Notas da autora
Na vila, o monge decide...
Antes de sair, ele vê...
Capítulo 14 – Li Cang
A mulher traz os potes e os deposita em uma mesinha, para em seguida, o monge separar um deles, virando um pouco do conteúdo que estava moído dentro do pequeno potinho que trazia consigo, com ele aproveitando para virar em outro pote a mesma quantidade anterior, com ele pegando a colher fornecida por ela.
Então, ele dissolve o pó, para depois, fazer o mesmo procedimento com o outro pote enquanto o terceiro era mantido intacto.
Após manter os dois potes com fortificante na mesa em um canto, ele pega o pote com água sem o remédio.
A aldeã o observa levar a mão direita até esse pote de água límpida e fica estupefata ao ver o corpo dele brilhar levemente, para depois, a água flutuar e em seguida, se condensar na sua palma ao mesmo tempo em que saía do pote, com ele posicionando a bolha de água em cima do tórax da menina enquanto que a mão esquerda foi colocada um pouco abaixo do tórax dela.
O brilho dele irradiou para o corpo da jovem que começa a brilhar, com o fulgor se concentrando no tórax ao mesmo tempo em que a bolha de água entrava obedientemente na pele, com ele remexendo as mãos até que na mão esquerda a água, agora prateada, ressurge do corpo contendo em seu interior aglomerados irreconhecíveis enquanto que o brilho do corpo era transferido para a bolha que se torna dourada novamente.
Após o monge afastar a bolha dourada, ele faz um simples gesto com as mãos e ela se transforma em uma poeira dourada que desaparece no ar antes de chegar ao chão.
Quando a mulher se refaz do tratamento inusitado e se prepara para questioná-lo, a mãe percebe que a respiração da jovem acamada voltou ao normal, com ela observando que o monge pega um dos potes que ele depositou o tônico ao mesmo tempo em que sentava ao lado da cabeceira da cama.
Então, o homem ergue a jovem gentilmente, para depois, levar até os lábios ressecados dela o liquido que os umedece enquanto ela sorvia o conteúdo, com a progenitora vendo que a sua filha se sentia melhor ao mesmo tempo em que adormecia.
Após a jovem sorver o conteúdo, o monge a coloca gentilmente na cama e a cobre, para depois, se levantar e falar com um semblante gentil:
- Agora, ela está bem. Eu tenho que ir.
- Muito obrigada! O senhor salvou a minha filha! Eu percebi que não perguntei o nome do senhor.
- Eu me chamo Li Cang.
- Quanto eu lhe devo?
- Não me deve nada. Eu fico feliz de ter salvado uma vida.
Então, a mulher vai até a cozinha simples e põe comida em uma trouxa de pano, para depois, entrega-lo para ele, falando:
- Por favor, aceite.
Ele recusa e empurra o pano, falando:
- A senhora e a sua família precisam dessa comida. Por favor, reserve para vocês. Eu não posso aceitar.
- O meu marido vai trazer mais da horta e da criação que temos. Por favor, eu imploro, aceite. Por favor.
Frente ao semblante de súplica, o monge consente e agradece pelo alimento ao mesmo tempo em que pegava a comida, guardando-o na sua trouxa de pano nas costas, para depois, se retirar da casa, com a mulher o agradecendo mais algumas vezes.
Então, ele se afasta e volta ao caminho que seguia, sabendo que tinha comida para alguns dias graças a bondade da mulher.
Porém, antes que saísse da pequena vila, Li Cang ouve uma comoção e decide ver o que estava acontecendo ao ver os semblantes de muitos aldeões imersos em medo ao caminharem para o centro da vila onde havia um grupo que gesticulava vigorosamente enquanto reinava a cacofonia, tornando impossível compreender o que discutiam.
Ao chegar no local, avista o líder da vila dentre eles, com o monge o identificando em virtude das vestes que usava e que eram melhores do que as dos demais, com ele ouvindo atentamente o que falavam ao conseguir discernir algumas falas dentre as várias vozes exaltadas da população.
