Chegada tão esperada

O céu estava em fúria naquela noite, com relâmpagos rasgando o véu da escuridão e trovões estrondosos que anunciavam a ira daquela tempestade. A chuva batia violentamente contra a janela e o vento soprava com tanta força que as árvores faziam uma dança macabra. No meio desse espetáculo da natureza, um sentimento de inquietação crescia.

Com todo o estrondo da tempestade, mal se ouvia os passos firmes e fortes que ecoavam de um lado para outro na sala da antiga mansão ancestral da família Rostoff. A marcha angustiada pertencia a um homem jovem, vigoroso e inquieto, que para cada passo que dava tragava o cigarro desesperadoramente. Passava a mão pelos cabelos negros ondulados bagunçando-os levemente, o rosto tenso tentando conter as lágrimas que ameaçavam cair. A incerteza do que estava acontecendo no andar de cima daquela mansão, o enchia de apreensão. O antigo relógio de parede que uma vez pertencera a seu avô, já marcava 2 horas da madrugada e o seu incessante tique taque estava piorando essa angústia. O tempo parecia eterno e a cada minuto sem notícias era como um peso em seu coração. Cada pensamento era um mergulho em um mar de incertezas e medo profundo.

O único som que conseguia superar o estrondo do tormento que caia do lado de fora, eram os gritos femininos que emanavam do andar de cima. O som ensurdecedor ecoava pela mansão, cortando o ar como lâminas afiadas. Cada grito rasgava o peito do jovem chefe da família, que se via impotente diante dos sons de dor de sua esposa. Ele queria estar lá dentro daquele quarto, segurar a mão dela, ser o apoio que ela precisava, mas foi expulso pela curandeira assim que o trabalho de parto começou.

De repente um silêncio assustador assombrou a mansão, os gritos de dor pararam, mas nenhum choro quebrou a quietude daquele momento. Sem conseguir aguentar mais, o jovem correu escada acima, chegando em segundos no andar de cima e escancarando a porta do quarto que estava sua amada. O que ele viu, o fez parar imediatamente. Sua esposa estava deitada na imensa cama exausta e levemente ofegante. O coração do homem começou a bater descompassadamente e uma onda de pânico o tomou quando viu a curandeira com um pequeno embrulho nos braços, um pequeno bebê que não emitiu nenhum som. Os segundos pareciam se arrastar, sua mente girava em todas as direções, imaginando o pior. Finalmente após uma eternidade que durou apenas alguns minutos, um som rompeu silêncio. O choro do bebê encheu o ar ao mesmo tempo que todos os espelhos do quarto se estilhaçaram. O homem soltou o fôlego que nem percebeu que estava segurando e sentiu uma mistura de alívio e alegria. O medo e a preocupação foram substituídos por uma profunda felicidade.

O novo pai retirou sua varinha do bolso e consertou os espelhos quebrados. Além de um alívio imenso, estava espantado e orgulhoso com a demonstração espontânea de magia de seu recém-nascido. Aproximou-se da cama de sua esposa, que aconchegava nos braços um ser minúsculo e cheio de cabelos negros. Sua esposa sorriu amorosamente para ele, sabendo que esse momento significava para ele tanto quanto para ela.

- Valentin, veja como nossa filha é linda.

Com um misto de cautela e carinho, Valentin estendeu com cuidado a mão para acariciar a bochecha rosada da filha, sua pele era suave e macia. Um sorriso de admiração e ternura se espalhou no rosto dele, enquanto sente o vínculo se formando. Ele percebeu os pequenos dedos da menina, as sobrancelhas delicadas e os olhos azuis profundos.

- Sim, minha amada Olga. Ela é linda e herdou seus exuberantes e profundos olhos.

Uma lágrima solitária escapou do olho de Valentin, testemunhando a profundidade das emoções que o envolvia. Sentiu uma onda de determinação e amor incondicional. Naquele momento, ele estava pronto para enfrentar todos os dragões e basiliscos do mundo por sua filha.

O tempo tinha uma maneira sutil de tecer suas marcas na vida de todos, e na vida da pequena Morgana não era diferente. Com apenas cinco anos, ela exalava curiosidade e energia a cada passo. Seus cabelos formados por cachos escuros e rebeldes que pareciam espelhar sua personalidade vibrante. Seus olhos azuis brilhavam com a descoberta constante do mundo ao seu redor.

Enquanto era observado por seu elfo doméstico chamado Pink, Morgana corre pelos jardins da mansão, perseguindo borboletas azuis. A grama verde macia se estendendo como um tapete, convidando para exploração. No centro do jardim, um antigo balanço de corda balança suavemente com a brisa. A distância, é possível ouvir vozes e risadas infantis, conversas e música tocando. Dentro da mansão ocorria uma festa, era a festa de cinco anos de Morgana. Enquanto as outras crianças, filhos de amigos de seus pais, brincavam e dançavam juntas, ela preferia ficar nos calmos jardins, admirando a beleza que a cercava. Simplesmente amava as cores, os sons, a tranquilidade do jardim. Antes de se perder ainda mais na sua mente, seu pai manda Pink leva-la novamente para festa. Tentou conversar um pouco com as crianças que estavam lá, mas sem muita paciência com as trivialidades que elas falavam. Brincou um pouco com seu irmão mais novo Boris, que tinha três anos. Procurou alguns senhores mais velhos para conversar, mas sem ser levada muito a sério, escapou novamente da festa.

Finalmente a festa acabou e a noite chegou. Essa era a hora preferida de Morgana, todas as noites deitada na cama, seu pai lia histórias maravilhosas e emocionantes. Ela própria já estava quase aprendendo a ler e em breve já poderia passar dias inteiros lendo. Quando ela cai nos braços do sono naquela noite, uma mistura sentimentos, de alegria, tristeza, triunfos e lutas atinge seu sonho. Nesse sonho passa o tempo cronologicamente, primeiro parece o sentimento de humilhação, dor e raiva com a cena de uma menina pequena sendo agredida por meninas que tinham medo dela e logo em seguida serem jogadas longe por uma força invisível. A próxima cena continha sentimentos de alegria, esperança e curiosidade, quando a menina descobriu que era uma bruxa e frequentaria uma escola repleta de bruxinhos que nem ela. As lembranças e os sentimentos começaram a passar cada vez mais rápido. Viu a amizade, aventura, medo, dor, pânico, sofrimento, tédio, irritação, menosprezo e muitos outros sentimentos. Tudo isso assustou Morgana, que acordou gritando. Seu pai abriu a porta do quarto dela e a abraçou até que ela se acalmasse, repetindo baixinho em seu ouvido que era só um pesadelo. Dentro daquele conforto todo oferecido por ele, ela sabia, no entanto, que aquelas lembranças eram dela, aquela vida era dela. Ela era aquela menina, jovem e mulher Hermione Granger.

Ela passou o dia seguinte inteiro se ajustando a sua vida antiga e a sua nova vida. Ter que reviver todas as lembranças e sentimentos todos de uma só vez foi tão exaustivo como explicativo. Se refugiou no lugar em que mais se sentia confortável e segura. A biblioteca.