29 de agosto de 1935:
Devo ter criado algo contra o barulho, ele era irritante e me deixava irritada e com raiva. Preferia o silêncio e eu acho que as pessoas que moravam comigo, perceberam.
Fiquei anos em um lugar sem som algum, apenas com a música em minha cabeça, depois fui para a casa da titia e lá era calmo.
Quando fui para 993 era mais calmo ainda, mas quando cheguei nesse tempo, a irritabilidade se tornou rotina.
Mesmo fazendo Abaffiato, isso só protegia as pessoas de me ouvirem e não ao contrário. Pelo menos quando o papai chegou em casa fez pouco barulho e apenas me acordou.
Tive dificuldade em dormir, mas consegui pegar no sono algumas horas depois.
E quando eles acordaram e saíram de seus quartos, escutei o clique da porta e acordei.
Acho que devo começar a beber a poção sono sem sonhos de vez em quando.
Aliso os dois que estavam brincando na minha cama e eles correram até mim quando perceberam que estava acordada.
_ Bom dia. - Tommy lambeu os meus dedos e Tony se jogou em mim. _ Que abraço gostoso, Tony. - Sorri para ele. _ Temos que nos levantar.
Eles fizeram uma careta e foram até o travesseiro e se deitaram nele. Folgados.
_ Ok, eu vou me arrumar primeiro, continuem o que estavam fazendo. - Sentei-me na cama e um lado do roupão estava aberto.
Tive preguiça demais em colocar um pijama ontem e estava morta de cansaço depois de quase morrer.
Levantei-me da cama e vou até a minha bolsa para pegar roupas, minhas roupas não estavam no closet e Penny quase brigou comigo quando ele viu que não tinha nada no meu closet.
Como já tinha tomado banho de madrugada, não iria tomar um banho novamente. Preguiça estava me matando e eu estava com fome.
Começo a colocar a minha roupa e era uma roupa fresca e com toda a certeza deveria colocar o feitiço que iria esconder as minhas marcas.
Vou pulando até o banheiro enquanto fechava a botinha e começo a escovar os dentes e faço um coque no meu cabelo.
Saio do banheiro e vejo os dois me olhando e vieram até mim.
_ Vamos. - E saio do quarto, mas eu os esperei para fechar a porta. _ Vocês também estão com fome, não é? - Eles pularam e isso era um sim. _ Então vamos comer.
Eles pularam os degraus e pareciam mais energéticos que antes, como eles conseguem ter tanta energia de manhã? Impressionante.
Eles entraram na sala de jantar e entrei logo atrás, vejo os rostos do papai e da Vinda, estavam horríveis.
_ Bom dia. - Falei me sentando e fazendo que os dois bichinhos subissem na mesa e comessem o que queriam comer.
Eles não iriam morrer por comerem comida humana, felizmente.
_ Bom dia? - Papai me perguntou tomando uma sopa e provavelmente era a sopa de ressaca. _ Como você está bem?
_ Só tomei duas taças de vinho ontem e não sou uma pessoa que acha graça em coisas alcoólicas. - Falei partindo o pão.
_ Sorte. - Vinda não falou, ela estava cutucando a sua sopa. _ Eu não encontrei você, onde esteve?
_ Estava na festa. - Sorri e comecei a comer. _ Vocês estavam tão animados que não me viram.
_ Não, acho que isso está errado, eu me lembro de você saindo primeiro para ir ao banheiro. - Papai tinha memória de elefante.
_ E eu voltei e fiquei ao seu lado. - Dei de ombros. _ Acho que vou ao médico. - Já tinha tempo que não ia em um.
_ Está passando mal, mon bijou? - Vinda estava preocupada.
_ Não, eu só quero fazer alguns exames e essas coisas. - Papai estalou os dedos e olhei para ele.
_ Chamarei um curandeiro para você, você não pode ficar zanzando por aí quando já informei sobre a sua identidade.
_ Pensasse nisso antes.
_ E pensei, princesinha.
_ Não vou ficar trancada nessa casa, tenho que sair de vez em quando para visitar uma pessoa. - Eles ficaram esperando que eu falasse quem era. _ Não vou falar. - Papai revirou os olhos.
_ Vou descobrir, sempre descubro.
_ Tente se for capaz. - Sorri bebendo um pouco de suco. _ Mas eu agradeço se você chamasse o curandeiro, não quero ir até .
_ Ok, vou pedir que o Penny o chame. - Penny era mais elfo de nós do que da própria Vinda.
_ Obrigada. - Terminei de comer e sorri para ele.
_ O que a minha princesinha quer? - Perguntou desconfiado.
_ Dinheiro trouxa, vou em uma loja que vende doces que vi quando visitei a família Black.
_ Pensei que você tivesse dinheiro. - Sorri e limpei a minha boca.
_ Dinheiro bruxo e não dinheiro trouxa, e não, não vou ir até Gringotts para trocar o dinheiro.
_ E se eu não tiver dinheiro? - Sorriu e semicerrei os olhos.
_ Eu tenho, mon bijou, você precisa de quanto? - Nós olhamos para ela e ela nos olhou.
_ Vinda, não é necessário dar o seu dinheiro...
_ Mas eu quero, não posso, meu senhor? - Seus olhos estavam chateados e papai ficou indefeso e apavorado.
_ Não foi isso que estava tentando dizer, claro que você pode dar dinheiro para a nossa princesa. - Ele suspirou quando viu o belo sorriso da Vinda.
Acho que alguém foi manipulado com sucesso e não percebeu. Fiquei olhando para os dois e era esse tipo de relacionamento que eu queria, eles se completam e eu, um dia, queria que alguém me completasse e que me entendesse.
Queria ter tido uma infância com eles e não com aquelas pessoas. Talvez eu não fosse desse jeito que sou.
_ Acho que estou vendo o amor florescer. - Falei alto e eles me olharam.
_ Amor? - Vinda perguntou corada e ela nem parecia a segunda do comando depois do meu pai.
_ Sim, amor. - Papai tossiu e não disse nada. _ Vinda, se você fosse pedida em casamento, como seria o seu anel?
_ Nunca pensei nisso. - Ficou pensativa. _ Acho que um simples, não gosto de coisas espalhafatosas e você?
_ Como chegamos nesse assunto? Só uma de vocês irá se casar... - Papai se calou.
_ Isso é verdade, meu senhor. - Vinda sorriu ressentida e olhei brava para o papai.
Eu sei que papai estava falando da Vinda, mas ninguém iria entender isso, ainda mais a Vinda com complexo de inferioridade por conta de sua condição. Acho que devo ajudá-la.
_ Cacatua, idiota. - Ele me olhou surpreso. _ Vinda, não ligue para ele, ele já está caducando e respondendo a sua pergunta. Eu queria um anel que me lembrasse constantemente de quem me deu e poderia ser o anel feito de um caule de uma rosa que não iria me importar com a modéstia.
_ Pensei que você não tivesse sentimentos. - Papai zombou e revirei os olhos.
_ Era um pensamento infantil, retiro o que eu disse.
_ Não, não é um pensamento infantil, mon bijou. É um pensamento lindo, e espero que um dia isso aconteça. - Vinda sorriu.
E apenas sorri, não queria acabar com seu sorriso e com sua felicidade. Mas papai percebeu e se levantou para ir em algum lugar.
_ Vinda, se eu tivesse a cura para a sua condição, o que você iria querer? - Ela mexeu na sua sopa e a bebeu.
_ Eu vivi com isso a vida toda e as pessoas não me aceitaram do jeito que nasci, apenas algumas. - Sorriu. _ Você e, meu senhor, são uma dessas pessoas. E respondendo a sua pergunta, eu não iria querer, estou bem assim e... - Ela não continuou falando.
_ Você se aceitou. - Sorri para ela e queria me aceitar do jeito que eu era, mas eu usava máscaras e feitiços para me esconder.
_ Não poderia esperar uma pessoa fazer isso por mim. - Terminou de beber a sua sopa e limpou a boca. _ Eu vou pegar o dinheiro, já volto.
_ Mas... - Ela já tinha se ido e fiquei na sala apenas com os meus bichinhos. _ Vocês estão cheios? - Eles se deitaram na mesa e fecharam os olhos. _ Vocês não querem aproveitar o sol da manhã? Ele parece estar agradável. - Eles se levantaram e saíram da mesa. _ Não brinquem, vocês estão cheios e acabarão passando mal.
Eles me olharam e pareciam concordar e se foram para o jardim, ainda não fui nele, talvez um dia eu vá. Não gostava de sentir o sol me queimando, ainda mais por saber como a minha pele ficava quando pegava sol demais.
Levantei-me da cadeira e iria subir para o segundo andar, mas Penny me chamou e disse que papai estava me esperando no escritório, um lugar que aparentemente ele pegou para si.
Agradeci o elfo e fui até o escritório.
_ Mandou me chamar? - Abri a porta e além do meu pai, tinha um homem de cabelos grisalhos e de aparência luxuosa.
_ Princesinha, esse é o Victor, ele estudou comigo e é um grande amigo, mas pode chamá-lo de tio Victor. - Entrei no escritório e fechei a porta.
_ Prazer em conhecê-lo, tio Victor. - Estendi a minha mão e ele apertou.
_ Prazer em conhecê-la, minha princesa. - Sorri e ele deixou a minha mão.
_ Victor é um ótimo curandeiro e eu confiaria a ele a minha vida, se eu precisasse. - Victor riu. _ Deixo-a em suas mãos.
_ Deixe comigo. - Papai saiu e me sentei no sofá de couro. _ Qual foi o motivo de procurar um curandeiro?
_ Queria saber se está tudo bem comigo, apenas um check-up. - Ele entendeu e apontou sua varinha para mim.
_ Pretende engravidar? - Pisquei algumas vezes. _ É por isso?
_ Ah, não, não pretendo.
_ Mas quer saber se pode? Se caso aconteça algo para você se prevenir. - Um pergaminho apareceu.
_ Ok. - Não sabia o motivo de ter concordado.
_ Bom, você precisa de algumas vitaminas e de sol. - Franzi a testa.
_ Não gosto de pegar sol, ele queima. - Ele riu. _ Não gosto dessa sensação.
_ O sol da manhã é bom e não queima.
_ Para mim é tudo o mesmo sol e queima no mesmo jeito.
_ Você parece uma criança não querendo comer os vegetais do prato e isso é interessante.
_ Vou aceitar isso como um elogio. - Ele concordou. _ É só isso?
_ Sim, seus ossos estão bons e não tem nada de grave com você, você está ótima. Você já teve acompanhamento com outro curandeiro?
_ Sim, por longos anos, eu tinha anemia e alguns ossos estavam quebrados. - Falei de algumas coisas que ainda me lembrava.
_ Bom, ele é um ótimo curandeiro. - Pegou algo de sua bolsa e concordei com ele.
Dragon realmente era ótimo.
_ Aqui, você só precisa tomar essas poções antes de tomar o café da manhã.
_ Quantos dias devo tomar? - Peguei as poções e ele foi até a mesa e começou a escrever algo em um pergaminho.
_ Por uma semana, sua falta de vitamina não é grave. - Ele me entregou o pergaminho e era os nomes das poções. _ Ou você sente vontade de comer algo estranho? Como geso, por exemplo.
_ Não. - Ele se aproximou e apontou sua varinha para a minha barriga.
_ Vermelho quer dizer que seu útero é seco e não dá para engravidar sem ajuda de poções. - Concordei. _ Roxo quer dizer que precisa de líquido e isso resolvemos com poções e é um pouco mais rápido. - Concordei novamente. _ E verde é que está tudo bem.
_ Ok.
_ Você pode sentir um pouco desconfortável. - Deve dar vermelho por causa do meu sangue.
Ainda mais por não menstruar, isso deve ter feito algo com o meu útero e...
_ Verde. - Fui tirada dos meus pensamentos e olhei para a ponta da varinha. _ Parabéns, está tudo bem para uma possível gravidez.
_ Isso é... - Não sabia como reagir.
_ Maravilhoso? Sim. - Eu não iria dizer uma palavra tão animadora para uma ocasião chocante.
_ Obrigada. - Ele concordou e arrumou suas coisas. _ Se eu fosse...
_ Estarei esperando o seu pai me chamar enquanto perde os cabelos pelo surto ou felicidade. - Não era isso que eu queria ouvir. _ Você tem medo de alguma coisa?
_ Tem certeza de que meu corpo não tem nada? Algo relacionado a velhice? - Se eu contar, já tenho mais de mil anos.
_ Não, você está ótima e em perfeitas condições, e você não está velha, está nova.
_ Se o senhor diz. - Sorri e me levantei. _ O papai deve querer conversar com o senhor. - Ele concordou e fui até a porta carregando quatro vidrinhos de poções e mais um pergaminho.
Abri a porta e papai e Vinda estavam encostados na parede.
_ E aí? - Perguntaram e olharam para as minhas mãos.
_ Você está doente? - Vinda veio até mim e alisou o meu rosto.
_ Não, eu só preciso tomar essas poções para repor vitaminas.
_ E pegar sol. - Revirei os olhos.
_ Infelizmente tenho que pegar sol. - Vinda suspirou.
_ O jardim é ótimo para isso, eu vou colocar essas coisas no seu quarto e você vai para o jardim enquanto isso. - Pegou as poções e os pergaminhos.
_ Mas...
_ Ah! - Se lembrou de algo. _ Pedi um dos garotos que confio para buscar os doces que você queria.
_ Mas eu não falei o endereço.
_ Eu sabia. - Papai levantou a mão culpado. _ Só existe três lojas naquela rua e as três são de doces.
_ Ele vai comprar doces nas três lojas?
_ Sim. - Disseram.
_ Ricos. - Eles riram.
_ Até parece que você não é, princesinha. Agora vá para o jardim e pegue sol. - Papai me empurrou na direção da porta que me levaria até o jardim.
_ Não, não me obrigue a fazer algo tenebroso.
_ Você não é um vampiro para se esconder da luz.
_ Eu vou morrer! - Falei me agarrando em seu corpo e ele me pegou no colo como uma criança e me levou até a porcaria do jardim repleto de sol. _ Você está matando a sua filha!
_ Irei a salvar de uma possível anemia e depressão. - Parei de fazer birra e ele me colocou no chão. _ Boa menina, agora se sente e aprecie o sol.
_ Pareço um cachorro. - Falei me sentando no banco de pedra.
_ Um nada dócil. - Gritou enquanto saia do jardim bem cuidado e com várias flores.
Deitei-me no banco e ele estava quentinho, mas, ao mesmo tempo, frio. Escutei os bichinhos brincando no amplo jardim e apenas suspirei para me conter de fugir do sol que me queimava.
Fechei os meus olhos e lembrei de uma das minhas conversas com o Dragon, ele disse que um dia estaríamos sentados no jardim da mansão Malfoy, isso nunca vai acontecer.
Bocejei e me perdi nos meus próprios pensamentos, hoje iria revê-lo. Ele gostava de doces?
_ Você não pesa nada. - Tapei os meus ouvidos e me aconcheguei ainda mais na coisa quente. _ Você realmente odeia o barulho, devo me certificar que não tenha barulho em casa, princesinha.
Fui colocada em algo macio e era bom.
_ Quem usa salto em casa? - Foi a última coisa que escutei antes de voltar a dormir.
Cocei os meus olhos e vi que o quarto estava escuro, apenas o abajur estava aceso. Estranho, eu não estava no jardim?
Fiz um Tempus e já era meia-noite, merda! Estou atrasada, será que ele já dormiu?
Espero que não.
Saio da cama como um furacão e começo a procurar a minha botinha que deveria estar no meu pé e não ao lado da penteadeira.
A coloco rapidamente e vou ao banheiro, escovar os dentes, passar uma água no rosto e refazer o coque.
Espero que não se importe com um pequeno atraso, espera! Saio do banheiro e fiquei olhando para os bichinhos que dormiam na minha cama.
Ele não sabe que horas que eu iria visitá-lo, não preciso me desesperar.
Peguei a minha bolsa e saí do quarto enquanto eu a arrumava no meu corpo. As luzes estavam todas acesas e agradecia por isso.
Vou até à cozinha e olho em volta, onde estariam os doces? Abro a geladeira e ali estavam eles, as três caixas de doces e levaria as três.
Retiro da geladeira as caixas e as diminuo para ser mais fácil de transportar. Fecho a geladeira com o sapato e saio da cozinha, indo até à porta que me levaria para fora da casa.
O vento noturno me lembrou que de noite era diferente de dia, era frio, mas não tanto que me fizesse tremer.
Era apenas um vento gelado e que me fez arrepiar por estar desprevenida.
Aparato para a rua do orfanato e mesmo sabendo que ele não saberia que horas eu iria visitá-lo ou até mesmo que dia, meu corpo não entendia e minhas pernas começaram a andar rapidamente.
