Capítulo XVI - Tout ce dont nous avons besoin que je sois – Parte 4 – Tecendo o Amanhã
Um pouco antes...
Dormiu incrivelmente bem.
Ela calmamente se espreguiça. Não era dia de aula, por isso teria tempo de sobra para treinar. Era sabido que o professor FLitwick gostava de dormir nos seus aposentos e depois sair, retornando apenas na Segunda-feira. Mas ela não o interromperia. Ainda tinha três dias de treino antes do combinado. Era sua missão estar afiada até lá.
Sentia-se mais leve. Embora tenha planejado acordar mais cedo, optou por recobrar as energias, e isso fez toda a diferença. Passou todos os últimos quatro dias movendo o braço tantas e tantas vezes, que a câimbra sumira.
- Up! - ela move o braço, imitando o movimento para fazer a vassoura levantar-se do chão, mas com uma girada como se segurasse uma varinha. Conseguiu progredir rapidamente devido aos seus reflexos, mas sabia que ainda tinha um longo caminho pela frente.
- Bom dia, dorminhoca.
Gina olha para a cama ao lado, enquanto Amanda também se levantava, espreguiçando-se. Com muita dificuldade, Amanda conseguiu mobilizar o time e marcar um treino. Esforço hercúleo, na verdade: chamou Neville, os demais jogadores e reservas, pois Hermione e Rony estavam fazendo sabe-se lá o que em uma espécie de cruzada para ajudar Harry de qualquer coisa. Ou seja, o mesmo de sempre. Já Harry, o mesmo não tomava iniciativa como líder, parecia ter se tornado apático depois do recesso de Natal; e Gina simplesmente estivera incomunicável nos últimos dias.
Com relação a isso, procurou por Yoh a semana toda para esmurrá-lo, e tinha motivos de sobra: primeiro, por deixá-la ser a última a saber da vida pregressa da professora Kneen; segundo, por não se abrir o suficiente com os amigos - embora Gina já tivesse comentado sobre ele estar estranho -; terceiro, por descobrir que o doido estava há dias tocando violino, e só no dia anterior, Sexta, Chaz ter se dignado a comentar. Diga-se de passagem, só foi descobrir quando o namorado a arrastou para um lugar onde ficariam sozinhos e, entre alguns arbustos, ouviu a música do violino.
Chaz explicou meia dúzia de baboseiras, mas ela estava era mais com vontade de esganá-los - Yoh e o namorado - do que qualquer coisa. Só não o fez, porque precisou administrar prioridades: Chaz, enquanto tentava se explicar, começou a falar com ela cheio de mel, bem como entrando numa espécie de "modo polvo".
- Nem pense nisso! - Amanda praticamente pulou da sua cama para a de Gina, colocando o dedo no rosto dela, assustando-a - ah, mas a senhora tem muito o que explicar! Depois que a gente trouxe aqueles estrupícios de volta, você sumiu!
Depois daquela luta insana contra Daphne e seu séquito - palavras usadas por Morgana –, Gina e Amanda praticamente arrastaram as garotas da Grifinória que estavam ali para a torre, e lhe deram uma bronca enorme, e isso porque não encontraram Hermione para fazê-lo. Só não moderaram mais a pílula, porque uma delas, tomada de coragem, jogou na cara de Amanda que ela também já namorou um sonserino. Só não morreu ali, na frente de todas, porque mostrou que tinha talento para atletismo.
Gina observa a cara de Amanda. Cada ação dela parecia acompanhada de um longo momento de divagação, a qual refletia em suas caras e bocas. E a amiga a olhava com uma cara de "eu sei que você quer me deixar na mão hoje, mas não vai rolar".
- Vai me contar o que está acontecendo?
- Então, Mandinha.
- Não. Não. A-B-S-O-L-U-T-A-M-E-N-T-E não. Nada de dizer para mim que não pode me contar. Já tô de cabeça cheia! Que foi? Encobri vocês, caramba! Todo mundo perguntou por onde andaram no final de semana, mas... pombas, eu mereço a droga de uma explicação!
- Só que eu não posso te explicar - ela abaixava o rosto - porque eu não me lembro.
Normalmente aquilo seria uma resposta considerada irritante por muitas pessoas. Mas a reação de Amanda foi a mais surpreendente.
- É, eu sei - ela se ergue, vai até sua cabeceira, abre a gaveta e puxa duas caixas - então é isso o que tem aqui - ela aproxima uma das caixas de Gina. Ela puxa e a abre, e ao fazê-lo, vê um frasco. Um frasco de memória. Então, era ali que as memórias estavam. Mas eram as suas, ou as de Yoh?
- Quando...
- Segunda, depois do Rony quase esganar o Yoh por causa da alian... aham, do anel. Isso tem alguma a coisa a ver com você sair brigando com meio mundo a semana toda?
- Não sei, mas - ela continua observando o vidro - isso aqui é uma chave importante para salvar alguém.
- Heim? O que? Opa, espera, para um segundo! Pensei que era um pensamento maldoso ou alguma "arte" que vocês não queriam ter com vocês caso fossem pegos, que raios de... no que o Yoh se meteu dessa vez? Você disse antes que ele estava meio estranho e...
- Não, não é ele. Não lembro, mas tenho a sensação de que não é ele.
- Então vamos abrir isso logo, pego minha penseira e...
- Não, espera! - ela segura na mão de Amanda - não pode ser agora. Certeza que disse isso aqui era importante para outro momento, não falei? - ela coloca a mão sobre a boca de Amanda - Só confie em mim! Por favor.
- Mas..., mas... eu não estou entendendo nada! Pensei que era só estresse, agora está dizendo que tem algo mais?
- Eu não sei, é que... eu só sei que não posso abrir. Eu devo ter dito quando seria o momento.
- Sim, claro, a maior doideira do mundo, você disse para te dar isso quandmmmmmmm! - novamente, boca tapada.
- Então, guarda para você. Só me avisa na hora. Por favor. Até onde sei, extraímos nossas memórias e depois a apagamos. Com certeza é importante.
- MMMMMMMMMMMHHHHHHHHHHHHHH!
- Sabe o que é se sentir imponente? Esse tempo todo eu sempre tive essa sensação, de quer teria que recorrer aos outros para resolver os meus problemas. Foi assim quando eu estava no primeiro ano, precisei ser salva. Sentia-me destruída, dominada.
- MHHHHHHHHHHHH!
- E de algum jeito, não, eu encontrei um jeito de me erguer. Ter forças. Não precisar ficar sentadinha esperando as pessoas fazerem as coisas por mim e... mandinha?
- Eu quero respirar! - Ela tira a mão de Gina de seu nariz - Sua doida!
- ?
- Afff, sabe o que me deixa putaça? É saber que os meus amigos estão fazendo algo pelas minhas costas e não me contam, viu! - ela pega a outra caixa e empurra para Gina - abre logo essa porcaria que eu tô curiosa!
Ela abre a segunda caixa, a qual aparentemente estava vazia. Por dentro, acolchoada. Uma pequena luz se manifesta dali de dentro, tomando a forma de uma pessoa.
Seu Gray.
- Recebi pelo Pitchinho - Amanda suspira - ele estava com tanta pressa que nem usou o Karasu, sabia?
- Na verdade, ele usou o Karasu para avisar ao Carlos onde estava. - Gina retorna o olhar para Amanda.
- Então você não sabia esse tempo todo onde ele estava?
- Eu - ela estica o dedo, como se tentasse tocar na imagem - apenas sabia. Era para ele ficar no lago, mas eu senti que ele não estava ali. Que deveria estar em outro lugar.
- Você é legilimente agora? - Amanda dava língua para Gina.
- Boba! - ela vai empurrar a amiga e esbarra na caixa. Nesse momento, a escultura feita de luz se mexe e sorri para Gina.
"Eu queria te deixar uma lembrança minha. Não sei como vou sair de lá"
As duas se silenciam.
"Mas... se acontecer alguma coisa comigo... se eu mudar de algum jeito, eu queria que alguém tivesse uma memória de como eu era"
Começou a tocar uma breve melodia. Era lenta, quase arrastada. Paradoxalmente, alegre e melancólica.
Amanda observou mais a expressão de Gina, do que a imagem da caixa. Havia um brilho nos olhos dela, mas definitivamente não era uma expressão triste. Embora seus olhos estivessem centrados, ela podia sentir, de forma contida, um sorriso na face da amiga. Havia um brilho em seus olhos, e as sardas em seu rosto pareciam ficar mais visíveis com a luz que saia da caixa.
" Eu preciso me lembrar... eu não posso esquecer... que nossa esperança vai ser sempre a última distância que precisaremos percorrer"
Minutos depois a música cessa, e Amanda percebeu um olhar de chateação no rosto da ruiva, de modo que Gina fechou a caixa e a abriu novamente para ouvir a música. E fez isso mais uma vez. E mais outra.
O mundo era uma coisa doida. Estava prestes a pular no pescoço da ruiva e exigir um milhão de respostas, mas se sentia desconcertada. Lembrava do momento em que aqueles doidos se conheceram. A nostalgia da música trazia uma sensação estranha, fazendo-a lembrar das confusões com as quais se envolveram, os três. Hoje, quatro. Sentiu um arrepio, de alguma forma a música evocava sensações estranhas. Sentimentos. Memórias. Pela proximidade dela com os eventos, começava a arranhar o que a amiga estava sentindo.
"Nossa esperança vai ser sempre a última distância"
Aquele trecho se repetia todas as vezes em que Gina fechava e abria a caixa. A Amanda de cerca de um ano atrás não entenderia esse sentido. Mas para ela, depois de tudo o que aconteceu, tudo fazia sentido.
- A coisa ficou séria, então - As palavras saiam da boca de Amanda, sem que ela as controlasse. Algo havia mudado no casal, e ela olhava para o anel no dedo de Gina -, demais para um namoro - inqueria, enquanto a mesma, novamente, fechava e tornava a abrir a caixa.
- Né - a ruiva sorri, até que fecha pela última vez a caixa, enquanto toca na aliança que estava em seu dedo, as quais lembravam os olhos dele - é, eu... sei lá, eu... é como se eu não fosse mais a mesma - e, de repente, as bochechas dela ficaram vermelhas.
- Tá, tá bom - Amanda segura em suas mãos - esquece essa doideira de violino, Greenglass e tudo mais. Amiga, como você está?
- Sentindo como se o meu mundo tivesse virado de cabeça pra baixo, e como se eu não fosse mais eu mesma.
- Tão sério assim? E aquele papo dele ficar te mimando pra você continuar gostando dele?
- Ele que não faça isso! – ela dá língua - Eu sei que vão falar que nós somos muito jovens, mas... eu não consigo me ver longe dele. - Amanda vira os olhos para cima, em sinal de deboche - É sério, sua boba! – essa música fica tocando, e tocando – Gina passa a mão direita pelos olhos, e Amanda fica realmente surpresa quando a amiga recolhe algumas lágrimas, embora seu rosto estivesse sorridente. – Olha só, agora não consigo me controlar! Ele sempre me pega desprevenida, agora eu estou com essa frase na cabeça!
- Assim, tipo, legal vocês terem evoluído tanto a relação, tipo, mas, tipo assim, então... a gente está no quinto ano, lembra? Torço pacas pra vocês, mas cuidado pra não fazer nada que pode deixar os pais de ambos irritados! Eu vou puxar a orelha daquele cinzento quando ele sair daquela doideira, nunca que eu ia fazer uma loucura dessas se a minha mãe fosse professora de Hogwarts!
- Olha quem fala! O Olivio pegava direto no seu pé!
- Aquele hipócrita! Vivia treinando e faltando as aulas, e me cobrava, acredita nisso?
Elas emitem uma risada que lhes soava como gostosa. Lembravam do momento em que eram apenas as duas conversando, quando Rony saia com os amigos e deixava Gina de lado. Se conheceram. E o grupo aumentou. Agora, tinham namorados, e precisaram aprender a administrar melhor seu tempo. Mas sempre havia algo a ser compartilhado. Como o fato de Gina continuar coçando a vista, capturando lágrimas furtivas.
- Você não sabe o que tem aqui, então - Amanda retoma sutilmente o assunto, sem querer aprofundar, mas sentindo que era a chave de muita coisa - então não adianta perguntar.
- O que tem aqui, eu não sei. Mas sei do que se trata.
- É? Como assim? Que raios de falta de memória seletiva é essa?
- Eu precisava ter esse sentimento de que estava atrás de algo, de alguma coisa pelo que lutar - ela passa a mão pela cama, e toca em uma das suas varinhas, sem pegá-la - e aqui tem uma coisa que a gente vai precisar. – e, com a mão livre, novamente coça a vista. Não estava mais escutando aquelas últimas palavras, "Nossa esperança vai ser sempre a última distância", mas a melodia continuava se repetindo, como se, com isso, carregasse para dentro do seu peito aquela frase.
- "A gente"? Peraí, que papo é esse? Isso aqui é sobre o que? E que tanto você chora, mulher?
- Isso aqui - ela toca o dedo levemente no vidro de memória - tem o nome de uma pessoa. E nem vem, olha só o que ele fez comigo, me deixou toda sentimental!
- Quem? Que raios de pessoa é essa pra você querer esconder? Vocês, quer dizer? E que porcaria de sentimental? A caixa está fechada, caramba! Para de chorar!
Amanda fita o vidro por alguns instantes. Era uma das poucas informações que lhe restava, e que era responsável por lançá-la desesperadamente nessa cruzada.
- Isso - ela ergue o rosto, olhando para Amanda - tem a identidade da pessoa que quer matar a dona Kneen.
- Quê?
- Ah, é! Tomei coragem e contei para o Yoh sobre o beijo, viu.
- Quê? Espera, deixa eu terminar de processar o que você está falando! Dona Jane e... ah, espera um pouco, como assim contou para ele? Agora? Sério que resolveu fazer isso AGORA?!
Gina torna a coçar o rosto, capturando uma lágrima furtiva, enquanto olha para a caixa de música, a qual estava fechada.
Ainda assim, continuava escutando a melodia.
Ariel estava confusa. O que estava acontecendo?
De repente, o desespero se dissipou.
Aquela melodia, embora não parecesse vir de lugar algum, lhe causava uma sensação de familiaridade. Sentia como se a tivesse escutado a vida inteira, e antes mesmo disso, como uma memória ancestral. Como alguém de que você ouve falar a vida toda e, na primeira vez que a encontra, enxergar ali uma pessoa próxima. Mesmo sendo a primeira vez que a escutava.
Parecia algo que transcendia o tempo e o espaço. E, enquanto o som circulava não pelos seus ouvidos, mas pelo âmago da sua alma, sentia como se cada nota musical atravessasse céus e terras, tivesse a potência para varrer ventos e mares até atingi-la, como se fosse impossível não escutar aquilo.
O paradoxo era que aquele era o pior de todos os momentos para se escutar aquela música, mas não conseguia deixar de admirá-la.
Era linda.
Bela.
