2007:

As coisas andavam perigosas para a minha família, estávamos fugindo novamente, mas dessa vez e talvez, pudesse ser a última vez que faríamos isso.

Conseguimos nos comunicar com um dos Comensais e ele nos prometeu e jurou até. Que ele tinha encontrado um lugar seguro na Albânia e estávamos indo para lá, mesmo que demorasse meses, tínhamos que chegar lá. Era a nossa única esperança.

_ Você está cansada, meu bebê? - Fecho rapidamente a bolsa e olho para o lado, era a minha mãe.

_ Mãe. - Dei um aceno e fui até ela.

_ Você ainda não me respondeu. - Beliscou meu nariz.

_ Estou bem, estou acostumada a isso. - Tive que me acostumar a isso com sete anos.

_ Ninguém se acostuma a isso, você merecia uma infância melhor, meu bebê. - Me abraçou e beijou os meus cabelos.

_ Tive uma infância excelente. - Cruzei os meus dedos atrás das costas por contar uma mentira.

_ Sim, você teve e que pena que acabou tão cedo. - Iria falar algo, mas alguém bateu à porta e peguei a minha varinha rapidamente. _ É só seu pai, meu amor. - Ela sorriu e abriu a porta.

_ Vocês estão prontas? - Olhei para a bolsa e concordei. _ Vamos. - Coloquei a bolsa atravessando meu corpo e coloquei a varinha no seu devido lugar. No coldre do meu pulso.

Saímos do pequeno cômodo e descemos a escadaria dos fundos, ninguém poderia saber que estávamos ali, menos o meu avô e alguns elfos.

_ Estava pensando o porquê de o dia estar agradável, agora sei o motivo. - Olhei para trás e vejo o meu avô.

_ V...

_ Não diga essa palavra, sua cria do diabo. - Olhei para o chão e tento me acalmar. _ Não sou seu avô e nunca serei.

_ Canopuloso. - Mamãe tentou repreendê-lo, mas ela não era o suficiente para isso. Infelizmente. _ Leesa é sua neta e filha do seu filho e eu já lhe disse...

_ E eu já te disse que ela não é a minha neta há anos. É por acaso?

Talvez ele tenha razão, não me parecia muito com ele, não mesmo. Ele tinha olhos âmbar e eu tenho olhos verdes como o feitiço Avada, ele era moreno e alto, e eu era branca e tinha marcas vermelhas de queimaduras de sol em algumas partes do corpo. Eu não era alta, mas eu queria apenas falar o que realmente pensava dele e não nos comparar como antes.

_ Pare, papai, temos que ir. - Puxei a minha mãe pelo braço e saímos daquela casa maldita, tomara que pegue fogo com ele dentro. _ Mando um sinal...

_ Não quero saber de você, seu filho ingrato. - Fechou a porta no rosto do papai.

_ Ele um dia vai entender. - Espero que nunca chegue esse dia.

Mamãe pegou a minha mão e fomos andando devagar, esse lugar era deserto, ninguém iria vir aqui, teríamos uns minutos de paz e tranquilidade antes de entrarmos de cabeça na guerra novamente. Uma guerra que apenas o lado da Luz via e só queremos sobreviver, é errado pensar desse jeito? É errado desejar sobreviver e ter uma vida feliz e agradável? Eu só queria que isso terminasse e que pudesse ser quem eu realmente era, apenas uma bruxa comum que não pôde nem mesmo ir para a tão aclamada Hogwarts.

Queria ter ido, mas mamãe me proibiu e disse bem claro quando chegou a carta para mim.

"Você nunca poderá ir para Hogwarts, me prometa que se algo acontecer, você irá para bem longe."

"Mas, mamãe, eu queria ir."

"Leesa, isso é para o seu bem, eu só estou pedindo isso para te proteger, agora me prometa"

"Eu prometo"

Mas quando fiz essa promessa, os meus dedos estavam cruzados atrás das minhas costas. Foi a primeira vez que fiz isso e que menti em uma promessa, que menti para a pessoa que me pôs no mundo. Mas fiz isso sabendo das consequências, e não ligava para elas, não hoje. Um dia eu iria para lá e seria a melhor aluna que aquela escola já conheceu. Era por isso que queria tanto que essa guerra acabasse e mesmo se acabasse quando eu estivesse velhinha e gagá; eu iria para aquela escola ou não me chamaria Leesa Avery Malfoy.

_ O que tanto pensa? Está tão calada hoje. - Alisou meus cabelos negros e os enrolou em seus dedos.

Olhei para os lados e era tão pacato e feio esse lugar; grama amarelada e malcuidada, o caminho de pedra foi tomado por mato e até mesmo o céu aqui era horrível. Odiava esse lugar, odiava a pessoa que morava aqui.

_ O que você faria se pudesse... - Ela me censurou com o olhar. _ Você me entendeu. - Digo vendo o papai caminhando na frente.

