Olá!


Capítulo Dezesseis

Meu Vizinho e o Feriado

Meu chaveiro caiu no chão e cogitei deixá-lo lá, mas suspirei e me abaixei para pegá-lo. Estava trancando a porta do meu apartamento quando Edward saiu do dele, já me irritando.

— Vai pra onde, Ratinha?

— Não é da sua conta.

Era domingo de manhã, eu estava de ressaca por conta da festa de Halloween, com as pernas e coxas doendo por ter passado boa parte da noite as usando de apoio durante o tempo com meu vizinho, e para completar atrasada no horário combinado com Renata. Eu já tinha falado com ela e dito que iria demorar um pouco, e aparentemente estava tudo bem eu me atrasar, mas ainda assim isso tudo me deixava frustrada.

— Quanta educação.

O ignorei e fui descer as escadas, mas ele estava descendo também. Edward tinha deixado meu apartamento em algum momento da manhã, depois de deixar um café bem-vindo na minha cozinha.

— Posso ir pro seu apartamento mais tarde?

Ok, aquela pergunta eu iria responder.

— Não sei se vou conseguir fazer muita coisa, mas…

— Eu te cansei?

— Cala a boca! — Ele riu um pouco e voltou a me questionar. — Para onde tá indo? Vou pegar comida em algum lugar, quer que eu pegue pra você?

— Vou almoçar com Renata em São Francisco.

— Ah sim, saquei.

Terminamos de descer as escadas, mas antes de sairmos do prédio o Masen questionou:

— Posso ir com você?

— Como?

— Ir para São Francisco almoçar na casa da Renata, posso ir?

— Por que você quer ir?

Ele deu de ombros, colocando as mãos no bolso do moletom que usava. Seu look era composto por aquele moletom da universidade, uma calça jeans e tênis.

— Tô entediado e curioso.

— Curioso? — Entrei na defensiva. — Você acha que minha mãe e eu somos algum tipo de animal no zoológico para ir nos observar?

— O quê? Não, Bella, claro que não. Foi mal, falei merda. Desculpa, de verdade, não queria reduzir vocês a entretenimento para minha tarde de tédio. Vou te deixar ir, tchau.

Ele saiu do prédio rapidamente e eu me xinguei mentalmente dos piores nomes, mas acabei indo atrás dele e falando:

— Vem comigo, Masen.

— Como? — Parou de andar e se virou para me olhar.

— Você ouviu, vem comigo. Renata não vai se importar, mas tem algumas regras para conhecer ela.

— Ok, diga.

— Não se refira a ela como minha mãe lá, eu ainda chamo ela de mãe pelas costas dela e sim, algumas vezes na frente dela, só que é algo que sempre gera um climão desconfortável. Nada de contar sobre o plano Robin Hood. E nem sobre o dia que invadi aquela casa em São Francisco porque você me desafiou, mas ela sabe de quando te atropelei, então vamos dizer que meio que estamos numa trégua agora, só que com certeza sem qualquer menção ao fato da gente transar — sussurrei aquele final.

Por conta do nosso beijo em público na festa, as fofocas já rolavam pelos perfis de twitter do pessoal de Berkeley. Alguns achavam que tínhamos ficado pela primeira vez aquela noite, outros achavam que na verdade nós que traímos primeiro Kate e Mike.

Porém, o mais importante era: ninguém tinha chegado perto da realidade, aquela envolvendo nosso sexo casual desde a semana do meu aniversário e sobre o nosso plano envolvendo um falso noivado. E bom, algumas pessoas diziam que eu ter feito o que fiz com Edward na festa foi uma boa forma de dar o troco em Kate e eu concordava com isso.

— Sim, vou seguir todas as regras, prometo.

— Tem mais uma coisinha, nós vamos na minha moto.

— Eu não vou, pode ir sem mim.

— Você está com medo? — provoquei, me aproximando dele e cutucando seu braço.

— Só prezo pela minha vida, você já viu o que um acidente de moto pode causar?

— Deixa disso, eu sou ótima pilotando — me gabei.

— Vamos lembrar do dia que você me atropelou com aquele skate?

— Supera! — ordenei. — Vai comigo ou não?

Ele respirou fundo, mas falou:

— Eu vou.

— Okay, me espera aqui que o outro capacete tá lá no meu apartamento. Na real, melhor você subir e pegar uma jaqueta pra si, pode ficar com frio por conta do vento.

— Viu? Andar de moto não é nada divertido.

— Para de resmungar.

