II - Do sexo à briga

Patrick, antes de subir para encontrar suas meninas, passou no lavabo para lavar as mãos, intencionando eliminar qualquer vestígio do pegajoso Michael. Enquanto ele estava subindo as escadas, ele ouviu algo que o encheu de felicidade: Angela e Charlotte estavam rindo. Era a primeira vez que ele escutava a doce risada de Charlotte; elas estavam no quarto do casal, esparramadas na imensa cama, com Angela fazendo cócegas na barriga e carinhas fofas, o que arrancava risadas cada vez mais altas de Charlotte.

'' - Paddy, olha só, como ela gosta.'' - Angela encarou Patrick com os olhos brilhando de felicidade e alegria, como há muito tempo ele não via. Ele sorriu também e se aproximou animado da cama, brincando com as mãozinhas de Charlotte com seus longos dedos, arrancando mais risadas da bebê. Eles passaram a próxima meia hora revezando entre si, disputando uma saudável competição de quem iria fazer Charlotte rir mais. Dado certo momento, Charlotte abriu a boca com um imenso bocejo, demonstrando que as brincadeiras dos pais finalmente a cansaram. Ela ainda estava com os lábios em forma de sorriso quando piscou os olhos carregados de sono.

'' - Ela dormiu.'' - Patrick sussurrou para Angela, esperando se ela iria pegar a filha para levá-la ao quarto dela.

'' - Sim, eu vi...'' - Angela estava embevecida com a filha e pareceu não notar o olhar de desejo de Patrick. Ele levemente chegou mais perto de sua esposa, retirando suas longas mechas loiras de seu ombro, expondo seu belo pescoço. Há tanto tempo que ele não desfrutava do gosto de Angela, do doce beijo de seus lábios, dos gritos abafados em seu ombro quando ele a fazia gozar furiosamente enquanto ele se mexia sensualmente dentro dela. Ele estava com saudades. Ele sentia falta dela. Ele não queria forçar, mas estar perto dela e não se lembrar de todos esses momentos estava ficando insuportável. Não resistindo à fragrância do perfume delicado de alfazema de Angela, ele começou beijá-la suavemente no pescoço, escorregando a mão em seu braço até chegar entre os dedos dela, apertando afetuosamente, deixando claro suas intenções.

'' - Paddy...o que está fazendo?'' - Angela murmurou com um tom de voz um pouco surpresa.

'' - O que você acha?'' - ele virou o rosto dela para que pudesse encontrar com seus lábios, em um beijo carregado de tesão, pedindo entrada com sua língua passando lentamente de um lado para outro. Angela, de primeiro não correspondeu, mas de repente, algo dentro de seu corpo acendeu e ela viu-se beijando loucamente seu marido de volta, mergulhando seus dedos nos cabelos cacheados de Patrick que ela tanto amava. Depois do que pareceram vários minutos, eles se separaram para respirar, no entanto, Patrick não estava disposto a deixar de beijá-la, cobrindo suas bochechas, queixos e pescoço com beijos leves como uma pluma.

'' - Eu estou com saudades, Angie... quero você.'' - ele sussurrou em seu ouvido, mordiscando o lóbulo da orelha dela.

'' - E Charlotte?'' - ela conseguiu dizer entre suspiros de excitação.

'' - Eu coloco ela no berço.'' - Patrick cuidadosamente levantou a filha da cama, onde estava aninhada alheia aos movimentos dos pais, levando-a pé entre pé para o berço. Ao voltar para o quarto, Angela percebeu que o grande volume das calças dele não havia diminuído, o que a deixou animada. Com olhos felinos e predadores, ele avançou sobre ela, beijando novamente sua boca enquanto a empurrava devagar para a cama.

Angela estava no céu; apesar de estar sob tratamento e medicada, ela estava insegura se o marido ainda a desejava como antes de ter Charlotte, se as estrias e o pequeno volume que ainda estava alojado em sua barriga o tivesse afastado dela. Mas ele provou que não, pois as mãos de Patrick percorriam seu corpo de cima para baixo, dando atenção a seus seios, agora doloridos por outro motivo, apertando sua bunda com força, enquanto enfiava a língua em sua boca.

