Minhas pernas estão tremendo, por que foi que eu fiz aquilo?
Estava na casa da minha melhor amiga, algo que é interessante quando ocorre entre um homem e uma mulher, pois que é difícil uma amizade sem pretensões maiores entre um casal, não é mesmo? Bom, por incrível que pareça sempre foi assim com ela, desde aquele dia em que decidimos confiar um no outro com relação a esses assuntos. Falar de amor com os outros sempre resultava para mim em uma de duas coisas: ou me davam dicas que não funcionavam, ou riam de mim, como se apaixonar-se fosse um crime. Acho que por mais que eu gostasse deles, eu precisava entender que nem sempre eles podiam ajudar em tudo. E isso fez com que nós nos aproximassemos, eu e a Amy.
Será que a partir de hoje isso irá mudar?
Bom, eu havia ido visitar a Amy na casa dela, não por que estava tudo bem, mas esse era um ponto muito bom de nossa amizade: não falavamos só do que dava certo e ia bem, mas também do que dava errado. E hoje, algo havia dado muito errado. O meu encontro com a menina que eu estava interessado, a Zooey, não deu nada certo. Eu me sentia mal, péssimo, e fui conversar com ela.
Amy sempre teve uma habilidade incrível em atuar quase como uma psicóloga, e graças a ela consegui sair daquele pensamento que eu estava. Eu não havia sido somente rejeitado, havia sido humilhado, e não entendia o por daquilo ter acontecido, uma vez que parecia que tudo estava indo tão bem. Mesmo assim, mesmo depois do que havia acontecido, minha amiga não falhou em me comfortar. Eu sempre senti isso, mas naquele momento fiquei especialmente grato por ser seu amigo. E eu quis retribuir, de alguma forma.
Mas será que precisava ser daquela forma?
E eu tive a brilhante ideia de sugerir que, talvez a psicóloga também precisasse do seu próprio psicólogo as vezes, e foi o suficiente para que ela começasse a falar. Assim como eu, ela não tinha muita sorte no amor, mas ela sempre sofria por causa da mesma pessoa, meu amigo mais antigo Sonic. Todavia, eu entendia muito bem como era, por que já fazia anos que conversavamos sobre isso. Fiquei escutando ela desabafar, e ainda que eu houvesse tentado ficar quieto, não pude me segurar quando percebi que ela estava indo na direção errada.
Não havia nada de errado com ela. Não era como se ela fosse uma pessoa desagradável ou fizesse coisas repugnantes, muito menos ela era demasiada em alguma coisa, talvez exceto em seu ânimo para nunca desistir do que ela gostava, ou de quem. No final, porém, ela sempre saia machucada por que a outra parte não queria nada com ela - ou com ninguém. Por vezes eu já havia perguntado a ele sua opinião quanto a essas coisas de amor, mas ele nunca demonstrou interesse nisso, e sempre desconversava ou dava respostas negativas. Parecia que aquilo não estava em seu radar, se não para a vida, pelo menos pelos próximos anos ou décadas. Eu cheguei em um ponto que parei de insistir, ainda que procurasse ajudar ela, sem muito sucesso. Ela sempre era rejeitada, e voltava para mim, buscando consolo, que eu não falhava em prover.
Foi aqui que eu acabei passando um pouco da conta.
Não pude suportar que ela se diminuisse por que ele não queria saber dela, como se as outras meninas fossem mais bonitas que ela, e ela não tivesse nenhuma qualidade que ressaltasse com relação a outras. Intelectualmente, também, como se ela fosse inferior e não tivesse nada a oferecer. Eu fui veementemente contra ela, acabando por elogiar ela de uma forma que eu só entendi as consequências depois. O que eu havia falado tinha bem mais que uma só interpretação, e parece que dizer aquilo de uma vez, quase sem respirar, como uma reação natural ao que ela disse a respeito de si mesma, não só afetou ela como eu também.
E apenas com uma pergunta ela nos levou a um lugar que eu não tinha ideia de iamos chegar.
"Você acha que eu sou a garota ideal?"
Ela não era só bonita, mas era meiga e agradável. Eu gostava do tom animado da sua voz, por vezes levemente agudo quando ela estava mais agitada, mas suave e agradável em situações mais calmas. Ela tinha um sorriso muito bonito. Além disso, tinha características que nenhuma outra menina que eu havia conhecido e tentado namorar com elas tinha. Ela era fiel, sincera e verdadeira, coisas difíceis de se encontrar hoje em dia. Não queria saber de recursos financeiros, e amava você pelo que você era. Eu não conseguia pensar em alguém mais ideal.
Seu olhar foi o suficiente para que todas essas coisas estivessem na minha mente. E como se não bastasse, diferente de todas as outras vezes, eu percebi que nós estavamos muito perto, e me importei com isso. Podia sentir o suave perfume que ela tinha, e isso logo foi inundando minha mente de uma forma que nunca havia sido.
E então ela resolveu me fazer uma pergunta.
"Você acha que me beijar seria assim tão ruim?"
Mal havia acabado eu de dizer que "nem um pouco", já tinha meus lábios conectados aos dela. De início, brevemente, foi uma surpresa para nós dois, mas logo foi substituída por uma sensação de que estava tudo certo, e de que finalmente haviamos feito algum que já devia ter acontecido faz muito tempo.
Ah, se não fosse por causa da falta de ar, poderíamos ter continuado por horas. Mesmo assim, outra coisa aconteceu para nos impedir de fazer isso: nossa melhor amiga em comum, Cream, veio visitar a Amy. E eu demorei para perceber que ela havia avisado que estava entrando, uma vez que já tinha batido na porta umas três vezes, mas quem disse que eu ou a Amy ouvimos isso? Antes que ela pudesse ver o que havia acontecido, com um salto fui em direção a porta, fingindo que ia abrir, para que ela não nos pegasse no flagrante. Amy só ficou em uma posição melhor no sofá, tentando ao máximo esconder o corar nas suas bochechas.
Após uma breve interação com a coelha, eu saí depressa. Ela achava que eu ainda ia sair com a raposa amarela, quando na verdade eu já tinha saído, mas ela não sabia nada do que havia acontecido. Pelo menos a Amy teria uma distração pelas próximas horas, por que elas tinham combinado de sair só as duas, mas eu estava lá, atrás da porta do meu quarto dentro do hangar-oficina que eu havia montado.
Já faz algum tempo, por que meu coração ainda estava palpitando desse jeito?
O beijo que começou suave logo nos incendiou, e parece que até agora eu estava em chamas.
O que eu faço agora?
E o que nós fazemos agora?
Por que reagimos daquele jeito?
Será que podemos continuar sendo somente amigos?
