I - Aos poucos, volta ao normal
Duas semanas depois da partida de Sam e Pete, Patrick viu-se obrigado a retomar seu negócio de vidente, afinal, mais dinheiro e garantir a faculdade de Charlotte não era uma má ideia. Por outro lado, ele ficou preocupado em deixar Angela sozinha com Charlotte e ter uma recaída. Ele fora a algumas consultas conjuntas com a Dra. Sarandon e ela deixou claro que, para o bem de Angela, ela não deveria ficar sobrecarregada com as obrigações da maternidade por pelo menos alguns meses, e, à medida que os hormônios estabilizarem , o remédio seria retirado aos poucos.
Tencionando organizar sua agenda, ele recolheu-se a casa de hóspedes e passava pelo menos de duas a três horas envolto com a compilação dos dados de seus clientes em Cd's, anotações de contatos e confirmação do interesse em continuar com as sessões. Ele sempre procurava fugir para lá no momento da soneca mais longa de Charlotte, de modo que Angela não ficaria muito ocupada cuidando das tarefas e da filha ao mesmo tempo. Contudo, ele não conseguia ficar muito tempo fora das vistas de sua esposa e filha. Assim que terminava ou quando Charlotte estava mais enjoadinha, ele permanecia ao lado delas, fazendo refeições saborosas, limpando a casa, fazendo compras no mercado e cuidando das contas de consumo da residência.
Dado momento, Patrick percebeu que sozinho ele não daria conta de fazer tudo, então, começou a estudar para contratar uma governanta. Isso seria ótimo quando ele estivesse fora, em visitas particulares a seus clientes, ou até mesmo, em apresentações. Essa era outra questão que o incomodava, já que estava sem agente, e por isso, suas aparições para um público maior estavam suspensas desde do nascimento de Charlotte. Com toda a preocupação com o estado de Angela, ele havia se esquecido de providenciar a contratação de um novo agente, e que desta vez não fosse tão insensível e mesquinho.
Portanto, sua atenção estava concentrada em buscar entre seus conhecidos indicação de um agente, o que ele conseguiu resolver razoavelmente rápido,pois seu velho conhecido John, dos tempos do Parque de Diversões, indicou-lhe seu agente Michael. Depois de vários telefonemas, troca e e-mails e mensagens, a primeira reunião deles aconteceu em uma tarde ensolarada de outono, na elegante sala de estar de Patrick; na hora combinada, um homem franzino, com cabelos castanhos ralos e lisos, olhos pretos atentos, dentes frontais que lembravam um rato, e com um jeito de vigarista profissional como somente Patrick reconheceria. Michael estava vestindo um terno azul marinho , um falso Armani, apareceu e cumprimentou Patrick com entusiasmo. Angela, vestida com uma camiseta e um moletom confortável, estava sentada em uma das poltronas, com Charlotte apoiada em um dos ombros para arrotar após uma mamada, e o homem logo correu para apertar-lhe a mão:
'' - Senhora Jane, por favor, não se levante.'' - ele disse prestativo. '' - E quem é essa linda menina?'' - ele sorriu para Charlotte, que a princípio franziu a testinha estranhando o sujeito desconhecido que estava falando com ela e cutucou com o dedo indicador sua bochecha; ela não chorou, mas também não sorriu como era de costume, optando por observar cautelosamente esse homem. Michael não se deixou abater, nunca deixando o sorriso fácil sair de seu rosto. '' - Bem, Sr. Jane, podemos começar?'' - ele virou-se para Patrick, o qual indicou que Michael se sentasse no sofá do lado oposto de onde Angela estava sentada com Charlotte. Com os olhos, ela perguntou ao marido se deveria sair, ao que Patrick respondeu que não com um balançar sutil de cabeça. Ele não se importava que ela participasse de seus negócios, mesmo sabendo que ela detestava o modo pelo qual ele ganhava seu dinheiro.
Michael se acomodou ao mesmo tempo que abria sua fina pasta de couro marrom, retirando algumas indicações e uma minuta de contrato para a análise de Patrick. A intenção era que Patrick ampliasse sua atuação além dos limites de Los Angeles e Las Vegas, incluindo no roteiro várias cidades importantes da Califórnia, como San Diego, São Francisco, Fresno, por exemplo. O projeto consistia em fazer uma espécie de turnê nessas cidades, divulgando o trabalho de Patrick. Michael já tinha tudo planejado, entregando a Patrick um portfólio com cartazes e panfletos de divulgação; de praxe, de toda a renda arrecadada nessas ocasiões, ele tiraria 10% a título de comissão.
'' - São muitas viagens, Michael.'' - Patrick disse preocupado, imaginando que ficaria muito tempo for a de casa e longe de sua família.
