Cuddy se levantou. "Rachel está melhor... Talvez seja hora de você ir...".
"Oh, então é assim? O que houve com o pedido para eu passar a noite? Sou perigoso demais pra ficar?".
"Não é necessário, ela está bem e posso continuar a medicando. Amanhã Marina vem e...".
"Ok". Ele se levantou muito irritado. "Chute fora o aleijado quando você tiver gozado".
"Não é isso!".
"Mas é o que parece ser".
"House!".
Ele nem respondeu, foi buscar a mochila dele.
"House!". Ela passou a mão no rosto tentando entender como saíram de uma conversa amigável para uma discussão.
"Amanhã estarei no hospital, senhora chefa. Não se preocupe".
"House...".
Mas ele saiu sem olhar pra trás.
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Capítulo 3 – A proposta
Naquela noite Cuddy não dormiu, ficou revezando entre cuidar da filha e tentar pegar no sono. Marina chegou cedo, Cuddy medicou a filha e deu todas as orientações para a babá. Ela voltaria após resolver a questão com Dr. Clark e depois de tentar resolver as coisas com House.
"Pensei que você ficaria com Rachel. Quem ficou lá? House?". Wilson a encontrou no estacionamento.
"Marina".
"House ficou com Marina?". Ele perguntou confuso.
"House deve estar dormindo em sua própria cama a essa hora".
Wilson olhou pra ela sem entender.
"Ele foi pra casa dele ontem". Cuddy explicou.
"Que bastardo! Podia te ajudar mais...".
"Eu meio que contribui pra isso". Ela falou com voz baixa.
"Por quê?".
"Não é fácil lidar com ele".
"Você lida com ele diariamente e de forma magistral".
Cuddy riu sarcástica. "Ele lido com ele de forma sofrível".
"Que diabos Cuddy... Não consegue passar um dia com ele sem brigar?".
"Pergunte para House".
"Eu pergunto para vocês dois". Agora Wilson parecia irritado.
Ela respirou fundo, talvez Wilson estivesse um pouco certo. "Ok, eu preciso resolver um assunto e depois ir pra casa". Ela avisou querendo se livrar daquela conversa.
"House não é fácil, eu sei. Mas você também não é". Wilson se afastou deixando uma frase de efeito e Cuddy, que já se sentia péssima, ficou ainda pior.
Nem preciso dizer como House estava mau humorado naquele dia. Por sorte Cuddy foi para casa logo para estar com a filha e ele não teria o desprazer de cruzar com ela pelos corredores do hospital.
"Soube que não terminou bem sua carreira na pediatria". Wilson se aproximou do amigo na cafeteria.
"Desconheço essa informação. Rachel está em plena recuperação".
"Você sabe o que quero dizer...".
"Cuddy e eu sempre nos desentendemos de qualquer maneira. Não é grande coisa".
"Quer enganar quem? Eu sei que você está frustrado".
House riu irritado. "Frustrado? O que exatamente você pensou que eu queria? Sexo com a reitora? Sexo com a mãe de um bebê doente? Se eu quisesse isso eu já...".
"Não. Você queria estar perto dela".
"Você romantiza tudo". House desmereceu.
"Você queria estar perto dela, na casa dela. Admita!".
"Tchau Wilson". Ele se levantou bruscamente.
"Admita!". Wilson insistiu.
"Ok, eu admito meu sentimento".
Wilson arregalou os olhos.
"Que é...". House continuou. "Vai se foder!".
Wilson balançou a cabeça. "Parecem dois adolescentes".
O dia de Cuddy não foi fácil, ela ficou tentando reconstruir em sua mente as últimas conversas entre ela e House, onde ela havia errado? Porque ele passaria a noite lá, de repente ele estava fora. A única satisfação foi perceber uma Rachel bem mais disposta e saudável.
"Você está bem, querida? Finalmente! Graças a House...". Ela disse a última parte triste.
"Ele esteve aqui por você nos últimos dias e sua mãe estúpida estragou tudo". Havia começado a autopunição.
"Ok, eu preciso fazer algo... Eu sei e eu irei!".
Cuddy pegou o telefone e ligou.
Do outro lado da linha, House estava tão distraído assistindo a televisão que nem olhou o identificador de chamada.
"House".
"Oi...".
Ele deu um pulo no sofá. "Rachel está bem?".
"Oh sim. Ela está ótima. Graças a você".