'' - Não podemos demorar muito, ela irá acordar logo, mas eu estou sentindo tanta saudade.'' - ele murmurou no vale de seus seios ao mesmo tempo que suas mãos tiravam sua calça e calcinha e seus dedos mergulharam dentro dela e circulando seu clitóris ao mesmo tempo. Quando ele percebeu que ela estava bem molhada e não conseguia conter seus gemidos em um tom baixo, Patrick simplesmente abaixou sua calça de brim e sua cueca boxer, expondo seu pênis rijo, saltando ansioso para se aconchegar em seu lugar preferido. Lentamente, ela a penetrou, consciente de que ela estava mais apertada depois do parto e do tempo que passou sem fazer sexo. Todavia, ela estava tão úmida, que o pênis dele escorregou facilmente por entre suas paredes. Ele mexia lentamente, em um ritmo agonizante, o que fez Angela prender o quadril dele com suas pernas.

'' - Mais rápido, mais forte''. ela disse baixinho no ouvido dele, sendo recompensada pelo aumento do ritmo, e quando ele mudou o ângulo das estocadas para que a base de seu membro duro atingisse em cheio seu clitóris inchado, ela gozou chorando baixinho, e logo ele a seguiu, derramando-se dentro dela tão intensamente que ela gozou de novo só de sentir as pulsações da ejaculação de Patrick nela. Respirando forte, os dois encararam-se com ternura, trocando beijos delicados, Patrick mantendo-se dentro dela como se não quisesse sair de lá nunca mais. Porém, Charlotte se fez conhecer, começando a reclamar em seu quarto, exigindo atenção de seus pais.

'' - Paddy, preciso cuidar de Charlotte.'' - Angela disse baixinho, empurrando-o levemente de cima dela.

'' - Agora? Ela não pode esperar mais um minutinho?'' - ele ainda estava arfando e seu pênis estava semi duro, acolhido no sexo de Angela.

'' - Sim, agora.'' - Angela riu, batendo no braço dele de brincadeira ao mesmo tempo que o compelia a se afastar. Ela saiu da cama, levantando sua calcinha e calça de moletom, sentindo o líquido quente encharcando sua calcinha e de alguma forma, Angela continuava excitada mesmo estando profundamente satisfeita.

'' - Oi garotinha, a mamãe está aqui.'' - Ela disse ao se aproximar do berço onde Charlotte estava esfregando suas mãozinhas fechadas no rosto, engatando um choro mais alto. A filha de dois meses abriu um largo sorriso, sabendo que seria alimentada e cuidada.

Enquanto mãe e filha tinham seu momento de carinho e aconchego, no quarto, Patrick estava deitado de bruços, sua respiração tendo voltado ao normal, ainda com as calças arriadas e seu pênis, ainda semi duro por causa do cheiro de Angela nos travesseiros, tocando desconfortavelmente os lençóis brancos da cama. Ele soltou um longo suspiro, e esticando-se todo feito um gato, reuniu forças para vestir-se e levantar da cama, levando consigo os lençóis e fronhas para lavar. Patrick fez um amontoadinho com as roupas de cama e dirigiu-se ao banheiro principal; tomou um banho rápido e como estava abafado, vestiu uma camiseta e uma bermuda de algodão larga e confortável. Voltou ao quarto, arrumou a cama com lençóis e fronhas limpos, optou por calçar um chinelo cloud slides e levou a trouxa de roupas para lavar. Colocou tudo na máquina, programando-a para funcionar, voltou à cozinha, pois misteriosamente ele estava faminto. Sorrindo feito um bobo, ele preparou dois sanduíches de queijo branco, com requeijão, alface e tomate. Espremeu laranjas para um suco natural, picou maçãs e peras, colocando tudo em um pote, organizou a comida em uma bandeja, e assobiando, ele subiu as escadas para encontrar Angela no quarto de Charlotte, as duas em uma divertida conversa de como a bebê adorava fazer xixi ainda sem a fralda. Angela ralhava com a filha jocosamente, e em contrapartida, a menina ria satisfeita.

'' - Desculpe interromper esse diálogo tão sério, mas eu trouxe o lanche.'' - Patrick ironizou, deixando a bandeja em cima da cômoda, aproximando-se do trocador onde as duas estavam, beijando Angela na têmpora e Charlotte na sola de seu minúsculo pé.

'' - O que você trouxe aí?'' - Angela perguntou sorrindo, levantando uma Charlotte totalmente trocada e alimentada, recolocando-a no berço e sentando na acolhedora poltrona ao lado.

'' - Um lanchinho saudável, para, er, repor nossas energias.'' - Patrick respondeu em um tom malicioso, levantando sugestivamente as sobrancelhas.

