Capítulo 04: Despedida

Se antes haviam alertas soando na cabeça do ser supremo, agora havia todo tipo de sinal de emergência – 'Nazarick! Ele disse Nazarick! Não é algo que as pessoas conhecem, eu mal menciono isso para os nobres subordinados, Jircniv sabe, Renner, o cachorro dela, Gondo, talvez mais alguém que tenha escutado alguma conversa' – Ainz se martirizou mentalmente pela falta de cuidado que ocasionalmente tinha ao mencionar sua morada.

Gondo estava surpreso e bastante apreensivo, ele via onde estava o problema, um estranho procurando pela morada do Rei Feiticeiro era algo de nota. Uma demora dessas em informar tal atitude suspeita simplesmente podia levar as relações entre os dois reinos a ruína, se algum dos subordinados de Sua Majestade ficasse sabendo disso, cabeças já teriam rolado.

—Nazarick, você tem certeza sobre isso!? – indagou Ainz, tentando manter a compostura.

— Sim, absoluta, ele me perguntou se conhecia ou se já tinha ouvido falar dela, na verdade ele me perguntou até se existia algum rumor sobre alguma ruína antiga.

— Foi então que eu mencionei que já tinha ouvido uma história sobre uma ruína recém-descoberta. Na época, um conhecido que havia passado algum tempo em Arwintar ficou sabendo de que precisavam de trabalhadores para explorar uma ruína, mas como ele tinha quebrado uma perna não poderia participar.

— "Arwintar, entendo. Talvez eu já tenha o meu próximo destino"– ele disse.

— Então Vossa Majestade, eu indiquei um possível caminho para sua casa, para alguém que eu mal conhecia – um agonizante Rumble falou.

— Acalme-se Rumble, mesmo que você soubesse que era minha casa, o que você não sabia, ainda assim você indicou para algo que não passa de um rumor, de um local que nem tem relação comigo – 'ELE O MANDOU DIRETO PARA A FALSA NAZARICK!!!' – gritou internamente Ainz.

— Fico muito aliviado Vossa Majestade, mas, mesmo assim, penso que alguém procurando Sua casa deveria ser algo a ser relatado rapidamente… – murmurou Gondo, apreensivo.

— Não se preocupe Gondo, agora que estou sabendo disso tomarei as devidas precauções e investigarei a origem desse Telcontar. Aconteceu mais alguma coisa enquanto você estava com ele, Rumble?

— Nada muito digno de nota senhor. Após o café, ele me perguntou se poderia pegar carona até a encruzilhada, como estávamos partindo logo aceitei de bom grado, afinal ainda devia pelo problema da noite anterior.

— Encontramos Fineas e Vulku nas carroças, os outros já estavam lá e as famílias que iam para a Vila Karne também já estavam prontas.

— Seguimos pelo túnel principal de saída, que hoje já está com a estrutura bem mais moderna, na época ele estava sendo atualizado e as outras passagens ampliadas para melhorar o fluxo que seguia para outros pontos da cidade.

— Ao chegarmos na saída encontramos com o velho Brotkin, o vigia da noite, ele parecia bastante emburrado. Quando viu o senhor Telcontar o humor pareceu melhorar, eles se cumprimentaram e trocaram algumas palavras, foi assim:

— "Olá Brotkin, um bom dia nesta manhã!" – eu disse.

— "Bom dia só se for pra você" – ele respondeu num grunhido.

— "Olá Brotkin, vejo que você ainda não terminou o seu plantão" – Falou o senhor Telcontar.

— "Olá Telcontar, já está indo? Espero que a estadia não tenha sido tão ruim assim." – ele falou mudando o tom.

— "Não, não, sem problemas, mas a noite não foi boa? Por que desse mau humor tão cedo"?

— "Oras, a noite não teve problema, mas o filho duma rocha do Brock, que era pra ter me substituído tá uma hora atrasado, então eu tenho que ficar aqui até alguém aparecer."

— "Não se preocupe meu amigo", 'há males que vem para o bem' – falou o senhor Telcontar com um ar pomposo e engraçado, meio que de propósito eu acho, isso melhorou o humor geral.

— "Espero então que o senhor tenha uma boa viagem" – se despediu Brotkin, então seguimos o nosso rumo.

— Durante a viagem não conversamos muito, perguntei se e ele pretendia percorrer o caminho todo a pé até Arwintar e ele disso que talvez não, mesmo eu sabendo que ele não tinha dinheiro e dificilmente alguém lhe daria atenção na estrada.

— Algumas horas depois chegamos à encruzilhada onde íamos nos separar e lá estava uma carroça guiada por um garoto, atolada até os eixos. O senhor Telcontar saltou e foi em direção a um senhor idoso que puxava o cavalo que reagia sem muito entusiasmo.

— "Salve!" – ele disse – "Parece que vocês precisam de ajuda".

— "Sim, obrigado, a gente meio que ficou preso aqui, só puxar não tá funcionando" – o velho falou.

— "Acho que os meus colegas ali devem ter algumas pás, vamos tirar logo isso daqui." – o senhor Telcontar disse acenando para a gente.

— Sabe, na hora nem pensamos em negar ajuda, foi tão natural a forma que o senhor Telcontar falava, que parecia que éramos velhos conhecidos.

