São 12:30 Kuwabara foi almoçar, mas eu vim direto pra minha mesa e estou relendo os documentos dos casos de Kaito, alguns casos eu apenas ignoro, violência doméstica, roubo de um computador na boate B. Club, furto de celular. O que chama minha atenção são dois casos especificos:
- O caso Koto... - Falo pra mim mesmo, era um caso que me lembro de ter lido no jornal, a garota desapareceu um dia quando voltava do trabalho, o corpo foi encontrado dois dias depois soterrado em lama. Nenhum circulo de sangue ao redor do corpo, mas segundo o laudo do legista, a causa da morte foi uma facada no coração. E o corpo tinha vários sinais de cortes. O principal suspeito era o ex-namorado, Minoru Kamiya, um médico respeitado na região. Eu coloco a ficha de lado, e olho para a outra ficha - O caso Touya - Um jovem de 16 anos, morto com facadas, também, nenhum circulo de sangue ao redor do corpo, o principal suspeito é Tiyu, um parceiro de gangue que foi encontrado próximo da área bebado. Ele está preso preventivamente, mas se recusa a falar.
- Eai Kuraminha? - Levanto meus olhos e vejo Yusuke sorrindo e me extendendo uma tigela de lamen - Já comeu? - Balanço a cabeça negativamente e ele quase que empurra a tigela para a minha mão - Então bora comer, senão tu não pensa bem - Não consigo conter um leve sorriso no rosto, Yusuke sempre sabe deixar o clima mais leve.
- Valeu! - Começo a comer.
- E então? Alguma pista?
- Dois casos que o Kaito estava trabalhando, envolvem esse tipo de morte com facas. Principalemente esse caso da Koto - Eu aponto para a ficha na mesa - Talvez o assassino tenha feito o mesmo desenho com sangue no chão, mas acabou chovendo no lugar e o corpo afundou na lama. Talvez tenha sido a primeira morte dele, então ele ainda não sabia exatamente o que estava fazendo.
- Ah! To ligado, eu lembro desse caso na TV. Não achavam que tinha sido o ex-namorado?
- É, mas pelo jeito ele tinha um alibe, uma enfermeira jura que ele estava no hospital naquela mesma hora ela disse que ajudou ele com a cirurgia de um adolescente que tinha sofrido um acidente de carro e estava na emergencia durante a madrugada. Passou a noite toda lá, além disso a recepcionista diz que viu ele entrando, e não viu ele saindo até o final do turno dela.
- E então?
- Bom, não custa conversar com ele, mesmo que não tenha relação, talvez ele saiba de alguma coisa. Alguma coisa que o Kaito deixou passar...
- Saquei - Yusuke se inclina na cadeira - E o prefeito? Veio pedir atendimento preferencial?
- Ele quer que eu resolva rapido e sem chamar atenção.
- Como você não vai chamar atenção num caso desses - Eu ergo ambas as sobrancelhas, e faço uma expressão para indicar o que Yusuke já deve saber a esse momento.
- Ah... Tá... - O prefeito não quer que esse homem, seja quem for, seja preso, ele quer que ele desapareça antes de um novo homicidio acontecer. O suspeito vai ser morto num confronto com a policia, e os jornais não vão passar os próximos meses falando sobre o caso - E ai?
- Eu não sei... - Eu não sinto nenhum peso moral com a possibilidade de matar um assassino em série. Mas se me perguntar o que eu acho, eu não vou arriscar matar um inocente, mesmo que a chance dele ser inocente seja minima - Mas eu só preciso me preocupar com isso depois de achar o cara não é?
- Faz sentido! - A porta se abre e vejo Kuwabara entrando.
- E ai Urameshi, ta pentalhando o Kurama por quê?
- Oh seu cabeça oca, eu to ajudando ele a investigar, coisa que é o seu trabalho se é que você não consegue lembrar! - Diz provocador, eu dou risada, os dois sempre se tratam assim, é uma amizade divertida de assistir.
- Orá seu! Espera só o fim do expediente pra eu te dar uma surra!
- Ah! To só esperando! - Eu levanto, e os dois param pra me olhar.
- Kuwabara, vamos dar uma volta.
- Ah... Ta... Onde?
- Vamos no hospital - Kuwabara levanta uma sobrancelha curiosa, pega o casaco e me segue, antes de sair ele ainda faz uma careta para Yusuke que mostra a lingua pra ele.
- E ai? Descobriu alguma coisa? - Pergunta meu parceiro a caminho do carro.
- Te explico no caminho.
...
São 15 minutos de carro até chegarmos ao hospital, caminhamos pra dentro calmamente, vou até a atendente e mostro meu distintivo.
- Gostariamos de conversar com o Dr. Minoru Kamiya.
- Ah... O turno dele começa em duas horas, se quiserem esperar... - Replica a recepcionista.
