Esclarecimento: Só reiterando que esta história não me pertence, ela é uma adaptação do livro de mesmo nome, de Sara Wood, que foi publicado na série de romances "Bianca Especial de Férias", da editora Nova Cultural.
Capítulo 2
- Você acha que ela está bem ? Será que aquele imbecil não vai mais importuná-la ?
Inuyasha observava distraído as pessoas caminhando apressadas pelas ruas, abrigando-se sob guarda-chuvas coloridos. Sesshoumaru recostou-se na cadeira macia e sorriu para o meio-irmão. Esticou as pernas, apoiando-as sobre a escrivaninha.
- Por baixo dessa aparente esperteza, meu velho, você não passa mesmo de um ingênuo - afirmou, olhando para o irmão mais novo - Não se preocupe com aquela moça, ela sabe se defender muito bem. Aliás, devemos a ela mais de meia hora embaixo de chuva, esqueceu ? E "nós" fomos os usados nessa história toda. Ela é quem devia se preocupar conosco... mas, mudando de assunto, você me empresta ou não sua fotógrafa ?
Olhou para o irmão, ansioso. Inuyasha praticamente lhe prometera que poderia usar os serviços da moça no próximo guia turístico que estava preparando. Sesshoumaru vira alguns trabalhos dela no Sri Lanka e gostara muitíssimo, e a ajuda de uma profissional competente era fundamental para o seu trabalho.
- Tudo bem, você pode usar os serviços dela... mas apenas isso, entendeu ?
- Maravilha ! Mas por que a recomendação ? A garota é casada ou você tem algum interesse em particular ?
- É que eu conheço você muito bem, Sesshoumaru. E não quero saber de reclamações sobre o seu comportamento.
- Nem todas reclamam...
- Mas nem todas gostam ! Essa garota terminou um namoro sério há pouco tempo, está fragilizada e vulnerável. Preciso dela assim que terminar o seu trabalho e a quero tranqüila, com a cabeça no lugar, está bem ? Seja sutil com a minha fotógrafa.
- Tudo bem, já entendi. Eu não faria mesmo nenhum bem a essa moça. Não estou interessado em compromissos sérios e deixo isso muito claro desde o primeiro encontro. Se ela é tão sensível assim, ficaria chocada com minhas idéias sobre relacionamento.
- Kagura não se considera atraente. Mas é inteligente, dinâmica e, na minha opinião, bonita também...
- Então, não passa de um caso de modéstia exagerada. Com tantas qualidades, vai ser difícil resistir ! Tenho um fraco por mulheres bonitas, você sabe disso, Inuyasha.
- Como aquela que encontramos na galeria ? - Sesshoumaru fez uma careta de desagrado.
- Que lembrança infeliz ! Quem diria que tanta beleza escondia tanta maldade ? Tudo naquela moça era absolutamente perfeito: o corpo, o rosto, os cabelos... só que, dentro dela, não havia emoção nenhuma.
Inuyasha fingiu espanto.
- Não me diga ! Deu para notar, pelo modo como você a beijou...
- Ela sabe fazer as coisas, mas não coloca sentimento nelas, entende ? Parece que beija só com o corpo, não com a alma. Deve ser uma pessoa muito fria e calculista.
- Pois, para mim, ela estava apenas desesperada. Não a culpo, com aquele troglodita como marido ! Uma moça tão jovem, ainda ! Aparentava uns vinte e cinco anos, não é ?
- Por aí... deve ser uns cinco anos mais nova que eu. Quanto ao marido, não se apresse a julgá-lo, Inuyasha. Como você reagiria se visse sua mulher beijando outro homem ?
- Não sei, mas, com certeza, não a agrediria nem exporia nossos problemas conjugais num lugar público, diante de dois desconhecidos.
