Cap. 4

29 de novembro de 2010

"Ela está esquisita, eu estou dizendo...".

"Pergunte pra ela!".

"Oh, eu não quero conselhos de alguém que se separou recentemente".

"Ótimo! Deixe-me em paz curtindo minha fossa". Wilson respondeu irritado.

House olhou pra ele pensativo.

"O que foi?". Wilson perguntou incomodado.

"Você está bem?".

Wilson franziu a testa. "Sério isso?".

"O quê? Eu querer saber se você está bem?".

"Isso não é usual".

"Tudo bem então, não reclame que eu sou insensível".

"Não... não é isso! Eu estou... não bem!".

"Ótimo!".

"É isso então? Você só perguntou e não quer lidar com as consequências?".

"Não!".

"Obrigado por isso!". Wilson respondeu.

"Ok, veja... Eu acho que você vai ficar bem e logo mais estará com uma enfermeira pelos cantos...".

"Eu amo Sam!".

"Você pensa que ama".

"Não House, eu a amo! Eu a perdi pela segunda vez".

"Tecnicamente...".

Wilson nada respondeu.

"Ela era esquita".

"É muito cedo pra falar mal dela pra mim".

"Você terá milhões de enfermeiras e pacientes e até algumas médicas se derretendo pela atenção de James Wilson. Procure a mais carente e problemática...".

"Oh, cale-se! Deixe-me em paz, por favor!".

"Mas você nem me ajudou sobre Cuddy estar esquisita".

"Sério isso? Eu terminei meu relacionamento essa semana e você é insensível assim?".

"Tecnicamente você terminou já, não tem mais o que fazer. Eu ainda tenho".

Wilson olhou no fundo dos olhos dele. "Vai se foder!".

"Ignorante!". House saiu de lá frustrado. O que ele faria com Cuddy? Ela estava esquisita já fazia alguns dias. No último final de semana especialmente ela esteve distante, fugindo dele e tudo mais. Ele havia pensado que os problemas que tiveram já haviam sido superados, mas aparentemente não.

House passou o final de semana na casa dela, como habitual. Ele fez tudo certo: cuidou de Rachel, tirou o lixo, cozinhou, mas ela estava estranha. As noites ela dormia rapidamente, nem dava chance para alguma coisa acontecer. Ele sentiu-se um estranho naquela casa, exceto por Rachel que o recebeu como sempre: feliz e empolgada.

Ele até cozinhou o macarrão preferido de Cuddy, não, ele não apenas cozinhou, ele fez a massa e tudo e nem assim ela se animou, ela parecia uma zumbi.

"Ei... Você quer que eu vá pra sua casa essa noite?". House perguntou quando a encontrou no corredor do hospital.

"Oi... Sim, é o padrão".

"Padrão?".

"House... sim. Eu quero que você vá! Estou ocupada agora...".

"Se for para eu ir e você me tratar como tem feito, eu prefiro ficar em casa". Ele respondeu com sinceridade, isso foi um choque para Cuddy.

"O que você quer dizer?".

"Você está distante, indiferente. Você quer terminar comigo como Sam fez com Wilson?".

"Não!". Ela respondeu surpresa.

"Mas parece. Você está fria... Não fazemos sexo há dias...".

Ela o arrastou pela mão até a sala de suprimentos e fechou a porta.

"Porque é só isso que você deseja de nosso relacionamento. Só sexo?".

Ele franziu a testa. "Você sabe que não".

"Me diga então o que você espera? Diversão? Algo sério?".

"Eu quero você! E não só o seu lindo e sexy corpo".

Cuddy desabou nesse momento, House notou uma lágrima caindo e ela tentando limpar discretamente. Ele assustou, ela dificilmente chorava, sobretudo no hospital, exceto no passado quando sempre que entrava no período de ovulação ela fazia questão de visitar a maternidade e acabava se emocionando.

"O que houve?". Ele perguntou confuso e incomodado com aquela situação emocional.

"Eu estou com medo...".

