Oi, voltei!
Capítulo Dois
Meu Vizinho Corno
Eu não sabia o que fazer. Ficar e brigar? Ou correr e fugir daquela situação?
Era tão humilhante estar ali testemunhando o chifre nascendo em minha cabeça. Como Mike poderia fazer aquilo comigo? Ainda mais com a porta aberta sabendo que eu estava por perto?
Porra, com certeza era um dos momentos mais vergonhosos da minha existência. Só perdia para todas as vezes que fui despejada, quando ainda morava com minha mãe.
Lágrimas começaram a rolar por meu rosto, um aperto familiar no peito também se fez presente. Eu estava prestes a explodir em um choro incontrolável, sendo assim decidi fugir.
Correria até Rose e Jasper, eles me ajudaram a saber o que fazer. Sozinha eu não conseguia, não quando tudo que pensava era em me encolher e chorar.
Dei meia volta no corredor escuro, ainda escutando o ato libidinoso no quarto. Desci as escadas, usando o restinho da minha atenção para não acabar tropeçando e terminar a noite com o nariz quebrado, além de corna.
Estava no final dos degraus quando a figura ruiva e irritante apareceu, eu quis gritar com Edward. Não era justo, mas naqueles segundos de silêncio entre nós dois considerei despejar toda a fúria que sentia no jogador de futebol. Entretanto, não tive tempo de nada disso.
— Ei, o que aconteceu, Volturi? — Os olhos verdes dele estavam atentos, focaram em meu rosto primeiro, depois desceram por meu corpo. Parecia estar buscando qualquer coisa fora do lugar em mim, e encontrou em minhas mãos tremendo. — Isabella, você está passando mal? Alguém fez alguma coisa com você? Foi alguém que o Emmett contratou? — continuou a perguntar, sua voz soando firme contra a música tocando na festa.
— Ed-Edward — eu gaguejei, queria contar tudo o que vi, mas não encontrava minha própria voz.
— Vem, vou te levar para beber uma água e chamar Rosalie para você conversar com ela, tá bom? — Estendeu uma mão para que eu pegasse.
Não aceitei, olhei para a escada atrás de mim e me vi falando para o Masen:
— A Kate e o Mike.
— O quê?
Voltei meu olhar para ele, engoli em seco e contei tudo de uma vez:
— Kate e Mike estão nos traindo, ela tá chupando ele lá em cima.
Eu não tive tempo de falar mais nada, nem de decifrar a expressão no rosto do jogador de futebol americano. Edward passou ao meu lado como uma bala, subindo as escadas correndo.
Xinguei baixinho e fui atrás dele, precisaria ajudá-lo a manter a cabeça no lugar e não deixá-lo acabar socando a cara do Mike. Não que eu não quisesse meu namorado traidor sofrendo, queria isso por estar sendo chifrada, mas não deixaria Edward foder a vida dele por uma acusação de agressão.
Claro que ainda detestava meu vizinho, só que não era filha da puta ao ponto de deixar o Masen estragar o futuro dele naquele ponto. Até porque pelo histórico que tínhamos, se ele acabasse preso por descer a porrada em Mike, era capaz de jogar a culpa em cima de mim.
Edward parou no meio do corredor quando os viu, tive de desacelerar e parar também, ou acabaria dando de cara nas costas do garoto. Kate e Mike ainda estavam presos na nojentice deles, mas isso não durou muito mais já que o Masen gritou:
— Vocês querem uma camisinha emprestada?
Na hora Kate tirou a boca do pau de Mike, os dois olharam para Edward. Também olharam para mim quando me coloquei ao lado do meu vizinho e naquele momento meu companheiro de desgraça.
— Puta que pariu! — Mike guardou o pênis dele dentro da calça e a fechou, mais lágrimas rolaram por meu rosto ao ver toda aquela cena se desenrolando. Eu pensava em casar e ter filhos com ele, mas nada disso rolaria mais porque Mike era um traidor de merda. — Gatinha, você precisa me escutar — pediu, deixando o quarto e andando em minha direção, Kate continuava ajoelhada no mesmo lugar de antes, encarando o chão, parecendo muito envergonhada para sustentar o olhar de Edward. — Foi um erro, eu sei, mas podemos… — Mike chegou mais perto e tentou tocar meu braço, dei um passo para trás e o Masen ficou entre o músico e eu.