Nós voltamos para o prédio, eu peguei o outro capacete em meu apartamento e ele vestiu uma jaqueta no seu. Durante todo o caminho até o estacionamento e a minha moto ele ficou tentando me convencer a trocar de ideia para irmos de carro, mas eu não cedi.

O obriguei a colocar o capacete reserva e subimos na minha moto, e porra, era melhor termos ido de carro. Ter o corpo quente e grande de Edward atrás de mim era uma tentação, ainda mais quando, antes de eu começar a pilotar, ele tocou em minhas coxas e sussurrou:

— Preciso admitir que você fica muito gostosa em cima dessa moto.

X

A rua que ficava o prédio onde Renata morava era bem tranquila, então foi fácil encontrar um lugar para estacionar a moto. E assim que a parei, Edward desceu, tirando o capacete e falando:

— Pior experiência da minha vida. — Os cabelos dele estavam uma completa bagunça por conta do capacete, por isso tirei o meu com cuidado.

— Você tá indo muito rápido, você tá muito perto daquele carro, essa moto passou por uma revisão nos últimos meses? — imitei algumas das falas de Edward durante o caminho.

— Por que não ter um bom e seguro carro? — questionou.

— Porque são chatos, agora para com esse falatório. — Saí de cima da moto, o que fez Edward encarar minhas pernas cobertas pela calça jeans. Quando não estava falando mal de motos e do jeito que eu pilotava, ele aproveitou todos sinais vermelhos que paramos para segurar em minhas coxas e isso foi bom pra caralho. — O prédio é aquele. — Apontei para o lugar há poucos passos de distância.

— Certo.

— Lembre-se das regras.

— Pode deixar.

Andamos até o prédio de três andares e toquei o interfone do apartamento de Renata, ela atendeu animada.

— Olá!

— Oi, sou eu — falei e sabia que ela reconheceria facilmente minha voz.

O portão se abriu e Renata, ainda animada, anunciou:

— Aberto, suba logo!

Entrei no prédio com Edward atrás de mim, nem tínhamos pisado no primeiro degrau da escada quando ele questionou:

— Ela não vai mesmo ficar irritada de eu estar estragando o almoço de vocês duas?

— Não, ela é de boa.

— Okay, então — concordou e subimos as escadas até o segundo andar do prédio.

Renata já estava com a porta de seu apartamento aberta, nos esperando quase no corredor. Quando me viu, imediatamente me deu um abraço apertado, eu rapidamente retribui, fazia tempo que não nos viamos pessoalmente e ambas já estavam morrendo de saudades.

— Que bom ver você — falou, beijou meu rosto e se afastou. Em seguida lançou um olhar confuso na direção de Edward, depois me olhou e logo expliquei:

— Você lembra do cara que atropelei com o skate, né? — Edward atrás de mim resmungou. — Tô fazendo uma boa ação trazendo ele pra almoçar aquela lasanha que você prometeu para mim.

Renata riu um pouco, eu me afastei e a deixei cumprimentar o Masen.

— Renata Brown, olá. — Eles trocaram um rápido aperto de mãos.

— Edward Masen, se eu estiver atrapalhando o almoço de vocês…

— Não, claro que não — ela negou. — Todos os amigos da Bella são bem-vindos.

— Ele não é meu amigo — declarei enquanto entrava no apartamento. Fui logo abrindo o armário do corredor de entrada e colocando lá dentro meu capacete e jaqueta. Não considerava o apartamento de Renata minha casa, mas já o conhecia suficiente para saber aonde ficava tudo.

— Vamos, entre — Renata indicou o interior do apartamento para o Masen.

Peguei o outro capacete com ele e o guardei, também enfiei a jaqueta dele no armário quando o Masen a tirou.

— Então, você é do time de futebol americano? — Renata perguntou para Edward ao ver a jaqueta do time dele.

— Isso, quarterback — confirmou, orgulhoso de si.

— Não entendo muito de futebol americano, mas Bella tenta me ensinar.

— Ela não entende nada — murmurei para Edward, fazendo com que ele risse e Renata revirasse os olhos, mas ela estava sorrindo em seguida.

— A lasanha já está pronta, só preciso esquentar, vocês estão com fome?

— Muita — confirmei.

— Vamos pra sala, vou pegar petiscos para vocês enquanto esquento a comida.

Seguimos Renata até a sala, o apartamento era bem pequeno, mas impecavelmente arrumado. A sala era dividida entre a sala de estar propriamente dita, com sofá, uma TV, uma poltrona e mesinha de centro. A cozinha também ficava a vista, com todos equipamentos necessários, um balcão e uma mesa de quatro lugares. Percy, o gato de Renata, estava dormindo debaixo do móvel.

