Oi, gente!
Lembrando que aqui é uma ficção então algumas situações/eventos e a rotina universitária da Bella, Edward e companhia não segue fielmente à realidade. Boa leitura


Capítulo Três

Meu Vizinho Mimado

O nariz do Mike estava quebrado. Isso me causou um misto de sentimentos, pena por meu ex estar machucado e felicidade pelo Masen ter dado o soco naquele traidor de merda.

— Vá embora! — ordenei, segurando na porta com força.

— Bella, nós precisamos conversar — insistiu e fez uma careta de dor. — Me deixa entrar, você não pode deixar uma pessoa machucada como eu estou aqui fora em pé.

— Vá pra sua casa e descanse lá, Michael.

— Não me chama assim — pediu. — Sou seu Mike, seu amorzinho.

— Você não é mais nada meu, entendeu? É só o cara que me traiu.

— Isabella, foi um erro e estou profundamente arrependido, você precisa acreditar em mim, Gatinha.

— Não me chama assim.

Ouvimos passos e olhamos para a escada, um dos meus vizinhos — não Edward, nem nenhum dos garotos que morava com ele — estava subindo. Era Mark, um cara de quarenta e poucos anos que sempre foi muito caladão na dele, isso quando não estava escutando música gospel e reclamando das minhas playlists com canções pop, especialmente Lady Gaga.

— Tudo bem, senhorita Volturi? — Mark perguntou para mim. — Pensei que vocês estivessem viajando. Espero que não estejam pensando em dar uma festa hoje, irei receber amigos da igreja.

— Não, nada de festas. — Ele concordou e entrou no seu apartamento que era na frente do meu.

— Podemos ir conversar na sala agora? — Mike indagou, eu respirei fundo, mas respondi a pergunta dele com outro questionamento.

— Há quanto tempo você tava transando com a Kate?

Mike bufou.

— Me deixa entrar que te respondo tudo, Gatinha.

Cedi, deixando ele entrar, batendo a porta com toda minha raiva, precisando descontar em alguma coisa. Fomos até o sofá, Mike sentou lá, mas preferi ficar de pé.

— Vai, responde o que perguntei.

— Aquilo lá foi a primeira vez, tá? Kate e eu não estávamos tendo um caso, mas confesso que alguns dias antes da viagem ela respondeu uns stories meus e começamos a bater papo, acabou que os últimos dias em Malibu fez nascer uma atração entre a gente. Mas o que rolou? Bella, tudo aquilo foi culpa da bebida, vou parar de beber e nunca mais trair sua confiança. Posso ter sentido atração pela Kate, mas é você quem eu amo.

Escutar aquilo me fez gargalhar, de ódio. Como aquele garoto poderia ser tão cara de pau?

— Eu quero que você se exploda, Mike — declarei. — Não sabe como queria ser mais corajosa para ter sido a pessoa responsável por seu nariz quebrado, tenho sorte que o Masen fez isso, ou estaria mais brava ainda. Agora saí da minha casa e nunca mais olha na minha cara.

— Gatinha, vamos esquecer tudo isso. — Ficou de pé e tentou me tocar, mas fugi das suas mãos, bem na hora a campainha tocou e fui abrir a porta.

Para minha felicidade, era meu pai.

— Oi, filha! — papai Aro beijou minha testa, logo depois me apertando em um abraço.

Ele era mais alto do que eu, cheirava a baunilha e sua barba fez cócegas em meu rosto quando me beijou novamente, daquela vez na bochecha. Papai era descendente de italianos, mas vivia nos Estados Unidos desde os dezoito quando fez universidade em New York, depois se mudou para a Califórnia e aos 25 conheceu papai Charlie, eles estavam juntos desde então e casaram um ano antes de me adotarem.

— Como você está, querida? — perguntou ainda sem me soltar.

— Bem, obrigada por vir me buscar, estava precisando de colo.

— Aro! — Ouvimos a voz de Mike e na mesma hora papai me soltou, eu suspirei e vi meu pai encarar meu ex com raiva e desprezo.

