Cap. 8

07 de Março de 2011

Ela tinha terminado tudo com ele. House havia acabado de ir embora para sempre de sua vida intima. Ela sentia um enorme vazio, Julia a consolou, quer dizer, tentava a consolar.

"Você tem certeza de que quer terminar tudo?".

"Não, mas eu preciso".

"Mas... Você não está se precipitando? Veja quantas coisas aconteceram com você recentemente. Você está muito emocional".

"Mas não estou equivocada. Posso estar sensível, mas sei o que faço". E ela chorava muito.

"Lisa, eu estarei com você em qualquer condições. Eu acatarei sua vontade e eu te darei o suporte que precisar".

"Obrigada!". Ela abraçou a irmã e ficou ali por algum tempo.

"Eu acho que ele errou? Sim! Mas recaídas fazem parte da vida de um viciado. Ele pensou que você fosse morrer. Não é?".

"Eu tenho Rachel! Ela é e sempre deve ser minha prioridade. Não posso colocá-la em risco".

"Eu sei. Eu sei". Julia se colocou no lugar dela e não poderia criticar uma mãe. Ela sabia como era sentir-se maternal e proteger seu filho contra tudo e todos até abdicando de seus desejos e vontades pessoais.

Uma hora depois Cuddy tomou um banho e tentou dormir, mas era impossível. Ela apenas tirava pequenos cochilos, pois o cansaço a vencia em dado momento, mas ela acordava minutos depois e se lembrava do pesadelo de ter terminado seu relacionamento com o homem que amava, com o homem por quem estava desesperadamente apaixonada.

Em um desses cochilos ela sonhou com ele. Sonhou que ele buscava prostitutas, drogas e álcool como subterfúgio, em dado momento ele se jogou da sacada de um quarto em uma piscina e quase morreu. Ela acordou assustada, seu coração acelerado. Não! Ela não podia viver preocupada e cuidando dele, não mais! Ela foi ao banheiro tentando se convencer disso, mas cinco minutos depois ela estava discando o número de telefone dele.

Ele não atendeu. Ela tornou a ligar e nada... Cuddy deixou uma mensagem de voz.

"House... Eu... Nós precisamos conversar, eu... eu me precipitei não deixando você entrar e se explicar. Eu... estou cansada, confusa... Quando você ouvir essa mensagem me liga, por favor. Ou venha aqui...".

Então, com o coração na mão, ela tentou dormir. Sem conseguir.


House saiu da casa de Cuddy totalmente sem rumo, desnorteado. Na tentativa de estar lá e ser o homem pra Cuddy, ele botou tudo a perder. Como ele podia ser tão estúpido em pensar que poderia um dia ser o homem pra ela? Ele fez tudo. Tudo! E nem chegou perto de ser o suficiente. House estava irritado, nervoso, frustrado, melancólico, indignado, com dor. Muita dor. Ele não tinha mais Vicodin com ele, ele tomara um único comprimido. House pensou em se perder com drogas, sexo sem compromisso e orgia. Mas nem pra isso ele tinha cabeça, então ele foi até Wilson.

"House?".

"Cuddy terminou comigo".

"O quê?". Wilson perguntou confuso enquanto House entrava e se deixava jogar-se no sofá.

"O que você quer dizer?".

E House explicou.

"Você teve uma recaída e ela te chutou por isso?".

"A coisa toda de ter uma filha e tal...".

"Quantos você tomou?".

"Um".

Wilson olhou desconfiado.

"Um só, estou falando a verdade".

"Você tem mais com você?".

"Não aqui. Em casa...".

"House... Você podia ter pedido ajuda...".

"Bla, bla, bla não vai me ajudar".

"Ok... Você quer passar a noite aqui?".

"Eu quero morrer!".

"Não fala isso!".

"É a verdade, Wilson. O que farei sem Cuddy?".

"Você será House, como sempre foi".

"Eu não quero mais trabalhar pra ela".

"As coisas podem mudar, é muito recente...".

"Ela nem me deixou explicar, ela me jogou como se eu fosse um saco de lixo. Algo reciclável e retornável".

"Ela está passando por muita coisa atualmente".