— Não encosta nela! — Edward gritou com Mike.
— Eu sou namorado dela! — Mike gritou de volta, ambos estavam bêbados e isso era claro. Fiquei mais desesperada em como tudo aquilo ia acabar quando Edward empurrou meu namorado, Mike vacilou um pouco, mas não caiu.
— Edward, não, pelo amor de Deus. — Segurei no braço dele e tentei puxá-lo para trás, mas não tinha força para isso. E Mike também não teria forças para se defender, o jogador era muito musculoso e resistente, além de bem mais alto, ele acabaria com a cara do outro.
— E você não vai falar porra nenhuma? — Edward gritou voltando a olhar para Kate, a garota bufou e se levantou.
— Edward, calma — ela implorou, andando para mais perto do grupinho tenso que estávamos formando.
— Calma? Como eu vou ter calma se acabei de te flagrar chupando o pau desse imundo?
— Com certeza meu pau é bem melhor do que o seu, Masen — Mike esbravejou.
Isso foi o suficiente para mim, soltei o braço de Edward e como se estivessemos em sincronia o jogador deu um soco na cara do meu namorado… Melhor dizendo, meu ex-namorado, bem no nariz.
— Caralho, tá doido? — Mike gritou, dando passos para trás, as mãos cobrindo o nariz ensanguentado. — Você tá muito fodido, seu merda.
— Edward, você não deveria ter feito isso! — Kate gritou, tentando ajudar Mike.
— Ah e o que eu deveria ter feito, Kate? Ficar parado aqui ouvindo vocês dois darem desculpas esfarrapadas sobre estarem fodendo? Corta essa, nada do que falarem vai justificar o que fizeram.
— Eu cansei, tá? — Kate gritou com ele, enquanto mantinha a cabeça de Mike inclinada para trás. Isso mexeu ainda mais comigo, ela cuidando dele, do cara que infelizmente continuava sendo alguém que eu gostava. — Sou nova, não queria ficar presa numa única relação pelo resto da faculdade, preciso curtir minha vida.
— Você pode curtir o que quiser, só deveria ter terminado comigo antes!
— Aconteceu na emoção hoje com Mike — ela tentava se justificar. — E não queria terminar com você, poderíamos ter um relacionamento aberto, seria muito melhor.
— Chega, caralho, chega. Acabou tudo entre a gente, você pode chupar quem quiser, Kate. — Edward desceu, pisando firme no chão.
— Bella, gatinha — Mike começou a falar, eu ainda estava chorando e tentando raciocinar sobre tudo que tinha rolado. — Vamos conversar, ok?
— Não temos nada pra conversar — consegui falar. — Nosso namoro acabou, Mike.
Segui escada abaixo, chorando, tremendo e me sentindo dispensável. Um sentimento que conhecia bem, algo que pensava já ter superado.
X
Edward estava sentado perto do mar, com uma garrafa de cerveja em mãos. Não queria ninguém perto de si, nem mesmo Benjamin, que era seu amigo e colega de apartamento. Talvez fosse aceitar apenas a companhia de Emmett, mas o melhor amigo dele estava ocupado colocando meu ex-namorado e Kate para fora de sua casa.
Nós contamos tudo para Rose e Emm, então o dono da mansão à beira-mar foi fazer as honras de fazer Mike e a Denali deixarem o lugar. Eu fiquei preocupada deles saírem dirigindo bêbados, também tinha o fato de Mike estar machucado, então o McCarty me garantiu que iria colocá-los num Uber para um hospital ali perto e que poderiam ir para um hotel depois, meu ex poderia pegar seu carro na manhã seguinte e ir para onde quisesse com Kate, que tinha ido para Malibu no carro do ex-namorado dela.
