APERTEM OS CINTOS: A CATITAH SUMIU!

Capítulo 7

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Enfim o grande dia da cerimônia de casamento havia chegado! Mairon, com seu grande senso de organização, conseguira aprontar tudo a tempo. Melkor ainda instou para que levassem mais algumas daminhas de honra, mas seu consorte foi enfático: somente teria Mairen como sua dama de honra, e só!

De fato ninguém discutiu ou contestou a opinião dele, pois quando Mairon se punha resoluto em uma situação como aquela, nada mais o demovia.

Quando chegou afinal a hora "dela" (afinal estava num corpo feminino por causa da gravidez) envergar o tão falado vestido dourado, Mairen disse que o pai não podia ver a roupa antes da cerimônia.

Melkor, é claro, protestou:

- Mas nós já somos casados de fato há milênios! Eu já vi tudo e mais um pouco do que tinha pra ver no que concerne a Mairon!

- Tradição é tradição, meu pai! Vamos primeiro ao salão onde ocorrerá a cerimônia e depois, somente depois, lá mesmo, poderá ver o vestido!

- Ah, tá, tá bom! O que eu não faço por essa minha família!

O combinado entre eles fora justamente o de Melkor e Moriel irem primeiro ao salão; e lá, depois, Mairon os encontraria, juntamente com Mairen e Curumo. Pois é, Curumo havia cismado de ir junto com eles.

Apesar de achar "frescura" aquilo de não ver a roupa, o Vala acabou assentindo e foi, junto com o filho, para o salão da cerimônia. Lá, já havia muita gente. Melkor se surpreendeu grandemente:

- Ué, mas esse pessoal todo não me odiava?!

Moriel rolou os olhos, aborrecido. Mas mesmo assim explicou:

- Odiando ou não odiando, todos tem muita curiosidade acerca de como se desenrolará o casamento de vocês.

- Bem, ao menos espero que tenha como acolher todas essas pessoas aqui!

O Vala já não se importava em se mostrar em suas vestes e fazer surpresa, como Mairon estava fazendo. Ele próprio estava vestido com uma túnica negra, com detalhes em ouro e prata. Algumas pessoas cochichavam, observando como o Primeiro Senhor do Escuro era lindo e magnificente, mas então lembravam que ele era Melkor, e que a carga que ele trazia junto de si era terrível e muito pesada para qualquer um - menos para Mairon. Esse sim, aparentava ser talhado exatamente para aquilo.

Inquieto, o Dark Lord observou todos a sua volta. Havia muita, muita gente. Até mesmo as mulheres que o rejeitaram anteriormente, num tempo muito longínquo - Varda e até a própria Arien - estavam lá. Varda ele até entendia, uma vez que o marido dela, Manwe, seria - quem diria! - aquele que presidiria a cerimonia. Mas Arien...? Arien estar lá era algo que de fato o surpreendia muito.

Além dessas pessoas, havia também o pessoal que havia prometido colaborar. Lúthien estava lá, mesmo contra todos os prognósticos, e Tulkas também, embora estivesse com cara de poucos amigos. O próprio Feanor acabou indo, acompanhado da esposa e dos sete filhos, a fim de ver no que ia dar aquele casório tão inusitado para todos.

Somando tudo, praticamente toda Valinor acabou indo. Todos tinham muita curiosidade acerca dos Dark Lords, e desejavam matar a curiosidade com seus próprios olhos, em vez de simplesmente se contentarem em ouvir fofoca dos outros.

Ao ver Melkor e Moriel chegando, os cochichos e "buchichos" iniciaram. Aborrecido, o Vala simplesmente foi até seu lugar na cerimônia e não deu mais atenção ao que poderiam estar a dizer a seu respeito ou não - embora sua vontade fosse sair ralhando com todo mundo e expulsar meio mundo dali. Mas deixou pra lá, afinal de contas, não podia passar vexame no dia de seu próprio casamento.

Já Moriel, bem mais racional e contido, se comportou como um verdadeiro "gentleman". Não gostava de chamar atenção e sempre fora muito discreto. A opinião alheia dificilmente ou mesmo nunca o abalava.

Logo chegou a hora. Como Mairon sempre fora um exemplo de organização, dessa vez a "noiva" não atrasou quase nada. Os burburinhos cresceram, Melkor e Moriel repararam neles, e logo em seguida viram Mairen entrando, a jogar flores, como se fosse a fazer um caminho para que Mairon entrasse no recinto. Curumo entrou discretamente, se colocando bem de lado, a fim de não atrapalhar o andamento da cerimônia.

