Olá Pergaminhos e Seguidores da Justiça, Mr.Bones trazendo o capitulo 14 de minha fanfic.

Nesta parte Sebas e Tuare encontram talvez os dois humanos mais... peculiares de todo o Novo Mundo.

Comentários e correções são bem vindos. Obrigado.

Com vocês

Aquele que Voltou

Capítulo 14: Mais sorte que juízo

As semanas que se seguiram foram cheias de movimentação. Durante o dia, Sebas visitava fábricas, comércios e repartições, já que como agente oficial do Reino Feiticeiro, ele solicitou que a vistoria das atividades ocorresse in loco. Já à noite, o mordomo frequentava festas promovidas pelos nobres.

Nesse meio tempo, quem fazia o papel de espiã era Tuare. Usando a mesma desculpa que Solution, ela dizia procurar pelo irmão perdido da maneira mais aberta possível, na verdade foi até mesmo solicitada permissão para isso, pois se tentasse encobrir o que fazia, com certeza a escolta relataria tal atitude. Ela perguntava à criadagem e aos comerciantes, enquanto Sebas tratava de realmente analisar a infraestrutura do Reino Dracônico.

Após quase um mês, foi possível perceber que os habitantes da capital provavelmente estavam em melhores condições que as cidades e vilas vizinhas. Com uma estrutura bem organizada e os estoques de comida abastecidos pela produção local, a cidade poderia se autossustentar por anos. Seus moradores compartilhavam a opinião de que a situação confortável era graças aos esforços da Rainha em manter os impostos baixos, o fornecimento de comida aos menos afortunados e o uso de aventureiros nas batalhas.

Já os nobres não gostavam muito de serem taxados para bancar tudo isso e talvez essa fosse a maior queixa contra a realeza, fora o fato de não conseguirem se livrar do avanço dos homens-fera.

O tempo estava acabando, pois mesmo uma missão oficial entre os reinos tinha um prazo a cumprir. O embaixador não poderia se manter indefinidamente sem estabelecer uma embaixada oficial, a qual só seria criada depois de assinarem inúmeros tratados que somente seriam lidos após o retorno ao Reino Feiticeiro, e quase não haviam mais desculpas para se manter no Reino Dracônico.

Tudo já havia sido verificado, mas os nobres ainda tinham a intenção de manter o embaixador entretido e satisfeito. Assim, quando Sebas informou que essa seria a sua última semana de estadia, todos se prepararam para uma última tentativa de… Ahan! Puxar o máximo possível o saco do embaixador.

A missão, em parte, estava falhando, e Sebas começou a ficar preocupado. Eles não haviam conseguido nenhuma informação acerca do viajante, visto que aqui ele pareceu tomar uma atitude muito mais contida, e mesmo os hanzos colocados para vasculhar a capital não localizaram ninguém com a descrição fornecida. Isso só significava que ele não estava mais ali, mas poderia ter estado meses atrás.

Uma das últimas partes a serem vistas por Sebas foi as muralhas. Essa também era a melhor oportunidade de se obter informações sobre o viajante, já que poucas pessoas vinham à capital, somente comerciantes bem protegidos ou refugiados chegavam ali, esses últimos em quantidade ínfima, pois os homens-fera não costumavam deixar vítimas escaparem.

Sempre durante as visitas, o embaixador estava acompanhado por nobres, mas mesmo eles acabaram se cansando depois de tantos relatórios chatos. Assim, na última semana, Sebas seguia apenas com Tuare e uma escolta específica para aquele dia.

Quando se dirigiam até a entrada principal, Sebas foi informado pela sua escolta de que as guarnições nas muralhas trabalhavam em turnos, se revezando nos portões e muralhas. Das quatro guarnições existentes, apenas uma estava de folga, e se não conseguissem informações das três restantes, seria difícil obter da última sem levantar suspeitas.

Ao chegarem no portão principal, foram recebidos pelo Capitão da Guarda, o qual passou um relatório simples sobre o funcionamento das guarnições. Enquanto Sebas estava ocupado, Tuare passou a fazer sua parte investigativa, mostrando para os guardas o retrato de seu irmão perdido e fazendo perguntas simples, mas ninguém reconheceu o viajante. Faltavam ainda os guardas nas muralhas.

Seguindo com tour, passaram a caminhar sobre as grandes muralhas, com o capitão exaltando como eram defensáveis. Tuare seguia abordando os vigias, que não eram muitos, então seria rápido, se não fosse a distância que teriam que percorrer ao redor da cidade. Na metade do caminho, um guarda rechonchudo reconheceu o retrato.

— Sim, eu vi esse camarada uns sete meses atrás. Não lembro o nome dele. – então o guarda se virou e gritou para o companheiro a quase uma centena de metros que montava vigia em outro ponto.

— EI, SKULL!

Sem resposta.

— EEEEII! SKUUUULL!

— O QUE TU QUER, BULK!? – gritou estridentemente o guarda magrelo.

— VOCÊ LEMBRA DE UM CARA QUE VEIO AQUI UNS MESES ATRÁS!?

— O QUEE?

— VO-CÊ LEM-BRA DE UM CA-RA QUE SAIU COM A GEN-TE UNS MESES A-TRÁÁÁS!?

— QUEM?!

— O TAGARELA!

— O QUE?

— OO TA-GA-RE-LA!

— SIM!

— QUAL O NOME DELE!?

— HÃ?