- Bem, nisso você tem razão, o sujeito foi um bocado espalhafatoso. Mas esse assunto não é da nossa conta. Vamos falar do que realmente interessa, a sua fotógrafa. Vou ficar até março em Jerusalém, fazendo minhas pesquisas. Depois, volto a Londres para acertar alguns detalhes com o meu editor. Em abril, volto para Israel, levando a garota comigo.
- Combinado ! Eu trabalho com ela depois disso, então. Mas não se esqueça de que precisarei de Kagura de qualquer jeito para o projeto da Malásia.
- Fique tranqüilo, ela voltará a tempo. Acho que já acertamos tudo, então. Que tal um drinque para comemorar ? Hoje eu pago, mas não vá se acostumando com a mordomia, ouviu ?
Inuyasha bateu amigavelmente nas costas do irmão, com um sorriso satisfeito. As coisas haviam saído bem melhor do que ele esperava.
- Está bem, o material será enviado hoje mesmo - Rin prometeu - Só vou cuidar de alguns detalhes e saio o mais rápido possível para o correio. Até logo.
Recolocou o fone no gancho com um sorriso de satisfação e chamou a assistente.
- Sango, precisamos de um estudo completo sobre os relevos assírios. Teremos de selecionar as informações com o máximo cuidado, depois colocá-las no correio.
- Certo, estará tudo pronto em quarenta minutos.
- Pois você terá apenas vinte, meu bem !
Quando Sango saiu, Rin recostou-se na cadeira com um suspiro. A agência ia muito bem, graças ao seu inesgotável dinamismo. Por quase dois meses, dedicara todo o tempo aos negócios, transformando a vida numa correria constante. Isso a ajudara muito na tarefa de esquecer o passado, o casamento, Bankotsu.
Recordou-se com alívio que o processo de divórcio já estava encerrado e ela reconquistara a liberdade. E, agora, as lembranças ruins se tornavam cada vez mais vagas, como as imagens de um pesadelo...
Assim que Sango terminou de separar os slides e acondicioná-los nas embalagens apropriadas, entregou o material para Rin, para uma inspeção final.
- Os publicitários perguntaram se tínhamos alguma coisa sobre Jerusalém - Sango informou, colando os endereços nas embalagens - Não gostaram nada quando eu disse que não temos uma foto sequer.
- Droga ! Teríamos o material se não fosse por Bankotsu !
- Ora, deixe disso ! Você também não quis adiar o casamento. Não foi só por culpa dele que você não terminou a pesquisa.
Imersa nas recordações da época que passara na Galiléia, Rin não respondeu. Conhecera Bankotsu lá, cheio de mesuras e galanteios, seguindo-a por toda parte. Envolvida por completo pelo charme dele, deixara o trabalho em Israel inacabado. Se ao menos pudesse prever os dois anos de tormento que a esperavam...
- Completarei nossos arquivos sobre o Oriente Médio bem antes do que imaginamos, Sango - afirmou com determinação - Você pode muito bem tomar conta da agência enquanto eu estiver fora.
- E você sabe que eu adoro fazer isso !
Rin contratara Sango apenas como datilógrafa. Com o passar do tempo, porém, a jovem se entrosara tão bem com o serviço que chegara ao posto de assistente-geral da agência. Além disso, tornara-se amiga pessoal de Rin, merecendo a inteira confiança da patroa.
- Como já terminei as fotos da Escola de Estudos Orientais, logo irei para Israel - Rin prosseguiu - Quero fotografar toda a região do Mar Morto.
- Não se esqueça da Feira de Verão. Terá de viajar antes ou depois dela.
- Melhor antes. Não quero desapontar as crianças.
A Feira seria o ponto alto dos trabalhos filantrópicos da cidade e o evento mais importante do ano para os alunos da Holly Heritage School. Rin fizera parte de seu curso de fotografia nessa escola, além de um curso de especialização em trabalhos artesanais. Como estágio, orientara as crianças do nível básico em seus trabalhos. Envolvera-se muito com elas e comprometera-se a ajudá-las todos os anos na organização da Feira.
