FELIZ ANO NOVO!
Capítulo Nove
Meu Vizinho e o Convite
Eu fiquei estática, Collin estava mesmo me convidando para um encontro?
— Então, topa? — Collin voltou a perguntar, mas não consegui abrir minha boca para responder, ainda muito surpresa com o convite. Quer dizer, não tinha problema algum em sair com ele, ou tinha? Era dois anos mais novo, mas não um estudante de ensino médio, eu não estaria cometendo nenhum crime e…
— Isabella, meu pedido. — A voz irritadiça de Edward fez com que eu prestasse atenção e percebesse o sino da cozinha tocando, olhei para o Masen uma última vez antes de ir pegar sua comida, ele batucava os dedos sobre o balcão e seus olhos verdes estavam fixos em mim, bem sérios e meio putos, deveria estar morrendo de fome.
— Toma! — Larguei tudo na frente dele ao voltar com seu pedido, o quartetback resmungou e voltei a focar em Collin.
— Encontro? — Mais uma vez Collin perguntou, daquela vez quase choramingando.
E decidi por fim, foda-se Demetri, iria sair com um cara que estava perto de mim e não na porra do Egito.
— Claro — respondi e forcei um sorriso para Collin, não estava lá muito animada com a ideia de ter um encontro com ele, mas Demetri tinha me sacaneado e iria voltar a procurar caras disponíveis na mesma cidade, poderia começar com o jogador de 19 anos. Talvez fosse muito bom com ele, e se Collin fosse o cara dos meus sonhos? Não iria desperdiçar a oportunidade de conhecê-lo melhor. — Será muito legal!
Edward se engasgou, olhei para o maldito e o vi tomar um longe gole de Coca-Cola, seu olhar ainda sobre mim tinha mudado de irritado para divertido.
— Pode ser amanhã? Depois do treino? — Collin também estava bem feliz e isso aqueceu meu coração, talvez ele fosse mesmo meu cara dos sonhos.
— Amanhã tenho um aniversário para ir e sexta você tem jogo, né?
— Isso, mas podemos sair no sábado. O que me diz?
— Perfeito! — exclamei, Edward riu baixinho e me controlei para não o mandar tomar no cu.
— Preciso ir agora — Collin disse, dando uma olhada rápida para seu companheiro de time. — Tenho que estudar, mas te vejo no sábado, Bella. Te mando mensagem pelo Instagram para combinarmos tudo.
— Vou esperar sua mensagem. — O garoto sorriu para mim como se eu fosse, sei lá, a própria Lady Gaga diante dele. Tirou algo do bolso de sua calça e disse:
— Tchau, linda. — Então, ele colocou o que tinha tirado do bolso no pote de gorjetas, uma nota de 50 dólares, acenou e saiu da lanchonete, me deixando confusa sobre o dinheiro.
Estava deixando a grana por eu ter topado sair com ele? Aquilo não parecia uma atitude legal, mas talvez Collin só estivesse muito nervoso e fez aquilo no calor do momento.
— Como se sente saindo com um novinho, Volturi? — A voz de Edward me fez o olhar.
— A Kate era um ano mais nova do que você — rebati e qualquer expressão bem humorada no rosto dele desapareceu ao escutar aquilo.
— Vai contar para seu pai que está saindo com um dos caras do time?
Eu queria matar aquele maldito emo.
— Não vou contar e acho bom você ficar de boca fechada, Masen — alertei. Se as coisas dessem certo com Collin aí sim contaria para meus pais, mas não iria falar sobre apenas um encontro, como não tinha contado sobre o que Edward e eu tínhamos feito.
— Aham, pode ter certeza de que não fico por aí fazendo fofoca da sua vida — ele disse e tomou mais um pouco do seu refrigerante.
— Queria que você engasgasse com essa Coca-Cola — sussurrei, encarando seus olhos verdes.
— Seu atendimento é o pior, não vou te dar 50 dólares de gorjeta — debochou e engoli em seco, ainda incomodada com o ato de Collin. Pensei em discutir o assunto com o Masen, só que não éramos amigos para desabafar com ele.
— Vê se come e vai logo embora, Emo!
X
Jasper, Rosalie e eu fomos jantar com Alice no restaurante mexicano que nossa amiga escolheu para comemorar seu aniversário. A comida do lugar era ótima e e era ainda melhor ter um tempo com os três, principalmente depois de Rose me mimar com remédio para cólica.
— Ainda acho que deveríamos estar dando uma festa para comemorar seu aniversário — Rosalie disse para Alice. — Poxa, vinte e um anos, oficialmente podemos queimar sua habilitação falsa.
— Uma habilitação que você conseguiu para ela — Jasper disse para a irmã. — Amo como você sempre se preocupa com a gente, Rose.