"Eu pensei em... beber e me drogar e chamar algumas mulheres...".

"Isso seria maduro". Wilson disse sarcasticamente.

"Isso seria o House antigo".

Wilson sentou-se no sofá ao lado dele. "Você quer sair pra beber algo? Quer comer alguma coisa? Quer desabafar? Quando Sam...".

"Ah ok, eu preciso ir!". Ele se levantou.

"Pra onde?".

"Não sei... não consigo ficar parado".

"Vamos dar uma volta!". Wilson decretou. "Eu só preciso colocar outra roupa, me dê cinco minutos".

Quando Wilson foi se vestir, House se jogou no sofá novamente. Sua mente estava muito longe. O que ele faria sem ela? Ele abdicou de sua vida nos últimos meses para estar com ela, para agradá-la, para ser o cara que a merecia e nunca chegou perto disso. Tudo foi uma ilusão, ela nunca tentou de verdade, ela sabotou o relacionamento deles e estava só aguardando um motivo para terminar tudo e convencer-se de que eles nunca foram feitos para estarem juntos. Era só físico. Sexo. Mas não pra ele...

Wilson voltou e pegou a chave do carro. "Vamos!".

House só se deixou acompanhá-lo. Entrou no carro e ficou olhando o movimento da rua quase deserta aquela hora.

"Eu nunca mais quero vê-la!".

"É recente, as coisas vão mudar...".

"Nunca mais! Ela me tratou como lixo".

Wilson respirou fundo e o deixou desabafar.

"Eu estive com ela por meses, ela me conhece por anos e simplesmente me descartou como lixo reciclável. Ainda pior, porque ela dá muita atenção ao lixo que recicla".

"Ela está emocionalmente abalada".

"E eu?".

"Ela passou por uma cirurgia, pensou que ia morrer".

"Eu também passei por esse medo, não foi só ela".

"Ela tem uma filha, não sabemos como é essa coisa da maternidade... Não podemos julgar".

"Sim, porque em todos esses meses de relacionamento eu coloquei Rachel em perigo quantas vezes? Talvez só com a moeda...". Ele falou baixo.

"Ela vai pensar, refletir com calma".

"Ela já se decidiu e Cuddy é teimosa como uma porta. E orgulhosa".

De repente ele sentiu o telefone vibrar, havia uma mensagem dela. House leu e seu semblante mudou.

"Wilson, eu preciso ir até a casa de Cuddy".

"House, deixe passar uma noite...".

"Ela me mandou uma mensagem".

"E o que ela disse?".

"Que precisamos conversar".

Wilson pensou em dizer 'mas você não disse que não queria vê-la nunca mais na vida?', mas ele sabia que aquilo tinha sido no calor do momento.

"Eu concordo 100%. Vocês precisam conversar, só não sei se hoje seria uma boa".

"Tem duas chamadas perdidas...".

"Ligue pra ela e diga que está comigo. Amanhã vocês conversam".

Wilson pensou que seus amigos pareciam dois adolescentes.

"Não, me deixe aqui que eu vou até lá".

"Caminhando?".

"Eu dou um jeito".

"Você quer que eu te leve até lá?". Wilson perguntou percebendo que seria inútil discutir.

"Minha moto está na sua casa".

"Você não tem condições de dirigir assim, abalado emocionalmente".

"Eu não sou um bebê!".

"Há controvérsias".

House respirou pesadamente. "Ok, me leva lá!".

E Wilson retornou para pegar o caminho da casa de Cuddy. "Vocês vão resolver isso!".

"Não sei...". Ele respondeu desanimado.

"Eu confio no bom senso de Cuddy".

Ele respirou pesadamente sentindo-se a última das criaturas.


Quando chegaram House saiu do carro, ele notou que estava tremendo como um adolescente prestes a bater na porta da garota para o primeiro encontro.

"Obrigado!". Ele disse para Wilson.

"House... Você vai sair dessa! Vocês irão! Se precisarem de mim, me liguem a qualquer hora".

House não respondeu, fechou a porta e encarou a casa de Cuddy que, horas atrás, havia sido o cenário de horror pra ele.