Esse corpo é tão traidor.
Abro o portão de ferro e o deixei aberto, não estava com paciência para fechá-lo, queria comer os doces dessa caixa.
Mas algo me impediu de girar a maçaneta, o escuro que teria ali dentro.
Respirei fundo e tentei contar até cem, mas não adiantou muita coisa.
A porta foi aberta e fiquei surpresa demais para fugir dali ou de obliviar a pessoa rapidamente.
_ Está atrasada, cinco minutos. - Tom falou baixinho e eu ainda estava estática. _ Não fique aqui fora, irá pegar um resfriado. - Pegou a minha que não estava ocupada e me puxou para dentro.
A escuridão me fez arrepiar e eu queria fugir ou acender um lumos, mas as minhas mãos estavam ocupadas para fazer isso.
_ Vamos. - Ele tinha fechado a porta e me levou para cima.
Segurei ainda mais forte a sua mão e pensei que iria ter um ataque cardíaco, queria fugir.
Tentei regularizar a minha respiração e não pensar no que a minha mente estava criando, estava bem e segura, mas a minha cabeça não entendia isso, ela nunca entendia.
Entramos no quarto e respirei fundo quando eu vi uma vela na mesa de cabeceira, eu estava bem.
Larguei a mão do garoto e me sentei na cama e fiz o lumos enquanto tentava não transparecer o meu medo. O vejo fechar a porta e se sentar ao meu lado.
_ O que houve? - Abri a minha boca, mas nada saiu. _ Tem medo do escuro?
_ Um pouco, não é nada de mais. - Sorri e entreguei os doces para mudar de assunto. _ Espero que você goste.
Fiz as caixas voltarem ao normal, ele observou a caixa e logo abriu.
_ Gosto de chocolate amargo, será que tem algum? - Perguntou contente e não me contive em sorrir.
_ Deve ter. - Faço o Abaffiato e peguei um doce estranho. _ Vamos comer até achar.
_ Ok. - Ele pegou um de uma cobertura leitosa. _ Poderia me contar mais do mundo onde as pessoas fazem magia?
_ Bom, temos o Beco Diagonal e ele você encontra tudo. - Expliquei para ele onde ficava o beco e o que tinha nele.
_ E como que faz para entrar? - Tirei a minha bota enquanto explicava.
_ Mas você precisa de varinha para fazer a combinação ou algo que possa expulsar a sua magia de suas mãos. - Ou dedos.
_ E você tem varinha? - Neguei. _ Então como você faz?
_ Aparato para lá, mas você é novo demais para aparatação, então se você for para o Beco em algum momento, peça ao dono do bar ou alguém que estiver entrando no Beco para te ajudar.
_ E como é a escola? Você disse que tinha uma escola.
_ Hogwarts, e nunca estudei nela. - Seus olhos ficaram turvados por alguns segundos, mas talvez seja apenas a luz do lumos fazendo isso. _ Mas eu a construí e ela é perfeita. - Sorri me lembrando do castelo.
_ Construiu? - Concordei. _ Como?
_ Essa é uma história bem longa. - Ele sorriu e falou:
_ Temos tempo para isso. - Largou as caixas na cama e desprendeu os meus cabelos. _ Prefiro você assim.
_ Você é um pirralho atrevido. - Ele sorriu.
_ Poderia tirar o feitiço que esconde você? - Franzi os lábios. _ Você fica mais bonita sem. - Revirei os olhos e retirei. _ Doeu?
_ Sim. - Peguei mais um doce.
_ Então vamos aprender a não fazer doer mais. - Seu sorriso estava lindo em seus lábios, ele parecia uma criança angelical. _ Juntos.
_ Eu não...
_ Juntos. - Repetiu e apenas concordei.
_ Antes de começar a falar, como sabia que eu estava na porta? - Ele sorriu e se sentou mais confortável.
_ Desci para beber água e escutei alguém na frente da porta e logo pensei que era você.
_ Poderia ser um assassino.
_ Eu poderia barganhar com ele para matar todas as pessoas que moram aqui, seria tão divertido. - Ele riu e eu também.
_ Mas ele iria te matar.
_ Ou eu iria matá-lo primeiro. - Deu de ombros e suspirei e falei:
_ Bom, eu sou uma viajante do tempo e tudo começou...
───※ ·❆· ※───
6 de setembro de 1935:
Saio do meu quarto e os dois continuavam brigando enquanto caminhavam comigo ao meu lado. Tommy e Tony ficaram ainda mais inseparáveis, ainda mais quando brigavam por atenção.
Quando eu chamava atenção de um dos dois, o outro iria rir. Pareciam irmãos.
Desci a escadaria e entrei na sala de jantar com os dois. Tony correu para subir em cima da mesa, já o Tommy, se escondeu embaixo da mesa.
Papai estava ao lado da Vinda, e ela estava sentada na mesa da cabeceira como a dona da casa.
Mas antigamente ela se sentava ao lado do papai e ninguém se sentava na cabeceira. Isso mudou, hoje, especificamente.
_ Estão tão sérios, aconteceu algo? - Sentei-me no meu lugar e papai me olhou por alguns segundos e colocou em cima da mesa o meu sapato. O sapato que tirei no baile.
Já se passaram dias e esse sapato foi aparecer justo hoje? Que lástima.
_ Por que esse sapato está manchado de sangue, Leesa? E por que tinha sangue na grama? Não muito longe desse par de sapatos.
Não muito longe? Que eu me lembre, joguei esse sapato em algum lugar antes de vomitar na grama.
Alguém o deixou cair de propósito no meu sangue? Por quê? Talvez fosse para preocupar o papai e a Vinda, ou era para começar uma nova guerra.
Quem sabe?
_ Bom, é um interrogatório? - Olhei para a comida no meu prato. _ Tem Veritaserum na comida ou bebida?
_ Não iríamos fazer isso com você, mon bijou. Só estamos preocupados, já se passaram dias e você nem mesmo nos disse o que aconteceu naquele dia.
Eles se lembraram que desapareci depois de dizer que iria ao banheiro e eles não paravam de me perguntar sobre duas coisas. Sobre onde eu estava e onde eu ia à noite.
_ Não aconteceu muita coisa, apenas passei mal e não quis preocupar vocês, o sapato e o sangue foram as consequências do meu mal-estar.
_ E você não poderia nos avisar? Estávamos a pouco metros de você e você só foi embora sem dizer nada? - Papai estava irritado, já tem dias que ele estava assim. _ E se tivesse acontecido algo pior...
_ Mas não aconteceu e não vai acontecer, está tudo bem. - Digo comendo. _ O que tanto preocupa vocês?
_ O seu bem-estar. - Vinda falou por fim. _ Não está comendo normalmente já tem dias, está no mundo da lua e sempre ri sozinha. Está apaixonada por alguém? - Engasguei-me com o suco. _ É pelo Pollux? Ele é um homem crescido e sabe dialogar com convicção de suas palavras, acho que é um bom rapaz.
Não estou comendo direito por causa das poções e felizmente aquelas poções ruins acabaram ontem.
_ O Black? - Papai me perguntou. _ Sério? Um Black? Eu sei que ele é o primogênito, mas ele é apenas um Black, não lhe trará glória e reconhecimento nos livros de história.
_ Por Merlim, não estou apaixonada por ninguém. - Sequei a minha boca com o guardanapo. _ E não estou comendo muito porque estou comendo fora.
Isso era verdade, aquele garoto me entupia de comida, comida que eu levava para ele e ele não me deixava falar que não estava com fome.
_ E Pollux é apenas uma pessoa que conheci por acaso, não tenho nenhum sentimento romântico por ele. - Falei por fim.
_ Ainda bem, não quero ser sogro de um Black. - Sorri e falei brincando.
_ E de um Slytherin? - Eles ficaram quietos por alguns segundos. _ O que foi?
_ Um Slytherin? - Eles perguntaram e concordei.
_ Eles ainda existem? - Vinda ficou surpresa.
_ A linhagem principal não, mas as suas ramificações sim. E o herdeiro da linhagem está vivo e poderá requerer os seus direitos com 17 anos.
_ Um Slytherin. - Papai sorriu. _ Ainda mais vivo? Filha, que dia podemos marcar o casamento? - Larguei o garfo e fiquei o olhando. _ O que foi? Foi você quem perguntou.
Amassei com os meus pés o Tommy que estava debaixo da mesa e ele lambeu os meus dedos do pé.
_ Mas nunca pensei que o senhor fosse aceitar tão rapidamente. - Papai deu de ombros.
_ Mon bijou, você pode se casar com quem você quiser. Nós iremos aceitar o seu cônjuge.
Por que sempre falamos de casamento no café da manhã?
_ Não estavam aceitando o Pollux.
_ Eu não estava aceitando e não aceito esse Black. - Papai declarou.
_ Fique tranquilo, papai. Não quero Pollux, na verdade, não quero ninguém.
_ Bom, você ainda é nova e não quero te levar para o altar tão rapidamente. Na verdade, é melhor não se casar, poderá ficar ao meu lado para sempre.
Viu? Ele é contraditório.
_ Você não precisa de mim para ficar ao seu lado, tem a Vinda. - Ela tossiu e pediu desculpas por isso. _ Vocês se merecem, se complementam. Muito melhor que uma tal de Byella.
_ E falando nela, ela saiu segundos depois de você. - Papai comentou.
Tinha me esquecido que ela existia.
_ Espero que tenha morrido. - Volto a comer.
_ Bom, como você está bem e diz que está. Eu e Vinda teremos que nos ausentar por alguns dias.
_ Por qual motivo?
_ Dumbledore, ele está fazendo coisas que me desagradam profundamente.
_ Que dia ele te agradou em algo?
_ Quando fizemos o juramento. - Deu batidinhas no seu peito. _ Espero que você não dê uma festa na mansão Rosier.
_ Como se eu pudesse fazer isso. - Revirei os olhos. _ Mas. - Olhei para Vinda. _ Penny ficará na mansão?
_ Sim, ele estará aqui para te ajudar em suas necessidades diárias. Por quê?
_ Quero aprender a fazer doces e biscoitos. - Dou de ombros.
_ Não seria melhor apenas pedir ao Penny que faça? - Papai perguntou desconfiado. _ Ou pedir o garoto que busque biscoitos naquela loja que você gostou?
_ Quero aprender a fazer algumas coisas e eu acho que assar biscoitos é a forma mais fácil.
_ Por que sinto cheiro de homem saindo de sua boca? - Ri e continuei comendo.
_ Você só pensa em homens, será que você gosta de homens?
_ Não vou negar. - Deu de ombros. _ Bom, espero que você não coloque fogo na casa.
_ Tentarei o meu melhor. - Digo enquanto comia.
_ Então, quando eu voltar, quero experimentar os seus biscoitos.
_ Claro. - Continuo comendo. _ Espero que vocês não demorem, em agosto irei partir. - Eles ficaram me olhando.
_ Tentaremos chegar antes que você se vá. - Concordei. _ O que quer de aniversário?
_ Nada, não irei envelhecer mesmo. - Vinda ficou confusa.
_ Como assim? É uma consequência da viagem do tempo?
_ Podemos colocar dessa forma, nunca terei 29 ou 40 anos. - Limpo a minha boca. _ Mas se for calcular, eu tenho uns mil anos. - Se for contar o tempo que passei em 993.
_ Mas eu quero comemorar o seu aniversário, será o primeiro de muitos que virão. - Sorri para ele.
_ Claro, ficarei aguardando os meus presentes.
_ Não será apenas o meu que irá receber. Irá receber de vários, irei informar os meus seguidores sobre o seu aniversário e eles irão adorar ver a princesa deles novamente. - Revirei os olhos.
_ Não acha que podíamos fazer algo pequeno, meu senhor? - Vinda perguntou e concordei com ela. _ Leesa irá desaparecer e algumas pessoas irão se perguntar por ela se ela aparecer por mais vezes, ainda mais aquele ministro.
_ Concordo com a Vinda.
_ Bobagem, temos que comemorar. - Dai-me paciência.
_ Tudo bem, faça o que você quiser, mas não prometo estar até o final da festa. - Levantei e Tony e Tommy me olharam atentos.
_ Onde você iria? - Papai perguntou e sorri.
_ Papai, sinto muito, mas não sou uma adolescente que precisa dizer para os pais o que vai fazer e que horas irei chegar em casa. Não sei se você se lembra, mas sou uma adulta. - Pisquei para ele e saí da sala de jantar.
Vamos aprender a fazer biscoito, não deve ser tão difícil. Afinal, são biscoitos.
Fui até a cozinha e ela estava vazia e fiquei procurando o elfo, mas ninguém apareceu.
Sentei-me no balcão da cozinha e fiquei observando o lugar. Ele era moderno para a época, mas antigo para o meu gosto. Tommy voou até o meu colo e arranhou o meu braço com sua pata, ele queria carinho.
Será que o little lord já sentiu um cafuné?
O que estou pensando? Eu não o odeio? Sim, eu o odeio muito, mas ele é interessante, intrigante e irritante.
Eu o odeio por me fazer sentir curiosa com suas ações, o odeio por estar presa com ele para sempre, mas sinto instigada a estar em sua presença.
_ O que devo fazer, Tommy? - O peguei e coloquei perto do meu rosto. _ O que devo fazer? Prometi que iria vê-lo até agosto e isso pode ser perigoso, não acha?
_ "Miau".
_ Sim, tem razão. - Coloquei ele no meu colo novamente. _ Alguns meses na presença dele não vai mudar nada, ele vai continuar irritante e apenas irei saciar a minha curiosidade, e quando ele estiver em Hogwarts, seguirei com o meu plano. Você é tão inteligente. - Acariciei ele.
Olhei ao redor e não vi o Tony, onde aquele bichinho fofo se meteu?
_ Você não comeu o seu irmão, não é?
_ "Miau". - Ri e concordei como se entendesse tudo que ele estava dizendo.
_ Você é superinteligente e as pessoas irão morrer de inveja quando eu mostrar você a elas. Olha como meu gatinho é superlegal. - Queria o esmagar, ele era tão fofo.
_ "Miau". - Coisa fofa.
Beijei a sua cabeça e continuei acariciando-o.
_ Penny se atrasou, Penny pede desculpas a princesa. - Um elfo afobado entrou na cozinha e iria começar a se bater.
_ Não se preocupe, não demorou tanto. - Dou de ombros e ele ficou estático por alguns segundos. _ Poderia me ajudar a assar biscoitos?
_ Penny ajudará a princesa, Penny fará o melhor que puder. - Sorri e coloquei o pequeno gatinho no balcão e saio dele.
_ Não sei que tipo de biscoito que ele gosta, mas sei que ele gosta de chocolate amargo, temos isso? E podemos fazer outros sabores, o que acha?
_ A cozinha da madame tem muitos ingredientes, principalmente chocolate amargo e a princesa pode fazer quantos biscoitos quiser. - Ele falou contido.
_ Não podemos exagerar. Três ou cinco fornadas de biscoitos diferentes será o suficiente.
_ Penny irá pegar as coisas.
_ Obrigada. - Sorri e ele ficou me olhando surpreso. _ Prometo não incendiar a casa. - Ele riu e colocou suas mãos na boca como se fosse errado fazer aquilo. _ Tudo bem, é engraçado.
_ Minha princesa. - Ele falou choroso e limpou seus olhos grandes no pano em que usava. _ Penny não merece tanto respeito. - Foi até o armário enquanto chorava.
Elfos são estranhos, mas eu os compreendia. Eles eram carentes de carinho e atenção, mas quando uma pessoa demonstrava isso a eles, eles ficavam surpresos e faziam de tudo para ajudar a pessoa que demostrou aquilo para eles.
Eles me faziam lembrar da Leesa de 15 anos. Aquela rabugenta e com falta de afeto, a Leesa que se agarrou a família Malfoy como se eles fossem o único porto seguro que ela teria na vida.
Queria ir até ela e dizer que ela teria vários portos seguros, mas ela teria um porto seguro que ela nunca iria se arrepender de confiar. Em si mesma.
Mas tinha vezes que ela deveria confiar nos outros e devo aprender isso ou acabarei me machucando.
Ajudo Penny a colocar as coisas no balcão e quando tudo estava ali, o elfo começou a dizer o que eu deveria fazer e a sujeira que eu estava fazendo era impressionante.
Espero não explodir a casa ou que esses biscoitos não ficassem ruins.
Cortar os morangos me fez perceber que eu era ótima em fatiar pessoas, mas péssima em fatiar morangos. Cortei meus dedos umas quinze vezes e o sangue carmesim era um pouco impressionante. Sempre vi preto. E todas às vezes Penny tentou se matar entrando no forno
Tommy e Tony riam da nossa desgraça e quase pensei em cozinhá-los, mas eles eram fofos demais e eu não seria capaz de fazer isso com os pobres bichinhos.