— Claro, sempre pensando no bem estar de todos. — Piscou para ele. — Vamos para alguma festa amanhã, Alice — implorou.
— Amanhã só quero descansar — nossa amiga negou.
— Teremos muito tempo para descansar no domingo — Rosalie falou com tanta empolgação que soubemos na hora que ela estava tramando algo, e estávamos certos, a loira abriu sua bolsa e tirou de lá um envelope, o entregando para Alice. — Emmett mandou seu presente de aniversário. — O McCarty, assim como o resto do time e a equipe técnica, o que incluía meu pai, tinham viajado para San Diego no final daquela tarde.
Alice abriu o envelope e tirou lá de dentro o que pareciam três convites e sorriu de orelha a orelha.
— Não acredito, um dia inteirinho num SPA para a gente!
— Opa, a gente quem? — Jasper perguntou arqueando a sobrancelha.
— É apenas para as meninas — Rosalie alertou o irmão, ele resmungou.
— Também mereço massagens.
— Eu que mereço por ter aguentar desde o útero, Jazz. Bom, domingo será dia das meninas no SPA, massagens, sauna, champanhes, comidinhas gostosas e muito mais.
— Ai, sério? — Espiei o que Alice tinha em mãos e vi que Emmett tinha pago mesmo por um dia num SPA de São Francisco para ela, Rose e eu. — É muito bom ter um rico bancando nossos mimos.
— Você poderia bancar os nossos luxos se falasse mais com seus avós — Jasper declarou divertido, eu revirei meus olhos.
— Prefiro ser a amiga pobre.
— Faz muito tempo que não fala com eles, né? — Alice perguntou para mim, guardando seu presente.
— Nem estou contando, só sei que eles são irritantes e nem por todo dinheiro do mundo isso muda.
— Ei, você sabe que eu tava brincando, né? — Jasper perguntou preocupado.
— Claro que sei.
— Ok, agora que estamos falando sobre a vida da Bella, preciso perguntar se ainda está de papo com o Demetri, está? — Rose questionou.
— Ele ainda está mandando mensagens querendo falar comigo e se desculpando pelo bolo que me deu, mas não estou respondendo.
— Mas você ainda pensa nele como o amor da sua vida — Jasper afirmou, eu corei um pouco, porém assenti.
— Ai ai — Rosalie falou baixinho.
— O quê? — indaguei na defensiva.
— Nada.
— Fala logo!
— Só o de sempre, acho que você está fantasiando com o Demetri por aí e perdendo oportunidades mais reais. Como o Edward.
— Tem certeza de que você ama o Emmett e não o Edward? — rebati, minha amiga riu.
— Tenho sim, diferente de você estou mais conectada aos meus sentimentos, amiga.
— Vai pro inferno — desejei.
— Amiga, você precisa voltar para a terapia — Alice acrescentou e eu suspirei alto.
— Quando esse jantar virou uma intervenção para mim?
— Quando Alice decidiu por um jantar e não festa, se eu estivesse bêbada agora não teríamos esse tipo de conversa — Rosalie argumentou. — Então, vai voltar a ficar com o Masen?
— E a terapia? — Alice perguntou rapidamente incluindo na pergunta da nossa amiga.
— Não pretendo voltar para a terapia agora e sim, eu ainda sinto muita coisa pelo Demetri, mas para que fiquem sabendo terei um encontro no sábado. E não, não ficarei mais com o cretino do Masen.
— Espera, o que? — Rosalie perguntou tão alto que algumas pessoas no restaurante se viraram para nos olhar.
— Não vou mais transar com o Edward — murmurei.
— Não isso, a outra parte.
— Aquela que você tem um encontro — Jasper disse. — Com quem e por que ainda não estávamos sabendo disso?
— Porque vocês não estão merecendo saber. — E porque eu ainda estava incomodada com os 50 dólares no pote de gorjetas.
— Conta pra gente. — Alice afagou meu braço em um gesto de solidariedade.
Respirei fundo, mas falei de uma vez:
— É com o Collin do time, pronto, agora vocês sabem.
Jasper abafou uma risada, Rosalie expressou o que ela e o irmão deveriam estar pensando com a sintonia de gêmeos que tinham.
— O novinho?
— Ele tem 19, não estou cometendo nenhum crime, por isso não falei, vocês são chatos.
— Vai ter que contrabandear bebidas para ele — Jasper brincou.
— Seu aniversário de 21 foi há pouco mais de dois meses, antes disso também precisava de uma habilitação falsa ou alguém mais velho contrabandeando bebidas para você, garoto!
— Ok, ok. — Rosalie riu um pouquinho. — Vamos parar de pegar no seu pé, só explica melhor isso, como foram acabar com um encontro marcado? Você voltou a usar o Tinder?