— Não quer mesmo comer algo? — Alice perguntou, estava sentada ao lado dela, aquela altura todo mundo já estava sabendo do que tinha rolado e a festa acabou precocemente. O pessoal contratado por Emmett estavam arrumando as coisas e os outros convidados estavam reunidos em um grupinho, provavelmente fofocando sobre os chifres de Edward e eu.
— Isso, algum doce para te animar, Bella. — Jasper estava sentado aos meus pés, Rosalie estava por perto também, encarando a casa com ódio e talvez pensando em formas de arrancar o pau de Mike e os cabelos de Kate.
— Não quero nada. Jazz, vai tentar falar com ele — pedi gesticulando em direção ao Masen.
— Já tentei, ele não quer papo com ninguém, deixa o Emmett voltar que ele vai falar com o Edward. Sério, nem um pacote de M&M's?
Me desvenciliei de Jasper e Alice, Rosalie me lançou um olhar atento, mas não me impediu de ir até Edward. Sentei ao lado dele, pude observar como o olhar dele era sério e seus lábios estavam apertados, parecia estar sofrendo tanto quanto eu, era óbvio que gostava muito da Kate.
— Valeu por socar o Mike — agradeci. — Desculpa por não ter dado um soco na Kate também — brinquei, tentando animá-lo de alguma forma. Quase consegui, Edward moveu os lábios e parecia que iria sorrir, mas o sorriso não surgiu, no lugar disso, ele ofereceu:
— Quer? — Esticou a garrafa para mim, eu aceitei, peguei e tomei um pouco da cerveja.
— Você tava desconfiando de algo? — questionei.
Ele negou com um aceno de cabeça.
— Não, de porra nenhuma. — Engoliu em seco, devolvi a garrafa e ele terminou a bebida em uma golada. — E você?
— De nada, parecia tudo bem. — Estiquei os pés descalços e deixei eles serem molhados pela água do mar.
— Ei! — Emmett e Rosalie apareceram. — Eles já foram embora — o McCarty contou.
— Infelizmente foram embora com vida — minha amiga reclamou.
— Eu estava pensando e a Rose concordou — Emmett começou a falar. — Vamos mandar todo mundo embora amanhã logo, ficaremos apenas nós quatro, Alice e Jazz. Assim vocês dois podem relaxar até dia 22.
— Não precisa disso, não por mim. — Edward me lançou um olhar rápido antes de se voltar para o amigo. — Eu vou embora assim que amanhecer, quero ir para casa.
Pensei sobre minhas alternativas, enquanto Emmett e Rose insistiam para Edward ficar. Eu poderia continuar ali até a data de volta prevista, ou poderia pegar carona com o Masen e ir para Berkeley, de lá iria para a casa dos meus pais e em poucos dias viajaria com eles e meu irmão, a nova viagem seria meu bote salva-vidas para tentar tirar Mike da cabeça.
— Você me dá uma carona? — perguntei para Edward, o garoto me olhou surpreso, mas concordou.
— Claro, posso fazer isso.
É, nós tínhamos levantado uma bandeira branca. Não sabia até quando a trégua iria durar, mas era óbvio que o trauma coletivo tinha nos unido de certa forma.
— Não, não! — Rose exclamou. — Bella, você não pode ir embora, nem ficar sozinha lá em casa.
— Eu só vou parar no apartamento para arrumar a nova mala e vou ficar na casa dos meus pais. Papai Aro ainda está trabalhando, mas fico lá com ele e Jake, até Charlie voltar e nós irmos para o Havaí.
— Cara, é melhor você ficar — Emmett continuou insistindo com Edward. — Benjamin tá aqui, Peter tá viajando, vai ficar sozinho, pensando…
— Eu vou ficar bem! — Edward o interrompeu e se levantou. — Vou dormir. — Olhou para mim, comigo sentada e ele em pé, me senti minúscula perto do garoto. — Irei sair daqui às 10, se você se atrasar pode ir andando.
Então, ele se afastou e eu quis jogar areia nos cabelos dele, mas me controlei.
X
Uma batida na porta, depois várias e gritos em sequência:
— Vamos logo, Volturi!
Abri meus olhos, sentindo a dor de cabeça me atingir.