"Oh... Bom". Ele respondeu tímido.
"Mas eu não estou bem".
"Você está com os mesmos sintomas que ela tinha?".
"Não... não é isso. Eu não estou bem emocionalmente".
"O que houve?".
"Nós!".
House começou a tossir.
"House, você está bem?".
Ele não conseguia parar.
"House...?". Cuddy estava preocupada.
"Estou bem...". Ele disse tentando recuperar o fôlego. Aquela conversa era muito desconfortável.
"Eu quero dizer... Nós brigamos".
"E isso não é algo normal?".
"Infelizmente". Ela respondeu triste. "Mas eu errei, você nos ajudou tanto...".
"Ok Cuddy, sem exagero. O meu único arrependimento foi não ter visto você dormindo de lingerie".
"Eu não iria dormir de lingerie". Ela respondeu corando e surpresa com aquele comentário inesperado.
"Tem razão, certamente iria dormir sem...".
Ela riu alto. "Sonhe!".
"Eu devia ter me esforçado mais pra que esse momento tivesse acontecido".
"Você está louco!".
"Você não acha que resistiria a mim, acha?"
"Você é um idiota!". Mas a resposta dela foi bem humorada.
"Ok, fuja do assunto quando não quiser responder. Muito maduro".
"Cala a boca!". Ela disse rindo. "House?".
"Cuddy?".
"Estamos bem?".
"Estamos ok".
"Ok é bom, certo?".
"Ok é normal... acho...".
"Ok".
"Ok".
"Boa noite".
"Boa noite".
E eles desligaram, mas suas mentes não.
O fato é que nos próximos dias Rachel se recuperou plenamente e Cuddy voltou ao trabalho. Quando ela encontrou House, sorriu sem notar. Mas alguém percebeu.
"Vocês fizeram as pazes!".
"Lá vai!". House anunciou.
"Vocês são feitos um para o outro...".
"Ok Wilson".
"Vocês são perfeitos um para o outro. Nunca houve alma gêmea melhor!".
House fingiu que estava vomitando.
"Finja o quanto quiser, mas você sabe que é real o que eu digo".
"Claro que sim, almas gêmeas existem e também a Branca de Neve".
"Você entendeu...".
Naquele dia à tarde Cuddy levou Rachel para tomar vacina e passou pela sala de House.
"Ela queria te ver!".
"Ela te disse isso?".
"Deixe de ser chato". Ela pegou a menina no colo e se aproximou dele.
"O que é isso? Vai me obrigar a segurá-la?".
"Você já fez coisa pior".
"Não me lembre disso...".
Cuddy sorriu e a colocou nos braços dele.
"Uh... Ela não está quente de febre agora".
"Ela está ótima!".
"Mas você a vacinou e pode ter... Não foi cedo demais?".
"Não House, ela vai ficar bem".
"Falou a mãe tranquila, espere só ela ter uma febre e você estará louca outra vez".
"Provavelmente!". Ela disse bem humorada.
A menina balançou os bracinhos e acertou o rosto de House.
"Ai!".
Cuddy riu.
"Ela me bateu e você ri? Essa é a educação que você pretende dar para a sua filha?".
"Ela é um bebê".
"Mesmo assim".
"Deixe de ser chato!".
"Você já me disse isso hoje".
"Talvez porque você seja muito chato".
"Ok, a filha me bate e a mãe me xinga. Que fase!".
Cuddy riu alto e a menina até assustou.
"Oh pobre menina que tem a mãe louca que ri como uma hiena".
Agora foi Cuddy quem bateu no braço dele.
"Eu não sou um saco de pancadas das Cuddies".
"Aparentemente você é!".
Rachel esfregou a mãozinha no rosto dele e assustou.
"Oh, acho que ela não gostou da sua barba". Cuddy comentou achando graça da reação da filha.
"Pelo contrário. Todas as Cuddies me amam! E amam minha barba".
Por um momento eles trocaram um olhar, mas logo foram interrompidos pelo time de House que chegava.
"Oh, essa é Rachel?". Treze perguntou e foi ver a menininha.
"Você é louca de deixá-la com House?". Chase brincou com ela.
"E o que você faz na minha sala com a minha equipe?". House perguntou despistando o constrangimento por ter sido pego com a garotinha.
"O seu paciente fez um procedimento cirúrgico, não se lembra?".