— Não, ele apareceu lá na lanchonete ontem e me convidou, ponto.
— Tá, sem brincadeiras agora, parece ser uma boa você sair com ele — Jasper disse e não parecia mesmo estar de zoação com minha cara. — Quero dizer, não é o Mike filho da puta, não é o Demetri que está em outro continente, nem o Edward que te beijou por vingança.
— Sim — Alice concordou. — Um cara tranquilo e novo na sua vida… Novo no sentido de novidade, não por ser mais jovem, entendeu, né?
— Entendi, Alice. Enfim, ele e eu vamos sair no sábado e espero que seja bom. — Olhei para Rosalie que estava muito quieta. — Vai torcer para meu encontro ser ótimo, ou não?
Ela bufou.
— Sou sua amiga, claro que vou torcer para ser tudo ótimo, Bella.
— Perfeito! — Sorri, mas o sorriso desapareceu, não estava tudo perfeito e precisava colocar para fora a história da gorjeta. — Okay, não tão perfeito, Collin fez algo que me incomodou.
— O quê? — os três perguntaram juntos.
— Depois que ele fez o convite e eu topei, colocou 50 dólares no pote de gorjetas, sendo que não consumiu nada na lanchonete. Sei lá, parecia que estava pagando pela minha resposta positiva ao convite, ou sentindo pena de mim e me dando grana?
— Vai ver ele quis ser legal, mas escolheu a pior forma de externar isso, deveria estar nervoso — Alice considerou.
— É, também pensei nisso — murmurei, balancei a cabeça e sorri. — Que seja, tenho certeza de que o encontro será ótimo!
X
Na sexta-feira dispensei sair com Jasper e Rosalie, que iriam para uma festa, e fui trabalhar. Mais uma vez como babá, daquela vez de uma garotinha de um ano de idade, os pais dela eram amigos dos meus pais e os dois estavam necessitados de uma noite de adultos.
— Obrigado, obrigado, obrigado por vir! — Elijah agradeceu segurando minhas mãos, mantendo no rosto um sorriso que estava quase virando uma expressão de choro. — Ava é nossa garotinha amada, mas preciso sair e beber.
— E com sorte fazer seu pai dar um show de última hora no bar — Oliver, o marido de Elijah, completou sorridente, mas sem parecer que ia chorar de emoção.
Papai Aro e Renée iriam para o bar com eles, mais outros amigos, e com Charlie em San Diego e comigo tomando conta de Ava, meu irmão passaria a noite na casa de um amigo da escola.
— Sem problemas, gente, divirtam-se — desejei, Ava já estava dormindo no seu quarto, então eu poderia passar boa parte da noite só lendo em meu kindle e eles estavam pagando muito bem para que eu ficasse até o meio da madrugada.
Os dois me abraçaram e saíram, decidi ir ler no quarto de Ava, sentando na poltrona que tinha ali. A garota foi adotada por Elijah e Oliver logo que nasceu, meus pais até organizaram uma festa de boas-vindas quando ela foi liberada da maternidade, eu fiquei muito feliz que a menina tinha encontrado uma família tão boa e que seus pais biológicos tomaram a melhor decisão pensando no bem estar dela.
Pensar naquilo me fez tirar o celular do bolso da minha calça e mandar uma mensagem para Renata.
Bella: Oi, tudo bem?
Esperei pela resposta lendo, o livro da vez era sobre um chef de cozinha italiano apaixonado pela filha de um mafioso. Literatura erótica de primeira, mas que também me fazia ficar triste por ser sexta-feira e não ser a pessoa na cama com um homem gostoso falando italiano no meu ouvido.
Renata: Estou bem e você? Saudades!
Bella: Saudades também, talvez a gente consiga se ver no feriado que vem aí. Está no trabalho agora?
Renata: Jantar com alguns amigos. E sim, vamos nos encontrar no feriado!
Bella: Bom jantar, não quero ficar te alugando, nos falamos depois.
Finalizei a mensagem com vários emojis de beijos e larguei o celular de lado, voltando a ler sobre o italiano gostoso, mas o aparelho vibrou indicando que eu tinha mais uma mensagem e daquela vez não era Renata, sim minha avó.
Helen: Olá, Isabella. Como está a faculdade?
Pensei em simplesmente ignorar, mas acabei respondendo.
Isabella: Oi, tudo bem. Como a senhora e o vovô Geoffrey estão?
Helen: Estamos bem, por que você e seu irmão não vem nos visitar no domingo?
— Até parece — resmunguei baixinho para não acordar Ava.
Isabella: Tenho compromissos, infelizmente não poderei ir.
Helen: Ok.