A porta para o quarto estava entreaberta, e ele era minúsculo também, porém sabia que tudo aquilo era uma escolha de Renata. Ela juntava grana para comprar sua casa própria, assim poderia parar de pagar aluguel.

— Ei, qual o nome dele? — Quando me dei conta Edward estava sentado perto da mesa, afagando cuidadosamente os pelos do gatinho.

— Percy — Renata respondeu, enquanto se mexia pela cozinha preparando tudo, eu me sentei no sofá confortavelmente.

— Não acredito! — Edward olhou pra mim em choque, como se o nome fosse uma coincidência, eu ri um pouco e falei:

— Eu escolhi o nome.

— É, faz sentido. — A cena era bem surpreendente para mim, Edward Masen sentado no chão do apartamento de Renata, no meio de uma tarde de domingo, nunca imaginaria que algo como aquilo aconteceria, não com ele e eu sendo inimigos mortais e a coisa toda.

— Edward, Doritos? É o máximo de petiscos que eu tenho. — Renata colocou uma vasilha com os salgadinhos sobre a mesinha de centro da sala.

— Pra mim tá ótimo — ele respondeu, fez mais um pouco de carinho em Percy que continuava dormindo e se levantou. — Posso ir ao banheiro lavar as mãos?

— Claro, fica no quarto. — Ela indicou o caminho e o Emo seguiu até lá.

Renata sentou na poltrona e cochichou uma pergunta:

— Vocês estão namorando?

— O quê? Não, claro que não!

— Ok, ok, foi só uma pergunta inocente. — Ela ergueu as mãos em sinal de rendição. — Mas por que o trouxe aqui? Até onde sei você não gostava dele.

— É por caridade — falei a meia verdade daquela situação toda.

— Sei. — Piscou para mim, mas não teve tempo de falar mais nada porque Edward voltou para a sala. Pediu licença e sentou ao meu lado, eu peguei a vasilha com Doritos, comi um pouco e estendi para meu vizinho, que pegou alguns também.

— Vai se formar em que, Edward? — Renata perguntou, quebrando um pouco do clima desconfortável do silêncio instaurado entre nós três, ele mastigou, engoliu e respondeu:

— Arquitetura.

— E mora naquele prédio caindo aos pedaços? — A careta no rosto da minha mãe foi impagável, me fazendo rir e Edward reprimiu uma risadinha.

— Bom, nós temos vários amigos no prédio, então ele fica suportável. A Bella, por exemplo, é amiga de todos os ratos que moram lá. — Edward olhou para mim, seu sorriso se tornando provocante, as sobrancelhas se movendo debaixo para cima.

— Idiota — resmunguei.

— O que estou perdendo? — A curiosidade de Renata não estava estampada apenas em sua pergunta, mas em seus olhos nos analisando atentamente também.

— Bella nunca te contou que um rato expulsou ela de casa?

— Edward…

— Quieta, Isabella, deixa ele contar!

E ele contou, e eu me arrependi de não ter colocado aquela história no meio das regras. Porém, Renata riu e não falou que eu era patética. Por fim, eu também ri.

— Vou ver a lasanha — ela anunciou ao ir até a cozinha.

— Boa história, Masen, você não vem mais! — Cutuquei sua bochecha, ele tirou minha mão do seu rosto e antes de soltá-la acariciou a palma, para depois dizer:

— Renata já me adora e eu tenho certeza de que o Percy também, sou bem-vindo aqui.

— Está pronto! — Renata cantarolou da cozinha.

— Vamos comer, Ratinha.

— Maldito — resmunguei, mas me levantei e fui comer com eles.

X

Edward e Renata tinham algo em comum, ambos gostavam de programas sobre reformas de casa. Fazia sentido ele gostar daquilo, afinal estudava arquitetura, mas como tê-lo visto sentado no chão com Percy, também não imaginei ter o Masen assistindo a um reality show daqueles, principalmente na casa da minha mãe.

Ele e eu estávamos sentados juntos no sofá, enquanto Renata ocupava a poltrona com Percy em seu colo. Em algum momento, meu vizinho começou a mexer nas pontas dos meus cabelos e eu deixei, e ele também explicava melhor como funcionaria o projeto do episódio que estava rolando.

Troquei um rápido olhar com minha mãe, que piscou para mim mais uma vez aquele dia como se tivesse descoberto um grande segredo. Ela achava mesmo que eu estava namorando o Masen, uma grande bobagem.