Sempre gostara de crianças. Era um prazer para ela acompanhá-las a cada passo do desenvolvimento de suas habilidades e vê-las felizes com os resultados obtidos. Todavia, apesar de tanto apego com crianças, nunca desejara filhos com Bankotsu.
- Rin... - Sango despertou-lhe a atenção.
- Diga.
- Eu não me importo de cuidar da agência sozinha... mas acho que há um pequeno problema.
- Qual ?
- Esqueceu que não temos nenhuma reserva em caixa ? Como vai pagar essa viagem ?
Ela suspirou, desconsolada. Desde a homologação do divórcio, tivera muitos gastos extraordinários, inclusive para montar um apartamento novo. Com isso, o dinheiro andava escasso. A agência ia bem, mas, por se localizar num ponto central de Londres, o aluguel era bastante alto. Somente se fechassem um contrato vultoso ela ficaria mais tranqüila financeiramente.
- É esse o motivo de eu ter adiado essa viagem até agora, Sango. Logo receberemos a conta da Biblioteca Young e sanearemos nossos problemas financeiros, pelo menos em parte. Na pior das hipóteses, faremos mais um empréstimo. Afinal, precisamos desse material com a máxima urgência.
- E você já se sente preparada para voltar ao lugar onde conheceu Bankotsu ? Será como reviver tudo...
- Não será, não. Essas lembranças não significam mais nada para mim.
Sango assentiu com um gesto de cabeça. Acreditava em Rin e na capacidade de ela superar os problemas. E, depois de tanto sofrimento, era natural que preferisse colocar a razão acima dos sentimentos.
Terminando de verificar os slides, Rin lacrou as embalagens e atendeu ao telefone, que começara a tocar.
- Arquivos Fotográficos do Oriente Médio - anunciou.
- Aqui é Sesshoumaru Taisho. Gostaria de falar com a sra. Taniguchi.
- É ela mesma, sr. Taisho. Em que posso servi-lo ?
- Preciso de um grande favor seu. Soube que é uma excelente fotógrafa e preciso de seus serviços com urgência. Poderia me ajudar ?
A voz agradável e sonora do outro lado da linha soava familiar. Rin se perguntou onde a ouvira antes.
- Estou aqui para isso: auxiliar os clientes no que for possível - respondeu com polidez.
- Maravilhoso ! Agora, deixe-me falar um pouco do trabalho. Faço guias turísticos para a Cambridge Publicações. A fotógrafa com quem eu havia combinado esse serviço me abandonou na última hora. É um projeto urgente e meu editor indicou seu nome para substituí-la. Pelo que ele me informou, você conhece muito bem o Oriente Médio e já fez fotos belíssimas daquela região...
De repente, Rin se lembrou de onde conhecia aquele nome. Era o homem a quem beijara na galeria de arte, seis meses antes.
- Bem, sr. Taisho, não sei se no momento podemos aceitar mais trabalho...
Sango olhou-a, espantada. Jamais vira Rin hesitar diante de um novo contrato e, na situação financeira em que se encontravam, isso era um total absurdo.
- Pense bem ! - Sesshoumaru insistiu - Algumas semanas ao Sol, longe desse tempo maluco... com todas as despesas pagas, além de seus honorários, lógico ! Só precisa preparar sua câmera e fotografar... algo no qual você é uma perita !
- É uma proposta tentadora... em outra ocasião, quem sabe...
- Mas por que em outra ocasião ? Se aceitar minha proposta, garanto que não se arrependerá. Em primeiro lugar, porque o pagamento é bastante razoável. E, depois, o lugar é maravilhoso ! Já esteve na Terra Santa ? É uma região cheia de mistérios, onde as belezas se encontram por todas as partes...
- Estou ocupada demais no momento, sr. Taisho. Seria melhor procurar outra pessoa para colaborar no seu projeto.
Sesshoumaru soltou uma gargalhada, deixando-a perplexa com a reação.