— Você tem quinze minutos.
Edward Masen merecia morrer, eu queria muito matá-lo por me acordar com aquela gritaria, mas não poderia fazer isso até ele me dar a maldita carona.
— Tô indo! — gritei de volta.
Me arrastei para fora da cama e fui me arrumar. Alice, durante a madrugada, tinha me ajudado a arrumar a mala, então isso estava pronto. Apenas troquei de roupas, lavei o rosto, escovei os dentes, fiz xixi e deixei o quarto.
A mansão estava silenciosa, mas eu tinha visto boa parte do pessoal já na praia pela janela da suíte. Na sala principal, encontrei Rose, Alice, Jazz, Emm, Benjamin e meu vizinho.
Minha mala também já estava lá, sendo um anjo como era Jasper tinha a descido para mim assim que Alice e eu terminamos de arrumá-la. Em minhas costas estavam a mochila, mas não era um peso muito difícil de carregar.
— Deveria voltar com você. — Rosalie me apertou em um abraço antes que eu pudesse falar qualquer coisa.
Ela, Alice e Jazz já tinham falado um milhão de vezes que iriam embora comigo. No entanto, eu os forcei a ficar, não queria estragar as férias de todo mundo por ter virado corna.
— Vou ficar bem, qualquer coisa te mando mensagem e você vai lá limpar minhas lágrimas, ok?
— Não sei, esse é seu primeiro chifre, eu deveria ficar ao seu lado direto. — Afagou meus cabelos.
— Primeiro e último chifre, não vou namorar mais ninguém — murmurei, com certeza ainda estava me sentindo péssima com tudo que tinha rolado. Precisaria de mais tempo para digerir a traição e o fato de que era solteira de novo.
— Hora de ir — Edward resmungou de algum lugar da sala.
O ignorei, indo primeiro me despedir de Jazz e Alice. Meu amigo colocou um saco de padaria em minhas mãos, com alguns croissants, também me deu um copo de chocolate quente.
— Ai, te amo, Jazz.
— Se cuida, qualquer coisa fala comigo, tá? — Beijou minha cabeça. — E não fica dormindo sozinha no apartamento, é pra ir para a casa dos seus pais.
— Ok, pode deixar.
Alice também me apertou em um abraço, dizendo que deveria estar indo comigo. Não tive tempo de discutir com ela, não com Edward me apressando novamente.
O vizinho mais chato do mundo estava usando bermuda preta, camiseta da mesma cor sem estampa alguma e óculos de Sol. Um verdadeiro emo, só faltava ele ter uma franja lambida caída pela testa.
Dei tchau para Emm e Benjamin para seguir o amigo deles, Jazz levou minha mala até o carro e mandou Edward dirigir com cuidado antes de fechar a porta para mim. O Masen começou a dirigir, eu estava quase mexendo no som, mas ele exclamou:
— Nem pensar, não vou deixar você escolher o que vamos escutar!
Resmunguei, mas fui obrigada a aceitar. Ele já estava me dando uma carona, não era obrigado a me deixar escolher a música. O Masen escolheu, colocando pelo seu celular uma canção que eu não conhecia, mas com certeza era algo de rock emo, bem dramático, a cara dele.
Tomei um pouco do meu chocolate quente e peguei um croissant para comer, o jogador de futebol americano alertou:
— Se você sujar meu carro, irá pagar a limpeza.
— Você é tão chato — reclamei. — Por isso a Kate te largou.
— Tá mesmo falando isso? — indagou revoltado.
Suspirei e pedi desculpas, tinha sido algo muito idiota de se falar.
— Foi mal, erro meu falar uma merda dessas — sussurrei.
Pelos próximos minutos comi e bebi com o máximo de cuidado para não sujar nada, também fiquei calada, por mais que quisesse questionar Edward sobre Kate. Quando saímos da casa de Emmett o carro de Mike ainda estava lá, queria saber se o Masen sabia alguma novidade da sua ex e do meu. Também queria saber se ele não tinha pensado melhor e se lembrado de alguma interação entre a Denali e o Newton que pudesse denunciar o envolvimento dos dois.
