Após quase duas semanas em casa desde sua expulsão da escola, Morgana estava inquieta. A casa que costumava ser cheia de vida estava agora mergulhada em um silêncio pesado. Sua mãe, ainda irritada com a injustiça que considerava ter acontecido, estava ocupada cuidando dos negócios da família, e Morgana sentia sua ausência. A solidão e a incerteza sobre seu futuro na escola a atormentavam. Em um dia ensolarado, quando o desejo de ver seu pai se tornou irresistível, Morgana finalmente tomou coragem para visitá-lo na prisão de Nurmengard.
Caminhando pelo corredor sombrio e frio da prisão, Morgana passou pelas portas trancadas e por corredores repletos de aurores. Finalmente, chegou à cela onde seu pai, Valentin Rostoff, estava confinado. A porta de metal rangeu quando o auror abriu o portão para ela entrar. Valentin estava sentado em uma cama estreita, seu uniforme de prisioneiro era a única coisa que quebrava a monotonia das paredes de pedra nua. Valentin estava lendo um livro, um raro vislumbre de normalidade em meio àquele ambiente opressivo. Quando ele levantou os olhos e viu Morgana parada ali, sua expressão se iluminou com surpresa e emoção. Estava surpreso por ver sua filha ali em vez de na escola. Seus olhos se encontraram, e um calor familiar se espalhou no coração de Morgana, apesar do local sombrio.
- Papai, eu preciso te contar algo.
Valentin fechou o livro e se levantou, indo até Morgana. Ele a abraçou calorosamente, como se quisesse protegê-la da dureza do mundo exterior.
- Minha filha, o que está acontecendo? Por que você não está na escola?
Morgana se afastou do abraço de seu pai e olhou para ele com olhos preocupados.
- Papai, eu fui expulsa da escola. Houve um duelo, e as coisas saíram do controle.
Valentin arqueou uma sobrancelha, sua expressão se tornando séria.
- Um duelo? Morgana, explique o que aconteceu.
Com um suspiro, Morgana começou a contar toda a história. Ela descreveu o duelo com Leo, a escalada de tensão, o uso de magia negra e como os professores intervieram antes que ela pudesse causar mais danos. Ela admitiu sua culpa, embora também tenha mencionado provocações de Leo que desencadearam sua raiva.
Valentin olhou profundamente nos olhos de Morgana, sua expressão séria demonstrando a gravidade da situação. Ele sabia que a pergunta que ele estava prestes a fazer era difícil, mas era importante esclarecer as intenções de sua filha.
- Morgana, quando você estava no duelo com Leo, qual era a sua verdadeira intenção? Você estava apenas tentando feri-lo, ou você queria matá-lo?
Valentin olhou profundamente nos olhos de Morgana, preocupação estampada em seu rosto. Ele podia sentir a tensão no ar enquanto aguardava a resposta de sua filha à pergunta difícil. Quando Morgana finalmente respondeu, seus piores temores foram confirmados.
- Eu queria matar Leo, papai.
Quando ela confessou, Valentin sentiu um aperto no peito, mas não demonstrou sua surpresa. Ele ouviu atentamente enquanto sua filha continuava a falar, revelando os prazeres que experimentou ao vê-lo sofrer e se ajoelhar a seus pés. A confissão de Morgana sobre o poder que sentiu naquele momento não passou despercebida por Valentin. Ele conhecia muito bem esse sentimento, aquele gosto doce e perigoso da magia negra. Seu coração estava pesado, pois sabia que Morgana tinha potencial para seguir um caminho sombrio, assim como ele fizera no passado.
Morgana admitiu com a voz embargada, lágrimas começando a se formar em seus olhos. Ela sabia que aquelas palavras eram difíceis de ouvir para qualquer pai. Valentin engoliu em seco, absorvendo as palavras de Morgana. Ele sabia que a raiva e a frustração de sua filha a tinham levado a um ponto perigoso, mas ouvir a confissão de seu desejo de matar era avassalador.
Após a confissão, um silêncio pesado pairou na pequena sala de visitas na prisão. Valentin olhou para sua filha com uma expressão de preocupação e tristeza, pois as palavras dela pesaram em seu coração como uma âncora. Morgana, sentindo o peso de sua própria confissão, abaixou os olhos e mordeu o lábio inferior. Ela se sentia envergonhada e arrependida de ter revelado seus pensamentos mais sombrios para seu pai.
O cenário da prisão, com suas paredes frias e a atmosfera tensa, só agravava o peso da conversa. Com uma expressão séria, Valentin respondeu com sinceridade a Morgana.
- Eu aprecio sua honestidade, Morgana, mas o que você estava planejando fazer naquele duelo teria consequências terríveis.