Os olhos de papai eram azuis, seus cabelos pretos, mas com alguns fios grisalhos. Ele estava de barba, mas nem sempre ficava com ela, já que também se montava de drag queen e não gostava de se maquiar barbado.

— O que esse cara está fazendo aqui, Isabella? Não me diga que resolveu voltar com ele.

— Não, claro que não! — me defendi.

— Senhor Volturi, sei que errei, mas…

— Mas nada! — papai cortou a fala de Mike. Aro também já tinha dado aula para ele, já que era professor no departamento de história da universidade. — Você traiu minha filha e deve ficar bem longe dela, entendido? — Gesticulou para a porta do apartamento ainda aberta. — Saía e nunca mais volte aqui.

Mike olhou para mim, parecia desolado e por um segundo ou dois pensei em deixá-lo ficar, só que tomei vergonha na cara. Eu não poderia mesmo continuar com aquele desprezível, ele não me merecia.

— Vou deixar suas coisas separadas em uma caixa — falei para ele. — Pedirei para Jasper te entregar quando ele voltar de Malibu. — Cruzei os braços na frente do corpo, naquele momento me sentindo muito desolada. — Boa recuperação para seu nariz.

— Gatinha…

— Mike, vá embora agora, ou irei ser obrigado a te tirar à força.

Mike bufou, mas passou pela gente e saiu do apartamento. Meu pai fechou a porta, bem no momento que não aguentei mais e comecei a chorar.

— Vai ficar tudo bem, filha. — Voltou a me abraçar. — Você está fazendo o certo, não pode perdoar um traidor.

— Eu amo ele — sussurrei.

— Sei que sim, mas você não deve querer continuar ao lado de quem fez o que ele fez. — Assenti, sabia muito bem disso. Eu podia ter sido adotada só aos 15 anos por Aro e Charlie, ter passado a maior parte da minha vida vivendo em diversas casas, com pessoas de pensamentos variados, mas aqueles dois tinham me ensinado os valores que queria seguir pelo resto dos meus dias.

— Vamos pra casa — implorei, apesar de me sentir em casa no apartamento 503 naquele momento só queria ir para debaixo do teto dos meus pais, precisava disso para me sentir melhor. Caramba, queria arrancar de mim, de qualquer forma, aquela sensação de ser rejeitada.

— Claro, filha. — Papai tentou me soltar, mas continuei agarrada nele. — Mais alguns segundinhos de abraço?

— Por favor. E depois o senhor vai precisar me ajudar a terminar as malas.

— Não seja mimada, Bella.

— Levei um chifre, seja empático comigo!

X

O carro do meu pai ainda estava na oficina, então ele chamou um táxi, mas eu decidi ir até a casa dele com a minha moto para guardá-la na garagem deles, sem querer a deixar no estacionamento sozinha e desprotegida até eu voltar do Havaí. Ele acabou indo na frente, enquanto fiquei para trás no apartamento terminando de arrumar a caixa com os pertences que deveriam ser devolvidos para Mike.

Algumas roupas dele, uns livros e uma frigideira que peguei com ele quando a nossa quebrou. Não queria nada daquele cara, apesar de ser uma excelente frigideira.

Pouco antes de eu sair de casa Mark colocou música para tocar, por sorte já estava indo embora. Deixei o apartamento bem na hora que Edward estava saindo do dele, com cara de puro estresse.

— Mike esteve aqui — falei, sem me conter e aquilo nem era da conta do Masen.

Edward mudou a expressão, de estressado ficou preocupado.

— Ele te fez alguma coisa?

— Não, não — neguei. — E papai Aro apareceu logo depois e o colocou pra fora, estou indo para a casa dos meus pais agora e volto pra cá só depois da viagem para o Havaí. Bom, tô indo pegar minha moto agora, tchau.

— Espera! — Edward olhou para a porta de Mark e depois para mim. — Te deixo na sua moto, Mike pode estar pela rua para querer falar com você de novo.