- Estou gostando do seu jeito - ele afirmou - Acho que vamos nos entender muito bem ! E, já que foi tão direta, me sinto mais à vontade. Olhe, preciso muito de você. Tenho de voltar a Jerusalém depois de amanhã e meu visto de permanência lá só tem dois meses de validade. Fora isso, se esperarmos a mudança de estação, a luminosidade já não servirá para as fotos de que preciso. Tem ido a Jerusalém ultimamente, sra. Taniguchi ?
- Não, e da última vez em que fui para lá não deu tempo de conhecer a cidade como eu queria. Não fotografei nada, inclusive estava planejando fazer essa viagem ainda neste ano...
- Pois então ! Seria uma soma perfeita de interesses.
- Mas não pretendo ir agora, sr. Taisho. E, quando for, será para trabalhar sem prazos fixos ou objetivos determinados. Quero ir sem pressa, para colher material para a "minha" agência, entende ?
- Sim, mas uma coisa não impede a outra. Você vai comigo e trabalhamos juntos. Quando terminarmos, eu a pagarei e você poderá prolongar a estada por quanto tempo quiser. Assim, colherá o material que mais a interessar... não vai se arrepender se aceitar a oferta.
- Não duvido...
A insistência de Sesshoumaru Taisho já começava a irritá-la, em especial porque captara na última frase uma intenção nada profissional. Pelo visto, Sesshoumaru tinha um conceito altíssimo de si mesmo, pensou com desagrado.
- Eu poderia lhe contar tantas histórias sobre os lugares sagrados... o Monte Sião, o Portão de Jafa, os Mamelucos...
O entusiasmo de Sesshoumaru ao falar daqueles recantos a fez lembrar a beleza da região. A contragosto, sentiu uma forte inclinação de aceitar a oferta, embora correndo certos riscos. Ele sabia convencer as pessoas, pensou com um suspiro.
- Você não pode recusar ! - Sesshoumaru pediu mais uma vez - Várias remessas do meu guia já foram vendidas por antecipação. Não posso atrasar a data de entrega. Já assumiu algum compromisso para as próximas semanas ?
- Não, mas...
- Certo, então estamos combinados ! - ele exclamou, com um suspiro de alívio.
- Não é bem assim, sr. Taisho...
- Você é fotógrafa, mesmo ? Não me parece preparada para esse serviço...
Aquilo era golpe baixo, Rin pensou, irritada. Nenhum profissional competente ficaria impassível diante daquele desafio.
- Estou preparada para qualquer trabalho fotográfico de qualidade - respondeu, imaginando o sorriso de satisfação de Sesshoumaru por encurralá-la naquela armadilha - Passei três anos no Oriente Médio por minha conta, tirando fotos para os meus arquivos.
- Pois então diga que aceita ! Você é exatamente a pessoa de que preciso. Além do mais, tenho de acertar todos os detalhes até amanhã, pois embarco na quarta-feira. Kagura me criou um problema e tanto !
- Quem é Kagura ?
- A fotógrafa que me deixou na mão.
- Ah, sei... posso perguntar por quê ?
- Bem... para ser sincero, nós discutimos. Seja como for, não poderei cumprir meu compromisso com a editora sem a sua ajuda, sra. Taniguchi.
- Em outras palavras: Só me procurou porque está muito enrascado.
- E porque tive excelentes informações a seu respeito. Eu havia falado ao meu editor sobre Kagura faz quase seis meses. Estávamos tranqüilos quanto a essa parte... até há bem pouco tempo. Só quando ela desistiu eu recebi indicações sobre você. Como poderia chamá-la antes, se nem ao menos a conhecia ? - ele fez uma pausa, depois prosseguiu em tom mais calmo: - Se o problema for dinheiro, eu consigo um pagamento adicional com a editora, acima das tabelas habituais. E, agora, vou desligar. Pense no assunto com carinho e daqui a cinco minutos eu volto a ligar. Por favor, sra. Taniguchi, não me desaponte !
