Boa leitura!
Capítulo Catorze
Meu Vizinho e o Halloween
Eu estava acabada, completamente exausta e ainda era apenas quinta-feira, tudo que queria era chorar até minhas lágrimas se transformarem em férias. E meu cansaço me fez ir pra casa assim que minhas aulas do dia terminaram, tomei um banho quente e me enfiei debaixo das cobertas, ignorando que tinha um monte de coisa pra estudar.
Para completar, eu ainda estava menstruada. Por sorte, só mais dois dias daquela tortura e eu estaria livre.
Deitada na minha cama eu me revezava entre reclamar no Twitter e ler um livro de fantasia no Kindle. A história estava meio chata e eu quase dormindo quando escutei batidas na porta, resmunguei para quem quer que fosse:
— Pode entrar!
A porta se abriu, mas não me dei ao trabalho de me mexer para ver quem era, continuando deitada de lado, virada em direção à parede do armário. Senti a cama afundar ao meu lado e vi tênis que sabia bem de quem eram, ergui a cabeça e vi Edward.
— O que você quer, Emo?
— Você não sabe o que é um emo, né? Eu quase não escuto música emo e…
— Blá blá blá — o interrompi, ele bufou e revirou seus olhos verdes pra mim. — Veio encher meu saco pra que? Você não deveria estar indo para Seattle?
— Vou daqui a pouco.
O time jogaria em Seattle na noite seguinte, infelizmente eu não conseguiria ir por conta da distância e dos meus afazeres, mas estaria torcendo para o time sair da sua sucessão de derrotas. Esperava que meu querido noivo falso e capitão da equipe guiasse seu time até a vitória, porém, todos em Berkeley diziam que Edward estava jogando muito mal naquela temporada porque tinha levado um chifre.
— Preciso da sua ajuda.
— Não precisa não.
— O que você tem, Isabella? Por que tá jogada aí na cama no meio da tarde? — Arqueou uma sobrancelha.
— Não é da sua conta.
— Fala logo, Ratinha. — Cutucou minha orelha.
— Odeio você, sabia disso?
— Sei, agora fala — exigiu.
— Estou menstruada, Edward. — Fechei os olhos e me aconcheguei mais a cama. — Meu útero está tentando me matar, tá bom? Fora isso, tenho um milhão de coisas pra estudar, um estágio para dar conta, trabalho como garçonete e pra completar sábado ainda vou ter que aturar meus avós. Satisfeito? Pode ir embora agora.
— Ainda preciso da sua ajuda.
— Ai, que saco. — Abri os olhos e sentei na cama. — O que você quer? Já não basta fingir que sou sua noiva?
— Não esquece que foi você quem veio com a ideia do noivado falso.
— Tanto faz. — Ele estava certo, mas eu não daria o braço a torcer.
— Meio que não te contei, mas é aniversário da minha tia no domingo.
— Edward! — gritei e acertei um tapa no braço dele. E que braço, tão forte, eu adorava quando ele me apertava em seus braços. Não transavamos desde a sexta-feira passada, quando usamos o sugador, minha semana tinha sido muito cheia e a dele também, assim não tivemos tempo de fazer nada.
— Não precisa bater, Isabella.
— Vamos encontrar sua tia no dia do aniversário dela e você não iria me dizer nada, seu babaca. Preciso levar algum presente pra ela, ou vou ser vista como uma idiota sem consideração. Do que ela gosta?
— Calma, já mandei fazer um bom presente para nós dois darmos para ela. Essa é a ajuda, você pode ir buscar o presente amanhã? Já está pago, é realmente só pegar, te mando o endereço depois.
— O que é? — perguntei curiosa.
— Uma caneta chique e cara com as iniciais dela, e um caderno de couro também com as iniciais, minha tia ama essas coisas de escritório.
— Saquei, parece um bom presente e eu não farei papel de boba. Manda o endereço, vou ir buscar sim.
— Certo. — Ele se levantou. — Te vejo no sábado.
— Se eu não fugir — murmurei, odiando mais a cada segundo a ideia de ir comemorar meu falso noivado em um almoço promovido por meus avós.
— Nem pensa nisso. — Passou uma mão por seus cabelos, que estavam mais bagunçados do que nunca. — Deixa eu ir, preciso perder outro jogo — reclamou.
Fiz uma careta, odiando a ideia do nosso time perder mais uma vez. Edward estava quase saindo do meu quarto quando lembrei da fala de Rosalie na festa que rolou no apartamento de Emmett, pulei da cama e impedi o Masen de sair.
— O que foi? — perguntou confuso.