Mas com os humanos já era outra coisa.
Penny insistiu em colocar band-aid nos meus dedos, mesmo eu dizendo para ele que meus dedos iriam se curar em poucos segundos.
Já poderia ser a mulher com a mão enfaixada, porque a minha mão estava quase virando uma. Bom, quase uma, já que a minha mão não estava enfaixada de fato.
Mas poderia me fantasiar de múmia no Halloween se Penny continuasse com isso.
E eu acho que os meus cortes estão cicatrizando mais rapidamente e isso era surpreendente. Antigamente os meus cortes demoravam e precisavam ser tratados pelo Dragon.
Depois que fui para 993, os cortes dos meus dedos se curavam em menos de dez segundos. Agora, eles se curavam em menos de 2 segundos.
Será que isso tem a ver em estar no mesmo ano que o little lord? Isso seria interessante.
Paro de pensar e começo a cortar a barra de chocolate e ela foi mais difícil que cortar os morangos. Pelo menos os morangos eram macios.
Era bem capaz dessa faca sair da minha mão voando como aconteceu com a Helga. Mas diferente dela, a faca que irá preferir ficar longe da minha mão.
_ Você é um desastre. - Olhei para o lado e papai estava todo pomposo. _ Isso é morango no seu rosto? - Passei a mão no meu rosto e realmente era. _ Eu acho melhor você pedir ao Penny para terminar isso ou você irá colocar fogo na cozinha, ou irá acabar se matando.
_ Pare de me diminuir, eu vou conseguir assar esses malditos biscoitos, ou não me chamo Francesca Francisca. - Papai riu.
_ Com certeza você não se chama assim. - Ele pegou um pedaço do chocolate que eu estava cortando e o colocou na boca. _ Delícia, isso é chocolate amargo suíço?
_ Eu não sei, talvez seja. - Dou de ombros e coloco os pedaços de chocolate dentro de uma panela, tinha que derreter eles.
_ Isso me lembra o meu tempo de escola, em fevereiro todos estavam loucos para saber qual menina seria corajosa o suficiente para presentear o seu amado com chocolate.
_ Dia dos Namorados? - Ele concordou.
_ O tão famoso Valentinstag, e ganhei muitos bombons feito à mão. - Ele sorriu pegando mais um chocolate.
_ Falando nesse dia, me conta uma coisa. - Ele prestou atenção. _ Você gosta da Vinda? - Ele começou a tossir e suas bochechas estavam coradas. _ Você gosta. - Isso!
_ Para de ser irritante e comece a fazer seus biscoitos.
_ Não sou irritante e só disse a verdade. - Ele revirou os olhos e tentou pegar mais um chocolate, mas bati em sua mão. _ Para de comer os meus chocolates.
_ Sua pirralha atrevida, vou te colocar de castigo.
_ Como se pudesse fazer isso. - Sorri e entreguei a panela para o Penny. _ E você, senhor Gellert, pode parar de fingir que não sente nada pela a Vinda. Eu apoio vocês dois, acho ela uma mulher sensacional, então pare de enrolar algo só porque está com medo.
_ Não estou com medo. - Fiquei o olhando. _ Talvez eu esteja e sou apenas o senhor dela, ela não pensa em mim desse modo.
_ Eu já fui cega, muito cega durante doze anos, não seja eu, não seja estúpido, e Vinda gosta do senhor, ela me disse. - Ele ficou surpreso. _ Compre flores ou compre um castelo e declare o seu amor eterno para aquela mulher que faria de tudo para te ver bem e feliz. Não seja idiota.
_ É muito estranho receber conselhos da minha filha. - Revirei os olhos.
_ A vida é estranha. Falei tantas vezes que não faria algo e acabei fazendo. Somos humanos e nós nos arrependemos e aprendemos com os arrependimentos.
_ Quem foi a pessoa que gostava de você e você não descobriu? - Vou para o fogão e começo a mexer no chocolate.
_ Meu primo, Draco Malfoy.
_ Incesto?
_ E você liga para isso? O nosso mundo é cheio de incesto, namorar o primo ou se casar com um não é nada.
_ E você gostava dele?
_ Como irmão, não o via dessa forma. Ele era casado e tinha um filho que era o meu afilhado. - Ainda é, espero que ele esteja bem.
_ E se ele não fosse? E se ele não fosse casado?
_ Não sei, talvez. - Não me importo muito de dar uma resposta conclusiva. _ Você não deveria sair?
_ Está me expulsando da minha própria casa? - Papai pegou uma garrafinha de água e começou a bebê-la.
_ A casa não é sua e você não é casado com a Vinda.
_ Quem não é casado comigo? - Papai se engasgou com a água. _ Meu senhor, você está bem? - Vinda foi até o meu pai para tentar ajudá-lo.
_ S-sim. - Papai me olhou irritado.
_ Vinda, você pretende se casar? Sei que já conversamos sobre isso, mas você é nova e bonita. E você já se aceitou, vai ter uma pessoa que você goste e vai te aceitar também. - Continuei fazendo as minhas coisas e não olhei mais para os dois.
_ Não acho que qualquer pessoa iria se interessar por mim. - Escuto ela vindo até mim. _ Estou feliz tendo essa vida. - Beijou a minha bochecha. _ Posso considerá-la como a minha filha? - Paro de mexer no chocolate e fico supressa com sua fala.
_ Claro. - Sorri. _ Só que, se você me considera como filha, você e meu pai são casados? - Olhei para ela e suas bochechas estavam coradas.
_ Leesa! - Papai veio até nós. _ Vinda, não ligue para a fala dessa menina, ela está...
_ Não estou doida, apenas informei um fato, ou você me fez e largou a Vinda sozinha e desamparada nesse mundo cruel? - Falei com lágrimas nos olhos. _ Você é tão cruel, abandonando a mãe de sua filha.
Eles me olharam pasmos e tentei não rir. Entreguei a colher para o Penny e abracei a Vinda.
_ Mamãe, você merece uma pessoa melhor, e você precisa esquecer desse homem que só a fez sofrer. - Vinda me olhou e me abraçou.
_ Mon bijou, eu não posso, eu amo esse homem e amo o seu pai como nunca amei um homem na vida. - Devemos ser contratadas para fazer novelas.
_ Mas, mamãe... - Tentei chorar ainda mais. _ Ele nos abandonou e ele não te merece.
_ Acabou? - Olhamos para o papai. _ Acho que o seu teste de herança está errado sobre a sua mãe. Vocês são idênticas. - Nós nos olhamos e sorrimos.
_ Somos mãe e filha, afinal. - Dissemos juntas.
_ Tanto faz, parece que acabei de assistir uma novela e bem dramática. - Rimos.
_ Mas não estou brincando, se sou a filha da Vinda, isso quer dizer duas coisas. Vocês são casados ou se separaram. - Eles ficaram se olhando. _ E prefiro a primeira opção. - Pisquei e tomei o lugar do Penny. _ Sejam felizes, vocês podem estar no meio de uma guerra, mas isso não significa que não podem encontrar o amor.
_ Sabe que as suas palavras são contraditórias com suas convicções, não sabe?
_ Só porque não quero amar ninguém, isso não quer dizer que quero que o mundo siga os meus pensamentos.
_ Você precisa parar de ficar fuxicando a vida alheia e começar a mexer na sua. - Apertou a minha bochecha.
_ Mas, papai. Mexer na minha vida não é divertido, das pessoas é muito melhor. - Ele continuou apertando a minha bochecha.
_ Vou fingir que nada aconteceu...
_ Você está fugindo do amor. - Larguei a colher na panela e fugi dele. _ O amor é lindo, deixe ele entrar no seu coração! - Gritei me escondendo atrás da bancada para fugir da colher que ele me jogou.
_ Volta aqui, mocinha. - Levantei-me e comecei a correr pela cozinha e ele corria atrás de mim.
_ Você está velho, será que está com medo de encontrar o seu amor por causa disso? Da velhice batendo na... - Ele pegou a sua varinha e isso começou a ficar perigoso. _ Isso é injusto, eu não tenho varinha. - Gritei antes de me jogar no chão para fugir de um feitiço.
_ Espera, meu senhor. - Vinda me protegeu, minha salvadora. _ Ela falou algo interessante, até agora não vimos a nossa filha usando sua varinha. - Ela falou nossa? Ela aceitou isso muito bem.
Vamos, papai, pergunte sobre aquela palavrinha. Aquele "nossa" que ela acabou de dizer.
_ Leesa, cadê a sua varinha? - Burro.
_ Não tenho uma, nenhuma varinha gosta de mim. - Levantei-me do chão e vejo que Penny já tinha colocado os biscoitos para assar, ele era tão rápido.
_ Nenhuma? - Papai ficou confuso e pegou a sua varinha e me entregou. _ Tente a minha. - Poderia dizer a ele que já testei a varinha das varinhas, mas não quero explicar como fiz isso.
_ Ok. - Peguei a varinha e ela rapidamente voou da minha mão e papai a pegou no ar. _ Eu avisei.
_ Isso é interessante, nem a varinha das varinhas gostou de sua magia. Fascinante.
_ Espero que o Olívaras tenha uma varinha que goste um pouquinho da minha magia, se não, não terei varinha para Hogwarts. - Dou de ombros e me sento ao lado dos meus bebês.
_ Bom, ele é um dos melhores fabricantes de varinha e ele deve ter feito alguma coisa para você. - Papai veio até mim e bateu nos meus ombros. _ Eu te vejo em algumas semanas. - Ele emoldurou o meu rosto com suas mãos e beijou a minha testa. _ Qualquer coisa que você não consiga resolver, você sabe como me chamar, não sabe?
_ Sei, mesmo não sabendo falar muito bem alemão. - Ele riu. _ Tome cuidado, sim?
_ Está preocupada? - Ele sorriu.
_ Estou, mas confio em você. - Beijei suas bochechas. _ Volte sem nenhum arranhão, ok?
_ Ok. - Vinda veio até nós e me abraçou.
_ Se eu conseguir mandarei cartas para te notificar sobre as nossas condições. - Ela parecia meio triste, por que isso parece uma despedida? _ Um duende irá vir aqui, não brigue com ele.
_ Por que eu iria brigar com um duende? - O que ela está aprontando?
_ E também não brigue comigo. - Beijou a minha bochecha. _ Vamos? - Perguntou para o papai e ele concordou. _ Vejo você daqui a algumas semanas.
_ Até. - Vejo eles saírem da cozinha e fiquei olhando para o forno. _ Penny, se a Vinda morrer, com quem você irá ficar?
_ Penny ficará com a família principal ou... - Ele me olhou e sacudiu a sua cabeça. _ Penny não pode contar, a senhora não deixou.
_ Tudo bem, eu entendo. - Vinda, você está planejando morrer?
Pensa que vou deixar? Sou uma pessoa que não deixará ninguém morrer, não estou mais indefesa, não estou mais presa.
E mesmo que as minhas asas não estejam curadas, consigo voar e consigo salvar pessoas que são importantes para mim.
Faço um feitiço de limpeza em mim e na cozinha e tudo estava em perfeito estado.
_ Penny ficará olhando os biscoitos, a princesa pode descansar. - Discordei.
_ Ficarei aqui e não tenho nada para fazer mesmo. - Deitei-me no balcão e Tommy se aconchegou ao meu lado, mas Tony ficou em cima da minha barriga. _ Vocês estão ficando folgados.
Começo a acariciar os dois e fecho meus olhos por alguns segundos, mas para o mundo foram algumas horas.
_ Minha princesa? - Sinto alguém me cutucando. _ Minha princesa, você não pode continuar dormindo, temos visitas.
_ Não ligo, mande embora. - Me virei e apertei a coisa macia que estava ao meu lado. _ Fofo.
_ Minha princesa, são duendes e parece ser importante. - Duendes, o que duendes querem comigo?
Não quero me levantar, mesmo estando na... Sinto cobertores me cobrindo e uma cama macia embaixo de mim, estranho, não dormi na cozinha?
Isso já está virando rotina.
_ Quem me trouxe para o meu quarto? - Perguntei me sentando na cama.
_ Penny, minha princesa. Achei que a senhorita ficaria desconfortável dormindo em um lugar duro. - Sorri e me lembrei dos dias que dormi em um lugar pior que um balcão.
_ Obrigada. - Cocei os meus olhos e me levantei indo até o banheiro.
_ Penny não merece os seus agradecimentos, minha princesa.
_ Diga aos duendes que já estou indo.
_ Como desejar, minha princesa. - Ele sumiu e sequei o meu rosto.
_ Vocês irão ficar aqui? - Perguntei enquanto calçava uma pantufa.
_ "Miau". - Ele levantou a cabeça e continuou deitado.
_ Ok, não se matem. - Saio do meu quarto e vou até à sala de visitas e vejo Caspra e outro duende. _ Senhores, qual é o motivo da visita? - Os cumprimentei e me sentei.
_ Senhorita Granger. - Caspra sorriu e o outro duende ficou sem entender. _ Como sou o duende que está guardando o seu cofre, tenho que estar presente se você receber algo a mais.
_ E o senhor? - Olhei para o duende com óculos meia-lua.
_ Sou o duende que cuida dos cofres da família Rosier, tanto a principal e as ramificações. - Ah, o duende que a Vinda disse que iria vir.
_ Entendo, por favor, me expliquem o motivo da visita de vocês.
_ Perdoe-nos por vir em uma hora tão tardia, senhorita Grindelwald...
_ Eu ainda não tenho Grindelwald. - O duende ficou confuso.
_ Então, como posso chamá-la e identificá-la nos papéis?
_ Caspra? - Perguntei para o duende que sorriu prontamente.
_ A minha senhora tem três sobrenomes, mas ela não pode usar eles. Ela tem Malfoy, Avery e Grindelwald, mas passará a usar Granger.
_ Diga-me uma coisa, era esse sobrenome que você disse que eu teria?
_ Talvez. - Sorriu.
_ Então a chamarei a partir de hoje de senhorita Granger. - Concordei com o duende. _ Eu me chamo Kenny Gringotts, serei o sucessor do senhor Caspra quando ele vier a se aposentar em 1940. - Será que foi por isso que ele não sabia do sangue?
Mas Kenny não deveria se lembrar de mim como o Caspra se lembrava? Algo aconteceu com esses dois, mas o quê?
_ Estarei em suas mãos, senhor Kenny. - Ele sorriu. _ Então, por favor, comece.
_ Ah, sim. A senhorita Vinda Rosier foi até ao banco e me procurou para colocar uma pessoa como herdeira de suas propriedades e fortuna.
_ E eu sou a herdeira? - Ele concordou e vejo Caspra sorrir. _ Você está se lembrando do passado?
_ Sim, me lembro perfeitamente quando a senhorita fez o seu afilhado como herdeiro da família Avery, e o mundo não gira, ele capota. - Revirei os olhos.
_ Mas para a sua informação, irei aceitar e posso ser a herdeira, mas isso só se alguma coisa acontecer com a Vinda, algo que não vai.
_ Acredito na senhorita. - Sorriu e olhou para o Kenny. _ E não se preocupe, você não terá Rosier no seu sobrenome. - Isso era um pouco óbvio. _ Informe tudo a ela.
_ Claro. - Ele tirou de uma maleta alguns papéis. _ Isso são as propriedades da senhorita Vinda. - Me entregou os papéis.
_ Pensei que ela só tivesse essa casa em seu nome. - Comecei a contar quantas casas que ela tinha pelo mundo afora.
_ Deveria ser apenas essa, mas com o dinheiro que ela vem recebendo de suas ações que ela comprou de algumas empresas, ela comprou outras casas e a está usando como base para os seguidores do senhor Grindelwald.
_ E a Nurmengard? Pensei que a maioria dos seguidores estivesse lá.
_ E estão, mas tem alguns que não querem abandonar o seu país de origem. Patriotismo que chamamos. - Kenny sorriu e retirou outro papel de sua maleta.
_ Bastante patriotas. - Sorri e continuei lendo os papéis. _ Três casas na França? Na minha época não tinha nenhuma.
_ Ela comprou em 1927. - Dias ou meses depois da minha partida. _ Aqui está o valor que está no cofre pessoal da senhorita Vinda.
_ Eu posso ver isso?
_ Pode. - Caspra respondeu. _ Quando a senhorita passou o cofre para o seu afilhado, o seu primo viu tudo que ele receberia.
_ Entendo. - Peguei a folha e vejo que era um valor alto para essa época. _ Eu devo assinar...
_ Aqui, nesses papéis você só precisa assinar o seu nome. - Entregou os papéis.
_ Sobrenome também?