"Com medo? Medo de quê?".

Ela respirou fundo. "Podemos conversar hoje à noite?".

"Cuddy, o que aconteceu?".

"Eu prometo que vou te contar tudo".

"Me diga agora!".

"Depois, eu prometo".

"Ok". Ele respondeu por osmose, já que a vontade dele era obrigá-la a falar.

"Te vejo às sete?".

"As seis e meia estarei lá!".

Ela sorriu. "Ok".

Cuddy sabia que precisava compartilhar com ele sua vida, seus medos, suas angustias. Ela não estava sozinha, agora eles estavam juntos em um relacionamento e não ia fluir se eles não conversassem. Ela falava dele e sua dificuldade em se abrir, mas ela mesma estava errando com isso.

O resto do dia de House foi terrível, ele se arrastou. O que ela teria pra dizer? O que estaria acontecendo? Por inúmeras ocasiões ele quase desceu até a sala dela e a obrigou a contar, mas ele tinha que ser maduro, não tinha? Mas ele falhou. Ela desceu até lá duas vezes com essa finalidade em mente, mas ela simplesmente havia desaparecido, sua secretaria disse que ela estava em reuniões, ele não conseguiu encontrá-la.

Cuddy não teve um dia diferente, ela estava com grandes dificuldades para trabalhar, seu pensamento estava muito longe.

House estava à porta de sua casa às seis horas, Cuddy ainda não havia chegado, Marina estava lá. Rachel se agitou quando o viu e ele disse que Marina podia ir, ele ficaria esperando a namorada.

Marina achava aquele sujeito bonitão, alto e com olhos lindos. Uma voz de trovão tão masculina. Mas tinha receio dele, House parecia bravo. Ela sorriu e saiu dali rapidamente. Ele ficou com Rachel.

"Vamos brincar?".

"Menina, eu não estou bem no clima de brincar".

"Por favor! Por favor! Por Favor!".

Ele respirou fundo. "Ok, vamos brincar de palitos".

"Oba!". E Rachel correu para pegar o jogo dos palitos. O objetivo era retirar um palito do monte de palitos sem movimentar nenhum outro. House era perito nesse jogo e Rachel era lastimável. Ok, ela era uma criança... Mas House não dava desconto, ele jogava pra valer e ganhava dela com uma diferença absurda. Cuddy sempre dizia pra deixá-la ganhar e ele respondia "Qual o mérito nisso? Ela tem que aprender que a vida não é fácil".

Naquele dia eles estavam ao final da segunda partida quando Cuddy entrou.

"House?".

"Boa noite!". Ele respondeu.

"Onde está Marina?".

"Eu a liberei mais cedo".

"Mamãe, House está jogando comigo".

"Sim, eu estou vendo". Ela se abaixou pra cumprimentar a filha.

"Mamãe, quer jogar conosco?".

"Hoje não, filha. Você pode assistir à televisão um pouco".

"Oba!". E a menina foi correndo ligar a televisão em seu canal de desenhos favorito.

"Isso tudo é ansiedade?". Cuddy perguntou colocando uma sacola de farmácia sobre a mesa.

"Você me conhece! O que é isso?".

"O motivo de minha preocupação".

"Você está doente?".

"House, eu estou atrasada...".

"Atrasada pra que? Você mal chegou em casa e vai sair outra vez?".

Ela o olhou intensamente. Ele era um gênio, mas as vezes pecava com as coisas mais mundanas.

House franziu a testa. Então ela o mostrou três testes de gravidez. "Por isso me atrasei, passei na farmácia antes de vir pra casa".

House estava sem voz. "Você...".

"Não sei".

"Quantos dias de atraso?".

"Sete".

"Você está tomando anticoncepcionais".

Ela abaixou a cabeça. "Pulei um e me esqueci de repor".

"Cuddy!".

"Eu sei... Eu estava com a cabeça nas nuvens. Rachel doente, a entrega do orçamento...".

Ele respirou fundo.