— Vou te motivar.
— Quê? — Franziu o cenho.
Fiquei na ponta dos pés, segurei os braços dele e o beijei. Dei tudo de mim, provavelmente foi o melhor beijo da minha vida quando Edward finalmente retribuiu, agarrando minha cintura e colando nossos corpos. Porém, antes que a coisa toda esquentasse mais, eu nos afastei.
Ele estava sem fôlego e chocado, eu sorri e anunciei:
— Essa é a motivação para você ganhar o jogo.
— Sim, ótima motivação. — Respirou fundo e colocou a mão nos bolsos de sua calça, mordi meu lábio inferior e senti minhas bochechas esquentarem de vergonha ao perceber que eu tinha o deixado duro só com um beijo.
— Ganha o jogo e eu te dou muito mais do que um simples beijo.
— Porra, Isabella, tá bom. — Mexeu mais um pouco em suas calças.
Eu ri, mas meu riso foi calado por um novo beijo. Edward me segurou novamente pela cintura, me girando e colocando meu corpo contra a porta. O beijo foi mais lento, com as mãos dele entre meus cabelos e as minhas segurando sua jaqueta.
Quando acabou, Edward apoiou a testa na minha e com a mão direita afagou meu rosto.
— Ganha aquele jogo pra mim — me vi pedindo.
Ele assentiu, beijou minha testa, depois rapidamente meus lábios mais uma vez e por fim disse:
— Eu vou ganhar.
X
Na sexta-feira fui cuidar novamente de Zoe e Joe, adorei rever os gêmeos e ficar de babá deles mais uma vez, porém foi um sofrimento não conseguir acompanhar o jogo como eu queria. No entanto, o mais importante era que o time tinha vencido, então talvez a temporada para a gente ainda fosse acabar bem.
Antes de dormirem, Joe e Zoe me pediram pra contar mais sobre futebol americano e fiz isso de bom grado, amando falar sobre meu esporte favorito. Quando as crianças finalmente dormiram, deixei o quarto delas e fui esperar seus pais chegarem na sala de estar, tinha acabado de sentar no sofá quando Demetri me enviou uma mensagem
Demetri: Vi essa flor no saugão do hotel que tô com meu chefe e pensei em você.
Em seguida, uma imagem dele segurando uma tulipa amarela. Eu lhe mandei um milhão de emojis de corações amarelos, seguidos de uma foto minha sorrindo. Tinha como Demetri ser mais fofo? Me mandar foto de uma florzinha era tão atencioso da parte dele.
Ficamos conversando mais um tempo, ele não estava na cidade que costumava ficar, já que acompanhava seu chefe num evento numa cidade maior. Com sua internet melhor, me mandou mais fotos do seu tempo no Egito e eu recebi cada uma delas com meu coração batendo forte, de amor e saudades.
E entre as mensagens de Demetri, chegou uma de Edward.
Emo: GANHAMOS!
Bella: NÓS GANHAMOS!
Eu estava feliz pra caramba com a vitória e imaginava que Edward deveria estar ainda mais animado.
Bella: Consegui assistir alguns vídeos, você jogou muito bem.
Emo: Você tá em casa?
Bella: Tô de babá.
Emo: Me avisa quando chegar em casa, tá?
Bella: Por quê?
Emo: Me avisa, não esquece.
Bella: Ok…
Por que ele queria tanto que eu avisasse aquilo? Nem meus pais ficavam recebendo mensagens de cada localização minha.
Esperei pelos pais das crianças por mais uma hora, quando chegaram, eles me pagaram e eu fui embora na minha moto. Ao entrar no meu apartamento Alice ainda estava acordada, sentada no sofá da sala cheia de sorrisinhos para seu celular.
— Tá falando com quem? — questionei, fazia tempo que não via minha amiga sorrindo para o celular daquele jeito, o que só podia significar que ela tinha conhecido algum cara.
— Hum, oi, com ninguém. — Ela ficou muito vermelha quando me viu. — Tô lendo uns exercícios.
— Até parece — falei desconfiada, mas sabia que não poderia insistir, Alice era muito reservada e só contaria qualquer coisa para Rosalie e eu quando se sentisse pronta para isso. — Tô indo pro meu quarto, mas qualquer coisa só falar, tá ok?
— Claro, Bella.
Assim que entrei no meu quarto mandei uma mensagem para Edward.
Bella: Tô em casa.
Emo: Vai pro seu quarto, sozinha…
— Quê?
Bella: Eu já tô sozinha no meu quarto, o que tá acontecendo, Emo?
