Olá Pergaminhos e Seguidores da Justiça, Mr.Bones trazendo um novo capítulo de minha fanfic Aquele que Voltou.
Aqui descobrimos que Entoma ganhou uma fama inesperada e que Inta tem algo importante para contar.
Ajudem a melhorar a história comentando, obrigado.
Com vocês
Aquele que Voltou
Capítulo 20: Dia a Dia
As semanas que se seguiram foram de exploração. Durante o dia, Entoma era uma jovem heteromórfica passeando e aproveitando a cidade, sempre acompanhada de Edgar, mas algumas vezes com o gerente do hotel, como no dia anterior, quando tomaram chá em uma padaria bastante chique de um bairro nobre da Capital.
Durante a noite, ela saía usando seu traje negro, abordando informantes e espancando alguns traficantes de pó negro, pois seu mestre também lhe havia incumbido de eliminar esses tipos sempre que possível.
Em uma dessas noites, Entoma entrou em contato com uma gangue de crianças batedoras de carteiras e conseguiu possíveis locais onde um bardo contador de histórias poderia estar trabalhando, o que a levou até uma taberna altamente suspeita, e por causa de sua chegada, uma briga generalizada acabou se formando, sendo que a empregada foi a única pessoa a restar em pé. Realmente havia um contador de histórias ali, mas era um bardo ruivo que usava um bongô.
Certa vez, até mesmo acabou brigando com uma dupla de ladrões que, coincidentemente, entraram para roubar uma casa onde também ela havia arrombado para obter informações, o que a levou a jogá-los pela janela, bem em cima de uma patrulha que passava abaixo.
Por causa de suas ações, quase todas indiretas, a criminalidade diminuiu em certas áreas da cidade, e a partir daí se espalhou o boato de uma aventureira fazendo justiça com as próprias mãos. Em pouco mais de um mês, ela era a nova sensação da cidade: a "Garota Aranha" ou "Aranha Negra", ainda não haviam decidido qual apelido era melhor.
Até mesmo o Imperador Jircniv tinha interesse em saber quem ela era.
— Quero um retrato da Garota Aranha na minha mesa agora! – esbravejou uma vez.
Nesta noite Kyouhukou estava no quarto analisando documentos quando ouviu o bater à porta.
Toc Toc!
— 'Quem pode ser a essa hora?'
Toc Toc!
— Quem é?
— É Int-… Barintacha, seu gerente, senhor Edgar. Me desculpe incomodar tão tarde, mas será que eu poderia falar com a senhorita Entoma?
Kyouhukou não sabia o que fazer, Entoma estava em patrulha, como ele explicaria a ausência dela sem levantar suspeitas? Edgar estava momentaneamente indisponível após o incidente com o macarrão dias atrás.
— Só uns instantes, vou chamá-la.
Então a porta se abriu, apenas uma fresta, o suficiente para que parte da máscara de Entoma e a manga de um roupão aparecesse.
— Hummm?!
— Ah! Boa noite senhorita Entoma, eu estava passando e então pensei, sabe, que talvez, eu queria saber, se a senhorita gostaria, ah que tolo sou, acordá-la assim, me desculpe senhorita, me desculpe… – Inta girou nos calcanhares e se retirou rapidamente.
— 'O que foi isso?' – pensou Kyouhukou enquanto tirava o inseto máscara reserva de Entoma – Porcaria, eu devia apenas ter dito que ela estava indisposta.
……………………………….
Enquanto isso no andar superior.
— Tolo, tolo, tolo, você só tinha um serviço pra fazer, "olá, a senhorita gostaria de compartilhar uma refeição tardia?", era só isso, mas nããão, você tinha que enfiar o pé na boca como um adolescente, tolo, tolo, tolo – se amaldiçoava o gerente.
A patrulha de hoje terminara mais cedo, sem novidades, então Entoma pretendia se preparar para o passeio do dia, ela visitaria a Academia Imperial na companhia de Inta. Mas quando chegou ao quarto, recebeu a notícia de que o gerente já havia lhe procurado minutos antes.
— O que poderia ser tão importante para ele me procurar a essa hora da noite?
— Não saberia dizer senhorita, ele parecia deveras nervoso, não sei se ele desconfia de algo, espero que não tenhamos estragado nosso disfarce.
— Eu vou falar com ele, ele ainda deve estar acordado.
— A senhorita acha prudente?
— Prudente ou não, não posso esperar até amanhã por algo que possa estragar toda a operação.
Entoma subiu até o andar superior e, quando estava prestes a bater à porta, ela ouviu um ruído de algo caindo dentro do quarto e sentiu um cheiro familiar, uma leve fragrância de sangue fresco.
