Notas da autora
No fundo do mar...
A-ji promete...
Capítulo 9 – Promessa
- Eu não conseguia ficar de braços cruzados enquanto observava injustiças.
Os três se entreolham, questionando até quando o coração dela permanecerá com esse ideal nobre.
Afinal, um ou outro pode ter tido esse ideal no início. Mas, com o tempo, ele se perdeu. Ao ver deles era questão de tempo para aquela menina se assemelhar a eles quando crescesse.
Nesse interim, há dezenas de quilômetros dali, mais precisamente onde A-ji e Chang Yi se encontravam, a princesa responde após encontrar uma resposta satisfatória enquanto ainda lutava arduamente contra o rubor em suas bochechas:
- Como amigos. Eu me importo com os meus amigos. – Ela fala isso porque não tinha certeza se os seus sentimentos eram de fato amor ou eram motivados apenas pelo ato dele tê-la salvado, a confortando em seguida, para depois, mostrar as belezas do oceano.
Afinal, a jovem temia estar confundindo gratidão imensa e sentimento de culpa pelo ferimento dele por amor ao considerar a história de vida dela. Não era justo para ambos e mesmo os seus pensamentos em relação ao corpo do jiaoren podiam ser vistos apenas como luxúria e não como amor. Chang Yi merecia mais.
O príncipe das tribos do oceano assentiu enquanto expressava em seu rosto a sua compreensão sobre a resposta que ela deu, concordando que era o melhor para ambos considerando as obrigações que ele tinha e o que fez com o seu pai ao dar uma caudada nele.
- Embora haja amizade entre nós dois, não é amor entre um macho e uma fêmea. Portanto, é melhor prestar atenção às suas palavras e ações. – O tritão falava em um tom sério enquanto olhava para a humana, suprimindo eficazmente a tristeza imensa e dor que o acometeu porque os sentimentos dele por ela eram profundos.
Afinal, foi ensinado a respeitar as fêmeas e se a humana não correspondia aos seus sentimentos, o jiaoren não podia fazer nada. Deveria apenas respeitar a decisão dela e manter o devido tratamento e distância.
Ademais, ele era reservado e conservador em relação as questões existentes entre homens e mulheres.
Então, a jovem decidiu brincar um pouco com o tritão ao ver a seriedade como o príncipe tratava esse assunto:
- Você é como um guardião irredutível das regras de etiqueta entre homens e mulheres – ela faz uma pausa – Com você desenvolveu o seu temperamento? Conforme presenciei através dos seus atos, ações e fala, mesmo que você seja simples e inocente, ainda tem uma etiqueta e visão sobre defesa feminina e masculina que pode ser considerado uma visão antiquada por muitos, mas que me agrada. Saiba que você é muito mais atencioso do que eu em matéria de defesa masculina e feminina. Infelizmente, muitos não possuem essa visão.
- Eu considero seriamente esse assunto porque a minha espécie só reconhece um companheiro para a sua vida. Inclusive, há outra ação entre nós antes de oficializar a união e que após ser oficializada, me fará ficar para sempre sob o olhar do Deus do abismo.
A princesa confessava que ficou surpresa ao saber que eles acreditavam em Deuses e que até tinham um que fiscalizava o oceano e que vivia no abismo.
Pelo que Chang Yi disse, a união entre um casal era para toda a vida porque não eram apenas palavras como ocorria entre os humanos quando eles se casavam. O jiaoren confirmou o que ela desconfiava. Era uma promessa inquebrável para o resto da vida. Provavelmente, havia um pacto mágico ou algo assim na concepção deles na forma de oficializar a união e ao pensar nisso, confessava que sentia muita curiosidade em saber como era feito e se era privativo somente para a espécie dele ou se outras espécies de demônios também tinham algo similar a isso ao mesmo tempo em que desejava conhecer mais sobre o mundo como um todo e o dos demônios. O único conhecimento sobre essa raça vinha da visão dos Mestres de demônios e era limitada, além dela não acreditar em algumas coisas que falavam sobre eles.
Ela ficou aliviada pela resposta que deu anteriormente a pergunta do príncipe porque não tinha certeza se os seus sentimentos eram mesmo amor ou apenas fascínio pela beleza dele junto do fato de ter salvado a vida dela, além da culpa que sentia pelo que ele estava passando. Havia também tudo o que vivenciou em sua vida e que podia intervir em seu julgamento, fazendo-a tomar uma conclusão errônea. Eles eram sérios em relação ao assunto de companheiros e agora compreendia o motivo. Não era justo Chang Yi viver por um sentimento que podia não ser recíproco.