— A gente precisa ir agora — falei quando o episódio acabou, tínhamos ficado lá por um longo tempo, já estava anoitecendo e eu ainda teria de estudar quando chegasse em casa.

Renata reclamou por já estarmos indo, mas acabou aceitando. Nos levou até a porta, ajudou a pegar nossas coisas no armário e se despediu, me enchendo de beijos no rosto durante um abraço apertado.

— Avisa quando chegar no seu apartamento, Bella — pediu ao me soltar. — Edward, não deixa ela correr muito naquela moto.

— Ah, você também odeia aquela coisa amarela? — ele perguntou e eu lhe dei uma cotovelada.

— Cuidado com suas palavras, Edward Masen!

— É sério, você deveria ter um carro — Renata falou preocupada, rolei meus olhos, lhe dei um último abraço e avisei que estávamos realmente indo.

— Tchau, foi bom te conhecer — se despediu de Edward. — Volte sempre.

— Terá mais lasanha? — Ele aceitou o abraço dela, e Renata riu da sua pergunta.

— Sim, prometo fazer de novo.

— Eu com certeza volto.

— Volta nada, vou passar por cima de você com minha moto — resmunguei.

— Isabella!

— Brincadeirinha, só uma brincadeira de leve. Agora é sério, precisamos ir.

Finalizamos as despedidas e deixamos o prédio, quando Edward viu minha moto, praticamente implorou:

— Vamos pegar um táxi ou Uber, eu pago.

— Vamos de moto!

— Bella…

— Moto!

— Eu te odeio, sabe disso, né?

— Sei, agora coloca o capacete.

Apesar de reclamar da moto, Edward estava bem vivo quando chegamos ao nosso prédio, se convidando para ir até meu apartamento, mais precisamente até meu quarto. Só que, eu tinha mesmo que ir estudar e o dispensei.

Tomei um banho, coloquei um pijama confortável e sentei pra estudar na sala. Rose e Alice tinham saído com seus namorados, e estavam me enchendo de fotos do passeio, mas também de fofocas.

Rose: A sua fofoca e a do Edward foi esquecida, algo mais impactante rolou.

Bella: O quê?

Alice: A capitã da equipe de natação foi flagrada em uma… festinha na piscina da universidade.

Bella: MENTIRA!

Bella: Falem mais agora!

As meninas começaram a contar tudo que sabiam e durante as várias mensagens delas, recebi uma da minha mãe. Eu já tinha avisado que eu estava sã e salva em casa, ela já tinha até respondido, mas aparentemente tinha algo a mais pra falar.

Renata: Podem não estar mesmo namorando, mas Edward sente algo por você.

Eu ri, ela estava surtando.

Bella: Manda um beijo pro Percy, tchau!

X

O apartamento 505 estava cheio e fedendo à maconha, eu não poderia ser hipócrita e falar que nunca tinha fumado a erva, mas não era algo que costumava fazer e o odor estava irritando meu nariz. Sendo assim, escapei da festa e fui pegar um ar na escada de incêndio, encontrando lá fora Edward segurando um violão em mãos, mas não estava tocando música alguma.

— Ei, você tá bancando o antissocial se escondendo aqui fora? — questionei, enfiando a mão esquerda no bolso da minha calça jeans para aplacar o frio que estava fazendo lá fora naquele sábado de novembro.

Era dia 19, aniversário de Peter. Meus amigos e eu tínhamos sido convidados para a festa, então lá estavamos nós. E Edward também, afinal ele morava ali.

— Você não cansa de ser chata?

— Não. — Dei de ombros, ele revirou seus olhos verdes, se distraindo com o seu celular que tirou do bolso, ao seu lado do degrau que estava sentado, uma garrafa de cerveja.

Eu também tinha uma, bebi mais um pouco do líquido e fiquei observando a lua. Estava focada nisso, pensando que em poucos meses poderia estar curtindo uma noite de sábado com Demetri, quando Edward começou a tocar.

Ele não cantava, mas tocava muito bem. Me virei para olhá-lo, deixando para lá a lua. O jogador estava absurdamente concentrado no instrumento e no dedilhar das cordas, a canção tinha um ritmo gostoso e dava vontade de dançar, mas era irreconhecível, eu não fazia ideia de qual era o artista responsável por ela.

Quis perguntar sobre a música para Edward, no entanto não tive coragem de interrompê-lo. O deixei continuar tocando, concentrada no que ele estava fazendo como o próprio estava, até que infelizmente a canção acabou e eu soltei um suspiro de insatisfação, o que fez o Masen me olhar confuso.