Valentin sabia que precisava escolher suas palavras com cuidado, considerando o lugar onde ele próprio estava, devido às ações sombrias que cometeu no passado. Ele começou com uma voz calma, mas repleta de gravidade.
- Morgana, entendo que a raiva e o desejo de vingança podem nos consumir. Mas, como você vê, estou aqui, preso por ter cedido a esses impulsos.
Morgana baixou a cabeça, reconhecendo a verdade nas palavras de seu pai. Ela sabia que ele estava ali por causa de seu desejo de vingança, e ela não queria trilhar o mesmo caminho sombrio.
Valentin continuou, tentando transmitir uma lição importante para sua filha.
- Às vezes, a vingança nos leva a lugares terríveis, a cometer atos que nunca poderemos desfazer. Você é jovem, Morgana, e tem um futuro pela frente. É importante que você aprenda com meus erros e escolha um caminho diferente.
Valentin, mesmo na prisão, era a figura que Morgana mais respeitava e admirava. Ele a lembrou das consequências terríveis da vingança desenfreada. Morgana sentiu o peso de suas próprias ações e das consequências que poderiam tê-la levado à prisão também. Revelou que sua mãe tinha conseguido usar seus contatos para evitar uma acusação de tentativa de homicídio, embora não tenha conseguido reverter a expulsão da escola.
Valentin ficou visivelmente aliviado em saber que pelo menos parte da situação tinha sido resolvida. Sua expressão suavizou um pouco, mesmo que ele ainda estivesse preocupado com a expulsão de Morgana da determinação em sua voz, Valentin prometeu resolver o problema da educação de Morgana, mesmo estando atrás das grades. Ele mencionou que tinha contatos em outras escolas e que encontraria uma maneira de garantir que ela pudesse concluir seu último ano de estudos. Morgana sentiu um certo conforto ao ouvir essas palavras, sabendo que seu pai estava disposto a fazer tudo o que fosse preciso para ajudá-la. E foi para casa mais tranquila.
O pai de Valentin, na cela ao lado, começou a rir de forma sombria, sem humor. Ele olhou para seu filho com um olhar pesaroso e disse para ele não se enganar sobre Morgana. Com uma voz cheia de amargura, ele afirmou que Morgana era como eles, referindo-se à tendência da família Rostoff para a magia das trevas. Com um tom sombrio, ele mencionou a clara sensação de prazer que Morgana demonstrara ao ferir seu oponente no duelo, insinuando que ela poderia ter ido além, se não fosse interrompida. O pai de Valentin alertou que Morgana estava no caminho perigoso de se tornar uma assassina, assim como eles.
Valentin ouviu essas palavras com uma profunda melancolia. Ele sabia que seu pai estava certo em parte, pois ele próprio havia sentido a atração das trevas e o prazer que vinha com a vingança através da magia negra. Mesmo que tivesse passado toda a sua vida tentando ser ético e responsável com esse poder, Valentin tinha uma compreensão visceral do quão sedutora a magia das trevas poderia ser. Até mesmo naquele momento, dentro daquelas celas, ele não conseguia se arrepender do que tinha feito. Sua magia ainda agitava-se de prazer só de lembrar do que tinha feito, e isso o atormentava profundamente. Valentin estava dividido entre sua responsabilidade paterna e seus próprios desejos sombrios. Ele se sentia como se estivesse em uma batalha constante contra sua própria natureza e contra o legado sombrio de sua família. Aquela conversa com seu pai apenas intensificou o turbilhão de emoções e dilemas morais que ele enfrentava na prisão.
Valentin estava mais determinado do que nunca a não permitir que sua filha, Morgana, seguisse os mesmos instintos sombrios que ele e seu próprio pai haviam abraçado no passado. Ele reconheceu que se Morgana continuasse nesse caminho, em breve seriam três membros da família Rostoff cumprindo pena em Nurmengard. Ele sabia que precisava encontrar uma maneira de guiá-la para longe dali, mesmo que isso significasse confrontar seus próprios demônios internos e seu passado turbulento.
Valentin, usando sua influência e contatos dentro da prisão, pediu ao auror de guarda em frente à sua cela que conseguisse um pergaminho, penas e tintas. Com seu status e sua capacidade de suborno, ele rapidamente obteve essas regalias e muito mais. Ele usou sua rede de contatos para não apenas garantir a liberação das visitas de sua filha, Morgana, como também ganhou o favor de metade dos aurores e funcionários da prisão.
Dentro de sua cela, Valentin começou a escrever em seu pergaminho, traçando planos para garantir que Morgana fosse guiada longe do caminho das trevas. Ele sabia que tinha uma tarefa árdua pela frente, mas estava determinado a fazer o que fosse necessário para proteger sua filha e evitar que ela caísse na mesma escuridão que ele uma vez abraçou.