Ele caminhou lentamente até a porta, já era tarde, ele não sabia se batia à porta... Talvez pudesse acordar alguém. Então ele preferiu mandar uma mensagem.

Estou em frente à sua porta.

Cuddy, que estava extremamente ansiosa e treinando tudo o que ela queria dizer, recebeu e leu a mensagem imediatamente, então ela colocou o roupão e foi até a sala.

Antes de abrir a porta ela respirou profundamente por três vezes. E abriu. Ele estava lá. Era o namorado dela, quer dizer... até horas atrás, mas estava tudo tão diferente agora.

"Entre! Rachel está dormindo e minha irmã também".

Ele tentou ser o mais silencioso possível.

"Vamos para o quarto".

Ele arregalou os olhos.

"Conversar apenas, lá teremos mais privacidade e faremos menos barulho".

Ele acenou com a cabeça, confuso, mas foi atrás dela. Chegando lá ele sentiu o perfume de sempre, parecia que ele estivera ali há tanto tempo e só fazia alguns dias.

"Sente-se na cama, sua perna...".

Ele sentou-se, ela se sentou também.

"Eu fui precipitada, talvez".

Ele nada respondeu, só a encarou.

"Eu devia ter tido uma conversa com você".

"Se for para terminar comigo outra vez, mas de um jeito que te deixe melhor consigo mesma, eu passo".

"Não House... Nós temos que conversar sobre tudo".

"Ok, estou aqui disposto a falar sobre tudo. Sobre como a Terra é redonda...".

"Se continuar assim...".

"Desculpe, pode falar!".

"House... Eu sei que você tem problemas com analgésicos e eu subestimei isso, eu me esqueci completamente disso durante nosso relacionamento, eu confiei minha filha pra você e se você se drogar na frente dela?".

Ele a olhou em choque. "Você acha mesmo que eu faria isso na frente dela?".

"Quando você está com dor... você pode não pensar".

"Pois eu pensei quando tomei o único Vicodim pra ir te ver. Pensei e decidi que precisava disso pra estar ao seu lado, e tomei um único porque também pensei que não queria me intoxicar novamente".

"O fato de você precisar tomar alguma droga para conseguir lidar com o medo e estar lá pra mim, é um grande problema em si".

"Ok, entendido. Eu não sou homem pra você e pra sua família perfeita feliz, mas saiba que eu coloquei minha reabilitação em jogo por você".

"Não venha jogar em mim suas escolhas...".

"Eu sou fraco, é isso. Eu sei! Você merece um homem forte e que não chegue perto de drogas. Que seja exemplo para a sua filha...".

"Não é isso...". Ela respirou fundo. "Eu te amo!".

"Desculpe por isso".

"É difícil amar alguém... Eu tenho tido muitos problemas com minha vida emocional e nunca fui exatamente fácil".

"Aí concordamos com algo".

Eles se encararam por alguns segundos.

"Mas eu estou tentando!". Cuddy disse.

"Não de verdade Cuddy, minta para si mesma".

"O que você quer dizer?".

"Você nunca se jogou em nosso relacionamento".

"Eu tenho...".

"Uma filha? Eu sei bem disso, acredite em mim. Mas você sempre teve medo e esperou pelo pior".

"Isso não é verdade!".

A voz deles começou a ultrapassar o volume aceitável e Cuddy abaixou a voz. "Isso não é verdade!".

"Oh é sim. Admita! Você sempre esperava pelo pior e qualquer coisa era razão para ficar com raiva, irritada e descontar em House".

"Como você mentindo pra mim?".

"Eu menti para salvar vidas!".

"Não vou ter essa discussão outra vez".

"E você me expulsava da sua casa e da sua vida por qualquer coisa. Como você acha que eu me sentia? Como um acessório dispensável".

Ela o olhou séria. "Você sentia isso?".

"O tempo todo".

"Por que você nunca me disse?".

"Por que eu diria se morria de medo de perdê-la?".

"Você sempre foi mais do que isso... O amor da minha vida! Eu nunca senti por ninguém o que sinto por você".

"Então você expressa isso bem mal".

Eles ficaram se olhando por alguns segundos.

"Nós precisamos de ajuda!". Cuddy falou.

Ele respirou fundo sem entender exatamente o que ela queria dizer.