Em algum momento, quando Yoh atingiu um grau de sincronia, as músicas assumiram sua verdadeira forma, deixando de ser pura melodia para transcenderem para um grande emaranhado de vida que circundava e florescia por toda a Inglaterra.
Pétalas.
Era uma Pétala. Como nas histórias que escutou de seu pai. A segunda, talvez? Ou a sexta? Não lembrava, mas sabia que era a melodia da Pétala conhecida como "Last Hope, Last Away". Só sabia que sabia. E se escuta/sentia, seu pai também. E seu avô. E toda a sua parentela em Wiltshire. E os Malfoy, mesmo aqueles que esqueceram o significado daquilo.
Caída com as costas no chão, apoiada sobre os cotovelos, faltavam forças - e uma varinha - para Ariel se erguer.
Destruído. Devastado.
Esse era o estado do Salão principal da torre da Grifinória.
Porém, aquela melodia, que só ela ali conseguia escutar, a acalmava. Diminuía seu nervosismo. Impedia que ela enlouquecesse diante da destruição.
- Então, sentiu-se brevemente superior. Diga-me, Sume, como se sente agora?
Ela ergue os olhos. Preso na parede da lareira por um feitiço, Rony. Ao lado dele, nocauteada, Hermione. E, à frente dela, com um olhar terrivelmente perigoso, uma varinha apontada em sua direção e, mais importante, uma luz brilhante em sua testa com formato de raio: Harry.
Aquela forma de falar não soou como Harry, mas como outra coisa. Era como se algo tivesse se libertado e começado a atacar a tudo e a todos. Foi o que observou, pois muitos dos disparos que ela e Rony tentaram se desvencilhar, na verdade pareciam direcionados para destruir o local.
Com o levantar da varinha, as portas da torre deram indícios de que não iriam se abrir. Além disso, ele sinalizou e criou barreiras nas entradas dos dormitórios. Se houvesse alguém ali dentro, não sairia. Odiava o fato de que estavam encurralados, e que se tivessem ajuda poderiam subjugá-lo. Por outro, tinha receios de que só um professor conseguir detê-lo.
- Essa cara de desespero é deliciosa. Me diverte muito ver como eu tirei suas ilusões. - Ele falava como se pudesse lê-la por completo. Sentia-se um livro aberto para ele, o qual poderia destroçá-la a qualquer momento. - Não vai perguntar quem eu sou? Nem um pouco de curiosidade? Estou decepcionado.
- Era você quem estava dentro do Harry.
Rony, Ariel e Harry (ou seja, lá quem estava falando de dentro dele) olham para trás, quando veem Gina descer as escadas.
- Hmmm - Hermione resmunga enquanto abre os olhos - o que aconteceu aqui?
- Você está melhor? Fiquei preocupado! É o Harry, ele... eu tinha razão, tinha algo dentro dele!
Sentada, tentando se mexer, Hermione escutou muito rapidamente o que Rony dizia, isso porque ele começou a dar uma série de informações em sequência, sobre como o amigo, depois de arremessá-la pela sala, atacou os dois, começou a destruir tudo, bloqueou as saídas e os encurralou. Se por um lado era uma sorte absurda só os três estarem ali, por outro foi o seu maior azar, pois Harry estava imparável. Sua magia estava mais forte, seu saque mais potente, e usando feitiços que eles nunca aprenderam durante o período escolar.
E havia toda aquela agressividade. Depois que Hermione fora lançada, perceberam que a cicatriz em formato de raio que ele possui brilhava como nunca. Havia uma insanidade em seu olhar, e um sorriso sádico enquanto tentavam se defender. Além disso, Hermione não sabia onde estava sua varinha. Só estava se sentindo deveras dolorida, incapaz de se erguer. Seus braços, idem.
- Não esperava encontrá-la aqui - ele olha para a ruiva, ainda apontando para Ariel - achei que teria que atravessar a escola inteira para te encontrar.
- Mentiroso - Gina olha para os arredores, e vê toda aquela destruição, até que troca olhares com Ariel, a qual era um misto de desolação e, paradoxalmente, calmaria. - Sabia que eu estava aqui. Vamos terminar com isso de uma vez por todas.
- Não seja tola. Sabe que nós sempre estivemos destinados a ficar juntos. No momento em comecei a te sentir, sabia que carregava um pouco de mim. Que deveria ser minha!
- Mas do que raios o Harry está falando? - Rony olha para o lado - Amanda? - Ele fica surpreso ao ver a a quintanista se aproximando sorrateiramente.
- Shhhh! - ela passava um remédio no braço de Hermione, o qual estava muito roxo - não chamem a atenção, ok! Gina vai distrai-lo enquanto eu...
- Não dá - Hermione piscava, sentindo um pouco da dor diminuir - seja o que for, a gente não tem como tirar isso do Harry.
- Isso?! – Amanda e Rony olhavam para o membro mais inteligente do grupo - como assim, "isso"?
- Sabia que já tinha sentido você antes – a ruiva olha firme para ele - mas pensei que já tivesse sumido.
- Uma parte de mim já esteve totalmente em você, e eu consegui sentir isso. Não sei o que aconteceu direito, mas senti uma parte antiga do meu poder. Tentei me libertar, mas esse garoto idiota, sem saber, nunca deixava. Ao invés de correr atrás dos seus próprios desejos, impôs-se um sentimento estúpido de dever para com os outros.
- Esse é o Harry.
- Esse estúpido... todas as sombras, os deslizes e humores dele, eu procurei todas as formas de me libertar, mas ele sequer suspeitava de mim. E aquela garota - ele aponta para Ariel - me deu essa oportunidade de bandeja!
- De alguma forma, o Harry está possuído.
- De novo essa história? Hermione, Rony, francamente!
- Eu sabia que tinha algo errado - Rony esbuxava - não era essa a personalidade dele! Eu sabia! Como você descobriu? – ele olhava preocupado para Hermione. Sua namorada mal parecia se aguentar, e estava se esforçando para falar.
- Eu usei a penseira da Amanda e olhei minhas memórias, tentei ver se tinha passado algo, mas nada que indicasse interferência sobrenatural, mas... lembrei que já tínhamos passado por isso, antes. Percebi que estávamos olhando para a ponta do iceberg. A gente pensou que fosse algo mais recente, mas...
- Pelo visto, ele não aguentou rever infinitas vezes todas as ações que cometeu no último ano. – Era a voz de Harry e, ao mesmo tempo, não era. Havia um tom presunçoso na sua forma de falar.
- Suas ações.
- Minhas, dele... nós somos apenas um. Você sabe disso!
- O que eu sei é que você dominou o corpo do meu amigo desde que...
- Não seja hipócrita. - Ele a interrompe - eu sempre estive aqui. Apenas consegui sair.
- ...
- Ou talvez ele tenha cedido, não aguentado mais a pressão. Há pessoas que não suportam permanecer no controle, imploram por alguém que os domine. Talvez eu só esteja cumprindo um desejo, não é mesmo?
- Não fale bobagens!
- Não fale você! - ele move a varinha e um vento forte faz o cabelo dela esvoaçar - até há pouco eu sentia um rastro de mim em você! Sempre que estava por perto, sentia-me agoniado, e isso me dava forças! Mas você nunca contou pra ninguém, não é mesmo? Quem iria acreditar em você? Seu irmão, que defende Harry mais do que qualquer pessoa? Hermione, que não veria um motivo racional? Não, claro que não! Todos iam pensar que você estava querendo jogar todos contra o Harry por causa daquele seu namoradinho! A eterna apaixonada pelo Potter, desprezada, arruma um namorado para fazer ciúmes, e quando não dá certo, inventa uma história de que foi forçada a beijá-lo, quem iria acreditar? Você é patética!
Concentrando-se em manter a postura ereta, Gina escuta atentamente aquelas palavras. Havia se movimentado, o que forçou Harry a fazer o mesmo. Como consequência, agora estava entre Harry e Ariel. Desde que o período letivo teve início, sentiu algo estranho nele. Forte. Familiar. É verdade que, no início, principalmente depois daquele beijo, pensou que ela apenas estava se sentindo confusa por causa dos seus sentimentos. Mas... era outra coisa, e que crescia mais e mais, como se algum poder maligno tomasse e tentasse crescer no corpo dele. Mas, como dizer o que era aquilo? Como culpar o que não pode ser provado? Chegou a retrair essas conclusões, a se repreender veladamente de sequer pensar nisso. Afinal, com tanta bagunça acontecendo, como soaria?
Em um momento de muita clareza, no último final de semana, explicou isso para Yoh e, para sua surpresa, ele disse que aquilo era possível, mas não poderia ser provado por meios naturais. E, se fosse, ela deveria se manter determinada, pois os resultados poderiam ser os piores possíveis.
Depois que fora possuída pelo diário de Tom Riddle, no seu primeiro ano escolar, aquela sensação, como se tivesse sido tocada pelas trevas, desapareceu. Mas nos últimos meses ela retornou. Pensou que estava associada ao retorno do Lorde das trevas, e, de fato, estava. Mas era algo mais. Cada ação do Harry, parecia guiada por um sentimento de agonia. Por alguns momentos aquilo desaparecia para, em seguida, voltar. Era como se o mesmo espírito que a tocou, tivesse tomado o de Harry por completo. Mas não nada era simples, pois foi naquele mesmo período muita coisa aconteceu: passou parte das férias com Harry, seu amor de menina; e teve o que considerava o pior ano de sua vida.
Com o tempo, e a ajuda de Jane durante as aulas de reforço para os NOM´s, ela conseguiu superar essas necessidades. Mas aquela sensação era algo da qual ela se lembraria por toda a sua vida.
Mas ela foi cortada. Por uma melodia.
- Como é? O espírito do diário de Tom Riddle?
- Eu não tenho certeza. Mas vocês lembram do que ele disse depois que enfrentou o Lorde das Trevas no Torneio Tribruxo, de como viu o espírito dos pais, e de todas as pessoas que o Voldmort matou? - Amanda sente um leve calafrio quando Hermione pronuncia aquele nome - e se algo mais aconteceu que ele não contou, ou não sabia como explicar? Não tomaram o sangue dele?
- Eieiei, gente, eu não quero interromper vocês, mas eu não conheço nem metade dessa história - Amanda pensava em uma forma de, pelo menos, arrastar Hermione dali sem chamar a atenção - mas estão dizendo que aquele encosto que veio dentro do diário agora está no Harry? É isso?
- Não tem como - Rony, ainda preso na parede, cerrava os olhos, observando enquanto Gina distrai Harry, e o mesmo apontava a varinha para ela - aquela coisa foi morta com presa e sangue de basilisco!
- Pode não ser aquilo - Hermione respirava um pouco pesadamente - mas deve ter algo a ver. Só isso justifica porque o Harry ficou perseguindo a Gina esse tempo todo!
- Eu acho que sei o que você quer, mas não vai rolar.
- Não seja idiota! Você me ama, Gina! Posso sentir os sentimentos que você tinha por esse corpo!
- Isso pode ter sido verdade, um dia. Não mais.
- Pois eu te conheço muito bem, Gina! Mais do que você mesma! Não sinto mais esse rastro meu em você, mas sei que está aí, em algum lugar! Para que eu possa ser completo, precisamos ficar juntos!
- Você está enganado.
- Ah, não! Disso eu tenho certeza! sinto que um pedaço da minha alma tocou em você e...
- Não ligo para a sua alma - ele se dá conta de que ela permanecia imóvel, sem recuar com o vento - mas você está totalmente equivocado sobre quem eu sou.
- Sei bem quem você é. É a MINHA Gina.
- Meus amigos me chamam de Gina - ela firma o rosto -, pra você, é Virginia Weasley.
Aquilo afetou a criatura - por falta de nome mais adequada – de tal maneira, que ela se irritou e começou a brandir a varinha a varinha. A ruiva não perdeu tempo e deu um passo para o lado, movimento acompanhado. Ela percebeu o ranger dos dentes do pseudo-Harry, e conseguiu desviar do disparo por centímetros.
- Você não vai fazer nada? - Rony olhava para Amanda, transparecendo um misto de irritação e desespero - Usa sua varinha, vai pedir ajuda, qualquer coisa!
- Aí, eu tô fazendo o meu melhor aqui, ok! - ela terminava os curativos em Hermione, fazendo-a ficar mais bem posicionada.
- Estamos presos aqui, a Ariel travou, a Gina está lutando sem uma varinha, e você está fazendo o seu melhor?
Enquanto Rony dividia a atenção entre os acontecimentos, duas pessoas tentavam ter uma visão ampla da situação. Primeiro, Hermione, a qual, consciente, mas impossibilitada, observava Gina correr pelo salão enquanto saltava, se jogava no chão e usava o terreno para se desviar dos disparos. Ela estava fazendo uso de sua agilidade natural para aquilo. Ariel, por sua vez, tomou ciência da luta da ruiva contra Cho, e como ambas fizeram pleno uso do espaço da torre da Corvinal.
- Para de se esquivar sua desgraçada! - a criatura disparava feitiços não verbais, de modo que não era uma opção ser atingida - você vai ser minha, nem que eu tenha que levar a sua carcaça!
De onde estava, Ariel tinha a impressão de que estava vendo um pouco de Cho, talvez, Julieta, se mover pela sala.
Amanda tentava executar sua tarefa. Hermione estava mais ferida do que aparentava, verdadeiro milagre ainda estar viva. Quando escutaram um barulho, tentaram sair do dormitório, encontraram uma barreira. Gina disse que foi o harry-possuído que desfez, pois a estava procurando. mas... teve a impressão de que foi outra coisa. A amiga ficava falando sem parar na melodia da caixa de música, como se ainda a escutasse. Foi quando a ruiva tocou na barreira e, por um breve instante, teve a impressão de que aquela melodia que ela ainda dizia houver, de fato era real, pois parecia que uma vibração saiu do seu corpo e, quando tocou, momentaneamente a barreira se desfez. Ou talvez tenha sido só impressão, de modo que saíram saltaram pela entrada quando perceberam que a barreira estava se recompondo, sem ter tempo de levar suas varinhas.
- Pare de correr, sua desgraçada! Acha que consegue para sempre? Eu vou lançar um feitiço tão poderoso, mas tão poderoso, que vou transformar em cinzas tudo que está aqui dentro!
Foi então que ela parou de correr, no exato momento em que estava de costas para ele. Mesmo com dificuldade, conseguia calcular a velocidade de saque do adversário, e nos intervalos fazia seu movimento. Ali, parou e se virou para o pseudo-harry, fitando-o.
- Gina! Corre! Sai daqui! - Rony estava desesperado ao ver a situação. Ariel, por sua vez, mesmo caída, conseguia sentir algo diferente em Gina, mas não sabia o que era. Tinha algo estranho na forma como ela se movia.
- Que olhar é esse? Você é tão presunçosa...
- Ah, é você não? - e deixa escapar um sorriso.
- Arrogância é tolerável quando se tem poder. Quando não se tem, é tolice. O que pretende? Acha que pode escapar para sempre? Você nem ao menos está portando uma varinha!
