Isabella

Colei nossos corpos no instante em que ele ligou o chuveiro deixando a água cair direto no seu cabelo molhando os cachos dourados, não nos importando com a temperatura da água, isso claramente não nos incomodava. Ele estava uma bagunça, mas eu sabia que a necessidade de um banho ia muito além do incomodo de estar sujo, assim como eu, Jasper também vinha usando o banho como uma forma de relaxar as tensões e frustrações, na minha humilde opinião era um meio bem eficaz, principalmente quando ele estava junto, então por isso que eu me intrometi e estava aqui com ele.

Uma água suja de terra escorria pela banheira e eu por um instante me perguntei se ele e Peter realmente rolaram pela floresta, mas eu não me importei de fato com isso enquanto despejava mais sabão na esponja fazendo espuma o suficiente e começando a esfregar seu corpo. Fazendo com que ele encostasse na parede e apenas relaxasse.

Não conversamos muito no caminho de volta. Eu não fiquei nenhum pouco contente de Peter ter me arrastado para fora, não quando eu tinha muito o que fazer, e ainda mais a dizer, mas fiquei muito satisfeita quando Jasper não demorou a nos seguir. E foi essa lembrança que me fez ficar na ponta dos pés e beijar seus lábios enquanto eu o tocava lentamente fazendo-o gemer.

Isso foi o suficiente para mudar completamente a intenção do banho.

Não demorou muito para que eu estivesse prensada na parede enquanto ele atacava meu pescoço e esfregava todo o meu corpo, ignorando completamente a existência do sabonete e da esponja.

Eu amava a forma como Jasper me tocava cheio e tesão, suas mãos sabiam como me dar prazer e eu me via sempre disposta e cheia de expectativa para retribuir. Ainda mais quando ele caia de joelhos na minha frente e sem cerimonia nenhuma colocava minha perna em seu ombro. Minhas mãos sempre voavam para seus cabelos quando sua língua começava a trabalhar inabalavelmente, e não foi muito diferente agora. Eu não impedi seus avanços, não faria isso com a desculpa de que precisávamos conversar, quando tudo em mim também o desejava.

Antes que eu pudesse fazer o mesmo, ele se levantou me erguendo em seu colo, ignorando meus protestos por atrapalhar meus planos, parando apenas para desligar a água então saiu do banheiro sem se preocupar em nos secar. Fui jogada na cama sem muita cerimonia, com ele parando de pé em toda a sua glória me encarando por um momento, não vou negar que não fiz o mesmo além de seu corpo maravilhoso, seus olhos também chamaram tanto a minha atenção com seu brilho faminto, e eu tinha certeza estava compartilhando da mesma sentimento. A escuridão que Jasper estava carregando em seus olhos não me assustava, naquele momento era tão acolhedora e convidativa que pela forma que ele me olhava era como se ter a mim era tudo o que ele precisava. Eu não me importava nenhum pouco com isso, eu apenas apreciei a forma como ele dentou sobre mim, cobrindo todo o meu corpo com o seu e me beijão deliciosamente se mexendo o necessário para encaixar seu corpo ao meu, tão perfeito.

A forma como seu pau estava rígido e pulsando na minha estrada me fez fechar os olhos cheios de expectativa. Jasper sabia como ser lento e carinhoso, as vezes safado e fogoso e eu me deliciava com todas as suas versões. Dessa vez, eu senti sua frieza em me penetrar. E isso me aqueceu, porque a forma como sussurrava "minha" me enchia de vontade de mordê-lo novamente para que não tivesse nenhuma dúvida de que ele era meu também.

Suas estocadas não tinham nada de delicadas e embora fossem apressadas, nós não estávamos com pressa de que acabasse, pelo contrário, me desliguei do tempo e de tudo o que estava a nossa volta me entregando apenas a sensação de tê-lo dentro de mim, cuidando de retribuir as carícias e querendo proporcionar todo o prazer do mundo a ele, beijos e carinhos nunca eram demais e se mostrava muito necessário reacendendo todo o desejo quando nem mesmo a metade dele avisa sido saciado, fazendo apenas nos querer ainda mais, eu não me via querendo soltá-lo e muito menos deixá-lo ir para longe de mim, nem toda água gelada do mundo faria com que nos desgrudássemos. Foi só quando eu o senti explodir, junto comigo e a quentura ganhar ainda mais significado dentro de mim que seu corpo tombou para o lado, mas mesmo assim não me soltando, apenas fazendo com que eu me juntasse a ele deitado em seu peito.

Nossos cheiros nunca estiveram tão misturados, as gotas de veneno ainda era visível em seu pescoço assim como eu tinha certeza que no meu também. A dor da mordida não era tão incomoda e seu veneno em meu corpo queimava de uma forma tão diferente, porque não era como se o meu lutasse contra o dele, mas sim como se o absorvesse, porque um pertencia ao outro.