— Você não gostou?

— Gostei sim, de quem é?

— De uma cantora brasileira — respondeu, se levantou, pegou a cerveja e voltou para o interior do apartamento sem me dar mais nenhuma informação.

Ele com certeza era um maldito, custava falar mais alguma coisa?

O deixei entrar e fiquei mais um tempo do lado de fora, até que notei a movimentação estranha no interior do apartamento 505. Fui para lá e descobri que a síndica tinha ligado, mais uma vez, para reclamar do barulho, sendo assim Peter estava começando a botar a maior parte dos seus convidados para fora e sua namorada diminuía o som, afinal a senhora Wilker tinha dito que se ligasse de novo seria para aplicar a multa por perturbação.

Além dos moradores do apartamento, ficaram ali Emmett, Rose, Charlotte a namorada de Peter e mais dois amigos dele. Eu estava quase indo, mas Rose colocou uma nova cerveja em minhas mãos e me puxou para perto de si, me fazendo sentar ao lado dela no sofá.

Com a música baixa e menos pessoas no apartamento, as conversas foram ficando mais de boa, bem de fim de festa. O grupo remanecente estava todo sentado meio perto, e Charlotte fez uma pergunta geral:

— Onde vocês vão passar a Ação de Graças?

O feriado seria na quinta-feira da semana seguinte, mas a maioria já estaria livre de aulas e trabalhos desde a quarta-feira.

— Rose, Jazz, Alice e eu vamos ficar na casa do meu pai em São Francisco — Emmett contou e lançou um rápido olhar de repreensão para Edward, que revirou seus olhos em resposta. Ali eu entendi tudo, o namorado de Rosalie tinha convidado o amigo para se juntar ao feriado deles, mas o Masen tinha negado.

Eu fui a penúltima a responder, contando que ficaria na casa dos meus pais com eles e meu irmão, acrescentando que na data era aniversário de papai Aro. Todos os outros tinham planos, viagens em grupos, ou indo para suas cidades natais encontrar seus parentes. Bom, todos tinham planos, menos Edward, que respondeu em três palavras:

— Vou ficar aqui.

A conversa do pessoal continuou, com um dos amigos de Peter contando sobre como era maravilhoso o hotel que ele ficaria com a família no feriado, mas eu só conseguia pensar em Edward sozinho naquele apartamento durante todo o feriado. Eu entendia ele não ir atrás do pai dele, sabia que Eleazar passaria a data viajando para a Europa, porém o Masen ao menos poderia ficar com seus tios e primos, ainda que eu também soubesse que ele se sentia deslocado com eles.

Já era bem tarde e eu já estava na minha cama depois da festa, mas continuava pensando em Edward. Não aguentei e mandei uma mensagem para ele.

Bella: Ei…

Emo: Ei…

Bella: Por que você não vai ficar com seus tios no feriado?

Ele demorou, mas respondeu.

Emo: Eles vão passar o feriado com a família do meu tio, nada a ver eu ir junto, não sou um Cullen.

Bella: E por que você não vai com o Emmett e o pessoal?

Emo: Por que esse questionário mesmo?

Bella: Deixa de ser estúpido, Emo!

Emo: Mais alguma pergunta?

Sim, pior que eu tinha. E talvez fosse me arrepender dela, mas mesmo assim perguntei.

Bella: Por que você não vem passar o feriado comigo na casa dos meus pais?

E mais uma vez ele demorou a responder e quando respondeu só se deu ao trabalho de digitar duas palavras.

Emo: Não, valeu.

— Você que se foda, Edward! — resmunguei e fechei o aplicativo de mensagens.

X

Eu estava trancando meu apartamento quando vi Edward saindo do dele, era manhã do dia 23 de novembro, véspera do dia de Ação de Graças. Mal tinha o visto desde o aniversário de Peter, achava que o jogador estava me evitando porque a maioria das minhas mensagens para ele consistia em o convidar para o feriado na casa dos meus pais e depois de alguns convites Edward simplesmente parou de responder.

— Oi, Ratinha. Tchau, Ratinha — falou e passou rapidamente por mim em direção à escada.

— Epa, espera aí! — Larguei o capacete e minha grande mochila no chão e corri até a escada, ele parou de descer e em um suspiro alto perguntou:

— O que foi?

— Vem comigo?

— Não, já falei que não quero.

— Você não pode passar o feriado sozinho.

— Claro que posso, não será a primeira vez.

Meu estômago se revirou ao escutar aquilo e desejei dar uns tapas em Eleazar, era tudo culpa dele, se ele fosse um pai presente Edward não estaria acostumado a ficar só.