A resposta veio em forma de uma foto, uma de Edward, do peito para baixo, na frente do espelho no quarto do hotel em Seattle. Vestindo apenas uma cueca que marcava seu pau duro, apenas isso.
Bella: MASEN?
Emo: Você vai resolver isso amanhã, prometeu se eu ganhasse.
No final da sua mensagem, um emoji piscando. Sentei na minha cama, respirando fundo, ainda assimilando tudo aquilo. Fazia tempo desde que não trocava mensagens daquele tipo, mas ainda sabia o que fazer, só precisava controlar a surpresa que me atingiu.
Tirei minhas roupas rapidamente, trocando-as por uma lingerie que me deixava muito gostosa e fotografei meu corpo, focando também do peito para baixo.
Emo: Isabella…
Bella: Vem pro meu apartamento assim que chegar amanhã, tá? Vamos comemorar a vitória antes de sairmos para o almoço.
Emo: Manda mais uma foto?
Bella: Você vai prestar uma homenagem para mim com elas?
Emo: Com certeza.
Emo: Não tem chances nenhuma de dormir duro do jeito que estou.
Bella: Me deixa ver sem a cueca.
Sentei novamente na cama, esperando pela foto dele, enquanto pensava em como tirar mais uma minha.
X
Eu estava no meu quarto na manhã de sábado, terminando de enrolar meus cabelos, quando Edward bateu à porta e foi logo entrando.
— Oi, Masen, pronto para o pior dia das nossas vidas? — Balancei minha mão em sua direção, o deixando ver o anel.
Ele resmungou e fechou a porta.
— Não, mas já precisamos ir? Não temos tempo pra nada mais? Você me fez um monte de promessas. — Sentou na minha cama.
— Sua parabenização por ter vencido o jogo vem depois do almoço — declarei.
— E o que será? — O próximo passo dele foi deitar na minha cama, parecia exausto.
— Você verá, mas não será muito porque ainda estou sendo punida por meu útero.
— Que merda. — Fechou os olhos.
— Ei, não, sem dormir! — exclamei, ele resmungou e me olhou irritado. — Vai pro seu apartamento se arrumar.
— Estou cansado.
— Não me importa, temos que estar lá na hora marcada e bem arrumados, ou minha avó vai nos chamar de desrespeitosos para baixo.
— Sua avó é tão legal — disse com deboche na voz e ficou de pé. — Ah, eu estava pensando em algo.
— O quê?
— Tiramos fotos na festa do programa do meu pai, mas eu conversei com ele em determinado momento e pedi que não deixasse elas serem publicadas em lugar algum porque não queríamos que o pessoal da Universidade ficasse sabendo do noivado por elas, já que ainda não tínhamos contado para todos. Vamos continuar com esse papo para enrolar ele e o resto da minha família? E seus avós?
— Ah, agora faz sentido não ter visto nenhuma dessas fotos.
— Pois é, mas não sei até quando podemos enrolar sobre isso.
— A gente pode falar que decidiu anunciar pro pessoal da faculdade só depois do final dos seus jogos, para que ninguém ficasse em cima de você falando de noivado com a filha do treinador, aí já pedimos para ninguém tirar foto nenhuma, que tal?
— Acha que vão cair nessa?
— É minha única ideia.
— E o que faremos quando a temporada acabar em Abril?
— Até lá a gente pensa em outra desculpa.
— Ok, certo, vamos falar isso. Quem sabe assim minha tia não aparece mais de surpresa por Berkeley. — Suspirou. — Vou ir me arrumar.
— Ei, leva isso. — Parei de enrolar meus cabelos com o modelador e peguei uma sacola do meu closet, entregando para Edward. — É sua fantasia para a festa de amanhã e o presente da sua tia. Experimenta a fantasia logo e vê se está tudo ok, chegou ontem à noite.
— Eu vou ficar ridículo nela.
— Claro que não.
— Mas experimenta e me manda uma foto, se ela ficar folgada ou apertada temos que correr para dar um jeito nisso.
Ele bufou, deixou a sacola sobre a minha cama e começou a tirar sua camiseta.
— Edward?
— Vou experimentar logo, assim você dá seu parecer, querida noiva — debochou e vendo seu tanquinho, eu murmurei:
— Odeio meu útero.
X
Edward e eu seguimos para a casa dos meus avós, em São Francisco, no carro dele. Alice estava pegando uma carona conosco, enquanto Jazz e Rose seguiam no carro de Emmett atrás da gente.