_ Eu iria para o ano que meus pais se conheceram.

_ Para quê?

_ Para impedir que a minha mãe fosse a amante e fosse expulsa da família Avery.

_ Você não existiria. - Ela sorriu e deu de ombros. _ Eu ainda não entendo como a vovó teve um caso com aquele homem e ele não parece bonito. - Só vi fotos e elas eram horríveis.

_ Você falando assim me faz repensar alguns dos meus pensamentos e eu queria ter os cabelos loiros iguais a ele, odiava e amava o meu irmão por ele ter aqueles cabelos.

_ Ou você o odiava por ter atenção daquele que você sempre quis conhecer? - Ela me olhou e não falou.

Mamãe é filha de Laverne Avery, irmã do Alucard Avery, um dos seguidores fiéis do Lorde das Trevas. Mas seu pai também era um dos seguidores do Lorde e ele se chamava Abraxas Malfoy.

Só que Abraxas nunca soube que teve uma filha e nunca procurou a minha avó depois de ter feito tanta merda.

A vovó não foi a santa da história e os dois estavam errados, mas não quero dizer isso a mamãe. Ela sempre ficava chateada quando eu tentava falar isso.

Laverne sobreviveu com as poucas economias que conseguiu pegar antes que ela fosse jogada em qualquer lugar da Londres Trouxa, apenas porque ela não queria contar quem era o pai do bebê.

Mamãe me contou que elas moravam em uma pequena cabana em algum lugar da Escócia e quando ela completou os seus 11 anos, a vovó se foi. Ela adoeceu por conta da pobreza em que vivia.

Mamãe teve que enterrar a sua própria mãe e ela chorava muito quando me contou. Como eu me sentiria se fosse comigo? Nada, eu não sentiria absolutamente nada. O motivo? Não quero me lembrar, mas minha cabeça às vezes me fazia lembrar...

Mamãe passou por muitas dificuldades na vida. Como se estabelecer em uma casa nova e ser deixada algumas vezes de lado pelo seu tio. Mamãe cresceu seguindo as crenças do seu tio, Alucard Avery. E foi um dos motivos que ela conheceu o papai...

_ Queria ter conseguido pelo menos falar com o meu irmão na escola ou um dos bailes que a família Malfoy dava. - Ela me olhou e voltei a prestar atenção nela. _ Ele era tão...

_ Idiota? - Ela me bateu no braço e revirei os olhos. _ Ele tinha pavões em sua mansão, só uma pessoa idiota compraria aquilo.

_ Talvez fosse do papai. - Piorou. _ Mas iria falar excêntrico. Eu queria ter contado quem era meu pai para o tio Avery, mas a promessa da minha mãe me assombrou por muitos anos.

_ Igual a minha promessa com você. - Ela segurou a minha mão e a apertou. _ Eu só tinha oito anos, mamãe, quando a senhora me fez jurar pela minha magia que salvaria o Lorde das Trevas.

_ Um dia você vai me agradecer quando você realizar esse sonho e seremos muito felizes, não acha? - Sorriu.

_ Sonho? Isso para mim não é um sonho, é apenas um capricho seu. - Larguei a sua mão e fui andando.

_ Leesa! - Ela correu até mim.

Ela era tão diferente de mim, às vezes me perguntava quem puxei. Meu pai tinha cabelos castanhos e olhos âmbar, como o vovô. Mamãe era baixinha, bochechas gordas e cabelos cacheados na cor castanha. A única coisa que eu tinha eram os seus olhos.

_ Sim? - A olhei.

_ Não é um capricho, eu só acho que se o Lorde vencesse, você teria uma infância melhor e eu só quero o seu bem. - Ficou na ponta do pé e beijou a minha testa e foi até o meu pai.

Fiquei parada por algum tempo vendo eles rindo. Eles tinham várias varinhas em suas cabeças, mas eles não ligavam, eles se entendiam completamente. Eles realmente se amavam. Sentia um pouco de inveja, mas a inveja acabava quando me lembrava como era o relacionamento deles e isso que eles mostravam eram apenas fachada.

Mamãe me contou que não queria seguir o Lorde, mas começou a segui-lo fielmente por causa do papai. Ela queria que ele a aceitasse...

Idiota, eu não faria isso por ninguém. A pessoa deveria me aceitar como eu sou e eu a aceitaria como ela era. Era tão simples. Então por que a mamãe e o papai complicaram as coisas?

Isso também me fez lembrar que papai era uma pessoa muito rebelde. Vovô era da luz e ele era das trevas, ainda era nebuloso para mim o motivo do vovô não ter denunciado a gente para o ministério.

Corri para alcançar eles e fiquei atrás para tentar escutar o que eles estavam conversando.

_ Temos que ir na direção oposta, se acabarmos sendo pegos, não iremos delatar o nosso amigo. - Papai falou.