Não falei mais nada, nem ela, então foquei no meu livrinho.
X
Alice me maquiou para o encontro com Collin, também ondulou meus cabelos ao máximo com baby liss e prendeu uma parte. Rosalie me ajudou a escolher a roupa, um macacão rosa fosco, comprido e de mangas longas que ganhei de Renée no Natal do ano anterior, era lindo e meio carinho, combinava com o restaurante escolhido para o encontro.
Collin tinha sugerido me levar até um restaurante francês ali em Berkeley mesmo, eu sabia que o lugar era chique, mas topei ir mesmo que não fosse o tipo de ambiente que costumava frequentar. Rosalie já tinha ido com Emmett e elogiado demais a comida, então eu estava animada com isso.
— Você tá maravilhosa — Alice elogiou quando terminei de calçar meus sapatos, saltos da mesma cor do macacão, minha bolsa era uma amarelinha que peguei emprestada de Angela.
— Valeu, gente — agradeci, Rosalie estava passando batom em seus lábios, terminando de se arrumar para ir até o apartamento ao lado. Aparentemente Benjamin e Edward estariam oferecendo uma festa aquela noite, nada especial, afinal nem tinham vencido o jogo em San Diego.
— Tá levando camisinha? — Rose questionou.
— Tô, mas não vou transar com ele hoje, ainda tô naqueles dias, mesmo que no finalzinho.
— Isso não me impede de…
— Não, não, não! — Alice interrompeu Rosalie, diferente de Rose e eu, ela estava vestindo pijamas, seu plano era passar a noite assistindo TV. — Por favor, não compartilha mais da sua vida sexual — implorou.
— Tá bom, vou ficar quietinha — Rosalie prometeu. — Mas vocês deveriam… — Ela foi interrompida de novo, daquela vez por meu celular tocando, o peguei de cima da mesinha do quarto de Alice e vi que Collin tinha enviado uma mensagem.
Collin: Oi, estou aqui embaixo, mas não tô conseguindo vaga pra estacionar, pode descer?
Bella: Descendo!
— Collin chegou, vou encontrar ele lá embaixo — avisei as meninas.
— Cadê o romantismo dele? — Rosalie alfinetou. — Não vai subir e vir te buscar aqui?
— Deixa de ser implicante, qualquer coisa mando mensagem para vocês.
— Tá bom — falaram juntas e deixei o quarto de Alice, depois o apartamento, evitando olhar na direção do apartamento 505.
Estava descendo as escadas, com o maior cuidado do mundo para não tropeçar nos saltos, quando vi Edward subindo. O jogador carregava duas caixas de cerveja, mas ainda arranjou fôlego para provocar.
— Mais um dia como babá?
Eu ignorei, terminei de descer e asism que saí do prédio vi o carro de Collin, a porra de uma Lamborghini. Sabia que ele tinha grana, o pai trabalhava em algum banco com sede em New York, mas não sabia que era rico aquele ponto.
— Oi, linda! — Abaixou o vidro da janela e falou comigo, forcei um sorriso, naquele momento ainda muito chocada com o fato dele ter tanta grana assim.
— Oi. — Contornei o carro, a porta do carona se abriu para mim, para cima, como se fosse o Batmóvel todo tecnológico.
Engoli em seco e entrei ali, o banco era tão confortável, mais do que meu colchão. Antes que eu pudesse colocar o cinto, Collin beijou pouco abaixo do meu olho, um beijo rápido e nada desrespeitoso, até meio fofo.
— Não sabia que seu carro era esse — comentei, ele começou a dirigir.
— Ah, peguei hoje para um teste, se eu gostar meu pai vai me dar. E já to amando, ainda mais por ter você aqui comigo. — Piscou para mim, eu sorri para ele, um sorriso menos forçado do que o anterior. — Você está linda, Bella.
— Obrigada, você também está lindo — comentei, observando suas roupas, uma camisa social azul escura, com mangas dobradas até os cotovelos e um botão aberto no peito, calças cinzas também social e sapatênis preto. — Como foi o jogo?
— Terrível e dessa vez o pior jogador em campo com certeza foi o Masen. Ei, trouxe minha habilitação falsa, vamos beber champanhe hoje!
— Mas você tá dirigindo, não deveria beber — observei, enquanto também pensava sobre Edward jogando mal na noite passada.
— Só uma taça, preciso comemorar que finalmente estou saindo com você.
Sorri verdadeiramente ao escutar aquilo e questionei:
— Queria sair comigo há muito tempo?
— Acho que desde a primeira vez que te vi.
Sorri mais e também corei, talvez desse mesmo certo com Collin.