"Nós dois precisamos de terapia. E de sermos honestos um com o outro".

House não gostou, mas se o preço para tê-la de volta era terapia, ele estava disposto. "Ok".

"Você tomou mais algum Vicodin?".

"Eu ia, mas fui até Wilson e ele é tão irritante que cortou minha vontade...".

"Ótimo. Acha que consegue lidar com isso sem ingerir mais nenhum?".

"Estou me esforçando, mãe".

Ela não riu da piada, continuou séria e concentrada. "Fale com seu terapeuta o quanto antes, House. Converse com ele".

"Ok".

"Eu também vou falar com alguém".

"Enquanto isso?".

"Daremos um tempo".

"Um tempo?".

"Não terminamos, eu não quero terminar com você, mas precisamos trabalhar nisso".

"Então estamos namorando ainda só que separados?".

"Por um tempo apenas. Julia ficará comigo e com Rachel, e você... fique com Wilson".

"Eu posso ficar sozinho".

"House... Eu quero que dê certo, mas dependo do seu esforço também".

"Eu não vou me drogar mais".

"E nem álcool ou prostitutas!".

Ele respirou fundo. "Vou ficar com Wilson".

"Bom!".

"E agora eu simplesmente vou embora sem nenhum beijo?".

"Vamos respeitar o tempo".

Ele balançou a cabeça em entendimento e levantou-se. Ela o acompanhou até a porta.

"Eu passei pelo inferno pensando que te perderia". Ele disse antes de sair.

"Eu sei. Você quer que eu chame um taxi?".

"Não precisa".

"E como você vai pra casa de Wilson?".

"Ele virá me buscar".

Ela percebeu que era mentira.

"Durma aqui no sofá!".

"Não, obrigada. Um tempo é um tempo".

"House, eu preciso que se cuide! Nós precisamos disso".

"Fica tranquila. Te vejo amanhã!".

"Até amanhã!". Ela respondeu insegura e voltou para o quarto.

Quem disse que ela conseguiu dormir? A preocupação com ele e o pensamento no que ele lhe disse era maior. Ela não era uma vadia fria com o namorado, nunca foi. Por que ele se sentia tão inseguro ao seu lado? O que ela fazia pra não deixá-lo seguro? Definitivamente ela ligaria no dia seguinte para a profissional de psicologia que Julia a indicou.

House sentou-se na porta da casa dela e ficou ali pensando em tudo até que adormeceu. Quando amanheceu ele notou que o veriam ali, então ele pediu um taxi e foi para sua casa, chegando lá ele tomou um banho e se vestiu para ir ao hospital, antes ele deixou um recado para Nolan. Sua vida estava uma bagunça de repente e ele não sabia como aquilo iria se desenrolar. Era assustador e perturbador, mas, por alguma razão, ele não tinha vontade de recorrer ao Vicodin, ele merecia sofrer por ser tão idiota, então que a perna doesse, que o emocional sangrasse, ele lidaria com isso. Estava decidido.

...

Duas semanas se passaram e eles continuavam separados, mas Cuddy já havia tido duas conversas com Rita, a psicóloga. Ela sentiu bastante empatia pela jovem senhora que tinha aproximadamente a sua idade e também tinha uma filha pequena. Na primeira conversa Cuddy percebeu que a maneira controladora de ser havia gerado mais transtornos em seu relacionamento do que ela podia supor.

House fez seis consultas com Nolan e não tomou mais nenhum comprimido de Vicodin.

"Seria normal dizer para sua namorada que você estava com medo de perdê-la e que por isso era muito difícil estar ao lado dela".

"Você diz isso como se fosse fácil. Cuddy merece mais! Ela é uma mulher independente e forte que pode ter o homem que quiser. Eu não posso decepcioná-la!".

"Me parece que é você quem tem o ego maior do que devia. Tenho certeza de que ela está com você por uma razão, senão ela estaria com outro...".

"Ela não conhece todas as minhas fraquezas...".

"Ela conhece suas forças também".

"Oh sim, eu consigo carregá-la nos braços para fazermos sexo".

