Capítulo 15

Sentiu ser balançada de um lado para o outro. Primeiro lentamente como se a estivessem ninando ainda mais, não que isso fosse preciso, seu corpo parecia pesar toneladas naquele colchão confortável, e ela se sentia como que envolta em pura seda. Um novo balanço, um pouco mais forte. Aquilo começa a incomodá-la. E de novo.

Aliás, por que estava em um lugar tão cheiroso? Ah, era verdade, ela havia ido para a casa do Mamoru. E novamente traíra Seiya. Naquele dia, os dois iriam se encontrar mais tarde, e Seiya a convenceria a não ir para o bar, já o havia ameaçado fazer na sexta-feira. Usagi não queria deixar de trabalhar, gostava do dinheiro que vinha ganhando e de conversar com as pessoas, conhecer histórias novas, mas agora ela precisava ao menos agradar o namorado que na véspera de começar seu novo emprego faria a viagem até ali para vê-la por poucas horas, quando no momento ela simplesmente devia estar nua na cama de outro.

— Usagi, não vai acordar? — Mamoru falou impaciente, agora a empurrando com força.

— Isso doeu! — reclamou, sem conseguir abrir os olhos.

Aproveitou o momento para conferir por baixo do edredom em que estado fora dormir, estava tão exausta quando se deitara que não se surpreenderia que nada houvesse acontecido e apenas houvesse perdido a consciência naquela cama. Mas estava semivestida, com a calcinha e a blusa fina de alça que usava por cima do sutiã, não que o estivesse usando no momento. Sem contar que ela se lembrava perfeitamente bem de cada toque Mamoru dera em seu corpo, só de pensar o seu corpo já até reagia, tremendo um pouco.

— Usagi, vamos comer... — insistiu ele, agora parecendo se sentar a seu lado. — Aliás, o almoço vai esfriar se ficar de moleza por muito tempo.

— Almoço? — perguntou, agora se virando para ele.

Mamoru vestia uma camiseta de manga curta branca com estampas em cinza e preto e não havia qualquer dica em seu rosto de como Usagi devia tratá-lo agora que o dia realmente havia raiado. Fingiam que nada acontecera? Entravam em modo de amantes? Recusava a refeição e sairia correndo o mais rápido possível? Mas ela cheirava tão bem... Sua barriga roncou, também sentindo o aroma que entrava pela porta do quarto.

Ele lhe sorriu, obviamente ouvira o protesto.

— Levanta logo e vamos comer; já são quase quatro da tarde.

— Quatro... — Como ordenada, embora não tivesse porque estivesse mesmo cumprindo a ordem, ela se sentou ainda bamba e esfregando o olho. Então, como se sentisse um choque, seu corpo se retesou. — Quatro da tarde!?

— Da manhã que não, né? Olha o sol que tá fazendo! — Ele caminhou e abriu a cortina mais escura que vinha bloqueando boa parte da luz.

Usagi olhou para a luz por um momento e saiu correndo pela casa, em busca de sua bolsa. Abriu-a correndo, mas não achava o celular. Começou a jogar o conteúdo no balcão, vários cupons fiscais, lenços recebidos na rua, cartões que clientes do bar lhe entregaram... Lá estava! Abriu o aparelho e foi direto à tela de mensagem, digitando rapidamente que havia acabado de acordar e que teriam que desmarcar, já que não sairia de casa nem tão cedo. Suspirou ao notar que ainda faltavam quinze minutos para as quatro.

— A vista está boa, mas por que não comemos? — Mamoru falava de suas costas e quando se virou para ele notou que seus olhos estavam logo abaixo.

Usagi tentou pôr a mão para cobrir a "vista", sentindo o rosto já queimar.

— Não sabia que era um pervertido qualquer — tentou dizer, mas sua voz estava trêmula. Precisava achar alguma roupa rapidamente.

— Bem, está bem na minha frente. Se eu estivesse nu na sua frente, você também estaria pensando algo parecido.

— Além de pervertido, é um grande convencido mesmo! — Precisava não pensar em quantas vezes ela de fato já não o fizera. — Agora, onde você pôs minha roupa?

— Vamos comer, eu já vi tudo, não é? Tô realmente com fome.

— Se alguém não tivesse me feito passar vergonha neste exato momento...

— Desculpa, é que às vezes falo sem pensar.

— Nisso não acredito. Você é justamente o oposto desse tipo.

Ele se aproximou e agora a abraçava, dando-lhe um beijo suave. No momento em que ela começou a sentir sua língua lhe bater nos dentes, Usagi deu um passo para trás, batendo com as costas no balcão.

— Algum problema?

— Eu preciso me vestir. E ir embora.

Seu celular vibrou na sua mão. Abriu parta ler uma nova mensagem de Seiya, insistindo em manter o encontro, pois já estava acostumado com seus atrasos. Ele a esperaria.