O fato é que o momento dos dois havia terminado, mas Cuddy saiu e esqueceu-se de pegar a bolsa de bebê que havia levado. House levantou-se quando notou e foi devolver.
"Ele está indo devolver a sacola do bebê?". Treze estranhou.
"Talvez porque ele esteja se divertindo com a mãe?". Kutner mencionou.
"NÃO!". Todos descartaram a possibilidade.
"Ei... A bolsa". House a chamou.
"Oh, obrigada!". Ela se virou para ele.
Nesse momento passava por eles um grupo de enfermeiras que começou a fofocar algo.
"Elas estão falando de nós descaradamente?". Cuddy perguntou incomodada.
"Cuddy... Você sabe que as pessoas estão dizendo que nós transamos naqueles dias".
"As pessoas não sabem o que dizem".
"Realmente, pois se nós tivéssemos transado você não estaria tão mal humorada agora".
Ela deu um sorriso seco, balançou a cabeça. "Obrigada House!".
"Pelo sexo?".
Ela corou, pois ele perguntou alto o bastante para quem passava ouvir. Mas nada respondeu, virou e se foi.
Ele ficou encarando sua silhueta que partia com um sorriso maroto.
Naquela tarde Cuddy recebeu uma ligação de sua amiga Sara. Elas se conheciam desde o ensino médio e, apesar de terem seguido caminhos distintos, ainda se falavam eventualmente.
"Aconteceu alguma coisa?".
"Você quer dizer que eu só te ligo quando algo ruim acontece?". Sara perguntou com tom de voz divertido.
"Não...".
"Saiba que eu sempre deixo recados e você nunca me retorna. Quem é a reitora de medicina ocupada e workaholic não sou eu". Sara interrompeu a amiga.
"Desculpe! Eu tenho andado tão ocupada...".
"E aposto que, como sempre, não sobra espaço para a sua vida pessoal".
"Você está enganada!".
"Oh eu estou?".
"Sou mãe agora. Adotei um bebê: Rachel".
"Oh! Isso é real?".
"Sim". Cuddy respondeu cheia de si.
"Mas existe um namorado no meio disso?".
Ela havia pego o calcanhar de Aquiles... Ou quase...
"Não quero te enquadrar Lisa, não é isso. Eu quero que você fique bem! Você merece ser feliz!".
"Há um namorado". Cuddy respondeu sem pensar com o ego ferido. Ela estava tão cansada de responder que não havia ninguém. Sempre era a mesma chata e previsível resposta.
"Sério? Quem é ele?".
"Nós estamos no começo... Não quero pressionar nada...".
"Lisa, me conte tudo!".
"Não tenho muita coisa pra contar ainda...".
"Lisa Cuddy, me conte tudo!".
"Sara...".
"Pelo menos o nome dele. Qual o nome dele?".
"Sara...".
"Vamos Lisa!".
"Greg". Ela respondeu novamente sem pensar.
"Greg? O mesmo nome daquele rapaz da faculdade que te deixou completamente apaixonada?".
"Eu não fiquei completamente apaixonada...".
"Oh não! Só muito boba e sofrendo pelos cantos".
"Eu não sofri pelos cantos...".
"Minta o quanto quiser... Mas é Greg e o sobrenome?".
"House". Cuddy não sabia por que disse isso, mas já que ela começou, não iria voltar atrás. No mais, Sara nunca soube que Greg House era o mesmo Greg dos tempos da faculdade.
"Gregory House o seu funcionário problema?". Sara riu alto e Cuddy corou. Ainda bem que ela falava ao telefone. "Eu sempre soube que havia mais ali do que você admitia".
"Não havia...".
"Por favor, Lisa! É claro que você sempre teve uma paixão por ele".
"Não! Eu admirava seu intelecto, mas nunca...".
"Um dia você me descreveu ele como se estivesse descrevendo um Deus Grego".
"Eu nunca fiz isso!".
"Oh, claro que fez". Sara ria.
"Ele é... atraente e inteligente, não posso negar isso. Mas de resto é muito difícil...".
"Você adora esse tipo. Os bonzinhos nunca tiveram chance com você".
"Ok, não posso discordar do meu dedo podre para homens".
De repente Sara ficou muda.
"Lisa... Não me diga que Gregory House é o mesmo Greg da faculdade?".
"O quê?".
"Como eu nunca percebi isso? Você vive reclamando desse tal de Greg House e não me diga que ele é o mesmo?".
"Sara...".