_ Isso está fora de cogitação, temos que chegar o mais rápido e você quer ir para o caminho mais longo? Não vou fazer isso.

_ Você tem que entender, Byella. Não vou escutar sempre suas ideias idiotas, nós vamos pegar o caminho mais longo e se não...

_ Vamos escutar o papai, mamãe. Ele sempre está certo. - Digo ficando no meio deles.

_ Nossa filha entende das coisas. - Papai sorriu e me deu um beijo na cabeça.

_ Dois contra um, que admirável. - Ela parecia zangada. _ Eu queria que Orfeu... - Papai tencionou a mandíbula e eu alisei as costas da mamãe.

Orfeu era o primeiro filho da mamãe, ele teria nascido em 1981, se ela não tivesse sofrido um aborto por causa do papai. Ela nunca me contou o que aconteceu naquele dia, mas acabei descobrindo. Papai pensava que ela o tinha traído e por causa disso foi atrás da mamãe e começou a brigar com ela.

Acho que o papai se arrepende, mamãe não seria capaz de traí-lo, ela o amava. Eu podia sentir isso em minhas veias amaldiçoadas.

Paramos de andar e vimos onde a barreira terminava, nós nos olhamos e respiramos fundo.

Às vezes queria continuar aqui, mas eu sabia que o vovô não deixaria. Só podíamos ficar 3 meses e depois disso tínhamos que sumir do mapa novamente. Mas teve uma época que ficamos mais de três meses, isso foi quando o Lorde ainda existia.

Eu nunca o vi, mas escutava coisas ao seu respeito e às vezes, apenas às vezes, ele me deixava curiosa. Mas essa curiosidade acabava quando me lembrava de como ele morreu.

Por um simples Expelliarmus e por um adolescente com hormônios quase controlados. Patético.

Queria não ter feito aquele juramento e poderia muito bem viver bem sem esse sentimento de culpa dentro do meu peito. Minha magia sentia saudades de alguém que nunca conheceu, apenas por causa de um maldito juramento.

_ Prontos? - Papai perguntou sacando a sua varinha.

Mamãe me olhou e ela olhou para a bolsa que estava comigo. Ali tinha coisas, coisas muito valiosas para mim, mas para ela, eram apenas coisas que poderiam salvar um homem ou prejudicá-lo.

_ Estamos. - Pego a minha varinha e seguro a alça da bolsa que atravessava o meu corpo.

Saímos da barreira e papai nos entregou um graveto, se eu não fosse uma bruxa, apenas jogaria esse graveto no chão e iria embora depois de chamá-lo de louco.

Fizemos o graveto se tornar uma vassoura e subimos nela. A vassoura ganhou velocidade rapidamente e ficamos olhando para baixo, enquanto tentávamos não ser vistos. As nuvens estavam baixas e usamos isso ao nosso favor.

Olhei para a mamãe que estava olhando ao redor.

_ Se você usasse aquilo, você iria fingir ser quem? - Gritei.

_ Uma sangue puro obviamente, o lado que sigo só aceita a pureza do sangue, Leesa. Pensei que já soubesse disso, já que também segue...

_ Não, não sigo, mas estou sendo obrigada a seguir. - Ela balançou a cabeça negando a minha fala.

_ Você não iria continuar sendo uma sangue puro? - Gritou de volta.

_ Não.

_ Mas você iria precisar ser para salvar o Lorde.

_ Não sou salva-vidas para ficar apenas pensando em salvá-lo. Pense com cuidado, mamãe. Posso simplesmente ficar nas sombras enquanto coordeno tudo, não preciso e não quero ser alguém importante, eu só preciso fazer que o juramento não me mate.

_ Você seria uma mestiça?

_ Algo pior, mamãe. - Ela iria falar alguma coisa, mas acabou usando sua vassoura para me empurrar para o lado. _ O q...

Um feitiço passou raspando a minha bochecha e aquilo doeu, parecia um corte de papel, mas mil vezes pior.

Peguei a minha varinha do meu pulso e tentei olhar para trás para saber qual auror tentou me matar, mas não consegui antes que a minha vassoura fosse atingida e ela começou a perder a sua estabilidade.

Por conta disso, a minha varinha que estava na minha mão acabou voando para algum lugar.

Mais um feitiço passou por mim e outro atingiu mais uma vez a minha vassoura me fazendo cair dela. Provavelmente iria morrer, mas eu esperava que pudesse reencarnar em uma boa família e que pudesse finalmente ir para Hogwarts.

Escutei o grito agonizante da mamãe, ela parecia desesperada.

Não sabia se era pela minha morte iminente ou que eu não seria mais um peão dentro do seu tabuleiro. Era melhor morrer aqui.

Deveria ter seguido esse pensamento, me pouparia anos de sofrimento por mãos que nunca imaginei falando crucius.