Afinal, se fosse apenas uma motivação por fascínio não era certo dar esperanças para o jiaoren e mesmo se fosse recíproco, a princesa não queria mais vê-lo ferido ou que sofresse ainda mais após tê-la salvado e ter mostrado o fascinante mundo dele para ela.
Ademais, pela primeira vez na sua vida, a princesa havia vivenciado uma felicidade indescritível, além de ter esquecido o sofrimento que vivenciou em sua vida desde que era bebê. O tritão havia lhe dado muito, com a jovem sentindo que nunca seria capaz de retribuir sequer um sexto disso mesmo que desse a sua vida como tributo porque o príncipe não salvou apenas a sua vida. Chang Yi havia dado o mundo para ela considerando a sua vida até aquele instante, com a nobre sendo ciente de que para outras pessoas com vidas normais, a gratidão não seria no mesmo nível que ela sentia e que podia ser considerada exacerbada pelos demais.
Afinal, somente alguém que vivenciasse a vida que ela levou conseguiria compreendê-la.
Além disso, a visão dos ferimentos horríveis que o jiaoren sofreu ainda estavam frescos em sua mente, assim como a dor e a tristeza por ter ferido o pai. Não era justo fazê-lo sofrer sendo recíproco ou não os seus sentimentos em relação ao tritão, bastando o fato de ter uma dívida impagável, com a princesa duvidando se era possível pagar mesmo em duas vidas.
No final, ambos, por motivos e circunstâncias diferentes, acabaram não sendo sinceros com o seu próprio coração.
De repente, um pensamento surge em sua mente ao se recordar das palavras dele, fazendo-a olhar novamente a sua enorme e bela cauda com barbatanas em formato de flores de lótus e que se espalhava lindamente no chão, com a princesa vendo o reflexo da luz da pérola nas escamas, as fazendo resplandecer, tornando-a uma cauda extremamente linda que também era imponente e igualmente forte.
O pensamento dela consistia em como os jiaoren conseguiam ter relações sexuais entre si. Era algo que A-ji não sabia e ao perceber para onde estavam indo novamente os seus pensamentos errantes e igualmente pervertidos, a jovem cora intensamente enquanto o seu coração batia acelerado.
Prontamente, ela tosse duas vezes, desejando recuperar os seus pensamentos, com o príncipe dos oceanos ficando curioso com os atos dela porque a mestra de demônios corou intensamente ao olhar para a sua cauda e parecia estar pensando em algo. Mas, não conseguia descobrir o que a fêmea humana estava pensando.
Após inspirar profundamente, conseguindo acalmar o seu coração, a princesa comenta com visível admiração em sua voz:
- Vocês são realmente uma espécie obstinada, ainda mais no quesito casal.
Mas, se fosse sincera consigo mesma, Chang Yi não era somente dedicado, mas também sincero e inflexível enquanto ele vivia para o seu próprio coração.
A princesa confessava que sentia inveja da maneira como a espécie dele vivia enquanto concordava que era tão brilhante que ela se sentiu envergonhada.
- Eu realmente invejo vocês, jiaoren, porque vocês vivem as virtudes que nós, humanos, escrevemos apenas nos livros.
Após alguns minutos, o tritão pergunta:
- Por que os humanos não podem viver dessa forma, também?
A-Ji fica pensativa por vários minutos até que responde após refletir:
- Eu não sei o motivo porque pôde haver muitas respostas para a sua pergunta. Porém, a única resposta que eu consigo pensar é que nós, seres humanos, como um todo, desejamos demais e por desejarmos demais não conseguimos alcançar muitas vezes o que desejamos. Lamento não ter a resposta exata ou correta.
- Tudo bem.
- Obrigada. – A mestra de demônios responde com um sorriso.
Ao ver o sorriso dela, ele se sente o seu coração aquecer, para depois, ficar triste ao se lembrar que ela o via apenas como amigo e salvador.
- Eu gostaria de ver a sua forma verdadeira de novo! – A princesa exclama animada, para depois, olhar com expectativa para ele – Poderia me mostrar novamente? Por favor?
O príncipe fica surpreso, para depois, comentar:
- Eu vi que você não ficou com medo.
- Por que eu ficaria? Eu sabia que era você – ela finge uma face preocupada e exclama – Você mudou de ideia?! Vai me atacar?
Então, a jovem sorri sem jeito ao ver que o jiaoren exibe um semblante que era um misto de preocupação e de indignação porque encarou com seriedade, novamente, o que a jovem disse em tom de brincadeira.