X
O garoto tinha reservado uma mesa para a gente, então não precisamos esperar por uma vaga na fila se formando na porta do lugar. Recebemos a cartela de vinhos, mas ele dispensou e pediu um champanhe, o gosto era delicioso, só que fiquei incomodada de pensar em quão caro deveria ser.
E se Collin resolvesse que queria dividir a conta? Eu não tinha problemas em dividir contas, mas tinha quando tudo naquele restaurante gritava a palavra luxo bem na minha cara.
— O que fez de divertido hoje? — perguntou.
— Ah, só fiquei em casa estudando e lendo um pouco — comentei olhando o menu, como imaginado, tudo custava o olho da cara.
— Dá pra ver pelo seu Instagram que ama ler, não sei como tem paciência para isso — ele disse rindo. — Acho um saco.
Eu o encarei, sem acreditar que Collin tinha dito tal barbaridade. Amava ler, amava livros e falar sobre eles, como alguém poderia não amar?
— Espera, você não gosta de ler nada? Eu amo romances, mas os outros gêneros também podem ser bem legais.
— Não, sou um cara mais de filmes. — Deu de ombros. — Amo filmes de ação, como Velozes e Furiosos, por exemplo.
— Ah — murmurei, pensando em Demetri e em como ele também amava a franquia, mas diferente de Collin ao menos não desprezava livros daquela forma.
— Fui até na estreia do mais recente e tirei uma foto com o Vin Diesel — contou empolgado, tirou seu celular do bolso, mexeu nele por uns segundos e virou a tela para eu ver sua foto com o ator.
— Uau! — exclamei, meio abismada que ele realmente tinha foto com um famoso, aquilo nunca tinha acontecido comigo, a pessoa mais famosa que conhecia deveria ser o pai de Emmett.
— Pronta para pedir? Quero caviar!
Naquele momento o achei meio brega, claro que iria comer caviar e deixar ainda mais claro que era rico. Depois pediria escargot? Só faltava me levar para um passeio de helicóptero. Quer dizer, eu não tinha problemas com personagens ricos mimando as protagonistas nos livros que lia, mas Collin também não estava mexendo comigo como aqueles caras mexiam com as mocinhas, afinal o cara nem gostava de ler e isso era um ponto bem negativo para mim. Qualquer esperança que senti sobre ele, especialmente no carro, tinha evaporado.
E, ainda tinha o lance da gorjeta me incomodando, por mais que estivesse tentando esquecer daquilo com todas minhas forças.
— Collin, por que você me deu uma gorjeta? — indaguei, sem parar para pensar muito naquilo, só perguntei de uma vez.
— Como? — perguntou confuso.
— No dia que foi me chamar para sair, você deixou 50 dólares no pote de gorjetas, sendo que nem consumiu nada na lanchonete. Por que fez aquilo?
Ele passou de empolgado para preocupado.
— Hum, achei que a grana fosse te ajudar? — Sua voz soou como se estivesse com pena, ou qualquer merda dessas. E sim, quanto mais gorjeta melhor, mas naquele dia ele não estava lá como um cliente e tinha acabado de me chamar para sair, era meio vergonhoso e ainda fez na frente de Edward. — Fiz errado? Olha, sei que você tem grana porque seus pais são professores e bem de vida, só quis ser legal.
Sim, meus pais eram bem de vida e eu tinha grana, mas nem sempre tinha sido assim, não? Em outra época da minha vida 50 dólares faria muita diferença, porra, só o valor daquele champanhe seria capaz de cobrir muitos gastos que Renata teve comigo, poderia ter me mantido ao lado dela por mais tempo.
— Vamos pedir — murmurei, tentando tirar minha mente do caminho para onde estava indo.
Collin topou na hora e chamou o garçom, deixei ele pedir caviar para nós dois. Também o deixei escolher o prato principal depois, eu estava muito distraída com minha mente pensando demais para me importar com a comida, ou o falotorio de Collin sobre suas férias de verão nas Maldivas, futuras férias de inverno nos Alpes Suíços e mais um monte de assuntos que não me davam vontade alguma de continuar ali o escutando.
Em alguns momentos observei os outros clientes do restaurante, todos muito bem vestidos e pedindo comidas chiques sem ficarem preocupados com o valor delas. Ninguém ali parecia ter um passado minimamente parecido com o meu, nada de abadono parental, despejo, nada de anos à espera de uma família adotiva.
Não, ninguém ali parecia comigo. Aquele não era meu lugar, com um cara que fazia teste drive com um carro milionário, que usava um relógio que deveria valer vários meses do meu aluguel e que falou:
— Meu pai é amigo do Trump e acho que ele foi um bom presidente.
— Como?
— Gostava muito do governo dele — completou.
Aquilo só poderia ser uma piada com a minha cara.
— Hum, preciso ir ao banheiro, já volto.
