Notas da autora

No oceano...

A-ji decide...

Chang...

Capítulo 12 – Os pensamentos da princesa

- Eu usarei um método para eles não desconfiarem. Para isso, basta o poder e habilidade dos meus discípulos mais confiáveis. – Ele sorri de canto.

Há centenas de quilômetros dali, no oceano, mais precisamente em uma concha imensa, A-ji esperava Chang Yi retornar enquanto mergulhava em algumas reminiscências ao comparar a vida infeliz e repleta de tormentos dela antes de conhecer o jiaoren e após conhecê-lo.

A jovem sai das suas recordações quando o príncipe a surpreende ao aparecer com dois polvos mortos de tamanho considerável junto de algumas ostras que eram as maiores que ela já havia visto, assim como alguns camarões que tinham tamanhos avantajados, com todos eles se encontrando em uma espécie de rede branca de gelo criada por poder demoníaco, com a humana ficando surpresa ao ver que ele faz um movimento amplo com a mão, criando uma bolha imensa que afasta a água para os lados, fazendo surgir um ambiente seco, fazendo a princesa exclamar com fascínio em seus olhos e semblante:

- Isso é incrível!

- Eu achei que iria preferir comer em um ambiente seco.

- Se surgisse uma fumaça, você conseguiria dispersar sem alastrar no oceano?

Ele fica pensativo e depois, fala:

- Sim. Eu posso configurar essa bolha para absorver. Depois, a dissipo.

- Obrigada! – Ela exclama com empolgação ao mesmo tempo em que bate as palmas das mãos - Agora eu posso assar os polvos e os camarões.

Chang Yi já tinha ouvido falar que os humanos assavam os alimentos e confessava que estava curioso para ver como faziam isso e qual era o sabor porque a sua espécie comia tudo cru.

- Desculpe, eu estou dando trabalho a você. Além disso, você tem o ferimento nas costas.

- Não é nenhum trabalho. Eu também estou curioso para saber como é o gosto de uma comida assada. A minha espécie só come a comida cru. Além disso, o ferimento já está curado.

Ela sorri e consente, sabendo que o jiaoren só falava a verdade, para depois, a mestra de demônios sair da concha, fazendo-o arquear o cenho.

Então, quando a princesa retorna, o tritão avista a jovem trazendo nas mãos uma pedra achatada de tamanho considerável que se soltou do rochedo durante a briga de Chang Yi contra a lula e após entrar na barreira que ele conjurou, A-ji usa uma técnica espiritual para secar as suas roupas e os seus cabelos.

Depois que a jovem posicionou a pedra plana, a mestra de demônios faz selos simples com as mãos e surge uma pequena matriz avermelhada embaixo da pedra que fica bem quente, colocando em seguida o polvo e os camarões para assarem.

Enquanto eles chiavam na pedra ardente, o príncipe abre facilmente as ostras e a surpreende ao estendê-las para ela que os pega, dando em seguida alguns para ele que aceita.

Após os polvos e os camarões estarem assados, a princesa divide entre ambos e começa a comer junto do jiaoren.

- Muito obrigada – a princesa o agradece após comer o último pedaço.

- Eu agradeço por compartilhar. De fato, o sabor é diferente.

- Você gostou?

- Gostei. É bem diferente. Eu agradeço por ter me proporcionado essa experiência.

Ela sorri enquanto terminava de comer o último pedaço enquanto pensava em como seria bom poder beber água.

Porém, o fato de estar no fundo do mar a impossibilitava de beber água doce.

Afinal, não apreciaria o fato de beber água salgada.

Portanto, decide ignorar a sede que sentia enquanto ambos se sentavam lado a lado.

Então, o príncipe pergunta ao se lembrar de algo.

- Ouvi dizer que a sua espécie bebe líquidos diferentes.

- Verdade. Bebemos desde água, sucos de frutas até bebidas alcoólicas. Tem até sucos de vegetais. Também bebemos chá que é feito de folhas, de flores ou de frutos. Nós também bebemos leite que é ordenhado das vacas, das cabras ou de outros animais.