- Claro que não machucaria você! Mesmo na minha forma verdadeira, eu ainda mantenho a minha consciência. Só a minha aparência mudou quando eu me transformei antes.
Ele exibe um semblante confuso ao vê-la sorrindo porque a princesa achava a confusão dele fofa.
- Eu sei que não vai me machucar. Você vê tudo com seriedade, peixe de cauda grande. Eu não falei de forma séria.
Então, A-ji nota que Chang Yi suspira, para depois, exibir um semblante sério enquanto era visível o aborrecimento em seus olhos azuis gelo que a fez arquear o cenho.
- Nós odiamos mentira. Você praticamente mentiu para mim. Eu acreditei que estava com medo. – O tritão falava enquanto cruzava os braços no tórax bem definido.
Ela suspira ao se lembrar de que eles odiavam mentiras e fala, visivelmente chateada consigo mesma:
- Desculpe. Nós humanos costumamos fazer essas brincadeiras para descontrair. Inclusive, nós temos algo chamado atuação. Portanto, é algo usual entre nós. Eu esqueci que você é muito sério. Eu estava apenas brincando.
Ele fica pensativo e depois, pergunta, desfazendo os braços que voltam a posição normal enquanto exibia uma face confusa:
- Então, é algo da cultura humana? Vocês encaram as mentiras de forma descontraída? Inclusive as encaram como brincadeiras?
- Nem todas. Depende da forma como é usada e a finalidade. Também há outros aspectos que julgamos. Entre amigos é normal haver brincadeiras como essa. Eu peço desculpas se te ofendi ou algo assim. Nós temos visões diferentes sobre muitas coisas.
A jovem se curva em desculpas, fazendo Chang Yi olhar para ela, para depois, suspirar, falando em seguida com a sua voz barítono:
- Tudo bem. É que é complicado vermos a mentira da mesma forma que vocês veem. De fato, eu preciso ser mais aberto quanto a isso.
- Não precisa. Vocês têm os seus costumes e a sua cultura. Nós, humanos, temos os nossos costumes e cultura. O que podemos fazer é evitar julgarmos com severidade. Eu prometo que da próxima vez eu vou avisar quando for uma brincadeira. Também prometo não mentir mais para você. É uma promessa. – A-ji ergue o dedo mindinho na direção dele.
Chang Yi olha para aquele gesto, tentando compreender o que era, com a mestra de demônios explicando como ele devia fazer.
Mesmo não compreendendo, o tritão repete o gesto e eles cruzam os mindinhos, com a princesa falando com um sorriso após soltar, com o jiaoren fazendo o mesmo:
- Pronto. É uma promessa. – Ela sorri imensamente, com o príncipe sorrindo também.
- O motivo de vocês odiarem mentiras é somente em decorrência de um aspecto cultural?
- Não. Claro, há o aspecto cultural porque nós, jiaorens, nunca mentimos. Mas, há outro motivo.
- Tem a ver com o fato de que os raros casos de captura de membros da sua espécie ocorreram porque estes foram enganados por nós, humanos, para que se aproximassem da costa?
- Sim. Como você chegou a essa conclusão?
- Bem, é sabido por muitos que mesmo o barco imperial mais veloz da frota nunca conseguiria alcançar um de vocês e no oceano, a sua espécie é muito poderosa. Nos relatos que compreendiam o registro dessas capturas, essas sereias somente foram capturadas por terem sido enganadas, tornando-as vulneráveis, fazendo com que os mestres de demônios conseguissem pesca-las ao se aproximarem da praia.
- Isso mesmo. Esses casos apenas intensificaram a nossa raiva por mentiras e todos nós aprendemos que é da natureza da sua raça mentir. Inclusive, somos orientados a ficarmos longes de vocês. Por isso, raramente conseguem avistar um de nós e mesmo quando ousamos nos aproximar, é feito a distância e nas nossas formas verdadeiras.
- Isso se encaixa nos relatos de monstros marinhos serem jiaorens em suas formas verdadeiras.
- Sim.
- Não há outra espécie de demônio marinho?
- A predominância é de jiaorens. Somente um que é diferente. Você encontra outros tipos de demônios subaquáticos em águas doces.
- Qual é esse que é diferente?
- Ele é considerado um eremita. Vive isolado nas profundezas do abismo e aprecia o silêncio. É um dos legendários demônios pertencentes ao quarteto demoníaco lendário.