Nolan não riu da piada infantil. "Você se deprecia demais. Tenho certeza de que tem ótimas razões para que ela tenha o escolhido. Diga três qualidades suas que não estejam ligadas ao sexo".

"Oh, você me conhece tão bem".

Agora Nolan riu.

"Eu posso dizer que sou bom médico. Bom não, excelente! Bom é para a maioria".

"Ok".

"Sou inteligente".

"Duas!".

"Eu a faço rir".

"Senso de humor. Três. E sei que pode conseguir mais duas".

"Uh... sou fiel".

"Ótima qualidade".

"Fiel no sentido de que não a traio, mas eu já menti pra ela".

"E quem nunca fez isso?".

House sorriu agora sentindo-se aliviado pelo não julgamento recebido.

"Eu não menti sobre nada grave, mas ela disse que não podemos mentir...".

"E o que você acha sobre isso?".

"Depende da mentira. Tem mentira que é para algo maior".

"Eu penso que o relacionamento ideal é aquele onde não precisamos mentir. Confiamos um no outro a ponto de termos essa liberdade".

"Eu não menti pra ela, mas sim par minha chefa".

"Talvez esse conflito de interesses é um problema. Tê-la como chefa e também como namorada".

"No geral funciona bem, mas quando ela não me deixa salvar um paciente...".

"Entendo. E a quinta qualidade?".

"Não sexual?".

"Não sexual".

"Eu não sou feio...".

Nolan sorriu. "Não, você não é".

"Você me acha sexy?".

"Espero que sua namorada te ache sexy!".

Eles riram.

"Você tem muitas qualidades, você precisa confiar que é uma pessoa que merece estar com alguém que observe e valorize isso. Eu tenho certeza de que ela vê isso, mas você se coloca em uma situação de total dependência e isso tem norteado o seu relacionamento".

"Faz sentido".

"Você não deve lamber os pés dela. Nem ela... Ninguém deve! Vocês são iguais".

"As vezes me sinto igual a ela, eu a desafio, eu sou interessante. Mas as vezes... Ela me faz sentir como se estar comigo seja um favor...".

"Ela não teve muitos relacionamentos, certo?".

"Certo!".

"Por que você acha isso?".

"Porque ela é workaholic? Exigente? Inteligente demais? Homens têm dificuldade com o ego...".

"Uh... Interessante".

"O quê?".

"Sabendo de tudo isso, no entanto você está com ela. Quer dizer... Você é bom o suficiente".

House ficou pensativo. "Talvez".

"Talvez não... é um fato. Sua mente lógica há de concordar".

House se sentia pensativo depois de cada sessão, mas ele estava bem. Parece que sua mente se reequilibrou e ele estava entrando em contato com muita coisa que não fazia ideia.

No hospital só Wilson sabia do status no relacionamento dos amigos, o restante não imaginava o que acontecia.

Eles se viam eventualmente pelos corredores, House sempre perguntava como ela estava e como Rachel estava. Ele se preocupava com a menina de verdade.

Naquele dia Cuddy recebeu uma ligação da escola da filha quando estava em uma reunião.

"Desculpe, eu preciso atender a essa ligação". Ela disse preocupada e saiu da sala.

"Dra. Cuddy".

"Rachel está bem?".

"Sim, fique tranquila, ela está bem. É que... ela atacou um amiguinho, um coleguinha de sala".

"Ela atacou um menino?".

"Ela o mordeu".

"Oh, Rachel não é violenta...".

"Alguma coisa têm acontecido na rotina dela? Alguma mudança?".

Ela lembrou-se de House. "Eu e meu namorado estamos separados e ela era muito ligada a ele".

"Essa é uma razão provável. As crianças são muito sensíveis com relação as separações".

"Não estamos separados de verdade, só...". Cuddy se sentiu ridícula tentando dar explicações. "Você precisa que eu vá buscá-la?".

"Não, ela está bem agora".

"E o garotinho?".

"Frank está bem. Não foi nada profundo".

"Graças a Deus!".

"Mas gostaria que conversasse com ela".

"Claro que sim. Isso não irá se repetir!".

E Cuddy foi buscar a filha no final da tarde.

"Oi Rachel".

"Oi mamãe!".

"Tudo bem hoje?".