— Cadê o anel? — Edward perguntou para mim, ele usava calça e camisa social, a calça escura e a camisa azul clara, nos pés tênis, minha avó não tinha sido tão exigente assim com o vestuário. Eu usava um vestido amarelo, com mangas três quartos e rodado, com saltos baixos brancos.
— Na minha bolsa — respondi a ele, enquanto aproveitava o caminho até a mansão de Geoffrey e Helen para me atualizar das últimas notícias dos famosos pelo Twitter.
— Você precisa colocar.
— Eu vou colocar, Emo.
— Não pode esquecer, Ratinha.
— Se me chamar de novo assim enfio o anel no seu rabo — esbravejei.
— Bella! — Alice gritou.
— Foi mal, amiga. É que meu noivo me tira do sério, vou matá-lo e ficar com o dinheiro do seguro de vida todo pra mim.
— Você consome muito conteúdo true crime, essa é uma piada bem tensa, amiga — Alice disse em tom de preocupação, eu revirei meus olhos e Edward abafou uma risada.
— Sem risadinhas, Masen — ordenei.
— Só coloca o anel logo.
— Tá, que saco.
Soltei o celular e peguei o anel da minha bolsa.
— Pronto, já estou no pacote noiva completo.
— Ótimo.
— Ótimo!
A mansão dos meus avós era espetacular, eu tinha de admitir isso, com uma vista incrível para a ponte Golden Gate. Uma casinha de nove quartos, várias salas, sala de jantar, piscina, quintal e até uma sala de cinema.
Quando chegamos lá, parte dos nossos convidados para o almoço de noivado já se encontravam ali. Os tios de Edward, com Riley o filho caçula deles e meus pais com meu irmão.
Emmett, Rose e Jazz chegaram dois minutos depois da gente. Tanya e Leah, uns cinco minutos, as duas estavam de mãos dadas e rapidamente capturei os olhares de desagrado dos meus avós para as duas, porém, eles não fizeram nenhum comentário de desaprovação, ao menos não na frente de Esme e Carlisle.
Logo depois das meninas chegarem, foi a vez do irmão mais velho de Tanya e sua noiva, Victoria, aparecerem. Não tínhamos convidado muita gente, obviamente nos limitando a quem deveria saber daquele noivado, então estávamos esperando apenas o pai de Edward chegar para irmos almoçar.
— Não quer mesmo beber nada, Edward? — meu avô perguntou para Edward, enquanto servia vinho para mim, minha avó, papai Charlie e Esme, já que nós estavamos na mesma rodinha.
— Estou dirigindo, senhor.
— Um garoto tão exemplar — Esme disse apertando a bochecha do sobrinho, que fez uma careta. — Ah, aí está ele! — ela exclamou, seu olhar se voltando para a entrada da sala que estávamos.
Olhamos naquela direção e vimos Eleazar, ao lado dele uma mulher alta e loira, na casa dos trinta e pouco anos. Ela usava um vestido preto justo, com mangas longas e gola alta, mas que era bem curto dando destaque às suas pernas longas e bronzeadas. Porém, era seu rosto que mais chamava minha atenção, a conhecia de algum lugar e quando ela e Eleazar ficaram mais próximos, eu lembrei.
— Caramba, Shelly Walsh! — gritei. Shelly era a responsável por informar sobre o tempo no jornal das dez na mesma emissora em que Eleazar trabalhava.
— Oi, queridinha — ela disse rindo. — Vejo que é uma fã.
— Nossa muito, como você é mais bonita pessoalmente? — indaguei embasbacada.
— Isabella, você está gritando — minha avó chamou minha atenção e meu pai resmungou:
— Deixa a menina se expressar, mãe.
— Alguém tem que dar educação a essa menina — ela rebateu, papai Charlie disse algo que não consegui escutar e os dois acabaram se afastando.
— Espero que não se importem por eu ter trago Shelly comigo — Eleazar disse para Edward e eu, e só naquele momento me dei conta do óbvio, Shelly era algum tipo de namorada do meu falso sogro.
— Edward, não é? — Shelly falou com meu vizinho. — Estou feliz em finalmente conhecer meu enteado. — Ele forçou um sorriso, com certeza não estava nada contente com isso, mas tínhamos combinado de não criar confusões no almoço.
— Por que não tiramos fotos antes de irmos almoçar? — Esme perguntou depois de Eleazar apresentar direito Shelly para todos, com exceção do meu pai e da mãe dele que continuavam fora.
— Hum, sobre isso — Edward começou a falar e estava nervoso, então eu intervi rapidamente.