Não sabia bem o que eu queria com tudo isso, provavelmente só estava atrás de respostas que me acalentassem e me fizessem ter certeza de que Mike não tinha me traído por minha culpa. Ou era mesmo minha culpa como parte da minha mente acreditava ser? Ele tinha se cansado de toda minha chatice? Porra, eu era tão desinteressante, ninguém nunca iria gostar de mim pra valer, não é?
Terminei de comer, abri o Twitter no celular e fui me lamentar lá. Afinal, não tinha como choramingar para Edward e não queria importunar meus amigos com mensagens. Quer dizer, tirando Alice todos eles tinham conta no Twitter e me seguiam lá, mas pelo menos eu não estaria chorando diretamente para os coitados que nada tinham a ver com a traição que sofri.
A primeira coisa que fiz ao abrir o aplicativo foi bloquear a conta de Mike, não que ele estivesse tentando falar comigo pelo Twitter. Ele não tinha tentado contato por rede social alguma, absolutamente nada, deveria estar fodendo Kate no hotel em Malibu.
Com os olhos cheios de lágrimas, fiz meu primeiro tuíte sobre o término do namoro.
houseofvolturi: não acredito que isso tá acontecendo comigo.
Algumas pessoas que eu conhecia só pela internet, outros fãs da Lady Gaga, ou amizades que fiz por comentar sobre livros naquela conta, perguntaram o que estava rolando. Não respondi, como também não respondi pelo Twitter Jazz e Rose que também apareceram na hora questionando como eu estava, mas por mensagem garanti que apesar de não estar muito bem, iria ficar.
Eu tinha acabado de responder aos dois quando Helen Swan decidiu mandar uma mensagem também.
Helen: Olá, que tal um almoço aqui em casa quando você voltar de viagem? Pode trazer seu namorado.
— Que inferno — reclamei e fiz outro tuíte.
houseofvolturi: meu dia só piora.
Também fiz outro logo em seguida, irritada pela música chata tocando.
houseofvolturi: pra completar ainda estou sendo obrigada a ouvir música de emo.
— Olha — falei com Edward, que não deu qualquer sinal de que estava prestando atenção em mim, mas continuei mesmo assim. — Podemos revezar, que tal? Você escuta essas suas músicas por uma hora de viagem, depois eu escuto alguma playlist minha. A estrada ficará menos maçante se tivermos Lady Gaga tocando, por exemplo.
— Odeio Lady Gaga — ele disse e eu cogitei me jogar para fora do carro.
Quero dizer, já tinha ouvido Edward falar antes que não gostava da Gaga, mas ser lembrada daquilo naquele instante me dava vontade de abrir a porta do carro e implorar por ajuda. Como alguém não gostava de Lady Gaga? Era impossível, ela era maravilhosa, obviamente Edward tinha sérios problemas e eu não queria estar perto de alguém tão idiota.
— Por que você não gosta dela?
— Porque não.
— Isso não é uma resposta decente.
Ele ficou em silêncio, o que só me irritou mais. Eu queria conversar, mesmo que fosse para discutir, odiava o silêncio — curtia apenas quando queria dormir ou ler —, gostava de bater papo.
— E se não colocarmos música e sim um podcast?
Mais silêncio. Edward era um robô, programado para me ignorar, era isso.
Aproveitei que não tinha nada para fazer e bloqueei Mike no resto das redes sociais, também dei block na maldita Kate. Cogitei abrir mão do feminismo e mandar uma mensagem furiosa para a garota, mas não valeria a pena.
No entanto, mandei uma mensagem para meus pais contando tudo que tinha rolado. Papai Charlie não respondeu na hora, mas papai Aro sim.
Papai Aro: ELE FEZ O QUE? Vou te buscar no seu apartamento assim que você estiver em Berkeley!
Isso me fez sorrir, pelo menos eu tinha uma família e amigos maravilhosos. Mike, minha mãe e meu pai biológico tinham me largado de mão, mas no fundo sabia que muitas pessoas ainda se importavam comigo.
