Olho Azul 20 Anos Apresenta:
Cada Vez que nos Encontramos,
Cada Vez que nos Separamos
Capítulo 17
Usagi bloqueou a tela de seu celular após responder o e-mail recebido e sentou-se na cama de seu quarto. No mesmo momento, arrependeu-se. Era verdade, podia mandar uma mensagem para Motoki que não poderia trabalhar naquela noite e seguir para a casa de Mamoru como acabara de combinar, mas se estômago estava revirando.
Todo seu corpo parecia dizer não só de pensar que teria que estar nua na frente de outro homem. E era sexta-feira, um dia de muito movimento para o bar em que Rei não poderia cobri-la fosse qual fosse a razão de ela nunca trabalhar nos finais de semana.
Não queria nem se olhar no espelho naquele dia. Havia chegado no primeiro trem possível em casa, tomado banho, já que havia se recusado a fazê-lo na casa de Seiya, e desde então, não quis mais saber do próprio corpo. Porque ele não parecia dela. Porque ele não respondia ao que ela deveria estar sentindo. Nem sequer mencionou para Minako o que havia acontecido naquela noite. Ela mesma não entendia como seu corpo podia rejeitar tanto o Seiya quando com Mamoru a reação era quase que completamente oposta: por mais que dissesse não, sentia-se pronta para aceitar quaisquer de seus convites.
Olhou de novo o celular, ainda deitada na cama de forma transversal, com os fios de cabelos todos espalhados a seu redor, provavelmente embaraçando-se todos, e os pés levemente sobre o chão. "Podemos nos ver às seis? Sairei do trabalho às cinco e te encontro no apartamento. Eu pago o táxi, como da outra vez." Usagi respondera imediatamente que sim, pois fazia quase uma semana que não encontrava com Mamoru e algo lhe dizia que dormir com ele àquele ponto seria a melhor forma de tirar a sensação de Seiya ainda lhe tocava nos seios, nas nádegas, na cintura...
O que fazer agora? Olhou de novo a tela, eram ainda quatro da tarde. Mas se não quisesse prejudicar o Motoki com as escalas, precisava ligar logo. Que bom que ela havia trabalhado domingo passado, não se sentiria tão mal em cancelar. Exceto que sexta não era domingo. Dias não têm peso igual quando se trabalha em um bar. Decidiu ligar para o patrão, dizer a verdade: que não estava muito bem naquele dia, mas que se "a barra apertasse" ela poderia aparecer a qualquer hora por lá. Ao menos, tratava-se de seu quase irmão mais velho; ele era gentil demais e nunca se importava com faltas. Usagi suspirou ao desligar a ligação, tendo obtido o que queria, e se encolheu na cama. O silêncio na sua mente a fazia pensar mais uma vez no calor de Seiya subindo e descendo por seu corpo, suas mãos, sua respiração quente e úmida... Levantou-se num repente e decidiu tomar banho de novo. Mesmo que não mais fosse ver Mamoru, precisava limpar-se novamente, o mais rápido possível.
Mamoru terminou de fazer a janta e olhou para o relógio na parede da cozinha. Eram seis e meia. Meia hora era um atraso e tanto, mas em se tratando da cabeça de vento que ele havia convidado, ainda não era tão ruim. Mas achava que quando terminasse de cozinhar, ela já estaria ali. Em pensar que já passavam de seis da tarde quando ele começara. Ia acabar esfriando...
Foi até o sofá e ligou a televisão, não era seu costume assistir a não ser o jornal de notícias às dez da noite, mas fazia bem ter algum barulho no apartamento. Seus olhos foram inconscientemente para sua pasta de trabalho, onde os documentos entregues pelo superior direto naquele dia se encontravam, papéis confiados por outro superior, o mesmo que cuidara da transferência de Mamoru para a capital. Seu próprio chefe não parecia entender como aquilo podia ir para aquele rapaz sem graça de quem ninguém gostava e teria fingido esquecer-se de entregar se o mais alto hierarquicamente não houvesse provavelmente insistido.
Antes Mamoru nunca os houvesse recebido também. Seu emprego já estava difícil por ele próprio; até hoje, poucos se dignavam a cumprimenta-lo de volta.