_ Não será necessário. - Concordei e peguei a pena que ele estava me oferecendo e assinei os papéis.
_ Quero abrir um cofre para uma pessoa. - Falei entregando os papéis ao Kenny.
_ Uma criança? - Caspra sabia demais.
_ Sim, uma criança e ele usará esse cofre para comprar suas vestimentas, materiais para Hogwarts e coisas que ele quer comprar.
_ Mas as crianças têm o direito...
_ Eu sei, mas quero pelo menos dar um pouco de conforto para essa criança e ela tem que ter o bom e do melhor.
_ Claro e quanto está pretendendo colocar nesse cofre?
_ Pelo menos uns 200 milhões de galeões. - Fiz as contas e tenho pelo menos 2 bilhões, devo colocar ele no meu cofre. _ E quero colocar um pouco no meu cofre.
_ Quanto?
_ Quero colocar um pequeno valor de aproximadamente 1 bilhão e 500.
_ A senhorita ainda acha que 1 bilhão é troco de bala? - Caspra me perguntou e sorri.
_ Acho, agora eu acho.
_ Certo, farei a papelada do novo cofre e mandarei uma carta para você entregar o dinheiro que irá depositar.
_ Ficarei no aguardo. - Ele concordou e se levantou.
_ Não podemos tomar muito o seu tempo, espero que fique bem e o seu papel estará no seu cofre.
_ Fico mais aliviada por isso. - Levantei e os levei até a porta. _ Te vejo qualquer dia, Caspra.
_ Até. - Eles sumiram e faço um feitiço de tempo. _ Dormi por tanto tempo assim?
Fecho a porta e vou até o meu quarto, precisava mudar de sapato.
Entro no meu quarto e vejo que os dois estavam brincando na minha cama.
_ Eu vou sair, se comportem.
_ "Miau". - Sentei-me na cama e comecei a colocar o sapato.
_ Não, não posso levar vocês e vocês têm que ficar aqui protegendo a casa, conseguem fazer isso, não conseguem? - Eles se olharam e se abraçaram. _ Isso, vocês são fortes e protegerão muito bem onde a gente está vivendo.
Levantei-me da cama e cutuquei os dois e saio do quarto.
_ Penny? - Chamei o elfo e ele apareceu. _ Os biscoitos ficaram prontos?
_ Sim, Penny colocou os biscoitos dentro de um saquinho, quer que eu traga?
_ Sim, obrigada. - Ele estalou os dedos e dois saquinhos apareceram. _ Obrigada, Penny. Eu vou sair, qualquer coisa você sabe como me encontrar.
_ Penny sabe.
_ Até. - Saio da mansão e aparato para a rua do orfanato.
Um vento gostoso bateu na minha nuca e continuei caminhando, iria encarar mais uma vez o meu medo. Mas já tinha alguns dias que não estava me importando tanto quanto a última vez.
E pensar que não tenho mais a mania de dormir abraçada com a minha bolsa, bom, troquei essa mania por um travesseiro, mas é muito mais confortável.
Abro o portão do orfanato e continuo caminhando. Paro na porta e faço a minha magia ver se alguém além daquele garoto estava acordado. Não queria ser presa.
Depois de alguns segundos ela voltou e sinto ela me dizer que não tinha ninguém acordado, apenas o garoto irritante.
Abro a porta da frente e a fecho devagar. Subo a escadaria e vou até o final do corredor.
_ Você está atrasada. - Revirei os meus olhos e fechei a porta atrás de mim.
_ Quantos minutos dessa vez? - Faço um lumos e o Abaffiato.
_ Dois, dois minutos.
_ Melhorei, na última vez me atrasei por cinco minutos. - Me sentei ao seu lado. _ Toma e espero que você goste. - Entreguei os biscoitos e ele ficou olhando para um lugar fixo.
_ Você quem fez? - Olhei para as minhas mãos e elas estavam com os band-aid ainda. _ Foi doloroso?
_ Não, não foi doloroso. - Ele concordou e pegou um dos saquinhos. _ E sim, eu que fiz, espero que eles não estejam ruins.
_ Você sabe que se estiver eu vou falar, não é?
_ Você não tem compaixão e nem empatia. - Ele me olhou e tombou a cabeça.
_ O que é isso? É de comer? - Ele estava zombando. _ E estão bons. - Comeu mais um. _ Quer?
_ Aceito. - Peguei um e o coloquei na boca.
Tirei os meus sapatos e me encostei na parede. Ele colocou os pés em cima de mim e eu o olhei.
_ Você é muito folgado.
_ Eu sou uma criança, tenho que ter o melhor dos confortos. - Revirei os olhos. _ Você revira muitas vezes os olhos.
_ Vai brigar comigo por causa disso?
_ Não estou brigando, só comentei um fato.
_ Você é tão chato. - Peguei outro biscoito.
_ Mas sou o único que te compreende.
_ Até o momento.
_ Não vai existir outro, sou único. - Ele tinha razão nisso.
_ Por que não vai existir outro? Você vai matar a pessoa?
_ Você está sendo muito extrema, eu só disse um fato e você já quer me colocar como assassino. - Suas palavras podem ser "confiáveis", mas o seu sorriso o entregava.
_ Você vai virar um. - Pontuei comendo um biscoito. _ Somos dois assassinos, um brinde. - Peguei outro biscoito e bati no seu.
_ Um brinde. - Ele continuou comendo. _ Prefiro você com cabelos soltos. - Coloquei a mão na cabeça e percebo que estava de coque. _ E prefiro ver as suas marcas, por que as esconde?
Isso eu não o contei, achei que não era apropriado contar no segundo dia que nós nos vimos.
_ Você tem que parar de fazer perguntas.
_ Você estava com elas quando veio pela primeira vez.
_ Naquele dia estava morrendo por sua culpa. - Ele deu de ombros. _ E elas são horríveis e as pessoas iriam comentar sobre duas cobras e um vira-tempo em minhas costas, e está fazendo calor e não posso usar blusa de frio.
Ele não sabe da terceira cobra e vai continuar assim.
_ Você liga para as pessoas? Pensei que fosse mais dona de si.
_ As palavras não ferem tanto quanto antes, mas elas... - Respirei fundo. _ Elas ainda machucam.
_ Já fui chamado de muita coisa e ainda me chamam. - Ele retirou os seus pés da minha perna e segurou a minha mão. _ Mas não ligo mais.
_ Duvido muito, você quer que todos eles morram.
_ Isso é verdade.
_ Então você ainda liga para o que eles dizem.
_ Somos estranhos. - Ele riu e era uma risada fofa. _ Mas gosto de sermos estranhos, não nos faz únicos?
_ Bom, faz. - Ele apertou a minha mão. _ Um dia vou ter orgulho de ter essas marcas...
_ Eu não tenho orgulho de suas marcas, anjo, tenho orgulho de você.
_ Obrigada, todos dizem que estarão sempre comigo ou que aceitam como sou. Mas nunca me disseram isso.
_ E essas pessoas estão com você?
_ Não, elas se foram. Algumas eu que deixei, as outras foram tiradas de mim.
_ Nunca iria dizer algo desse tipo se eu não soubesse o que iria acontecer comigo.
_ Mas você não sabe. - Ele ficou me olhando e concordou. _ Você sabe?
_ Não, infelizmente. Mas você sabe e poderia me contar para ver se eu posso dizer certas coisas para você.
_ Tipo o quê? Que você morre em 1998?
_ Sim, e que me ajude a não morrer em 1998.
_ Serei a sua consultora do futuro?
Bom, ele não é burro, infelizmente. Ele acabaria chegando na conclusão de que vim do futuro.
_ Eu acho que consultora do futuro é um nome meio merda. Mas podemos dizer que somos parceiros de negócios.
_ Amigos com benefícios? - Ele sorriu.
_ Até o momento, sim. - O que ele quis dizer com isso?
_ O que essa cabecinha está tramando? - Cutuquei a sua testa. _ Não pense em coisas estranhas.
_ Mas não estou e apenas concordei com suas palavras. - Ele colocou o saquinho na cama e, se ajoelhou nela e tirou o elástico dos meus cabelos. _ Muito melhor.
Meus cabelos caíram em uma cascata e uma grande parte caiu no meu rosto.
Ele os retirou do meu rosto e sorriu.
_ Você apenas me vê, anjo. E eu apenas vejo você. - Revirei os olhos e arrumei os meus cabelos. _ Queria saber o seu nome.
_ Não.
_ Injusto.
_ Eu já disse, a vida não é justa. - Peguei o último biscoito do saquinho e o comi.
_ Então vou fazer que a vida seja justa para nós dois.
_ Ok, irei esperar por isso. - Tirei o feitiço do meu corpo. _ Está feliz?
_ Sim. - Ele alisou as minhas cicatrizes do braço. _ Quem as fez?
_ Um homem que quero matar.
_ Perguntei o nome e não o que você vai fazer com ele. - Irritante. _ Sim, eu sou irritante.
_ Harry, Harry Potter. - Vejo seus olhos perderem o brilho e suas mãos estavam cerradas. _ O que foi? Vai pegar as minhas dores para você?
_ Por quê? Por que ele fez isso com você?
_ Porque tenho coisas que podem prejudicar o mundo das trevas, o mundo que ele abomina e ele queria os nomes das pessoas que ajudaram o Lorde e eu tinha, tinha todos os nomes que achavam a...
_ Eu sou o Lorde? - Eu não disse? Não falei que ele era inteligente?
_ Sim, você é o Lorde, o futuro Lorde das Trevas.
_ Você protegeu as pessoas que me seguiam?
_ Sim, mas não foi por você, tinha coisas importantes na minha bolsa e fui torturada por ele, torturada por doze anos. - Ele me olhou e eu não via pena em seus olhos e nem tristeza, apenas raiva. _ Ele pensava que me torturando eu iria falar os nomes.
_ E por que não falou?
_ Eu não conseguia, fiz uma barreira em minhas memórias e algumas memórias são tão nebulosas que nem me lembro delas.
_ Você deve se odiar muito.
_ Sim, mas também te odeio e muito.
_ Eu vou fazer você parar de me odiar.
_ Impossível. - Abri o outro saquinho de biscoito. _ Eu te odeio há bastante tempo, não tem como parar de odiar uma pessoa em poucos meses.
_ Mas esse ódio não pode virar outro sentimento?
_ Não, eu não vou deixar. - Ele revirou os olhos e continuou alisando as minhas cicatrizes.
_ Eu vou crescer e vou fazer você ficar ao meu lado.
_ Vou esperar sentada porque em pé cansa. - Ele riu. _ Não quero estar ao seu lado, Tom. Não quero nada com você.
_ Então por que está aqui? Ao meu lado.
_ Para saciar a minha curiosidade.
_ Você tem certeza de que quando você se for e nunca mais aparecer aqui, estará saciada? Anjo, eu sou a única pessoa que você pode contar tudo, sou a única pessoa que te entende.
_ Não, terá outra pessoa.
_ Quem?
_ Meu futuro marido. - Uma pessoa que não quero conhecer, mas ele não precisa saber. _ Você não é o único que existe no mundo.
_ Mas sou o único neste momento que você pode contar tudo, já que você vai apagar as minhas memórias.
_ Isso você tem razão.
_ Então você vai me contar tudo.
_ Estou com preguiça.
_ Vamos falar sobre os nossos medos, eu tinha medo do escuro, mas comecei a me sentir confortável com ele.
_ Eu sou o oposto, preferia o escuro, mas agora prefiro a luz. Fiquei por quase três anos apenas no escuro, apenas escutando uma música na minha cabeça.
_ E você venceu o medo? - Acho que escondi muito bem o meu medo naquele dia.
_ Ainda odeio o escuro, mas não acho ele tão abominável. Porque sei que ele irá sumir se eu acender a luz, mas antes, antes não podia fazer isso.
_ Então, na próxima vez que você aparecer, vou deixar uma vela... - Apontou para a sua mesa de cabeceira. _ Bem ali.
_ Por quê?
_ Para você não ter medo e para você saber que mesmo você passando por tudo isso, estou aqui, estou aqui para você. - Alisou meu rosto e tombei a minha cabeça para o carinho. _ Estou fazendo certo?
_ Está. - Fechei meus olhos. _ Sua mão parece a patinha do meu gatinho.
_ Vou levar isso como um elogio. - Mas é um elogio, infelizmente. _ O que mais você tem medo?
_ Das pessoas me abandonando, das pessoas me esquecerem ou de acordar e ver que eu ainda estou naquele lugar.
_ Que lugar?
_ Na cela do ministério. - Ficamos em silêncio. _ Você não é uma ilusão, não é? Você não é apenas a minha cabeça me pregando peças para me confortar, não é?
_ Sou real. - Abro os meus olhos e o vejo.
_ Sim, você é real. - Naquela noite contei tudo sobre o ministério e ele não me julgou com aqueles olhos.
───※ ·❆· ※───
15 de setembro de 1935:
_ Não, pode voltar. - Revirei os meus olhos e tirei o elástico do meu cabelo. _ Muito melhor, vem. - Bateu na cama e fechei a porta e fiz o feitiço Abaffiato.
_ Trouxe um livro ótimo e pipoca. - Sorri tirando os meus sapatos e subindo na cama.
_ Você tomou banho?
_ Tomei, quer cheirar? - Perguntei me sentando ao seu lado e ele cheirou o meu pescoço. _ E aí? Cheirosa, né? Posso ter passado quase um ano em 993, mas ainda era limpa e continuo sendo.
_ Odeio sujeira.
_ Eu sei, come. Está muito bom. - Entreguei o saco de pipoca, ainda estava quente e com gostinho de manteiga.
_ Que livro você vai ler hoje? - Começamos a fazer sessões de leitura, não queria falar de política com ele.
Não era por causa que ele era uma criança, era porque não queria me lembrar que do outro lado desse cômodo, o mundo que odeio tanto e quero destruir, existe.
Nesse lugar pequeno, abafado e que agora só existia duas chamas de velas em vez do meu lumos. Era como o meu novo refúgio, mas eu posso sair daqui à hora que eu quiser e ele pode sair daqui a qualquer momento.
Eu não estou presa, não estamos presos.
_ Meu pai me recomendou esse livro quando o visitei em Nova York em 1925. - Mostrei a capa para ele.
_ Ele já voltou de viagem? - Ele já estava sabendo de quase toda a minha vida.
_ Não, ainda não. Mas a minha mãe me mandou uma carta dizendo que eles estavam bem.
_ Alice no País das Maravilhas. - Sussurrou lendo o título. _ Quem eu seria? O coelho ou Chapeleiro Maluco?
_ Você já leu?
_ Quem não leu esse livro?
_ Eu. - Digo abrindo o livro. _ Como você já leu, me diga quem eu seria?
_ Bom, a Alice é a protagonista e ela seguiu o coelho e acabou caindo na toca e foi apresentada ao mundo mágico. O país mágico, na verdade.
_ Sou a Alice?
_ Não, acho que não. É mais fácil ser o coelho ao invés da Alice.
_ Papai me disse que eu parecia o coelho e ele disse que o coelho sempre está com pressa e que sou assim.
_ Bom, eu acho que você é o coelho, mas de outro jeito. Você que me apresentou o mundo.
_ Então você é a Alice?
_ Podemos colocar dessa forma, quero conhecer o mundo e você parece conhecer perfeitamente esse mundo.
_ Não conheço.
_ Se eu começar a viajar pelo mundo, você iria comigo?
_ Já estamos planejando uma viagem pelo mundo?
_ Sim. O que acha?
_ Você vai pagar? Não tenho dinheiro.
_ Mentirosa, mas fui eu quem te convidou, então nada mais que justo pagar a viagem, não acha?
_ Sim, perfeito. - Como se fossemos fazer isso, você nem vai se lembrar de mim.
_ Claro, isso só vai acontecer se eu me lembrar de você. - Ele conseguia ouvir meus pensamentos?
_ Certo, Alice. - Ele riu. _ Vamos viajar para a Albânia primeiro, tem algo que quero saber.
_ Ok, você quem manda. - Fechei o livro, não estava a fim de ler.
Aconcheguei-me na cama e usei o ombro do garoto como travesseiro.
_ Está cansada?
_ Não, entediada, deveria ter vindo para 1936 ao invés de 1935.
_ Você teria morrido. - Bem lembrado.
Ele tirou os meus cabelos das minhas costas e cutucou a minha pele. Retirei o feitiço e ele começou a alisar as cobras.
Ele não conseguia ver a terceira cobra.
_ Ainda fico impressionado com essas cobras que mexem com os meus toques.
_ Elas gostam de você, diferente de mim.
_ Sim, vou fingir que acredito.
_ Você tem alguma marca em seu corpo?
_ Por quê? Irá me vender?