— Alguns de nós desceram com as pás e começamos a cavar junto com o senhor Telcontar e o velho, em minutos livramos as rodas e a carroça desatolou.

— "Muito obrigado, mas eu acho que não tenho dinheiro nenhum para poder pagar pela ajuda" – disse o velho meio envergonhado.

— "Não há problema meu senhor", 'ajudar a quem precisa é um dever de quem pode' – disse o senhor Telcontar.

Ainz pensou – "Essa frase… não é a mesma, mas é muito parecida com a que Touch Me dizia, poderia ser…"

— "Bem, se o senhor quiser retribuir, parece que estamos indo na mesma direção, será que poderia me dar uma carona?" – ele disse.

— O velho sorriu e gesticulou para a carroça.

– "Não vou muito longe, mas o caminho que o senhor quiser compartilhar será bem-vindo".

— E foi isso, a gente se despediu e seguimos nossos caminhos. Ah, antes ele disso mais uma de suas frases espirituosas pra mim, "nem sempre o caminho mais curto é o melhor", na hora achei que fosse apenas mais uma das coisas que ele fazia, mas quando chegamos na bifurcação na borda da floresta eu meio que decidi seguir o caminho mais longo por fora.

— No final das contas foi uma boa decisão, ficamos sabendo que a estrada tinha ficado intransitável em certos pontos por causa da chuva, e com as carroças cheias a gente teria empacado lá por dias.

— Vejo que a sua memória é ótima Rumble! Se foi tudo o que aconteceu, só tenho uma dúvida, como foi a chegada desse viajante? – indagou Ainz.

— Humm! Eu não sei muito sobre como foi, mas o velho Brotkin poderia contar mais já que ele estava na guarda.

— Então vamos falar com ele – disse Ainz se dirigindo à saída como se estivesse indo para uma caminhada, sua curiosidade estava aguçada e ele estava se divertindo apesar de suas preocupações.

Uma cena engraçada se desenrolava com um Rei correndo na frente de outro Rei, como se fosse um mero guia em um passeio.

Gondo se esforçava para manter o ritmo de sua Majestade até chegarem às carruagens e em então seguiram até a saída de carga com Rumble como cocheiro.

O túnel por onde seguiam havia sido ampliado nos últimos meses para comportar o fluxo de carroças, como essa era a parte mais baixa da montanha, era óbvio que tal lugar se tornaria a referência de entrada das cargas.

Geralmente, os comerciantes usavam a entrada superior, ela ia direto para o distrito comercial e áreas governamentais, mas a constante chegada de produtos obrigou a ampliação da saída baixa, dando acesso à área dos depósitos mais facilmente.

Mesmo essa não sendo a entrada principal para a cidade subterrânea, os vagões com produtos passavam por aqui gerando um alto movimento de cocheiros, carregadores e afins que formavam um exército de trabalhadores que careciam de hospedagem, alimentação e divertimento enquanto descansavam ou esperavam a vez de carregar seus vagões.

Assim, o bairro dos depósitos cresceu ganhando novas hospedarias e tabernas que forneciam comida, bebida, repouso e outras diversões se você estivesse interessado em companhia feminina anã.

Fora da montanha, o comércio também expandiu da mesma forma e onde há pessoas, há dinheiro, onde há dinheiro, há alguém tentando ganhar ou roubar. Logicamente, a segurança foi ampliada com os Cavaleiros da Morte fornecidos pelo Rei Feiticeiro, mesmo não sendo em tanta quantidade quanto no Reino, eles mantinham as coisas na linha.

Chegando ao final do túnel fica a área da alfândega do Reino Anão, aqui são inspecionadas as carroças de transporte. O que antes era apenas uma guarita, hoje em dia é uma grande estrutura de fiscalização.

O chefe de inspeção dessa área é o trabalhador mais antigo, recompensado por todos os seus anos de trabalho com… mais trabalho. Ele pensava em se aposentar em algumas décadas e talvez ainda conseguisse se tornar Chefe de Segurança da área, mas talvez fosse um sonho meio longe pois o Chefe Geral da Alfândega não gostava muito dele.

— Verifiquem por baixo dos sacos também e dentro deles com a haste de testagem – esbravejava um anão que parecia ter muitos anos nas costas, mas que ninguém se atreveria a contestar.

— Olá Chefe Brotkin, o que há de novo por essas bandas?

— Rumble! Seu miserável rolador de pedra, como tem passado? O que te traz aqui?

— Venho em missão oficial, precisamos falar com você em particular.

— Parece sério, imagino que quem está dentro da carruagem seja importante.

— Sim alguém muito importante, não se assuste mas o Rei Feiticeiro quer falar com você.

— O REI FEITICEIRO! HÁ HÁ HÁ HÁ! Boa piada, você quase me pegou, se tivesse dito que era o Rei Sob a Montanha eu teria acreditado – ria Brotkin, mas então ele parou ao ver o rosto sério e os olhos arregalados de Rumble.

— Espera aí, é sério? Pelos ossos de Sua Majestade, me diz que não é sério.

Rumble apenas acenou com a cabeça antes que Gondo e Ainz saíssem de dentro da carruagem.

— Olá eu sou Gondo Firebeard, Rei Sob a Montanha.

— E eu sou o Rei Feiticeiro Ainz Ooal Gown, é um prazer finalmente conhecê-lo, senhor Brotkin