— Edward, você vem comigo.

— Isabella, eu não vou com você.

— Edward, se você não vier comigo eu falo pro seu pai que nosso plano é uma mentira.

— Ok, o plano foi seu mesmo.

— Edward! — gritei e ele soltou uma risadinha. — Não vou sair daqui até você topar ir comigo.

— Ok, então fica aí. — Ele voltou a descer e eu fui atrás segurando o braço dele. — Puta merda, você é mesmo insistente.

— Vem comigo, vem comigo, vem comigo.

Ele respirou fundo, fechou os olhos e ficou assim por um tempo até os abrir novamente e questionar:

— Cadê seu anel de noivado?

— Oi?

— O seu anel de noivado, você ia sem ele pra casa dos seus pais, seu irmão poderia perceber.

— Ah merda, esqueci disso, vou pegar… Espera aí, vou depois que você falar que vai comigo.

Edward riu mais um pouco, porém finalmente disse o que eu queria ouvir:

— Ok, eu vou com você, Ratinha.

— Eu devia te jogar dessa escada pelo apelido, mas vou deixar passar.

— Vai logo pegar o anel.

— Certo.

— E nós vamos no meu carro, é minha exigência.

— Posso dirigir?

— Não.

— Maldito!

X

Papai Charlie e Jacob adoraram a surpresa quando apareci em casa com Edward, papai Aro não ficou bravo, mas me lançou olhares que pareciam enxergar minha alma. Eu ignorei, principalmente quando achei que ele estava sussurrando o nome de Demetri para mim, não era nada daquilo que papai estava pensando, apenas estava fazendo uma boa ação levando Edward para o feriado, não trocando Demetri por ele.

— Edward, vamos jogar videogame? — Jacob perguntou animado.

— Claro, podemos sim. Eu só… — Ele olhou para mim. — Onde posso deixar minha mochila?

— No quarto de hóspedes — respondi rapidamente, afinal meus pais nem sonhavam que ele e eu tínhamos algo sexual acontecendo. E não acontecia há algum tempo, a última vez que transamos foi depois de uma noite que fomos jantar na casa dos Swan com meus avós e o pai dele, uma forma de aliviar a tensão depois daquela noite estressante com três das pessoas mais irritantes do mundo.

— Mas vocês são noivos, deveriam dormir juntos — Jacob comentou confuso. — É o que casais fazem. — Ao ouvir isso Edward ficou vermelho que nem um tomate, eu segurei uma risada.

— Jacob… — Papai Charlie chamou a atenção dele.

— O quê? Sei sobre sexo, papai, sou uma criança informada e com aulas de educação sexual na escola. E Bella, você é muito nova para ter filhos, use camisinha!

Edward ficou ainda mais vermelho e eu gargalhei, enquanto papai Charlie levava Jacob para a cozinha.

— Foi mal, ele está mesmo tendo aulas de educação sexual na escola — papai Aro disse. — Semana passada chegou aqui falando sobre fecundação. Não que vocês dois precisem se preocupar com bebês, não é?

— N-Não, a gen-gente…

— Vamos, Edward! — interrompi ele gaguejando e o arrastei para o segundo andar, o levando para o quarto de hóspedes e depois indo para o meu guardar minhas coisas.

Depois fui tomar um banho quente, afinal estava menstruada e queria um calorzinho para acabar com a cólica e ficar mais relaxada. Quando desci, quase uma hora mais tarde, Edward e Jacob estavam na sala jogando videogame, meus pais estavam ali pedindo nosso almoço pelo aplicativo, eu me enfiei entre os dois, recebendo abraços de ambos, adorando estar em casa com minha família.

Certo, tinha Edward de agregado, mas ele não era tão insuportável assim.

— Você é bem melhor do que a Bella nesse jogo, Edward — Jacob disse.

— Sim, sua irmã não tem coordenação motora, foi assim que ela me atropelou com um skate.

Não, ele era insuportável sim. Muito insuportável.

X

Todos estavam na cozinha no dia de Ação de Graças, meus pais cozinham muito bem e o resto de nós estava ajudando a preparar o jantar do feriado e do aniversário de papai Aro.

— Você leva jeito na cozinha, Edward — papai Aro disse em determinado momento, enquanto o quarterback e eu fazíamos uma torta de abóbora com Jacob.

— Ai, vocês precisam provar a… Como é mesmo o nome daquela comida brasileira, Masen? — questionei ao lembrar do salgado que ele tinha feito outro dia.