Pelas horas seguintes fiquei pensando nisso, em um conflito entre me achar dispensável e querida. Uma dualidade irritante, onde me sentia alguém legal e amada, mas também alguém que era facilmente descartada.
— Tem alguma coisa pra comer aí? — Edward perguntou, levei um susto, tinha até esquecido de que o pior companheiro de viagem do mundo sabia falar.
— Ainda tem um croissant — respondi.
— Tem outra coisa? Não gosto de croissant. — Ele pegou uma garrafinha de água do suporte entre os bancos, aproveitou o sinal que paramos para beber um pouco.
— Não gosta de croissant, não gosta de Lady Gaga, você gosta de algo, Masen?
Edward olhou para mim e lançou um sorriso travesso, que eu não sabia se chegava aos seus olhos já que ele ainda estava de óculos escuros.
— Gosto de futebol americano.
Bom, óbvio. Mas ainda era um ponto a favor dele, já que eu também era louca por futebol americano.
— Tenho M&M's na bolsa, serve?
— Sim, por favor. — Voltou a dirigir, eu peguei um pacote de dentro da minha mochila e abri, estiquei para o garoto, mas ele reclamou.
— Que ódio, odeio comer sem separar as cores. — Pegou o pacote e virou um monte na boca de uma só vez.
Sobre suas palavras, eu perguntei:
— Espera, você também come separando pelas cores?
— Sim — respondeu de boca cheia. — Como primeiro os azuis, depois vou comendo uma cor de cada vez, mas sem ter uma ordem certa.
— Caramba, Masen! — exclamei surpresa. — Eu faço a mesma coisa, mas começo pelos amarelos.
— Tá falando sério? — Olhou rapidamente por mim, antes de comer mais um pouco dos M&M's.
— Tô, na minha cabeça faz sentido. Sei lá, parece um desafio legal separar por cores e me faz comer mais devagar, aproveitar o momento, sabe?
— Sei bem.
Acabei pegando outro pacote da bolsa e abrindo para comer, como falei, começando pelos amarelos.
— Rose diz que eu devo ter algum grau de TOC, mas não é isso.
— Por que amarelo primeiro?
— É uma das minhas cores favoritas. — Dei de ombros. — Por que azul?
— É uma das minhas favoritas. — Ele estendeu a mão, querendo mais M&M's depois de acabar o pacote que tinha lhe dado. Catei alguns azuis e coloquei em sua palma, Edward agradeceu e levou à boca.
Aproveitando do novo momento de trégua, tentei ganhar terreno.
— Podemos escutar Lady Gaga agora?
— Não.
E voltamos ao silêncio irritante.
X
Faltava uma hora para chegarmos ao nosso destino final quando pensei em Demetri. Imaginei o garoto reaparecendo na minha vida, nós dois começando a namorar e depois casando, tendo filhos juntos, provavelmente crianças adotadas, pois nós dois sabíamos como era viver sem uma família.
Um pequeno sorriso triste tomou conta do meu rosto, se eu vivesse em um dos livros ou filmes de romance que tanto amava, reencontrar Demetri estaria no roteiro da minha vida. Infelizmente, aquela era a vida real e eu não estava vivendo o enredo de um romance, talvez não fosse beijar ninguém mais por longos meses.
Namorei Mike por nove meses, e antes disso não era como se fosse a garota mais disputada da cidade, longe disso. Eu teria de criar uma conta em aplicativos de namoro? Conheci Mike através do Jazz, já que os dois tinham aulas em comum. Eu não suportava tais aplicativos, achava uma chatice, com caras nojentos que mandavam fotos de pênis não solicitadas.
De volta ao Twitter, depois de horas gastadas no Tik Tok assistindo vídeos de bichinhos fofos, fiz um questionamento para ninguém em especial.
houseofvolturi: eu ainda sei ser solteira?
— Ainda tem M&M's? — Edward perguntou.
Rolei meus olhos, exausta dele e daquelas longas horas no carro. Queria esticar as pernas, ir ao banheiro e tomar um banho quentinho, algo reconfortante.