- Espere. O quarteto demoníaco lendário é composto pela Fênix de Jade, Tigre de diamante, Dragão de Safira e Tartaruga de Rubi. Dos quatro, os dois primeiros ainda estão selados. O Dragão de Safira conseguiu se libertar com a destruição da Ilha demoníaca onde estava selado. O que está nas profundezas do abismo é a Tartaruga de Rubi?
- Vocês os nomearam com base nas cores, pelo visto. Os respectivos nomes deles são Qing Ji, Shangguan Jing, Yuan Ying e Song Wu. Só o último é macho. As três primeiras são fêmeas. O quarto que é o macho é o eremita que está no abismo. Ele disse que não aguentava a tagarelice delas que dava dor de cabeça junto do fato de achar o mundo humano caótico. Há outro motivo além desses dois e é referente a bebida alcóolica. As três primeiras amam beber e muito enquanto que Song Wu prefere chá e detesta bebidas alcoólicas. Ele estava farto das bebedeiras delas. Por esses motivos, preferiu o isolamento nas profundezas do oceano onde há apenas o silêncio e a tranquilidade. A última interação dele com elas data de quinhentos anos, atrás, senão me engano, segundo o que o meu pai me contou.
- Bem, eu já vi pessoas bêbadas e considerando o fato dele gostar de chá e detestar bebida alcóolica, devia ser muito difícil para ele suportá-las. Quem diria que o último deles estaria nas profundezas do abismo?
- Ele está dormindo profundamente há alguns séculos e está na sua forma verdadeira. A cor de rubi do seu casco fornece uma iluminação belíssima em meio a escuridão.
- Você poderia me mostrar?
- Somente a distância. Depois delas terem sido seladas, ele odeia imensamente os mestres de demônios e estando tanto tempo naquele local, ele pode despertar se sentir a sua presença. Por isso, posso levá-la somente a uma distância segura. Ademais, se Song Wu se levantar em fúria pode provocar um grande tsunami ao ocasionar um terremoto imenso que arrasaria as costas, levando a morte de milhares de pessoas, além dos tremores intensos que destruiria tudo em seu caminho. Provocar tsunamis não é difícil. Inclusive, eu e o meu pai podemos provocar tsunamis. Com o cedro do oceano, o meu pai pode produzir um tsunami colossal.
- Obrigada. De fato, é bom mantermos uma distância segura.
- Não se preocupe que eu sei qual é a distância segura.
De repente, ela se lembra de uma história que leu e pergunta:
- E se eu ficar oculta dentro da sua boca na sua forma verdadeira? Eu espiaria pela fresta dos seus dentes. Eu acho que ele não conseguiria me identificar dentro da sua boca e poderia julgar erroneamente que você me devorou e como a sua espécie pode atacar humanos se estiver com fome, não seria estranho. Eu ficaria oculta atrás de um dos seus dentes.
Ele fica surpreso com a sugestão dela e após refletir por alguns minutos, o príncipe fala:
- De fato, ele não conseguiria identificar você e mesmo que pudesse detectar algo, pensaria que eu a devorei porque não haveria nenhuma outra forma na concepção dele de que alguém sobrevivesse a um ataque na nossa espécie do oceano, mesmo se fosse um mestre de demônio. É uma solução criativa e inusitada.
- É que eu queria muito ver com os meus olhos esse legendário demônio. Deve ser incrível ver uma tartaruga colossal. Com certeza é bem grande.
- Sim. É um pouco maior que o meu tamanho na forma verdadeira atual enquanto que é menor em relação ao tamanho verdadeiro do meu pai. Quando chegar o momento, nós pegaremos a pérola dessa concha e levarei entre os meus dentes. O brilho dela vai permitir que você o veja e sem correr o risco de despertá-lo porque não usará poder espiritual próximo dele enquanto que a magia que eu usei para você sobreviver nas profundezas não é detectável.
Ao falar isso, os olhos dela parecem brilhar de excitação, lembrando-o um filhote com expectativa de ver algo divertido ou fascinante, fazendo-o sorrir frente a este pensamento.
Ele sai dos seus pensamentos ao ouvir a pergunta dela.
- Então, você poderia mostrar a sua forma verdadeira de novo?
- Sim. Eu quero saber porque deseja vê-la novamente.
- Bem, eu não tive muito tempo para acarinhar e observar com mais detalhes. Você a desfez rapidamente.