"Quero que saiba que pensei a respeito, e se eu realmente estiver grávida, você não terá nenhuma responsabilidade".

Ele riu alto. "Por favor, Cuddy!".

"Eu sei que você não quer filhos".

"E eu vou correr para as cavernas?".

"Eu não sei...".

"Deixa de ser boba, eu estou aqui, sou seu maldito namorado, certo? Não sou a figura perfeita, eu sei, mas... Se isso aconteceu nós pensaremos em algo".

O rosto dela enrijeceu. "Eu nunca abortaria!".

"Não estou falando disso. Vamos ter o bebê e criar o bebê".

"Sério?".

"Não sei... Provavelmente".

"Você cogitaria a hipótese de ter um bebê?".

"Se você já estiver grávida temos poucas alternativas, certo?".

"E você não ficaria com raiva de mim?".

"Claro que não, Cuddy".

Ela respirou aliviada. Ela estava apavorada em pensar como ele reagiria. No mais, ela sempre quis um bebê mas não agora. Ela estava tão feliz com a vida dela: Rachel, House. Ela tinha pânico de que alguém mais ou uma mudança tão brusca tirasse o equilíbrio que ela estava construindo com tanto esforço. Mas seria um filho... como ela abriria mão? Ela estava muito confusa com tudo.

"Ok, vamos fazer o teste do palito e encarar logo a realidade". House disse.

"Que tal... Jantarmos antes?".

"Não Cuddy. Agora!".

Ela respirou fundo. "Você sabe que isso pode mudar tudo?".

"Eu sei".

Ela caminhou para o quarto e ele a seguiu. Cuddy deixou as coisas sobre a cama, tirou o sapato e foi para o banheiro.

"Fique calma! Tome o seu tempo!".

Aquele não parecia House, o que havia acontecido? Ele estava tão... maduro e calmo?

O que ela não sabia é que ele estava completamente apavorado com aquela ideia. Seu coração estava na garganta. E se ela estivesse grávida? Com certeza ele iria foder tudo.

Cuddy fez xixi, deixou o palito na pia até que o resultado estivesse disponível e caminhou para o quarto. House estava sentado na cama, ela sentou-se ao seu lado.

"Você fez os três testes?".

"Dois. Se derem resultados iguais nem preciso fazer o terceiro".

"Faz sentido".

"Sim".

O silêncio rondou o ambiente denso por alguns segundos.

"Quanto tempo?". Ele quebrou o gelo.

"Três minutos".

"Ok".

"Ok".

Eles ficaram em silencio por mais alguns momentos tensos.

"House... Eu não quero que as coisas mudem". Ela disse quase que em tom de súplica.

Ele pensou, 'mas é claro que mudarão', mas disse outra coisa: "Não vão mudar, estamos juntos!".

Ela deitou a cabeça no ombro dele e pegou sua mão. "Você já passou por isso antes? Susto de gravidez?".

"Duas vezes, mas era diferente".

"Como assim?". Cuddy virou para encará-lo.

"Eu acho que não estava tão envolvido assim, não sei...".

Ela o deu um selinho. "Eu te amo apesar de tudo".

"Fico aliviado, essa semana eu não tive tanta certeza".

"Desculpe por isso, é só meu jeito bobo de tentar lidar com tudo sozinha e me fechar".

"Eu entendo".

Ela sorriu. "O tempo não passa".

"Três minutos mais longos de todos". House concordou.

"Com quem você teve esses sustos de gravidez?".

"Uma namorada adolescente e Stacy".

"Oh...". Cuddy sentiu-se meio enciumada, mas sabia que aquilo não tinha fundamento.

"E você?".

"Nunca! Mesmo quando eu tentava engravidar, nunca chegou perto. Fiz tantos testes que eu tenho até trauma desse palito". Ela tentou fazer uma piada. Mas agora era diferente, ela tinha Rachel e ele. Cuddy não se sentia mais sozinha.

"Rachel está entretida...".

"Sim, com a televisão ela se esquece do mundo". Cuddy respondeu.