- Quem disse que não?
A partir dali tudo ocorreu muito rápido, de maneira que ela se lança na direção dele. Durou um segundo o momento de surpresa, o que foi o suficiente para Rony arregalar os olhos, bem como os demais ficarem surpresos. Quando Harry dispara, ela dá um passo em falso para o lado direito, o que o faz direcionar sua varinha para aquela direção, mas antes disso Gina pisa para o lado esquerdo, criando um ponto cego. Isso resulta que a velocidade de movimentação dele fica em atraso em relação ao da ruiva. Ela continua realizando esse movimento enquanto se aproxima e, quando ele finalmente consegue travar a mira, ela salta.
Talvez pelo fato de não estar plenamente acostumado ao controle do corpo de Harry, a questão é que o pequeno salto de Gina o pegou de surpresa. E, assim como fizera Flitwick, ela se aproximou o suficiente e segurou no braço dele, e embora o mesmo tenha travado a varinha em sua mão, Gina encostou suas costas no peito dele, bloqueou seu raio de visão, e com a mão direita segurou em sua varinha, ainda presa.
- EXPELIARMUS!
Usar uma varinha que não lhe pertencia não era uma tarefa fácil. Afinal, varinhas são temperamentais. Mas ela suspeitava, não, tinha certeza de que aquela varinha não estava funcionando de maneira plena, pois com certeza deve ter percebido que quem a usava não era o seu verdadeiro dono. Arriscou tudo nesse movimento, e funcionou. O disparo atingiu a entrada do dormitório e todos escutaram um barulho forte, como se dois feitiços tivessem se chocado.
Tudo isso sem que Harry tivesse largado a varinha. Aproveitando de sua prática em segurar a vassoura com as pernas, e ainda de costas para seu adversário, Gina move o pé esquerdo em direção ao – também esquerdo – de Harry, chuta-o para o lado e o faz perder o equilíbrio, mas joga seu corpo para que ambos caiam.
Estivesse em outra situação, aquilo seria uma piada para ele. Muito mais rapidamente derrubou Hermione e deixou os demais encurralados. Mas a breve sensação de que um pouco de seu poder passara por Gina, no passado, o deixou distraído demais - somado à velocidade dela - de maneira que, quando caíra, por estar preocupado demais em se manter de pé e segurar a varinha, perdeu momentaneamente a concentração, enquanto a ruiva caia com o cotovelo na barriga dele. Isso o desconcertou o suficiente para fazê-lo afrouxar a mão, e a jovem grifinória aproveitou a oportunidade para tomar a varinha dele.
Os demais presentes na sala tinham a impressão de que a ruiva estava cortejando a morte. Tendo a percepção de que estava no meio de uma batalha, corre e toma uma distância mais segura.
- Você já viveu demais! - ele ergue a mão, e uma ventania enorme começa a circular no espaço. Era impressionante imaginar que estava usando uma magia desordenada sem varinha, e como aquela ventania estava arrastando Gina para sua direção. - Morra de uma vez! - ele estica a mão para Gina, e ela sente como se uma força invisível puxasse a varinha que segurava. Afinal, mesmo diante das dúvidas do objeto, ela ainda poderia ser subjugada - Venha para seu verdadeiro dono!
Ela sente a varinha vibrar, como se tomada de vida própria. A mesma brilhava, e parecia se unir à força dele para escapar de suas mãos. Sabia que não poderia disputar aquela quebra de braço por muito tempo.
- Sua idiota! Pensou o que? Você não tem magia o suficiente para me vencer! Ninguém aqui tem!
- Isso é o que você pensa - ela sente a varinha lentamente escapar de seus dedos e, com um esforço, segura-a com força mais uma vez - ACCIO!
A varinha retorna para as mãos de Harry quando a ventania para e Gina dá um salto para trás. É quando um barulho explode no andar de cima e a barreira do dormitório, rachada, se despedaça. Como se antecipasse, Harry dispara contra Gina e a mesma, parada, estica o braço e faz um disparo com a mão esquerda, contra-atacando, obrigando-o a bloquear um outro disparo dela, feita com a mão direita. Ao se dar conta, percebe que ela estava de posse de duas varinhas.
Tudo isso acontecendo diante dos olhos de expectadores, com perspectivas diferentes. A menos surpresa era Amanda, pois estava mais atenta às brigas de Gina nos últimos dias, do que os demais. Rony e Hermione, por sua vez, perceberam uma diminuição na agressividade de Harry, como se ele não quisesse, de fato, machucar sua irmã.
- Como? - A expressão de Harry disfarçava toda a sua irritação, apesar de ele estar com a varinha abaixada. - Era impossível destruir a barreira!
Isso não era verdade. O disparo que ela fez, usando a mesma varinha que lançou o feitiço, criou uma fraqueza na barreira, de modo que as varinhas puderam despedaçá-la posteriormente.
Havia mais. Enquanto ela e Amanda conversavam no dormitório, começou a escutar o barulho da confusão, que antes parecia aleatório, mas, depois, ficou mais intenso, vindo do salão da torre.
A segunda coisa, não tinha certeza se seria capaz de explicar. Aquela melodia não tinha uma letra. Mas as palavras de Yoh proferidas enquanto ele tocava, fez com que ela se sentisse como se submersa em uma melodia que ocupava todos os espaços, caminhos e, principalmente, o tempo. Como se nadasse por esse infinito mar. E foi dessa forma que, antes, tocou na barreira e a mesma momentaneamente se desfez. E com o mesmo intento, invocou suas varinhas, como se elas deslizassem em meio à melodia e despedaçassem a barreira. Pois ainda conseguia ouvi-la.
Ou foi apenas algo que veio à sua cabeça, como se tentasse racionalizar os sinais que passou a seguir.
- Como... – Ariel estava surpresa, como se o improvável estivesse se manifestando a favor de Gina. De uma pessoa presa em um dormitório, agora estava de posse de duas varinhas.
- Eu - ela abaixa os olhos, olhando docemente para as varinhas e para a corvinal - apenas segui a melodia.
- Impossível - e expressou aquilo de forma muito fraca, pois, naquele momento, também escutava a mesma melodia que parecia circundar todo o ambiente - a sua família é toda bretã, vocês nunca foram de Wiltshire!
- Bom, eu tenho um pouco de sangue Prewett e Black, vai que no caminho eles se encontraram com alguém de lá? - ela dá um leve sorriso, virando o rosto - ou talvez eu tenha me tornando um membro de lá por meio do amor - ela marotamente mostra a língua para Ariel, e a mesma percebe um brilho no dedo anelar direito dela. Um brilho cinzento.
Por mais estranho que pudesse parecer para qualquer um, a segunda explicação, a mais ilógica, no seu entendimento, era a que fazia mais sentido quando você vive no mundo da magia. É verdade que, de forma provocativa, insinuou há dias que Gina havia lançado alguma espécie de feitiço sexual em Yoh, o que os havia deixado conectados. E nunca ficou muito bem explicado como o amigo baixou tanto suas defesas, que ela passou a lê-lo com tanta facilidade. Mas, as coisas eram o que eram.
- Mas, Gina...
- Depois a gente conversa - ela volta a olhar para Harry, o qual estava estranhamente silencioso, como se esperasse a próxima ação dela. - Você esteve comigo por tanto tempo, e eu nunca te dei o devido valor, não é? - ela ergue a varinha de teixo perto de seu rosto - me apoiou, lutou por mim... antes de eu ser alguém, você esteve ao meu lado e me apoiou. Sempre.
- Uma parte de mim sempre esteve em você - Harry responde, não se dando conta de que ela não estava falando com ele.
- Mas... você é meu passado. Um passado que eu não posso esquecer, porque são os meus fundamentos. Para onde quer que eu vá, preciso me lembrar que eu fui formada nas costas de gigantes, no amor e carinho que guiaram as minhas pegadas. Obrigada. Vamos continuar adiante e além, pois para onde eu vou, preciso saber sempre de onde eu tiro a força que eu preciso - ela dá dois giros na varinha e a paralisa, apontada para Harry - E para que eu nunca me esqueça disso, de carregar comigo para todo o lugar tudo o que eu sou, eu vou te chamar de... BROTHERS!
Naquele momento, um breve e curto brilho emanou da Teixo. Era a varinha que fora do seu irmão, mas que, simbolicamente, carregava toda a sua herança familiar, costumes, desejos, a experiência que acumulou em sua vida até aquele momento. Representava sua família, sua garra, a essência do que era ser um Weasley.
- Já você - ela balança a Choupo Branco - tem sido divertido, não é? Eu sinto que você quer ver até onde eu posso chegar. Esses dias serviram para abrir a minha mente, tudo o que eu posso e o que eu irei fazer, custe o que custar. Eu te mostrei a minha determinação todos esses dias, e você sabe bem o que eu tenho em mente. No passado eu não saberia te responder, mas, hoje, eu tenho cada vez mais convicção. Quero ter a mesma determinação que minha mãe e meu irmão Percy, e mesmo que isso me leve a caminhos tortuosos, e que as pessoas ao meu redor me desprezem, eu não vou recuar! Não importa o caminho que eu tenha que percorrer, a esperança vai ser sempre a minha última distância!
Naquele momento, a Choupo branco vibrou.
Estranhamente, os demais estavam quietos, observando aquilo. Era comum as pessoas chamarem varinhas pelos nomes de seus materiais, mas... ela estava fazendo outra coisa. Invocando um poder mais forte. Poderoso. Ele olha e soslaio para Hermione, pois ela observava atentamente a varinha de Choupo Branco. Se a conhecia vem, estava tentando racionalizar aquilo. Descobrir algo em algum livro, algum feitiço ou se dignificar. Mas ela não entenderia. Pois embora uma bruxa poderosa, Hermione era nascida trouxa. Não nasceu em uma sociedade bruxa, na qual a magia não é apenas invocada, mas vivida nas coisas mais banais e cotidianas. Como falar uma verdade. Ou usar um nome. Mas uma coisa ela havia percebido, pois ficou na sua cabeça todos esses dias, e agora estava mais claro do que nunca: aquela varinha era idêntica à de Viktor Krum.
- Isso! Venha comigo! Empreste-me sua força! Torne-se uma comigo para que eu possa atingir meus sonhos e me tornar tudo aquilo que precisamos que eu seja! E prometo que, um dia, enfrentaremos a sua irmã, e VENCEREMOS! - Ela fecha fortemente a mão - Assim como Brothers lutará ao nosso lado para defender nossas forças, você será aquela que usarei para pavimentar nosso futuro, por que você é a minha TOMORROW'S WEAVER!
- Já acabou, Gina? Estou sem paciência de ficar ouvindo você aí no seu monólogo, falando com objetos inanimados. Nunca imaginei que você seria doida de...
- Está errado.
- Será? O que houve com a parte de mim que estava em você? Eu tenho certeza de que estava ai!
- Não foi isso o que eu disse. O que eu quis dizer que só meus amigos me chamam de Gina. Mas a partir de hoje, pode se referir a mim como Virgínia Weasley M. Kneen! - Ela aponta a Choupo Branco/Tomorrow's Weaver para ele - o que quer que esteja dentro do Harry, se vai me ameaçar, então é meu adversário! A partir de hoje, lutarei até o fim e passarei por todos os obstáculos para atingir meus objetivos, através de você, se for preciso!
- Ora, sua desgraçada! - ele dispara, mas ela utiliza a Brothers para se defender. O movimento foi ainda mais rápido, pois o bloqueio foi seguido ao mesmo tempo de um disparo com a Tomorrow's Weaver, o que pegou Harry desprevenido pela velocidade do saque, atingindo-o no peito e fazendo-o recuar alguns metros. Só não fora derrubado, pois a proteção mágica em torno do seu corpo o impediu. Mas o deixou furioso.
Na visão de Rony, ele havia piscado um instante e, no seguinte, Gina estava de posse com a varinha que ganhara de seu irmão mais velho; e com aquele graveto que ganhou de presente há poucos dias. Não estava surpreso da garra dela, mas foi inesperado Harry ter sido jogado para trás.
Observou os dois trocarem disparos. Talvez pela sua agilidade da irmã como goleira, o ruivo se deu conta que Harry errou três disparos. Seu coração estava acelerado, pois alguns dos feitiços de Harry eram destruidores; outros, capazes de perfurar carne e quebrar ossos.
Gina misturava um pouco de reflexos com ginga, mas, principalmente, seu footwork. Harry era um adversário poderoso: nos últimos, diferente dos outros alunos, esteve em combate contra bruxos das trevas. E era por isso que, de antemão, partiu para o ataque. Embora tivesse reflexos, ele estava tendo problemas para atingi-la. A cada disparo, Harry se deparava com uma Gina que se desviava rapidamente; e quando parecia que iria acertá-la, ela bloqueava com a varinha de teixo, agora, "Brothers".
- Pare de correr, sua ratazana! Pensei que grifinórios fossem mais destemidos! - Ele gritava e uma chama se acendia de maneira intensa na ponta de sua varinha, mas, quando ia disparar, um ponto de pura magia saiu da Choupo branco, agora "Tomorrow´s Weaver", e com o impacto o braço dele foi erguido alguns centímetros, só não o forçando a largar a varinha porque segurou com todas as suas forças.
- O quê? - Rony, com todo o esforço de estar preso, tentava processar o que acabou de acontecer - mas...
- Não é o Harry que está pegando leve - ele olha para baixo e vê uma Hermione sentada, ainda não totalmente recuperada e com uma voz de esforço -, só não consegue ir mais além.
Naquele momento em que o braço de Harry se levantou, por uma diferença de milésimos de segundos um segundo disparo o atingiu no feito, oriundo da Teixo. Gina calculou a brecha entre o impacto e a quebra da defesa e fez sua jogada.
Rony mudou seu comportamento: observava a luta não pela preocupação com a irmã, mas pelo que seu amigo estava fazendo, agora.
Tinha percebido algo estranho, antes, mas não sabia dizer o que era. Os móveis não estavam sendo atirados para todos os lados; não havia o barulho de explosões; nenhuma ventania tomava conta da sala. Tampouco o leão flamejante que quase chamuscou Ariel havia sido invocado, ou quaisquer feitiços que nem Hermione aprenderia fuçando a biblioteca. Harry não estava usando feitiços perigosos, ameaçadores e, justamente, mais elaborados, e esse era o motivo: levavam mais tempo. Não que ele não tivesse um saque rápido; mas Gina não estava lhe dando tempo de reagir. O feitiço de fogo que tentou disparar abriu sua guarda para um contrafeitiço e um disparo, de modo que estava mais usando feitiços de repelir e, no máximo, expeliarmus.
Segunda lição de Flitwick: um feitiço poderoso só é útil se puder ser completado.
