Havia uma porção de coisas novas ao redor de Spock conforme ela abriu os olhos e começou a despertar. Ela se desvencilhou dos braços de Jim com cuidado, então se sentou, piscando várias vezes, até sua atenção e foco estarem alinhados outra vez.
Ela tinha aceito a proposta inusitada de tirar alguns dias de folga para ir visitar Iowa, o que James chamou de "lua de mel apropriada" No fundo, ela sabia que em breve ele poderia sentir falta da Enterprise e da aventura presente em uma nova missão, no entanto, ela teria o equilíbrio e sabedoria de relembrá-lo que a ideia de estar ali era dele e que deveriam aproveitar a companhia um do outro sem as preocupações de seus cargos.
Ela olhou a janela lá fora, um sol alto e brilhante iluminava um céu azul, projetando sua luz por quilômetros de campo verde. Era uma das paisagens mais lindas que ela já tinha visto na vida. Ao seu redor, o quarto era comum, com uma decoração modesta, porém sem replicadores ou computadores. É o que era estranho aos seus olhos, o que talvez levaria um tempo para se acostumar. Resolveu se levantar, esperando para ver quando Jim finalmente levantaria.
Outra coisa diferente era os trajes que usava, não costumavs usar roupas da Terra, mas já que estava ali, achava importante se adaptar aos costumes. Costumes esses que ela nunca teve a oportunidade de ver tão de perto assim, já que cresceu em Vulcano, já que tinha negado suas origens humanas o máximo possível e se acostumado a se contentar em saber da Terra pelo que sua mãe lhe contava.
Escolheu calças de moletom, sapatilhas e um suéter confortável. Penteou os cabelos numa trança frouxa. Sentou-se no meio da sala de estar, fechou os olhos e começou a meditar. Momentos depois, seus ouvidos aguçados ouviram a movimentação do marido.
Jim, por sua vez, sorriu ao vê-la, da forma mais relaxada que sua esposa vulcana poderia estar. Ele respeitou seu tempo e tratou de não perturbá-la, enquanto tentava não fazer barulho ao mexer na cozinha, se ocupando em fazer o café da manhã.
Sua esposa então terminou a meditação e veio lentamente até ele. Algo em seu íntimo a impulsionou a abraçá-lo por trás, deitando a cabeça no ombro dele.
-Achei que isso seria um jeito ilógico de me dar bom dia - ele a cumprimentou com um gracejo, mas grato pelo carinho.
-De fato, mas não menos confortável - ela murmurou de volta, se descencilhando dele agora, olhando em seus olhos - agradeço por não ter perturbado minha meditação.
-Jamais me atreveria a isso - Jim se justificou, falando sério - o que acha de ovos pro café da manhã?
-Parece apropriado, embora seu povo tenha hábitos de comer outras coisas também - ela comentou quietamente.
-Se quiser outra coisa, podemos buscar algo bem rápido no mercado, é só me dizer - ele ofereceu, completamente disposto a agradá-la.
-Não quero lhe dar trabalho, Jim, ovos servirão - ela o impediu de qualquer saída, erguendo sua mão.
-Está bem - ele se voltou para a frigideira, preparando os pratos para os dois - e o que gostaria de fazer hoje?
-Bom, você é o nativo, conhece a Terra melhor que eu, estou ansiosa para saber quais são seus planos de lazer - Spock respondeu, com um pequeno sorriso no final.
-Bom, minha querida esposa, eu tenho alguns planos em mente, só tenho minhas dúvidas se seriam do seu agrado - James respondeu em tom misterioso, de propósito.
-Não se preocupe, Jim, há um lado científico meu que cede à curiosidade - ela respondeu, refletindo sobre o assunto.
-Ah e você duvidava que eu teria recaídas em voltar ao trabalho, olha só pra você, citando ciências em sua lua de mel, nada apropriado, sra. Kirk - ele fingiu estar bravo com ela, o que a fez levantar uma sobrancelha em confusão.
-Não tenho vontade de retornar à Enterprise agora, minha metáfora de ciências foi apenas para justificar sua crítica anterior - ela cruzou os braços - e se me permite, meu caro marido, quanto mais tempo passarmos aqui, perderemos tempo de lazer juntos.