'' - Que bom, porque não sei qual o motivo, estou faminta.'' - Angela devolveu na mesma moeda, recebendo agradecida um sanduíche e um copo de suco de laranja. Ela acomodou tudo como pode no colo e no braço da poltrona, e comia enquanto mantinha uma das mãos batendo suavemente na barriga de Charlotte em ritmo de ninar. Patrick sentou-se no chão, entre sua esposa e o berço da filha, de pernas cruzadas, saboreando seu próprio sanduíche e suco. Eles comeram por um tempo em um silêncio confortável, observando com carinho a filha que teimava contra o sono, brigando para que suas pálpebras não fechassem. Quando os pais estavam em uma divertida disputa pelo último pedaço de maçã, Charlotte já havia capitulado e roncava baixinho em seu berço. Contente, Patrick levantou-se do seu lugar, esticando os músculos que reclamaram de ficar na mesma posição por tanto tempo, ganhando um '' - Você está velho!'' de sua esposa que ria baixinho. Infantilmente, Patrick mostrou a língua, e reclamando baixinho como ela era ingrata, recolheu a louça do lanche, levando tudo para a cozinha, onde retirou o excesso e organizou tudo na lava louça, ligando o aparelho, por causa da louça acumulada.

Ao invés de voltar para o quarto, Patrick saiu da casa pela porta dos fundos e caminhou solitário até o deck da praia, sentando-se em uma das cadeiras, admirando a enormidade do oceano que se desdobrava a sua frente, a brisa da maresia soprando em seus cabelos, despenteados descuidadamente. Ele sentiu antes de ver que Angela se aproximar, segurando a babá eletrônica; automaticamente, ele estendeu o braço, convidando-a a se aconchegar e olhar o mar com ele. Angela contente se aninhou no marido, e como eram praticamente da mesma altura, encostaram a cabeça um no outro e ficaram muito tempo calados, só observando o vai e vem das ondas quebrando logo abaixo da encosta onde o deck havia sido montado. Angela estava feliz, sentia uma tranquilidade que há muito tempo não residia em seu coração; eles alcançaram muitas coisas depois que fugiram do Parque de Diversões. Sofreram muito no começo, dormiram em pensões sujas e cheias de pulgas, com roupas de cama fedidas e emboloradas. Por várias vezes, a única refeição que dividiram no dia era um pão de forma seco e um copo de água. A situação melhorou um pouco quando ela conseguiu um emprego de garçonete, contudo, tudo ficou melhor mesmo quando Patrick finalmente conseguiu emplacar seu show de vidência, e o dinheiro começou a entrar. E agora aqui estavam eles, admirando o mar de sua bela propriedade, de ouvidos atentos à babá eletrônica caso a filhinha deles resolvesse acordar da sua tão amada soneca. Patrick estava com pensamentos semelhantes, sentindo-se orgulhoso de si mesmo por ter conquistado tanto e principalmente, sem a ajuda de seu velho pai, o qual sugeriu que Patrick nunca seria nada sem ele. Nunca emplacaria como um vidente ou qualquer outra coisa que imaginasse tentar. Contudo, aqui estava ele, feliz, com família e rico, muito rico. E nada nem ninguém poderia impedir que ele alcançasse o estrelado, fosse cada vez mais alto, tivesse mais dinheiro, mais investimentos, mais fama e tudo o mais que ele certamente merecia.

'' - É maravilhoso o que temos aqui, não acha?!'' - ele perguntou retoricamente à Angela, dando-lhe um leve beijo na tempora.

'' - Sim. É.'' - ela concordou. Mais silêncio, e Angela sentiu seu coração acelerar, pois sabia que ele não gostava quando ela tocava no assunto: '' - Paddy, não acha que temos o suficiente?''

'' - Como assim?'' - ele virou a cabeça tão rápido, que por um momento ela pensou que ele houvesse levado um choque.

'' - Temos essa linda casa, temos nossa filha e creio que você não gastou todo nosso dinheiro…'' - Angela continuou incerta, olhando firmemente para frente.'' - Você fez investimentos seguros, não fez? Como Ed disse.'' - Ed era um antigo comparsa de circo, que saíra para tentar a sorte, mas voltou pouco tempo depois, pois havia gastado todo o dinheiro com mulheres e jogo. '' - Invista, Paddy… nunca gaste tudo, não seja como eu, um trouxa degenerado.'' - Ele disse aos dois, em uma noite animada em torno da fogueira, assando marshmallows e tomando vinho quente. Patrick e Angela pensaram nisso seriamente, ainda no parque, antes de fugirem.