— Gente, um minuto da atenção de vocês! — pedi falando alto, fazendo todos naquela sala me escutarem, bem na hora meu pai e vovó Helen voltaram, ficando parados na porta para me escutarem. — Amamos muito vocês e queremos aproveitar cada minuto do noivado ao lado das pessoas mais importantes do mundo para a gente, mas Edward e eu decidimos esperar até o final da temporada do futebol americano para contar sobre estarmos juntos e noivos para o pessoal de Berkeley. Acho que a maioria aqui já sabe que nosso relacionamento e o pedido de casamento, aconteceram bem rápido e queremos manter isso entre família e amigos mais próximos, até para que Edward tenha uma temporada mais tranquila, sem ninguém o perturbando por estar noivo da filha do treinador. Podemos contar com o apoio de vocês em manter este assunto apenas entre nós? Isso significa que fotos não podem ser postadas por aí, ok?
Todos concordaram, mas três pessoas fizeram cara feia para nosso pedido. Esme, Eleazar e minha avó.
— Bom, o almoço está servido, sigam até a sala de jantar, por favor — Helen pediu e todos começaram a andar até lá, mas quando passei pela senhora, ela agarrou meu braço e me mandou esperar.
Fiquei ao lado dela, deixando todos passarem e quando ficamos sozinhas, a senhora disse em tom de ameaça:
— Não sei o que você e Edward estão tramando, Isabella, mas sei que tem algo de errado nessa história.
— O quê? Claro que não! — minha voz subiu, de tão apavorada que fiquei.
— Não grite, garota, e agora vamos almoçar. Metade desses seus convidados estão me dando dor nos nervos.
X
A casa dos tios de Edward não era tão grande quanto a mansão dos meus avós, mas ainda era gigantesca e luxuosa. Nós chegamos lá pouco antes do almoço no domingo, almoçariamos com eles e nos arrumariamos ali mesmo para a festa no hospital, também passaríamos a noite na casa de Esme e Carlisle, para nao precisarmos dirigir à noite de volta para Berkeley.
— Eu já estava morrendo de saudades de vocês — Esme falava enquanto nos guiava do corredor de entrada da sua casa até a sala de estar principal. — Riley ainda está dormindo, vocês sabem como são adolescentes. James e Victoria estão chegando, Tanya e Leah também. Carlisle precisou ir ao hospital, mas logo logo estará aqui. — O almoço ontem foi tão legal, seus avós são incríveis, Bella.
— Os melhores — falei forçando um sorriso. — Edward, entrega o presente da sua tia — ordenei, nós tinhamos parabenizado Esme no instante que ela abriu a porta e nos puxou para um abraço coletivo.
— Não, só depois do almoço — ela disse negando. — Deixamos o melhor para a hora da sobremesa — explicou. — Aliás, preciso voltar para o almoço, estou cozinhando um salmão delicioso. Edward, enquanto isso leva a Bella para conhecer o resto da casa e seu quarto já está arrumadinho para vocês.
— Ok, tia. Vamos, querida noiva.
Ele pegou sua mochila e a mala que insisti em levar, as carregando pela escada até o segundo andar. Não fez questão de me mostrar nada da casa, me levando direto ao seu quarto, que era tão impessoal quanto o seu no prédio em Berkeley. As paredes pintadas no tom mais frio de branco, uma cama de casal com cobertas azuis escuras, uma TV na parede, uma mesinha praticamente vazia, apenas com uma luminária e uma bola de futebol americano em cima.
— Bom, apenas uma cama, é? — Sentei ali, tirando meus sapatos para ficar mais confortável. — Você vai dormir no chão, meu bem — provoquei e Edward me olhou confuso.
— Quê? Você literalmente me chupou ontem, garota.
— Ai, você é muito sem graça, tô referenciando os livros de comédia romântica, sempre só tem uma cama e a garota sempre coloca o cara para dormir no chão, ou no sofá.
— Isso não é uma comédia, muito menos um romance — reclamou, abrindo a porta do closet e colocando lá dentro nossas bagagens. — Aquela outra porta ali é do banheiro.
— Jura? Achei que fosse pra Nárnia, obrigada por esclarecer.
— De nada. — Deitou na cama, ficando de bruços.
— O seu pai vem? — perguntei baixinho.
— Não, ele foi pra uma festa em Los Angeles com a Shelly — respondeu e o amargor era presente em sua voz. Engoli em seco, odiando mais um pouquinho Eleazar Masen, já não bastava ter levado uma namorada que Edward nem conhecia para o noivado, ainda deixava de ir ao aniversário da própria irmã para ir numa festa em outra cidade, ele era tão babaca.