_ Por Merlim. - Ri e ficou desconfortável, ele era pequeno.
Deitei-me na cama e ele não pareceu gostar disso, não estava ligando para os sentimentos dele.
_ Cresça e não ficará desconfortável.
_ Ok, irei comer melhor.
_ Bom. - Como ele vai fazer isso? Devo fazer o elfo trazer as refeições para ele?
_ Não tenho nenhuma marca como você.
_ Sério? - O olhei e ele começou a comer a pipoca. _ Por que só eu que ganho marcas pelo corpo? Que injusto!
_ O mundo e a vida não são justos. - Ele repetiu as minhas palavras. _ Você sempre fala isso.
_ Sim, sempre falo para você e você não pode usar essas palavras contra mim.
_ Por quê? Fere o seu ego? - Zombou.
_ Eu posso pegar esse travesseiro e te matar sufocado.
_ Você irá morrer.
_ Será uma morte prazerosa. - Digo devagar.
_ Duvido, você iria começar a chorar pedindo que eu não morresse e que você gosta muito da minha companhia.
_ Chato.
_ Idiota. - Nós nos olhamos e sorrimos. _ Somos perfeitos.
_ Para destruir o mundo.
_ Corrigir o mundo. - Melhorou a minha frase.
_ Mas faremos isso sozinhos, você de um lado e eu do outro. Não quero estar em sua presença depois de agosto. Entendeu? - Falei pegando um pouco de pipoca.
_ Você é chata, por que não admite logo que somos melhores juntos?
_ Porque eu te odeio. - Ele revirou os olhos. _ E, porque você é chato demais.
_ Somos dois chatos e eu não te odeio, gosto de você.
_ Então passe a me odiar, será melhor assim.
_ Tudo bem, eu vou te odiar, mas você vai saber que gosto de você.
_ Como vou saber disso? - Ele sorriu.
_ Porque sempre vou estar ao seu lado, mesmo você não percebendo.
_ Duvido muito.
_ Não duvide das minhas capacidades, anjo. - Virei de lado e dou as costas para ele. _ Por que não pensamos que esses meses nunca irão passar e iremos continuar assim por toda a nossa vida?
_ Não, é chato pensar assim. - Fechei os meus olhos. _ E onde você arrumou velas?
_ E eu já te disse que não vou te falar. - Irritante. _ Você já gostou de alguém?
_ Não, mas as pessoas têm a mania de gostar de mim.
_ Romanticamente?
_ Sim. Eu não entendo o porquê de isso acontecer, mas Dragon gostou de mim e Salazar iria anular o casamento por minha causa e Pollux, ele tinha uma paixonite de adolescente por mim.
_ E quem seriam esses?
_ Pollux Black, Salazar Slytherin e Draco Malfoy, o meu primo. - Sinto ele pegar o livro dos meus braços e colocar em algum lugar.
_ E você não gostou de nenhum deles?
_ Não, eu só via eles como conhecidos, amigos ou irmãos.
_ E por quê?
_ Porque eles eram bonzinhos demais. - Bufei e disse: _ Eu não sei, tá legal? E eu só machuco as pessoas, não sei se eu teria a capacidade de amar alguém. Então decidi que não amaria ninguém, eu sou muito melhor sozinha.
_ Então, estarei ao seu lado enquanto você estiver sozinha. - Ele se deitou na cama.
_ Mas aí não estarei sozinha.
_ Não, você vai estar. Você disse que é muito melhor sozinha na questão romântica, mas não na questão amizade.
_ Não quero ser sua amiga, queria te matar. - Ele riu. _ Não ria de mim.
_ Não, vou continuar rindo, você não me manda.
_ Pirralho irritante. - Ele cutucou as minhas costas.
_ Se eu tivesse uma marca em meu corpo, não seria uma cobra. Seria algo que representasse você e não é uma cobra. - Estava ficando com sono.
_ E o que iria me representar? - Digo sonolenta.
_ Um coelho, Leesa. - Franzi a testa e jurei que escutei o meu nome saindo da boca do garoto.
Mas como era possível se eu nunca disse o meu nome para ele?
_ Bons sonhos. - Não, não quero dormir...
Acordei com alguém batendo na porta e parecia que iria quebrá-la.
_ Eu... - Minha boca foi tapada por uma mão macia e percebi que não estava no meu quarto.
Abri os meus olhos e vejo os olhos que aprendi enxergar em qualquer escuridão. Eles poderiam ser normais, mas eram tão únicos e aqueles olhos poderiam me reconhecer em qualquer multidão.
Ele colocou o seu dedo indicador nos seus lábios e pediu silêncio.
O Abaffiato já tinha saído do quarto e tudo que eu falasse, a pessoa atrás da porta iria escutar. E talvez eu fosse presa e não quero ser presa.
_ Sua aberração, saia logo desse quarto ou você não terá nada para comer.
_ Eu não como muito mesmo. - Gritou o garoto.
_ Olha aqui, sua peste, se você...
_ Eu não vou sair. Ficarei com fome até a hora do almoço, porque sou um garoto desobediente. - Escutei a mulher bufar e algumas crianças rirem.
Ele me olhou e retirou a sua mão da minha boca. Eu me sentei na cama e o observei.
_ Está com fome?
_ Não. - Sua barriga roncou e ri. _ Isso não é do meu estômago, é...
_ Eu sei a diferença do barulho do estômago e do intestino. Vou pedir ao Penny que traga algo para nós.
_ Quem é Penny? - Cada dia que passa estou me prendendo a esse garoto, pelo menos ele não vai se lembrar de nada.
_ Um elfo. - Dou de ombros e chamei o elfo. _ Penny, bom dia.
_ Minha princesa. - Ele gritou e coloquei o Abaffiato rapidamente no quarto. _ Sabe o quão preocupado eu estava? - Começou a chorar.
_ Está tudo bem, estou bem. - Tentei acalmá-lo. _ Penny, por favor, me escute, estou com fome.
_ Fome? - Ele secou suas lágrimas no pano que usava. _ Minha princesa está com fome?
_ Sim e o meu convidado também. - Apontei para o garoto que não estava assustado.
_ Vou trazer rapidamente. - Antes que ele fosse embora, entreguei o saco de pipoca que estava pela metade e o livro.
_ Obrigada. - Sorri e ele desapareceu. _ Aquela mulher é sempre assim?
_ Sim, desde que eu me lembre. - Lembrei de algo.
_ Ontem você disse o meu nome? - Ele me olhou confuso.
_ Seu nome? Você não me contou ele e ontem apenas falei: bons sonhos.
_ Mas... - Ele não poderia saber o meu nome, devo estar alucinando. _ Tudo bem, devo ter ouvido errado.
_ Mas bem que você poderia me dizer o seu nome... - Peguei o travesseiro e comecei a sufocá-lo. _ Estou... Brincando! - Tirei o travesseiro do seu rosto e ele estava todo avermelhado. _ Estou brincando. - Disse em um só fôlego.
_ Idiota.
_ Você é tão má comigo. - Revirei os olhos. _ Sou tão bom com você.
_ Não, não é não. - Levantei da cama e me espreguicei.
_ O que fiz...
_ Você existe. - Olhei para ele.
_ Isso não é motivo para ser má comigo.
_ Não, é motivo suficiente. - Fui até a janela e vejo algumas crianças correndo. _ Odeio crianças.
_ Você odeia muitas coisas.
_ Sim, nasci para odiar coisas.
_ Devo estar no seu top três de ódio.
_ Está no primeiro lugar.
_ Fico feliz por isso, isso quer dizer que sou muito especial em seu coração. - O olhei e ele estava sorrindo, parecia um anjo.
_ Não vou te contradizer.
_ Porque eu disse a verdade. - Ele ficou me observando. _ Você é muito mais bonita a luz do dia.
_ E você é muito mais feio, acho que é por isso que prefiro te visitar de noite.
_ Obrigado. - Que pessoa estranha.
_ Não te fiz um elogio.
_ E o que é que tem? Eu não ligo muito para elogios ou coisas que você fala sobre mim, sei que é mentira.
_ E se não for?
_ O espelho do banheiro me diz o oposto e as tias da biblioteca me dizem que sou muito bonito para a minha idade e tem algumas que dizem que eu poderia ser algum príncipe perdido.
_ Tudo cega.
_ Elas usam óculos.
_ Deveriam trocar o grau. - Ele riu e veio até mim.
_ Você é bem alta.
_ Ou você que é baixinho? - Zombei.
_ Vou ficar maior que você, apenas espere.
_ Vou ficar contando os dias. - Continuei olhando para fora e alisou as minhas costas. _ Você tem alguma coisa contra as minhas costas?
_ Não, só acho elas bonitas.
_ Eu as acho horríveis e você não sente que elas são deformadas?
_ Você está dizendo que você era um pássaro e elas foram quebradas? - Nunca contei isso para ninguém, não desse jeito. _ Eu acho suas asas lindas, mesmo deformadas, você quer ajuda para curá-las? Para você se sentir bem consigo mesma.
_ Elas não são horríveis?
_ Não, elas dizem exatamente o que você passou e quão poderosa você é. Você aguentou tudo sozinha e vê que ser sozinha é melhor forma, você pensa assim por estar machucada. - Sinto as cobras se mexendo nas minhas costas.
_ Deveria pensar em me unir a você?
_ Sim, mas isso depende de você e não de mim. Vou te fazer mudar de ideia e você estará ao meu lado e não se escondendo atrás de mim, tentando me manipular como um boneco de ventríloquo.
_ Será você...
_ Não, ninguém vai manipular ninguém e seremos um só, anjo. Seremos as únicas pessoas que estarão em pé de igualdade nesse mundo e os outros. - Ele riu. _ Os outros serão os nossos servos, seguidores. Seremos sócios.
_ Sócios. - Brincar de faz de conta não é tão ruim assim.
───※ ·❆· ※───
2 de outubro de 1935:
_ A senhorita tem certeza de que quer colocar 200 milhões em uma conta para o Lorde? - Ele já tinha feito essa pergunta umas três vezes em apenas dez minutos.
_ Sim, Caspra. Eu tenho. - Empurrei mais uma vez os sacos de dinheiro. _ E faz duas chaves e nunca, em hipótese nenhuma, você dará permissão de retirada para Dumbledore ou outra pessoa. Apenas terá duas permissões.
_ Uma sua e outra para o jovem Lorde?
_ Sim. Mas não se preocupe, não irei retirar dinheiro nenhum...
_ Irá colocar mais? Leesa, você sabe que esse dinheiro não é quase nada para ele, não sabe?
_ Ele é apenas um órfão que não tem dinheiro ainda. Ou ele tem?
_ Ter tem, mas não pode usufruir dos seus direitos por não ter feito 17 anos.
_ Não tem como mudar isso?
_ Você quer que ele consiga os seus bens e propriedades com quantos anos, minha dama?
_ Talvez com 14 ou 15 anos?
_ Você irá assinar um documento dizendo que tomará responsabilidade dele?
_ Eu vou ser a mãe dele por acaso?
_ Talvez a esposa? - Ele sorriu sádico.
_ Terei Slytherin e Riddle no sobrenome? - Sorri para ele e ele ficou estático.
_ Pensei que o odiasse. - Vamos brincar.
_ Não, eu passei amá-lo e acho que quando ele se tornar um homem com capacidades mentais suficientes, posso me casar com ele. Teremos quatro filhos e iremos morar na mansão Slytherin. - Ele começou a rir e fiz a mesma coisa.
_ Seu senso de humor ficou melhor, pensei que iria brigar comigo por dizer para você se tornar a esposa do jovem Lorde.
_ Já fui assim, se fosse antigamente iria ficar brava, mas agora. - Dou de ombros. _ Não ligo muito, isso não vai acontecer mesmo.
_ Como pode ter tanta certeza?
_ Ele não faz o meu tipo.
_ Mas ele é apenas uma criança, ainda.
_ Exatamente, não curto pedofilia.
_ Mas ele vai crescer.
_ Não curto assédio.
_ E ele poderá querer te cortejar.
_ Não curto pessoas mais novas.
_ Mas se colocar na ponta do lápis, ele é mais velho que você. - Merda, ele tinha razão. _ Muito mais velho, se não colocarmos que você passou alguns meses em 993, você ainda só tem 28 anos e não mil.
_ Não curto pessoas idosas. - Ele me olhou e começou a rir.
_ Você sempre coloca um obstáculo, já percebeu que você gosta do garoto?
_ Caspra, eu não vim aqui para você rir da minha vida, quero que você coloque esse dinheiro no cofre do little lord. Entendeu? - Ele bufou e concordou.
Ele chamou um duende e entregou os sacos de dinheiro e fiquei esperando até que as chaves ficassem prontas.
_ E o dinheiro que você disse que iria colocar no seu cofre? - Bem lembrado.
_ Pelo menos ele é apenas um saco. - Magia extensiva é uma maravilha.
Peguei o saco de dinheiro na minha bolsa e o entreguei. E o saco logo desapareceu, acho que como o Caspra cuida dos meus cofres, ele tem acesso imediato a ele. Interessante.
_ Alguém perguntou sobre você.
_ Quem?
_ Malfoy, Septhis Malfoy.
_ Meu bisavô, o que ele quer?
_ Queria saber se eu conhecia a senhorita Rosier e ele se interessou por você.
_ Por favor, não me diga que ele está tentando...
_ Não pense em coisas estranhas, senhorita. Ele me informou que talvez você esteja interessada em fazer negócios com ele.
_ Não. - Ele concordou.
Esperamos o duende retornar e entregou a chave para o Caspra. Caspra duplicou a chave e me entregou as duas, e as coloquei na minha bolsa.
_ O número do cofre é 0717. - Concordei. _ Você realmente quer fazer a papelada de liberação da herança dele? Você tecnicamente vai estar casada com ele.
_ Com separação total de bens? Não quero nada dele e ele não terá nada meu. - O duende riu e concordou.
_ Bom, podemos fazer isso, mas ele terá que assinar e vocês só poderão se divorciar com os dois querendo isso.
_ Posso fazer um Imperius nele e...
_ Não. - Merda.
_ Então vamos fazer um casamento por contrato.
_ E qual vai ser a primeira regra? - Ele pegou um pergaminho para anotar o que eu iria falar.
_ Que não estamos casados de fato. - Ele me olhou e começou a rir. _ Pare de rir.
_ Leesa, você realmente o odeia tanto assim?
_ Sim. Agora, faça o papel para eu levar para aquele garoto assinar.
_ Eu só irei abrir essa exceção por causa que você ajudou muito os meus ancestrais. Mas se fosse outra pessoa, esse papel nem poderia existir, já que ele é apenas uma criança.
_ Estamos burlando suas leis, seus ancestrais devem te odiar agora.
_ Nada que alguns galeões entrando na nossa conta que eles não calem a boca.
_ Pegue 1 milhão do meu cofre e agora faça o papel. - Ele sorriu e seus dentes pontiagudos ficaram mais aparentes.
_ Gosto de fazer negócios com a senhorita.
_ E eu odeio enrolação. - Ele continuou sorrindo e começou a fazer o papel.
_ Devo mudar o seu sobrenome também?
_ Não. - Se ele mudar, teria que explicar o motivo de ter Slytherin e Riddle para aquelas pessoas. _ Não acha estranho eu me casar com uma criança? - Ele parou de escrever e me olhou.
_ Você vai fazer sexo com ele?
_ Não. - Que nojo.
_ Vai beijá-lo?
_ Na boca? - Ele concordou. _ Não, credo.
_ Então não acho estranho, você apenas está querendo ajudar, e era a única alternativa, ou você quer ser a mãe dele? Nesse não tem como cancelar.
_ Não, muito obrigada.
_ Então pare de pensar besteira.
_ Ok, eu só achei estranho. - Dou de ombros. _ Posso cancelar esse casamento a qualquer momento?
_ Não, precisa de pelo menos 7 anos para poder cancelar.
_ Por quê?
_ Porque esse é o tempo que um casamento bruxo passa a ser inválido.
_ O que quer dizer com inválido? Me explique direito, nunca me casei. - Não eu pelo menos.
_ O casamento bruxo tem suas regras, pelo menos dez anos precisa ter um filho.
_ Mas a Byella já era casada com meu padrasto há mais de 10 dez anos.
_ Eles faziam sexo.
_ Caspra, não queria ter essa imagem na minha cabeça. - Ele riu. _ Quer dizer que se eu não fizer sexo com little lord em sete anos, o casamento será inválido e eu posso pedir divórcio com justa causa?
_ Bom, a magia que vai cancelar o seu matrimônio. Então, mesmo que eu queira cancelar ele agora mesmo, a magia do pergaminho não vai deixar.
_ Isso não é casamento por alma, não é?
_ Não, casamento por alma é mais burocrático e precisa dos dois.
