Olho Azul 20 Anos Apresenta:

Cada Vez que nos Encontramos,
Cada Vez que nos Separamos


Capítulo 34

A Vez que nos Separamos

Estava quente. Mesmo com o ar-condicionado do apartamento ligado, Mamoru sentia calor deitado ali ao lado de Usagi, os dois nus, sem ar. Ele encarou o controle do aparelho, mas decidiu não o pegar, não queria arriscar mudar de posição e perder o abraço forte. Desde a viagem para Nagasaki, Usagi adquirira aquele costume provavelmente sem perceber, o de segurá-lo com toda a força.

Não que fosse reclamar, mas isto o intrigava. Não era ser dele o medo de perder? Embora estivesse claramente resolvida com o ex, era exatamente por isso que havia a desconfiança de que ela não precisaria mais dele, de que pudesse seguir em frente para o próximo.

Precisava parar de pensar assim. Não estava com qualquer prospecto de encontrar um emprego em Tóquio, e suas economias não o manteriam por muito tempo caso deixasse a empresa. Até considerara começar a vida de freeter, trabalhar apenas em empregos de meio-período, até conseguir um emprego de verdade, mas não tinha certeza se valeria a pena quando já tinha recebido o sinal verde para retornar a Nagasaki a partir de outubro.

Não era como se Usagi tivesse aceitado terem algo mais oficial. Ele havia até considerado confrontar o senhor Hino, falar para ele sobre a perseguição que vinha sofrendo no trabalho, mas conjugando isso à recusa do noivado com sua filha, o resultado poderia deixar sua vida ainda pior.

— Tá quente... — reclamou Usagi, aninhando-se mais em seu peito.

— Logo agosto termina e virá o outono.

— Aí vai ficar muito frio.

— Isso é só no inverno, cabeça de vento.

— E eu não gosto de como nunca se sabe como vai ser o dia no outono.

— O céu do outono é como o coração da mulher? — brincou Mamoru, repetindo o dizer popular sexista.

— Isso mesmo! — ela confirmou em vez de reclamar, como ele tinha imaginado que faria. — Falando em mulher complicada, você chegou a conversar com a Rei depois daquele dia no bar?

— Quando o Motoki tava viajando? Bem, você viu como ela fingiu que não me conhecia.

— Quero dizer depois! Nunca mais a vi... Motoki tava até reclamando noutro dia de como a Makoto não tem tido noites disponíveis e de como a Rei nunca parece poder ficar comigo no bar, e aí ele não pode se divertir com a Reika. — Usagi havia adquirido a mania de usar o tom de voz debochado sempre que se referia à namorada de Motoki. — Tenho certeza de que ela tá me evitando.

— Não se preocupe. Assim que o senhor Hino voltar de férias, eu falarei tudo com ele e rejeitarei o noivado formalmente.

— Mas isso é ruim, né? — Ela suspirou, circulando o peito de Mamoru com os dedos.

Ele tentou imaginar em que sentido ela achava ruim, mas antes que juntasse forças para pedir que elaborasse, Usagi levantou-se e pegou o controle do ar. Ajoelhada na cama, começou a brincar com a temperatura e a posição das paletas do aparelho. Queria abraçá-la de novo, puxá-la de volta para a cama e amá-la mais uma vez, simulando que o que faziam era simplesmente sexo. E foi o que fez. Não importava, desde que a mantivesse em contato com sua pele. Àquela altura, já tinha se acostumado com o incômodo que o queimava a cada beijo de amor não correspondido. Ainda era melhor que quando não tinha Usagi consigo.


Saindo para a rua, Usagi se despediu de um Motoki bastante frustrado por mais uma vez nem Rei nem Makoto poderem preencher o turno naquela quarta à noite. Para piorar a situação dele, Reika não parecia gostar muito de ter os encontros com ele ali mesmo no bar. Usagi achara divertida a noite em que Mamoru aparecera ali, apesar do clima tenso entre Rei e os dois, por isso, não podia dizer que entendia por que Reika dava tantas desculpas para não ir ao Drunk Crown. Talvez perguntasse a Mamoru quando se vissem, provavelmente na manhã de domingo.