- Sim, vamos sim - Respondo, eu pauso por um segundo - A senhorita Ruka está por ai?
- Claro, ela está no atendimento, se puder esperar um minuto eu vou buscá-la - Comenta a mulher se levantando, esperamos alguns minutos e as duas voltam andando calmamente.
Ruka era uma mulher de cabelos vemelhos vivos, e olhos castanhos, ela devia ter cerca de um metro e sessenta e cinco, e parecia bastante preocupada.
- Senhorita - Eu e Kuwabara nos curvamos levementa para ela que retribui.
- Em que posso ajudá-los detetives?
- Temos algumas perguntas sobre a noite da morte da senhorita Koto.
- Ah... De novo... - Ela solta um pouco frustrada, mas depois recua - Desculpem, é que... É que eu já falei tudo que eu sabia para a policia - Eu e Kuwabara nos entreolhamos - Podemos falar a sós senhorita? - Ela balança a cabeça positiva e nos indica até uma sala um pouco afastada, era um almoxarifado, entramos com ela.
- Senhorita Ruka, pode nos falar sobre onde você estava no dia em questão?
- Eu estava aqui, teve um paciente que chegou aqui trazido pelos amigos, ele disse que sofreu um acidente de carro, nós trouxemos ele pra dentro e então...
- Quando você diz nós quer dizer você e o Dr. Minoru?
- Isso... Alias, não... Fui eu e a Juri, a recepcionista o Dr. Minoru chegou depois...
- Quando o Dr. Minoru? Chegou?
- Ele... Ele estava no banheiro, e veio para fazer a cirurgia assim que eu chamei.
- No banheiro... Ele estava no plantão antes?
- Acho que sim...
- Você acha? - Pergunta Kuwabara um pouco incisivo demais, a garota se retrai.
- Ele... Ele tava sim! Eu vi ele lá mais cedo.
- Ok e então você preparou tudo e o doutor veio realizar a cirurgia.
- Isso!
- E como foi a cirurgia?
- Foi... Foi bem, deu tudo certo. Foi bem tranquilo.
- Tudo bem, vamos precisar da ficha do garoto.
- Eu... Eu não tenho acesso a isso - Ergo uma sobrancelha - E quem tem?
- Eu... Acho que... Ninguém tem... - Eu e Kuwabara nos entreolhamos.
- Senhorita Ruka... Atrapalhar uma investigação policial é um crime grave.
- Não... Não é isso... É que... Não foi feita uma ficha - Nos olhamos de novo.
- E por que não? - A porta se abre atrás de nós e um homem alto de óculos passa pela porta, ele usava um jaleco todo branco e tinha olhos e cabelos castanhos.
- Olá Ruka, estava procurando por você - Ela olha para mim e Kuwabara - Posso ajudar? - Saco meu distintivo e mostro - Ah sim, olá detetives, me desculpem, meu nome é Minoru Kamiya.
- Olá Dr. Kamiya, queriamos fazer umas perguntas.
- Eles... Querem saber sobre a ficha do garoto - Diz a garota quase sussurrando.
- Ah sim - Ele me olha com uma expressão de tranquilidade no rosto - Infelizmente não fizemos a ficha, era um procedimento de emergencia, então corremos para atendê-lo, como só estavamos eu e Ruka no plantão preferi não perder tempo com burocracias desnecessárias.
- Mas imagino que tenham feito uma ficha pra eles antes da alta não?
- Seria o prache, porém o jovém fugiu do hospital.
- Ele... Fugiu?
- Sim! Ele claramente estava dirigindo embreagado e sem licença, assim que avisamos os amigos que ele estava melhor, eles quiseram vê-lo, eu fui atender outra paciente na ala hospitalar, e quando voltei, os três haviam desaparecido.
- Tem alguma camera de vigilancia aqui no hospital?
- Sim, mas no dia elas deram defeito, consegue acreditar nisso? - Diz dando uma leve risada, eu e Kuwabara estamos muito sérios.
- E vocês dois estiveram aqui a noite toda.
- Exatamente - Respondeu sorrindo - Não é Ruka? - Ela balança a cabeça assentindo - Posso ajudá-los em mais alguma coisa? - Pergunta querendo soar prestativo. Eu guardo meu bloco de notas assim como Kuwabara.
- Não, acho que por hora é só isso, muito obrigado.
- Disponham detetives - Responde o médico - Ruka, pode vir comigo? - Ela balança a cabeça positivamente e os dois saem da sala.
- E ai? - Perguntou Kuwabara - Ta pensando no mesmo que eu?
- Sim... - Respondo - Eu não acredito em nenhuma palavra que saiu da boca dele.
- Eu vou dar uma checada na Ruka, ver porque ela ta protegendo ele.
- Tá... Enquanto isso eu vou checar o outro suspeito - Kuwabara balança a cabeça, saimos da sala e vamos até o carro, dessa vez eu sento no banco do passageiro, e Kuwabara vai para o banco do motorista.