Seus instintos agiram, Inta podia estar em perigo, ela então forçou a porta, que não cedeu nenhum centímetro - 'magia' - logo conclui a empregada. O problema de portas trancadas magicamente é que não adianta de nada se a pessoa for forte o suficiente para arrancá-la da parede que não é mágica.
Fazendo exatamente isso e com um salto, Entoma estava dentro do apartamento. No meio da sala havia caida uma senhora grande adornada por enormes joias, e sobre ela uma criatura alada, com pele esticada sobre membros anormalmente compridos, como se os seus ossos nunca tivessem deixado de crescer, costelas salientes, assim como os ossos da coluna bastante protuberantes, seus longos dedos terminavam em garras que pareciam lâminas, seu rosto pálido estava com a boca aberta, cuja mandíbula chegava até o peito, pois era a única maneira de abrir o suficiente, já que seus dentes eram tão compridos que se transpassavam, e quando a criatura fechou a boca, formaram uma espécia de viseira sobre o rosto.
A criatura então se virou para Entoma. Com os olhos vermelhos e estalados, ela segurava um naco de carne recém-arrancado, então o esticou na direção da Empregada de Batalha.
— Está servida?
— Inta?!
...…………………
Minutos depois.
— Então… você é um vampiro.
— Acho que é a quarta ou quinta vez que respondo, sim, um vampiro.
Ambos agora estavam sentados à mesa apreciando um jantar tardio.
— Como não percebi antes?
— Provavelmente porque eu posso inibir toda aquela aura vampiresca comum que nós emitimos.
— Como você faz isso? Conheço alguns vampiros, nenhum consegue fazer isso sem amuletos, me desculpe pela intromissão, mas você nunca carregou um, eu chequei.
— Experiência. Certas coisas você vai aprendendo com o tempo, suprimir aura, intenção e até mesmo sua natureza faz parte da sobrevivência.
— Tempo… quanto tempo? Digo, qual a sua idade?
— Pelos ossos do Supremo, que indelicado! Nunca pergunte a idade de um vampiro.
— OH! ME DESCUL-… você estava sendo sarcástico, não é?
— Claro, hehhehe! Que graça tem você não poder se divertir com seus amigos? Eu tenho 2742 anos.
— Nossa, provavelmente você é o ser mais antigo deste mundo, depois dos dragões – cutucou a empregada.
— Ai! Agora me senti velho, eu mereci essa. Mas não, sei de elfos mais velhos, eremitas geralmente, alguns monstros não sencientes são mais antigos ainda, sou apenas bem cuidado.
— Mas com tanto tempo, o vampirismo deveria já ter dominado o mundo.
— Ah não. Sabe, vampiros geralmente não querem dominar o mundo, o que a gente faria com ele? Não é inerente de nossa natureza, apenas queremos o nosso cantinho. Além do mais, geralmente vampiros não vivem tanto quanto pensam. Você sabe qual é a maior causa de morte entre os vampiros?
— Estaca de madeira, lâmina de prata, AVENTUREIROS!?
— Tédio.
— O que?
— O tédio é o que geralmente nos mata, literalmente. Após séculos de vida, você acaba sem perspectiva, já bebeu todas as bebidas, provou todos os sabores e acha que já viu de tudo, então ficamos deprimidos e nos enfiamos em uma caverna até definharmos ou sairmos de peito aberto contra um aventureiro.
— Mas você é, como posso dizer isso sem ofender… antigo.
— Acho posso ser chamado de Vampiro Antigo ou Vampiro Ancião, sim. Sobrevivi por tanto tempo talvez porque sou curioso. Ah, a propósito, é muito gratificante finalmente vê-la sem a máscara.
— Obrigada, achei que seria no mínimo cortês mostrar o rosto depois de arrancar a sua porta.
— Não se preocupe, ela já estava velha. A magia devia impedir os barulhos e o cheiro de sair, mas obviamente não fez isso. Talvez na próxima eu encante as paredes também.
— Desculpe novamente, e também acho agradável vê-lo assim.
— Ah, nem sempre posso me mostrar, passo a maior parte do tempo em minha aparência mais humana. Além disso, a maioria das coisas não foram feitas para serem manipuladas por dedos tão longos hehehehe! – disse o Vampiro Ancião mostrando os três dedos que seguravam a taça, os outros dois extremamente longos estavam dobrados em um ângulo humanamente impossível em direção ao cotovelo e depois à axila. Entre eles provavelmente uma membrana que, quando Inta esticasse os braços, deveria dar uma envergadura com mais de cinco metros de asas
— Por falar em disfarces, Barintacha Hierofantes, é seu nome mesmo?