Voltou-se de novo para o relógio da cozinha, mais quinze minutos se passaram sem que a convidada chegasse. Onde estaria? Em um encontro com o namorado? Parecia que Mamoru vivia ficando no meio entre ela e o namoro. Não era sua intenção, ele se contentava com os momentos livres. Apenas gostaria que ela estivesse ali logo, para comerem, passarem um tempo juntos. Não precisava sequer se preocupar com despedidas, já que Usagi saía correndo na primeira oportunidade, sempre o deixando com vontade de puxá-la de volta para a cama. Talvez com o tempo ele conseguisse deixá-la ali tempo o bastante que a sugestão que ela voltasse partisse dele.
Suspirou bravo com o pensamento e foi esquentar sua comida. O resto podia virar a janta do dia seguinte ou de vários outros já que ele fizera o bastante para quatro dele tendo em mente o apetite da visita que receberia.
Usagi tocou a campainha ainda sentindo o sono pesar em seu corpo. Era como se pudesse desmoronar a qualquer momento. Coçou o olho e estava bocejando quando a porta à sua frente se abriu. Do outro lado apareceu um Mamoru com uma carranca maior que a normal, aquilo quase a fez rir.
— É melhor você voltar, — disse-lhe, sem dar espaço para que entrasse. Ele estava com os cabelos úmidos e usava uma camiseta branca de manga curta e uma calça cinza de moletom.
— Ué, mas ainda tá cedo. — Olhou para as horas no visor externo de seu celular. Pouco depois de nove da noite.
— Está três horas atrasada e eu estava indo dormir.
Ela virou os olhos e replicou:
— São nove horas; ninguém dorme a esta hora. E temos tempo o bastante até o último trem, é só dar espaço pra eu entrar.
Ele suspirou e baixou a cabeça, ficando assim por uns momentos, então, deu passagem à moça.
— Você tem aula amanhã, e eu tenho que dormir para o trabalho. — E estendeu a mão. — Dá a nota do táxi para eu te pagar logo, vamos dar uma volta lá fora que eu já te deixo na estação.
Usagi que já tirara a bota olhou confusa.
— Dar uma volta?
— Bem, eu não pretendo transar se for com pressa. — Ele mordeu os lábios olhando para algo na direção da cozinha. — Você já jantou?
— Já...
— Com seu namorado?
A pergunta que trouxera a imagem de Seiya bem pra frente de seus olhos dera-lhe calafrios e ela balançou rápido a cabeça.
— Com os meus pais.
— Então, veio direto de casa? — Mamoru provavelmente andava até seu quarto, mas não aumentava muito o tom de voz, então Usagi começou a segui-lo antes que não conseguisse mais ouvir nada.
— É... — Havia chegado à porta do quarto.
Lá se deparou com Mamoru ainda com a blusa branca, mas por baixo estava com uma cueca preta, dobrando a calça que antes vestia. Como que por impulso, ao sentir o sangue correr por seu rosto, Usagi pulou para longe e fechou os olhos.
— Eu só estou pondo algo, cabecinha de vento. Eu já tinha posto meu pijama. — Ele agora estava na sua frente e a empurrava de volta ao cômodo fazendo força. — Sente-se na cama. Porei uma calça e te darei o dinheiro. — Ele a olhou confuso quando a ouviu rindo. — O que foi? — perguntou.
— Essa frase fora de contexto me deixa numa posição muito ruim! — Usagi levou as mãos à boca enquanto se ajeitava na cama, pondo os pés em cima dela. Gostava daquele colchão confortável e do cheiro de amaciante dos lençóis sempre parecendo que tinham acabado de sair de alguma secadora.
— Pena que você não trabalhou pra merecer — Mamoru falou com o rosto escondido para outro lado, a voz diminuindo.
— Nossa, foi mal o atraso. — Usagi ainda segurava a gargalhada, acomodando-se ainda mais. — Eu realmente tava me sentindo mal e não ia vir.
— Podia ter me avisado.
— Então, eu entrei no banho de tardinha e acordei com a minha mãe berrando para que eu fosse jantar.
— E em vez de me ligar nesse momento...
— Bem, eu nem lembrava mais meu nome. Só tava com fome. — Usagi sorriu, sabendo que poucos conseguiam pegar em sono pesado num banho daquela forma. Mas realmente não havia dormido direito na estranha cama de Seiya. Não que ela quisesse mencionar aquele nome ali.