Alguém bateu na porta e Edward sentou na hora, ouvimos James perguntar se podia entrar e o Emo concordou. Logo seu primo, que era um cara de 23 anos, alto, loiro e de sorriso fácil apareceu, seguido da sua noiva também alta, com cabelos ruivos que não pareciam ser naturais e dona de grandes olhos azuis, a mesma cor de olhos do seu noivo.
— Estamos atrapalhando, casal?
— Não — Edward e eu negamos. — Oi, como vocês estão? — perguntei simpaticamente, Victoria e James tinham sido muito legais como no dia anterior. Os dois eram estudantes de direito em Stanford e noivos há pouco mais de um ano pelo o que eu tinha ficado sabendo.
— Ótimos, trouxemos isso para você, Bella. — Victoria me estendeu um envelope pardo, que era grosso e parecia caro. Logo me dei conta do que era, o convite de casamento deles dois. — Queremos muito você no nosso casamento, infelizmente já estamos com tudo acertado referente aos padrinhos, Edward irá entrar com a Tanya, mas você precisa estar lá.
— Sim, claro que ela estará — Edward falou e eu concordei.
— Sim, eu não perderia por nada! — exclamei, abrindo o envelope. — É em dezembro, ainda tenho um tempo para procurar um vestido, mas vou começar logo, qual a cor das madrinhas?
— Lilás — Victoria respondeu empolgada. — Ai, que bom que você vai, mandamos os convites cedo, pois o casamento será num espaço bem reservado, mas conseguimos organizar tudo para te agregar.
— E vocês serão os próximos! — James comemorou. — Vamos fazer um combinado para o buquê da Victoria cair nas suas mãos, Bella — brincou, fazendo com que a noiva dele e eu rissemos. — Bom, vou acordar o Riley, logo o almoço fica pronto. — Ele saiu do quarto e Victoria o seguiu depois de comemorar mais um pouco que seu casamento estava perto.
— Amo casamentos — declarei, Edward tinha voltado a deitar e deitei ao lado dele.
— Eu também, só pelo open bar — disse, estava de olhos fechados e deu um sorrisinho.
— Que romântico, até parece que não ia pedir Kate em casamento.
— Isabella! — exclamou revoltado, seu sorriso morrendo.
— Brincadeirinha, noivo, brincadeirinha.
X
Depois do almoço Esme não nos deixou ir descansar, surgindo com uma abóbora para cada e anunciando que estava na hora de seguir a tradição do Halloween da família.
— Fazemos isso todo ano — ela disse entregando a minha abóbora, estávamos no quintal da casa deles, com as abóboras dispostas sobre uma grande mesa que eles tinham lá fora.
— Ano passado foi caótico porque a Kate cortou o dedo dela — Riley, que era muito parecido com seu pai e irmão, falou e Edward ao meu lado ficou tenso, enquanto Tanya e Esme chamavam a atenção do adolescente.
— Não fala dela, Riley!
— Riley, silêncio, querido!
— Tudo bem — falei, esticando uma mão e afagando as costas de Edward por cima das duas camisetas que ele usava, eu também estava com um pouco de frio e por cima da minha camisa tinha colocado a jaqueta dele do time.
— Vamos começar a esculpir, certo? — James indagou e Victoria começou a contar sobre as músicas que eles estavam escolhendo para tocarem no casamento.
Enquanto ela falava, eu apanhava da minha abóbora. Estava muito dura e não conseguia tirar a parte de cima de forma alguma, Edward riu de mim e perguntou:
— Quer ajuda, Ratinha?
— Não me chama assim.
— Quer ajuda? — insistiu.
— Posso fazer isso só, não preciso ser ajudada por um homem. — Coloquei toda minha força, mas continuava perdendo para a abóbora. Frustrada e com medo de acabar com o dedo cortado como Kate, olhei suplicante para Edward, até com um biquinho em meus lábios antes de pedir:
— Noivo, você pode me ajudar?
— Claro, meu bem — falou todo debochado, pegando a abóbora e o instrumento de corte da minha mão, facilmente conseguindo cortar o que eu passei minutos sofrendo sem conseguir. — Pronto.
— Valeu. — Comecei a tirar a massa do interior da abóbora antes de continuar o processo para esculpi-la. — O que vai fazer na sua? — perguntei para ele.
— É Halloween, algo bem assustador.
— Sem graça.
— E a sua?
— Corações no lugar dos olhos, vai ficar fofinho.
— Aham, vai sim — continuou debochando, lhe dei uma cotovelada e ele riu, naquele momento um flash nos atingiu. Olhamos em direção aquilo e vimos Esme com seu celular apontado para a gente.