- E bebem quando?

- Quando estamos com sede, quando desejamos ou quando estamos comemorando algo.

- O único liquido que temos aqui além de sangue é água.

- Mas, é água salgada. Eu tomo água doce.

- "Água doce"?

- É como chamamos a água sem sal que você encontra em nascentes, em rios, riachos e cachoeiras. Inclusive, eu estou com vontade de beber água. Não bebi nada desde que cheguei.

Chang Yi faz um movimento com as mãos e faz surgir uma espécie de concha funda feita de gelo e dentro havia água, com ele estendendo para ela.

- Obrigada, mas, não tomamos água salgada.

- Eu retirei o sal. Eu já provei a água de um riacho a título de curiosidade. Então, eu tenho uma base da diferença entre as águas.

A princesa pega e leva aos lábios, com o líquido tocando a sua língua e ao perceber que estava fresco, surge um sorriso no rosto dela que era correspondido pelo tritão.

A-ji começa a sorver grandes goles de água com Chang Yi enchendo sempre que a jovem desejava até ficar satisfeita, para depois, a concha desaparecer com um simples gesto da mão do príncipe.

Então, em um determinado momento, ele deita a cabeça ao lado dela enquanto a jovem afagava os cabelos macios e alvos dele, com ambos ficando assim por alguns minutos.

De repente, as orelhas de Chang Yi tremem e ela olha com indagação em seu semblante enquanto o observava se sentar, com a face do belo tritão ficando compenetrada como se estivesse se concentrando ao mesmo tempo em que fechava os olhos, para depois, arregalar os olhos.

De repente, sobre o olhar confuso da humana, ele vai até a grande pérola e cria correntes de gelo que envolvem o objeto enquanto o demônio segurava em suas mãos a ponta.

Em seguida, o príncipe a pega em seus braços abruptamente, com ambos saindo velozmente de dentro da concha, para depois, o jiaoren começar a nadar, mexendo vigorosamente a sua cauda grande e forte.

- O que houve, peixe de cauda grande?

- Temos visitas. Preciso me afastar o quanto antes.

Ela nota que os braços brilham e ele lança mais uma magia nela, com a jovem percebendo que a velocidade da água em seu corpo não a afligia mais enquanto ficava estarrecida pela velocidade que eles podiam chegar.

De fato, nem mesmo o barco mais veloz do mundo poderia chegar próximo a velocidade dos jiaoren na água.

A princesa olha para trás e avista um peixe com a face comprida, com a humana percebendo que o mesmo ficava cada vez mais longe enquanto gritava algo incompreensível para a jovem porque estavam muito longe do perseguidor.

A mestra de demônios confessava que estava curiosa para saber o que ele gritava de forma desesperada porque eram nítidos a angústia e o desespero, com a humana fazendo uma anotação mental para perguntar ao príncipe mais tarde se ele conseguiu ouvir porque ela não conseguiu ouvir nada.

Após um nado incrivelmente veloz, Chang Yi consegue despistar o seu perseguidor e após continuarem por algum tempo, ele para e a faz sentar em um recife, com o tritão decidindo descansar ao lado dela.

Então, a princesa pergunta:

- O que ele estava gritando? Eu não consegui ouvir. Era um jiaoren também, né? Parecia ser uma versão do atum bluefin.

- Sim. Você acertou. Ele pode ser considerado como pertencente a única tribo de peixe do oceano. Eles conseguiram status entre as tribos graças a sua velocidade que se destaca dos demais jiaorens, além de não ser fácil despistá-los. Eles também são excelentes na habilidade de busca. O meu pai os mandou.

- Você foi incrível. Afinal, conseguiu despistá-lo mesmo com ele estando na sua forma verdadeira.

- A família real é superior em termos de poder demoníaco, força e velocidade. Por mais velozes que eles sejam, não conseguem nos alcançar. Somente conseguem alcançar outros jiaorens.

- O que ele estava gritando? Ele parecia angustiado.