'' - Podemos organizar para que sejam duas ou três viagens mensais no máximo. No início, para angariar o público, ficaríamos estabelecidos pelo menos 1 semana em cada uma, ou seja, você ficaria for a por três semanas no máximo. E quando sua performance ficar mais conhecida, pois eu garanto, trabalhando comigo, seu nome surgirá em todos os círculos de clubes e associações, diminuiremos as viagens.'' - Michael respondeu prontamente, com uma certeza de quem conhecia o mundo do show business como ninguém; ele piscava muito e lambia os lábios compulsivamente, tentando disfarçar seu temor de que Patrick desistisse da empreitada antes mesmo de começarem. Como foi avisado por John que Patrick era um homem apegado à sua esposa e filha, Michael estudou cuidadosamente sua estratégia de conquista para que não perdesse um filão de ganhar dinheiro como Patrick Jane. Afinal, o que Patrick oferecia era um tipo de serviço que a maioria dos desesperados estava a procura: esperança e conforto por saber ''notícias'' de seus falecidos entes queridos.
'' - Certo.'' - Patrick disse pensativo e indeciso, seu coração doendo antecipadamente por ter que deixar sua esposa e filha tanto tempo sozinhas. Ele segurava o contrato na mão, não lendo as páginas realmente, mas pensando freneticamente um meio termo com o qual tanto ele quanto Michael pudessem ficar satisfeitos. Apesar de ter dinheiro suficiente para viver bem pelo resto de suas vidas, ele queria garantir que Charlotte pudesse ter a melhor educação e tudo o que ele e Angela não tiveram em suas infâncias. Por seu turno, Angela percebeu o dilema do marido e resolveu intervir:
'' - Patrick. '' - quando estavam reunidos com pessoas fora do seu pequeno círculo de amizades, ela preferia tratá-lo com o primeiro nome, ao invés do apelido carinhoso de Paddy. '' - Ficaremos bem, não se preocupe.''
'' - Aí está. A senhora é uma mulher de fibra, Sra. Jane.'' - Michael bateu uma palma estalada que imediatamente chamou a atenção de Charlotte que se assustou no colo da mãe e fez um biquinho de quem iria chorar a qualquer momento. '' - Opa, desculpe pequenina, não quis assustar você.'' - Michael abaixou a voz, afinando-a para se dirigir a Charlotte, que estranhou mais ainda, escondendo seu rosto no ombro da mãe.
'' - Patrick, será por pouco tempo. Se der tudo certo, logo você não terá que viajar tanto.'' - Angela falou ao marido, escolhendo ignorar o espuleta agente que por todas as vias estava tentando chamar a atenção de Charlotte; ela levantou-se da poltrona, dizendo que precisava trocar Charlotte, deixando os dois homens sentados em frente um do outro, sendo que Patrick ainda estava consumido em dúvidas. Porém, no fundo, ele sabia que Angela tinha razão, além do mais, ele não iria começar nenhuma turnê até que a governanta estivesse ambientada com sua esposa e filha.
'' - Certo, vamos assinar Michael.'' - ele disse ao homem que quase pulou da poltrona de empolgação, seus olhos certamente brilhando cifrões do dinheiro que viriam a ganhar- ''Só que irei começar as viagens quando Angela escolher a governanta. E nenhum minuto antes.''
'' - Claro, claro, está certíssimo! A família em primeiro lugar.'' - a voz de Michael era alegre, mas seu rosto miúdo de rato entregava todo o desapontamento que estava estampado em seu rosto, explicitado pelo leve caimento da boca de Michael no lado direito, sendo observado imediatamente por Patrick, que se perguntou se Michael tinha conhecimento de que ele era um excelente avaliador de emoções e lia com muita precisão as pessoas. Provavelmente John não avisara a Michael, e imaginou seu velho parceiro rindo às gargalhadas imaginando as reações de Michael com as condições que seguramente Patrick iria apresentar. Balançando levemente a cabeça, Patrick voltou a ler, desta vez, atentamente os termos do contrato de agenciamento e ao final, rubricou e assinou as folhas. Michael apertou sua mão eufórico, prometendo que Patrick não se arrependeria de sua parceria. Patrick resignou-se a concordar com a cabeça, mesmo que duvidando muito que ele e Michael seriam tão bons amigos como esse estava dando a entender. Ele despediu-se do homem em sua porta, contente por não ter que estender por mais um minuto essa conversa, e Patrick sabia que deveria ficar muito atento para que não fosse passado para trás por seu novo agente. Ele balançou a cabeça rindo sozinho, surpreso que alguém pretendesse passá-lo para trás.
