Eram cinco horas da tarde. Naruto não havia conseguido pregar os olhos desde a noite anterior e se sentiu patético por isso. Por que raios ele se via tão assustado se aquilo já havia acontecido tantas vezes?

Não era como se fosse a primeira vez que ele fosse alvo de procura, muito menos de pessoas perigosas que queriam o matar. Ele já esteve há cinco anos, cinco malditos em anos de vida. Imerso no sangue daqueles que nunca mataram, mas só por não oferecer o último golpe. Só para não se sentir de fato o assassino que sabia que era. Como ele havia parado ali não era algo que ele sequer se deixava questionar naquele ponto, afinal, para alguém que viveu uma vida que ele viveu era esperado que algo assim acontecesse. Previsível, até.

Seus pais morreram quando tinham apenas 3 anos, ele não possuía memória de alguma deles. Às vezes achei que assim era melhor, pois não tinha do que sentir falta. Pelo menos era o que ele se forçava a acreditar para deixar tudo menos amargo a seu ver. Deixado cedo pelos pais, foi parar em um dos orfanatos mais desestruturados de sua cidade, Konoha. Foi lá que o conheceu.

Uchiha Sasuke. Ele nunca se esqueceria da primeira vez que o viu. Seus cabelos negros em contraste com sua pele clara, sua expressão de algo que beirava a indiferença, mas não chegava a tanto. Não para Naruto, que conseguiu ler muito mais em seu rosto do que o moreno gostaria.

No início, Naruto ou odiava. Achava irritante de maneira como, mesmo para uma criança, ele possuía um ar de superioridade. Coisa que Naruto vive anos depois que era apenas uma fachada para as mil inseguranças e traumas de abandono que o menino possuía, tanto quanto ele. Por um bom tempo, as interações problemáticas e brigas entre os dois causaram muitos problemas, até que ambos acabaram percebendo que encontravam conforto um no outro, mesmo que fossem pelas interações tortas e brigas incessantes, mesmo que fosse um conforto no mínimo doentio, a realidade Caiu sob os ombros dos dois após um desentendimento que os levou a uma briga quase mortal para ambos: um era tudo que o outro tinha.

De repente, pensar nisso o fez sorrir. Mesmo depois de terem saído de lá depois de completarem dez anos, eles prometeram silenciosamente nunca deixar um ao outro. Não preciso de palavras, pois nunca tive precisão. Sua relação era construída de silêncios mútuos e dos entendimentos dos detalhes mais minuciosos que emparelhavam e residiam sobre eles e, até então, isso bastava.

Sasuke sempre estaria ali. Não foi atoa que ele recebeu para o alertar assim que eu sabia que a recompensa por sua vida havia sido dobrada de valor. Mas afinal, o que ele esperava praticamente matar o braço direito do chefe da Akatsuki, organização rival a que ele não só fazia parte como também tinha grande influência sobre? Francamente, não era como se ele tivesse escolha. Ele já havia escolhido quando resolveu entrar naquela vida.

Após um suspiro cansado, resolveu que precisava de alguma distração. Abriu o celular e discou o número familiar que pretendia. A voz tão conhecida quanto reconfortante logo o atendeu.

"Fala, idiota."

"Você realmente não consegue esconder o quanto me ama, hein, babaca?"

Sasuke riu. "Não me faça vomitar, acabei de comer. Então, por que ligou?"

Naruto suspirou. "Não vou mentir, depois da notícia que você me deu eu realmente preciso encher a cara. Liguei pra te avisar que vou estar no bar da esquina aqui de casa em trinta minutos, caso 'cê queira me encontrar."

Sasuke revirou os olhos, mesmo sabendo que o outro não o veria, não economizou no tom sarcástico. "Ah sim, encher a cara realmente parece ser a melhor das opções no momento."

Naruto bufou. "Tenho certeza de que é das piores que eu tenho, mas sinceramente, não sou o suficiente para me importar com nada agora. E então, você vai?"

Sasuke suspirou. "E eu lá tenho escolha?"

Naruto riu tortamente. "Ótimo! Te encontro lá então, até."

"Comeu." Sasuke desligou e, após uma longa espreguiçada, se deu por derrotado e foi se arrumar para sair.

Tanto o final de tarde quanto a noite definitivamente seria longa, ele pensou, e em seguida agradeceu mentalmente por isso. Afinal, ele sabia que qualquer oportunidade de prolongar o dia era por si só uma virtude, já que nada, nem mesmo uma longa noite de bebedeira os fariam escapar do inescapável: o temível amanhã.