"Lisa sua bastarda! Você nunca me contou isso! É claro que faz sentido. Você perseguiu o cara, o contratou, o mantinha sob seus olhos até que conseguisse dar o bote".
"Eu não!".
"Eu te admiro cada vez mais, amiga. É assim que se faz! Força feminina!".
Cuddy estava mais enrolada do que previu que estaria. E muito arrependida do desfecho que aquela mentira estava tomando.
"Sara, como falei, nós ainda estamos no inicio...".
"Não tem nada disso, você está intimada a comparecer com ele ao jantar de Dia dos Namorados que farei. Será no restaurante do Brian e eu não aceito não como resposta".
"Não consigo ir! Desculpe".
"Desculpas não aceita".
"Sara, eu sou médica. Ele é médico, temos vidas pra salvar".
"Você dá um jeito, bem na noite dos namorados. Brian vai caprichar, tudo de graça e de qualidade. No mais... Você nunca foi a nenhum de nossos jantares de Dia dos Namorados".
"Eu já fui sim".
"Uma vez com aquele sujeito chato e na outra com um amigo. Isso não conta".
"Dylan era meu namorado".
"Por duas semanas? Não a julgo, ele era insuportável".
"Eu não quero pressionar as coisas entre mim e... meu namorado". Era estranho para ela dizer aquelas palavras.
"Não me interessa. Se você não vier eu vou até o hospital e convido pessoalmente Gregory House".
Cuddy gelou. Mais que gelou, ela quase teve um mal súbito. Deus o que ela havia feito?
"Ok, eu vou falar com ele".
"Ótimo! Já considero os dois como presença certa". E desligou.
Cuddy estava lascada.
No dia seguinte Cuddy ficou rodeando a sala de House pensando em como falaria com ele, o que ela diria? Ela passou a noite em claro pensando em como resolver aquela enrascada. Ela podia dizer para Sara que eles haviam terminado, mas ainda assim era capaz da amiga ir até o hospital falar com ele. Ela podia dizer a Sara que ela havia inventado aquela história, mas, além da vergonha que passaria, seria capaz de Sara não acreditar que era mentira, e sim pensar que Lisa queria se safar do jantar.
Então, perto das duas horas da tarde House interrompeu os pensamentos dela.
"Você vai continuar rondando minha sala como uma abelha? Eu sei que sou como mel...".
"Eu preciso de um favor!". Ela disse quase que com a voz alta demais.
"Como se eu já não tivesse feito favores suficientes pra você recentemente".
"Eu te recompenso de alguma maneira não sexual".
"Oh então não me interessa".
"Você nem ouviu o que é...".
"E nem quero ouvir".
Ele ia entrando novamente em sua sala. "Eu preciso que você finja ser meu namorado e vá comigo a um jantar".
House virou-se para encará-la sem entender. "O quê?".
"Isso que você ouviu".
Ele riu. "Você está brincando?".
"Não, é bem real".
"De todos os homens, você quer que eu finja ser seu namorado em um jantar? Você está febril?". Ele colocou a mão na testa dela para aferir a temperatura corporal.
"Não". Ela retirou a mão dele de sua testa. "É só um jantar. Comida grátis, bebida liberada... Tudo o que você gosta".
"E você de vestido justo?".
"Posso pensar em algo...". Ela respondeu resignada.
Ele sorriu. "Quando?".
"Próxima sexta-feira".
"Jantar de quem?".
"Um casal de amigos".
"Uh...".
"Você não os conhece. Sara e Brian".
"Amigos de Cuddy? Interessante".
"Mas tem algumas normas".
"Oh, eu sabia que você faria algo divertido parecer chato...".
"Você precisa se comportar como um homem maduro".
"Mãe!".
"Por favor!".
"Uh... Sinto o seu desespero".
"Não é desespero!". Ela falou corando e tentando disfarçar.
"Intrigante".
"Você vai ao jantar comigo?".
"Te busco às sete horas!".
"Não, eu não vou chegar naquele seu carro".
"Eu pensei na moto".
"Pior ainda! Eu te busco às oito horas".
"Uh, uma mulher moderna, eu gosto disso".
"Você sabe que não é um encontro, certo? É só um jantar".
"Sexta a noite me parece mais um encontro".
"House...".
"Ok. Fechado!".
"Tem mais uma coisa...".
"Uh...".
"Eles pensam que somos namorados então... Precisaremos fingir".