Arial havia se arrastado para um canto mais seguro logo no início da batalha. Era como as fofocas que escutou sobre o duelo contra Cho, a ruiva corria pela sala, de canto a canto, pela escala, subindo em mesas e cadeiras e, principalmente, bloqueando e atacando, praticamente ao mesmo tempo. Seu corpo, em alguns momentos, girava para bloquear e, em seguida, atacar, e ela estava usando feitiços muito simples. Não dava para acreditar que o Potter estava sendo subjugado com feitiços que qualquer primeiranista conhecia.
Harry, ou melhor, o espírito dentro dele, estava bufando, pois não conseguia fazer um disparo efetivo. Aproveitaria a primeira oportunidade para conjurar um feitiço de explosão e transformaria todo aquele dormitório em um mar de chamas. Se tivesse a oportunidade. Tinha a sensação de que a ruiva estava lendo seus movimentos, fazendo-o se acuar.
O pior não era isso, pois ela avançava e recuava, enquanto seguia pela sala. Normalmente as pessoas não têm tanta coordenação motora, o mais comum era manterem sua posição e avançarem: a ruiva fazia ambos, movia-se pela sala e disparava ao mesmo tempo, como se a parte da movimentação fosse um lado do seu corpo, e os ataques, outra. Tinha dificuldade para acertá-la por ela estar se movimentando constantemente, realizando fintas, pulando, saltando, girando, além de outras atividades.
De repente, aos olhos de Ariel, Gina fez algo que lembrou o modo impulsivo de Carlos de se lançar no campo: ela avançou em meio aos disparos de Harry. Alguns, ela deixava se aproximar e bloqueava com uma varinha. Outros contra-atacava, mas definitivamente alguns disparos - feitos pela varinha de formato incomum - não só atingiam os disparos de Harry, como os atravessavam, obrigando-o a realizar um novo feitiço para se defender.
Para Harry - e quem o controlava - aquilo não fazia nenhum sentido. E não estava sobrepujando os demais há pouco? Não era essa a garota que precisou ser salva quando, há anos, uma versão mais fraca dele dominou o corpo dela durante meses? De onde veio aquela determinação toda? E por que se sentia acuado? Embora a luta para dominar o corpo do garoto tivesse embaralhado suas memórias, sabia que era forte, poderoso! Nunca seria derrotado por uma mera colegial!
Gina não sabia quem ou de onde veio aquilo que estava tomando controle do corpo de Harry, mas sabia o que era. Aquele fragmento de Tom Ridle havia sido destruído, disso tinha certeza. Aconteceu algo nos últimos dois anos, durante o torneio tribruxo?
Isso não foi nem um suspiro dos seus pensamentos, pois estava totalmente atenta à luta. O que tinha em mente era que, quem ou o que estivesse ali dentro, não tinha um domínio pleno do corpo do seu amigo, talvez por ter recém-desperto. E ela não iria cometer o mesmo erro de Thor, de deixar o adversário se acostumar com o combate e crescer durante a luta.
Amanda estava com o coração na mão, dando o seu melhor para não se desesperar. Naquele momento, tinha a missão de auxílio, e era isso o que fazia. Tentou vários feitiços, mas não conseguia desgrudar Rony da parede. Estava fazendo isso e dividindo a atenção, embora Gina parecesse estar bem.
Hermione se perguntava onde Gina aprendeu a lutar daquele jeito. Ela não estava dando nenhuma brecha para Harry, o qual estava visivelmente acuado. Nocauteada, perdeu boa parte da confusão, mas quando acordou, o estrago feito na sala deu a ela um bom exemplo do que havia ocorrido.
Porém, em um rápido saque Harry gera um arco voltaico de chamas, fazendo Gina recuar. Os disparos deles se chocam e, lentamente, a situação se inverte: Harry lentamente aumentava sua velocidade, e embora um ou outro disparo de Gina o atingisse, ele não recuava. Era como se sua defesa mágica tivesse aumentado, bem como a velocidade do seu saque. Estavam agora parados, distantes, mas um diante do outro, trocando expeliarmi em sequência, enquanto o rapaz parecia, gradativamente, sobrepujar os movimentos da ruiva. De repente, a anterior superioridade dela gradativamente sumia, como se a Weasley não tivesse alternativa.
Rony estava agitado, gritando para Amanda ir ajudá-la; Ariel, ainda com dores, tinha uma visão ampla do terreno, e procurava sua varinha pronta para disparar. Foi quando um disparo mais forte de Harry, aproveitando que Gina havia disparado antes, chocou-se com a varinha de choupo branco quando a ruiva fez o mesmo, forçando-a a erguer os braços para não ser desarmada.
Ele sorriu. Uma chama se formou na ponta de sua varinha, e aproveitando os instantes do movimento, disparou um poderoso jorro em direção à grifinória.
- Ascendio! - foi uma rápida reação de Gina, como se previsse que não conseguiria contra-atacar a tempo. E, por isso, fez o feitiço que a lançou para cima
- Sua idiota! É o seu fim! Está onde eu queria!
- Gina! - Gritava Rony!
- Quer parar? Ela sabe o que está fazendo! – Amanda apontava a varinha para o ruívo, o que o deixou surpreso.
- O quê?
- Não vai adiantar! -De onde estava, Harry vê Gina movendo a Teixo em suas costas; do seu ângulo, Rony a vê fazendo o mesmo com a Choupo Branco. - Feitiço nenhum vai me parar agora!
Foi então que ela sorriu. Um escudo mágico surge à sua frente, exatamente como Harry esperava.
- Não! - Gritava Rony, desesperado.
O jorro de fogo atingiu o escudo, o qual não foi desfeito, para a surpresa de todos. E, por detrás das chamas que circundavam Gina, a mesma sorria.
Exatamente como havia planejado.
- Gregorovitch – saiu uma palavra muito furtiva dos lábios de Hermione. Mas, naquela situação, Rony e Amanda escutaram com perfeição.
- Sim, nem sempre artes das trevas é enfrentada de maneira sutil, com feitiços e contrafeitiços - Jane gesticulava - às vezes, no calor de um confronto, você precisa utilizar estratégias mais criativas.
- Como assim? - a jovem ruiva encarava a professora Kneen, enquanto, sentada naquela cadeira, estudavam fervorosamente para seus NOM´s - mas isso não é o que cai nas provas!
- Errado - ela tinha um tom mais duro - isso é o que não está nos livros didáticos. O problema de Hogwarts, bem, nós temos um conjunto de matérias que são ensinadas e colocadas à disposição, mas na maioria das vezes vocês não sabem o que estão aprendendo. Escolhem matérias porque as acham legais. Não é bem culpa de vocês, mas na maioria das vezes estão mais preocupados com o resultado, do que com o processo. E é aí que está o problema: vocês são muito bons em decorar coisas, mas péssimos em aplicá-las.
Ela abaixa a caneta e olha para o lado, encarando-a com surpresa.
- Então – Gina aponta para o certificado que Jane ostentava na parede, indicando seus 12 NOM´s – isso não serve para nada?
- Isso vale mais pelo seu valor simbólico – ele dá um sorriso cheio de orgulho -, mas não deve se apegar a isso em todos os momentos, do contrário será apenas isso: um pedaço de papel. Você pode tirar notas muito boas nos muros protegidos de Hogwarts, mas... a maioria dos estudantes não entende que o seu futuro será definido com base não no que sabe, mas no que consegue fazer.
A ruiva jogou o pescoço para o lado, e Jane se deu conta de que sua aluna não havia entendido nada de seus apontamentos. Cinco ano de estudo formal cristalizado em Hogwarts cobravam seu preço.
- Como?
- Como o que?
- Tem alguma forma de enfrentar artes das trevas senão com feitiços específicos?
- Sim, claro - a pergunta na verdade a pegou de surpresa, pois aquele rumo era diferente do que estava falando - No final das contas, um feitiço muito mais forte, bruto, principalmente de um elemento contrário, pode derrubar um feitiço das trevas. Fogomaldito pode ser combatido com feitiços hídricos se o usuário tiver criatividade. Um bicho-papão, que é uma criatura das trevas, ao invés de ser aprisionada, pode ser destruído, por exemplo, se usar um feitiço de fogo deveras poderoso.
- Mas já existe o feitiço Riddikulus!
- Digamos que você encontre um Bicho-papão conjurado e modificado, algo feito por um transfigurador poderoso. Um bicho-papão é basicamente energia das trevas corporificada. Mas imagine que você não consiga utilizar esse feitiço, por não conseguir lembrar de algo realmente engraçado em uma situação tensa. - Ela se levanta e caminha para trás de Gina - às vezes pode, em momentos de tensão, não se lembrar das coisas mais engraçadas - ela se senta do outro lado - mas pode resgatar aquilo que lhes dá esperança.
- Esperança... esperança... esperan...! Espera, quer dizer que..., mas isso não é...
- Pouco ortodoxo? Com certeza! Só que, às vezes, um poderoso jorro de energia positiva é tudo o que você precisa, senão para derrotar, então para desestabilizar uma criatura das trevas.
- Isso não é bem ensinado na aula do professor Lupin, a senhora sabia?
- Com certeza, não. Mas, a maioria de vocês nem ao menos sabe o que está fazendo, apenas repetindo fórmulas mágicas, aqui e ali, sem entender que elas são simplificações estruturadas de princípios mágicos, sintetizados em palavras.
- Para a surpresa de todos, ela utilizou a Tomorrow´s Weasver para gerar um poderoso escudo, que defende por completo o ataque de Harry. É então que atira, usando a Brothers, um jorro de luz branca, o qual atravessa o escudo e segue na direção do seu amigo.
- SPECTRUM PATRONUM!
Alguns poderiam se surpreender com o animal de Gina. Qual seria a criatura? Um leão, símbolo da sua casa? Provavelmente, um animal com uma crina majestosa como a própria, quem sabe. Alguma criatura que representasse sua energia, seu espírito selvagem; ou que simbolizasse sua paixão, sua imponência. Talvez, um cavalo. Para uma outra Gina, de uma outra época, sim. Se tivesse tomado um caminho específico, ou não tivesse se deparado com situações e experiências que a mudaram em sua essência, com certeza.
A particularidade desse feitiço é que ele não tem uma forma fixa. Se o indivíduo é igualmente competente para realizá-lo, não significa que ele sempre terá a mesma forma, já que depende do sentimento ao qual se apega.
Os que estavam ali presentes tiveram uma leve surpresa. Não foi pelo fato dela ter disparado o feitiço mais improvável naquela situação, mas, do momento do disparo até ele atingir o alvo, passaram por uma profusão de interpretações. Mas, independentemente do que achassem, era um pássaro preto. Um corvo.
Alguns associaram a criatura a um "Raven", bem como a casa a qual ela estava associada, e a uma pessoa específica. A criatura, ao esticar as asas enquanto ganhava altura, emanava uma umbra densa, abandonando rastros de suas sombras. O bater das asas lançava sombras lúcidas para a direita e a esquerda, criando um efeito ilusório como se outros corvos tivessem surgido, como resquícios daquele movimento, criando a impressão de que havia três corvos. Isso motivou alguns, os quais tiveram uma semana de revelações, pensarem que Gina, para vencer, resgatou o legado de Cedrella Weasley.
Porém, a criatura mudou sua posição de voo: deixou seu corpo em pé e esguio enquanto voava, ao passo que seus reflexos umbrais retornaram para seu corpo, enquanto a própria criatura aumentou de tamanho.
Naquele momento, todos ali se lembraram das aulas de criaturas mágicas e reconheceram a forma do patrono corpóreo de Gina.
Um Storm Crow.
Ou melhor...
Harry ri, não entendendo o que Gina pretendia, já que aquele era um simples Patrono. Mas ele não teve tempo de reagir quando fora atingido. Mais do que ser empurrado, sentiu como se sua alma estivesse sendo rasgada e esmurrada no próprio corpo. Como se um turbilhão que rasgava suas entranhas, e o vento fosse uma tempestade de fogo queimando sua alma.
"Storm Crow descending, Winter unending
Storm Crow departing, summer is starting"
Essas palavras ecoavam na mente de Harry, ou melhor, do ente que controlava seu corpo, antes de desmoronar por completo, enquanto via a criatura que o atingiu voar livremente pela sala. O corvo do início e do fim. O corvo do renascimento.
Aquela garota evocou "Morrigan". Na mitologia nódica, Hugin e Munin eram os mensageiros de Odin que seguiam pelos campos de batalha. Mas os Weasleys eram de linhagem bretã, celta. Os corvos eram arautos dos campos da batalha e da guerra, e eram a personificação da deusa da morte, Morrigan. Era o nome que muitas crianças de origem bretã aprendiam a usar para se referir àquela rara criatura mágica. Ao evocar três corvos que são um, a garota resgatou a origem dos Storm Crows serem associados à figura da deusa Morrigan, pelo fato da mesma ser uma deusa trinitária, ou seja, com três faces: Badb, Macha e Morrigan.
Que sentimento poderoso era aquele que aquela mera quintanista resgatou, a ponto de evocar uma criatura mítica tão poderosa? Era esse o poder para se atingir os próprios objetivos, passando por cima de qualquer um, se possível for?
Ele não sabia. Sentia-se extremamente enfraquecido. Não lembrava de quem realmente era, e gradativamente sentia as forças de Harry tomando conta de seu corpo. Harry também não conseguia se manter acordado, pois os constantes disparos que recebeu de Gina, embora não o tenha ferido profundamente, deixou seu corpo atordoado e esgotado, de modo que tanto ele quanto o ente não tinham forças para reagir quando, com um disparo da Choupo Branco, Gina o desarmou. Em seguida, despencavam no chão, sem forças.
No tempo em que os demais processavam o que havia acontecido, ela havia tocado no chão. Andando lentamente se aproximava do corpo de Harry. O feitiço que prendia Rony se desfez e ele cai, ainda machucado por ter sido tão pressionado. Não foi nenhuma surpresa para Amanda descobrir que o feitiço que o prendia, também o pressionava, e o mesmo esteve fazendo um esforço enorme para se manter consciente.
A última coisa que viu, antes de também apagar, foi sua irmã, Gina, abaixando-se e pegando a varinha de Harry. Escutou, mas não tinha certeza mais disso, ela dizer uma coisa: Doze.
Ele piscou e, quando se deu conta, estava em uma pequena embarcação, singrando um mar infinito. Lago, segundo suas memórias. Mas... desde quando? Era como se o tempo se dobrasse diante de suas interações. Ao virar o rosto para a direita, como se procurasse o pedaço de terra onde estivera há pouco, sentia como se um jorro de puro fluxo temporal resvalasse em sua face, e uma era inteira tivesse se passado. O piscar dos olhos tinha o peso de décadas; a respiração, séculos.
- Suas preocupações são momentâneas - uma pergunta inserida em uma afirmação, da parte daquela mulher de cabelos prateados e olhos acinzentados.
- Nada é eterno, mas tudo pode ser duradouro - respondia levemente. Deu-se conta de que estava sendo testado, provavelmente desde o momento em que adentrou naquele lugar. Era um lugar? Sua mente, ou um estado de espírito?