Ele dirige por cerca de vinte minutos, e me deixa de frente para a prisão de custódia da cidade, eu desço do carro e caminho em direção ao prédio. Um policial me olha, e eu mostro o distintivo, ele me cumprimenta ao que retribuo.
- Estou aqui para ver o detento que atende pela alcunha de Tiyu, sem sobrenome registrado - O policial balança a cabeça positivamente, e me indica para segui-lo, andamos para a parte de trás, e passamos por algumas celas, cada uma com dois ou três detentos, a ultima cela tinha apenas um homem de cabelo moicano, e cerca de dois metros de altura sentado.
- Não fique próximo das grades, nem entregue nada ao detento, esse ai mostrou ser bem perigoso.
- Por que ele está sozinho? - O policial não responde apenas sai do local e me deixa para trás, eu aguardo até ouvir o grande portão de ferro que nos separava do hall se fechando - Tiyu não?
- Eu não vou falar nada! - Responde o homem.
- Eu tenho algumas perguntas pra fazer...
- Eu já disse que não vou falar nada!
- Bom, se não quiser falar, você vai ter que me ouvir - Ele não responde - Por que matou o seu parceiro? - Ele se levanta e anda furioso batendo ambas as mãos na grade de forma ameaçadora.
- EU NÃO VOU FALAR NADA! - Ele grita, eu dou um passo pra frente para olhá-lo mais de perto de forma desafiadora.
- E eu disse que se não falar, você vai ter que ouvir do mesmo je... - Antes que eu consiga terminar de falar ele me acerta com um soco no rosto me jogando no chão, eu olho pra ele chocado.
- CALA A BOCA! - Ele grita irritado e bate com ambas as mãos na grade - Eu ouço o grande portão de ferro do hall se abrindo e vejo três policias passando por ele com cacetetes na mão - PODEM VIR SEUS PORCOS! - Ele grita, os homens se aproximam e eu me levanto e ergo a mão fazendo sinal para que eles parem.
- Eu preciso conversar com ele...
- Senhor, com todo respeito, ele acabou de bater em você!
- Eu sei - Respondo, um pouco de sangue saindo do canto da minha boca - Mas eu ainda assim preciso falar com ele - Os policiais se olham um pouco confusos - Sozinho! - Eu reforço, eles se olham novamente e concordam com as cabeças saindo devagar do local - Você tem um bom soco - Eu comento tocando o rosto com a mão - Você já pensou em ser lutador? - Ele não me responde, apenas se senta novamente no banco, eu ando novamente até ficar de frente pra cela - Como eu dizia... Mesmo se não quiser falar você vai ter que me ouvir do mesmo jeito - Ele se levanta rapidamente e agarra a cela novamente me olhando com furia nos olhos, eu não recuo.
- Eu posso continuar te batendo até você ter uma concussão.
- Eu sei dizer quando alguém ta segurando um soco. E você não me socou com toda sua força - Ele fica olhando nos meus olhos por mais alguns segundos, e sua expressão subitamente muda para uma expressão mais calma.
- O que você quer?
- Eu quero saber a respeito do Touya...
- Você não ficou sabendo? Eu bebi demais e matei ele, fim da história - Ele responde com desdém - É o que todo mundo já concluiu mesmo...
- Você matou ele?
- O que você acha? - Eu o olho calmamente.
- Acho que você se sente culpado!
- Então pronto - Ele responde.
- Mas você não confessou ainda.
- Não...
- Por quê?
- Não gosto de mentir - Respondeu ele.
- Então prefere não falar a verdade! - Eu retruco, ele abaixa o olhar e fica quieto - Eu fiz muita merda na vida cara... Muita mesmo... Mas... Eu nunca fui pego antes.
- E agora foi?
- Eu... Eu mereço ser preso... E eu... Preciso ser preso.
- Você precisa?
- Eu preciso... Pra eu parar... Eu não consigo parar de beber la fora... Aqui eu... Aqui eles vão me obrigar a parar...
- Você não matou o Touya não é?
- Não... Mas a culpa é minha mesmo assim... Se eu não tivesse... Se eu estivesse bem... Eu poderia ter salvado ele...
- O que aconteceu? - Ele suspira.
- Você tem tempo?
Continua...
Eu sei... Eu sei... Fazem 8 anos desde a primeira publicação, e 3 desde a última... Eu sinto muito ter demorado tanto mas a vida me consumiu, fiquei sem tempo e tinha deixado de lado não só a história, mas o próprio hobby de escrever.
Eu no entanto não gosto de deixar coisas inacabadas, então eu vou tentar terminar essa história que comecei.
Eu não posso prometer consistencia, mas prometo que vou me esforçar para continuar postando.
Se alguém estiver por ai, obrigado e espero que tenham gostado da leitura.