Revirei os olhos e disparei:

— Mike não iria me machucar, Edward, se é isso que você está pensando.

— Claro que estou pensando nisso. E claro que ele te machucaria, já te machucou quando te traiu. Ou esqueceu do que Mike e minha ex fizeram?

— Obviamente eu não esqueci — resmunguei.

Lancei um longo olhar para o chão, pensando no que Edward falou, Mike nunca tinha sido violento comigo, mas e se fosse depois de tudo que tinha rolado? O mundo estava cheio de caras que não aceitavam términos e eram agressivos com suas ex-companheiras. Eu não iria parar minha vida por conta do meu ex, nem queria ser tratada como uma garota indefesa pelo Masen, só que talvez naquele espaço de tempo tão logo após o término fosse bom me manter afastada de Mike e não andar por aí sozinha.

— Ok, aceito sua companhia até a moto — falei para o Masen.

— Beleza, depois eu cuido dessa música chata. — Gesticulou para o apartamento do Mark.

— Ele disse para mim que iria se reunir com amigos hoje, boa sorte lidando com isso.

Nós começamos a descer as escadas, eu carregava apenas meu capacete e chaves em mãos, o celular estava no bolso da minha calça, todo o resto meu pai já tinha levado.

— Como se eu precisasse de mais alguma coisa para ficar estressado — Edward reclamou.

— Falou com a Kate?

— Não, nem vou. — Bufou. — Queria nunca mais olhar para a cara dela também, mas infelizmente ainda terei que vê-la na universidade.

— Cara, como ela foi cara de pau falando sobre querer um relacionamento aberto, estava te traindo e veio com essa. Você aceitaria um relacionamento aberto? — questionei. — Não na situação que rolou, porque aquilo ali foi mesmo uma traição. Mas se ela tivesse te proposto isso antes, você aceitaria?

— Não gosto de dividir — respondeu e isso me fez rir. — O que foi, Volturi?

— Você é muito filho único soltando uma dessas de não dividir, todo mimadinho.

Ele não respondeu mais nada, apenas se apressou e eu tive que praticamente correr para andar ao seu lado. Quando finalmente chegamos ao estacionamento, sem topar com Mike no meio do caminho, andei rapidamente até minha Harley-Davidson.

Eu tinha comprado de terceira mão, mas ainda era uma moto maravilhosa e o melhor de tudo: amarela.

— Obrigada pela companhia, Masen — agradeci.

Ele deu de ombros, eu subi na moto e arrumei meus cabelos para colocar o capacete. Continuava fazendo isso quando o percebi olhando para minhas pernas, confusa, perguntei:

— O que foi?

— Nada. — Engoliu em seco. — Manda um oi pro Charlie, Ratinha.

— Vá se… — comecei a falar, mas ele já estava indo embora.

X

Charlie e eu estávamos sentados juntos no avião, Aro e Jacob estavam a algumas fileiras de distância. Eu mal via a hora daquele avião decolar, mas enquanto não chegava a hora estava mexendo no celular.

Só três dias tinham se passado desde que levei o bendito chifre, então estava longe de estar recuperada disso. Ficar olhando fotos minhas e de Mike era algo meio inevitável, estava sentindo tanta saudades dele.

No entanto, eu também não estava pensando apenas em Mike olhando aquelas fotos. Quer dizer e se eu cortasse minha franja? Nunca fiz nada muito diferente no meu cabelo, talvez fosse a hora.

Olhei para o papai Charlie, pronta para pedir a opinião do treinador, mas ele já estava cochilando e papai Aro estava muito longe para falar com ele. Sendo assim, joguei meus pensamentos no Twitter.

houseofvolturi: pensando em cortar a franja.

Menos de um minuto depois Rosalie respondeu.

rosehale: vai lavar uma louça e esquece isso.

houseofvolturi: tô no avião, besta.

rosehale: eu sei e já estou com saudades!