- Porra, como eu te amo. - seu sussurro me fez sorrir, assim como seu beijo em meus cabelos, ocorreu no mesmo momento em que eu beijei seu peito. Não demorou muito para eu sentir, muito amor me envolvendo como se fosse seus braços pesados, era forte, era dominante e impactante e eu sabia que aquilo era ele querendo retribuir tudo o que eu estava fazendo sentir.

Em seus braços eu me sentia aquecida e protegida, e por mais que nossos corpos tivessem deixado aquele corpo quente e vivo para trás, nos tornando apenas uma junção de pedras frias e duras uma sobre a outra, o nosso amor era quente, tão quente que nos braços um do outro, poderíamos dizer que eramos humanos novamente.

Tinha finalmente tomado coragem de levantar, não era se eu sentisse preguiça, mas estar na cama com Jasper trazia um conforto que eu nunca pensei ser possível sentir depois de me tornar uma vampira, eu estava saindo do chuveiro, com meu cabelo ainda molhado e tinha acabado de enrolar a toalha em meu corpo quando Jasper abriu a porta do banheiro e entrou encostando na bancada da pia, tendo em mãos uma caneca. Seus olhos estavam afiados me analisando, ele tinha tomado banho primeiro e saído do quarto assim que o movimento pela casa começou, o que fez com que a cama ficasse sem graça e me fazendo levantar alguns minutos depois. Tínhamos passado longas horas trancados no quarto depois que voltamos da casa dos Cullens.

Enquanto me segurava em seus braços ele me contou como tinha sido a conversa com Maria, como ele se sentiu e como ele ainda se sentia. E mesmo que eu não tenha perguntado, ele me contou o que aconteceu depois do meu aniversário, como ele descobriu que a família estava saindo quando ele voltou do seu tempo na floresta, que Edward o culpava e que Alice insistia que seria o melhor, sua ultima visita a Peter antes de ele sair com a família para a Alemanha e como ele nunca se sentiu em paz e completo novamente.

Jasper carregava muito remorso referente ao que aconteceu naquela festa, mesmo que em nenhum momento eu o tenha culpado pelo ocorrido. E eu repetir não isso não parecia surgir algum efeito, então eu apenas o calei com um beijo para encerrar esse assunto que não nos faria chegar a lugar nenhum, já que isso tudo estava no passado e era lá que tinha que ficar.

Embora ele não tenha perguntado eu sabia que ele queria conversar sobre a minha vida no Exército. Eu era alguém para todos eles agora, isso era verdade, mas o caminho foi longo e difícil, eu perdi muitos ao longo dos anos, aqueles que eu queria que fossem fortes para se manter nessa vida, mas para alguns era tão difícil e inviável, que eles não conseguiam, era tão errado para eles terem acordado depois do que deveria ter sido sua morte. Teve aqueles que pediram para partir, por não terem nada que os instigassem a ficar entre nós, o sentimento de perder tudo era doloroso de mais seguir carregando adiante. Maria estava certa em muitas coisas, principalmente ao dizer que trazer a consciência aos recém-nascidos os tornariam fraco, ela não estava errada. Mas eu me mostrei estar certa também quando aceitei os que ficaram, nos tornamos fortes, incansáveis e determinados em conquistar tudo aquilo que queríamos.

Não nos considerávamos imortais e alguns até mesmo não faziam planos de viver anos a fio. Nossa vida não nos permitia esses luxos, as batalhas eram arriscadas e por mais que tivéssemos passado daquele tempo em que saiamos em busca de brigas por território, manter o que era nosso não era uma tarefa tão fácil.

Eu não sabia como me sentiria em conversar com ele, eu não me envergonhava de tudo pelo que passei, mas também, não me sentiria confortável, eu mudei meu jeito de pensar, agir e fui até mesmo além de alguns princípios que eu costumava carregar enquanto ainda era humana.

Poderíamos até mesmo dizer que eu me perdi… mas o sentimento de pertencer a algo, a um lugar nunca tinha feito tanto sentido.

- Temos visitas. - suas palavras foi apressada enquanto ele degustava de sua refeição. Seus olhos estando ainda mais rubros, o tom escuro juntamente com o peso que seu olhar ainda carregava me atraia ainda mais para ele. - Carlisle chegou junto com Emmett enquanto eu estava na cozinha, Emmett, ele… ele me chamou para correr com ele pelas trilhas envolta do colégio novamente, ele disse que quer conferir o que Charlotte nos contou sobre alguns rastros, mas tenho certeza que ele quer apenas conversar sobre ontem. - ele continuou me observando enquanto eu terminava de me arrumar sem dizer nada.