De fato, a princesa desejava que ele se transformasse novamente porque queria vê-lo melhor, além de montar nem que fosse no focinho dele e quando pensou em montar, a sua mente traidora e igualmente pervertida acabou se lembrando de uma posição com nome no livrinho que teve acesso por acidente, com a jovem amaldiçoando o dia em que descobriu por acaso aquele livrinho pervertido com posições sexuais que faziam a sua mente se tornar indecente.
A-ji começa a se estapear mentalmente pelos seus pensamentos impróprios em relação ao seu salvador enquanto questionava a si mesmo como podia ficar assim perto de um exemplar masculino, se ela havia ficado perto de outros homens e não teve as mesmas reações e sequer os mesmos pensamentos que experimentava em relação a Chang Yi.
"Será que é pelo fato dele ser um jiaoren? Será que a espécie dele provoca alguma atração no sexo oposto? Será que as lendas sobre eles atraírem com a beleza são reais? Ou é porque eles possuem uma beleza inalcançável e consequentemente, uma atração intensa? " – A princesa perguntava a si mesmo mentalmente porque nunca agiu daquela forma ou teve tais pensamentos indecentes antes de encontrá-lo.
Então, a jovem sai dos seus pensamentos com a voz barítono dele:
- Eu desfiz porque consegui detectar naquele forma uma sereia nos espionando. Era do clã dos polvos ou das lulas. Não tenho como afirmar com exatidão.
Ela exibe uma face surpresa e fica imaginando uma versão imensa de lula e de polvo, considerando o tamanho dele na sua forma verdadeira, para depois, perguntar:
- Você não conseguiu detectá-la antes?
- Não. Ela é proficiente nisso. Eu não duvido que seja uma profissional. Quando eu assumo a minha forma verdadeira, os meus sentidos ficam mais refinados e igualmente apurados. Ainda bem que você pediu para eu revelar a minha forma verdadeira.
- Lamento, peixe de cauda grande. Você está sendo praticamente caçado.
Ele vê o semblante triste dela e fala:
- Não se culpe. Eu sabia que isso iria ocorrer.
A culpa que sempre a acompanhava como uma sombra toma A-ji e começa a devorá-la por dentro.
Afinal, não era justo na visão dela o tritão passar por tudo aquilo enquanto surgia o pensamento de que, talvez, ela tenha nascido amaldiçoada, além do fato de que não devia ter sobrevivido nas três ocasiões que a sua vida esteve em risco. Se tivesse morrido na primeira vez que isso ocorreu, o jiaoren não estaria sofrendo. Não somente ele. A maioria das pessoas que teve contato com ela.
Vendo-a ainda triste, o tritão pega a mão dela e a puxa gentilmente para fora da casca, se dirigindo com a humana até uma parte mais profunda e após fazê-la se sentar em um dos rochedos, o príncipe se afasta e se concentra.
Uma luz branca azulada o envolve e fica cada vez maior enquanto tomava a forma de um tubarão imenso, fazendo-a olhar em puro fascínio de novo ao ponto de esquecer os seus pensamentos autodepreciativos.
Então, o brilho cessa e revela novamente um colossal tubarão branco que fica parado na frente dela, com ele abaixando o seu focinho, fazendo a jovem ver a si mesmo refletida nas írises azul-gelo.
Ela não entendia muito sobre tubarões, mas, havia visto desenhos e comparações no quesito tamanho. O tubarão branco era considerado o maior tubarão do oceano de acordo com o que leu em um livro sobre animais marinhos.
A princesa nada até o focinho dele, para depois, sentar em cima das mandíbulas potentes, com a jovem percebendo que ele estava parado, analisando as reações dela que fica surpresa ao ver que o jiaoren podia enxergar porque havia lido que os tubarões eram cegos.
- Então, você enxerga nessa forma!
- Sim – a mestra de demônios ouve a voz barítono dele potencializada pelo tamanho e que ressoava como um trovão – Eu não perco os meus sentidos. Inclusive, eles ficam muito mais sensíveis nessa forma. Eu fico feliz em ver que não está com medo.
- Eu me considero tão sortuda! Eu vi o oceano e agora, estou sentada em cima de um tubarão branco colossal. Muito obrigada.
- Disponha.
- A sua pele é macia nessa forma também. Parece que eu estou acariciando seda. – Ela falava enquanto passava a mão na maciez da pele dele.
A princesa percebe que o tritão estava curtindo os afagos dela e com um sorriso de canto, a jovem pergunta em tom de confirmação:
- Você está gostando, certo?
- Sim. É aprazível.
Então, a humana percebe algo vindo por trás dele e exclama, apontando para trás:
- Cuidado!