Ela e os outros tinham voltado de Malibu noite passada, Jasper, Alice e Rosalie jantaram comigo na casa dos meus pais. Meu amigo levaria naquela tarde as coisas do meu ex, iria pegar a caixa no apartamento com as meninas.

houseofvolturi: logo logo volto, amiga.

Minha melhor amiga não me respondeu no Twitter, mas me mandou uma mensagem. Uma foto, na verdade, de um cara de costas malhando, eu acabei reconhecendo o Masen, não que conhecesse muito do corpo do meu vizinho irritante.

Bella: ?

Rose: Edward é gostoso, né?

Bella: Rose? Você tem namorado, o melhor amigo do Edward!

Rose: HAHAHA

Rose: Oi, Bella. Aqui é o Emmett!

O que aquele casal queria comigo?

Bella: ?

Rose: Então, agora que você e Edward estão solteiros…

— Malditos! — praguejei, de novo aquele papo de que Masen e eu deveríamos ficar juntos.

Bella: BLOCK.

Emmett e Rose continuaram a mandar mensagens, mas ignorei. Iria focar na viagem para o Havaí e esquecer todo o resto.

X

Julho acabou, para minha alegria que estava detestando o mês por conta do chifre. Em agosto voltei para a Califórnia, li uma dezena de livros, servi de babá do meu irmão, trabalhei um pouco e enchi a cara algumas vezes com meus amigos. No final daquele mês, eu quase mandei uma mensagem de feliz aniversário para Mike, mas fui resistente, ou melhor, Rosalie roubou meu celular.

Agosto também acabou e em setembro as aulas recomeçaram. O que adorei, estar de férias da faculdade era ótimo, mas eu precisava voltar a estudar logo e manter minha cabeça ao máximo afastada de Mike, ou dos sonhos bobos de que iria reencontrar Demetri.

Com a volta às aulas também voltei a trabalhar mais, como babá quando possível, três vezes na semana como garçonete em uma lanchonete no campus da universidade e estágio em uma escola duas vezes na semana. Minha agenda estava uma loucura, mas tudo era por um bem maior, era meu último ano, mais alguns meses estaria formada e linda.

Talvez linda nem tanto, já que eu estava um caco de tão cansada. Porém, estaria formada e com alguma grana na minha conta.

Naquela noite de quarta-feira, meu primeiro dia de aula, trabalho na lanchonete e estágio, só de pensar subir as escadas do prédio acabavam comigo. Já eram mais de onze da noite, eu estava mortinha.

Abri a porta do prédio e ouvi vozes vindo da minúscula lavanderia velha do térreo, que contava apenas com uma máquina de lavar e uma de secar. As meninas e eu quase não usávamos aquele lugar, uma blusa de Alice ficou presa na máquina de secar certa vez e foi uma luta para conseguirmos tirar, ficamos traumatizadas.

— Eu sei, senhora Wilker. — Era Edward, o maldito que tinha começado o dia reclamando que estacionei a moto muito perto do carro dele, queria ter furado os pneus daquele chato.

Meu vizinho saiu da lavanderia, sendo seguido por Velma Wilker, nossa síndica. Era uma velhinha de 75 anos, a única pessoa que aceitava ser síndica daquele lugar. No entanto, não era uma velhinha gentil, bem longe disso, gostava de encher o saco de todo mundo.

— Boa noite, senhorita Volturi! — exclamou quando me viu.

— Oi, boa noite. Tudo bem? — perguntei, querendo saber o que Edward tinha aprontado, algo tinha de ter acontecido, já que ele estava com cara de estressado carregando uma cesta cheia de roupas e a velhinha estava com ódio no olhar. Bom, Edward sempre estava com cara de poucos amigos e ela sempre com ódio, mas queria saber a fofoca.

— O senhor Masen se esqueceu de que só podemos usar a lavanderia até às nove horas da noite, em dias de semana, e veio fazer barulho. Um desrespeito. — Edward revirou os olhos, eu segurei uma risada.

— Espero que ele leve uma multa. — Coloquei lenha na fogueira.