Era estranho, nada natural, eles tentavam respirar normalmente, mas nada estava normal.

"Acho que deu três minutos". House falou.

"Sim".

"Você quer que eu vá ver?".

"Por favor!".

Ele caminhou, pegou os palitos e os olhou de longe. Depois se aproximou. "O que quer dizer um risco?".

"Negativo!".

"Então é isso".

Cuddy os pegou para olhar e nitidamente os resultados eram negativos, ela já tinha visto isso algumas vezes, sabia bem o que significava.

"Ótimo, então estamos bem". Ela disse.

"Sim".

Ela o beijou. "Vou tomar mais cuidado com meus anticoncepcionais".

"Eu sei que vai".

Aquela noite eles não fizeram sexo, só dormiram juntos. Ela sentia um misto de coisas, era ótimo que não estivesse grávida, ela não era nova, tinha histórico de problemas de fecundidade, ela estava feliz. Mas mesmo assim, algo nela queria um bebê dele.

...

No dia seguinte Wilson procurou House em seu escritório.

"Ei".

"Ei".

"Onde está seu time?".

"Fazendo exames".

"Oh claro, você tem um paciente".

"Bem observado. O que você quer?".

"Grosseiro como sempre. Eu... me senti mal por ontem".

"Porque...".

"Porque eu fui imaturo, devia ter te ouvido sobre Cuddy".

"Oh isso... Já está tudo resolvido".

"E o que era?".

House olhou pra ele. "Morra pra saber!".

"Eu não sei porque me dou ao trabalho, você é um idiota mesmo".

"Ela pensava que estava grávida".

"Cuddy?".

"Não! A enfermeira Brenda".

"Mas vocês não fazem sexo com proteção?".

"Obviamente não".

"Mas... eu pensei que você se protegia".

"Ela é minha namorada".

"Bom ponto".

"Mas era alarme falso, obrigado Deus!".

Wilson vislumbrou por alguns segundos a possibilidade de ser tio de um filho do casal, mas logo a realidade o atingiu: era House.

"Bom que resolveu e que era isso...".

"Bom!". House concordou monossilábico. Algo nele estava estranho, ele não sabia o que era. Mas talvez houvesse alguma expectativa de suprir o desejo antigo de sua namorada. Ele balançou a cabeça tirando aquele pensamento insano de sua mente e voltou a se concentrar no diagnóstico de seu paciente.

Naquela noite Cuddy ficou sozinha já que House estava ocupado cuidando de seu paciente. Ela ouviu Rachel falar de House com tanto carinho, sentiu tanta falta dele ao seu lado... Mas ele chegou perto das duas da manhã. Ele bateu à porta e ela foi assustada atender.

"O que houve?". Ela estava em seu pijama curto e com cara de sono.

"Vim dormir algumas horas, preciso estar lá pela manhã".

"Entre!". Ela o recebeu com um beijo casto e abriu espaço para ele entrar.

"Desculpe te acordar".

"Não, eu fico feliz que você tenha vindo! A cama estava muito grande sem você".

Ele sorriu e foram até o quarto. House tirou a roupa, só ficou com sua boxer e camiseta e se deitou. Cuddy deitou-se ao lado dele feliz por ele ter vindo, isso dizia muito, não?

Após esses meses de namoro o susto da gravidez podia tê-los separado, House foi muito mais maduro do que ela previa, ele não sumiu, não brigou com ela pelo esquecimento de usar o método anticoncepcional, ele ficou ao lado dela. Isso dizia muito sobre eles, ela pensou. Então ela se virou para o lado dele e o abraçou com força, instintivamente ele a envolveu em seus braços enquanto dormia e Cuddy conseguiu pegar no sono após alguns minutos.

Nos dias seguintes Cuddy foi voltando ao normal, sua menstruação veio dois dias depois do teste. Ela olhava House e Rachel brincando na sala e tinha a certeza de que estava completa. Finalmente ela sentia-se feliz e satisfeita com sua vida.

Continua...