-Precisa como sempre - Jim a beijou de surpresa, outra coisa que fez de propósito.
O sobressalto que causou em sua esposa pelo beijo repentino o fez rir entre os lábios dela.
Spock acabou corando um pouco depois que se separaram, e constatando mais uma vez que gostava das investidas ilógicas do marido a respeito dela, ela resolveu confiar no que ele tinha em mente.
A primeira coisa que fizeram assim que deixaram a casa foi iniciar uma pequena caminhada. Antes do primeiro passo, Jim esticou uma mão para ela, um convite claro para andarem de mãos dadas. "Gesto de corte humano típico", Spock cogitou em silêncio antes de aceitar. Quando Jim segurou a mão dela, ele deu o maior dos sorrisos que poderia dar.
Enquanto andavam de mãos dadas, ele contou um pouco sobre os arredores da fazenda. Como tinha crescido ali e o que fazia para passar o tempo, como ele e Sam se metiam em encrenca por suas peripécias. Assim, chegaram ao estábulo mais rápido do que Spock poderia ter notado. Ouvir Jim falar sobre algo que apreciava tanto havia a deixado absorta.
Ela viu o apreço brilhar nos olhos dele enquanto acariciava o cavalo na baia. Era magnífico, com certeza, com o pelo castanho brilhante e escovado.
-É uma bela espécime - a vulcana elogiou abertamente.
-Ah sim, ele é filho do que eu costumava cavalgar, dei o nome de "Estrela Cadente" - ele contou enquanto acariciava o cavalo - apropriado pra um aspirante a cadete.
-Agora capitão - ela acrescentou com orgulho - as montarias terráqueas me lembram dos sehlats, lembra-se da minha mãe contando sobre o apreço que eu costumava ter pelo meu? Entendo o quanto a companhia dos animais pode ser reconfortante.
-Bom, meu amor, com isso em mente, por que não cavalga comigo? Ou se preferir, eu posso te ensinar, o que acha? -
-Estar na sela com você? O espaço mínimo para duas pessoas é um tanto ilógico - ela comentou - mas entendo que faça parte da experiência.
-Obrigado por concordar - Jim beijou a bochecha dela rapidamente e então se pôs a preparar o cavalo para cavalgar.
Spock observou tudo com um olhar curioso, sentindo o coração bater um pouco mais forte ao ver James Kirk completamente imponente, quase como um príncipe dos antigos contos de fada terráqueos que sua mãe costumava contar para ela quando era criança. O pensamento podia ser elegante, porém contar isso a Jim poderia deixá-lo vaidoso. Ela então se conteve com seus pensamentos, dando passos à frente, aceitando a mão que ele lhe oferecia para ajudá-la a subir na sela, ficando sentada na frente dele.
-Muito bem, se tiver algum problema, não hesite em me dizer e paramos, combinado? - Jim fez questão de deixar claro, para que a esposa se sentisse segura e confortável.
-Combinado - ela assentiu e esperou pelos comandos de Jim.
O animal forte e elegante saiu trotando pelos campos, em movimentos muito perceptíveis e não uniformes, completamente diferentes do movimento linear e imperceptível de uma nave estelar de como estavam acostumados. Bom, ao menos Jim estava acostumado com as duas maneiras de se transportar, dada a maneira como conduzia o cavalo tão naturalmente.
Spock pôde perceber o prazer que alguém poderia ter naquilo, uma espécie de sinergia compartilhada, com um toque de aventura e exploração. Foi aí que compreendeu porque a atividade era tão querida para o marido. Um tempo depois, ele parou para que os dois descessem.
-Então, o que achou? Ilógico demais? - ele quis saber a opinião dela.
-Uma atividade perfeitamente revigorante, entendo seu entusiasmo - ela comentou - e confesso que gostei muito, mas aprecio muito mais estar aqui com você.
-Você realmente pode ser surpreendentemente romântica quando quer - Jim a elogiou a seus modos também, a beijando em seguida.
Spock deixou se apoiar nos ombros dele, enquanto James a puxava para mais perto pela cintura. Nesse momento, a vulcana compreendia porque um momento longe dos afazeres e apenas um com o outro era tão importante, e até mesmo, feliz.