- Ainda assim, se preocupa com o tempo. Sendo passageiro, suas preocupações tendem a se diluir a partir do momento em que um problema deixa de sê-lo.
Ele funga, e esse pesar tinha o peso da eternidade. Sentia como se todo o ar da terra que foi transformado em gás carbônico desde o seu nascimento, tivesse passado pelas suas narinas.
- O Sol não se preocupa conosco. Ele não nasce para nós, como se pretendesse nos proteger. Apenas é o que é. Mas nos definimos na relação com um ente maior, que nos ilumina e guia.
A dama que estava com a cabeça abaixada, sentada à frente dele, no barco, levanta sua cabeça. Apesar de todos os elementos diferentes, reconhecia as características ali, de Yoh.
- Você me lembra alguém.
- Armand Malfoy - ele completava, fingindo não entender o comentário.
- Armand não foi tão corajoso quando você, nem tolo. Veio acompanhado de seu irmão, Sume.
- O primeiro servo.
- O primeiro a ser subjugado - ela se ergue, e seus cabelos se moviam de tal forma, como se mudassem a direção do vento. A água vibrava, como se pudesse sugá-lo para um abismo sem fim.
- Por opção - ele se mantém sentado, sem se erguer.
O encarava como se analisasse suas ações. Não poderia dizer se o rapaz se manteve sentado pelo sentimento de impotência, ou se decidiu a ficar daquela forma.
- Kneen. Um nome adequado o seu, eu vejo - ela se vira, e algo como uma vibração passa pelo corpo de Yoh, e parecia quase que cerrar seus olhos - mas até onde consegue seguir?
Ela ergue as pernas como se colocasse os pés. Naquele instante, Yoh percebe ela tocando em terra, mais exatamente em uma imensidão que ele não sabia de onde veio, mas tinha a intima sensação de que sempre esteve ali.
- Sou seu descendente, Viviane. Não há nada nesta terra que eu não possa tocar.
Quando ele desce, o ato de tocar a terra afeta seus sentidos como se pudesse sentir uma forte respiração.
- Eu julgarei se é meu descendente ou não - ela olha para trás, e quando Yoh desvia seu olhar, a mesma já não estava mais ali.
Ele olha para todos os lados e toca em seu peito. Percebeu que podia sentir a respiração de todos os seres viventes que o cercava, de aves, insetos, até mesmo das árvores.
- Fez uma escolha errada.
Não é que ele não reconheceu aquela voz, mas quando olhou para o lado, deparou-se com um homem de olhos acinzentados, em torno da casa dos 30 anos, olhando-o firmemente. Tinha cabelos escuros, firmes e desafiadores. Paternos.
- Mas... espera, isso é...
- Impossível?
- Sim! Quer dizer, você... você... você estava no meu sonho!
- Está certo disso?
E foi diante dessa última pergunta que ele começou a questionar muitos dos acontecimentos dos últimos tempos, ou anos, ou seja lá quanto tempo havia se passado. Pois, diante dele, estava ninguém mais ninguém menos que John Gray.
- Cada uma de nossas escolhas tem consequências - o homem balsaquiano distanciava-se dele - a ponto de que, se eu não olhei para a direita, significa que eu olhei para a esquerda. Ou para frente, mas você me entendeu.
- Interessante, John. Mas a vida é uma sequência de escolhas, a todo o momento.
- Sim. Mas, às vezes, fazemos escolhas ruins.
Ele sabia que não estava ouvindo as palavras de John. Também não era sua voz se manifestando. Tinha uma percepção de que não estava sonhando, mas, por meio da música, adentrou em uma dimensão espiritual, utilizando a sequência como chave. Era por isso que sabia que John estava e não estava ali. Não era um sonho, mas uma espécie de realidade na qual o insólito poderia plenamente se manifestar.
Por mais estranho que isso pudesse soar, considerando o mundo da magia.
- Espera um pouco, John! Você bagunçou sua carreira de médico, se me lembro bem! Fez duas residências totalmente diferentes!
- Pelo menos, eu virei médico. Boa sorte com o rancor de Pomfrey.
- Você não disse isso, John – sentiu-se extremamente incomodado pelo comentário – crueldade sua.
- Fui honesto. E você sabe, diferente de você, sou pai. Ou melhor - e isso saiu enquanto Jonh caminhava em direção a Yoh. No momento em que o estudante piscou, a forma de John mudou –, mãe.
Uma mulher exuberante, com uma cabeleira castanha estonteante estava diante dele. Fosse ruiva, diria que era uma versão mais adulta de Gina.
- Mary?
- Há quanto tempo, Yoh. Não nos vemos há um bom tempo... ou vai ser amanhã? O tempo aqui funciona de forma tão diferente.
Algumas breves palavras. Curtas. O autocontrole que manteve durante todo aquele tempo, de repente, estava por um fio de se esvair.
- Espera, do que isso se trata? Por que John disse que eu fiz uma escolha ruim? – a pergunta saiu de forma meio trêmula, o que não tardou a perceber.
- Pense um pouco. Somos parte de você, não é mesmo?
- Mas... quer dizer que você é real? Não foi um sonho aquilo que eu tive?
- O que não significa que eu também não seja um delírio seu. Você parece mais perdido que os adolescentes que eu costumo salvar da cadeia, sabia! E olha que eu preciso orientá-los com mais "intensidade".
Ele pisca novamente, como se ponderasse sobre as últimas palavras dela, como se entendesse aquela discussão. Era disso que se tratava. Seu estar-no-mundo, ali, resumia-se a interagir com aquele lugar. Espaço. Entendimento.
- Vocês são possibilidades.
- Bingo!
- Quer dizer que uma possibilidade pode deixar de existir por completo?
Ela se irou, dando-lhe as costas. Distanciava-se, com as mãos para trás, cruzadas. Igualzinha.
Algo estranho aconteceu. Quer dizer, ainda mais estranho. Enquanto Yoh fitava Mary, ela parecia andar por espaços diferentes. De repente, ela passava pelo salão principal de Hogwarts, e passa em frente a ele alguns instantes antes dele se levantar e tomar coragem para falar com Gina. Era ele, mas uma versão sua do passado, quando estava no quarto ano. Percebeu que estava vendo aquilo como se assistisse um filme, à distância. Viu-se deitado na cama do hospital, depois do jogo contra a Sonserina e, olhando aos redores, a balzaquiana sentada no parapeito da janela. Então, via-se pegando seu violino e caminhando em direção ao salão principal. Mary estava passeando por algo mais do que suas memórias, mas, por situações que o levaram àquele momento.
- Pense com atenção, Yoh. – A voz dela o puxa de suas divagações, e estavam novamente naquele espaço inicial, como uma grande ilha cercada por um lago infinito - Você teve uma chance, não teve? Ou melhor, três alternativas. O que decidiu?
Sim, o que ele fez? Poderiam ter fugido, ele e Gina. Passaram o final de semana pensando, conversando, fora dos muros de Hogwarts, embora ninguém tivesse percebido. Hoje, poderiam estar tão distantes, que quando os procurassem, dificilmente alguém os encontraria. O segundo caminho seria aceitar as coisas como realmente eram. Ir para a aula, finalizar o ano letivo e os seguintes, tentar sobreviver, ser apenas um estudante e ignorar o resto.
Mas ele fez uma escolha. Eles fizeram. Uma escolha para ter o direito de seguir o caminho que iriam querer seguir. Pois sabia que as demais alternativas não eram, de fato, alternativas. Imposições. Sem escolha. Não podia viver com isso. Passou a odiar o fato de que a decisão de sua mãe tirou toda possibilidade de normalidade para sua vida.
Uma vida covarde, apática, talvez. Ou em constante fuga, sem repouso, descanso, em intermitente atenção, sempre olhando por cima dos ombros, sem saber se aquela pessoa na esquina era amiga ou inimiga.
Mas isso era algo que não existiria mais. O sonho foi um extra. Passou a desejá-lo, imaginar um futuro no qual ele se concretizaria. Não imaginava que seria uma consequência de uma das escolhas impostas.
- Eu prefiro arriscar um caminho - ele dá um passo adiante, tocando no ombro de Mary, agarrando-se ao pouco de convicção que ainda lhe restava - no qual o futuro, por mais perigoso que seja, vai ser formado pelas minhas decisões... e meus erros.
- Nem que para isso você tenha que me sacrificar? - ele pisca, surpreso. A voz se tornou mais infantil, e diante dele estava outra pessoa. Não percebeu quando a mudança ocorreu, mas, a seu ver, era como se ela sempre estivesse ali.
- Harlet? - ele fica surpreso e se agacha um pouco - Harlet? - era previsível e, ao mesmo tempo, inesperado - Harlet?! - e, então, ele a abraça.
Foi estranho, incomum. Era como se esquecesse o motivo de estar ali, naquele lugar/momento.
- Você fala em futuro, Yoh..., mas você sacrificou a mim nesse processo.
- Isso não é verdade! Eu posso ser feliz, eu e Gina vamos... vamos... – a voz trava. Se John e Mary eram possibilidades, então a presença de Harlet, ali, era seu pior pesadelo.
- Vão? - era uma voz infantil e, ao mesmo tempo, séria - há quanto tempo pensa que está aqui? - ele toma uma surpresa - Segundos? Minutos? Já parou para pensar que você pode estar há anos parado no Jardim Sundial, tocando aquelas melodias?
- Não, eu... eu sei que... eu... era quarta, não, quinta, não, eu...
- Você acha mesmo que ainda está tocando? É provável que esteja no Saint Mundus, deitado em uma cama, sendo tratado.
- NÃO! EU TENHO MEU PAI, MINHA MÃE, MEUS...
- Amigos? Abra os olhos, o tempo não depende de que você o afirme, ou o confirme. Seu pai já deve ter morrido há essa altura. Sua mãe, se não foi morta pelo Lorde das Trevas, deve ter virado uma velha caquética, em uma cabana da floresta, procurando preservá-lo em uma cama e se recusando a morrer. Seus amigos com certeza choraram por você. Mas tem o baile, o quadribol, os NOM´s e NIEM´s... eles têm que seguir a vida, não é? E tem a Gina...
- O que tem ela? - ele ergue o rosto e se dá conta de que, mesmo agachado, Harlet estava com as mãos sobre seus ombros.
- Ela deve ter... não, com certeza ela chorou por você. Deve ter te visitado todos os anos que esteve em Hogwarts. No sexto e no sétimo ano, deve ter se fechado, passado a maior parte do tempo sem falar com ninguém, afastados amigos com isso. Amanda. Deve ter sofrido. Sofreu. Mas com certeza ela deve ter encontrado alguém, não é como se faltasse conselhos dizendo para ela te esquecer, não esperar pelo cara patético que nunca iria acordar. E mesmo que não fosse isso... bem, depois de dois anos ela não precisaria voltar mais para a escola. Nunca mais.
Naquele momento ele piscou e se ergueu, como se entendesse profundamente aquelas palavras. Ele pediu para Gina interromper a música após um determinado período. Mas para isso ele deveria estar livre do transe espiritual. Ou seja, seu corpo estaria vivo, respirando, com as atividades vitais em funcionamento. Mas estaria preso ali, para sempre. Mesmo que lhe tirassem o Anati, seus braços se moveriam até o fim dos tempos, até que só sobrasse o pó de seus ossos. E provavelmente suas mãos e braços continuariam se mexendo. Enquanto não estivesse no estado de semitranse, estaria preso para sempre. Ou já estava.
Estava preso no Sunflower.
- O que você pensou? Que seria fácil sair daqui? Esqueça, você precisa se desapegar de tudo para ter um resquício de chance, e já vi que não tem! - havia uma voz esbaforida, como se misturada com um choro - e sabe por quê? Você quis tudo! Já tinha a garota, amigos..., MAS VOCÊ QUIS MAIS!
A experiência faria qualquer um chorar, entrar em desespero, e ele tinha a experiência de sentir todas essas sensações, e ao mesmo tempo não conseguir se mover. Suas mãos ficaram imóveis enquanto abraçava Harlet, como se congelado.
- Não aguentou ser o cara quieto, não é? A vida era tão simples, poderia ter ficado parado, não se meter como ninguém..., mas você deu um paço maior do que a sua perna. Fez tantos planos, calculou tanto, e para quê? - Ele percebe que estava olhando para um pedaço de pano enorme, e que não abraçava mais a menina. Ergue seu rosto, e estava enroscado à mulher de olhos e cabelos prateados, Viviane.
Quando ele olha para cima, a vê o encarando com olhos de decepção. Viviane tinha uma percepção muito mais profunda daquele lugar, bem como de todo o processo. Durante o momento em que os olhos acinzentados de ambos se encontraram, seu corpo ficou inerte, como se estivesse petrificado.
Não era uma surpresa. Os Malfoy se apropriaram daquele ritual celta, e da família passou a surgir o novo pendragon. Gerações posteriores ampliaram o sentido do nome: cargo, ritual, arma..., mas, ainda assim, muitos eram provados, poucos obtinham sucesso. E durante muito tempo tinha sido essa a função dos Sume, os guardiões do ritual do Sunflower. Até que alguns descobriram como utilizar o som para executar o ritual. Música.
Mas aquele garoto fez algo diferente. Ou melhor, algo que não era feito há séculos: acessou a fonte de todo o poder espiritual da Bretanha: Avalon.
- Meu descendente, hunf... veio aqui para que? Repetir o feito daquele tolo do Sume? Fizemos aquele ritual há séculos. Se fosse um Malfoy de verdade, não precisava executá-lo. Você não é o primogênito, pelo visto. E nem se comporta como tal. Vejamos o que você realmente pretende - ela toca a mão na cabeça dele. - Mas... o que?
Era estranho. Vida. Escola. Amigos. Amor. Família. Bruxos. Era tudo o que Viviane conseguia ver ao olhar na mente de Yoh. Na verdade, o termo era uma catacrese linguística, mas era o mais adequado para explicar o sentido. A percepção daquele lugar atravessava o tempo, espaço, alma e mente. Era um lugar, mas não no sentido de um para o qual você poderia ir, embora Yoh estivesse ali, e ela o habitasse. Não havia um tempo, embora tivesse a percepção de que muito havia se passado desde que ela, Viviane, se deparou com os Malfoy que vieram do outro lado do oceano, da Normandia.
Duas coisas a surpreenderam: não parecia haver, de fato, uma motivação forte o suficiente em Yoh para estar ali. Não é que sua mente estivesse bloqueada a tal ponto que não conseguia enxergar, apenas não conseguiu detectar algo que realmente justificasse aquele grau de motivação. Não fazia sentido imaginar que ele foi até ali apenas para executar as 12 pétalas, da maneira antiga.
A segunda coisa, era a melodia que tocava em sua mente. Demorou para reconhecê-la, embora sentisse que deveria sabê-lo. Os descendentes de Armand e Sume o ritual do Sunflower em um recital, mas mantiveram sua essência. E, de alguma maneira, sentia como se aquela melodia na mente de Yoh soasse como os raios do sol, ecoando sua vibração. E pelo fato do tempo, ali, agir de forma diferente, foi que pode concluir que a melodia estava tocando em todo o tempo: o agora, o amanhã e o depois também.
