Olho Azul 20 Anos Apresenta:
Cada Vez que nos Encontramos,
Cada Vez que nos Separamos
Capítulo 37
Fazia já quase um mês que Usagi não via Mamoru. Ela tinha certeza de que ele a estava evitando, pois algumas vezes percebera Motoki ao celular, como se estivesse procurando por ela com os olhos. Noutras, quando ela se atrasava para sair no meio da semana, Motoki lhe pedia para sair assim que desligava alguma ligação. Mamoru devia estar por perto para conversarem entre os dois. Esse esforço todo valia a pena? Que espécie de rompimento era aquele em que não podiam sequer ficar no mesmo ambiente? Era esforço demais para evitá-la quando fora ele mesmo a sugerir essa separação.
Toda aquela história começara com um coração partido e agora terminava com outro ainda pior. A qualquer momento, Mamoru partiria de Tóquio e não retornaria tão cedo, talvez nunca o fizesse. E não era como se a partida dele pudesse significar qualquer coisa, Usagi se repetia. Tudo já havia terminado naquela plataforma.
— Não aguento mais trabalho, trabalho, trabalho... — reclamou Minako, afundando o rosto nos braços apoiados no balcão do Drunk Crown. Ela estava exatamente na mesa de sempre Mamoru, no canto do bar.
Não que Usagi devesse ficar chamando aquela de mesa do Mamoru.
— Trabalhar num café não pode ser tão ruim assim — comentou Usagi, com vários copos recém-lavados nas mãos e que ela tinha que secar. Na semana seguinte, suas aulas começariam junto com o mês outubro e o novo período letivo, e ela ainda não sabia o que Motoki faria com a vaga de Makoto, por isso, esforçava-se para deixar tudo em ordem sempre que estivesse com tempo livre a fim de diminuir sobrecarga quando o bar estivesse cheio.
— Não tô falando de mim! O Saito! Ele vive trabalhando até tarde sem parar, nem o Masato é tão maníaco assim. Poxa, saia para se divertir um pouco às vezes. É bom curtir a juventude.
Saiko Kunzaki era o amigo de Masato que havia encantado Minako desde o primeiro dia. Logo, eles começaram a namorar de verdade, mas as reclamações só aumentavam quanto mais próximos se tornavam.
— Ele não é mais exatamente jovem. — Usagi fez beiço, tentando imaginar a idade do homem.
— Pois é! Ele é maduro demais pra mim, acho. Se bem que é bom sair com alguém com dinheiro pra variar. Eu sempre tinha que pagar tudo quando saía com o Yaten, isto quando não tinha que ainda pagar a parte dele também, porque só assim tinha convencido o chato de sair da faculdade. Melhor, isto quando saíamos. O que nunca era só nós dois. O Seiya era mais interessante que a namorada, onde já se viu?
— Mas vocês realmente namoraram?
— Claro que sim! — Ela parou logo que deu um tapa no balcão, então levou o olhar para o teto. — Acha que não? Sabe, nós já nos beijamos e tudo...
— Uma vez. Porque você forçou. Depois que ele bebeu.
— Nossa, Usagi, você ficou tão ácida desde que terminou com o Seiya, não precisava jogar na cara. E nem foi só uma vez, tá?
— Ácida?
— É, irônica e tudo! Poxa, éramos pra ser almas gêmeas e tudo...
Usagi suspirou, tentando não pensar se havia lógica na acusação.
— E as coisas com aquele cara não andam bem, né? Realmente não somos mais almas gêmeas; você não me conta nada. — Minako novamente afundou o rosto nos braços.
— Nós nunca namoramos, e isso eu pelo menos posso dizer com certeza. Por isso, não havia o que contar. — Sorriu para a amiga.
— E agora não há nada de nada?
— Não.
— O Mamoru vai se mudar, e a Usagi é uma idiota tal como ele. — A voz de Motoki surpreendeu ambas.
Ele apareceu com uma bandeja com três copos cheios de cerveja e os serviu. Em seguida, tomou o banco ao lado de Minako e soltou um suspiro alto.
— Devíamos formar um clube — sugeriu ele, tomando uma longa golada. — Dos idiotas.
— Pode me pôr fora dessa. Tô muito bem com o Saito!
— E você também com a Reika, Motoki... — lembrou Usagi.
— Sobre isso... Nós meio que terminamos faz umas duas semanas.
— Quer dizer que...? — Usagi levou as mãos à boca.
— Que somos dois idiotas. Agora bebam, bebam as duas.
Ambas acataram a ordem, mas ainda o olhavam curiosas. Até Minako, que não sabia de metade da história sentiu pelo clima.
— Tá, eu explico. — Ele, no entanto, aguardou que as duas terminassem o copo. Após isto, encheu novamente os dois. Apenas retomou o assunto quando percebeu que Usagi estava bebendo. — Eu fiquei muito surpreso mesmo com o que a Makoto me disse. E por dias não conseguia parar de pensar nisso. E de comparar a forma como a Reika me fazia sentir com como a Makoto fazia. No final, algo em mim começou a me dizer que eu não gostava mesmo da Reika. Sabe, que eu só estava tentando apagar nosso passado mal-resolvido, já que terminamos tão de repente.