Não muito tempo depois, o Maia apareceu. O vestido dourado tinha uma cauda enorme, a qual arrastava no chão, e com a qual Mairon lidava com muita desenvoltura e elegância. Estava também repleto de joias, as quais ele mesmo elaborara e forjara, com suas próprias mãos. Os cabelos, também dourados, estavam presos num complicado penteado de tranças; mas não havia véu nem grinalda. Mairon quisera casar de rosto e cabeça livres de véus, os olhos dourados altivos, queimando, quase em cor de fogo. Tudo nele resplandecia dourado: os cabelos, o vestido, as joias, ele todo.

Lá ia ele, andando de forma graciosa porém altiva e imponente, em sua forma feminina, a saborear cada passo que dava sobre as flores que a filha espalhara anteriormente pelo solo. Esperara muitos anos para casar em Valinor; milênios, na verdade. Não devia ter pressa, portanto! Andava portanto num passo certeiro porém lento, a fim de prolongar cada momento daquela sua entrada triunfal.

Melkor, no entanto, não se segurou, impulsivo como era: assim que viu a consorte, foi até ela e logo a tomou pelo braço, fazendo de forma animada o restante do trajeto junto com ela até o local no qual estava Moriel - e no qual Manwe proferiria a confirmação dos votos da reafirmação de casamento de ambos os Ainur.

Ao lá chegarem, Mairen tomou lugar ao lado do irmão e o salão então ficou num silêncio sepulcral. Manwe então começou a falar:

- Senhoras e senhores! Estamos aqui todos presentes para a cerimônia de reafirmação do enlace matrimonial de Mairon e Melkor. Sei que eles não são exatamente as pessoas mais bem vistas de Arda, mas...

Moriel rolou os olhos novamente e Mairen olhou feio para Manwe. Não admitia que falassem mal de seus pais. O Vala continuou:

-...mas eles enfim foram aceitos e querem agora fazer uma cerimônia de casamento a todos aqui em Valinor. Pois bem... antes de iniciar o protocolo propriamente dito, tenho algumas palavras a dizer a Melkor. Em primeiro lugar, Melkor, sabia que você é muito burro?

- O QUE?! Eu venho aqui para ser ofendido no dia do meu próprio casamento?! E depois querem que a gente não tenha mais rixas com esse pessoal?! Ora seu...

- Acalme-se. Acalme-se! Eu vou explicar porque você é burro.

Nessa hora Feanor não se segurou e disse em voz alta:

- E precisa mesmo explicar?!

- E você cale a sua boca também!

- Acalmem-se! Sem altercações! Pois bem, Melkor... foi-me revelado que você na verdade era para ter encontrado com Mairon desde o início.

- Ern... como assim?

- No início dos tempos, você não ficou correndo atrás de Arien? De Varda, a minha mulher? Então.

- Bem, é verdade. Mas eu não sabia-

- Justamente por não saber é que fez um monte de coisa errada. Mas sabe do que mais? Os erros e o fato de "não saber" das coisas se deu justamente por causa da distorção.

- C-como assim distorção?!

- Ué, a dissonância da Ainulindale. Não lembra?!

- Ah... mas o que isso tem a ver?

- Tá vendo como você é burro?! Mas deixa eu te explicar... quando você causou a dissonância na Música Primordial, mudou todo o destino de Arda. Inclusive o seu! O que quero dizer é que se não fosse a dissonância, você teria encontrado Mairon assim que viesse a existir!

Todos olharam Manwe com uma expressão extremamente perplexa - principalmente Melkor, o qual já ostentava a sua famigerada "cara de tacho". Mairon, então, não conseguiu se segurar:

- Espere aí! Se não fosse a dissonância, Melkor não teria dado atenção a essas... enfim, essas mulheres que veio a conhecer antes de mim?!

Manwe respondeu:

- Não, não teria. Então, Melkor, você deve pensar um pouco antes de fazer certas coisas!

Melkor abaixou a cabeça, consternado, e enfim disse:

- Tá, tá certo! Eu fui mesmo um burro, um idiota! Mas hoje, felizmente, estou aqui para deixar o passado para trás! Por isso, Mairon... eu queria te dizer uma coisa...

Todos perceberam que Melkor, em sua costumeira impulsividade, estava prestes a pular a parte do cerimonial e ia enfim proferir o seu discurso. Manwe ia falar alguma coisa, mas Moriel fez um sinal para que ele não interrompesse. Quando Melkor começava com uma das suas, era melhor não se meter.

- Mairon - Melkor continuou - Eu lembro do início dos tempos, de quando eu ainda não tinha você. Foi um período horrível, do qual eu nem gosto de me lembrar que existiu. E de fato, eu gostaria de ter te encontrado primeiro, antes de ter passado por todas aquelas intempéries. Mas isso é passado! Não adianta chorar em cima do leite derramado. De qualquer forma, Mairon...