— Ah... — deixou escapar o som pelos lábios e uma sensação de desespero a invadiu.

Lá estava seu namorado sendo altamente compreensivo enquanto ela beijava outro. E aquele peso em sua consciência não a fazia nem mesmo considerar nunca mais ver Mamoru, pois sabia que provavelmente aceitaria seu próximo convite, se houvesse.

Olhou para o homem à sua frente.

— Preciso me vestir... — Ficou sem graça de explicar que precisava se encontrar com Seiya, quase como se Mamoru fosse o traído naquela história.

— Ao menos, almoce antes de ir. Eu cozinhei o bastante para dois.

Pela primeira vez, ela voltou os olhos para a mesa posta logo atrás de Mamoru. Seu estômago estava tão vazio que gritou no mesmo momento. Voltou ao seu celular e agradeceu a paciência de Seiya, que logo estaria onde haviam combinado. Depois vestiu-se e sentou-se para almoçar com Mamoru.

— Não acredito ainda que ele não ficou bravo com um atraso desses, — comentou Mamoru assim que ela terminou de se ajustar na cadeira.

Então, ele sabia sobre o que eram as mensagens no celular, devia ter conseguido ler tudo.

— Eu sempre me atraso, ele já deve sair de casa contando com isso.

— Em vez de "sempre se atrasar", você devia tentar ser pontual ainda que acabe se atrasando.

— Ah, Mamoru, se nem a pessoa envolvida liga! Vá cuidar de seus próprios problemas. — Bufou, apontando-lhe o hashi.

— É apenas uma questão de cuidar da própria imagem. Faz parte tanto quanto não comer demais, não apontar para os outros... — Nos lábios estava aquele sorriso mesquinho de sempre.

Usagi tentou imitar o tom em sua resposta:

— Você também devia deixar de reclamar, cuidar da sua própria vida... — E apontou o hashi para ele novamente com expressão de vitória.

Mamoru gargalhou levemente.

— Por que não está bravo?

— Acho que é a felicidade de enfim conseguir comer.

— E eu que sou a gulosa.

— Aliás, não deveria estar com pressa já que o pobre homem tá te esperando?

— Escuta aqui, Mamoru. Se que quiser alguma outra vez chorar no meu ombro no topo da sua cama, pode parando com os sermões. — Sentiu-se levemente embaraçada por estar se valorizando tanto, como se para o outro fizesse diferença com quem passara aquela manhã, mas preferiu não emendar o já dito. Mas observou-o, com medo de qual resposta iria receber pela ousadia.

Percebeu que sua expressão se alterou, o sorriso jocoso de antes havia ficado suave, e seus olhos adquiriram uma nitidez a mais, tão forte era seu olhar no momento.

— Não vou arriscar perder a ótima companhia, então — disse, para logo depois voltar-se à refeição, claramente feliz por poder comer.

Usagi teria perdido a fome com aquelas palavras, tivesse o estômago de uma pessoa normal. Ele realmente quisera dizer que queria continuar com aquele caso, não era? Tentou fechar o queixo caído e também voltar à comida.

E percebeu que após mais umas mordidas, Mamoru a olhava com o mesmo sorriso até lhe dizer:

— Caso eu não tenha sido claro: vamos nos encontrar esta semana de novo? — Ele fez movimento com a cabeça, como se mandasse que ela respondesse logo.

— Ah... — Usagi queria dizer algo difícil, enigmático. Mas apenas resignou-se. — Claro.

Lá estava outro momento de mudança de sua vida, aquele em que ela diria no futuro que havia transformado suas noites aleatórias com Mamoru em um caso. Apenas esse futuro diria quais arrependimentos lhe poderia trazer a resposta tão curta e simples, sem qualquer reserva.

Continuará...


Notas da Autora:

Quem me conhece sabe... que eu volta e meia acabo esquecendo as fics sem atualizar e essa é uma péssima fama. Desta vez, eu acabei me entretendo com uma série de histórias originais que comecei e fui escrevendo isso direto, direto, direto. Acabei sem cabeça pra continuar a revisar esta história pra postar. Normalmente, teria chegado a um ponto que era melhor lançar sem revisão mesmo. Só que vocês sabem como eu fiz esta pensando em como eu revisaria mais tarde. E vocês não fazem ideia de quantas vezes os personagens abriam e fechavam celulares nesta joça! Sem falar nos milhões de sequer. E quando eu dei substituir Lita por Makoto e aí facilitava virou faciMakototava. Não é piada.

Mas aqui está. Agora a história tá toda revisada e se eu tivesse com saúde mental eu já teria até posto tudo aqui. Mas comecei a formatar e minha cabeça cansou imediatamente. Só que o plano é fazer isso nestes dias. Juro! Cobrem!

Anita, 18/08/2023