Queria vê-lo logo. Tanto que chutou o ar em frustração. Especialmente após a última tarde de domingo, quando ele lhe deixara tão claro que o caso deles terminaria em setembro ou logo após. Usagi gritou alto, havia chutado um poste na rua e tentava prender o choro pois já passavam das onze da noite.

— Você está bem? — Ami correu até seu lado, deixando no chão uma bolsa com livros grossos que ela carregava junto à própria bolsa.

— Tô sim, isto sempre acontece. — Usagi fungou, engolindo o choro preso. — Mas, Ami! — gritou, enfim, reparando melhor em quem a socorrera. Uma ideia lhe passava pela mente. — Onde está Rei!?

— Rei? — Ami franziu a testa. — Estou voltando agora da biblioteca, então não a vi hoje. Aconteceu alguma coisa?

— Na verdade, sim. — Usagi juntou sua coragem e olhou a moça nos olhos antes de declarar: — Rei está brava comigo porque estou tendo um caso com o futuro noivo dela.

Ami não escondeu o espanto. Por um momento, Usagi pensou que seu plano de arrancar informações com um golpe de susto havia falhado, pois Ami talvez não soubesse direito sobre nada daquilo. Contudo, ela balançou a cabeça com força e lhe sorriu.

— Por que não pergunta diretamente a ela? — sugeriu-lhe.

— Mas a Rei tá me evitando — respondeu Usagi com voz chorosa. Não gostava de como isso deixava as duas num lugar ruim, ainda que houvesse começado a sair com Mamoru muito antes do tal noivado. Bem, um pouco antes. De toda forma, antes.

— Vamos lá falar com ela. Eu te levo!

Usagi deixou-se guiar pelo caminho conhecido até a entrada do templo Hikawa, onde Rei morava com o avô.

— Você parece tão bem, Ami... Que inveja! Quem me dera tudo estar resolvido entre Mamoru e eu também — disse sinceramente. Era de estranhar mencionar o nome dele tão abertamente, mas sabia que falava com alguém que a compreendia. — Como vai tudo com o Masato?

— Hm... Acho que já está tudo superado. — Ami baixou a cabeça. — Faz um tempo que nem o vejo e, quando ele está na cafeteria, saio antes que me veja. Graças a essa distância, posso dizer que já o superei.

— Quê? Vocês não voltaram!?

— Como poderíamos? — ela devolveu a pergunta com resignação. — Masato se sentiu muito mal por machucar a noiva dele daquela forma e não queria mais fazê-lo. Eu também... não queria causar nenhum mal, ainda que já soubesse que seria inevitável caso ela descobrisse.

— É, mas agora que não há mais nada, tinha certeza de que vocês estavam juntos. Só não sabia como perguntar quando o vejo lá no Drunk Crown. Mesmo assim, você não poderia perdoá-lo?

— Perdoá-lo? — O olhar que Ami lhe lançou estava opaco de tão confuso. — Não tenho o direito de ficar brava.

— Espera, você disse que tá evitando ele desde que vocês terminaram!? Então, você ainda não sabe que a Naru terminou com ele, é isso?

Ami ainda lhe devolvia o mesmo olhar de antes, mas com maior intensidade.

— A noiva dele? Terminou com o Masato? Tem certeza?

— Bem, ela agora está com outro... creio que não tenha mais volta. — Usagi assentiu algumas vezes, animada por notar que podia ser como um cupido para aquela relação.

Ao assistir a Ami tapar o rosto com as pequenas mãos, Usagi a olhou incerta do que mais lhe dizer.

— Ami...

— Desculpa, é que... Eu não achava que eles fossem terminar. Ela não parecia... eu realmente... Desde que começamos, eu realmente nunca achei que fosse acontecer. — Ela limpou as lágrimas dos olhos.

Usagi a abraçou, feliz por ela. Ao menos, aquele caso havia dado certo.