'' - Você sabe que sim.'' - Patrick estava começando a ficar irritado. Como ela poderia imaginar que ele seria tão irresponsável em simplesmente gastar todo o dinheiro deles? Ele, eles na verdade, nunca poderiam retornar à vida itinerante do circo, tampouco arrastar sua doce Charlotte nessa empreitada. '' - Tenho outras contas, fora do país, além das duas que estão no nosso nome. Afora as aplicações seguras.'' - Ele ainda olhava para ela com um traço de raiva. '' - Por que isso de novo Angela? Já conversamos, sabe que eu não posso parar.''

'' - Por que não?'' - ela finalmente o encarou, com os olhos marejados, rosto contorcido de frustração.

'' - E o que eu faria para manter nossa família? Sabe que não tenho qualificações, eu seria um empregadinho de meia tigela.'' - Patrick afastou-se dela para cruzar os braços protetoramente, como se quisesse se embarreirar.

'' - Você é muito bom de lábia, Patrick, poderia tentar ser vendedor.'' - ela tentou timidamente.

'' - Ah, claro.'' - ele riu com escárnio. '' - E o que exatamente eu deveria vender?''

'' - Não sei, carros talvez?'' - a voz dela estava carregada de impaciência.

'' - Hum, nossa, seria ótimo não? Eu só mudaria o modo com o qual enganaria as pessoas, fazendo-as comprar um carro velho como novo. É isso?'' - ele tremia um pouco de indignação, seu rosto contorcido de desaprovação por estarem tendo essa conversa pela milésima vez.'' - Você realmente acha que valho tão pouco?''

'' - Pelo menos seria honesto Patrick!'' - Angela exclamou, lançando os braços para o ar.

'' - Honesto? Honesto?'' - ele agora começou a andar de um lado para outro.'' - Quando fugimos juntos, você sabia muito bem com quem estava se metendo. Você é a única pessoa do mundo para quem nunca menti.''

'' - Eu sei…é que, é que, você não se sente mal em iludir as pessoas?''

'' - Não iludo ninguém, dou apenas o que querem.'' - ele disse teimosamente.

'' - Ah claro, porque você realmente tem contato com o mundo do além.'' - ela devolveu sarcástica

'' - Não é minha culpa que as pessoas são tão crédulas.''

'' - Só queria que tivéssemos uma vida diferente.''

'' - Diferente como? Queria morar em um trailer velho e fedido?''

'' - Não.''

'' - Então o que? Queria que eu montasse uma barraca de adivinhação em outro parque, em outro circo?''

'' - Sabe que eu odeio a vida do circo.'' - ela cruzou os braços, encarando-o desafiadoramente.

'' - Certo, nesse caso, qual seria a alternativa? Uma casinha ridícula em um subúrbio? Eu sou mais do que isso, EU mereço mais do que isso. EU sou bom naquilo que faço e vou continuar. '' - Patrick estava vermelho e bufando de raiva.

'' - Patrick...''

'' - Não Angela, chega. Se você não gosta da vida que estou oferecendo a você, pode ir embora. Mas eu nunca vou abrir mão de Charlotte, nunca, saiba disso.'' - ele saiu pisando duro, deixando para trás uma Angela estupefata, presa no lugar, chocada com o ultimato dele. As lágrimas caíram compulsivamente e ela se sentiu ridícula, pequena, mesquinha por estar pressionando Patrick com suas inseguranças a respeito de como conseguiam o dinheiro. Por sua vez, Patrick entrou na casa fumegante e só não bateu a porta atrás de si por receio de assustar sua filha, que dormia inocentemente em seu quarto, alheia à discussão acalorada dos pais. Respirando forte, ele subiu os degraus de dois em dois e foi ao quarto da filha, que dormia a sono alto. Ele fez um carinho suave em sua cabeça, e sentiu como se seu peito fosse explodir de tensão. Patrick sabia que Angela estava certa, eles tinham o suficiente, mas para ele não era o bastante ainda. Finalmente, ele estava recebendo os louros de seu talento; estava sendo reconhecido e ganhava bem por isso. No fundo, ele não gostava de enganar viúvas e parentes desesperados, todavia, o que mais ele faria da vida? Só aprendera a ser assim, não havia outro jeito. Confuso e com raiva, ele escorregou devagar até o chão, sentando-se apoiado nas grades do berço, observando atentamente o leve subir e descer do peito de Charlotte, tentando não pensar que seus atos dissimulados um dia poderiam se voltar contra ele, como uma justiça distorcida de uma força do Universo na qual ele não acreditava. Buscando seu segundo conforto favorito da vida, ele acarinhou os pezinhos de sua filha, chorou baixinho por ser um vigarista baixo e arrogante, e lentamente dormiu sentado.