— Não sabe que é perigoso dormir na banheira?
Mamoru já estava vestindo a calça, o que Usagi recebeu com algum senso de desperdício. Os encontros deles aconteciam na ordem contrária, com pessoas se despindo pela casa.
— Vamos mesmo só caminhar por aí?
— Eu realmente preferia ir dormir logo hoje.
— É sexta à noite... E foi você quem me chamou — lembrou-lhe ela.
— Aqui está o dinheiro. — Era uma nota de cinco mil ienes.
Usagi abriu a bolsa para procurar troco.
— Use o que resta para a passagem de trem da volta. Táxi seria mais seguro, né? — Ele ainda estava com a carteira aberta e separou mais cinco mil.
Ela só havia pegado o táxi como pedido, pois preferia deixar claro a Mamoru que, mesmo aquela sendo uma relação de conveniência, ela não era tão fácil. Ser chamada numa sexta à noite devia ser um insulto para uma moça mais popular, na verdade. Por isso, bom pra ele que lhe pudesse fornecer ao menos um transporte mais digno. Mas com uma besteira assim, quase dez mil ienes iriam pelo ralo se seguisse o que ele estava dizendo.
Ela afastou as mãos dele.
— Guarde essa segunda nota para jantarmos em algum lugar qualquer dia desses — Ela pegou apenas os primeiros cinco mil, só para depois pensar no que estava dizendo. Jantarem em um lugar não era do repertório deles. Mas se consertasse, a frase teria ainda mais impacto, por isso deixou apenas o gosto do arrependimento preso nos lábios.
— Pega logo. — Ele pôs a segunda cédula sobre a cama. — Você vai precisar voltar pra casa. Isto não dinheiro de encontro, só não é justo eu fazer com que você fique pagando caro em táxi quando você ainda é só uma estudante. — Ele se virou e puxou uma jaqueta do armário.
Então, voltou-se de novo para ela e pareceu estudá-la. Usagi engoliu seco com a sensação era de que era a primeira vez que realmente a estava vendo naquela noite. Parecia tão cansado... Talvez não fosse uma mentira de resmungão exagerado que ele estava pronto para dormir. Talvez aquele mau humor nem fosse seu típico.
— É vestida assim que você sai em encontros? — As sobrancelhas de Mamoru estavam erguidas, e seus olhos a julgavam de uma forma irritante. — Vai ser um vexame andar com isso na rua... Prefiro quando você tá trabalhando.
Em pensar que estava começando a se sentir mal pelo tempo que o tinha deixado esperando. Desafiante, Usagi deu de ombros.
— Não achei que fosse um encontro.
Nunca lhe daria razão, mas era de se esperar que Mamoru estranhasse seus trajes, já que sempre se viam quando ela estava trabalhando, então Usagi sempre havia estado no melhor de sua aparência. Motoki sempre pedia que todos se arrumassem, que as moças se maquiassem, que os homens estilizassem os cabelos. No momento, era o oposto. Ela até estava com uma bota de que gostava, mas não tinha nenhum salto e sequer combinava com suas roupas: um short bem largo e um pouco velho, uma camiseta vermelha solta com um tope vinho por baixo. Apenas pegara as roupas mais fáceis de vestir quando terminara a janta e se lembrara de seu encontro. Maquiagem? Que é isso?
— Bem, dessa forma não parece que temos um caso. E sim que nos casamos há uns vinte anos.
— Você é muito chato mesmo. Devia estar feliz que eu vim. — Olhou ao redor, procurando almoçadas para jogar nele, mas não achou nada. O homem apenas tinha dois travesseiros em cima da cama, nada mais. — E existe algum código de roupa para casos, é?
— De preferência, o que for mais sexy. — Mamoru sorriu pretensioso. — Uma pena que nem saberei se ao menos as roupas de baixo estão combinando.
Usagi sentiu seu rosto quente com a frase principalmente porque sequer lembrava o que havia vestido ao sair do banho. Provavelmente, alguma calcinha velha apenas para passar a noite deprimida na sua cama. Ela se levantou ao concluir assim e esticou um dos braços em direção à saída do quarto.
— Então, vamos dar uma volta? É melhor nos apressarmos, né?
Mamoru sorriu com ainda mais afetação que antes e a seguiu até a saída.
Continuará...
