Cap. 2

17 de Setembro de 2010

"O que foi Wilson?".

Cuddy o recebeu tão mal que ele logo se arrependeu de ter entrado na sala dela.

"Eu só queria que você assinasse...".

"Dê-me!". Ela estendeu a mão sem olhar pra ele, pois estava ocupada examinando outro documento.

"Você está bem?".

"Eu preciso ir embora nos próximos cinco minutos senão vou surtar".

"Ok, se quiser assinar amanhã...".

"Então eu assino depois".

Ele continuou em pé olhando para ela.

"O que foi?". Ela finalmente olhou nos olhos do amigo.

"O paciente precisa desse procedimento hoje".

"Então por que você disse que amanhã... ah, ok. Dê-me!". Ela estendeu novamente a mão.

"Desculpe o inconveniente". Ele respondeu ferido entregando os papeis para ela.

"Wilson, eu tive uma semana difícil. Um dia terrível. E eu só quero ir pra casa transar com meu namorado e me esquecer de tudo".

Wilson ficou vermelho imediatamente.

"Não seja puritano!". Ela disse quando notou o embaraço do amigo.

"Não é isso... eu estou com gripe, e fico vermelho".

"Ok". Ela cortou o assunto para evitar exigir ainda mais do dele. "Assinado". Ela devolveu o documento. "Agora eu preciso ir antes que aconteça alguma coisa que me tranque nesse hospital até tarde".

"Bom... Descanso?". Wilson perguntou sem saber o que dizer.

"Boa noite, Wilson!".

Minutos depois Cuddy entrou em seu carro para finalmente ir pra casa, ela estava naquele hospital há pelo menos doze horas e só pensava em estar nos braços de House. Cuddy só precisava sentir que havia um homem forte a envolvendo e a protegendo, não que ela fosse frágil ou precisasse de um homem para sentir-se segura, mas hoje, depois da semana difícil, seria bom deixar-se levar por alguém, não pensar, não decidir nada, só deixar-se levar pelo prazer. Ser amada.

Quando ela estacionou o carro, não demorou e logo subiu para o apartamento dele. Rachel iria ficar com a avó e ela teria a noite livre para aproveitar.

House foi atendê-la usando óculos de leitura, camiseta branca e calça de pijama.

"Boa noite! Eu não quero comprar nada hoje!".

Ele sabia que Cuddy tinha uma enorme atração por ele de óculos. Pois ela nem pensou, se empurrou para os braços dele e começaram um agarramento ali mesmo, na porta da casa dele.

"É melhor entrarmos". House disse quando percebeu que estava endurecendo muito rapidamente. Ela concordou, mas sem perder o foco, continuava agarrada ao pescoço dele.

A pressa era tanta que eles não chegaram ao quarto, no sofá mesmo ela o montou e levou os dois até o ápice em questão de minutos. Depois, ambos respiravam pesadamente abraçados e suados.

"Uau! Eu não estou reclamando, mas... O que foi isso?". Ele perguntou ainda tentando recuperar o fôlego.

Ela riu com os cabelos grudados no peito dele. "Eu precisava disso".

"Pode contar comigo sempre que precisar".

Ela o olhou. "Eu tive uma semana difícil".

"Eu também, não tivemos tempo para ficar juntos".

"Me desculpe. O hospital me sugou".

"Eu e Rachel precisamos de você!". Ele não sabia por que exatamente disse isso, mas ela gostou, e sorriu.

"Eu sei. Eu vou tentar melhorar isso".

"E a pequena Cuddy, está com Arlene?".

"Sim. Ela está com minha mãe".

"Pobre coitada!".

Cuddy riu. "Você nem conhece minha mãe".

"E nem quero conhecer".

"Oh, eventualmente você irá".

"Uh...". Ele gostou de ouvir aquilo, significava que ela apostava na relação deles.

"Minha mãe é difícil".

"Sei...".

"Não, você não tem ideia".

O que Cuddy não contou é que Arlene a estava atormentando dia após dia para conhecer House. Ela despistava, fugia, afinal, era péssimo apresentar qualquer pessoa para a mãe, imagine House? Não que ela tivesse vergonha dele, mas ela conhecia a mãe, e conhecia House. No mais, ela queria privacidade e esperar um pouco mais. Isso é um crime?

"Rachel gosta dela?".

"Rachel não entende e ela dá comida...".

House riu. Aquela menina era esfomeada.