Peguei minha bolsa e rapidamente segui até lá, assim que entrei em uma cabine privativa liguei para Rosalie. Detestava ligações, mas não achava que conseguiria digitar de tão nervosa que estava. Ela demorou três toques para atender.
— Oi, amiga! — Já estava bêbada, era perceptível, a música tocava perto dela, mas uma porta foi fechada e consegui escutá-la melhor. — Precisando de resgate?
— Como você consegue namorar um rico?
— Como?
— Collin é rico e idiota.
— Bom, acho que consigo namorar um rico porque o Emmett não é um idiota. O que rolou?
— O pai dele é amigo do Trump e Collin acha que o governo daquele otário foi bom!
— Amiga, corre daí. Diz que tá com cólica, ele não vai querer bater papo sobre.
— Tá, tá bom.
— E quando chegar aqui vem pra festa.
— Nem fodendo, tchau!
Desliguei e saí do banheiro rapidamente, de volta a mesa falei para Collin.
— Preciso ir, estou morrendo de cólica — dramatizei e ele ficou visivelmente sem saber o que fazer.
— Vo-Vou…
— Eu vou pedir um Uber, preciso correr para casa.
— Mas posso te levar…
— Não, não, pode ficar e terminar o jantar e depois pagar a conta com calma, eu vou indo. Tchauzinho, Collin! — Acenei e voltei a andar rápido, deixando o restaurante na velocidade da luz, para minha sorte, consegui chamar um Uber e em menos de um minuto já estava dentro do veículo sendo levada para meu prédio.
Até sorri quando entrei ali, não era chique, mas era um lugarzinho aconchegante à sua maneira. E quando cheguei ao meu andar, me vi ignorando minha porta e indo para o apartamento 505.
— Amiga! — Rosalie gritou quando me viu e correu para me abraçar. — Você veio, te amo. — Beijou minha bochecha.
— É, eu vim, antes que Collin tentasse me levar para uma seita trumpista — resmunguei, peguei a cerveja da mão dela e bebi, melhor do que o champanhe, era mais a minha realidade.
— Nunca vi os meninos falarem sobre Collin ser pró trump, mas fofoquei com Emmett depois que você me ligou e ele disse que toda vez que o papo político surge o filhote de trumpista ficava quietinho, fingindo ser neutro.
— Otário. — Bebi mais da cerveja dela.
— Quem te convidou?
Olhei para trás e vi Edward, carregando duas garrafas de cerveja.
— Rosalie! — Devolvi a cerveja dela e peguei uma do Masen, ainda fechada e abri na camiseta da minha amiga.
— Convidados não convidam, Rosalie — falou para minha amiga.
— Corta essa ela já até tr…
— Quieta! — Tapei a boca de Rosalie, antes que ela falasse para todo o pessoal enchendo o apartamento que eu tinha transado com Edward.
— Só fica fora do meu caminho — Edward ordenou e se afastou, eu iria xingá-lo, mas fui distraída por meu celular vibrando na bolsa.
Paralisei ao ver que era Demetri me ligando por vídeo, mostrei para Rosalie que fez cara feia.
— Não atende.
— Amiga… — choraminguei.
— Bella, olha pra frente, não para trás, deixa ele no seu passado.
— Eu o amo, sou apaixonada por esse cara desde sempre, ele finalmente voltou para minha vida. Você não tá entendendo, eu preferia ter saído hoje para jantar com ele naquele restaurante duvidoso da esquina, vestindo moletom e calçando pantufas a ter entrado no carro do filhote de trumpista e ido para o restaurante chique. Demetri e eu viemos do mesmo lugar, ele e eu estamos destinados um ao outro, temos uma ligação.
Ela suspirou.
— Vai lá, fala com ele, se precisar estarei aqui para te consolar.
— Por isso te amo! — Beijei o rosto dela, lhe entreguei a garrafa e saí do apartamento do Masen, no corredor atendi a ligação e meu coração quase parou quando vi Demetri na tela do meu celular.
Os cabelos loiros escuros dele chegavam à altura de suas orelhas, estavam meio ressecados, os olhos azuis eram brilhantes, usava um boné bege e até onde conseguia ver uma camiseta branca com manchas amareladas. Atrás dele, vi a movimentação do que parecia ser um restaurante, estava meio barulhento, porém Demetri usava fones de ouvido.
— Bella! — exclamou meu nome e sorriu de orelha a orelha, escutar sua voz e finalmente vê-lo depois de todos aqueles anos me fez cair no choro bem ali no corredor. — Não, não chora — pediu, se remexendo na cadeira que estava sentado.