— Você não tem nada melhor pra fazer, não? Sei lá, vai fugir de um gato, Ratinha — ele provocou e eu teria atirado suas roupas no chão, mas não queria pagar de criancinha, apesar de achar aquela uma ótima forma de revidar.

— Concordamos que não irei multá-lo dessa vez, mas que o erro não se repita, senhor Masen. — A síndica começou a subir para seu apartamento, que ficava no primeiro andar.

— Você já assistiu aquele filme antigo do Ben Stiller e da Drew Barrymore, Duplex? — indaguei baixinho quando a velhinha já estava bem longe, usava um vestidão preto com um cardigã cinza por cima, os cabelos grisalhos estavam presos em um coque baixo.

Para minha surpresa, a resposta de Edward veio em forma de gargalhada. Eu olhei para o garoto chocada, vendo-o rir tanto que seus olhos estavam quase fechados. Sério, muito surpreendente.

— Eu sempre penso na senhora Wilker como a velha maldita daquele filme — falou baixinho para mim, ainda sorrindo, eu acabei rindo também. No alto da escada a velha nos olhou em dúvida, mas não parecia ter escutado nossa troca. — Boa noite, senhora Wilker! — Edward e eu desejamos juntos.

A velha resmungou e terminou de seguir seu caminho, só quando ela estava longe da escada que começamos a subir.

— Então, você viajou para o Brasil? — questionei, ele estava viajando desde o começo de agosto pelo que o namorado da minha amiga contou e só voltou uns dois dias antes das nossas aulas recomeçarem. Edward franziu o cenho e perguntou de volta:

— Emmett contou que fui pra lá?

— Seu amigo é meio fofoqueiro.

— É. — Edward suspirou. — Sim, eu estava no Brasil.

— Como foi? Muita festa?

Ele riu, mas não respondeu. Porém, me fez uma pergunta:

— E o Havaí?

— Foi bom, queria ter ficado mais.

— Muita festa? — provocou de volta.

— Eu fiquei muito de babá para dar uma folga para meus pais, isso sim.

— Topei com a Kate na universidade hoje — ele contou.

— E aí? Foi a primeira vez que se viram depois daquilo?

— Sim — confirmou. — Foi irritante, como o imaginado, ela veio pedir desculpas, mas parece que está aproveitando bem a vida de solteira e não veio com o papo de reatar. Mike?

— Não falo com ele desde aquele dia que voltamos de Malibu.

— Sorte sua.

— Pois é. Como foi o primeiro treino?

— Seu pai realmente descansou bem no Havaí, voltou pronto para torturar a gente.

Isso me fez gargalhar de novo, e sorri ainda mais quando finalmente chegamos ao último lance de escada.

— Boa noite, Ratinha — Edward desejou quando chegamos ao nosso andar.

— Eu te odeio.

— Sim, também não te suporto.

— Espero que você tenha um monte de pesadelos, Emo.

— Só eu sonhar com você, irei me assustar pra caramba. — Piscou para mim, pegou sua chave no meio de suas roupas e entrou em seu apartamento.

— Idiota!

X

Fui para a academia na manhã seguinte, mesmo querendo dormir mais alguns minutinhos. Porém, já tinha acordado cedo depois de sonhar com minha mãe, sendo assim achei melhor ir malhar e distrair a cabeça.

Rosalie estava no apartamento de Emmett, Alice ainda estava dormindo quando saí. Comi algo rápido e parti para a academia da universidade, também era ali que Edward estava, mas não me dei ao trabalho de falar com ele.

Fui fazer meus exercícios, com música alta tocando em meus fones de ouvido. Minhas favoritas da Lady Gaga, parecia a forma ideal de ignorar os pensamentos sobre a mulher que me colocou no mundo, mas eu acabava sempre voltando a pensar nela.

Minha mãe se chamava Renata Brown, ela tinha 16 anos quando eu nasci. Fui fruto de sexo desprotegido entre a jovem Renata e o namorado dela da época, Caius, que era apenas um ano mais velho. Ele sugeriu um aborto, ela não aceitou e me criou, mesmo sem muito apoio dos seus pais. Chegou um momento, quando eu tinha menos de três anos, que os pais de Renata a colocaram para fora de casa, ela acabou indo morar com Caius, me levando junto.