"Agora... Eu não quero falar de minha mãe. Eu quero falar de nós! Ou melhor, fazer algo com você". Ela começou a demonstrar que estava pronta para o segundo tempo.

"Sério?".

"Você não aguenta?". Ela o provocou.

"Oh... não me provoque, pois você irá se arrepender!".

E, dessa vez, foram para o quarto. Lá eles ficaram até o dia seguinte, apenas com uma pequena pausa para fazer um lanche rápido.

Na segunda-feira Wilson encontrou House no restaurante do hospital para o almoço.

"Ei".

"Ei".

"Posso sentar?".

"Não!".

"Wow...".

"Wilson, o que houve? Você está esquisito. Você simplesmente se senta, nunca pergunta".

"Eu estou sendo educado apenas".

"Não, você está estranho".

"Deixa de bobagem". Ele sentou-se. "Então, como está você e Cuddy?".

House franziu a testa. "Bem".

"Sexualmente falando?".

"O que houve, Wilson? Alguém te disse algo e você está especulando?".

"Não, só... curiosidade. Você sempre diz que são ótimos na cama".

"E somos. Esse final de semana foi particularmente fantástico". Ele disse com uma voz sonhadora como quem estivesse se lembrando de algo.

"Legal!".

"O que é esquisita é a sua pergunta e todo o resto".

"Não há nada demais, só estou puxando assunto". House olhou desconfiado. "Afinal, somos amigos. Homens".

A noite House comentou com Cuddy sobre o comportamento estranho de Wilson durante o almoço.

Ela riu. "Eu sei porque".

"Sério?".

"Vocês homens são uns idiotas".

"Conte algo novo!".

"Sexta-feira eu disse para Wilson que estava com pressa para sair do hospital porque estava muito estressada e precisava fazer sexo com você".

House arregalou os olhos. "Você disse assim? Com essas palavras?".

"E qual é o problema? Uma mulher não pode expressar desejo sexual pelo namorado?".

"Oh, acredite em mim... NÃO!".

"Vocês são o quê? Animais?".

"SIM!".

Ela balançou a cabeça. "Não estamos nos anos cinquenta".

"O que ele respondeu?".

"Ele corou. Muito!".

"Oh Wilson, tão puro!".

"Então foi isso. Nada além disso".

"O suficiente para ele imaginar você nua e com tesão".

"Eca!". Ela fez cara de nojo. "Ele é meu amigo. Nosso amigo!".

"Amigos, amigos... Sexo a parte...".

"Não quero pensar que Wilson pensou isso". Ela continuou com cara de nojo.

"Deixa ele pensar, quem estava garimpando o planalto das maravilhas era eu".

"Deixa de ser... tosco!". Ela deu um beliscão no braço dele sobre a mesa.

"Ai!".

"Eu sou sua namorada e não um prêmio de luxo".

"Oh, você é!".

Ela sorriu. "Ok, foi fofo!".

Mas eles combinaram de zombar Wilson sobre isso, no dia seguinte.

Durante o almoço no dia seguinte House estava com Wilson no restaurante, como habitual, mas Cuddy chegou e se uniu a eles, não era comum ela almoçar naquele horário, geralmente ela ia almoçar mais tarde sozinha, comia algo rápido e já voltava ao trabalho ou almoçava fora do hospital em algum restaurante nos arredores acompanhada de doadores, investidores, membros da diretoria, etc.. Nos últimos meses, esporadicamente, ela e House iam almoçar fora do hospital também e geralmente as coisas esquentavam e terminavam no apartamento dele, que era mais perto do hospital. Mas naquele dia ela uniu-se aos dois.

"Wow! Que honra você almoçando conosco". Wilson disse surpreso.

"Ela está almoçando comigo, o namorado dela, você é que está se intrometendo". House zombou.

"Eu vim pelos dois". Ela explicou.

"Uh...". House olhou pra ela fingindo ciúmes.

"Você é meu namorado e Wilson meu amigo". Ela sorriu e deu um selinho nele para a loucura dos funcionários que estavam no restaurante naquele momento. Afinal, há meses o comentário principal naquele lugar era o casal do momento: A reitora e o médico rebelde.

"Ok, se vocês ficarem se beijando eu vou...".

"Deixa de ser bobo Wilson, eu sei que vocês comentam sobe nossas intimidades". Cuddy começou com o plano arquitetado.

"Nós não!". Wilson corou.

"Como se eu não conhecesse House".