Ela nota que o príncipe suspira, para depois, falar:

- Ele estava implorando para eu parar de defender de você e para me afastar de você. A notícia que eu estou com uma humana e que esta humana é uma Mestra de demônio já deve ter se espalhado para muitos outros demônios. Como você deve saber, vocês são odiados.

A princesa ficava triste enquanto o jiaoren falava:

- Mas, eu não acho que você seja uma ameaça. Não me importo com a opinião deles.

A mestra de demônios se vira e coloca as mãos em cima das mãos dele, falando:

- Peixe de cauda grande, você é o príncipe herdeiro. Você tem um dever para com o seu povo. Eles estão preocupados e com razão. Você já se feriu e até bateu em seu pai por mim, além de batalhar contra um da sua própria espécie que levou a morte dela. Se eu sair do oceano tudo vai se aquietar. Você deve se lembrar que sou uma humana e nós vivemos em terra. Você vive no oceano. Além disso, infelizmente, eu tenho pulso oculto o que me faz ser odiada. Se eu fosse uma humana comum, provavelmente, não teria toda essa comoção.

Ele ergue o rosto e ela nota nos olhos azuis gelo uma ondulação que surge de repente e que depois, desaparece.

- Acho que o melhor é eu voltar para a terra. Eu sempre serei grata por você me salvar, assim como por me mostrar esse mundo maravilhoso. Imagino que não vi tudo, mas, o que eu vi, já foi muito. Nunca esperei ver lugares tão bonitos e ter a oportunidade de conversar pessoalmente com um jiaoren.

Custou todas as forças dela solicitar o seu retorno em terra e consequentemente, o retorno ao seu inferno pessoal. Qualquer um que vivenciasse o que ela vivenciou lutaria para ficar no oceano. Mas, a jovem era ciente de que Chang Yi lhe deu o mundo e permitiu que fosse feliz apesar das dificuldades provocadas por ter pulso oculto. A-ji era consciente do quanto devia ao jiaoren e acreditava que mesmo em duas vidas não conseguiria pagar por tudo o que ele deu e por toda a felicidade que lhe proporcionou.

Além disso, a princesa acreditava que os seus sentimentos eram amor conforme se recordou do que leu em livros. Também se lembrou do que era o amor e que se você amava alguém, você desejava a felicidade e a segurança dessa pessoa. Por mais que o seu coração desejasse ficar no oceano por amá-lo e porque nesse ambiente ela vivenciou a felicidade plena, a mestra de demônios não queria que o tritão sofresse e continuasse sendo perseguido pela sua espécie.

Ademais, não desejava vê-lo se indispor com o seu pai que parecia amar o seu filho ao contrário do pai dela que a desprezava enquanto sempre questionou porque o rei não mandou matá-la porque a sua mãe a odiava, também.

A-ji fecha os olhos momentaneamente e decide que não iria arrastar o príncipe para os seus problemas e vida desprezível. Ele vivia uma vida que ela invejava de coração enquanto se sentia feliz pelo jiaoren ter uma vida tão brilhante ao mesmo tempo em que a vida dela era de uma escuridão perpétua e cujo consolo era encontrado apenas nos seus amigos que lhe forneciam uma válvula de escape temporária porque não havia mais o seu shifu de artes marciais porque ele havia sido assassinado pelos homens do seu primo.

A princesa não pôde fazer nada além de observar a morte brutal do seu mestre que antes de morrer, levou todos os seus assassinos com exceção de um, Zhu Ling, que sobreviveu a um ferimento mortal. Ele sobreviveu por milagre e A-ji sempre se lastimou por não ter tido a coragem de matá-lo em segredo.

De fato, ela era patética. O seu shifu lhe ensinou tanto e foi como um pai. A dor da culpa de não ter vingado a morte dele ainda a massacrava e dia após dia, restava apenas o remorso enquanto que a culpa era um carrasco cruel e igualmente implacável.