O cara não cooperava muito financeiramente antes disso, também não cooperou muito depois. E após várias brigas com ele, Renata alugou um quarto em um apartamento ocupado por outras mulheres e fomos morar lá.

Nós duas vivíamos nos mudando, Renata não tinha concluído o colégio e mal conseguia se manter em um trabalho, sempre com pouca grana, mal conseguindo nos alimentar. Pagar aluguéis era um grande problema. Caius ajudava, às vezes, ele passou muito tempo morando em Los Angeles, não em São Francisco onde eu morava com Renata.

Em um dos despejos, o último e pior de todos, ela acabou decidindo me entregar para a adoção. Foi chorando e pedindo um milhão de desculpas que disse não poder mais ficar comigo.

Sinto muito, Izzy — sussurrava entre as lágrimas. — Eu te amo muito, muito mesmo, minha filha. Mas não posso continuar te colocando em situações assim, mal tendo como te alimentar, sem um teto fixo sobre nossas cabeças. É por amor que vou fazer isso, tá? Eu juro que te amo, acredita em mim.

No dia seguinte eu já estava na casa dos Carter, conhecendo Jasper e Rosalie. Aos seis anos, abandonada pelo pai e pela mãe.

Ainda vi Renata outras vezes durante o próximo ano, nós tínhamos visitas organizadas pelo pessoal do Estado. A família biológica sempre era priorizada, eles tinham fé de que ela poderia construir uma boa situação financeira e voltar a ficar comigo.

Odiei cada uma daquelas visitas, durante a maioria delas estava até mesmo fisicamente violenta, querendo bater em Renata e nas assistentes sociais. Era difícil pra caralho, eu queria empurrar, puxar cabelo, queria que entendessem o quanto doía em mim, uma dor bem no meu coração.

Renata sempre repetia que me amava, eu não acreditava, era difícil pra caramba acreditar quando depois das visitas ela ia embora e eu tinha de voltar para a casa de estranhos. Linda Carter nunca foi uma mãe para mim, e apesar de ter Jasper e Rosalie, queria ficar com Renata, naquele primeiro ano trocaria tudo por ela, tudo.

Caius nunca fez qualquer visita, assim que foi procurado abriu mão de qualquer direito sobre mim. Estava grato, o aborto que ele quis desde o começo foi concluido ali, só que eu não era um feto, sim uma menina de seis anos.

Renata abriu mão dos direitos pouco depois do meu aniversário de sete anos, ela iria se mudar para New York e tentar um trabalho lá e achava que era a hora de eu estar apta a ser adotada por uma boa família. Isso não aconteceu logo de cara, crianças não eram adotadas tão facilmente, as pessoas queriam bebês, não garotas que precisavam de terapia e tinham crises de choro toda noite, às vezes também crises de choro do nada no meio do dia.

Eu pensei que nunca mais veria minha mãe, especialmente depois de ser adotada por meus pais. Só que… Procurei por ela um mês depois de ir morar com Aro e Charlie, achei ela no Facebook e mandei uma mensagem.

Isabella Marie: Mãe, eu sinto sua falta, me tira daqui.

Segundo seu perfil na rede social, ela estava morando em Seattle. Por dias esperei uma resposta, mas não veio, não pelo Facebook.

Renata entrou em contato com o pessoal responsável por organizar a adoção e eles falaram comigo, contaram que ela não poderia conversar comigo naquele momento para não atrapalhar minha aproximação com os Volturi. No entanto, me deixaram ler uma carta enviada por minha mãe, algo curto, mas ainda assim algo.

"Izzy, minha querida.

Eu sinto muito não poder responder sua mensagem, acredite queria muito isso. Mas, quero que você seja feliz com sua nova família e sei que poderia acabar atrapalhando as coisas entre vocês. Assim que permitido, podemos conversar, tá bom? Ainda te amo muito, penso em você todos os dias. Seja feliz.