— Tenho, mas não vou te dar. Chega de compartilhar minha comida com quem não gosta de Lady Gaga.
X
Nosso prédio não tinha garagem, mas os moradores aproveitavam o estacionamento de uma loja abandonada ao lado para colocarem seus carros e motos. Foi lá que Edward estacionou seu carro, também foi lá que vi minha bebezinha, minha amada moto.
Meus pais, muito preocupados com minha segurança, tentaram me convencer a ter um carro. Porém, eu amava motos, sempre achei elas incríveis, por isso tinha uma, não um carro sem graça.
— Oi, linda, sentiu minha falta? — falei com a moto, enquanto Edward tirava nossas malas do carro.
— Você tem problemas — ele me acusou, eu mostrei o dedo do meio para o jogador. — Toma, se vira. — Me entregou minha mala, eu choraminguei e pedi:
— Leva lá pra cima para mim?
— Nem fodendo, não sou seu empregado. — Pegou a sua e saiu andando na frente, eu o xinguei, enquanto tentava arrastar a minha até o prédio, ela tinha rodinhas, mas o chão não era lá o mais liso. — Edward, é sério, me ajuda! — implorei.
— Cem dólares e eu levo pra você.
Edward Masen não era pobre, não mesmo. Ok, três coisas que eu sabia sobre o jogador de futebol americano, em parte graças a Emmett que falava muito.
1. A mãe do Edward tinha morrido, eu só não sabia como e nem quando.
2. Ele foi viver com os tios depois da mãe morrer.
3. Eu conhecia uma prima dele, filha dos tios que o acolheram, e Tanya era podre de rica como o primo com certeza também era.
Não sabia nada sobre o pai do Masen, também não sabia porque ele vivia naquele prédio enquanto Tanya morava sozinha em um apartamento no mesmo prédio que Emmett vivia. Todas as vezes que falei com Tanya, algumas com Edward por perto, ela sempre foi super carinhosa ao se referir ao Masen, então eu não achava que ele estava jogado à sorte sem ajuda financeira nenhuma, até porque também só tinha bolsa parcial na universidade, não integral e alguém tinha de pagar o resto da mensalidade.
— Por favor, por favor, por favor! — implorei mais.
O Masen resmungou alto, mas voltou e pegou minha mala.
— Você tá me devendo, Volturi.
— Muito obrigada por ser um cavalheiro.
— Tanto faz. — Começou a andar.
Abri a porta do prédio para a gente e o deixei subir na frente, aquelas escadas ainda me matariam, mas Edward não parecia se abalar. E olha que eu não era uma pessoa sedentária, me exercitava com frequência, mas aquelas escadas eram do demônio.
— Não me pede mais nada! — exclamou ao chegarmos no nosso andar, largando minha mala.
— Até nunca mais! — respondi de volta, desejando realmente nunca mais ter que olhar pra cara dele, mas claro que isso ainda aconteceria, ele ainda era meu vizinho… Meu vizinho corno!
Ele entrou no seu apartamento e eu no meu. Avisei todo mundo que já estava em casa, incluindo meus pais. Papai Aro me deu uma hora e meia para arrumar tudo para que ele fosse me buscar. Corri contra o tempo, tomei banho e estava arrumando minhas coisas, faltava meia hora para papai aparecer quando ele me ligou.
Mesmo odiando ligações, eu atendi.
— Oi, papai, ainda não tô pronta.
— Filha, meu carro deu problema, vou precisar levar na oficina. Assim que eu acabar tudo lá te busco, ok? Ou você quer que eu mande um táxi ou Uber para você ir logo para casa?
— Posso lhe esperar.
— Tá bom, vou tentar não demorar muito na oficina.
— Beleza, até mais, papai.
Ele se despediu também e encerramos a ligação, poucos minutos depois a campainha tocou e me surpreendi.
— Nossa, ele foi mesmo rápido.
Fui abrir a porta, papai teria que esperar eu terminar de arrumar tudo para irmos. Porém, não era ele, sim Mike.
— Gatinha, precisamos conversar!
Beijos!
Lola Royal.
21.09.22