_ Então estarei casada com o little lord até 1942?
_ Beirando ao 1943.
_ Little lord terá 15 a 16 anos.
_ Uma boa idade para fazer sexo. - Ele riu. _ Não com você, não existe só você no mundo, minha dama.
_ Acha que ele terá uma companheira? - Perguntei mexendo nas minhas mãos.
_ Minha dama, você já viu como ele era em sua adolescência? Não terá uma pessoa na Terra que não o deseje. Espera, tem você e o Dumbledore. - Revirei os olhos.
_ Certo. Isso é melhor.
_ Sim, isso é melhor.
───※ ·❆· ※───
25 de outubro de 1935:
Tem semanas que não vou até ele, tudo por causa da minha dignidade.
Eu não vou fazer aquele garoto assinar esse papel, não vou mesmo. Nós já estamos presos por causa de um feitiço e não vou me prender a ele a um casamento. Mesmo que eu saiba que poderei pedir divórcio, eu não vou fazer isso.
Não sou idiota ainda.
Amassei o pergaminho em meus dedos e o rasguei em vários pedacinhos. Eu realmente queria ajudar aquele garoto a ter sua herança mais cedo.
Mas posso ajudá-lo de outra forma, posso aumentar a quantidade que coloquei no seu cofre, mas me casar com ele... Nunca!
Faço o pergaminho evaporar no ar e suspiro em alívio. Tudo está bem agora, nada está me prendendo a ele, apenas um feitiço e só isso.
Levantei-me da cama e calcei os meus sapatos. Não posso fugir dele para sempre, tenho que entregar a chave para ele e dizer adeus.
Prometi que eu iria vê-lo até agosto, mas não posso fazer isso. Ele tinha razão, irei acabar me viciando em estar ao seu lado. Ao lado de uma pessoa que posso contar tudo e que não teria medo dele me olhar com aqueles olhos.
Os olhos julgadores.
Eu o odeio, o odeio tanto. Mas a pessoa que eu odeio é a única que me entende. Vai entender esse mundo louco.
Olho para o quarto e vou até à mesa de cabeceira. Retiro da minha bolsa a chave e a coloquei no bolso da calça.
Como não estou saindo, eu acho melhor usar calças.
Passo a mão nos meus cabelos e sinto que ele estava preso e retiro o elástico.
_ Vocês se comportem. - Digo antes de sair do quarto e descer a escadaria.
_ Princesinha. - Por quê? Por que vocês tinham que chegar justo hoje?
_ Papai. - Sorri e fui até ele. _ Acabou de chegar? - O abracei e vou até à mamãe. _ Mamãe. - Ela me abraçou.
_ Mon bijou, como tem passado?
_ Bem, na medida do possível. - Como vou sair daqui?
_ Kenny me informou que você assinou os papéis, fico mais aliviada. - Ela segurou as minhas mãos e as apertou.
_ Eu só fiquei um pouco chateada de saber que sou sua herdeira pela boca de outra pessoa.
_ Mon bijou, eu não sabia como te dizer isso. - Ela nos levou até a sala e sentamos. _ E seu pai me disse em cima da hora que tínhamos que viajar. Me perdoe, deveria ter conversado com você primeiro.
_ Por que você está colocando a culpa em mim? - Papai estava sentado no sofá a nossa frente e Penny entregava uma xícara de chá a ele.
_ Porque a culpa é do senhor, eu tinha chamado o Kenny para nos visitar naquele dia, mas você me disse que teríamos que viajar e nem deu tempo para escrever uma carta avisando para cancelar.
_ Eu não vou discutir.
_ Está tudo bem, o Kenny me explicou tudo e assinei.
_ Não achou estranho e apressado?
_ Não, foi tudo no tempo certo e obrigada por me fazer a sua herdeira. - Beijei suas mãos.
_ Não precisa agradecer, eu tinha que achar alguém, não queria dar a minha herança para a família principal. Eu dou até para aquela mulher, mas para a família principal não.
_ E falando em Byella, ela voltou? - Papai me perguntou.
_ Ela não apareceu aqui, então eu não sei como responder essa pergunta.
_ Agora me diga, como passou o mês? - Como vou dizer que passei quase um mês inteiro apenas pensando em um casamento de mentira?
_ Bem, como eu já disse. Não fiz muitas coisas. - Penny me olhou e tentou ir até à cozinha.
_ Penny, por que você olhou para a nossa princesa com esse olhar julgador? - Papai, seja burro como foi naquele dia.
_ Nada, meu senhor. - Papai me olhou e suspirei.
_ Não brigue com ele, estou saindo quase todos os dias e é por isso que ele me olhou.
_ Saindo? - Eles me perguntaram.
_ Sim, saindo e eu tenho que ir. Não posso me atrasar. - Levantei-me.
_ Atrasar? Com quem você está saindo? - Papai perguntou.
_ Com um psicopata, mas não se preocupe, ele não vai me matar. - Sorri e saio da sala.
Saio da mansão e aparato na rua do orfanato, poderia aparatar no quarto dele, mas eu acho que iria fazer muito barulho.
Bagunço os meus cabelos e eu não precisava retirar o feitiço do meu corpo já que ele estava completamente coberto com uma blusa de frio.
Era outubro, afinal de contas, e chovia quase todos os dias. Mas não estava muito frio, estava um clima ideal para ficar na cama e não sair mais dela.
Dessa vez eu não faço a minha magia procurar por pessoas acordadas, não estava ligando muito para isso.
Abro a porta da frente e não me importei com a escuridão, eu sabia que no segundo andar tinha um quarto com duas velas acesas.
Fecho a porta e começo a subir a escadaria. Passei olhando em volta e mesmo no escuro eu sabia o quão perturbador esse lugar poderia ser.
Horrível.
Abro a porta e vejo o garoto que adorava me perturbar. Ele tirou o livro da frente do seu rosto e ficou me observando.
_ Quase um mês sem vir aqui. Pensei que tivesse morrido. - Fechou o livro e se sentou. _ Mas aí eu me lembrei que se você tivesse morrido, eu também teria.
_ Sim, estou atrasada. - Fecho a porta e faço o Abaffiato. _ Eu tenho os meus motivos para não vir aqui.
_ Quero todos. - Concordei.
_ O primeiro é sobre o cofre que fiz para você. - Peguei do meu bolso a chave e o entreguei. _ Essa chave é do cofre em Gringotts, você vai conhecer ele quando você for comprar os seus materiais no Beco Diagonal.
_ Mas como eu vou me lembrar de ter um cofre se você vai retirar as minhas memórias? - Sorriu balançando a chave.
_ Eu vou retirar a minha presença de suas memórias, mas não as informações úteis que te dei. - Me sentei ao seu lado. _ No cofre contém 200 milhões de galeões, espero que isso seja o suficiente para dois ou três anos.
_ Acho que posso sobreviver a minha vida toda com 200 milhões de que mesmo?
_ Galeões.
_ Isso, e qual é o número do cofre? - Fiquei pensativa e me lembrei:
_ Zero, sete, um, sete. - Ele riu e fiquei sem entender.
_ É o seu aniversário. - Caspra! Eu vou te matar.
_ Sim. - Revirei os olhos.
_ Você também tem um cofre? - Concordei. _ Qual é o número?
_ Um, dois, três, um. - Não tinha nada de mais nele.
_ Meu aniversário. - Espera, o quê? _ Você gosta tanto de mim, que até o seu cofre tem o meu aniversário. - Posso sufocá-lo com o travesseiro? _ Mas você demorou esse tempo todo para me dar essa chave e vir aqui?
_ Tem o segundo motivo e ele que me fez ficar sem te ver, fui até o banco e fiz um contrato de casamento.
_ Você vai se casar? - Sua voz estava baixa como se não acreditasse em minhas palavras. _ Você me disse que não gostava de ninguém e que preferia viver sozinha.
_ Eu não me casei e não vou me casar, era um contrato de casamento para me casar com você. - Ele me olhou surpreso. _ Mas eu achei estranho e achei como se estivesse nos prendendo um ao outro novamente e não gostei dessa sensação. Então fiquei pensando se era uma boa ideia assinar o meu nome naquele pergaminho para você conseguir sua herança mais rápido.
_ Herança? Eu tenho herança? - Concordei.
_ Você é rico, mas só poderá ter a sua herança com 17 anos ou se uma pessoa responsável por você passasse sua herança mais cedo, e não quero ser sua mãe. - Revirei os meus olhos.
_ Você está falando no passado, isso quer dizer que você já fez a sua decisão.
_ Às vezes a sua cabeça inteligente é irritante.
_ Tento o meu melhor.
_ Sim, eu tomei a minha decisão e não, não vou me casar com você. Você é apenas um garoto de oito anos.
_ Farei nove.
_ Um garoto de oito anos e não deveria estar preso em um contrato de casamento. Então eu rasguei o pergaminho.
Não queria prender uma criança em algo desse tipo, como eu passei anos da minha vida pensando que a minha mãe tinha feito o juramento de magia comigo.
_ Se você acha que isso está certo, não vou reclamar. - Ele deu de ombros.
_ Você poderia brigar comigo, eu me sentiria melhor.
_ Por quê? Você queria se casar comigo? - Sorriu de lado. _ Eu sei que sou muito bonito... - Me ajoelhei na cama e o sufoquei com o travesseiro. _ Estou... - Apertei o travesseiro em seu rosto. _ Brincando!
_ Idiota. - Retiro o travesseiro do seu rosto. _ Falei no sentindo de brigar comigo por pensar em fazer algo desse tipo.
_ Mas você tinha que ver a sua cara, tão hilário. - Ele ria com vontade. _ Acho que achei a minha diversão. - Ele continuou deitado e me deitei ao seu lado.
_ Qual?
_ Irritar você e essa é a minha melhor diversão.
_ Ué, você tem outras? - Ele me olhou rindo.
_ Tenho, mas essa eu não posso contar.
_ Por quê? Você mata pessoas? Pode contar.
_ Não, ainda não. Mas futuramente, quem sabe?
_ Sabia que quanto mais fundo você enterrar um corpo, mais rápido ele se decompõe? - O olhei e ele ficou me olhando.
Será que ele não gostava...
_ Sério? E o que mais? - Ele se deitou de lado e ficou esperando que eu falasse.
_ Não podemos jogar o corpo na água, porque se não boiar, a baixa temperatura e a pressão do fundo, vai conservar o corpo.
_ Devo riscar isso do meu caderninho. - Ri e concordei.
_ Bom, fiquei quase um ano em 993, e não vi ninguém torturar pessoas. Mas vi em uma das minhas visitas à feira algo que poderia servir para torturar.
_ E o que era?
_ Aspersor de chumbo, isso era como um regador, bom, era um regador. Só que ao invés de regar plantas, eles regavam pessoas.
_ Com água ou...
_ Poderia ser com água quente, óleo quente. Qualquer coisa que pudesse queimar.
_ Como você sabe dessas coisas?
_ Em 993 era muito chato, mas tinha ótimos livros. Fiquei lendo nas horas vagas. Ah! - Lembrei de algo. _ Em 993 eu assassinei uma pessoa, ele vendia elfos e tinha estuprado uma elfa. - Ele pegou a minha mão e começou a brincar com ela.
_ E o que você fez com ele? Torturou da pior maneira possível? - Seu sorriso era contagiante e me fazia querer falar de cada tortura ou morte que já fiz.
Era bom sentir essas coisas.
_ Bom, não eu tecnicamente e sim, as cobras. Elas entraram no homem e eu acho que elas comeram algumas partes. Mas eu gostei mesmo foi quando elas começaram a girar na cintura do homem e cortaram ele no meio.
_ Eu queria ter visto. - Ele sorriu enquanto falava.
_ E descobri que meu sangue queimava se eu desejasse machucar a pessoa. Foi tão satisfatório ver a carne daquele homem queimar, e ele queria tirar a própria língua. - Meu sorriso não parava de crescer. _ Mas eu não deixei, como se eu fosse deixar.
_ Ah, eu sei de uma. Se você esfaquear uma pessoa no pulmão, ela não poderá gritar, já que o pulmão não vai ter capacidade de inflar e desinflar.
_ Nossa, sim. - Sorrimos. _ Eu vendi pessoas.
_ E ganhou muito com isso?
_ Sim, as pessoas gostavam muito de carne humana. E bom, as outras pessoas devem ter virado escravos sexuais ou apenas escravos. Mas eu libertei um.
_ Por quê?
_ Ele me lembrava a uma pessoa. Então refiz as memórias dele, o curei e fiz que ele fosse embora. Nunca mais eu o vi.
_ Mas você tem certeza de que conseguiu refazer as memórias dele?
_ Eu não ligo muito, já estou nos livros de história mesmo e tenho até um apelido.
_ Você é fantástica.
_ Obrigada. - Sorri e logo me lembrei de algo. _ Eu não devo mais voltar aqui. - Ele franziu a testa. _ Acho que você tinha razão.
_ Sempre tenho razão.
_ Vou acabar me viciando em ficar em sua companhia e isso não pode acontecer.
_ Você vai tirar as minhas memórias agora?
_ Sim.
_ Tem certeza? - Ele levantou a minha mão e me fez olhar para ela. _ Você está cruzando os dedos e muitas crianças fazem isso para mentir.
_ Eu não sou uma criança. - Digo emburrada.
_ Você não desmentiu a minha teoria e você é fácil demais de desvendar, anjo.
_ Ou é você que sabe demais sobre mim?
_ Eu não sei, talvez seja isso. - Deu de ombros e continuou brincando com a minha mão. _ Apenas use esses meses que ainda temos para você saber se sou importante para você.
_ Mas você é importante para mim.
_ Para você ou para a sua sobrevivência?
───※ ·❆· ※───
31 de dezembro de 1935:
_ Você não pode sair assim. - Mamãe me parou antes de sair para o Beco Diagonal. _ Está ventando e está nevando. Coloque algo mais quente.
_ Vou ficar parecendo um pinguim.
_ Mas não terá uma hipotermia. Agora, vai se trocar. - Apenas estalei os meus dedos. _ Ou você pode apenas colocar um feitiço de aquecimento. - Sorriu. _ Você estará hoje para comemorarmos o Ano Novo?
_ Que estranho, pensei que já estivéssemos comemorando o Yule. E olha que a gente até comemorou o Boxing Day.
_ Seu pai quer comemorar o Ano Novo. - Disse enquanto tirava alguns fiapos do meu sobretudo. _ Gostei da trança, você fica bem de trança.
_ Irei falar para a pessoa que fez a trança que você gostou. - Ela bebeu um pouco de chá e ficou me olhando.
_ Mon bijou, você está apaixonada e isso é lindo de se ver. Você sempre era emburrada para essas coisas e agora. - Sorriu. _ Não para mais em casa, me diga, como ele é?
_ Não estou apaixonada por ninguém e apenas encontrei um amigo. Um homem... - Um menino. _ E uma mulher não precisa necessariamente estar em um relacionamento romântico para se sentirem confortáveis.
_ Bom, se você está dizendo, não vou ficar teimando. Quando você se sentir confortável de apresentar esse seu amigo para nós, me avise antes. Ok? - Beijou a minha testa.
_ Ok. - Sorri e falei. _ Você pode pedir ao Penny para fazer um pouco de comida comemorativa e comprar um champanhe sem álcool?
_ Claro, e é para colocar numa cesta de piquenique?
_ Sim.
_ Pedirei a ele. - Ela começou a caminhar em direção da cozinha. _ Apenas não deixe o seu pai saber de sua escapulida de hoje, ele não vai gostar.
_ Ele não está gostando disso há bastante tempo.
_ Verdade. - Ela gritou antes de sumir.
Aliso a ponta da minha trança e sorrio por algo idiota que a minha mente pensou. Saio de casa e realmente estava frio e nevando. Mas isso não iria me impedir de comprar um presente para o little lord.
Dessa vez eu não estava usando a minha bolsa, não iria comprar muita coisa, então só vim com um saquinho dentro do meu sobretudo.
Enquanto caminhava, a neve fazia barulhos estranhos, mas era fofo.
_ Boa tarde. - Uma senhora me cumprimentou.
_ Boa tarde. - Continuo andando.
Como Scorpius está passando o seu Ano Novo? Espero que ele esteja bem. Solto um suspiro e o ar quente dos meus pulmões faz uma fumaça branca aparecer.
Olho para os lados e aparato dali.
_ Último estoque! - Gritou o vendedor de alguma coisa. _ Venha, venha conferir a liquidação do ano.
Continuo caminhando e vejo a placa da loja que eu queria ir. Animais Mágicos.
Entro na loja e ela estava vazia. Acho que o clima não estava favorável para comprar animais.
_ Boa tarde. - Uma senhora saiu de trás do balcão. _ Temos algumas corujas...