Com amor, Renata."

Por duas semanas chorei toda noite com aquela carta em mãos, até que em uma manhã, com os olhos vermelhos de tanto chorar, chamei Aro de pai pela primeira vez.

— Pai, pode me passar o café?

— Você é muito jovem para beber café, Bella.

Foi ali que as pessoas deixaram de me chamar de Izzy, passando a adotar o outro apelido para meu nome. E segundos depois, com um sorrisinho no meu rosto, perguntei para Charlie:

— Pai, nada de café?

— Não e nem adianta vir com essa voz fofinha pra cima de mim, não vou cair no seu truque.

Eu ri e a partir daquele dia comecei a sentir que poderia sim ser feliz com minha nova família. E caramba, era muito feliz com eles. Ainda assim, cinco dias depois de completar dezoito anos procurei por Renata de novo.

Isabella Volturi: Oi, podemos nos encontrar?

Ela estava morando em São Francisco de novo e recebi ela em casa, com meus pais ao meu lado, uma semana depois. Papai Aro e eu fizemos bolo para recebê-la, papai Charlie prometeu não falar muito sobre futebol e Renata apareceu na hora marcada, usando seu uniforme do supermercado que trabalhava e com uma cesta de muffins.

Nós duas nos reaproximamos ali, meus pais não viam problema nisso, eu já era maior e poderia decidir sobre aquela questão e também trabalhei o assunto na terapia. Renata, biologicamente, ainda era minha mãe, minha família não mais. Eu não a via como a figura materna que muitos achavam fazer falta na minha vida por ter só pais homens, não precisava disso e se precisasse a melhor amiga de Aro e Charlie, Renée, que se intitulava minha madrinha, estava lá para me ajudar no que fosse preciso.

Obviamente nem tudo era perfeito, eu tinha consciência de que Renata me amava mesmo e me entregou para a adoção como forma de me dar uma vida melhor. Só que, mesmo com todos aqueles anos de terapia, algumas vezes, principalmente em situações onde eu me sentia excluída por algo ou alguém, o sentimento de rejeição que conheci quando ela me deixou, voltava com força total.

Não era nada fácil acabar por completo com a sensação de ter sido abandonada, mesmo depois de todo aquele tempo, sendo parte de uma família feliz e amorosa, existiam momentos que queria chorar e culpar o mundo por meu passado.

Eu estava sem terapia há mais de um ano, por escolha própria, tinha me dado alta e mesmo com meus pais, Jasper e Rosalie me mandando voltar, continuava enrolando. Sabia que depois de ser traída por Mike, o que despertou muito daquele sentimento de rejeição, deveria ter voltado correndo para a terapia, mas eu achava que daria conta da minha cabeça sozinha.

Talvez não, só que eu ainda não tinha coragem de voltar.

Parei um pouco a malhação e bebi água, também aproveitei para ver se Rose tinha respondido a mensagem que enviei no dia anterior, perguntando se ela conseguiria almoçar comigo. Ela não tinha respondido ainda, mas vi que Renata tinha me enviado uma mensagem, eu suspirei e tentei não interpretar ela indo falar comigo como um sinal do universo pra sabe-se lá o que.

Nós não nos falávamos todo dia, mas ao menos uma vez por semana era normal ela mandar mensagem. Renata não tinha sentido meu sonho, esse que foi um grande pesadelo sobre a última vez que nos vimos antes de ela me entregar para a adoção.

Abri a mensagem dela, dando um pequeno sorriso ao ver que era a foto de um pacote de M&M's.

Renata: Sempre penso em você quando vejo um desses.

Eu ainda não tinha respondido nada e ela mandou outras duas mensagens.

Renata: Como você está?

Renata: Estou com saudades.

Aquilo me fez chorar, não aguentei e quando me dei conta Edward estava perto de mim, perguntando baixinho:

— O que aconteceu, Isabella?


Beijos!

Lola Royal.

07.10.22