Olho Azul 20 Anos Apresenta:
Cada Vez que nos Encontramos,
Cada Vez que nos Separamos
Capítulo 38
Mamoru estendeu o braço para o táxi. O primeiro o ignorou, mas logo apareceu outro que encostou e abriu a porta para que ele entrasse. Ele se sentia fora de si. Não esperava ter que confrontar Usagi mais uma vez, muito menos naquela noite. Havia passado a anterior acordado, terminando de empacotar tudo para enviar no dia seguinte ao apartamento que havia reservado para alugar em Nagasaki. Sexta também uma empresa para limpar seu apartamento viria cedo, por isso, precisaria acordar antes do normal. E estava feliz por ter os dias preenchidos de atividades justamente para não pensar.
Lançou o olhar para a pasta em sua mão enquanto entrava no carro. Estava balançando. Porque as mãos de Mamoru estavam tremendo. Considerou explicar que estava bem ao motorista, que estava com os olhos esbugalhados. Mas percebeu que sua atenção não estava em Mamoru. Usagi havia se jogado para dentro do carro e já ditava as coordenadas até o apartamento de Mamoru, apressando o motorista. Com certeza, para que ele saísse antes que Mamoru o pudesse impedir. E ela conseguiu o que queria.
— O que faz aqui? — perguntou ele, olhando desnorteado a paisagem de fora se mexer pela janela do carro. Ao mesmo tempo, percebeu que a situação replicava a de muito tempo antes.
— Eu... você não pode ir, Mamoru.
— Bem, você mesma deu meu endereço — disse sem pensar.
— Quero dizer para Nagasaki. Esse tempo todo de convivência comigo te deixou burro? O senhor Hino também não quer que você vá. Nem o Motoki. Nem a Minako, nem ninguém.
— Minako...?
— É, minha amiga que você nem conheceu direito! Aliás, vocês já se viram alguma vez?
Mamoru balançou a cabeça. Usagi conhecia pessoas demais para ele manter a conta.
— Você nem conhece minha amiga!
Mamoru sorriu sem jeito da declaração. O que mais poderia dizer?
Poucos minutos depois, eles desceram em frente a seu prédio, subindo em silêncio. Era difícil, mas ele logrou manter distância antes que o costume o fizesse se jogar contra ela. Seus braços tremiam, loucos para senti-la. A porta do elevador se abriu com uma lentidão incômoda e quando enfim retiraram seus sapatos na entrada do seu apartamento, trocando por chinelos de interior, Mamoru voltou a olhá-la.
— Será que você poderia me preparar um chá? — Usagi sentou-se no sofá da sala e fechou os olhos.
Ele atendeu ao pedido, lembrando-se de que ela já não parecia muito bem quando a encontrara na saída do bar.
— Você... bebeu? — perguntou desde a pequena cozinha, enquanto esperava a água esquentar.
— Um pouco demais.
Após servir as duas xícaras, ele as carregou em uma bandeja até a mesinha à frente do sofá. Um repente passou por sua cabeça enquanto o fazia.
— Isto é algum plano, Usagi? — perguntou sem se sentar no sofá.
— Sim.
— E de que adianta recriar aquela noite?
— Sabe... Naquela primeira noite, eu cometi um erro — explicou, pegando uma das xícaras para sua surpresa. — Eu não deveria ter ido me encontrar com o Seiya. O Seiya sequer deveria existir. E, agora que ele realmente não existe mais, eu quero recomeçar.
Mamoru sentou-se por falta do que mais dizer.
— Quando você foi pegar o táxi hoje mais cedo — continuou ela com uma calma pouco característica —, eu me lembrei de algo que me disse. Que você havia sido a "transição", ou algo assim. Sabe, eu não concordo. Não há nada assim, porque eu não fiquei contigo pra me curar do Seiya. Talvez em um ou outro dia, eu tivesse chateada e precisando de atenção, mas você tá enganado sobre o que significou pra mim.
— E, por causa desse detalhe, você decidiu entrar no táxi comigo?
— Não vê que todo seu raciocínio está se provando errado?
Ele não conteve um sorriso. Mas isso fez seu rosto doer. Como se o seu corpo respondesse: não é o momento de sorrir.
— Mamoru... Tenho medo de você achar outra e me deixar, que nem eu deixei o Seiya.
Ele ainda estava sorrindo enquanto Usagi lhe disse aquilo com a voz embargada, o rosto quase todo escondido na xícara de chá.
— Achar outra? — perguntou-lhe quando percebeu que a menina não iria prosseguir. — Você não lembra que eu...
— Que você acha que dá muito trabalho, ou algo assim? Bem, um dia será a mulher com quem você se casará, certo? E olha pra mim, não sou esse tipo pra você.
— Mas fui eu quem te pedi em namoro.
— E como eu poderia aceitar um namoro que só ia durar até um casamento arranjado ou até você voltar pra Nagasaki?
Mamoru ergueu a mão, pois aquele também era um ponto que Usagi deveria considerar.
— Naquela época, Nagasaki não parecia tão real! — ela protestou. — E eu... Ainda achava que você me trocaria por outra.
— Qualquer namoro tem esse risco.
— Mas com você é ainda mais óbvio.
— Eu tenho cara de quem vai te trair?
— Você só tá comigo porque é o mais fácil, certo? Um dia, você vai conhecer sua garota ideal, de quem você realmente vai gostar. Mas e eu?
— Eu disse que gostava de você. No mesmo dia em que propus que namorássemos.