_ Ah, não. Não vim atrás de coruja. - Sorri olhando para todos os animais que me olhavam com tamanha atenção. _ Você teria alguma cobra para vender?
_ Cobra? - Ela ficou confusa e concordei. _ A senhorita é a única que vejo entrar aqui procurando uma cobra.
_ Cada doido tem sua mania. - Ela riu e concordou.
_ Mas para a sua sorte. - Ela me chamou enquanto dizia: _ Tenho uma cobra e ela já está aqui já tem algumas semanas. - Estávamos indo para o fundo da loja. _ Como cobras preferem lugares aconchegantes e quentes, eu não poderia colocar ela com os outros.
_ Claro. - Apertei a minha mão por ver a escuridão tomando conta do ambiente.
_ Bom, é aqui. - Ela acendeu a luz e tento não prestar atenção nessas pequenas coisas.
Eu não sentia tanto pavor de escuro, mas era desconfortável.
_ Ela não tem nome, mas o tamanho dela que assusta e a pegamos na Albânia. - Albânia?
Olho para a cobra e ela parecia tanto a cobra que o Lorde teve. Não, não pode ser ela. Ou pode?
_ Ela é meio temperamental, mas se você conseguir convencê-la de ir com você, posso fazer um bom preço. - Ela me deixou a sós com a cobra.
_ Nagini? - Perguntei e a cobra me olhou, me entendendo.
_ Como sabe o meu nome? Como consegue falar comigo? Você é uma Slytherin?
_ Bom, ainda é difícil explicar o motivo de conversar com você. Bom, eu sei o seu nome por causa de algumas coisas e não, não sou uma Slytherin. - Sorri para ela. _ Você quer sair daqui?
_ E ficar presa em um cativeiro? Não, obrigada, ainda sou bem alimentada aqui.
_ Você seria animal de estimação de um garoto de nove anos e ele é o futuro Lorde das Trevas. - Tentei convencê-la. _ Ou você quer ficar na mesma mansão que Grindelwald.
Ela mostrou a sua língua e o veneno pingou no lugar em que ela estava.
_ Percebo que você o odeia, tudo bem. Eu entendo.
_ Ele quase me matou, não gosto de gente como ele e não gosto de bruxos como ele.
_ Então é por isso que você não quer sair daqui? - Ela concordou. _ Mas o little lord não é como ele. - É pior que ele. _ Ele é apenas um garoto com falta de carinho.
_ Não gosto de crianças.
_ Olha, eu também não. Mas estou aqui tentando convencer você para ser o presente de aniversário para uma criança. - Ela deu mais uma vez a sua língua. _ Vamos, Nagini. Colabore um pouco.
_ Não, eu vou ficar aqui.
_ Ok, tudo bem. - Faço ela diminuir e ficar no tamanho da minha mão. _ E agora? Você vai?
_ Você! - Ela realmente gritou. _ Me traga ao normal, eu vou te matar. - Ela deu de cara com o vidro.
_ Eu só aceito uma única pessoa me matar e não é você. Agora, podemos ir?
_ Você irá me trazer ao normal?
_ Daqui há uns 10 anos, quem sabe? - Tiro o vidro e coloquei a minha mão dentro daquele ninho. _ E não quero ser mordida.
_ Você deve ter um gosto horrível. - Ela subiu na minha mão e continuou subindo até chegar na curvatura do meu pescoço. _ Quente, você é quente.
_ O seu dono me disse a mesma coisa. - Volto para o início da loja. _ Senhora, voltei.
_ Ela não quis vir com você, não é? Ela é meio chata... - Nagini apareceu e deu a língua para ela. _ Retiro o que eu disse.
_ Quanto tenho que pagar?
_ Você a diminuiu? - Olhou de perto.
_ Sim, iria ser desconfortável ter uma cobra gigante enrolada no meu corpo.
_ Cem, 100 galeões. - Peguei o saquinho e tirei os galeões.
_ Obrigada.
_ Eu que agradeço e volte sempre. - Despedi dela e saio da loja.
Coloco o dinheiro no bolso e vou andando.
_ Você sabe que vai comer rato a partir de hoje, não sabe?
_ Eu já estava comendo, não ligo muito, mas terei que caçar eles?
_ Sim. - Desaparato dali e apareço na rua da mansão.
_ É aqui que mora o meu mestre?
_ Não, aqui quem mora são os meus pais e estou ficando aqui por um tempo. - Entro na casa e estava quente e confortável. _ Vou colocar você no andar de cima, meu pai não pode saber de você e você não pode saber dele.
_ Por quê?
_ Ele não gosta de cobras. - Dou de ombros.
Subo a escadaria lateral e entro no meu quarto.
_ Oi, meus amores. - Agachei e faço carinho nos dois que me deram boas-vindas. _ Trouxe uma amiguinha para vocês, ela ficará por pouco tempo. Então nada de se apegar. - Retirei a Nagini do meu pescoço e a coloquei no chão.
_ Um gato e um chupacabra. Você está criando um zoológico? - Ri e discordei. _ Pensei.
_ Nagini, por favor, não mate eles, ok? Eu vou descer e quando eu estiver indo para o seu "mestre", irei pegar você para irmos. Ok?
_ Ok.
Ela era menor que os dois, bom, agora era e se fosse alguns minutos atrás, ela poderia me devorar, não, talvez eu esteja... Não, não estou exagerando.
Saio do quarto e vou até o escritório que papai usava. Deveria bater na porta, talvez meu pai esteja fazendo saliências com a mamãe, mas eles não iriam fazer isso logo cedo, mesmo não sendo tão cedo.
Abro uma fresta da porta e vejo que papai estava na poltrona e talvez ele estivesse lendo um livro ou algo para fazê-lo estar tão concentrado.
Entro no escritório e fico atrás de sua poltrona e vejo que ele estava olhando um álbum de fotos. Na foto tinha duas pessoas, o papai e Dumbledore. Só que mais jovens.
Papai estava sério, mas Dumbledore sorria e parecia um raio de sol. Ele era tão diferente, nem parece que virou enrugado e velho.
Papai continuava exatamente igual. Não mudou nada e acho que magia negra tem suas vantagens.
_ Você sente saudades dele? - Perguntei baixinho e ele não percebeu que não era a sua consciência falando e sim, sua filha.
_ Sinto, nós tínhamos um sonho em comum e tínhamos que continuar com esse sonho, mas... - Sorriu alisando a foto. _ Apenas um de nós continuou em busca desse sonho.
_ Você sente raiva dele?
_ Sim, mas não tenho coragem de matá-lo.
_ Você deixaria a sua filha matá-lo?
_ Sim, deixaria. - Ele suspirou e fechou o álbum. _ Sinto saudades do tempo em que não existia uma guerra em minha cabeça.
_ Você não quer parar essa guerra e deixar que ela continue com sua filha? - Perguntei com a mesma voz calma e neutra. _ Afinal, ela pode entrar em uma guerra contra você.
_ Se eu achar o garoto que ela tanto ama, adequado para ser o Lorde desse mundo, talvez eu entregue o meu posto. - Fiquei irritada, mas não falei nada.
_ Meu senhor... Ah, Leesa. - Mamãe!
Papai olhou para trás e ficou me olhando. Sorri para ele e abracei a mamãe.
_ Ele quer me matar, bate nele. - Falei dengosa.
_ Mon bijou, mamãe protege você. - Beijou a minha cabeça. _ Quando você chegou?
_ Alguns minutos. - Continuei abraçada nela.
_ Não vou te matar, princesinha. Apenas pensei em algo.
_ O quê?
_ Precisamos tirar uma foto para colocar no nosso álbum de família. - Ele levantou e colocou o álbum no lugar. _ Não concorda?
_ Concordo. - Ele sorriu e pegou a câmera fotográfica. _ Mas agora?
_ Sim, agora. - Ele fez que a câmera flutuasse e puxei a mamãe. _ Como somos os seus pais, temos que ficar atrás de você e mostrar uma postura intimidadora.
_ Ou vocês podem se sentar e irei ficar atrás de vocês. - Eles discordaram e me colocaram sentada na poltrona onde o papai estava. _ Depois me perguntam de quem puxei na teimosia.
_ De mim que não foi. - Vinda sorriu e colocou sua mão no meu ombro.
_ Antes de tirarmos a foto, tire esse sobretudo molhado. Vai estragar a foto. - Papai era muito chato.
_ E olha que eu nem passei tanto tempo lá fora.
Vinda tirou a mão do meu ombro e tirei o sobretudo e uma blusa de frio preta apareceu.
_ Você está de luto? - Neguei e coloquei o sobretudo no meu colo. _ Mas parece, só usa preto. Poderia usar verde ou vinho.
_ Me dê dinheiro para comprar mais roupas. - Ele riu e os dois colocaram as mãos em meus ombros.
_ Devo te dar uma mesada?
_ Não iria achar ruim. - Sorri para a câmera. _ O que devemos falar enquanto tiramos a foto?
_ Grindelwald? - Perguntou.
_ Muito extenso.
_ Então, vamos falar coelhinho. - Olhei para cima e eles estavam concordando.
_ Ok. - Digo e olho para a frente novamente.
_ Coelhinho. - Dissemos e o flash da câmera quase me cegou.
_ Ótimo, essa foto ficará emoldurada em um quadro. - Exagerado.
_ Sabe o que você pode fazer agora, papai? - Levantei e fiquei o observando enquanto pegava a câmera.
_ O quê?
_ Se casar, pedir alguém em casamento. - Digo sorrindo.
Eles ficaram quietos e faço um feitiço para ver as horas e já era sete da noite. Não era tão tarde, mas já deu a minha hora.
_ Bom, fiquem à vontade para comemorar o Ano Novo, e que pena que não vou, beijo. - Antes que me virasse para sair, papai me parou.
_ Onde você pensa que vai?
_ Encontrar com o meu futuro marido que não é. Vamos lá, papai. Não seja ranzinza, tenho um compromisso e não posso faltar. Não hoje.
_ Nome? Endereço?
_ Isso você não precisa saber. - Saio do escritório e vou para o meu quarto.
Faço o meu sobretudo ficar seco e o coloco antes de abrir a porta do meu quarto.
Abro a porta do quarto e jurei que vi o Tony voando, mas devo estar alucinando.
Entro no meu quarto e ele estava uma bagunça.
Nota mental: nunca deixar os três juntos outra vez.
_ Vou fingir que não estou vendo nada. - Falo e os três ficaram estáticos.
Tony saiu do banheiro e ele estava sorrindo, mas um sorriso que dizia: eu não fiz nada.
Tommy tinha penas em sua cabeça e ele me olhava com aquele olhar de gatinho fofo e nada culpado. E bom, Nagini estava no meio da cama em cima de várias penas.
_ E como não estou vendo nada, isso nunca existiu. - Peguei a cobra e faço tudo voltar ao normal. _ Vocês três nunca estarão juntos novamente.
Eles me olharam com os "olhinhos" fofos e magoados. Merda.
_ Deem adeus para a Nagini. - Os dois me olharam e fingiram chorar. _ Não, eu avisei.
_ Eu irei voltar e iremos conquistar o mundo como planejamos! - Nagini, por favor, já basta o seu mestre.
_ "Miau"! - Tommy ficou alegre e o Tony riu pulando na cama.
_ Claro, claro, vai acontecer isso sim. - Coloquei a cobra no meu pescoço e saio do meu quarto. _ Você é uma má influência.
_ Mas eu não fiz nada, eles já estavam planejando e eu só dei a ideia de como iriamos fazer isso.
_ Por Merlim. - Digo indo até à cozinha para pegar a cesta. _ Boa noite, Penny.
_ Princesa, boa noite. - Ele sorriu feliz. _ A madame pediu que Penny fizesse comidas para a princesa levar. Penny já colocou na cesta.
_ E o bolo que fiz de madrugada?
_ Ele iria derreter, então ele continua na geladeira. - Abri a geladeira e peguei o bolo de chocolate e o coloquei em cima do balcão.
Faço um feitiço para deixá-lo intacto e o coloquei na cesta que tinha um lugar especial para ele. Fecho a cesta e a retiro do balcão.
_ Obrigada, Penny. - Sorri saindo da cozinha.
Abro a porta da frente e logo aparato para a rua do orfanato.
O vento frio passou por mim e deu vontade de voltar para a minha casa, mas não fiz isso.
Continuo a minha caminhada até o orfanato e escuto alguns gritos, talvez fossem de alegria por mais um ano que estava chegando.
Abro devagar a porta da frente e a fecho devagar. Dessa vez as luzes estavam acesas, claro, era sete da noite ainda.
Subo a escadaria tomando cuidado para ninguém me ver, algo que era bem difícil.
Antes de andar pelo corredor, vejo se tinha alguém nele e felizmente não tinha ninguém.
_ Irei morar aqui?
_ Por algum tempo. - Sussurrei indo até o final do corredor e abrindo a porta.
Mas em vez de ser recebida por uma voz irritada e com uma frase que já me acostumei: você está atrasada.
Não tinha ninguém no quarto, ele estava vazio pela primeira vez, mas tinha duas velas acesas na mesa de cabeceira.
Fechei a porta e faço o quarto ter uma temperatura quente e não fria como quando entrei. Coloco a cesta no chão e retiro os meus sapatos e o sobretudo.
_ Irei andar por aí, volto daqui a pouco.
_ Ok, apenas não morra. - Ela saiu do meu ombro e entrou em algum buraco que tinha no quarto.
Deitei-me na cama e me cobri com o cobertor fofo e confortável que eu tinha feito para ele na minha primeira visita.
Acho que ele deve estar jantando, deveria ter feito isso antes de vir para cá. Mas eu ficaria cheia e não comeria as coisas que o Penny fez. Tudo bem, foi melhor assim.
Puxo o travesseiro para mais perto e sinto o cheiro que tinha nele, cheiro de livro novo. Gosto desse cheiro.
_ Leesa? Ainda está dormindo? - Apertei a mão da pessoa, ela era macia e fofa. _ Você me disse que três vidas era demais para me amar, mas nunca me impediu de amar você por três vidas. Você é minha, minha coelhinha. - Sinto alguém beijando a ponta do meu nariz.
Cocei os meus olhos e vejo aqueles olhos que era tão únicos e tão comuns. Sorri para ele e sinto ele alisando o meu rosto.
_ Dormi por muito tempo, little lord? - Sussurrei tentando abrir meus olhos novamente.
_ Não que eu saiba, acabei de chegar.
_ Cheguei às sete. - As suas carícias eram gentis.
_ Já são onze.
_ Da manhã?
_ Da noite. - Sinto ele mexer nos meus cabelos. _ Devo refazer as tranças?
_ Ainda fico impressionada por você saber fazer tranças. - Ele riu. _ Você seria um ótimo pai.
_ Talvez eu tenha sido na minha vida passada. Teria uma menina e ela sempre iria atrás de mim para fazer tranças em seus cabelos para tentar não incomodar a mãe.
_ Isso é fofo.
_ Sim. Quer dormir mais um pouco? - Sua voz estava tão calma que realmente me deu mais sono.
_ Não batemos parabéns para você e feliz aniversário, Tom.
_ Obrigado, anjo. - Sorri e me aconcheguei ainda mais na cama.
_ De nada.
_ Você parece cansada, não dormiu bem?
_ Fiquei a madrugada inteira fazendo um bolo para você. - Falei baixinho. _ Não sei se está bom.
_ Machucou os dedos de novo? - Perguntou pegando a minha mão.
_ Não, dessa vez não deixei Penny colocar band-aid nos meus dedos e cortes em minhas mãos se curam rapidamente. - Confidenciei.
_ Então durma um pouco mais, não vou fugir.
_ Você acha que vou?
_ Você sempre foge. - Ri e concordei. _ Terá uma hora que não vou deixar. - Beijou a minha bochecha. _ Você sempre ficará comigo.
_ Ninguém fica para sempre.
_ Vou mudar isso. - Ele começou a me fazer cafuné. _ Durma, estarei aqui. Estarei sempre com você. - E realmente dormi...
_ Seu verme asqueroso, você quer morrer! - Coloquei a mão no ouvido para tentar abafar as gritarias.
Papai sabia que eu não gostava de barulho, barulhos muito altos me incomodavam e me fazia sentir raiva e angústia.
_ Está tudo bem, são apenas as crianças. - Tom colocou sua mão em cima da minha. _ Desculpa, não queria te acordar.
_ Não gosto de barulho e eu deveria ter colocado o Abaffiato no corredor e aqui. - Faço o Abaffiato e mesmo assim, os barulhos do lado de fora não sumiram.
_ Por quê? - Abri meus olhos. _ Por que você não gosta de barulho?