Rin preparou uma resposta, mas, antes de pronunciá-la, ouviu o barulho do telefone sendo desligado do outro lado da linha. Recolocou o fone no gancho e lançou um olhar perplexo para Sango, que aguardava os detalhes com ansiedade.
- Um tal de Sesshoumaru Taisho quer que eu fotografe Jerusalém para um guia turístico... - explicou, absorta.
- Puxa ! Era exatamente do que precisávamos ! Mas não foi ele que escreveu uma série famosa para a TV sobre a Palestina ?
- Não me lembro...
Rin se lembrou, então, de haver usado os guias de Sesshoumaru quando estivera no Egito e na Arábia Saudita. Ambos eram bastante completos e prendiam a atenção pelo estilo leve e bem-humorado. Difícil relacionar um trabalho da qualidade daqueles livros com a figura excêntrica da galeria de arte. Nem mencionaria a Sango que já o conhecia, muito menos em quais circunstâncias !
- Você não vai perder uma oportunidade dessas, não é, Rin ?
- Mas ele quer partir depois de amanhã, Sango !
- E daí ?
- Seria impossível ! Temos outros clientes, esqueceu ?
- Ora, nada de tão urgente, não é ? Não entendo por que está tão preocupada, Rin. Há quinze minutos, pensávamos até em fazer um empréstimo para essa viagem. Esse homem não vai providenciar tudo, inclusive as despesas ? E você mesma disse que eu poderia muito bem cuidar da agência sozinha... a não ser que tenha dito isso da boca para fora.
- Claro que não! Confio em você como em mim mesma... às vezes, até um pouco mais.
- Pois então ! Coloque as coisas na mala e vá embora ! Não deve satisfação a ninguém mais sobre seus atos, aproveite ! Rin, uma chance dessas aparece só uma vez na vida ! Você vai se arrepender se não for.
- Não tenho certeza de ter competência para fazer bem esse serviço. Estive muito tempo afastada de tudo, cuidando de outras coisas...
Uma certa amargura soou na voz de Rin. Os últimos meses haviam sido duros, cheios de atropelos e momentos difíceis. Sango presenciara cada uma daquelas dificuldades. Aproximando-se dela, a amiga segurou-a pelos ombros com carinho.
- Um pássaro só precisa de asas para saber voar - afirmou com um sorriso terno - Mesmo se você ficasse um século sem tirar uma foto sequer, ainda seria uma das melhores profissionais deste país. No momento em que estiver com a câmera na mão, seu talento aparecerá sem você fazer esforço nenhum. Relaxe, Rin ! Esta viagem para um lugar bonito, onde ninguém a conhece, vai ser ótima para colocar sua cabeça em ordem.
Sesshoumaru Taisho a conhecia, e devido a uma situação nada favorável, Rin pensou. Ao mesmo tempo, queria muito tirar as fotos de Jerusalém... o reencontro com Sesshoumaru não seria nada fácil. Só Deus sabia o conceito que ele fazia a seu respeito. E, com certeza, não a receberia de braços abertos quando soubesse quem era a sra. Taniguchi... beijá-lo daquela forma não fora um exemplo de honestidade, mesmo ela estando desesperada para obter o divórcio.
Em todo caso, a estratégia fora muito bem-sucedida. Bankotsu não duvidara nem por um momento do suposto caso entre ela e Sesshoumaru. Seguindo os conselhos do advogado, não cumprira a ameaça de incluir Sesshoumaru no processo de divórcio. Da mesma forma, desistira do divórcio litigioso, um escândalo insuportável para os negócios dele. Concordara com a separação, mas exigira que Rin arcasse sozinha com todas as despesas do processo e abrisse mão de todos os direitos sobre pensão e bens materiais.
Assim, ela abandonara a luxuosa casa onde moravam e montara um pequeno apartamento, mais de acordo com suas posses atuais. Mesmo reconhecendo a injustiça da situação, ela não reclamava. A vida agora era menos confortável, mas, pelo menos, tinha paz de espírito e dignidade.