"Oh, isso será como arrancar doce de uma criança".
"Sem intimidades...".
"Que namoro chato então, hein?".
"Quero dizer... Sem intimidade excessiva".
"Você me dará um manual com instruções? Um contrato?".
"Sério House!".
"Te espero às oito horas. Vou até trocar minha boxer e colocar a boxer do amor".
Cuddy fez cara de nojo. "Obrigada!".
"Não por isso, namorada!". Ele respondeu alto a fazendo corar antes de se afastar.
Mais tarde naquele dia ele encontrou Wilson no refeitório.
"Ei...".
"Ei...".
"Você não pegou carne hoje?".
"Estou de dieta".
"O quê?". Wilson estranhou, mas logo viu que o amigo havia escondido o bife abaixo da salada. "Você não tem mais cinco anos".
"Será?".
"Ei... pôquer sexta?".
"Não, eu tenho compromisso".
"Compromisso?".
"Jantar".
"Você vai jantar com alguém no Dia dos Namorados?".
House parou de comer e ficou pensativo. Dia dos Namorados? Ele não celebrava Dia dos Namorados desde que... Nunca ele havia celebrado essa data estúpida. Nem com Stacy, nem com ninguém.
"Com quem você irá jantar no Dia dos Namorados?". Wilson perguntou novamente.
"Um amigo".
"House, você não tem amigos. O que você está escondendo de mim?".
"Nada Wilson".
"Você vai jogar pôquer e não quer que eu participe?".
"Eu já disse que terei um jantar".
"Mentira!".
"Ok, sofra então tentando adivinhar".
O fato é que Wilson tentou descobrir o que aconteceria pelo resto do dia, sem sucesso. Na manhã seguinte ele estava no escritório de Cuddy.
"Você acredita que ele terá um jantar no Dia dos Namorados?".
"Você está com ciúme?". Ela perguntou tentando disfarçar.
"Não! Ele está mentindo!".
"Talvez não".
"House com uma namorada?". Wilson riu alto.
"Talvez seja uma amiga".
Wilson gargalhou. "Quem leva um amigo pra jantar no Dia dos Namorados?".
"Eu já levei uma vez...".
"Cuddy! Com certeza você tinha outras intenções".
"Não exatamente...".
Wilson corou de vergonha agora. "Ok, talvez eu esteja enganado".
"Talvez. Agora eu preciso entrar em uma reunião". Ela mentiu para o afastar e conseguiu.
A semana passou lentamente para House, ansioso que estava pela sexta-feira. Sobretudo pelo fato de Wilson o incomodar a cada minuto pra entender o que exatamente ele faria no Dia dos Namorados. House segurou a informação bravamente. Ok, seria muito bom se exibir do amigo ou até mesmo zombar dele dizendo a verdade, isso deixaria Wilson muito confuso e seria engraçado, mas por alguma razão misteriosa até mesmo pra ele, House preferiu manter sigilo da história real.
Já para Cuddy a semana passou rápido demais. Era uma situação terrível. Ela conhecia House e sabia o quão imprevisível ele poderia ser, ela se arrependeu inúmeras vezes nos últimos dias, por que ela inventou tamanha bobagem? Por que ela inventou um namorado que era House? Justamente ele? Ela não queria pensar nas respostas para essas perguntas pois era algo ainda mais assustador, preferiu se encher de trabalho e não ter tempo para pensar, mas quando ela se deu conta era sexta-feira de manhã.
"Rachel a mamãe está com pressa hoje, desculpe querida". Ela disse pra filha que acordou querendo atenção. "Desculpe!". Cuddy sentia-se muito culpada atualmente pois tinha tão pouco tempo para a garotinha.
"Ela ficará bem". Marina tentava tranquilizá-la.
"Você é um anjo pra ela. Não sei o que faria sem você".
Marina corou. "Oh... Não...".
"Minha mãe virá buscá-la perto das seis horas da tarde, ok? Ela ficará com Rachel essa noite".
"A senhora vai aproveitar o Dia dos Namorados?". Marina perguntou curiosa.
"Senhora não, Marina. Eu já pedi para não me chamar assim".
"Oh desculpe...".
"Pode-se dizer que eu vou a um evento de Dia dos Namorados... Um evento imprevisível...". Cuddy respondeu pensativa e preocupada.