O pior era que no momento do ataque contra ele, Dai Di se importou até o fim com ela, fazendo um sinal negativo discreto com a cabeça quando a sua discípula cogitou de ajuda-lo na batalha, sabendo que com a ajuda dela, ele talvez tivesse uma chance de sobreviver.

O motivo de impedir a jovem de intervir foi por saber as consequências do ato dela que poderiam levá-la a morte porque conhecia a vida dela no palácio e sabia que o rei e a rainha a odiavam enquanto que a irmã mais velha a desprezava e a intimidava diariamente.

A princesa sempre se sentiu miserável por não tido a coragem de matar o seu primo para se vingar enquanto invejava o fato das pessoas terem facilidade em se vingar.

O máximo que ela conseguiu fazer foi terminar a missão do seu shifu em segredo. A missão que ele devotou a sua vida e que cumpri-la foi uma questão de honra e de realizar o desejo final dele, além de outro desejo que ela fez questão de cumprir.

Mesmo assim, a jovem queria ter feito justiça para o seu shifu Dai Di. Esse sentimento de injustiça ainda persistia em seu ser.

O mais irônico era que se tivesse feito justiça pela morte dele, provavelmente, não estaria mais viva e isso faria com que Chang Yi nunca vivenciasse os problemas que teve até aquele momento.

Ademais, A-ji não teria sido a responsável pelo destino da tripulação porque foi ideia dela estender a rota da viagem além do programado por desejar encontrar algum jiaoren mesmo que o capitão tivesse comentado que seria quase que impossível avistar um daquela espécie.

O seu desejo custou a vida de todos e fez quem ela mais amava passar por muitos problemas ocasionados pela existência dela. A princesa questionava se de fato, a sua vida era amaldiçoada e que isso amaldiçoava os outros que se envolviam com ela.

Frente a este pensamento, a jovem passou a temer por Chang Yi porque se de fato ela era amaldiçoada como os seus pais e os outros falaram para ela a sua vida inteira, o tritão corria riscos ficando junto dela, assim como os seus amigos.

A princesa sai dos seus pensamentos com a bela voz barítono do tritão:

- De fato, se fosse uma humana comum, não haveria todo esse caos – o príncipe fala tristemente após ficar pensativo e por isso, não viu o semblante triste da humana.

Então, a jovem leva a mão a cabeça dele e o afaga como fez antes, curtindo a maciez dos fios, para depois, falar enquanto forçava um sorriso em seu rosto frente a perspectiva de voltar ao inferno que a aguardava em terra:

- Nós sempre seremos amigos. Nunca vou me esquecer de você. Mas, agora, eu tenho que voltar aonde eu pertenço.

- Eu vou levá-la para a terra. Há uma praia se seguimos nessa direção.

- Você não precisa me levar. Me deixe na direção da praia e eu nado até ela. Não é bom você se aproximar da praia. É perigoso.

- Mas...

- Sem, "mas". Não vamos arriscar. Eu estou bem. Eu posso nadar. Ademais, eu sou mestra de Kung Fu. Acredite, eu nado bem rápido. Muito mais rápido do que as pessoas comuns. Além disso, eu posso usar o meu pulso oculto para ajudar.

Ele suspira e consente.

- Eu prometi que a levaria para ver Song Wu.

- Eu adoraria ver antes de ir embora. – Ela se amaldiçoa pelas palavras saírem de sua boca antes que tivesse tempo de freá-las.

Afinal, ela estava arriscando demais o bem-estar dele. Estender a sua convivência para ver um lendário demônio era arriscado demais.

Quem respondeu ao jiaoren foi o seu coração tomado pelo desejo imenso de prorrogar a presença dele em sua vida miserável e também o anseio em ver um legendário demônio pertencente ao quarteto lendário.

Se a sua mente racional tivesse tomado a liderança, o consentimento nunca teria saído dos seus lábios e ela estaria se afastando o quanto antes daquele que lhe deu o mundo.

- Então, vamos. Vou levá-la até ele.

- Não haverá outros jiaorens nos arredores, certo?

- Sim. Como desconfiou?