— Aí você terminou.
— Mas não tive cara de ligar pra Makoto. Digo, ela parecia tão decidida com todo o "ou eu ou ela"... Eu não me sinto confiante o bastante sobre ela para isto. Eu me sinto é um total idiota de não ter chegado à resposta antes. Ela tem todo o direito de me odiar.
— Acho que tá tudo bem ligar e pedir um encontro — disse Minako, quem já estava no final do segundo copo. — E pode confiar nos meus conselhos. Quando o assunto é amor, é comigo mesmo!
Motoki soltou um riso nervoso, nada confiando no conselho.
— Faça agora mesmo! Chame-a para sair esta noite! — prosseguiu Minako, fazendo gestos expansivos com a mão, que certamente não eram pro culpa de embriaguez.
— Ah, esta noite não dá. Eu preciso cuidar do Drunk Crown.
— A Usagi tá aqui pra isso! Deixa com ela. E comigo, que não tô fazendo nada mesmo.
— Minako, você não sabe nada do bar — Usagi lembrou. — Mas pode contar comigo, Motoki.
— Acho que você vai tá bem ocupada hoje... — Motoki olhou para o relógio no pulso. — Beba mais um pouquinho, tá?
Usagi olhou intrigada para seu copo de cerveja, o segundo da noite, e o terminou.
— Foi bem difícil arrumar tudo — Motoki começou a falar, mas já repunha a cerveja das meninas pela segunda vez, apesar de seu próprio copo ainda estar praticamente intocado desde que chegara. — Eu mesmo tava um caco ao ver tudo acontecer pela segunda vez, bem no meio de outra crise minha com a Reika, aí não pude pensar muito. Ainda bem que a amiga da Rei bolou um plano brilhante quando ela veio com o Masato na outra noite. Não é nada enfeitado, mesmo. É só te fazer beber um pouquinho demais.
Usagi olhou encucada para o patrão e largou o que teria sido o terceiro copo.
— Como assim?
— É claro que a Rei esteve tentando agir do outro lado de todas as formas, mas você deve saber como o Mamoru pode ser cabeça dura. Por isso, decidimos contar com você pra convencê-lo a ficar. — No mesmo momento, Motoki pegou o celular, que já devia estar vibrando fazia um tempo. — Pode vir sim, não se preocupe. — E desligou com um sorriso pouco inocente. Então olhou para Minako. — Eu só não contava com a Usagi ter companhia hoje. Será que você se incomodaria de ficar sozinha aqui no bar comigo esta noite? No momento, eu terei que pedir à Usagi pra comprar uma marca de cigarro que só vende na loja do outro lado da estação. E ela precisa sair logo.
Usagi olhou desnorteada.
— Pegue suas coisas e vá. Anda. E quando voltar, espera ali nas escadas um pouquinho.
— Está dizendo que o Mamoru...?
Motoki lhe sorriu, mas agora com ternura. Em seguida, assentiu levemente.
— Mas ele não quer que eu...
— Contamos contigo. Não apenas eu, mas o pai da Rei também não parece a fim de perder o funcionário pra Kyushu.
— Mas...
— Sabe, Usagi, às vezes precisamos fazer uma força, mas conseguimos mudar a vida das pessoas sim.
Ela sentiu lágrimas formarem nos olhos. Seria mesmo possível? Nada podia haver mudado desde que Mamoru se despedira dela na plataforma. Motoki poderia estar dizendo que estava mudando por eles, mas realmente seria possível?
Devia ser culpa de todo o álcool que tinha tomado em pouco tempo, mas ela acabou só seguindo as ordens sem conseguir raciocinar muito. Uma parte sua queria apenas vê-lo, não importava como. Exceto que essa parte também não queria aceitar que aquela pudesse ser a última vez.
Usagi fechou com cuidado a porta atrás de si e olhou para a escada. Mamoru chegaria ali a qualquer momento, se bem havia entendido o que Motoki lhe dissera. Mas o que falar para ele se realmente se encontrassem? Pedir que ficasse? Isto ela já poderia ter feito muito antes, só não o fizera porque não havia uma razão. A lógica de Mamoru era sem falhas para os dois lados: era o melhor para ele voltar ao posto em Kyushu, onde fora feliz por anos, e era o melhor para ela afastar-se de Mamoru o mais logo possível, parar de ficar temerosa e sofrer logo o inevitável.
Reatar, neste momento, apenas para perdê-lo para outra mulher seria tão idiota quanto fora reatar com Seiya meses antes. Não. Seria muito pior, já que Usagi não fazia ideia naquela época que não gostava de Seiya como achava e como ele queria que ela gostasse. Já com Mamoru, ele esperava dela apenas um consolo, quase totalmente físico. Usagi estava longe de ser o tipo de pessoa que se encaixaria para ele. Talvez Rei o fosse, que tinha bons modos, era inteligente e ainda madura para a própria idade, mas Usagi mesmo ainda precisava crescer muito e, ainda que o conseguisse no tempo extra que imploraria esta noite, estava longe demais do que combinaria com Mamoru. Ela o perderia. O sofrimento era inevitável, ele estava claramente certo quando o dissera quando da despedida na plataforma.