— O NO-ME DE-…

— PELOS OSSOS DO SUPREMO, PEÇA PRA ELE VIR ATÉ AQUI! – gritou Tuare entre os dentes ao perder completamente a paciência com os dois guardas idiotas. Se houvesse alguém que não sabia que ela estava fazendo perguntas antes, agora metade da cidade estava ciente de tal fato. Ela tinha vontade de jogar os dois guardas de cima da muralha, torcendo que algum homem-besta estivesse esperando pra pegá-los.

— Oi, o que você quer Bulk? – disse o guarda magrelo ao chegar.

— Você lembra o nome do tagarela, acho que era estrangeiro, Jor alguma coisa?

— Jorge, o nome dele era San Jorge, nome esquisito, cara esquisito.

— Interessante… – disse Sebas ao se aproximar após escutar os gritos dos guardas. Por sorte, o capitão que os acompanhava era bastante velho, escutava mal e precisou retornar ao portão principal.

— Que susto senhor, de onde o senhor veio! – disseram quase juntos os dois guardas se abraçando e logo depois tomando uma posição quase… eu disse QUASE defensiva.

— Me desculpem, sou Sebas Tian, estou acompanhando a dama. Vocês disseram que já tinham visto esta pessoa?

— Sim, nós vimos, foi há uns sete meses, não é Skull? Isso, sete messes atrás.

— Vocês se importariam de contar como foi? – perguntou Tuare de forma mais calma.

— Ora, pra senhorita, claro que não! – disse Bulk, que parecia ser o "cérebro" da dupla.

— Bem, como eu disse, foi há uns sete messes. A gente estava de guarda no portão mais longe, o que fica sempre trancado, então a gente resolveu sair para dar uma olhada em volta.

— Fazer uma ronda de rotina – completou Skull – avaliar os arredores.

— Foi quando a porta fechou atrás da gente, o vento deve ter empurrado ela. A gente tentou chamar os nossos colegas do lado de dentro, mas acho que eles tinham ido fazer algo.

— Checagem de perímetro interno – interrompeu novamente Skull.

— 'Acho que eles foram trancados pra fora pelos colegas. Conheço eles a menos de cinco minutos e já quero estrangular os dois, eles simplesmente estão contando como são incrivelmente incompetentes!' – Tuare pensava enquanto tentava manter um sorriso.

— Oh! Que coisa, vocês devem ser muito corajosos para ficarem do lado de fora das muralhas até alguém abrir, com todos esses homens-fera por aí – disse Tuare de forma estranha para ela.

— Ah bem! A gente tenta, né? Então resolvemos seguir com a patrulha até o outro portão, no meio do caminho a gente viu aquele cara vindo da direção do deserto, tipo direto das terras dos homens-fera.

— Sim, era estranho. Mesmo de dia ninguém vai ou vem de lá sem uma patrulha. Os guardas das muralhas ficam sempre de olho, mas ninguém reparou nele, acho que eram as roupas, todas claras, como se tivesse camuflado para o deserto – esclareceu Skull, mudando a opinião de Tuare sobre quem seria o "cérebro" dos dois.

— Então a gente abordou ele. Sabe, existem povos lagartos, então por que não um povo camaleão? Se ele fosse um homem-fera disfarçado, a gente foi checar.

— 'Não é bem assim que mimetismo funciona, no máximo seria camuflagem' – pensou Sebas, deixando pra lá a ideia de um homem lagarto doppelgänger.

— Então eu falei…

— A gen-te falou…

— A geeeente falou: "Alto! Quem vem lá?".

— Ele respondeu: "Olá! Sou um viajante e gostaria de descansar em sua cidade".

— "Qual o seu nome, de onde você vem, e para onde vai?" A gente perguntou.

— "Meu nome é Jorge" – ele falou – "San Jorge, e eu venho de lá e estou indo para lá" – ele disse apontando primeiro para onde deveria ser a Teocracia e depois apontou para outra direção onde deveria ser o Império.

— Foi quando a gente viu a uma centena de metros por entre uma pilha grande de rochas a cauda de um homem-besta se esconder.

— Deveria ser uma patrulha deles, mas tão perto a gente nunca viu.

— 'Provavelmente eles estavam ali o dia todo observando o tempo da ronda dos guardas e quantos eram, informações cruciais para uma invasão. Deveriam estar esperando o anoitecer para ir embora e levar de bandeja a frequência das patrulhas do Reino Dracônico' – pensava Sebas, analisando os perigos que o povo da cidade estava passando sem saber.

— Então a gente deu o alarme, tocamos as cornetas até que alguém na muralha também viu os homens-fera nas rochas. Em seguida, um pelotão veio a galope do portão mais próximo e acabou com eles, eram todos homens-leões, mas diferentes, sem juba, pardos, pareciam aqueles leões que vivem nas montanhas, uma vez eu vi um no circo.

— "Quem soou o alarme?" – perguntou o capitão.

— "Foi o Skull e o Bulk aqui senhor!" falou o Jorge.

— Então a gente foi recebido pelo capitão da guarda que nos elogiou pela nossa, como ele disse, "perspicácia ao perceber uma possível invasão". A gente então recebeu um bônus e uma folga, e quando nos demos conta estávamos em um bar bebendo com o Jorge.

— Skull e Bulk são nomes estrangeiros, vocês não são daqui? – Perguntou Tuare.

— Nascidos e criados ali na Alameda. "Skull" e "Bulk" foram os apelidos que o Jorge deu pra gente e acabou pegando.

— Mais alguma coisa que ele tenha dado a vocês? – indagou Sebas.

— Ah sim, ele deu essa medalha pra gente, para dar sorte!

Sebas olhou atentamente para o presente. Aquilo não era uma medalha, era uma moeda de cobre de Yggdrasil