Olho Azul 20 Anos Apresenta:
Cada Vez que nos Encontramos,
Cada Vez que nos Separamos
Capítulo 33
Usagi percorreu os olhos pelo bar mais uma vez e de novo para o celular em sua mão. Não sabia o que fazer. Discou novamente o número de Motoki, mas continuava retornando um aviso de que o aparelho estava desligado. Aquele não estava sendo um dia muito bom, concluiu. Já eram quase onze da noite e de repente vários clientes começaram a aparecer de um jeito que faziam quando queriam ficar até tarde, e Usagi não queria simplesmente mandá-los embora quando mal começaram a consumir.
— Nada? — perguntou Makoto após entregar a segunda rodada de bebidas para uma das novas mesas.
Usagi balançou a cabeça.
— Antes Rei não houvesse ido embora, ela poderia ficar aqui até quando quisesse. — Makoto bufou com força. — Se bem que ela já tava mais pra lá que pra cá, né? Mais um pouco e conheceríamos um novo lado daquela lá. — Riu-se.
Usagi não queria se lembrar da visita de Rei, isto a fazia recordar outras coisas e já estava com um problemão agora se não achasse Motoki. Não que ela já não viesse pensando nisso o tempo todo. Em Nagasaki, o único assunto que parecia haver se resolvido era Seiya, o que já era alguma coisa. Só que faltava muito. Agora, como Seiya mesmo lhe dissera, podiam se considerar um caso concluído. Era um pouco triste, mas após tantos meses separados, Usagi via que fizera o certo terminando. No final, Mamoru tinha razão, parecera horrível na época, mas foi passando e no momento era um alívio.
Infelizmente, era o único alívio para Usagi. Exceto talvez pelo trabalho no bar. Já fazia seis meses desde que começara e não se arrependia de aceitar o convite de Motoki. Graças àquele lugar, ela tinha se conectado com Mamoru e iria poder continuar a vê-lo mesmo depois. Ou não? Rei não iria precisar de renda extra se eles se casassem.
Mas antes de isso acontecer, os dois tinham uma desculpa para se verem ocasionalmente. Ultimamente, Usagi vinha tentando ignorar e engolir qualquer desconfiança de que ele pudesse estar se encontrando com outra nos dias em que não o via. Por mais improvável que fosse, pois Mamoru sempre lhe deixara claro que não gastava energia atrás de mulheres, não deixava de ser um risco. Um dia, ela encontraria algum objeto no apartamento que não era dele. Com esse medo, ela já tinha pensado muitas vezes em retomar o assunto do namoro, mas reconsiderara. Não queria cair no mesmo erro de Seiya, namorar apenas porque é o mais confortável, empurrar os problemas pra depois. E os problemas com Mamoru eram muito maiores — um casamento! Desde aquela noite em que Mamoru lhe fizera a proposta, ela tinha que se repetir como aquela não era a solução. Havia um tempo limite para estarem juntos, e que devia estar próximo a tirar pelo que Rei tinha dito.
Olhou a tela do celular, mas luz de fundo já havia apagado. Quanto tempo ficara divagando naquela posição? Percebeu seu cenho carregado, então começou a fazer movimentos circulares no rosto para relaxar.
— E aí? — Makoto perguntava mais uma vez.
— Nada, né... — disse, lembrando-se de por que estava com o aparelho no meio do trabalho. — Mas acho que vou ficar por aqui. Eles vão pagar muito bem. E é férias, né? Seria bom um dinheiro extra.
— Pra gastar com o namorado, né? — brincou Makoto.
Fazia já mais de dois meses que Usagi ficara desimpedida para assumir sua relação com Mamoru, mas ainda não conseguia apresentá-lo a ninguém. Em qualquer situação, ela acabava falando dele só como o amigo de Motoki, e apenas Naru de tudo. Bem, Motoki também, mas não fora Usagi quem lhe havia contado, e o patrão nunca falava abertamente sobre o que pensava. Quando Usagi interrogou Mamoru sobre toda a gentileza de Motoki lhe deixar viajar durante a golden week, descobrira que Mamoru nunca lhe contara nada e que esclareceria ao amigo assim que voltassem. Usagi não sabia como perguntar a nenhum dos dois o que era exatamente que Mamoru havia esclarecido. Da forma como o caso andava, morreria assim, na escuridão. Ao menos, ninguém lhe faria a cara de pena que fizeram quando ouviram sobre o fim do namoro com Seiya, tornaria a situação mais simples de se lidar.
Percebeu que Makoto esperava uma resposta. Usagi olhou rápido para o celular e disse que era melhor tentar outra vez.
Mesmo ciente de que ainda não conseguiria contato, ela apertou para discar novamente. Será que Motoki a estaria evitando para não atrapalhar sua viagem? Uma ira súbita invadiu-lhe. Outros podiam ser felizes enquanto a sua própria fuga a dois para Nagasaki transformara-se em duas pessoas que mal se trocavam palavras. O clima tinha ficado estranho... não, ele tinha ficado ainda mais estranho após Mamoru a ver com Seiya.
Acabou ligando para o próprio Mamoru depois de outra vez a chamada para Motoki a levar para a caixa postal.
— Usagi? — O sono na voz do outro lado da linha era inconfundível.
— Sabe do Motoki?
— Motoki? — Mamoru fez silêncio, enquanto Usagi imaginava-o com tanto sono que estivesse se perguntando quem era Motoki. — Ele ainda tá viajando, né?
— Pode ligar pra ele, não tô conseguindo contato e preciso tirar uma dúvida sobre o bar.
— Você ainda tá aí? Já são onze e meia da noite... Alguém mais tá contigo, né?