13 pétalas. Era algo que ecoava na mente de seu descendente. Os Malfoy modernos passaram a utilizar uma versão simplificada do sunflower por meio da música, conforme foram se tornando mais sofisticados; diferente dos Malfoy antigos, os quais aprenderam com os celtas a realizar magia solar e, com isso, manipular, em situações muito específicas, as Linhas de Ley. Aquele número era significativo. Era de uma lenda anterior à chegada dos Malfoy, e que aquela tribo normanda assimilou aos seus ritos, mas se esqueceu com o tempo.
A lenda do 13º feixe de luz. A 13ª pétala.
Uma história que era conhecida pelos antigos Malfoy, mas que se perdeu na esses alteraram o ritual, e esse conhecimento se tornou lenda. Conectada como estava a todos os descendentes de Armand e Sume, mesmo sem ter vivenciado, Viviane sabia que há séculos eles não acreditavam na 13ª pétala.
Naquele momento, ela passou a ter um interesse em particular por Yoh, o qual estava como se congelado diante dela. Soltou-o e começou a circulá-lo, tocando em seu ombro.
- Você é astucioso. Vou te dar uma chance. - Ela sussurrava em seu ouvido - mas... apenas uma. Três presentes, o que acha? Mas só pode escolher um. Obviamente, terá que renunciar aos demais... para sempre. Preparado?
Yoh estava totalmente parado, estático, congelado naquela posição. Com a palma da mão estendida, Viviane tocou em seu peito, e ele sentiu como se vomitasse partes de sua alma pelas costas. Como se ela expulsasse algo de dentro dele. E, embora não pudesse ver, sabia o que era.
No momento em que ela tocou nele, as figuras de John, Mary e Harlet sairam de seu corpo, de forma violenta. Ao tocarem no chão, a terra começou a se mover, liquefazendo-se e formando um redemoinho, o qual os sugava. Os gritos de desespero deles poderiam ser ouvidos por eras. Cada um deles levantava a mão para o alto, apontando para Yoh, como se tivessem a esperança de serem salvos.
No entanto, ele permanecia da maneira que estava, impávido.
Congelado.
Parou de pensar no que era aquele lugar. Tempo, espaço, percepção, organização... era real, por mais que houvesse uma ruptura na realidade. Estaria ele no centro do Jardim sundial, há anos, ou há dias, depois de ter começado o desafio? Migrou para a terra da ancestral mítica dos Malfoy, Viviane, ou era apena sua percepção, e permanecia em Hogwarts? Harlet, John e Mary eram reais, representações metafísicas do seu futuro, os quais Viviane tinha o poder de banir, alterando o destino de Yoh? Ou uma percepção de suas ações?
Tudo era possível e insólito, ao mesmo tempo. Se havia uma verdade, era a de que Viviane tinha poder para cumprir qualquer uma de suas promessas e ameaças. Todas. O Domínio dos governantes da Bretanha, em um nível que poucos exerceram. Uma capacidade mágica de exercer efeitos em todo o seu território. Aquilo que ele veio procurar.
Parecia que toda uma eternidade de informações surgiu e desapareceu de sua mente; mas aquela era outra das coisas que se esforçou para não esquecer. Como se não dominasse mais seus sentidos, a última coisa que lhe sobrava era pensar. E sentir. Embora tivesse uma ideia fixa, seu corpo emitia um ar gélido, como se o desespero quisesse guiá-lo para caminhos sem fim. Para se virar e, chorando, agarrar qualquer um daqueles três que eram engolidos por aquele abismo, como se tentasse um pingo de esperança de salvar alguma, qualquer possibilidade de futuro. Como se mimetizasse aquele ambiente e a sensação que transmitia, seu corpo o forçava a chorar. Mas não o fez, pois sentia que, se o derramasse uma única lágrima, essa carregasse todo a esperança que lhe restava.
Esse pensamento trouxe-lhe um estalo, e ele conseguiu forças para as dores. As palavras, as manifestações... todas eram manifestações do ataque de Viviane. Reais, mas afetavam diretamente sua alma. Dores, chagas, sofrimentos. Maldições espirituais. Um presente herdado diretamente da Dama do lago, a alta resistência a maldições, uma marca muito característica dos Malfoy. E, com isso, o potencial para resistir ao Sunflower.
Seus olhos se fecham e se abrem. O cinza escuro de sua vista, outrora opaco, passa a ser tomado de um brilho. Desde o momento em que pisou ali, Viviane estava amaldiçoando seu espírito, sendo que tudo o que viu, sentiu e experimentou, eram manifestações metafísicas daquele ataque. E embora sua família fosse naturalmente resistente contra pragas e maldições, a Dama do Lago estava fazendo exatamente isso. E, enquanto pensava nisso, podia escutar, como se rompesse a alvorada, um som. Mais do que isso, uma melodia.
Instintivamente sabia que a melodia sempre esteve ali. Ontem, hoje, e amanhã também. Podia senti-la tocando quando adentrou naquela realidade; quando pisou no barco e, depois, em Avalon; como se uma melodia, uma e indivisível, se conecta-se ao tempo e ao espaço.
Sabia o que era. Sentia. E, mais do que isso, parecia tomar-lhe o corpo, como se pudesse capturar aquele com as próprias mãos e, com ele, dobrar a realidade.
Tomado por uma percepção epifânica, ele moveu os braços, ao passo que tudo ao redor congelou. Viviane não se movia, e as pessoas atrás dele estavam paralisadas. A Água que se moveu, estava parada. Tornou a prestar atenção à melodia, enquanto constatava que isso não era uma opção, pois ela afetava todos os seus sentidos: possuía cor, corporiedade, brilho. Como as melodias que, agora, estava tocando no mundo físico. Conhecia-a, a mesma que gravou para Gina, na caixa de presentes. Mas estava surpreso como aquele som parecia transcender tempo, espaço e dimensões, para que ele pudesse escutá-la.
"Last Hope, Last away". A décima pétala. Era uma melodia sobre escolha, mas não sobre desesperança. Era a escolha inevitável e muitas vezes complexa, mas que convidava a pessoa a absorver todo o seu potencial. Como um indivíduo que segura a última lágrima, com medo de perder todas as esperanças quando, na verdade, ambas devem ser livres para mostrar o verdadeiro caminho.
Cada descendente de Armand tinha uma pétala pessoal, como parte do ritual do Sunflower. Os Sume, os guardiões do ritual, testavam a força dos Malfoy. Por isso também eram chamados de "primeiros cavaleiros". Segundo relatos, os mais habilidosos eram capazes de sentir a pétala pessoal de cada Malfoy, bem como usá-la para testar sua determinação. Por isso, eram eles os detentores do selo espiritual de Pendragon.
Às vezes, para vencer um veneno, é preciso utilizar um mais forte. A décima pétala, tocada pelo seu corpo físico, sobrepujou as maldições de Viviane; e Yoh, por sua vez, fez o mesmo. Sobrepujou sua própria pétala. Isso porque, mesmo quando seu corpo físico tocou a pétala seguinte, a décima ainda reverberava em sua alma e, pelo fato dele estar naquele local, todos os Malfoy, em menor ou maior grau, sanguíneos ou agregados, também estavam escutando aquilo. Porém, o grau de intensidade variava de acordo com a proximidade deles da família principal.
O tempo voltou a fluir, e Viviane deu-se conta de que Yoh pulou no redemoinho onde os demais afundavam. Havia um misto de surpresa e decepção no que via, pois sabia que o jovem havia falhado ao fazer uma escolha: não devia ter feito nenhuma. Se planejava cumprir o objetivo que o motivou a ir até ali, deveria ter se mantido firme.
Viviane era uma sacerdotisa celta, melhor dizendo, um resquício da última grande sacerdotisa, a qual fora desposada por Armand Malfoy. Por meio dela e seus primeiros descendentes, o ritual do Sunflower era realizado utilizando magia solar. Ao seu ver, era uma obscenidade a simples noção de que gerações futuras dos seus descendentes realizariam o mesmo ritual por meio da música. Sabia o processo, como eles adaptaram uma série de elementos antigos. Mas tinha ojeriza. Foi justamente por isso que ela não prestou atenção quando Yoh conseguiu resistir a sua própria pétala, vencendo os efeitos do Sunflower e, consequentemente, subvertendo-o.
Ele afundou com os demais, de modo que seus braços não eram mais vistos. Ali, entendeu que Yoh estava imerso em seu próprio desespero, como alguém que não é capaz de renunciar a algo em prol de uma necessidade futura.
o redemoinho se fechou, e a água ficou turma. Ninguém se manifestava. Mas Viviane sabia que, a qualquer momento, ele sairia dali. Sabia que Yoh estava navegando até a parte mais funda do seu desespero, desejos e, até suas raízes. O que quer que saísse dali, seria mais do que Harlet, John ou Mary, mas a representação da essência do que ele julgou mais importante.
Percebeu que havia algo estranho. Diferente. A luz do sol que cobria toda aquela dimensão estava diferente. Parecia se mover de um lado para o outro, como se dançasse. Como se tivesse... ritmo. De fato, aquele rapaz era um Sume. Mas havia algo mais na forma como a música inaudita forçava o movimento da luz. Havia ego. Algo incomum para um Sume, os quais disputavam a honra entre si de realizar o ritual.
Foi quando houve uma explosão na água, e lentamente ela viu um corpo saindo dela, andando, de olhos cinzas. Kneen. Puxando pela mão uma figura mais alta do que ele, mas a água que caia como se fosse uma densa chuva enebriava sua visão. Conforme diminuía, uma figura foi se delineando atrás de Yoh. Não era grande, então descartou a criança. Mas, definitivamente, era uma silhueta masculina.
- Então você decidiu o que você pode ser por si, do que aquilo no qual os outros... !
Embora aquele momento estivesse para além do tempo, das mãos de Viviane surgiu um cajado, a qual ela apontava para Yoh. Naquele momento, ele estava congelado, imóvel, como se por influência da sacerdotisa. Todavia, outro fenômeno ocorreu: ela também estava congelada, como se uma segunda magia também a selasse para além do fluxo do tempo.
Foi então que a chuva, por fim, parou de cair, paralisada. Yoh a observava, como se pasmada. Conforme andava, as gotas esbarravam em seu gosto, se espalhando para todos os cantos.
- Faz tempo que não vejo um ancestral meu - um homem alto, de barba rústica e olhos escuros, rompia o silêncio - e você já quer matá-lo, Viviane? - ele toca no ombro de Yoh, e o mesmo percebe que estava com o cajado de Viviane apontado para sua face. Tomou um breve susto, mas, em seguida, estava olhando para trás, para a pessoa que puxou do fundo do abismo. Para aquele que assustou a Dama do Lago.
- Sume Malfoy.
- Isso lá é maneira de tratar seu tatatatatatata-sei-lá-o-que avô?
- Ok. Desculpe, Sume primordial.
- "Sume primordial"? É assim que meu nome entrou para a história? Eu gostava quando me chamavam de "O primeiro Sume" – ele começa a andar ao redor de Yoh, com os braços cruzados – olha o que temos aqui. O que tem em mente?
- Pensei que o senhor já soubesse.
- É claro, mas... se reiniciar o processo, significa que será tanto um eleitor, quanto um candidato. Seus pais não te contaram sobre isso? É por isso que nos dividimos em Sumes e Malfoys!
- Sumes são Malfoys.
- Você não é "apenas" um Sume – ele manda um olhar gélido para Yoh – o que meu irmão andou aprontando?
- Não é como se eu tivesse responsabilidade por qualquer coisa – ele coloca as mãos no bolso, surpreendendo-se por ter bolsos naquele lugar – durante muitos séculos a família principal contraiu matrimônio com os descendentes do grande exército Malfoy que invadiu a Bretanha. Mas houve uma certa preferência pelos Sumes, como minha avó materna. Mas sobre casamento entre parentes o senhor entende muito bem, não é mesmo?
- Era parte do ritual.
- Tenho certeza de que sim – havia um sorriso em seu rosto – Mas suspeito que Viviane teve questionamentos quando você desposou Nyneve ao invés Igraine.
- Igraine era uma senhora de certa idade...
- Só um pouco mais velha do que Viviane.
- Você entende muito de história. Mas ainda estou em dúvida com relação ao que pretende.
- O senhor desaprova? Sei que teve sua oportunidade e decidiu...
- Apenas uma observação. Conhece minha história, sabe que optei por me submeter ao Armand.
- E desde então, sua família fez um voto de fidelidade à família principal. Seu nome ficou famoso, e em algum momento todos os seus descendentes o homenagearam e começaram a usar seu nome como patronímico.
- Mas, no final do dia, todos somos Malfoy. Principalmente alguns dos descendentes do meu irmão que tinham um interesse particular em permanecer ligados com a minha linhagem, mesmo por meio de laços de casamento. - Ele sorri - ou por bretãs.
- Como o senhor...?
- Tenho certeza de que já percebeu, mas não sou de fato o Sume original. E nem ela é Viviane. Somos resquícios de seus espíritos, habitando a essência de Avalon que habita em todo bretão. Conectados aos poderes originais da dama do lago, e que mantém essa terra protegida. Eu sou apenas uma "intenção".
- Uma intenção forte - de alguma forma, sentia-se à vontade para tocar no braço que pegava em seu ombro - que se manteve aqui para manter e julgar o pacto original, como testemunha da união de Viviane e Armand. O primeiro a se submeter. O primeiro e o único eleitor.
- "Pact sunt servanda" - Aquelas palavras o surpreenderam. Imaginava os ancestrais Malfoys como um banco de guerreiros normandos de origem viking. Esqueceu que a Normandia estava à mercê dos descendentes de Carlos Magno, os quais ostentavam o título de herdeiros da cultura latina. - Você quer essa função – o ancestral o tirava brevemente de seu devaneio.
- Quero esse poder. Novamente, meu avô, o senhor desaprova minha atitude?
- Você é muito respeitoso para com alguém que é apenas um resquício do passado - Yoh sente uma estranha sensação e, em seguida, está ajoelhado e curvado diante de Sume -. Mas se você está disposto a dar a sua vida pelo seu objetivo, então é porque ele é verdadeiro. Pelo menos, nas suas intenções. Reconheço minha ascendência em você, e bem como a do meu irmão. Quando atravessamos o grande oceano para chegar à nossa terra prometida da Bretanha, encaramos o risco de nunca mais tornar a ver as nossas margens. Quem sou eu para julgar as motivações de um ancestral que se joga na mítica Avalon para resgatar o rito ancestral? - Yoh olha para cima, encarando a face do homem - mas... você sabe o que deve fazer, não é mesmo? Independentemente do que você decida, esse poder é muito grande. Está puxando para si a função de ser aquele que carrega a chave da fechadura. Poder demais para ficar circulando de mão em mão.
