Olho Azul 20 Anos Apresenta:
Cada Vez que nos Encontramos,
Cada Vez que nos Separamos
Capítulo 20
A verdade era que Usagi estava genuinamente animada para o encontro com Seiya. Todos os dias vinham sendo complicados, cheios de culpa, mas desde ouvira sobre o provável casamento arranjado de Mamoru, ela passou a encarar aquilo como um aviso para que ela ao menos se esforçasse naquele relacionamento. E, pensando bem, ela havia pedido um tempo, mas quando Seiya mencionara terminarem, Usagi percebera que ainda não estava pronta para tanto. Gostava demais da companhia dele e não teria qualquer outro motivo para mantê-lo em sua vida. Isso era amor ou algo assim, né?
Outra razão para aquele encontro poder ser mais bem encarado que os anteriores era ela não estar sozinha. A pedido de Minako, Usagi combinara com Seiya de chamar um amigo intercambista chamado Yaten e, à moda americana, eles teriam um encontro duplo. Apesar de haver chegado ao Japão ao mesmo tempo em que Seiya, Yaten conseguira estender seu mestrado e ainda teria entre seis meses e um ano para encontrar um emprego.
Era verdade que Usagi não se sentia confortável quando o namorado estava com amigos, pois eles sempre começavam a falar em inglês, inclusive com ela, como se entendesse mais que um oi. A sensação de o namorado, quase um japonês, virar outra pessoa em seu ambiente com intercambistas piorava a cada saída daquelas. Contudo, ali não estariam bem num passeio intercambista, apenas se divertindo entre amigos. E sua relação com Seiya não era mais a mesma das outras vezes em que o vira com estrangeiros. Ademais, a garantia de que Seiya não esticaria aquela chance residia na promessa que forçara de Minako a nunca a abandonar: voltariam juntas.
Yaten Heel a esperava em um ponto de encontro na própria universidade, de lá os dois seguiram juntos para a estação onde encontrariam Minako e Seiya. De cabelos claros quase cinzentos e olhos verdes, Yaten parecia ainda menos asiático do que Seiya, mas Usagi já ouvira que ele também era mestiço de alguma forma. Ela não fazia ideia de qual. Seguiram em silêncio até o local onde o namorado já a esperava.
— Onde está a Minako? — Usagi virou a cabeça para todos os lados.
— Atrasada, né? — Seiya sorriu, claramente acostumado com aquele padrão de comportamento.
Após alguns minutos mais, Minako apareceu, apressando-os a seguirem para o pequeno café onde planejavam passar aquela tarde de segunda-feira.
Usagi olhou para Seiya a seu lado e constatou que, sem o terror de que poderia ter que se deitar com ele, apenas com a perspectiva de passar um tempo amigável, ela realmente gostava de estar com ele. Seiya era seu amigo, seu companheiro. Inclinou um pouco a cabeça até seu ombro, um movimento que passara despercebido para os dois outros, mas que fizera com que Seiya se voltasse para ela e lhe mostrasse um sorriso. Usagi o devolveu.
Talvez não precisasse de muito esforço. Mamoru se casaria com a filha do acionista lá, e Usagi poderia ficar bem com seu próprio namorado. Com o tempo, toda a confusão se ajeitaria silenciosamente.
Sentiu o celular vibrar em sua mão. Seiya, também notando, ergueu as sobrancelhas e esticou a cabeça para o visor. Isto não era bom, se fosse Mamoru, não havia como explicar aquilo. Usagi teria que ignorar e inventar uma desculpa boa. Algo como ser um cara chato que obrigara trocar com ela os números no bar? Não, havia uma regra implícita para eles nunca fazerem isso e Motoki estava sempre de olho. Ademais, se Seiya lesse o nome de Mamoru no visor, talvez o reconhecesse de conversas passadas.
— Não vai atender? — perguntou seu namorado.
— Ah, é. Quem será, né? Mas é melhor atender sem ver antes que desistam, já demorei tanto! — disse a primeira desculpa que surgiu e abriu com toda a velocidade o telefone.
Um som de choro.
"Usagi?" era uma voz feminina.
Foi um indelicado, mas ela suspirou aliviada. A esta altura percebeu que todos haviam parado para esperar que terminasse a ligação, mas não podia. Era Naru, e ela soava péssima, pedindo para encontrá-la.
Desligou o celular e se curvou apologética para Seiya.
— Eu sinto muito, eu tenho que ir...
— O que houve, quem era? — perguntou ele consternado.
— Naru, aquela moça do bar.
Ele assentiu. Então, voltou-se por um momento de hesitação para Yaten e, tornando a encarar Usagi, ele suspirou.
— Eu vou contigo. E pode deixar, desta vez ficarei longe enquanto vocês conversam. — Estendeu a mão para ela. — Yaten, confio a Minako a você!
— Ah, claro, — respondeu o estrangeiro, olhando desconfiado para sua acompanhante, que no momento sorria aberto.