_ Não sei, acho que fiquei por muito tempo em uma cela sem som algum, apenas com aquela música irritante, e é desconfortável ter muito barulho em volta. Me sinto nervosa, agitada e angustiada.
_ Você tem muitas coisas, mas a maioria não sabe a metade delas. - Alisou a minha bochecha. _ Espero que me conte tudo e não me esconda nada.
_ Por quê?
_ Não posso ser o único que sabe tudo sobre você? Claro, sem ser você?
_ Mas você já sabe tudo, a maioria. - Ele riu.
_ Viu, não quero saber a maioria, anjo. Quero saber tudo, mas tudo leva tempo e já sei a maioria, isso está bom.
_ Você até sabe sobre o meu segredo.
_ Sobre o seu jeito fofo de mentir? Parece uma criança.
_ Idiota. - Ele riu e saiu de perto de mim e foi até a cobra que estava nos meus pés.
_ Obrigado pelo presente, gostei bastante da Nagini. - Seu sorriso era tão angelical que pensei que estava vendo coisas. _ Eu também tenho um presente para você. - Fiquei confusa e tirei o meu cabelo do meu rosto.
Little lord deve ter desmanchado a trança enquanto eu dormia. Sentei-me na cama e fiquei o observando ir até o seu armário e tirar de lá uma caixa.
_ Usei o dinheiro do banco. Não foi tão difícil achar o Beco Diagonal.
_ O dinheiro era para ser usado com você, e não...
_ Mas eu usei o dinheiro para mim, apenas que comprei algo que não gostei e estou te dando. - Sorriu e me entregou a caixa. _ Feliz Ano Novo, anjo.
_ Feliz Ano Novo, little lord. - Ele sorriu e se sentou ao meu lado.
Abri a caixa e vejo que era uma luminária de lua e ao redor da lua tinha três coelhos brancos. Talvez quando a ligasse, os coelhos começassem a andar ao redor da lua.
_ Os coelhos irão andar ao redor da lua? - Perguntei cutucando os coelhos.
_ Sim. O que achou?
_ Achei lindo, obrigada. - Sorri para ele e ele ficou estático por alguns segundos e fez a unha do seu dedão alisar o seu dedo indicador.
_ Você prefere pulseira ou anel? - Fico confusa. _ Apenas uma pergunta.
_ Bom. - Olhei para a minha mão e mexi no anel. _ Só tenho um anel e ele fica aqui. - Mostrei para ele. _ Às vezes me esqueço que tenho ele.
_ Eu sei que você tem um colar.
_ Sim, era da minha família e o ganhei quando os abandonei. - Coloquei a mão no meu busto, mas não senti o frio da prata. _ Mas eu não sei se eu ficaria bem de pulseira.
Ele pegou a minha mão e ficou alisando o meu dedo anelar.
_ Não vou me casar com você. - Digo o olhando.
_ Não pense em coisas estranhas e não iria pedir você em casamento.
_ Não mereço ser pedida em casamento? - Ele me olhou.
_ Você é muito contraditória. Sempre me disse que não queria amar ninguém ou se casar, queria ficar sozinha. Mas agora está me perguntando se não merece um pedido de casamento? - Ele riu.
_ Pode falar, eu sou hipócrita.
_ Muito. Mas posso responder a sua pergunta quando eu não for mais uma criança em seus olhos.
_ Você sempre vai ser uma criança. - Ele me olhou sorrindo.
_ Tudo bem, e guarde suas palavras, ok? - Concordei e ele largou a minha mão.
Peguei a caixa e a coloquei no chão.
_ Vamos comer? Estou morrendo de fome. - Digo levitando a cesta. _ Tem bolo de chocolate e espero que você goste.
_ Foi você quem fez, com certeza eu vou gostar.
_ Idiota. - Digo rindo.
_ Sou o idiota do seu coração. - Dou o dedo do meio para ele e abro a cesta. _ Anda, estou fome e você dorme como uma pedra.
_ Não vou te dar mais bolo. - Ele me olhou chocado. _ Ele será só meu.
_ Você não faria isso, sou o aniversariante.
_ Foi ontem.
_ Você é muito má, sua vilã. - Ri e tirei o bolo e as comidas da cesta.
_ Little lord, eu sou a vilã e sou a pessoa que vai destruir esse mundo e não será você que vai...
_ E por que eu iria te impedir de destruir o mundo? A única coisa devemos fazer depois de você fazer isso é construí-lo. As pessoas te cegaram tanto com os julgamentos que você se esqueceu que não sou eles? Não vou te julgar. Por que eu faria isso?
_ Porque você quer o mundo. - Ele riu.
_ Será mesmo? - O que ele quer dizer com isso? _ Parte logo esse bolo, estou com fome.
_ Vou pegar esse bolo e enfiar na sua boca.
_ Mas não é onde ele deveria estar? - Que garoto irritante.
───※ ·❆· ※───
17 de julho de 1936:
_ Você realmente deveria estar aqui? - Little lord estava ajoelhado na cama enquanto refazia a trança dos meus cabelos. _ Você me disse que seu pai preparou um baile para comemorar os seus vinte...
_ Complete essa frase e vou te sufocar com o travesseiro de novo.
_ Ok, você não tem vinte e nove e nunca terá, que sortuda. - Ri e esfregou o meu pulso. _ O que elas significam? Você nunca me falou e não tive coragem de perguntar.
_ Ah, foi o meu primo quem as fez, ele disse que se essas marcas ficassem negras, significava que a minha família morreu.
_ Mas tem uma, quem de sua família morreu?
_ Meu primo, Draco Malfoy. Ele morreu me protegendo do Avada de Harry. - Não sabia o que ele estava pensando, mas ele ficou quieto por alguns minutos.
_ Devemos agradecer ao seu primo por te proteger. - Ri e concordei.
_ Mas eu queria falar para o verdadeiro Dragon e não para uma pessoa que se parece em tudo com ele, mas não é ele.
_ O que quer dizer?
_ Estamos em uma realidade diferente da minha e devo ser da sétima ou sexta realidade. Mas estamos na oitava.
_ Entendo. - Ele se sentou ao meu lado e ficou me olhando.
_ Entende mesmo?
_ Não sei, acho que sim. - Ele pegou a minha mão e deslizou algo pelo meu dedo anelar. _ Não, não estou te pedindo em casamento e apenas achei que isso seria um bom presente para você. - Beijou a minha mão direita.
_ Se você não largar a minha mão, eu não vou poder ver o anel, little lord. - Ele riu e parecia nervoso.
_ Futuramente devo comprar um melhor...
_ Não existe futuramente, little lord. - Ele revirou os olhos e dou um peteleco em sua testa. _ Não revire os olhos.
_ Não. - Sorriu e revirou os olhos.
Idiota.
Ele deixou a minha mão e olhei para o bendito anel e uau! Ele era tão fofo.
Era um anel de ouro com um coelho branco segurando o anel e se não fosse o bastante, tinha um diamante depois do coelho.
_ Isso é a coisa mais fofa que já ganhei e obrigada, little lord. - Sorri ajeitando o anel no meu dedo.
_ Bom, pelo menos o seu anel não está na mesma mão que esse. - Ele tinha razão, o anel do Dragon estava na mão esquerda.
_ Mas você sabe que essa mão aqui. - Levantei a mão direita. _ É de pedidos de casamento, não sabe, little lord?
_ Você está pensando demais, essa mão pode ser para pedido de namoro. - Olhei para ele e comecei a rir. _ Você é tão estranha, e não estou pedindo em casamento ou em namoro, sua doida.
_ Me chamando de doida, olha quem fala. - Apertei sua bochecha. _ Estou apenas brincando, eu sei que você não faria isso. Porém, gostei de receber esse presente, obrigada.
_ Não mereço nem um beijinho? - Revirei os olhos e dei um beijo em sua testa. _ Melhorou.
_ Falta pouco. - Ele me olhou e perguntou:
_ Se me lembrar, devemos ter uma frase que dê para você saber.
_ Não quero que você lembre.
_ Mas se eu lembrar, eu vou te chamar de coelhinha. Mas se eu não lembrar, eu não sei.
_ Se você se lembrar, você não vai dizer um pio. Você não deve me conhecer, eu nunca deveria ter vindo até você em primeiro lugar.
_ Mas veio e a gente passou vários meses juntos. Vou sentir saudades, coelhinha. - Também.
_ Ainda te odeio.
_ E eu ainda gosto de você. - Sorriu e nós nos deitamos na cama.
Ele segurou a minha mão e continuamos olhando para as sombras do teto.
_ Nunca mais irei vir aqui.
_ Mesmo não vindo, ainda vou deixar duas velas acesas todas as noites.
_ Posso tirar isso de sua memória.
_ Tente. - Apertou a minha mão. _ Espero descobrir mais cosias sobre você.
_ Não quero.
_ Sei, e no final eu vou descobrir.
_ Não sei como. - Ouvimos um pop no quarto e olhamos para o barulho.
_ Minha princesa, o meu senhor está desesperado atrás de você. - Penny disse agitado.
_ Fale para ele que morri e não vou para aquele lugar cheio, que a maioria daquelas pessoas só querem saber se sou aceitável para me casar com seus filhos ou filhas. - Sinto o little lord apertar a minha mão.
_ Mas minha princesa...
_ Não vou e já falei que não ficaria a noite toda naquele lugar.
_ Mas você me disse que não passou nem meia hora. - Little lord respondeu rindo.
_ Não precisa me dedurar.
_ Não fiz por mal. - Ele riu e revirei os olhos. _ Deixe-a aqui, gosto da presença dela, senhor. - O elfo ficou surpreso e abaixou as orelhas por vergonha.
_ Penny vai dizer que não conseguiu achar a princesa e vou ajudar a princesa a ficar com o seu amado.
_ Não, Pe... - Ele sumiu antes que eu falasse que não quero ser tachada como uma pedófila. _ Olha o que você fez. - Falei irritada.
_ O que fiz? - Me olhou com aqueles olhos grandes e angelicais. _ Eu só disse que gosto da sua presença e não menti.
_ Mas agora ele pensa que eu e você somos algo e... Nojento. - Finjo vomitar.
_ Eu não vou dizer nada, sua imaginação é muito fértil, e ele disse amado e isso pode significar vários conceitos e significados. Você que pensa em apenas uma via, enquanto existem várias.
_ Pensar em outras vias dói a cabeça e não gosto de pensar.
_ Mas eu gosto de pensar em outras vias e isso facilita se algo der errado.
_ Pessimista.
_ Realista. - Lembrei do Salazar e do Godric. _ Devemos sempre ter um plano B.
_ Certo, isso você tem razão, mas se ficar pensando muito em planos, você não irá sair do lugar. Primeiro você pensa e depois faz, se der errado, você...
_ Você pensa e faz, somos diferentes nesse quesito. Eu penso, repenso e faço, e irei pensar em todos os prós e contras.
_ Só penso o que pode me beneficiar.
_ Isso eu concordo. Mas somos o oposto de como resolvermos os nossos problemas e podemos ser complementares.
_ Iremos pensar juntos e quem faz o trabalho sujo é eu? - Perguntei tentando entender.
_ Não, podemos mandar pessoas para fazer o trabalho sujo. Muito prático, não concorda?
_ Não, gosto de fazer as coisas sozinha e eu acho que se eu não fizer, o trabalho não será perfeito.
_ Ou você tem medo das críticas? - Franzi a testa. _ Tudo para você tem que ser perfeito, mas se algo sair dos trilhos, você irá parar para pensar e irá se enrolar em uma bola.
_ Não me enrolei em uma bola quando fui embora de 1981 ou quando parei em 993.
_ Mas você não se culpou? Aposto que você se culpou, te chamando de idiota ou de burra. - Ele tem que parar com isso.
_ Mas eu resolvi.
_ Você tem que parar de se culpar por algo não sair perfeito e a vida não é perfeita, nem mesmo os planos que você faz.
_ Você tem que parar com isso. - Ele riu.
_ De te dizer a verdade? Não, obrigado e você preparou tudo para 1935, os seus planos deram errado ou deram certo?
_ Eu já tinha que ter virado uma criança, mas não fiz isso.
_ E nesse ano? Você está conseguindo seguir o que planejou? - Apertei a sua mão e neguei.
_ Desde daquele dia, meus planos estão indo para o ralo. Então estou tentando viver um dia de cada vez.
_ E isso está te matando, não é? Você não tem controle e isso lhe assusta. - Prendi a respiração. _ Você está com medo de errar e perder tudo que você conquistou.
_ Eu posso salvar todos...
_ Menos você. - Odeio quando ele começa a me analisar e descobre tudo que tento esconder, me sinto vulnerável.
Mas me sinto menos um robô e mais humana.
_ Coelhinha, se você estiver com medo ou estiver com vontade de desabafar com alguém. Saiba que mesmo se você conseguir realmente retirar as minhas memórias, eu vou saber que você precisa de mim. Você só precisa vir até mim, afinal, eu não posso sair daqui.
_ Nunca vai acontecer.
_ Espero que isso seja realmente verdade. - Continuamos de mãos dadas e meu coração pela primeira vez em muito tempo doeu por antecipar um adeus.
───※ ·❆· ※───
1 de agosto de 1936:
_ Então o dia que você tanto esperou finalmente chegou. - Tom não estava sorrindo, ele estava sério e fechou o livro que estava lendo. _ Está feliz?
_ Muito. - Sorri e cruzei os dedos atrás do meu corpo.
_ Me mostre a sua mão. - Merda. _ Você não está feliz, coelhinha. Por que mente?
_ Talvez a mentira se torne verdade se eu acreditar bastante.
_ Claro, se você acreditar muito em uma mentira e fazer que essa mentira se espalhe. Não quer dizer que as outras pessoas irão aceitar isso como verdade.
_ Você precisa parar com isso.
_ Não posso parar de falar a verdade, coelhinha. Não consigo, não consigo mais falar mentiras e aceitar meias verdades.
_ Mas você não irá falar mentiras para a população?
_ Coelhinha, eu sou apenas uma criança e segundo as pessoas, eu não devo saber de nada.
_ Um dia você vai me responder? - Vejo Nagini subir em sua perna e se deitar em sua barriga.
_ Você não vai tirar as minhas memórias? - Zombou e revirei os olhos. _ Sim, vou te dizer.
_ Você sabe que sou a vilã, não sabe? Você sabe que sou a pessoa que vai te usar e manipular as suas ações para destruir esse mundo, não sabe? - Ele riu e alisou a Nagini.
_ Sim, eu sei. - Seu sorriso estava perfeito. _ Um dia vou falar algo para você, mas até lá. Me use com sabedoria.
_ Tentarei o meu melhor. - Estendi a minha mão para ele e ele ficou a olhando. _ Nossa trégua acabou. Foram ótimos meses.
_ Coelhinha, podemos nos beneficiar ainda. Você vai descobrir que somos melhores juntos do que separados. Mas antes de você ir, você se sente comum?
O que ele queria dizer com isso?
_ Antigamente eu pensava que sim, mas agora, eu só me acho, não sei. O que você acha que sou? - Minha mão caiu ao meu lado.
_ Você não deveria saber disso?
_ Little lord, estou perdida no meio da minha mente e eu me reconheço, mas não sei quem eu sou, não sei se sou só a garota que gosta de brincar com os meus pais, se sou a garota que gosta de zombar de você, que te odeia. Ou sou a garota que quer destruir esse mundo. - Suspirei.
_ Você sabe que pode ser todas elas, não sabe?
_ Será? Realmente posso ter todas essas personalidades e continuar sã? - Ele me puxou e me sentei ao seu lado.
_ Quantos anos você está vivendo assim e continua do mesmo jeito? Com sua mente perfeitamente sã? Você pode ter sua recaída e pode amar mutilar e matar as pessoas, mas isso é apenas você. - Ele alisou os meus dedos. _ Não é loucura, é sua personalidade.
_ Mas, little lord, eu sei que pertenço aqui, mas até quando? Até quando eu vou pertencer essa realidade, essa dimensão e nesse ano? - Ele sorriu.
_ Até quando eu estiver respirando. - Ele apertou a minha mão e disse: _ Nossa trégua está terminada e a partir de hoje, eu te odeio tanto que dói o meu peito.
_ Igualmente. - Sorri apertando sua mão.
_ Apenas não se esqueça que... - Beijou a minha mão. _ Suas asas são lindas e eu as amo. - Sorriu. _ Não fique se desmerecendo por causa de erros que você não era capaz de prever, mesmo sabendo o futuro, você é apenas um humano e não um robô sem sentimentos.
_ Obrigada e antes de ir, você quer saber sobre os seus pais? - Ele sorriu e falou:
_ Não.
_ Então, adeus, Tom.
_ Até breve, coelhinha. - Quando falei aquele feitiço, algo dentro de mim se partiu.