— É... Sobre isso, eu me lembrei de quando a Naru me perguntou. Acho. Olha, isso foi anos atrás, e eu nunca imaginaria que você estava por trás daquela pergunta!
— Mas eu estou te falando agora. E te falei naquele dia.
— Eu não posso voltar o tempo, Mamoru. Só porque você me jogou uma informação nova. E o errado foi você por não me dizer.
— Eu te disse agora.
— Eu continuo não podendo voltar o tempo.
Mamoru franziu a testa. Usagi tinha razão de que ele havia errado em seu raciocínio, mas ela havia tido uma participação relevante naquilo.
— Usagi, para de olhar para a xícara e olhe pra mim. — Pediu e ajeitou-se ele próprio no sofá para que pudessem se olhar nos olhos.
Quando ela o atendeu, Mamoru pôde até perceber a surpresa de que seus rostos estivessem tão próximos.
— Esqueça o passado, aquilo realmente foi culpa minha de não ter me aberto pessoalmente. Mas agora, este momento, ainda não é passado. Eu gosto de você agora e não vai existir outra além de você. O que você vai fazer com isso? — Ele suspirou quando Usagi não se mexeu. — Como eu imaginava, você nem se formou ainda na faculdade. É você quem tem toda a vida pela frente para conhecer seu homem de seus sonhos, certo? E eu não sou alguém fácil de se lidar. Quando anunciei que me transferiria, o meu chefe daqui de Tóquio disse isso. Que não sabia lidar comigo. E você, muito menos, merece ter que o fazer.
No momento seguinte, Mamoru sentiu uma pressão familiar nos lábios e o aroma do chá de rosas que acabara de servir. Contudo, logo após, Usagi interrompeu o beijo.
— Espera. Se gosta de mim, por que terminou tudo?
— E você pensava que eu quis dizer que gostava de você só anos atrás. Foi por isso que não aceitou o namoro?
— Como eu poderia? Seria o mesmo erro que com o Seiya, quando aceitei namorá-lo ainda que não gostando de verdade dele. Se nós dois namorássemos e apenas eu gostasse de você, Mamoru, não daria no mesmo? Eu não seria trocada por outra no final? Assim como eu o troquei?
— E agora que você sabe que eu gosto de você? — Mamoru o disse, mas de repente notou algo a mais no que ela tinha dito e não esperou resposta. — Você disse que gosta de mim?
— Disse? — Usagi exibiu um sorriso nervoso.
— Para chegar ao dilema de que me falou, você teria que gostar de mim, não é?
Ele a percebeu suspirar e mordeu o lábio inferior, esperando qualquer resposta de Usagi.
— Bem, achava que isso era mais que óbvio. Afinal, eu vim até seu apartamento. Você já foi mais inteligente que isso, Mamoru. — Havia uma lágrima em uma das bochechas. — Eu realmente estou disposta a um relacionamento à distância. Mesmo que você me troque por outra mais tarde.
— Eu não te trocaria.
— Mas estou disposta! Então, vamos tentar! Agora sou eu quem está te pedindo em namoro. E não vou te dar o tempo que quiser para pensar. Quero a resposta agora.
— E o senhor Hino? Você não disse que até ele queria que eu ficasse? — Mamoru estendeu o dedo, não mais resistindo ao impulso de secar agora as duas lágrimas.
Usagi sorriu e assentiu em seguida.
— Foi o que Motoki me disse. Eu não sei bem o que houve. — Mas ela parou de falar assim quando ele chegou ainda mais perto.
— Que tal pensarmos nele e em Nagasaki noutra hora então? — Ele fechou os olhos para se segurar. Tentou distrair a cabeça pensando em o que faria pela manhã para cancelar toda a mudança. — Ou nunca... Acho que nunca é melhor.
— E o namoro? — ela ainda perguntou.
— Não é como se meu pedido estivesse vencido. Mas já nos enrolamos demais. Eu aceito o seu.
Desta vez, eles se beijaram por um longo momento e várias outras vezes.
FIM!
Anita
Notas da Autora:
Agradeço tanto a quem ficou até o final! Depois de tantas coisas estou até sem palavras pra expressar tudo aqui, só muito aliviada que conseguimos! Estamos no final do capítulo final! Como eu tinha publicado um preview desta fic, certa que logo eu poria tudo online, ela sempre foi uma coisa inacabada na minha cabeça. Mesmo estando acabada desde há tanto tempo. Tanta coisa eu teria feito diferente hoje em dia. E provavelmente fiz em fics posteriores, quero crer. Mas ainda foi uma história muito boa de se escrever. Não saiu nada como era o plano inicial, mas saiu tão fácil, era como se ela estivesse vivendo comigo. Nunca tinha experimentado algo assim antes e nunca mais experimentei.
Queria muito agradecer cada alma que me apoiou mas em onze anos foram tantas que tenho medo de deixar gente de fora. Mas com certeza, você que está aí lendo é uma delas.
Se puder, por favor, deixe seu comentário. Também pode ser pelo meu email anita_fiction se você quiser ser old school rs. Não sei a última vez que recebi um, aliás. Mas o endereço tá sempre aí pra isso. Aliás, ele foi criado pra isso e acabou virando o meu que mais uso.
Normalmente encerro falando do meu próximo projeto e eu tenho mesmo duas fics de Sailor Moon guardadas aqui. Depois disso nunca mais escrevi... Mas sempre que vejo minhas fics dá uma vontade de tentar. Quem sabe quando eu encerrar meu projeto de original se eu ainda estiver viva?
Beijos pra todo mundo e até a próxima!
(17/08/2023)