— Claro, por seis "gerações", mas já tive outros nomes, acho que o mais antigo foi Barão Inta Barintacha.
— Você acha?
— Deixe de usar o seu nome por um século ou dois e você vai perceber que esqueceu algo mas não lembra o que é.
— Achei que vampiros fossem inteligentíssimos.
— Inteligentes? Sim, por causa da experiência, mas com memória prodigiosa? Não. Quando nos tornamos vampiro, nossa mente só fica mais… perceptiva, mas não ficamos mais espertos automaticamente.
— Mas com o tempo vocês aprende mais.
— Sim, mas nossa capacidade de reter memórias é tão boa quanto antes. Além do mais, algo que eu aprenda hoje pode ser irrelevante daqui a dez anos, imagine então depois de séculos, lembrar daquilo somente se eu fosse um elfo ou um dragão, que possuem memórias perfeitas.
— O que nós possuímos é vasta experiência, por isso dizem que somos tão inteligentes e cheios de planos intricados. Mas acho que os magic casters são muito mais inteligentes, independente de sua raça.
— Como assim?
— Veja, eles precisam ler e decorar milhares de livros para poder lançar umas poucas dezenas de feitiços, eles devem ter mentes extraordinárias.
Entoma então se lembra de seu mestre que é capaz de lançar milhares de feitiços, segundo Demiurge. Somente um Ser Supremo poderia ter uma mente assim.
— E como foi que você se tornou um vampiro?
— Do mesmo jeito de sempre, fui mordido por um e depois transformado, acho que ele nem sabia o que estava fazendo. Fui deixado sozinho, nem mesmo fiquei preso a um mestre, então eu era um vampiro novato em um baronato na fronteira mais distante de um país que nem existe mais, no meio do nada.
— E o que você fez depois?
— No primeiro milênio, passei em fúria sanguinolenta, no milênio seguinte em depressão profunda, mal saía da caverna para comer.
— Me desculpe por trazer essas lembranças.
— Oh não, tudo bem, é bom lembrar às vezes. Sabe o que me tirou de lá?
— Aventureiros, apareceram alguns tentando me matar e eu estava até agradecido. Foi quando eu vi as armas, eram todas diferentes, modernas, mais fortes, tinha um anão com um martelo rúnico incrível. Você sabe por que eles criaram as runas?
— Seeeeei… Nããão, não faço ideia.
— Eles queriam tornar o aço mais forte, é difícil trabalhar oricalco e adamantite, por isso fortalecer o metal mais maleável parecia o caminho óbvio. E sabe, aquilo era novidade para mim, mudança, eu queria aquilo, queria conhecer coisas novas e então eu saí e comecei a explorar o mundo de novo.
— Mas chega de falar de mim um pouco. Me diga, o que a Empregada de Batalha de Sua Majestade realmente faz em Arwintar?
Entoma engasgou e quase que espirra toda sua bebida no rosto de Inta.
— GLUP! COF! COF! Desculpe, como disse?
— Ora, como falei antes, sou bastante observador, já tinha ouvido falar da beleza das protetoras de Sua Majestade, então quando te vi tinha certeza de que você seria uma.
— Pare com os elogios… – disse a empregada fazendo algo que para uma aranha seria o equivalente a corar.
— Na verdade eu apenas suspeitava, sua reação agora apenas confirmou.
— Seu abusado!
— Hehe! Acredito que seu colega Edgar também não seja humano, talvez um tipo insectóide?
— Algo assim. O que o denunciou?
— Alguns maneirismos, mas também houve uma certa diminuição do estoque de mel e um aumento de baratas no hotel. Por falar nisso, agradeça a elas por serem tão educadas e não se mostrarem aos hóspedes, mas terei que cobrar pelo incidente com o macarrão.
— Lamento por isso, pagaremos pelos estragos.
— Mas me diga, qual a sua missão aqui? SE VOCÊ PUDER CONTAR, lógico, não quero forçar algo de você.
— Acho que nesse ponto posso confiar em você senhor Inta. Estou buscando uma pessoa em nome de Sua Majestade, o motivo não posso compartilhar, me desculpe – respondeu a empregada enquanto mostrava o retrato do viajante para Inta.
— Eu conheço esse cara! Foi meu ajudante de cozinh-…
— PFFRRRRRRRRRRRrrr!!!
Dessa vez, Inta foi banhado com um esguicho de bebida vermelha que saiu da boca de uma estupefata Entoma.