"Você se surpreenderia". House respondeu divertido.

"Você deve falar detalhes de nossa intimidade para ele".

"Ele não...". Wilson se intrometeu na conversa do casal.

"Ah claro que sim, por exemplo: como suas aureolas são tão rosadas e incríveis".

Cuddy riu alto.

Wilson corou ainda mais.

"Então não vou dizer também que você morde os lábios sempre que chega ao clímax". Agora era a vez dela.

Agora Wilson estava abrindo o botão da camisa e afrouxando a gravata extremamente incomodado.

"Oh, como se você não gritasse e falasse um monte de palavras maliciosas pra mim". House retrucou.

Ela riu. Eles estavam se divertindo. Mas mantinham um tom de voz baixo para só Wilson ouvir.

"E ontem, por exemplo... Quando você...".

Ela, discretamente, apertou as partes intimas dele por debaixo da mesa para evitar que o namorado fosse muito além na brincadeira. Ele reclamou.

"Ai! Você é louca mulher?".

"E tenho que lembrar que suas bolas são grandes e rosadas?".

"Ok, já chega!". Wilson levantou-se indignado. "Eu não estou com apetite".

House e Cuddy seguraram a risada, mas foi só Wilson sair do restaurante que eles gargalharam.

"Você é má!".

"Se eu não fosse má, eu não estaria com você".

"Faz sentido".

Ela sorriu. Por um momento eles trocaram um olhar insistente.

"Eu tenho que ir! Tenho uma reunião".

"Você nem terminou de comer".

"Estou atrasada".

"Se lançassem uma boneca Cuddy, ela teria algumas frases prontas: 'Estou atrasada!'; 'Eu tenho uma reunião importante!'; 'O que vocês estão fazendo no meu hospital?'; 'Mais House, mais!'".

Ela olhou séria pra ele. "As crianças odiariam essa boneca".

"Quem disse que seria para crianças?".

Ela sorriu. "Você é um idiota, sabia?".

"Mas você me ama!".

"Penso que sim".

Eles sorriram. "Wilson vai ficar traumatizado".

"Ele supera". House respondeu.

Cuddy deu mais três garfadas na comida. "Ok, agora é sério, tenho que ir! Te vejo depois".

"Pode apostar. Eu e minhas bolas enormes e rosadas".

Agora foi ela quem arregalou os olhos, pois ele falou um pouco alto demais. "Ok, tchau pra vocês!".

Ele sorriu sozinho. Por isso ele amava aquela mulher.

...

A noite Cuddy foi até a casa dele, Marina ficaria com Rachel por algumas horas, House e Rachel conviviam pouco e, apesar do tempo reduzido juntos, a menina perguntava sempre por ele. Cuddy estranhou já que não era assim com Lucas.

"Quer jogar vídeo game?". Ele perguntou depois que fizeram amor.

"Não, eu só quero ficar aqui com você um pouco. Marina vai embora logo...".

"UH...". Ele respondeu enigmático. Cuddy não sabia se ele sentia falta de tê-la passando a noite, ele nunca disse nada a respeito, talvez ele até preferisse ficar sozinho, era como ele estava acostumado, não?

"Você tem algo pra comer?".

"Eu tenho muita coisa pra comer, mas nada que você goste".

"Você precisa parar de comer tanta porcaria".

"E você de comer mato".

"Esse assunto não vai a lugar nenhum, certo?".

"Não sei, você quer comer um hambúrguer?".

"Não". Ela fez cara de nojo.

"E nem eu de comer mato, então esse assunto definitivamente não vai a lugar nenhum".

Ela se aninhou nos braços dele. Eles eram tão diferentes e se complementavam tanto que era difícil acreditar. Arlene pressionava a filha para conhecer o namorado dela, a senhora já sabia que não era um judeu, mas mesmo assim estava aliviada por ela estar com alguém, atualmente qualquer coisa bastava, Arlene pensava. Julia tentava convencer a irmã a apresenta-lo para a mãe, propôs um jantar e tudo mais, coisa que Cuddy recusou imediatamente. E ela mantinha totalmente em sigilo essa pressão, House nem imaginava.


"Não pode ser mais idiota do que o seu ex". Arlene falou com a filha ao telefone na semana anterior.

"Ok mãe, tenho que desligar".

"Sim, aquele Lucas era uma criança. Como você pode se sujeitar?".

"Eu não vou discutir...".

"Não foi a toa que você o chutou, demorou demais pra isso".