Marina queria entender, pois ela nunca havia reparado em um homem naquela casa com ela, Marina sempre estranhava uma mulher tão linda e elegante sozinha, mas ela trabalhava demais também... Marina não fez perguntas, tratou de dar atenção para Rachel.
"Qualquer coisa me avise, você sabe!".
"Sim, senhora... quer dizer... doutora Cuddy".
"Lisa. Pode me chamar de Lisa". Ela respondeu simpática antes de sair para o começo daquele dia imprevisível.
Ao chegar ao hospital a correria a absorveu completamente, ela esqueceu-se de tomar café inclusive. Perto das dez horas a realidade veio a tona quando ela viu House chegando.
"Dez horas!".
"Olá doutora Cuddy, ansiosa para hoje a noite?".
Ela corou, mas continuou sem perder a compostura. "Dez horas é demasiado tarde".
"Você não irá reclamar quando eu estiver com pique total a noite". Ele respondeu alto e piscando um olho de forma exagerada.
"Sobre... aquele assunto... Eu apreciaria se mantivesse em sigilo".
"E eu não fiz isso até hoje?".
"Continue...".
"Ok doutora Cuddy!".
"Obrigada".
Ela se afastou e House sorriu com o canto da boca.
"Feliz Dia dos Namorados". Ele gritou.
Cuddy parou, olhou para o chão e imaginou que a atenção de todos os inúmeros presentes na recepção aquele dia estaria com ela. Respirou fundo e seguiu para a sua sala sem olhar pra trás ou responder qualquer coisa.
Aquele dia seria divertido, pensou House.
No almoço Wilson tratou de tentar garantir algumas informações, ele ainda não se conformava com a ideia de que House teria compromisso com alguma mulher no Dia dos Namorados.
"Tudo certo para a sua noite?".
"Nem tente!".
"O quê?". Ele se fez de inocente.
"Eu sei que essa é sua técnica para conseguir informações".
"Eu só estou trocando algumas palavras com um amigo".
"Ok Wilson, como se você não usasse a técnica do Amigo Carente e Inocente para conseguir suas presas".
"Eu não quero conseguir você!". Ele respondeu indignado.
"Há controvérsias!".
"Ei, eu não sou gay".
"Como disse: Há controvérsias!".
"Vá se foder!".
"Na verdade eu farei isso essa noite".
"Você vai transar com alguém essa noite?".
"É o que fazem nessas datas comemorativas, certo?".
"Quem?".
"Eu disse que você queria informações".
"Eu sou seu amigo!".
"E?".
"Se fosse você não respeitaria minha decisão de manter sigilo. Aliás, você nunca respeitou".
"Ainda bem que você não sou eu".
House saiu deixando Wilson confuso, mas decidido.
"O que vocês farão essa noite?". House perguntou para seu time que estranhou o interesse repentino.
"Qual é? Uma simples pergunta. Quem de vocês irá transar e quem ficará por conta dos... dedos?".
Treze fez cara de nojo e tentou mudar o assunto para o paciente.
"Vamos Treze! Você consegue sexo a hora que quiser". House voltou ao assunto.
"Podemos focar no paciente?". Taub tentou ajudar a colega.
"Taub, você é casado então sabemos que você não transa".
Kutner riu.
"É claro que eu transo".
"Ok, pobre esposa do Taub!". House continuou.
"Podemos focar no paciente morrendo?". Treze falou novamente.
"Vocês todos são tão chatos". House disse.
O fato é que seu time estranhou o comportamento dele, não era estranho ele fazer perguntas e comentários aleatórios e inapropriados, mas parecia que ele estava ansioso com o Dia dos Namorados.
"Não, ele só estava fazendo piada e querendo nos deixar desconfortáveis". Treze decretou.
"Eu acho que House tem uma namorada". Kutner falou fazendo todos rirem.
Cuddy conseguiu almoçar depois das três da tarde, ela parou rapidamente para comer alguma coisa.
"Uau, almoçando agora? Nem vai sobrar espaço no seu estomago minúsculo para o jantar".
Cuddy sentiu-se corar quando ouviu a voz dele e sentiu o perfume que já lhe era familiar.
"E o que você está fazendo zanzando pelo restaurante a essa hora? Não tem um paciente?".
Ele a ignorou e sentou-se ao lado.
"Temos que treinar, afinal de contas, daqui a algumas poucas horas, seremos almas gêmeas".