- Foi por isso que você tomou essa responsabilidade para si - ele se ergue, e estranhamente sentia como se estivesse, naquele momento, com a mesma altura daquele homem adulto.
- Então você sabe o que deve fazer. Não importa quem irá girar a chave, só pode haver um eleitor.
Ele se vira, e percebe que o cajado de Viviane ainda estava apontado para ele. A presença do Sume era tão poderosa, que ele conseguiu, por algum instante, congelar aquele momento para além do feitiço de Viviane.
- Então...
- Ainda está disposto a derrotá-la?
- Intenção ou não, ela ainda é o espírito de Viviane, a dama do Lago. A última grande sacerdotisa da Bretanha. Preciso de todo o conhecimento dela. Aquele que ela, uma vez, passou para vocês dois, e que os Malfoy, muito tempo depois, perderam. Vim atrás de Pendragon. Não posso sair daqui sem isso.
- Típico do meu irmão. Mas nós chegamos à Bretalha com um exército, sabia? Muitos primos e famílias próximas.
- Eu sei, estudei isso sobre o exército Malfoy que veio acompanhado dos Normandos. Também estou cuidando disso.
- A celta. Você é igual ao meu irmão, nesse ponto.
- Talvez eu tenha um pouco de todos vocês - ele se vira para Sume e ri brevemente, e em seguida se volta para Viviane. Sabia que ela não ficaria ali para sempre.
- Então, deixe eu te dar um presente - Sume toca no ombro de Yoh mais uma vez, e o mesmo vê seu ancestral ficar translúcido, como um espírito se desfazendo, sobrepondo-se a ele. - Olhe, observe e aprenda, garoto. É o meu presente de reconhecimento.
O tempo novamente volta a reconhecer para Viviane, e ela, assustada, vira seu cajado para o chão, e o mesmo a impulsiona para vários metros distante. Sabia o que tinha visto. E embora ele tivesse desaparecido, sentia sua presença, mas... onde?
Foi quando ela viu Yoh apontando em sua direção, materializando uma varinha. O braço esquerdo do garoto apontava para os céus, os quais trovejavam, como se fossem rasgar o infinito. Os olhos acinzentados do garoto brilhavam, e quando um feixe de pura luz branca saiu da varinha, Viviane disparou de volta.
A primeira reação não a surpreendeu: o raio formou a imagem de um grande oceano, como se ambos estivessem ali imersos. Mas a segunda foi ver, como um fantasma, a imagem de Sume, se movendo junto ao corpo de Yoh. Ou melhor, como se Yoh imitasse seus movimentos e palavras, em sincronia.
Como se estivesse sendo ensinado.
Não podia ser derrotada. Precisava descobrir o mais rápido possível a sintonia da luz daquele garoto para subjugá-lo e...
Ela não teve tempo. Pois, naquele momento, o que parecia uma mera imagem, um espectro de um grande oceano, se remexeu e removeu-se como uma grande tempestade.
Sabia que feitiço era aquele. Poderoso. Imponente. Desrespeitoso. Um feitiço típico dos Malfoy. Uma variação de um feitiço poderoso que servia para repelir magia obscura, mas que utilizava a mesma para derrotar seus inimigos.
Sentia como se tomada por uma grande tempestade, e o mar, em revolto, a desdobrasse. Como a grande tempestade furiosa, filha dos deuses do céu e do mar, que atravessou o grande oceano e adentrou na Bretanha.
A tempestade, tão imponente, que depois dela, nenhuma mais forte houve.
Viviane sentia como se estivesse sendo expulsa do seu próprio espaço. Aquilo era uma manifestação metafísica da Avalon, da terra mítica a qual apenas seus descendentes, sob critérios muito específicos, poderiam alcançar.
No momento seguinte, estava caída no chão, olhando para um céu infinito. Um braço surge em sua direção, e ao aceitá-lo, reconhece o rosto daquele homem odiável.
- Sume - ela olha ao redor - onde...?
- Ele já foi. Saudosa?
- Seu tolo! Não podia ficar simplesmente quieto? Não sabe o que fez?
- Ajudar um parente? Isso me traz memórias.
- Ele irá bagunçar a Bretanha! Aquele garoto insolente e presunçoso acha que está tomando as melhores decisões, mas irá perturbar o tenso equilíbrio!
- Às vezes, tudo o que precisamos é de um pouco de tempestade.
- Não seja tolo! Aceitei os termos do seu irmão, e juntos protegemos a Bretanha de magos estrangeiros e...
- Conheço toda essa história, Viviane. Eu estava lá quando ela foi escrita, lembra? Armand e eu invadimos a Bretanha, vocês dois contraíram matrimônio e ele assumiu a função de Pendragon. Depois disso, todas as tentativas de invasões de outros exércitos, acompanhadas de facções bruxas, foram derrotadas. Os Malfoy viraram os guardiões da terra.
- Mas esse garoto está prestes a quebrar o equilíbrio! Um descendente seu desafiando os de Armand?
- De todos nós.
- Não se faça de tolo! Isso irá gerar uma guerra!
- Bruxos sempre entram em guerra. A todo momento.
- Esse garoto irá causar uma verdadeira guerra entre todos os Malfoy e...
- Ele tem o apoio de uma celta.
- Isso não muta nada - ele dá um passo para trás, indignada com o comentário dele.
- Se até você cedeu aos caprichos de um nobre normando, e juntos trouxeram uma proteção para a Bretanha que durou mil anos...
- Foi preciso dois Malfoy e uma sacerdotisa bretã para que nossos objetivos fossem atingidos e...
- Nossos? Lembro-me de que você estava muito irritada com as propostas do meu irmão!
- Seu irmão era arrogante, presunçoso, altivo..., mas eficaz. O que essa garota tem de tão poderoso assim? Uma bruxa? Há milhares dela! Uma descendente dos celtas? Todos os meus descendentes Malfoy têm de sobra esse sangue! Que milagre o tolo do SEU descendente pensa que vai construir com essa garota?
- Ela é uma sétima filha - ela falava muito suavemente, mas com uma presunção em sua voz que, brevemente, assustou Viviane.
Impressionante.
Nos dias em que retornou, fora tomado por uma sequência de emoções. No Sábado, negação; no Domingo, incompreensão. Segunda, desconfiança. E hoje, admiração.
Nos dias anteriores, aquela sequência ficou tocando em sua cabeça. Ouvia e não ouvia. Eram as mesmas 12 músicas, mas o Kneen rearranjou a ordem. Pensou que tinha sido um capricho do mesmo, algum experimentalismo ou coisa parecida..., mas não. Havia método. Havia objetivo. Havia, acima de tudo, um padrão. Uma sequência harmônica, para ser mais exato, na forma como as músicas se arranjavam. Mesmo depois disso, as partículas sonoras corporificadas ainda o impressionavam.
Ele demorou muito, e teve que pedir para sua mãe encaminhar pelas corujas seu livro de estudos musicais, e precisou dar uma bela de uma desculpa para que aquilo, um tesouro de família, fosse tirado de sua mansão. E depois de passar boa parte do final de semana relendo aquele material para entender a evolução da música Malfoy, ele finalmente entendeu o motivo daquela sequência musical.
Era um Sunflower. Uma sequência musical muito específica, sofisticada e restrita dos e aos Malfoy, bem como da família Sume. No momento em que se deu conta disso, uma série de questionamentos morreram. Não porque foram respondidos, mas porque se tornaram irrelevantes. Não importava o como, o porquê, ou o para que: aquilo era uma realidade, o que realmente importava. Harmonizar as doze músicas para atingir o efeito mágico-musical era praticamente um milagre, motivo pelo qual, segundo os relatos, apenas uma pessoa em cada geração conseguia tal feito. E para tanto, segundo algumas lendas, ele deveria renunciar a tudo o que poderia conquistar, seja lá o que isso significasse.
Estava Draco tão estupefato quando fez a descoberta, que mesmo se Yoh fosse um aborto, isso não teria a menor relevância diante da grandiosidade do fenômeno.
Enquanto observava naquela manhã a última sequência, ele olha para suas mãos. Quando fez aquela descoberta no final de semana, sentiu suas mãos e joelhos tremerem, pois ele estava envolvido nisso. É verdade que havia uma clara manipulação implícita do Kneen, e a sugestão do prazo for um ponto que ele percebeu de cara, mas optou por aceitar. Mas aquilo fora feito com sua participação, mesmo ele não tendo anteriormente aquela percepção. O Kneen não queria ensaiar as músicas, mas tocá-las em tal sequência e com tamanha perfeição, que elas passavam a ser chamadas de pétalas. Seu objetivo era, desde o princípio, resgatar o Sunflower, mas um dos requisitos disso era um desafio de habilidade que deveria ser imposto pelo lorde Malfoy da geração vigente ou, na ausência dele, um descendente. É verdade que muitas coisas não estavam presentes no livro, algumas eram lendas, contos transmitidos entre as gerações... mas pensar que, mediante a sua autorização, o Kneen trouxe à vida aquele recital, sendo que a autorização de Draco era uma autorização substituta, permitindo que uma versão parcial do Sunflower viesse à tona, e, mesmo assim, ele sentia quase como se pudesse esticar os braços e tocar na música que o circundava, como se pétalas voassem ao seu redor enquanto guiavam os raios do sol. Essa lembrança fazia suas mãos e joelhos, novamente, tremerem.
Algo lhe veio a memória, fruto das suas recentes leituras. Um desafio de habilidade. Seu corpo parou de tremer quando se deu conta do motivo daquele Sunflower, por mais magistral que soasse, ainda estava incompleto.
- Quanto falta? - perguntava Gina.
- Ele está na terceira pétala. Ainda faltam 9. Mais de uma hora, algo assim. Começa com "Enter the Armand" e finaliza com "Absolute Destine Apocalypse", não que eu ache que você saiba diferenciar alguma delas, claro - ele responde de maneira debochada. Implicar com um Weasley era uma coisa que não saia de moda. Ainda mais sabendo que ela não era capaz de enxergar a música viva que os circundava.
- Hmmm? Disse alguma coisa? Desculpe, eu me distrai enquanto tentava abafar seus gritos quando as Greenglass te cercaram. Ficaram na minha memória, sabe - ela cruzava os braços, devolvendo um sorriso sarcástico. - Você trocou as roupas depois daquilo, não foi?
Ele teve vontade de responder, mas seu orgulho o impedia. Não sabia o que era pior: ser aprisionado por algumas sonserinas por causa de um nascido de pai trouxa - ou seja lá o que for -, ou ser salvo por uma grifinória. Parando para pensar, Dafne e sua turma nunca iriam admitir que isso aconteceu. Então, estaria tudo bem.
- Mas... por quê?
- Hmmm?
- Por que ele está fazendo isso, Weasley?
- Não foram vocês quem combinaram isso?
- Sim, e muito dessa ideia foi dele, mas não desconverse! Ele poderia estar em qualquer canto fazendo isso, mas veio me procurar.
- Ele sentiu que o certo era pedir permissão.
- Permissão? – ele emite um riso sarcástico - Conta outra, esse jeito de tocar te parece com alguém que tem medo de envergonhar o autor de uma música? Ele tinha gravado essas músicas na parte mais profunda da alma, e está tocando há dias como se o violino fosse uma extensão dos seus dedos. Permissão?! Se alguém quisesse questionar qualquer direito que ele deveria ter para tocar a música, no lugar dele eu responderia que ninguém tinha me dado, que eu simplesmente o havia tomado pelas minhas próprias capacidades!
Um sentimento de ofensa resvalou profundamente em Draco, como se Gina tivesse feito a pergunta mais estúpida do mundo. Ela não conseguia enxergar o que ele estava vendo por não ter sangue Malfoy. E, depois do duelo contra Harry, só conseguia escutar a melodia novamente quando abria a caixa de música. Mas entendia a indignação de Draco: qualquer um com a mínima proximidade parental iria se questionar se parecia que o Kneen era alguém que precisava de permissão.
- Draco Malfoy elogiando um bruxo mestiço? Eu vou lembrar de colocar essas memórias em uma penseira, com certeza!
- Desde quando ele for mestiço é um problema para vocês, Weasleys?
- Eu não sou uma Malfoy. Não sou eu que vivo arrotando "pureza sanguínea".
- Eu tô sentindo uma certa hostilidade aqui da sua parte - ele se vira. Gina estava visivelmente distante dele, recusando-se a se sentar ao seu lado, e com os braços cruzados - quer dizer alguma coisa? Ainda estão irritadinhos por causa do jogo de Quadribol, é?
- Jogo? Que memória seletiva você tem, Malfoy!
- Ok, Weasley! ainda tem umas 7 músicas pelas frente, aproveita esse momento!
- Deixa eu ver... teve aquela vez no período passado quando você e seus colegas nos cercaram em Hogsmeade. Ou quanto me empurrou pouco antes do jogo entre Sonserina e Corvinal. Ou...
- Ok, ok, já entendi, você tem um ponto, tudo bem! Foi mal!
- "Foi mal"?
- Ah, qualé, Weasley! A gente está na escola, todo mundo faz isso! Quer que eu acredite que a toda certinha Gina Weasley nunca pegou no pé de ninguém?
- Deixa eu ver... desculpe, mas o nível de escrotidão dos sonserinos supera qualquer espírito de porco que eu já tive ou possa vir a ter um dia!
- Isso não parece ser um problema para o seu namorado - e aponta para Yoh.
- O Yoh é um amor de pessoa. Você? Bem, eu apenas não gosto de você. É assim que as coisas são.
- Nossa, justo agora que eu pensei que tinha conseguido uma conexão com o seu irmão... tá, já tive meus momentos, mas...
- Momentos? Você é sempre assim, Malfoy!
- Ah, para! O que foi? Eu até parei de implicar com você e com os seus amigos! Eu até fiz vista grossa quando aquela sua amiga começou a namorar o Vincent, mesmo depois dele ficar esquisito!
- Ah, e isso justifica tudo, não é? - ela bate palmas - nossa, como é bom contar com a sua compreensão.
- Por Merlin, não são os Lufanos que são os sinceros de coração? Quer que eu faça o que? Peça desculpas a todos os seus amigos que eu passei da conta?
- A ideia não é ruim, mas, quer saber? Não vai fazer diferença. No final você é só um mimado que depende do pai - Draco fecha o rosto, injuriado com a acusação - O que foi? Falei alguma mentira?
- Cuidado com o que fala, Weasley! Concordei com os termos do Kneen, mas tudo tem um limite! Se bem me lembro, eu também deixei pra lá as coisas que ele aprontou comigo no período anterior, ou já esqueceu do fruto podre? Ou do vagão cheio de plantas?
- Esse é o problema. É sempre você. Mas o meu problema não é com você, é com a sua família.
- Qual o problema com a minha família? Você não levou a sério aquela piada de que um ancestral Malfoy cortou o pescoço de um ancestral Weasley, não é?
Gina balança o rosto, demonstrando sua mais profunda expressão de decepção. Esperar o que de Draco?
