CAPÍTULO XXXIII

Algumas semanas se passaram desde que Kol retornou à Nova Orleans depois de deixar Elena em Mystic Falls. Ele ainda estava abalado pelo que fizera com ela naquela noite. Elena não merecia nada daquilo, ele não era bom para ela, então o melhor seria ele sumir de sua vida, e dessa vez, para sempre.

Pagar as dívidas dela e deixar-lhe uma pequena fortuna, além de uma pensão para as despesas mensais era o mínimo que ele poderia fazer pela mulher que ele machucou, por quem ele ainda nutria sentimentos. Kol suspeitava que jamais se esqueceria dela, mas depois do que aconteceu... Elena merecia alguém melhor.

Ainda restava a questão de seu irmão. Teria de tomar providências quanto a Klaus, para que ele não fosse atrás dela quando soubesse que Kol não a tinha mais como sua amante. De momento, ele havia escrito ao irmão informando que manteria sua relação com Elena em segredo, esperando que Klaus não quisesse confirmar os fatos.

Seus pensamentos foram interrompidos por Kaleb, seu assistente. Ele trazia uma nota, que Kol tomou e se pôs imediatamente a ler. Era de Marcel, seu amigo, convidando-o para o baile de aniversário de sua afilhada, a jovem bruxa que seria regente do clã em NOLA em breve.

Kol não poderia declinar, e talvez o baile fosse uma oportunidade para o próximo passo que ele pretendia dar. Comprometer-se. Tinha que seguir sua vida e se esquecer da humana que ele deflorou. Não tinha recebido notícias de Elena, e duvidava que receberia. Precisava tirar da cabeça todas as lembranças dela porque aquilo o estava enlouquecendo.

Ele caminhou até a mesa de bebidas e se serviu de um conhaque, tomando-o de uma só vez. O álcool tinha ajudado a entorpecer os sentimentos de angústia que o invadiam. Pensara em desligar sua humanidade uma ou duas vezes, mas isso significava deixar de se importar, e Elena ficaria vulnerável a seu irmão. Essa era a única coisa que ainda o preocupava em relação a Elena.

Kol suspirou, servindo-se de um novo copo de conhaque quando foi interrompido novamente, dessa vez por sua irmã, que entrou na biblioteca após o anúncio de Kaleb.

— Rebekah, a que devo o desprazer?

A loira revirou os olhos.

— Você vai ao baile?

— De Davina, sim. Você?

— Não sei, ainda estou pensando.

— Pensei que você gostasse de bailes, irmã.

— E gosto, só não quero ver certas pessoas. — Rebekah respondeu.

— Problemas no paraíso?

— Não sei a que se refere. — Rebekah tentou parecer indiferente.

— Como está seu relacionamento com Marcel?

— Que relacionamento? Não sei do que você está falando. — A loira fingiu olhar um livro.

— Você e Marcel foram namorados, pelo que me lembro. Ele cortejava você... E pelo que eu soube, nos últimos dias ele tem tentado fazer isso novamente.

— Isso foi anos atrás, quando você também cortejava Elena. E tem razão, eu tenho ignorado essas tentativas insignificantes que ele está fazendo.

Kol a encarou percebendo a mágoa nas palavras da irmã. Embora ele vivesse implicando com Rebekah, ele não gostava de ver a irmã infeliz.

— O que houve entre vocês?

— Nada! — A loira respondeu enfaticamente.

— Vamos, irmã! Fale de uma vez! — Kol não tinha paciência para os jogos de Rebekah agora.

— Como você bem sabe, ele me cortejou antes.

— E o que houve?

— Bem, naquele tempo ele decidiu que não era a hora de atar o nó. A eternidade é muito longa, e ele julgou necessário aproveitar um pouco mais antes de se comprometer.

— Não posso culpá-lo, eu mesmo penso dessa forma.

— Eu sei que sim. Você é tão libertino quanto ele! Mas um dia você pensou em se casar... com Elena.

— Sim, o que foi um erro. Graças aos deuses ela se casou antes que eu cometesse esse erro absurdo.

— Não é um erro, Kol. E ela está viúva agora. O que fará com ela?

— Nada! — Kol tentou demonstrar indiferença, mas estava incomodado em falar sobre Elena com sua irmã. — Quando foi que mudamos de você e Marcel, para Elena?

Rebekah o ignorou.

— Você não pensa em se casar com ela agora?

— Por que eu faria isso? Como você disse, a eternidade é muito longa!

— Mas Elena é humana. Não viverá para sempre.

— Eu sei disso e não muda nada.

— Não pensa em se casar nunca?

— Um dia sim, mas não com Elena, certamente. Talvez com alguém que traga algo para mim, como poder, riqueza...