"Tchau mãe".

"Eu não vou desistir!".


"Lembra na sexta-feira passada quando fomos ao karaokê?". House perguntou enquanto estavam aninhados na cama.

"Que você me fez passar vergonha em público?".

"Você estava muito feliz".

"Eu estava bêbada!".

"Não, eu te conheço bêbada, você só estava... feliz".

"Depois de alguns drinks...".

"Não tenho culpa se você canta mal".

"Eu não canto mal".

Ele segurou a risada.

"Eu canto normal".

"Normal como uma hiena".

Ela bateu no peito dele.

"Aí!".

House a havia incentivado a cantar, e ela assim o fez. Cantou Girl Just Wanna to Have Fun em alto e bom som e não foi uma performance muito talentosa, digamos. House gravou e Cuddy viu no dia seguinte, ela queria matá-lo e se esconder em uma caverna para nunca mais sair.

E se alguém lá a conhecesse? E se aquele vídeo se espalhasse? E se mais gente gravou aquilo?

"Você não devia ter me deixado fazer aquilo, se você fosse um bom namorado...".

"O quê? E perder sua apresentação?".

"Você deveria me proteger".

"Por quê? Não havia nenhum urso pra te devorar".

"Eu sou reitora, tudo o que acontece pode se voltar contra mim, e contra o hospital".

"Ah, no máximo irão dizer que a reitora é desafinada".

Ele apanhou novamente.

"Pra que tanta violência, mulher?".

"Me fale sobre sua mãe!".

"O quê?". House estranhou a mudança repentina de assunto.

"Você nunca fala da sua família. Quem são? Você tem tios? Primos?".

"Isso é vingança pelo karaokê?".

"Não! Eu quero saber. Somos namorados agora".

"E por isso eu tenho a punição de falar sobre minha família".

"Vamos House! É uma conversa simples".

"E sua família?", ele devolveu a pergunta.

"Você sabe muito mais sobre mim do que eu sobre você. Já falei sobre minha mãe, minha irmã, meu cunhado, minhas tias, tios e primos. Meu pai". A voz dela embargou. Cuddy havia sido muito próxima do pai e, apesar do tempo, ainda era muito difícil pra ela lembrar que ele havia falecido.

House percebeu e fez um carinho no braço dela e resolveu falar alguma coisa, para distraí-la. Tudo o que ele não queria era que ela chorasse ali.

"Minha mãe está vivendo a vida desde que meu pai morreu. Ela está viajando com as amigas, e sei lá... provavelmente namorando".

"Namorando?".

"Meu primo me disse".

Cuddy arregalou os olhos. "Você tem um primo com quem conversa de coisas assim?". Era bizarro demais imaginar House fazendo fofocas familiares.

"Coisas assim são as únicas interessantes na família, o resto é um saco. Mas não, não tenho primos de estimação, eu o encontrei por azar no supermercado e ele veio falar comigo".

Cuddy riu alto imaginando a cara de House ao ser abordado por um parente no supermercado. Ele odiava ir a supermercados e ainda por cima encontrou um primo.

"Ele mora em Nova Jersey?".

"Não... Ele estava de passagem".

"Sua família toda morava em Wisconsin?".

"Não, só meus pais e alguns tios. Poucos. Agora minha mãe está morando em Nova Iorque".

"Sério?", Cuddy se surpreendeu.

"Ela está vivendo a vida, te disse".

"Vai Blythe!".

House respirou fundo, ela sabia que aquele assunto não era confortável e por isso estava feliz. Ele estava se abrindo com ela. Não que House fosse machista, mas falar da família em si era esquisito demais pra ele.

"E a casa em Wisconsin?".

"Continua lá".

"Ela não vendeu?".

"Ela jamais venderia a casa do meu pai com as coisas militares do meu pai".

"Uh... E ela mora sozinha em Nova Iorque?".

"Ela mora com amigas, até onde eu sei. Em um apartamento".

"Uau!".

"Uau!". Ele a imitou.

"Ela não vem te visitar?".

"Ela está muito ocupada vivendo a vida que nunca pode. Ela vive viajando, me liga as vezes. Passou sessenta dias na Europa".

"Que bom pra ela!".

"Pois é... Agora... Estou com fome". Ele mudou de assunto e ela não iria forçar muito a barra, apesar de ter inúmeras perguntas ainda.

"Vamos pedir algo?".

Ele sorriu. "Agora falou minha língua!".

Continua...