- Você vai fingir que esqueceu o que o seu pai fez comigo?
5 músicas.
Ah, é. Aquilo. Quando ela franziu as sobrancelhas, ele percebeu que deve ter pensado alto demais.
Ela estava viva, não estava? Ainda guardava realmente mágoa do que ocorreu há o que? 5 anos atrás?
- Faz 4 anos. Eu estava no primeiro ano em Hogwarts.
Ele pisca, assustado. Seu rosto era tão óbvio assim?
Ok, tinha que admitir que aquilo foi, bem, foi perigoso. Em retrospecto, na época tinha uma visão muito preto-no-banco do próprio pai, e não achava ruim a ideia de se livrar de alguns trouxas da escola. E sim, ele e vários colegas deram muitas risadas com aquilo, zombando dos alunos petrificados e tal, mas... ele só tinha 12 anos!
Nisso virou o rosto e teve um rompante mental, uma vontade de dizer umas verdades para aquela Weasley. Quem ela pensava que era para exigir dele alguma coisa? Devia era agradecer por estar viva, isso sim! A vida era injusta? Bruxos de famílias mais abençoadas pelo destino tiravam vantagem sobre as mais pobres? Isso era a vida, quem era ele para questionar isso? E, acima de tudo, era um Malfoy. Não devia desculpas para ninguém. E se seu pai fez o que fez, não era ele quem iria se rebaixar a pedir desculpas para uma traidora do sangue.
Por que virou o rosto, então? Ou não expressou isso em palavras, encarando-a?
O problema era que, naquele exato momento, Draco era o epítome da paralaxe cognitiva: as experiências que passou a ter desde que entrara no sexto ano gradualmente contrastavam o discurso que fundamentava, desde antes do seu nascimento, seu modo de vida, sua forma de interagir com o mundo. Não que fosse uma ruptura brusca, ou não fosse tomado de suas neuras, inconsistências e preconceitos. Mas havia uma diferença significativa entre o que ele achava acreditar, aquilo no qual se apegava, e seu modo de viver.
Para início de conversa, ele ficou excitado com um nascido de pai trouxa tocar suas músicas mais sagradas, as quais representavam sua identidade. E... não sentiu vergonha por isso. Na verdade, em algum momento sua reação foi achar que seu pai o olharia com desaprovação, dizendo que ele era um incompetente. Mas o próprio não se incomodou com o fato de alguém fora da família fazer aquilo.
3 músicas.
Quando raios aquilo começou? Era absurda a ideia de ele ter tido uma conversa tão longa com um estranho, no ano passado, durante o a partida de Quadribol. E sim, era estranha. Mas o Kneen também respondeu às suas aproximações, quando fora intimado - convidado - a se apresentar na torre da Sonserina. Tinha dificuldade para entender quem armou aquela arapuca, de fato, e qual deles caíra primeiro. Mas, de algum jeito, os encontros aleatórios dele com Yoh no período anterior viraram algo quase que combinado, como se cada um esperasse pela jogada do outro. E o Kneen... aquele sujeito... ele aumentou o nível do jogo, mudou aquele joguinho infantil de "vamos ver o que você tem" para um verdadeiro "esse é o tipo de pessoa que eu sou" quando tocou "A Glória de Seizer" no salão principal.
E Draco respondeu. Ninguém entendeu o motivo de Draco trazer aquele sujeito para a torre da Sonserina, mas para muitos ali era bem claro que se tratava de um jogo de forças no qual Draco mostrava que seu nome era mais importante que os demais, e poderia fazer o que quisesse. Inclusive trazer um trouxa de estimação versado em música bruxa clássica! Mas ficou claro para Yoh, ali, que Draco não tinha medo de se impor, quando necessário.
2 músicas.
Ele falava direto para o Kneen não ter ideias, mas... ele perdeu a oportunidade de arrebentar a cara do Potter! Naquela noite demorou para dormir porque ficou pensando naquilo sem parar.
O Kneen era um arrogante presunçoso, pensava. Quem ele achava que era para dizer a ele, Draco Malfoy, que deveria superar suas fraquezas e virar o jogo?
- Escuta, ruiva – ele interrompe aquele longo período de silêncio, uma eternidade -, se isso te incomoda tanto, por que não pede pra ele não falar mais comigo? - "falar"? Ele disse mesmo aquilo? - A gente andou se falando algumas vezes e... olha, não vai mudar nada, e você não tem motivos para acreditar em mim, mas eu sinto muito pelo que o meu pai fez. Fico feliz que tenha sobrevivido e ninguém tenha se machucado de maneira muito séria.
- Você está feliz por que ninguém morreu, no fim das contas... ou por eu ter sobrevivido, e por causa disso você acabou tendo a chance de conhecer o Yoh?
1 música.
Ele abre a boca para falar, mas não consegue emitir som algum. Mesmo que de forma automática, suas palavras anteriores foram sinceras, apenas não pensou muito sobre o que deveria dizer.
- Eu... eu não sei.
Nisso Gina percebeu a confusão nos olhos de Draco. Isso enquanto Yoh tocava no violino "Absolute Destine Apocalypse", uma música que, a despeito do nome, falava do fim inevitável de todas as coisas. Ali, estava pronta para apontar para a hipocrisia de Draco ao se preocupar com o bem-estar apenas daqueles com o qual se preocupa, mas a fala dele, como de alguém que não sabia como reagir, quebrou seu enfurecimento.
- Eu já falei para ele esquecer os Malfoy. Disse que essa família não presta, e que sequer olhariam para ele...
Aquilo foi uma fisgada no coração de Draco, como se ele tentasse suportar uma dura verdade.
- E o que ele disse?
- Isso é o de menos. Ele sempre foi curioso com história das famílias bruxas, e a que mais o fascinou foi a dos Malfoy. E ele sabe que essa família não dá a mínima para ele. Eu acho, não, eu sei que, se precisar, ele é capaz de deixar isso tudo de lado. Mas... - ela morde o lábio, como se algo a incomodasse.
- Mas...
Um silêncio sepulcral toma o ambiente.
- ... calhou que nessa bagunça toda, ele veio a gostar de você.
- Gostar? Como assim?
- Você é surdo? Nunca teve ninguém que gostou de você? Vai dizer que não tem nenhum amigo de verdade na Sonserina ou no meio daquelas famílias esnobes?
- Ohohoho, espera um pouco, Weasley! Explica isso direito, não pode sair dizendo uma coisa dessas e... e... o que foi? - ele percebe que ela arregala os olhos.
- Ele parou de tocar.
- Sim, ele para de tocar sempre após uma sequência e fica alguns instantes e...e... A SEQUÊNCIA TERMINOU!
Gina quase pula onde Yoh estava, e se aproxima dele. Diferente do que qualquer pessoa esperaria, ele estava ali, em posição, com os olhos fechados, como as respirações controlassem o tempo entre um movimento e outro. Não fizessem nada, iniciaria uma nova sequência musical. Assim como havia planejado.
Foi aí que Gina deu a volta e parou atrás dele, aproximando-se sutilmente para não desmontar sua postura. Ela aproxima sua boca de seu nariz e, em um sussurro quase inaudível, pronuncia uma frase no ouvido esquerdo dele.
- "Tout ce dont nous avons besoin que je sois".
Ele, então, abre os olhos. Seus braços destravam e brevemente se abraça. Como se acordasse de um transe, gira o pescoço, colocando o violino no chão e, em seguida, virando-se para Gina.
- Achei que ia me deixar aqui para sempre.
- Deveria, viu! Tive que resolver uns problemas por sua causa - ambos tocavam nos rostos um do outro, bem próximos, até que tocam seus narizes, roçando-os.
- É? Pois eu tive que me concentrar enquanto minha mãe e Sirius Black lavavam roupa suja. E Julieta tentava convencer James de umas ideias doidas. O que esse pessoal tem com procurar um espaço reservado para discutir seus problemas?
- Quer comparar? Precisei ajudar o Chaz resolver uma confusão da Ariel e, de quebra, espantar umas serpentes assanhadas, sabia!
- Você sabe que eu só tenho olhos pra você, Moranguinho.
- Eu também, meu Gray - eles aproximam seus lábios e trocam um beijo cheio de saudade. Não fizessem nada, ficariam ali compensando uma semana sem sentir o toque um do outro.
- Aham - Draco estava ficando deveras constrangido com a cena, principalmente por que não estava acostumado a ver casais naqueles momentos pra lá de "pessoais" -, sem querer atrapalhar, mas...
- Ah, é! Draco! - Yoh se afasta e caminha em sua direção - Desculpe, eu estava totalmente concentrado nesse último movimento e - ele perde um pouco do controle das pernas e tomba, só não se estabacando porque Draco se adianta e o segura.
- Yoh! - Gina corre, pegando em seu braço - tudo bem?
- Kneen, o que houve?
- Aiii... desculpem, estou um pouco zonzo.
- Também, você ficou uma semana sem comer e dormir, podia ter pelo menos arrumado um banco, oras! - Gina e Yoh levantam os olhos, pois havia um tom extremamente repreensivo na fala de Draco.
- Ele tem razão, Yoh. Dessa vez.
- Não tem nada a ver. Sincronizei a música com minha magia, e isso me sustentou esse tempo todo. Mas eu fiquei uma semana assim, e meus sentidos estão um pouco bagunçados, eu só preciso me sentar... e comer algo, quem sabe. Vou ficar aqui um pouco e...
- Ficar aqui? Nem pensar! Eu vou levar você para o castelo e você vai comer algo, e despois D-E-S-C-A-N-S-A-R, viu! - Gina apontava o dedo para ele - Vem, anda - ela segura o braço esquerdo dele e o coloca sobre seu ombro - se apoia em mim.
- Eu ajudo - Draco faz o mesmo e, sem soltá-lo, coloca o braço direito de Yoh sobre seu ombro, enquanto ambos o ajudam a sair dali. – As coisas ficaram um pouco bagunçadas aqui, a professora Kneen está um pouco arredia na e perguntaram se eu não te convencia a falar com...
Eles logo perceberem que estavam, de fato, arrastando-o, e que o corvinal havia cochilado. Tiveram que fazer um esforço enquanto o levavam, e cogitaram usar um feitiço de levitação ou improvisar uma maca, mas aquilo provavelmente causaria um mal-entendido que prejudicaria a todos.
- Espero que você valorize esse presente - ela falava enquanto ambos seguiam pelos corredores da escola. Como estavam lá desde muito cedo, muitos estudantes ainda estavam caminhando para o café da manhã, e viram aquela cena surreal: um Malfoy e uma Weasley unindo forças em prol de um objetivo em comum.
- Tá falando do recital? Vai ficar ótimo. EI, NÃO TEM NADA ACONTECENDO AQUI, VIU! VÃO TOMAR CONTA DAS SUAS VIDAS, SEUS ENCHERIDOS! - e esbravejava para os olhares curiosos que se dirigiam ao trio.
- Não estou falando disso - por Yoh estar entre ambos, Draco não conseguia olhar direito para Gina - mas você não merece esse presente.
- Sério, ruiva? A gente vai ficar batendo nessa tecla até quando? Estamos no mesmo barco, não estamos? Eu também vou me expor muito e terei que encarar o meu pai, e vai ser um desafio!
- Um desafio que o Yoh, no fim, propôs que você deveria vencer para provar quem realmente é.
- Tá, que seja. Palmas para o Keen! A ladainha dele convence qualquer um. Incomodada com isso?
- Não - ela suspira - mas eu espero que você falhe. Não acho que alguém como você mereça alguém como o Yoh como parte da sua vida.
Aquilo gerou um desconforto enorme, de maneira que praticamente ficaram em silêncio o resto do caminho. Quando entraram no salão comunal, para o surpresa deles, ele ainda estava com menos da metade dos alunos: isso porque, há uma semana atrás, Yoh e Draco entraram na sala dos professores antes mesmo do horário do café da manhã, e somado isso com o tempo em que permaneceram lá dentro, o período em que Yoh correu até o Jardim Sundial, começou a tocar as doze músicas, além da última sequência que tocou e quando Gina e Draco levaram para levá-lo até o salão, dava o período em que o grosso dos alunos começavam a entrar no salão.
Mas foi essa metade de alunos, muitos das diferentes casas, que olhavam surpresos uma cabeleira ruiva e uma loira, com uma escura no meio, andando juntos pelos corredores. Apesar dos olhares, os dois colocam Yoh na mesa da Corvinal e, com um beijo na testa ganho de Gina, ele abre os olhos.
- Posso me acostumar com isso.
- Você estava acordado? - Draco franzia o cenho - Desde quando?
- Eu tenho o sono leve. Acordei com o beijo dessa princesa aqui.
- Não brinque! - Ele coloca o dedo no rosto do Yoh! - De novo com essa ladainha! Tá falando sério que me fez te carregar esse tempo todo?
- Ah, Draco - Gina faz um beicinho - tá chateadinho, é? Não dizem que o trabalho enobrece o homem? Fazer mais esforço do que pintar as unhas compensa as vezes, não sabia?
- Quem raios disse isso? É uma frase trouxa daquelas que seu pai vive prendendo nas paredes do Ministério da Magia?
- Ai, Malfoy, não fala mal do meu pai - ele cerra os olhos - que eu falo mal do seu, viu!
- Ah, ruiva, quer saber? Já cansei de você! Ficou reclamando no meu ouvido a manhã toda! Vem cá, o que é preciso para você superar esse rancor do meu pai, hein? Ou vai dizer que resolveu guardar isso como um tesouro pessoal?
- Pois - ela cerra os dentes para Draco - o dia que eu meter o pé na cara do seu pai, vai ser um dia excelente!
- Eieiei, calma aí, pessoal - Yoh se ergue e se coloca no meio de ambos, pondo as mãos em seus ombros e afastando-os - muita calma nessa hora, pra que tanta animosidade, gente! É sério que fiquei uma semana ausente pra encontrar isso na volta?
- Yoh.
- Kneen.
- O que foi?
Ao perceber que ambos olhavam para trás dele, ou seja, o corredor do salão, ele se vira e vê uma figura alta, vestida totalmente de preto, que o encarava com aqueles olhos enigmáticos.
- Professor Snape? - ele é pego de surpresa. Quando foi que ele chegou ali?
- Senhor Kneen. Vejo que sobreviveu ao seu pretenso desafio autoimposto.
- Obrigado.
- Não foi um elogio - ele respondia, seco como sempre - ainda temos aquele nosso assunto pendente, mas parece que eu arrumei uma utilidade para você mais cedo do que esperava. Diga-me, senhor Kneen: ainda se considera uma pessoa moralmente flexível com relação às suas amizades?
Continua...
Notas: Gente, desculpem a demora, demorou, mas finalmente completei mais um arco. Como já perceberam, estou dividindo as etapas em arcos para organizar melhor a história. O que posso adiantar é que, no próximo capítulo, começamos o penúltimo arco dessa história.
Obrigado pela leitura! E não deixem de comentar!
Lexas