"Eu mordi Frank". A menina foi direta.

"Por que você fez isso, filha?".

"Ele não queria brincar comigo".

"Rachel, você não pode bater em quem não quer brincar com você. Você bate em mim quando eu não quero brincar?".

"Não...".

"E você não pode fazer isso com ninguém. Você precisa respeitar e arrumar outra pessoa ou outra maneira de brincar".

"House sempre brincava comigo!".

"Eu sei". Ela falou triste e confirmando que aquilo tinha a ver com o desaparecimento recente do namorado.

"E ele imitava vozes engraçadas".

"Sim, ele fazia isso".

"Ele é muito legal!".

"Ele é filha. E eu sei que você sente falta dele".

"Lia me disse que ele não vai voltar, assim como o pai dela sumiu".

Cuddy se surpreendeu. "Não filha. House não foi embora, ele vai voltar!".

"Por que está demorando tanto então?".

Cuddy havia conversado com Lena, sua amiga e mãe de Lia, sobre seu relacionamento. Lena era contra essa história de 'dar um tempo' no relacionamento, mas Cuddy não tinha certeza se era a hora de trazer House de volta para a vida dela. Claro que Cuddy sentia falta dele, muita. Vê-lo no hospital e não tocá-lo era muito difícil, mas ela precisava ter certeza. Por Rachel. Mas agora... ouvindo o sofrimento da filha, estava claro que não era só Cuddy quem sofria com a separação.

No dia seguinte ela foi até Wilson.

"Como ele está?".

"Surpreendentemente bem".

"O que isso quer dizer?".

"Nada de Vicodin. Terapia três vezes na semana. Sereno. Ele começou a frequentar a fisioterapia e academia".

"O quê?".

"Ele não te disse?".

"Não. Nós trocamos poucas palavras desde que tudo aconteceu".

"Eu não quero me intrometer, mas acho isso um tanto... ridículo".

Cuddy olhou pra ele em choque pelas palavras duras.

"Vocês são adultos, não são mais adolescentes. Isso parece coisa de quinze anos...".

"Ele te disse isso?".

"Não. Eu estou dizendo isso".

"Obrigada pela sinceridade?".

"Por nada!". Wilson fingiu não perceber a irritação e desconforto dela. Mas as palavras mexeram com seu ego. Tanto que naquela tarde ela adiantou a sessão com sua psicóloga e resolveu se reaproximar de House.

"Ei". Ela foi até a sala dele.

"Ei". Ele respondeu surpreso.

"Que tal... jantar em casa?".

Ele a encarou. "Não sei se seria uma boa ideia".

Ela se surpreendeu. "Você não quer voltar?".

"É a coisa que mais quero".

"Então?".

"Mas com algumas condições".

"Condições?".

"Eu quero que sejamos iguais nessa relação".

"O que você quer dizer?".

"Eu mereço estar em um relacionamento com você, não vou me submeter as mesmas situações de antes".

"O que você quer dizer?".

"Eu sou seu namorado e não um boneco que você afasta e aproxima quando bem entender".

Ela sentiu a dor em sua alma, pois ela identificou várias situações assim. E corou.

"Você tem razão".

"Eu sei".

"Eu também não quero mais fuga para drogas ou algo assim. Quero que você venha falar comigo ao invés de fugir".

"Você também. Eu não sou o único que tem dificuldades de comunicação nessa relação".

Ela estendeu a mão pra ele. "Temos um acordo!".

Ele a encarou por alguns segundos. "Não assim...". E imediatamente a puxou para um beijo longo. Cuddy se entregou completamente, fazia semanas que não se tocavam e estavam ambos a flor da pele.

Quando encerraram o beijo, Cuddy estava tremendo e House sentia borboletas no estomago.

"Jantar às oito horas então?".

"Sete horas!". Ela o corrigiu.

"Ansiosa por mim?". Ele perguntou sarcástico.

"Você nem imagina". Ela respondeu maliciosa e saiu rebolando.

Ele sorriu e pensou que tudo parecia se encaixar novamente, perfeitamente, naquele rebolar único.

Continua...


Me deixem saber se estão gostando da fanfic ou se devo logo pensar no fim...