- O senhor deve enviar uma carta a alguém! Não é normal várias pessoas estarem doentes após beberem a água daquele rio.
- Isso mesmo! Além disso, todos que mandamos ao local desapareceram sem deixar vestígios.
- Com certeza, é obra de algum demônio.
- Nós precisamos urgentemente dos mestres de demônios.
O líder inspira profundamente e fala:
- Como vocês sabem, nós precisamos pagar pelos serviços de um mestre de demônio. O problema é conseguirmos pagar o preço que eles cobram considerando a taxa abusiva de impostos que precisamos pagar para a corte imperial. Eu devo lembra-los que em breve, o fiscal dos tributos dessa região estará vindo até esta vila com o exército imperial e todos nós sabemos a consequência de não pagarmos os impostos, mesmo que estes sejam demasiadamente abusivos. Por sorte, conseguimos reunir a quantidade exigida para essa quinzena. Porém, não temos nenhum excedente para pagar pelos serviços do mestre de demônios e mesmo se fosse um demônio poderoso, com eles fazendo um abatimento no valor por terem interesse pela captura e posterior doma, ainda precisaremos pagar um valor considerável, valor este que não temos sobrando.
- Mas...
O monge suspira e avança no centro do círculo, chamando a atenção de todos, para depois, falar exibindo um semblante calmo:
- Eu irei até o local e não cobrarei nada. Eu tenho algum poder. Eu só preciso que me mostrem a direção.
- Quem é você?
- Eu sou apenas um andarilho e ouvi o problema de vocês. O que dizem? Vão dar a orientação de qual direção eu devo tomar?
- E não quer receber nada em troca pela ajuda? – O líder pergunta com uma das sobrancelhas arqueadas.
- Não. Eu prometo. Eu não quero receber nada.
Enquanto falava, o monge já havia dispersado o seu qi pela área que compreendia a vila e um pouco além dela, fazendo com que ele sentisse energia demoníaca concentrada em um local a nordeste de onde estavam os moradores e cujo poder parecia se concentrar exclusivamente em um ponto, com ele adivinhando que compreendia, provavelmente, a área da nascente do rio ou parte do rio.
Ademais, considerando o que ouviu, o mestre de qi julgou que se tratava de um demônio venenoso que estava propagando a sua toxina na água, acabando por infectar as pessoas e antes de poder trata-las, ele precisava lidar com o perpetuador dessa toxina junto do fato de precisar verificar qual era a base de ação do veneno porque sabia que havia algumas diferenças dentre as toxinas usadas por diferentes espécies de demônios venenosos porque este grupo compreendia serpentes, aranhas e outros seres peçonhentos.
Enquanto refletia sobre o que precisava fazer, Li Cang era ciente de que nunca purificou um demônio antes e apesar de saber que não teria nenhum problema considerando o nível daquela espécie ao julgar o poder demoníaco que exalava daquele local especifico, não mudava o fato que nunca ceifou uma vida ao mesmo tempo em que sabia que devia tentar dialogar com esse demônio ao buscar uma solução pacifica, com ele devendo purifica-los apenas se não tiver outra escolha e quando fosse obrigado a matá-lo, devia fazer da forma mais rápido possível para não fazê-lo sofrer.
Ocorre um murmúrio entre os aldeões e após refletir por algum tempo, o líder fala, fazendo o monge sair dos seus pensamentos:
- Tudo bem. Nós aceitamos. Eu mesmo vou indicar a direção.
- Após eu descobrir a causa, irei formular um medicamento para as pessoas afetadas. Eu tenho conhecimentos médicos, também.
- Interessante... bem, por aqui.
Então, ambos saem do local em direção a nascente que alimentava o rio que usavam como fonte de água e para lavar roupas.
Após chegarem ao local, ele indica qual direção o recém-chegado deve tomar.
Li Cang agradece com um menear da cabeça e em seguida, se afasta ao seguir a orientação fornecida e conforme o líder da vila observava Li Cang se afastar, ele fala:
- Eu duvido que ele vai conseguir voltar.