E então o Vala fez algo que ninguém esperava que ele pudesse fazer, mesmo diante de seu amado consorte: ajoelhou-se perante ele, pegando em sua mão e olhando em seus olhos. Continuou falando enfim:

- Você fez mais do que me dar uma família. Você fez mais do que simplesmente ficar ao meu lado quando ninguém mais queria ficar. Você me deu uma noção de que existe um amor maravilhoso e tão incondicional. Antes de te conhecer, eu jamais acreditaria que existia um amor assim. Muito menos direcionado a mim mesmo. Mas você me mostrou que esse amor existe, e durante muitos e muitos séculos. Atravessando todos os tipos de dificuldades. Por isso, Mairon, eu quero ficar com você pro resto da minha eternidade. E por isso também eu vim aqui reafirmar os meus votos de casamento com você. Finalmente em Valinor, onde sempre deveria ter sido. Por isso eu te pergunto, Mairon: você quer se casar novamente comigo?

O Maia, o qual estava se segurando para não chorar e desabar ali mesmo, sorriu ao consorte e respondeu, com a voz embargada:

- É claro que eu aceito!

E, mesmo sem esperar que Manwe terminasse de proferir os votos - votos esses que eles mesmos proferiram um ao outro, sem precisar que terceiros o fizessem por eles - ambos os ainur se abraçaram, Melkor enfim se levantando, e se beijaram com muito ardor. Moriel, o qual ficara muito feliz de ver que o pai não havia colocado pornografia no discurso, começou a se preocupar com a intensidade daquele beijo e das carícias que logo foram ficando mais e mais ousadas.

Resolveu então intervir:

- Ern... meus pais, estão todos olhando.

E os nubentes não estavam nem aí, continuaram se beijando e se abraçando sem nenhum pudor.

- Meus pais, já está bom isso aí!

Os ainur continuaram a se agarrar. Todo mundo já estava olhando, as carícias já se prolongavam... e Moriel de repente lembrou de quando os pais faziam rituais de sexo na maior, na frente de todo mundo. Ficou com receio de que eles fossem ultrapassar algum limite... e resolveu intervir de forma mais enérgica:

- Meus pais, já chega disso!

Enfim percebendo que estavam extrapolando, Mairon e Melkor pararam de se beijar, mas o olhar de ambos ainda estava muito intenso e cheio de amor um pelo outro. Logo em seguida, ambos tomaram as mãos um do outro e fizeram o restante do trajeto até Manwe. O mesmo, ao ver o casal finalmente diante de si, tomou a palavra:

- Pois bem! Ao que parece, vocês já desempenharam a última parte da cerimônia por si próprios. Mas tudo bem. Vamos finalizar como deve ser?

O casal assentiu. Então Manwe proferiu:

- Mairon, você aceita reafirmar seus votos de casamento com Melkor?

O Maia respomdeu altivo:

- É claro que sim!

Manwe então perguntou ao Vala:

- Melkor, você aceita reafirmar seus votos de casamento com Mairon?

- Sim muito.

- Portanto, diante de tudo isto, eu vos declaro marido e mulher! Digo, marido e marido. Digo... ah, Vala e Maia, pronto!

O casal sorriu. Mais uma vez ambos se beijaram diante de todos, e então foram ovacionados por todos os presentes. E ao ver que, mesmo não sendo exatamente o mais querido em Arda, Melkor enfim cumprira com seu destino: casar com Mairon em Valinor! E ser aplaudido por isso!

Assim que terminaram de se beijar, olharam a todos a sua volta. Mairen estava às lágrimas, muito feliz pelo casamento dos pais e os admirando do fundo do coração. Moriel, apesar de quase sempre demonstrar apatia diante do relacionamento alheio, inclusive em relação ao dos pais, também apresentava um laivo de comoção ao vê-los.

Ao observar todas aquelas pessoas, finalmente em Valinor e finalmente todas em seus votos de reafirmação de casamento, Mairon e Melkor sentiram como se o passado houvesse sido apenas um longo sonho... o qual serviu para levá-los precisamente àquele exato momento.

To be continued

OoOoOoOoOoOoOoOoO

Ai geeeeeeeeeente, a fic ficou quase dois anos em hiatus! Também, quando fui ver, eu desembestei de novo pra Saga e Kanon... rssssssssss!

Mas dessa vez eu prometo que termino. Preciso manter a minha reputação de ficwriter que, cedo ou tarde, acaba por terminar todas as fics!

No próximo capítulo, veremos um pouco da festa - da Lúthien cantando na mesma e até uma surpresinha que o Tulkas vai fazer pro casal catitoh, rsssss!

Beijos a todos e todas! Se alguém ainda estiver acompanhando a fic, por favor, mande sinal de fumaça, recado, review, o que for!