— Coxinha.

— O que é isso? — papai Charlie questionou e Edward explicou resumidamente.

— Eu quero comer! — Jacob exclamou empolgado. — Faz pra gente, Edward, faz, faz, faz — começou a implorar e Edward riu, me lançou um olhar e um sorrisinho e falou:

— Jake, você é insistente como sua irmã, sabia?

— É de família — meu irmão respondeu dando de ombros e meu coração esquentou ao escutar aquilo, eu amava minha família e nossas similaridades conquistadas com o convívio. — Vai fazer a coxinha?

— Hum, eu posso fazer? — Edward perguntou para meus pais. — No Brasil eles comem umas pequenas em festas de aniversário, combinaria com a ocasião.

— Claro que pode — Charlie concordou animado. — Caso não tenhamos todos os ingredientes, a Bella vai no mercado comprar para você.

— Tudo sobra pra mim — reclamei. — E tem delivery do mercado, se atualiza, pai.

— Olha como fala comigo, garota, ou você não vai comer as coxinhas do Edward.

X

Eu comi muito, mas ainda assim não conseguia parar de comer as coxinhas feitas por Edward. O jantar tinha acabado há algum tempo, já era meio tarde, todo mundo tinha ido dormir e eu estava sozinha na sala de estar assistindo TV, enquanto me deliciava com aquelas coxinhas dos deuses.

— Oi. — Olhei para trás e vi Edward entrando na sala, ele vestia uma calça de pijama quadriculada azul com branco e uma camiseta preta.

— Perdeu o sono?

— Ah, nem tinha dormido ainda, aí desci pra pegar uma água. — Se apoiou no sofá. — Como você ainda tá conseguindo comer? Tô explodindo, seus pais cozinham muito bem e eu exagerei.

— Suas coxinhas são muito boas, você pode largar tudo e se sustentar abrindo um restaurante que sirva só essas belezuras.

Ele riu e assentiu.

— Dica anotada, obrigado. O que é isso? — Apontou para a TV.

— Você não sabe o que eu tô assistindo? — indaguei incrédula.

— Não?

— Meu Deus, como você é sem cultura!

— Vai, fala logo o que é.

— É StarStruck: Meu Namorado é uma Superestrela, jura que nunca assistiu? É um clássico da Disney.

— Não, não é mesmo um clássico, eu nunca ouvi falar.

— Como você é chato. Quer saber, você vai assistir comigo.

— Não vou.

— Vai sim, vou voltar para você ver do começo, vai lá buscar sua água e pega pra mim também.

— Eu…

— Vai logo, Emo!

Ele revirou os olhos, mas foi e voltou com minha água como ordenei. Sentou ao meu lado e me entregou meu copo, eu dei play no filme do começo e em menos de um minuto o Emo já estava reclamando e com dez minutos perguntou:

— Por que a gente não larga esse filme ruim e vai pro meu carro?

— Ué, fazer o que? — indaguei confusa.

— Podemos procurar um lugar isolado para estacionar e… — Eu o interrompi quando comecei a rir, ao me dar conta do que ele estava propondo.

— Não vou transar com você num carro, já falei que não me animo com esse tipo de coisa. E além do mais, estou menstruada.

— Acho que preciso decorar o seu ciclo.

Dei de ombros e continuei a assistir meu filminho e ele voltou a reclamar, fiquei brava, mas em determinado momento ignorei que Edward estava falando mal de um dos melhores filmes já feitos e acabei deitando a cabeça em seu ombro. E ele, bom, o Emo colocou um braço ao redor de mim e pouco tempo depois acabei deitando na coxa dele, com sua mão percorrendo meus cabelos lentamente, o que estava me dando muito sono.

Entre uma piscada e outra o sono foi ficando tão forte que devo ter dormido ali mesmo, quando acordei, bem desnorteada com o espaço e tempo, levou um minuto ou dois para me dar conta que estava no meu quarto. Edward tinha me levado até minha cama? Provavelmente, meus pais dificilmente acordavam no meio da noite, não teriam me visto dormindo no sofá.

Com muito esforço me levantei e fui escovar os dentes no banheiro do corredor, infelizmente meus pais não eram ricos ao ponto de me mimar com uma suíte na casa deles. Antes de retornar ao meu quarto olhei em direção ao de hóspedes e não me aguentei, fui até lá ver se Edward tinha terminado de assistir ao filme.

Abri a porta devagar, sem querer acordá-lo se ele estivesse dormindo, mas não estava. O quarterback tinha tirado sua camiseta e estava sentado na cama mexendo em seu celular, mas desviou o olhar para mim quando me ouviu.

