falam dela.
- Tem certeza de que é um bom nome? – o adulto perguntou. O garotinho assentiu com a cabeça, pegando a gatinha no colo e chamando-a pelo novo nome enquanto subia a escada.
"Vou falar com ele depois."
Ligou a TV para fazer barulho enquanto passava aspirador na sala. Ouviu a língua diferente do japonês e olhou para a tela.
"O Mestre devia estar procurando notícias de Seul." Dohko gostava de ver noticiários dos países onde morara. Era uma experiência peculiar assistir novelas indianas e séries tailandesas ou ouvir os sons estalados dos chineses. Shiryu procurou o controle remoto para mudar de canal quando ouviu o nome de Shunrei e se virou de novo para a tela.
Ela estava lá, num vestido elegante que ele não conhecia. A franja penteada para cima e um colar de brilhantes que poderia comprar todas as residências da rua. Belíssima e muito à vontade com as dezenas de flashes pipocando em sua direção. Mas o que o fez perder o fôlego foi ver que ela estava ao lado de um Julian Solo que era só sorrisos.
A repórter narrava que os dois foram vistos todas as noites nos mais badalados eventos de Seul, em companhia da noiva do bilionário e de uma amiga da neurocirurgiã. Só então Shiryu notou a jovem coreana de braços dados com ele e Marin com uma vestimenta tão impressionante quando Shunrei.
O coração de Shiryu parou de bater. Se lembrou do estado em que a encontrou em Atenas, depois do atentado. O que o pai do Solo faria agora? O que eram aqueles olhares e aqueles sorrisos? O que significava tudo aquilo? A reportagem mostrou cenas de arquivo, relembrando o longo relacionamento dos dois. Seu sangue ferveu ao vê-los abraçados, de mãos dadas. Queria desligar aquilo e não conseguia parar de ver. Por que elas se submetiam àquilo? Como Marin concordara? Aiolia sabia disso?
Ao voltarem para imagens atuais para encerrar a matéria fofoca, seu olhar dardejou por todos os cantos das imagens, até reparar que o colar tinha duas letras ocidentais: S e R ladeadas por ramos de videira. Engoliu em seco.
"Parece que ela esteve ouvindo a minha conversa com a sra. Mayura."
Terminou de limpar o andar de baixo, usando a respiração para se acalmar. Viu que realmente a gatinha se aninhara perto do pescoço de Ryuho e os deixou dormir. Limpou seus ferimentos e trocou os curativos, preparando-se para dormir.
"Ela tem suas próprias armas." A voz do Grande Mestre ecoou em sua mente. Ele focara completamente nas tarefas para garantir a segurança de todos, exercitando a postura de Aiolia durante as ausências de Marin.
- Elas voltarão quando tiverem que voltar. – o Cavaleiro de Leão lhe dissera durante uma sessão de alongamento. – No início, o meu instinto era sair correndo daqui e ir até onde ela estava, mas isso não faria bem a nenhum de nós. Aprendi a não cobrar dela o que eu mesmo não poderia fazer: eu só conseguiria voltar quando minha missão estivesse concluída.
- Marin se comunica com você. Shunrei não fala comigo. – Shiryu retrucara, oferecendo os braços para o amigo puxar às costas. – Fora alguma saudação por vocês.
- São situações diferentes. São mulheres diferentes. São relacionamentos diferentes. Não espere os mesmos resultados de algo assim.
Deitou-se com a conversa girando em sua mente. Seu corpo doía para se acostumar novamente aos exercícios.
"Tomara que você saiba o que está fazendo."
Nem bem fechou os olhos e dormiu quase instantaneamente, sem ver que, na mesinha de cabeceira, o celular se iluminou com a chegada de uma mensagem. Pela tela de notificações, antes da luz do aparelho apagar, se lia:
"Olá, espero que esteja bem, meu amor. Sinto muito..."
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A família Othonos:
Momos e Filotes, os irmãos de Eiri e cunhados de Hyoga, são Deuses da mitologia grega, irmãos de Éris.
Quíron, pai de Eiri, na mitologia grega é o centauro mentor e mestre de vários heróis. Ele é muito sábio, por isso citou Pitágoras. O filósofo tinha uma escola na cidade romana de Crotona e realmente os discípulos ficavam cinco anos apenas ouvindo e aprendendo.
Ouzo – bebida destilada de anis com alto teor alcoólico. É tipo a cachaça grega.
Macarrons – doce francês. Biscoito arredondado recheado feito com farinha de amêndoas e confeccionado em várias cores.
Prinsesstarta (Torta da Princesa) – torta clássica escandinava com camadas de pão-de-ló, geleia de framboesa, creme de baunilha e chantilly, coberta por uma camada verde de maçapão. Bem fofa e cremosa, para adoçar a boca dos nossos casais de namorados... rsrs!
"A oportunidade surge para quem está preparado." – frase do anime Haikyuu! Sobre uma equipe de vôlei que renasce das cinzas. Recomendadíssimo!
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Olá, pessoal!
Estou com tanta vergonha de vocês... Sumi muito tempo, né? Me desculpem... Ainda estou às voltas com problemas nas mãos. Mas tenho uma boa notícia: a fic está terminada! Está toda escrita. Vou postar aos poucos para dar tempo para vocês lerem e relembrarem dela. :-)
Continuamos em três países diferentes, com muitos encontros e desencontros. Dessa vez, quis dar um destaque para a nova geração do Santuário. É uma turminha muito bacana e que eu adoro imaginar!
Sei que para alguns misturar personagens de obras diferentes, embora dentro do mesmo Multiverso, parece estranho, mas eu gosto de ver a interação deles. Então, temos Marin e Aiolia pais de Pavlin do Ômega, de Yuzuriha e Régulus de The Lost Canvas. Pavlin namorando Mu, que aqui é bem mais novo que os outros Dourados, Régulus namorando a Shoko de Santia Sho. E o Shion casado com a Mayura também de Santia Sho, além de outras interações. O que vocês acham disso?
Beijos, e até o próximo episódio!
CENAS DO PRÓXIMO EPISÓDIO:
- Há duas semanas do início do campeonato, não temos mais nenhuma movimentação suspeita, nenhuma notícia plantada. – a voz serena e segura de Shion continuava com o dom de acalmá-lo. - Não temos mais espiões vigiando nossos passos, sem falar nas agressões diretas. E, acima de tudo, você está completamente recuperado.