— Só um minuto — pedi ainda chorando, tirei minhas chaves da bolsa e entrei no apartamento, Alice não estava em lugar nenhum à vista, então sentei no sofá. — Oi — murmurei, fungando e limpando o rosto com as costas da mão livre, borrei um pouco a maquiagem por conta disso, mas não me importei.
— Estou tão feio assim que te fiz chorar? — brincou, o que me fez rir um pouquinho, no entanto, as lágrimas não paravam.
— Senti sua falta — sussurrei. — Não some mais da minha vida — implorei e limpei mais um pouco seu rosto.
— Desculpa, a luz realmente faltou aquele dia…
— Não tô falando disso. — Balancei a cabeça. — Sim de você ter se mudado para a Inglaterra e ter sumido.
Ele assentiu, suspirou e disse:
— Eu juro que nunca mais sumo da sua vida, Bella.
— Obrigada — agradeci e puxei os pés, ainda calçados, para cima do sofá. — A luz foi mesmo embora naquele dia?
— Foi sim, acredita em mim. Ainda estou na mesma cidade daquele dia, meu chefe veio para uma conferência aqui e trouxe a outra funcionária dele e eu. Achei melhor parar de te encher com mensagens e ligar de uma vez. Fiz mal? Você tá toda arrumada, te tirei de alguma festa? Tô escutando música. — E dava mesmo para escutar o som vindo da casa dos meninos, mas não estava sendo incômodo e ainda era cedo.
— É no apartamento ao lado.
— Mas você acabou de chegar em casa, né?
— É — confirmei. — Eu estava num encontro — respondi honestamente e Demetri murchou um pouco. — Não deu muito certo — completei, ele tentou esconder um sorriso, mas não conseguiu.
— Você está muito linda — foi o que falou. — E eu um caco com essas roupas velhas. — Apontou para sua camiseta. — Tô me sentindo em A Dama e o Vagabundo, você toda princesa e eu nesse estado.
Aquilo me fez rir e chorar mais um pouquinho, queria entrar na tela do celular e ir parar no Egito, abraçar e beijar Demetri.
— Queria que você voltasse para cá logo — choraminguei.
— Eu também, mas preciso continuar o trabalho. Vai passar rápido, você pode continuar tendo encontros e depois me mandar fotos toda linda assim — brincou e ri um pouco, mas perguntei.
— O que somos exatamente um para o outro, Demetri?
— Não quero que pare sua vida me esperando voltar, Bella. Então, continue a viver e me busca no aeroporto quando eu voltar, se quiser assim.
— Claro que quero, estarei junto ao portão de desembarque, pronta para te beijar quando você pisar em solo californiano.
— É o que mais quero, Bella. Sendo assim, acho que até lá podemos ser amigos, com uma maldita distância nos separando.
— Sabe que amo livros de romance e o meu clichê favoritos deles é quando amigos se apaixonam — sussurrei, desviando o olhar para o sofá, sem conseguir o olhar nos olhos mesmo que pelo celular. — E parte de amar tanto esse clichê é por sua culpa, Demetri.
— Ei, olha para mim. — E eu olhei. — Beijo no aeroporto, tá? Eu também sou apaixonado por você.
Não falamos mais nada por um tempo, só ficamos ali nos olhando e escutando o barulho ao redor do outro. Até que ele me mostrou melhor o restaurante que estava, era dia lá e o local nada luxuoso, mas despertou uma vontadezinha em mim de viajar.
Cogitei fazer uma loucura, talvez aproveitar as férias de inverno e voar até o Egito para o encontrar. Iria olhar os preços das passagens na primeira oportunidade, talvez convencesse um dos meus amigos a ir comigo.
Nós ficamos conversando por mais de uma hora, ele me contou mais sobre o país, as cidades que estava. Eu falei mais da faculdade, trabalho e até lhe indiquei alguns livros. Demetri me falou do mais recente que tinha lido, ou melhor, relido, Harry Potter e eu bati o pé dizendo como Percy Jackson era melhor.
Rimos, decidimos que cada um podia ter seu favorito. E nos despedimos, comigo chorando novamente.
Abaixei o celular e estava quase procurando pelas passagens para o Egito quando Edward me enviou uma mensagem.
Emo: Ratinha, ainda tem cerveja, vem beber mais.
Eu não fui, queria ficar ali no meu sofá pensando em Demetri.
X
Recebi uma mensagem de Collin quando estava deixando o SPA com as meninas no domingo.
Collin: Oi, você melhorou? Acho que não gostou tanto de ontem, né? Fiz alguma coisa errada?
Alice e Rosalie, que estavam na direção e banco do carona, respectivamente, cantavam junto à uma música da Beyoncé que tinhamos colocado para tocar. Eu já tinha colocado as duas à par de todo encontro com Collin e também sobre minha conversa com Demetri.