— Você não precisa disso Kol, você já tem tudo! Nossa família é poderosa!

— Eu sei que não preciso, mas é o que eu quero. A única razão para eu me casar será se for uma união vantajosa.

— Então fará mesmo de Elena uma amante?

— Não que seja da sua conta, mas não pretendo ter nenhuma relação com Elena.

Rebekah o encarou surpresa.

— Você realmente mudou de ideia?

— Sim! — Kol respondeu impaciente.

A julgar pelo comportamento do irmão com Elena durante os encontros na casa dos Saltzman, ela pensou que ele finalmente seguiria seus sentimentos e viveria aquela relação. Mesmo que fosse de uma maneira pouco honrosa, com a proposta que ele tinha feito. Ele amara Elena no passado, ela tinha certeza. E por um momento pensou que ele ainda fazia. Esperava que Kol se desse conta disso e assumisse um relacionamento verdadeiro com Elena.

— Sugiro que você abandone essas ideias românticas, irmã. O amor é a maior fraqueza de um vampiro.

Rebekah suspirou.

— Você fala como Klaus.

— E ele está certo.

— Eu não penso assim. O amor é uma coisa boa.

— E onde isso te trouxe? Você teve vários relacionamentos que não deram em nada, e pelo visto, ainda tem esperanças de que Marcel se case com você, o que me deixa sem entender o motivo de você o estar rejeitando.

— Não seja insensível Kol! E Marcel não vale a pena.

— Só estou falando a verdade, agora você, tenho certeza de que não. Então me diga, por que tem ignorado os avanços dele?

Rebekah caminhou até a porta.

— Não vou discutir minha vida amorosa com você. Mas se quer mesmo saber, não serei um brinquedo novamente para ele. Marcel brincou comigo uma vez, mas agora eu não estou disposta a permitir que ele me iluda para depois desistir e sair pelo mundo aproveitando a eternidade.

— Entendo. Mas acredito que as intenções dele agora são as melhores possíveis. — Kol declarou. Ele compreendia o medo de sua irmã e sabia que ela tinha razão. Mas ele já teve essa conversa com Marcel e o amigo garantira que queria realmente a Rebekah.

— Do que você está falando? — A curiosidade era evidente no rosto da irmã.

— Andei conversando com Marcel, e fora ele quem trouxe o assunto à tona. Pensa em se estabelecer, em ter um compromisso real com você.

— Não acredito nisso!

— Bem, isso é com você. Mas no seu lugar, eu ouviria o que ele tem a dizer, caso você realmente sinta algo por ele. Deixe que ele a corteje e avalie se vale a pena ou não lhe dar uma nova chance.

— Falando assim, nem parece que você é um descrente no amor.

— Mas eu sou. É só que no seu caso, acredito que vocês dois realmente têm uma ligação mais profunda.

— Você também tem isso com Elena. — Rebekah insistiu.

— Não. Não temos nada. Esqueça Elena!

— Você é patético irmão, por não enxergar a possibilidade de ser feliz bem diante de seu nariz. Mas não vou insistir. Preciso mesmo ir, tenho que providenciar um novo vestido para o baile e tenho pouco tempo para isso. Queria apenas saber o que você faria sobre Elena. Ela é uma amiga querida que quero manter em minha vida, pelo bom tempo da vida dela.

— Sua relação com ela não é de meu interesse. Faça o que quiser, irmã.

— E quanto a Klaus? Ele virá atrás dela. Você não teme deixa-la desprotegida?

— Eu cuidarei disso depois.

— Ele não pode pôr as mãos nela, Kol. Você sabe o quanto ele quer o sangue dela.

— Sim, eu sei. Mas farei o que possível para que Klaus jamais machuque Elena.

Rebekah avaliou o irmão. Era evidente que ele tentava ignorar os sentimentos que tinha pela humana.

— Kol, se você ainda gosta de Elena, diga a ela como se sente, tenho...

— Não direi nada à Elena, irmã. Esqueça isso! Nada vai acontecer entre nós, e se você quer mesmo saber, pretendo me comprometer com Davina Clair.

— O quê? — Rebekah estava surpresa! Ela sabia que falavam sobre isso, mas ela não pensou que Kol realmente pensaria em se casar com a jovem bruxa.

— Exatamente isso que você ouviu. Agora se me der licença...

Kol sentou-se a sua mesa e passou a examinar alguns papéis, ignorando a presença de Rebekah. Ela finalmente fechou a porta bufando, e Kol só voltou a vê-la uma semana depois, quando foi buscá-la no Abbatoir para irem ao baile de aniversário de Davina. Ela seria sua acompanhante, e ele esperava que ela estivesse com um humor melhor na ocasião.