— Você terminou de assistir ao filme? — fui logo perguntando e Edward riu, eu sorri, porém mais para seu tanquinho.

Ele tinha um ótimo tanquinho, caramba, tão maravilhoso. Mais uma vez não aguentei, entrei no quarto completamente, fechei a porta e subi na cama. O celular dele foi parar na mesinha ao lado e eu dei vários beijos em seu tanquinho, até chegar ao seu pescoço e beijá-lo lá também.

No entanto, não conseguia ir muito além. Estava morrendo de sono ainda, parei os beijos com um em seus lábios, depois deitei ao seu lado e declarei:

— Vou dormir aqui.

— Vai pro seu quarto, seus pais não podem te ver aqui.

— Eu acordo antes deles, relaxa. — Peguei a coberta e me enrolei nela, depois cutuquei o braço de Edward e decretei:

— Deita logo aí, vamos dormir.

Ele deitou, eu o fiz minha conchinha menor e dormimos.

X

Uma batida na porta e ouvi a voz irritante de Edward exclamar:

— Isabella, o carro está chegando!

— Calma — falei enquanto arrumava meus cabelos.

— Vamos perder o carro — Edward insistiu.

— Não vamos.

Então, ele entrou no quarto, sem se dar ao trabalho de perguntar se podia, e balançou o celular em minha direção.

— O carro já está lá embaixo.

— Ele espera.

— Ele já começou a mandar mensagens, não quero pagar por taxa de cancelamento.

— Calma, Masen. — Continuei mexendo pacientemente em meus cabelos e ele continuou lá reclamando até que anunciou:

— Corrida cancelada, satisfeita? Você já está pronta e fica aí enrolando.

Era sábado à noite, nós continuávamos na casa dos meus pais, mas iríamos encontrar Emmett, Alice e os gêmeos em São Francisco para a abertura de uma balada nova. Por isso eu estava tão obcecada em deixar meu cabelo perfeito, era um lugar de gente rica, não poderia aparecer lá de qualquer jeito.

— As ondas precisam ficar certinhas — foi o que falei para o Emo, enquanto continuava a usar a chapinha para modelar os fios.

— Você pede o próximo carro e vai me dar o dinheiro da taxa de cancelamento do que perdemos — continuou resmungando e sentou na ponta da minha cama.

— Mão de vaca. — Dei uma boa olhada para ele pelo espelho, prestando atenção nas roupas que ele estava usando naquela noite.

Como de costume estava quase todo de preto, uma jaqueta jeans, uma camiseta e uma calça jeans, tudo preto, com exceção dos sapatos que eram tênis marrom. Só que ele não era o único exaltando a cor dos góticos, eu também estava de preto, saia curta, meia-calça, blusa e colocaria uma jaqueta também.

— Talvez você realmente devesse ficar com o dinheiro que seu pai vai dar — brinquei e ele forçou uma risada, falando em seguida:

— Termina de se arrumar logo, Ratinha.

— Eu deveria enfiar essa chapinha na sua cara, seu idiota.

X

A balada era realmente para ricos, só uma cerveja custava um absurdo, mas Emmett tinha conseguido ingressos com tudo incluso para o grupo, então eu estava no bar com Alice apenas desfrutando de tudo que queria sem precisar desembolsar um centavo, só precisava esticar o braço e mostrar para o barman minha pulseira vip. O McCarty e Rosalie estavam dançando, Jasper tinha ido tietar um cantor que gostava e eu não sabia onde Edward estava.

— Como foi ter Edward na Ação de Graças? — Alice questionou.

Minha resposta foi dar de ombros, ela riu um pouquinho e insistiu:

— Fala!

— Não tem o que falar, ficamos lá cozinhando com meus pais, comendo, assistindo filmes, jogando com meu irmão, apenas.

— Apenas?

— Sim.

— Vocês não dormiram juntos? Pararam com o sexo?

— Eu estava naqueles dias, nada aconteceu. — Resolvi ocultar o fato de que em uma das noites dormi de conchinha com Edward, Alice acharia que eu estava apaixonada, quando na verdade tinha sido apenas motivada pelo tanquinho dele. — Agora conta como foi aqui em São Francisco — pedi, e ela começou a contar, mas no meio do seu relato ficou encarando algo atrás de mim e qualquer vestigio de animação sumiu do seu rosto. — O que foi?

Segui o olhar dela e vi, do outro lado do bar, Edward beijando uma garota.


Beijos!

Lola Royal.

10.07.23