— Usagi?
Tão distraída, ela nem ouvira os passos descendo a escada até ele já estar nos últimos degraus, chamando por seu nome. Ela levantou a cabeça e assentiu por falta de palavras melhores. Seu coração começou a bater fora de ritmo, estava ora rápido demais, ora quase parado.
— Mas... — A voz de Mamoru sumiu, e ele pareceu considerar voltar à superfície. — Motoki. — Após concluir o plano para os pôr um frente ao outro, ele desceu o que faltava e fez um aceno como se somente agora a cumprimentasse.
Usagi correspondeu também em silêncio, consciente de que suas mãos suavam. Sentia que, assim que falasse, tudo o que não podia ser dito lhe escaparia.
— Neste domingo... eu vou para Nagasaki.
— Ah. — Não que ela não soubesse que estava próximo, mas ela não queria ter sabido o dia certo.
— Motoki perguntou se não podíamos adiantar a comemoração pra quinta, hoje. Parece que sexta e sábado são meio complicados... — Ele balançou a pasta do trabalho. — E você? Como tem estado?
— Bem. — Com força, engoliu o restante do que poderia sair de sua boca.
— Está saindo?
— Motoki me... ele me mandou comprar... Acho que ele me liberou.
— E tá tudo bem contigo? Você parece... Está com febre? — Ele começou a erguer a mão até sua testa, mas ficou parado em meio ao movimento. — É melhor ir pra casa mesmo. A gente se vê.
Usagi assentiu. Agora sua garganta estava tão engasgada que palavra alguma sairia.
Enquanto ela só ficava parada, sem reação, Mamoru pôr a mão na maçaneta para puxar a porta.
— Hm? — A voz dele soava confusa. Seguida de um som alto de ferro enquanto ele forçava a porta. —Usagi, Motoki estava aí dentro, né?
Sem precisar olhar mais, Usagi compreendeu o que ocorria.
— Acho que ele quer que eu te convença a ficar — disse.
— Quê? — Mamoru voltou-se para a porta. — Motoki, já conversamos sobre isso. Estou indo embora. — Ao se virar novamente em direção à escada, Mamoru pareceu assustado por encontrá-la ali. — É melhor você ir logo até a estação, eu vou voltar de táxi. — Mamoru baixou a cabeça e pareceu esperar que ela seguisse a sugestão.
Mas ela continuou lá. Alguns momentos se passaram enquanto os dois apenas se olhavam e mantinham suas cabeças em direção ao chão.
— Por que não está indo? E não importa o que Motoki tenha dito, você sabe por que eu tenho que ir.
— Você estava errado. Sobre ser ruim no início e com o tempo melhorar. Já faz quase um mês que não nos vemos e parece só estar ficando pior. — Usagi levou a mão ao peito, tentando conter tudo o que parecia prestes a vazar, mas as palavras de Motoki ecoavam ali.
"...às vezes precisamos fazer uma força, mas conseguimos mudar a vida das pessoas, sim."
— Desta vez, não é como com o Seiya — ela continuou. — Não importa o quanto eu trabalhe, o quanto eu não te veja, tudo só está ficando pior.
— O que está ficando pior? Olha, sua faculdade volta logo, né? Lá você conhecerá várias pessoas, incluindo alguém por quem se sinta atraída. Vai ser simples assim.
— Não vai. Você não pode ir assim pra Nagasaki. Você mesmo não disse que pensou em continuarmos e nos vermos de tempos em tempos?
— E eu te disse que isso só nos dificultaria seguir em frente.
— Eu não me importo. Vamos continuar assim mesmo. — Era tarde demais para dizer que tinha bebido? Sentia-se envergonhada por estar teimando tal qual uma criança que não aceita que a vida mude.
Mamoru a estudou por um momento, provavelmente também a achando uma criança. Então, disse:
— Deixe-me passar — pediu. Então, subiu pelas escadas com o cenho carregado, como se o estivesse incomodando.
Usagi quase desmoronou bem ali enquanto os vários passos contínuos do sapato de Mamoru contra os degraus até o topo. Voltou-se até a porta do Drunk Crown, querendo que Motoki surgisse dali com algum conselho, mas não havia nada. Depois, tentou respirar até regularizar a tensão por seu corpo. Nada havia mudado. Aquele fora apenas um momento embaraçoso de sua vida em que nada havia mudado para ninguém.
Continuará...
Notas da Autora:
Este é o penpultimo capítulo e tô tão, tão feliz pelo apoio de vocês com as mensagens. Que bom que vocês continuaram lendo apesar de todos os atrasos. Até o próximo capítulo!