— Opa, foi mal, não vi que o flash estava ligado — ela disse. — Não se preocupem, apesar de achar que vocês deveriam contar para todos sobre o noivado de uma vez, eu não irei postar nenhuma foto dos dois.
— Obrigada, Esme — agradeci e meu olhar se encontrou rapidamente com o de Tanya, que sorriu e piscou para mim, antes de voltar a se concentrar em sua própria abóbora.
X
Quando todos acabaram com as abóboras, Esme liberou todo mundo para irmos nos preparar para a festa do hospital. Edward e eu iríamos fantasiados de Annabeth Chase e Percy Jackson, eu tinha até comprado perucas para irmos igual às características dos personagens nos livros, ainda que nós dois concordassemos que os atores escolhidos para a série da Disney parecessem ótimos, apesar de muita gente desocupada na internet ficar criticando as crianças.
— Não acredito que você tá me fazendo usar uma peruca, Isabella. — Ele estava sentado na sua cama e eu ajudava a colocar a peruca em sua cabeça, cabelos pretos sintéticos que o deixavam engraçadinho.
— Calado.
Enquanto eu o ajudava, só conseguia pensar que no próximo Halloween Demetri e eu estávamos combinando fantasias. E estava morrendo de ansiedade para isso, sabendo que com o amor da minha vida seria mais especial, com Edward era somente parte do plano Robin Hood.
— Que fantasia você vai usar na festa da semana que vem? A da faculdade.
— Vou de Lady Gaga no clipe de Telephone, bom, um dos looks dela. E você?
— Sei lá, nem sei se vou.
— Você é tão legal! — Terminei com sua peruca e coloquei em seu pescoço o cordão de contas, eu tinha um igual já no meu pescoço. Assim como colocaria a minha peruca loira. Nós dois usávamos camisetas laranjas iguais do Acampamento Meio-Sangue, Edward uma calça jeans e eu um short, os dois de tênis nos pés, ele teria uma espada e eu uma adaga, as duas de brinquedo, e eu ainda usaria um boné para compor o visual. — Acabei com você, Emo.
Ele se levantou da cama e abriu a porta do seu closet, se olhando no espelho que tinha ali e fazendo uma careta.
— Essa é a primeira e última vez que uso uma peruca.
— Saí daqui com sua negatividade, preciso colocar minha peruca e com ela preciso de mais paciência.
— O quarto é todo seu. — Pegou sua carteira, seu celular e saiu.
Me posicionei na frente do espelho, mas me distraí quando vi no chão do closet, atrás de um tênis velho, o que parecia um álbum de fotos. Não aguentei de curiosidade, me sentando ali e pegando o objeto.
Era mesmo um álbum de fotos, eu o abri e vi dezenas de imagens do meu vizinho. Só que, nelas ele era bem mais novo, bebê, criança e adolescente no começo daquela fase, na maioria das fotos estava com sua mãe, foi fácil saber que era Elizabeth, Edward estava feliz e à vontade com ela. Ali, nenhuma foto dele com o pai.
Apenas mãe e filho, com sorrisos idênticos nos rostos.
— Bella, posso entrar? — Tanya batendo na porta do quarto me fez guardar o álbum de fotos para o lugar rapidamente.
— Pode! — Me levantei e voltei a tentar colocar minha peruca.
— Ei, precisa de ajuda com isso? — Apontou para minha cabeça.
— Preciso, valeu. — Ela se aproximou para me ajudar e confusa eu perguntei. — Qual sua fantasia? — Tanya usava apenas uma calça leggin preta e uma camiseta da mesma cor, tênis também escuros e na cabeça o que parecia ser um ramo de folha.
— Ah, Leah e eu vamos de uvas. Ela será a verde e eu a roxa, mas como a fantasia é feita de balões, só vamos colocar lá no hospital.
— Criativo, adoro fantasias assim.
— A sua e a do Edward estão legais, ele é doido por Percy Jackson.
— Eu também.
— Pelo menos isso vocês têm em comum, deve tornar mais fácil esse noivado de mentirinha — sussurrou. — Ele gosta bastante do Halloween, acho que é o único momento em que meu primo se sente menos deslocado no meio dos Cullen. Quero dizer, meus irmãos, meus pais e eu amamos o Edward, Bella, mas quando ele veio morar aqui já era mais velho e perder a mãe dele tinha sido um grande golpe, então meio que meu primo sempre se sentiu desalinhado em relação a gente. Esse quarto é um exemplo, Edward nunca quis decorar, como se o tempo dele por aqui fosse passageiro, não um quarto em sua casa. E quando fomos para Berkeley, se recusou a dividir o apartamento comigo e não quis minha ajuda para decorar o quarto dele naquele prédio de vocês, sabe?