Suspirando, o líder retorna por onde veio enquanto o mestre de qi se afastava, adentrando cada vez mais na mata ao mesmo tempo em que seguia o curso do rio enquanto começava a sentir uma presença demoníaca que confirmava o que os aldeões falavam.
O monge cessa os seus passos e se agacha ao lado do rio, para em seguida, levar uma das suas mãos um pouco acima da superfície da água.
Então, ele começa a liberar os seus poderes na água enquanto se concentrava porque estava investigando sobre o envenenamento que não era limitado apenas a água porque o solo e as plantas também foram envenenados conforme avistava os indícios das toxinas neles, assim como os animais no entorno ao observar a existência de animais mortos longe da água, indicando que não chegaram a beber o liquido contaminado.
Afinal, se eles houvessem bebido aquela água, eles teriam morrido na margem do rio devido aos efeitos da toxina conforme ele investigou o ambiente.
De fato, o ar também estava contaminado e enquanto analisava as informações que recebia e aquelas oriundas da sua investigação, o monge estreita o cenho ao perceber algo incomum naquele envenenamento massivo do local, assim como algumas nuances inesperadas considerando o que havia imaginado anteriormente.
Inclusive, conforme finalizava a sua investigação preliminar, mais dúvidas surgiram em sua mente, assim como desconfiança enquanto questionava o motivo de tais diferenças que ele detectou, além de um padrão que Li Cang conseguiu detectar na emanação de poder demoníaco no local.
De fato, o monge estava desconfiado e conforme refletia friamente em suas descobertas e relembrando certos pontos que inicialmente passaram despercebido, ele se levanta e decide dobrar a sua atenção enquanto retornava ao caminho indicado ao mesmo tempo em que esperava que as suas deduções iniciais não se provassem verdadeiras.
Afinal, senão fosse verdadeira, só poderia haver outra dedução plausível, com esta explicação sendo mais preferível do que a anterior.
Após vários minutos de caminhada enquanto observava mais alguns animais mortos no entorno, ele percebeu que reinava um silêncio anormal e igualmente mortífero enquanto Li Cang observava ao longe uma construção.
Durante todo o trajeto, o monge procurou espalhar o seu qi pelo local para qualquer imprevisto que surgisse ao mesmo tempo em que sabia que estava desviando da sua missão.
Porém, ele não podia deixar de ajudar e socorrer as pessoas em necessidade enquanto considerava que era apenas um pequeno desvio e que em breve, retornaria a sua missão.
Então, antes que pudesse se aproximar da construção, o mestre de qi desvia habilmente de uma flecha ao sentir uma movimentação estranha a sua direita e um deslocamento de ar na área, com essa percepção sendo proporcionada pelo uso do qi e ao virar na direção do atacante, ele desvia habilmente de mais um ataque oriundo das costas, ficando surpreso ao ver quem era o atacante.
- Você...
Ele detecta o seu agressor como sendo o Líder da vila e enquanto o monge processava essa descoberta inusitada, é obrigado a desviar de outra flecha e ao olhar para o seu lado esquerdo, avista um homem que possuía um rosto semelhante ao líder da vila, fazendo-o acreditar que eram parentes e que talvez fossem pai e filho.
Ambos começam a ataca-lo implacavelmente, com os rostos de ambos ficando vermelhos de raiva ao verem que ele desviava habilmente do ataque de ambos.
Cansado de ficar somente na defensiva, ele concentra os seus poderes enquanto desviava habilmente de mais duas flechas.
Li Cang invoca o poder do seu qi fazendo surgir algumas flores especificar em galhos atrás deles e que ao seu comando, exalam um odor sonífero que faz com que ambos fiquem sonolentos até que caem no chão, dormindo profundamente, com as flores continuando a exalar o odor para mantê-los adormecidos.
- Bem, eles foram neutralizados.
Então, após se certificar que eles não iriam despertar, o monge caminha até cada um deles, julgando que talvez o demônio os estivesse controlando, o que não seria difícil porque ambos eram humanos normais.