Para elas, deixei bem claro que até poderia sair em encontros com outros caras para ter sexo de vez em quando, mas que meu coração tinha um dono que iria voltar em alguns meses, sendo assim não queria me envolver emocionalmente com ninguém. Era o mesmo plano de antes, com a diferença de que sairia com outros caras e não apenas com o Masen. Entretanto, Collin também tinha sido completamente riscado da lista para sexo casual, eu não teria coragem de transar com o garoto fã do Trump.
— Collin tá mandando mensagem — falei para minhas amigas, Rose abaixou um pouco o som e perguntou:
— Vai responder o que para ele?
— A verdade.
Bella: Oi, estou bem e você? A verdade é que estou apaixonada por outro, então, acho melhor a gente não se ver mais nesse sentido, sabe? E pode não contar para ninguém sobre o encontro? Principalmente meu pai…
Ele não respondeu, eu não me importei em buscar por mais contato. Me inclinei e aumentei novamente o som do carro, sem querer calar Beyoncé.
Abri mais uma vez o site de viagens, passagens para o Egito custavam uma pequena fortuna e se fosse para lá teria de pagar para quem topasse ir comigo, então seriam duas fortunas. Eu não tinha aquela grana disponível, minha poupança era importante e não mexeria nela, nem mesmo por Demetri.
X
Na segunda-feira me forcei a acordar cedo, tinha que voltar para a academia depois de dias fugindo de exercícios. Entre o terceiro e o segundo andar do prédio do meu apartamento, me deparei com Edward sentado em um dos degraus, sua mochila ao seu lado, um cotovelo apoiado na coxa e o queixo numa mão, mexia em seu celular e resmungava sozinho.
— Você não pode ficar atrapalhando a passagem! — exclamei e isso fez com que ele me olhasse, esperei por uma discussão entre nós dois, mas ele apenas guardou o celular no bolso, pegou a mochila, se levantou e falou:
— Foi mal.
Nada de provocações, apelidos ou deboche, apenas isso. Era surpreendente.
Seguimos juntos até o estacionamento ao lado do prédio, sem falarmos nada. E eu, como a curiosa que era, me vi perguntando antes de ele ir até seu carro.
— Aconteceu alguma coisa?
— Oi? — Olhou para mim, expressão perdida de quem estava pensando em problemas.
— Tá tudo bem? Quer que eu mande mensagem pro Emmett?
— O quê? Não, tudo bem. Eu só sentei lá na escada porque tinha que ler um e-mail meio urgente, tá? — Gesticulou na direção do prédio. — Não me entrega para a síndica por ficar empatando a passagem — praticamente implorou.
— Não, eu não vou fazer isso, dessa vez. Mas você não parece nada bem, tá mesmo em condições de dirigir? — Parecia que a qualquer momento iria chorar, gritar ou os dois ao mesmo tempo.
— O e-mail era sobre o hotel que reservei para comemorar meu noivado com a Kate — falou e eu levei o que pareceu uma hora para digerir aquela informação.
— Como? — gritei.
— Eu iria fazer o pedido no próximo sábado, nesse hotel, quando é aniversário dela — continuou a contar.
— Você tem isso reservado desde quando? — indaguei ainda chocada com o que ele estava falando.
— Desde o meu aniversário em junho. — Esfregou o rosto com uma mão. — Ai aconteceu tudo aquilo e decidi não cancelar a reserva, iria aproveitar e curtir o hotel sozinho, mas agora o dia de ir está chegando e estou me sentindo um idiota e posso até cancelar, mas não receberia reembolso.
— Já falou com o pai do Emmett para te ajudar nessa? — citei o advogado.
— Nem Emmett sabe da história do hotel, ou noivado.
— Saquei — sussurrei, sem saber como ajudar meu maior inimigo naquela.
Abri a boca, para falar que estava indo até a academia, mas ele falou outra coisa primeiro.
— Vem comigo, Isabella.
— Como? — perguntei sem realmente entender do que ele estava falando.
Edward inspirou e expirou, se aproximou mais um pouco de mim e repetiu:
— Vem comigo pro hotel.
— Tá doido? Claro que não! — Soltei uma risada nervosa ao escutar seu convite.
— É justo, já que ela me traiu com seu ex-namorado.
— Isso é mais uma parte do seu plano de vingança, né? — resmunguei lembrando do beijo.
— Não, isso não é nada sobre vingança. Escuta, o hotel é em Palo Alto, parece ser maravilhoso, você fica com a cama e eu no sofá, tem piscinas, SPA, um monte de coisa, vai adorar. Vamos na sexta-feira e voltamos na segunda, o que acha? Vem comigo?
Beijos!
Lola Royal.
03.01.23