— Bom que no Halloween ele se sente pertencente — falei, pensando em Edward, o álbum de fotos no fundo do closet, Eleazar em outra cidade e um Emo adolescente perdendo a mãe e indo habitar um quarto frio e impessoal como aquele.
— E hoje ele parecia muito feliz, mais do que nos anos anteriores. — Tanya sorriu e acabou de colocar minha peruca. — Tirem fotos juntos, tá? Para registrar as fantasias, mesmo que vocês não postem.
— Ok — me vi concordando.
No próximo Halloween eu estaria feliz ao lado de Demetri, talvez Edward até lá conhecesse o amor de sua vida e não só o Dia das Bruxas fosse bom para ele, mas como todas as outras datas. Não éramos amigos, mas eu também não estava desejando o pior para o Emo.
X
Papai Aro caprichou nas fantasias da família para o dia 31, como fazia todos os anos. No que se dizia respeito ao Halloween e looks, ele era uma mistura de Claire e Cameron, os personagens de Modern Family.
Naquele ano os Volturi estavam fantasiados de personagens da Família Addams, pois segundo meu pai:
— A Netflix vai lançar a série da Wandinha no final de novembro e no ano que vem o Halloween será todo sobre ela.
Então, ele estava fantasiado de Gomes, papai Charlie de Morticia, Jake de primo Itt e eu de Wandinha.
— Mais uma foto! — papai Aro exclamou, Jake e eu suspiramos alto. Estavamos há séculos tirando fotos com nossos pais e já atrasados para sairmos às ruas para pegar doces.
Era algo que eu amava fazer com meu irmão, levá-lo para pegar doces no Halloween e mesmo que estivesse cansada do final de semana agitado e por ser segunda-feira, não perderia aquele momento com Jacob.
— Pai, nós precisamos sair para pegar os doces.
— Só mais uma, não sejam irritantes — o professor de história exigiu, enquanto mexia na sua câmera.
— Papai — me voltei para Charlie, mas ele estava mais concentrado na sua longa peruca.
— Acho que vou deixar o cabelo crescer.
— Vamos perder todos os doces assim — Jake reclamou, olhei para ele e ri mais um pouco, sua fantasia do personagem cabeludo da Família Addams estava muito engraçada.
Papai Aro nos fez tirar mais cinco fotos antes de finalmente nos liberar, Jacob e eu corremos para a rua, para que ele pudesse encher sua abóbora de plástico de doces conquistados nas casas dos vizinhos.
— Bella — ele falou entre uma residência e outra, as ruas estavam cheias de crianças fantasiadas. — Posso ter um quarto na sua casa e do Edward? Assim vou ter um quarto aqui em casa e um na de vocês, vai ser muito legal, vou lá sempre que quiser.
— Vou pensar no seu caso — respondi, mesmo sabendo que isso nunca rolaria, pois eu não teria uma casa com o Emo.
— O Edward é muito legal, mais legal que o Mike.
— Você acha?
— Acho sim, o Mike só sabia falar de música, o Edward fala de futebol americano que é bem melhor.
Eu sorri e assenti, Mike falava mesmo muito de música e da sua banda.
Algum tempo depois, enquanto Jake conversava com um amigo que encontrou no meio do percurso, recebi uma mensagem de Edward.
Emo: Que horas você volta pro seu apartamento?
Bella: Vou dormir na casa dos meus pais.
Emo: Ah, sim, entendi. Vou deixar algo pra você no seu apartamento. Tem alguém lá?
Bella: Alice… O que você vai deixar lá?
Ele não me respondeu mais e Alice não quis abrir o embrulho que o Masen deixou em nosso apartamento. Só consegui saber o que era na terça-feira à noite, depois de ficar o dia todo na faculdade.
Era uma caixa de M&M's e um bilhete que dizia:
"Feliz Halloween!"
Ao lado da frase, o desenho de uma abóbora irritada como a que Edward esculpiu na casa dos seus tios.
Eu tirei uma foto de tudo e ia enviar para ele, mas fui distraída por uma mensagem de Demetri.
Demetri: E se a gente se fantasiar de Jenna e Matt no próximo Halloween? A versão jovem deles em De Repente 30.
Ele me conhecia tão bem, com certeza era o amor da minha vida.
Beijos!
Lola Royal.
09.04.23