O coração de Cuddy acelerou com aquela realização, ela não se esqueceu disso, como poderia? Mas ela tentava deixar isso de lado e focar no trabalho, então toda vez que esse tema vinha a tona era como se tirasse a veste que cobria a realidade.
"Você sabe que seremos namorados de mentirinha, não sabe?".
Ele sorriu. "Você nem parece que sabe atuar... Temos que ser convincentes".
"E o que exatamente isso inclui?". Ela perguntou preocupada, mas com seu coração fazendo coisas esquisitas no peito.
"Você nunca namorou?".
"Claro que sim! Você por outro lado...".
"Eu já morei junto...".
"Há milhões de anos...".
"E você?".
"Eu namorei há alguns anos".
"Uh... Alguns anos?".
"Não faz tanto tempo assim".
"Ok grande reitora, acho que vou me deparar com algumas teias de aranha... Ai!". Ele reclamou quando tomou um chute por debaixo da mesa.
"Vamos focar! O que você sugere para essa "atuação"". Cuddy enfatizou a palavra.
"Mãos dadas por exemplo".
"Ok, isso eu posso fazer".
"E também temos que nos abraçar, as vezes".
"Que tipo de abraço?".
"O tipo do abraço de namorado".
"House!".
"O que foi? A ideia foi sua".
"Eu não quero você abusando...".
"Cuddy, você acha que eu sou o que?".
"Eu te conheço".
"Então deveria saber que eu não faço nada que uma senhora não queira que eu faça. O problema é se você quiser...".
"Ok abraço simples".
Ele franziu a testa. "O que vem a ser um abraço simples?".
"Sem conotação sexo".
"Que casal chato nós somos!".
Ela não pode evitar, ela riu. "Que mais?".
"Caricias".
"Caricias?".
"É, leves caricias que demonstram a intimidade que temos".
"Nós não temos intimidade".
"Nossos personagens! Cuddy, esteja no personagem!".
"Ok, caricias tipo...?".
"No braço, nos ombros...".
"Ok. O que mais?".
"Risadas. As pessoas apaixonadas sempre riem de tudo o que o outro diz".
"Sério isso?".
"Não culpe a mim, mas a raça humana".
"Se você fizer algo idiota eu não vou rir".
"Eu serei um cavalheiro deslumbrante".
Cuddy riu.
"Isso! Assim que se faz. Você até parece apaixonada por mim".
Ela corou. "Que mais? Só isso?".
"Beijo!".
"Oh eu sabia!".
"Cuddy, como dois namorados não irão se beijar?".
"Estaremos em público".
"E daí?".
"E daí que nosso relacionamento é discreto".
"Nunca!".
Ela o encarou.
"Você sabe que eu não seria assim tão discreto, temos que agir minimamente em respeito a nosso caráter". House justificou-se.
"Não beijo de língua".
"Você seria uma namorada horrível!".
"Nós não somos namorados de verdade".
"Ok. Beijo sem língua".
"Beijo no rosto".
"No pescoço".
"Não!".
"No ombro?".
"No rosto e selinho...".
"Ok". House respondeu conformado.
"Ok".
Eles ficaram se olhando por alguns segundos.
"Ok, te vejo mais tarde namorada!".
Cuddy gelou, por sorte só haviam poucas pessoas no restaurante.
No final da tarde, quando ele saia, ele deu de cara com Wilson.
"Ei!".
"Ei!".
E nada de mais conversas. Wilson estava bravo por não saber a verdade e House queria evitar mais e mais especulações.
Logo Wilson foi falar com Cuddy.
"Desculpe atrapalhar seu lanche da tarde, mas eu preciso que assine alguns termos mais tarde...".
"Wilson, eu vou sair às cinco e meia hoje, no máximo. Leve pra mim antes disso".
Ele franziu a testa. "Você tem algum programa hoje?".
"Sim. Um jantar idiota".
"No Dia dos Namorados?".
"É... eu nem tinha me tocado".
Ela tratou de se levantar e se despedir, mas Wilson ficou cismado com aquilo. Seus dois amigos solteiros com compromissos secretos no Dia dos Namorados?
O fato é que ele correu com a papelada e viu Cuddy sair apressada em seguida. Ela sentia um misto de coisas e borboletas na barriga era uma delas, mas não porque ela gostava de House, isso não. Provavelmente apenas porque era House e muitas coisas podiam sair errado. 'Era só isso'. Ela tentava convencer a si mesma.
Continua...