— A Makoto tá, mas logo ela terá que pegar o último trem. Eu devo ficar até os clientes saírem... Ligue pro Motoki, ouviu? Vou ficar esperando. — Desligou.
Sabia que Mamoru estava pronto para lhe dar lições sobre não ficar sozinha tomando conta do bar. Ele não compreendia como aquela ocupação a fazia se sentir bem. Diferente das manhãs — ou tardes — em que acordava a seu lado.
Mal teve tempo de respirar aliviada quando ele retornou. Porém, não fez diferença, pois não tinha conseguido falar com Motoki e acrescentou-lhe de deixasse de ser idiota e apenas fechasse o bar. Estas também costumavam ser as instruções de seu patrão, sabia, mas... Olhou ao redor, para o movimento empolgante deixando o salão quase reluzente, e desligou no meio de alguma recomendação ou sermão de Mamoru. Todos estavam tão felizes com seus amigos e bebidas... Um cliente lhe chamava para uma sessão de karaokê. Seus amigos incentivavam.
Meia hora após a terem chamado, Rei retornou parecendo mais estar embriagada. Por outro lado, suas roupas estavam longe de parecerem tão arrumadas quanto o normal. Atrás da mesma, entrou Yuichiro.
— Já disse que não preciso de guarda-costas! — gritava irritada com ele, estendendo a palma aberta em sinal de pare, impedindo-o que a seguisse para trás do balcão.
Makoto a cumprimentou e já foi arrumar suas coisas antes que perdesse o último trem.
— Como faremos com o dinheiro? — perguntou Rei antes que a outra se fosse.
— Hum? O normal, né?
— Vamos, o bar nem estaria aberto não fosse a gente.
— Mas não sabemos o preço das bebidas nem nada.
— Já sei. Por que não anotamos as horas extras e o caixa de agora e depois, Usagi? Aí combinamos com o Motoki. Tem que dar um bom dinheiro! Yuichiro, atenda àquele senhor que tá chamando enquanto isso. — Rei jogou para ele um dos blocos de nota.
Makoto olhou para Usagi e sorriu. Usagi apenas virou os olhos, estranhando como já estava acostumada com o jeito mandão de Rei.
— O que vocês duas estão cochichando!?
— Só me despedindo, Rei. Valeu por ficar com a Usagi! O namorado dela tava ligando direto preocupado com ela e tudo.
Ela tinha notado? O rosto de Usagi ficou pálido e seus olhos caíram sobre o celular.
— Bem, é difícil ignorar algo tocando tanto — explicou Makoto, dando uma piscada.
— Você atendeu? — perguntou, tentando imaginar o que Mamoru teria dito.
— Não, não! Só imaginei que fosse isso. — E riu sem se conter. Logo, saiu.
Rei só esperou que a porta fechasse para perguntar:
— Você não tinha terminado? — Distriu-se apenas por um momento quando Yuichiro retornou com um pedido e ela precisou preparar o drinque. Mas seu olhar ficou em Usagi, aguardando a resposta.
Usagi não sabia como mudar o assunto sem ser óbvia e queria nem imaginar como ela reagiria quando descobrisse que aquela pessoa era a mesma com quem se casaria. Se fosse ser sincera, não sentia como se estivesse traindo Rei por estar saindo com seu futuro noivo. Era como se fosse Rei quem lhe estivesse roubando Mamoru.
— Eu não tenho namorado, a Makoto só tava brincando — mentiu no final das contas.
— Sei não, você parece bem suspeita... Mas vá trabalhar, anda! Você também, Yuichiro. Para de fofoca!
Passaram a recolher os copos sujos e anotar mais pedidos. Mas quando Usagi estava para ir à cozinhar preparar os pratos, seu celular vibrou mais uma vez.
Mamoru ainda não tinha desistido? Era melhor fingir que não existisse, Usagi preferiu não arriscar. A última coisa que gostaria era que Rei soubesse mais como estava a relação deles. Não era mais questão de orgulho, pensou. Era apenas de não aprofundar a ferida.
Mas ao pegar o aparelho, percebeu que o nome nada tinha a ver com o de Mamoru e suspirou com alívio para atender animada à ligação de Naru.
— Usagi... Eu te acordei? — perguntou com a voz um pouco abafada.
— Não! Eu tô aqui no trabalho. Tudo bem contigo?
Razniu a testa, percebendo haver tempo que não falava com ela. Ela a vira uma vez depois de Nagasaki, em uma das saídas em grupo que Minako tinha organizado. Até Seiya estava lá. Isso fora... um mês antes?
— Eu... sou péssima. Você vai me odiar... — Naru fungou alto, mas antes que Usagi pudesse dizer qualquer coisa, continuou: — Masato também... Ele vai me odiar... Mas eu preciso terminar com ele. Por favor, diga para eu não o fazer. Você vai odiar quando ouvir tudo, Usagi. Por favor... Peça para que eu não o faça antes de... — Naru começou a chorar.
O que dizer em uma situação daquelas? Que fazia muito bem, porque tinha certeza de que ele gosta da outra e não se sabia por que ele tinha escolhido continuar com o noivado? Não, seria a pior resposta para Naru. Ao mesmo tempo, não vinha à sua cabeça qualquer outra, por isso, ela continuou muda até a amiga prosseguir.
Mas isto se deu no exato momento em que Usagi ouviu Rei cumprimentar um cliente recém-chegado, o tom de voz das boas-vindas quebrado pela surpresa.
— Eu me apaixonei pelo Seiya.
Mamoru entrou quase sem ar no Drunk Crown e, apenas depois de fechar a porta, percebeu que Rei estava bem à sua frente.
Continuará...