A campainha do telefone despertou-a dessas reflexões. Ela soltou um suspiro, preparando-se para a nova batalha.
- Quem fala ? - Sesshoumaru perguntou, ansioso.
- Rin Taniguchi.
- E então?
- Então o quê ?
- Não brinque comigo, sra. Taniguchi. Qual é a sua resposta ?
Rin olhou para Sango, que a fitava, apreensiva. Jerusalém e dinheiro eram duas razões excelentes para aceitar a proposta. Quem sabe se, com o tempo, Sesshoumaru não desfizesse o conceito negativo sobre ela ? E, se acontecesse o contrário, pouco lhe importava ! Sesshoumaru a pagaria para executar um trabalho, não para angariar a simpatia dele.
- Eu aceito a oferta, mas com uma condição...
- Graças a Deus ! Eu já estava ficando preocupado... mas qual é a condição ?
- Preciso de algumas fotos da região do Mar Morto para meus arquivos. Quando ficarem prontas, quero selecionar as que me interessarem para fazer slides - Sesshoumaru assobiou.
- Bem, não costumo agir assim... em geral, tenho exclusividade sobre o material publicado em meus guias. Mas, nesse caso, posso muito bem abrir uma exceção. Só que quem seleciona o que deve ser fotografado sou eu, está bem ? Não gosto de interferências no meu trabalho. Se eu pedir para você fotografar uma pedra, você me atende, sem discussões, certo ?
- Tudo bem, sr. Taisho.
- Precisamos selecionar as fotos de acordo com o interesse dos leitores, entende ?
- Claro, e ninguém melhor do que o senhor para conhecer-lhes o gosto, não é mesmo ? Afinal, é o autor do livro.
- Ainda bem que concordamos... espero-a no aeroporto de Heathrow, portão um, às onze horas da manhã de quarta-feira. Os honorários serão aqueles a que se propuser. Não se preocupe com nada, a não ser com objetos pessoais e equipamentos. Providenciaremos tudo, inclusive sua documentação. Hoje mesmo, alguém vai procurá-la para acertar esses detalhes. É bom levar roupas apropriadas para atravessar o deserto. Lá as temperaturas são altíssimas durante o dia, e faz um frio terrível à noite. E não se esqueça dos filtros de luz, para fotos...
- Também não gosto de interferências no meu trabalho, sr. Taisho - Rin interrompeu-o com frieza - Não sou novata no assunto e sei muito bem o que se deve fazer.
- Que idade você tem ?
- Não é da sua conta !
- Desculpe a indiscrição. Só estava imaginando como você é...
- Sou fotógrafa, não modelo. Minha aparência não interfere na qualidade de meu trabalho.
- Mesmo assim, gostaria de conhecê-la logo... que tal jantarmos juntos hoje ? Poderíamos acertar alguns detalhes da viagem desde já...
- Não, obrigada. Preciso tomar algumas providências e fazer as malas. E, depois, o senhor mesmo disse que acerta tudo por mim.
- Mas eu sempre converso com as fotógrafas antes do início do trabalho. É de praxe, sabe ?
- Sei, sim... só que esse não será meu caso.
- Ah, me esqueci de que é a "senhora" Taniguchi, não é mesmo ?
Rin notou um desapontamento mal disfarçado na voz dele.
- Sim, senhor, eu sou a "senhora" Taniguchi.
- Pena ! Pelo visto, nossas próximas semanas não prometem muito em termos de diversão...
- No que depender de mim, não prometem nada, sr. Taisho... até quarta-feira.
Rin deu a conversa por encerrada e recolocou o fone no gancho. Pelos últimos cinco minutos de diálogo, tivera a noção exata do quanto seria difícil conviver com Sesshoumaru Taisho por quase um mês.
P. S.: Nos vemos no Capítulo 3.