Ele me ofereceu sua caneca querendo me atrair para próximo dele, mas eu recusei agradecendo enquanto ainda esfregava a toalha em meu corpo depois de secar parte do meu cabelo e começava a me vestir. Se Carlisle estava aqui era porque ele veio atrás de respostas, nós dois sabíamos disso. Começar a tomar sangue humano tinha sido uma decisão dele, eu tinha um conhecimento limitado, porém profundo sobre esse assunto, tanto Peter quanto Charlotte discutiam diversas vezes sobre as estupidas decisões do Major, e eu não me importava de ficar perto e ouvir. Seu problema nunca foi descontrole em se alimentar, mas sim as desvantagens sobre o seu dom. sentir o medo, a dor e até mesmo a morte das pessoas em seus braços deveria ser desagradável, ainda mais sendo tão repetitivo.

Eu não deixaria ninguém se meter sobre isso achando que ele precisava de alguma intervenção.

Jasper era completamente capaz de responder e tomar decisões por si mesmo.

Seus olhos seguiram o movimento que a saia do vestido fez ao cair pelo meu corpo parando um pouco acima do joelho. Era um dos poucos que Char adora enfiar nas minhas coisas, esse tinha um tom verde floresta, ele era marcado um pouco abaixo do busto e a saia era solta com um detalhe tribal bordado na bainha, uma alça fina segurava o vestido em meus ombros, mas o que mais me fazia gostar dele era as mangas ciganas que ele tinha caída abaixo do meu ombro e ia até o meu cotovelo, com o mesmo detalhe tribal bordado, era tudo muito delicado e muito diferente do que eu costumava vestir no meu dia-a-dia. Eu penteei meu cabelo e o deixei caído em meus ombros e só quando eu fiquei satisfeita com o resultado me virei para encontrá-lo ainda parado no mesmo lugar, com a caneca erguida, mas seus olhos completamente vidrados em mim e no meu vestido.

Vestidos nunca foram minha peça de roupa favorita, mas se essa fosse a reação de Jasper sempre que me visse em um, eu poderia fazer o sacrifício de usar alguns deles mais vezes. Ele saiu do transe quando eu me aproximei e roubei um beijo de seus lábios entreabertos e sai do banheiro procurando minhas botas.

E dessa vez ele foi quem não disse uma palavra se quer, mesmo quando eu perguntei se tinha algum problema, ele também não saiu sem mim. Sua mão segurou firme a minha quando eu me aproximei da porta do quarto, ele tinha um sorriso em seus lábios e seu nariz enfiado em meus cabelos suspirando meu cheiro antes mesmo de eu abrir a porta. - Sua beleza é encantadora, cariño.

Carlisle não estava sozinho.

E eu não estava falando de Emmett nesse caso. Assim que eu entrei na cozinha, Maria me disse que meu pai e Carlisle tinham ido para o escritório conversar sobre ontem. E aquilo me irritou, me fazendo lembrar de um tempo em que as pessoas procuravam meu pai para conversar sobre mim, ou assuntos que poderiam vir a ser do meu interesse.

Eu me despedi de Jasper na cozinha mesmo e o empurrei para a porta aonde Emmett estava o esperando, quando ele deu a entender que iria me acompanhar. Eu ainda não tinha encontrado com meu pai, depois que Maria resolveu fazer uma roda e contar algumas histórias, sorte dela não ter sido envolta de uma fogueira… fofoqueira.

A questão é de forma alguma eu estava pronta para enfrentar os dois juntos quando o assunto era o que aconteceu comigo ao me tornar uma vampira e o porque.

Eu bati à porta apenas para anunciar a minha presença, eu não estava me preocupando com um convite para entrar e fazer parte da conversa. Carlisle ficou de pé assim que eu abri e passei por ela, seu cavalheirismo nunca sendo deixando de lado. Ele me cumprimentou com um meio abraço, mesmo que sua expressão não fosse muito feliz, assim como a do meu pai.

Ele coçou a garganta nervosamente, como se algo de alguma forma prejudicasse a sua fala. - Que bom que se juntou a nós Bella. Eu estava explicando a Charlie a pequena confusão que ocorreu em minha casa ontem e o motivo de eu ter saído as pressas com você da delegacia.

- Sim, eu acabei não conseguindo me encontrar com ele depois que voltamos, eu estive meio… ocupada conversando com Jasper. - a tosse ridícula de Charlie foi um belo exemplo de sutileza, ao ponto de superar a minha desculpa esfarrapada. Carlisle tentou esconder o sorriso, quando sussurrou algo como ele poderia imaginar.

- Eu sei que as coisas foram um pouco complicadas ontem, mas como eu disse eu não vejo um pedido de desculpa vindo por isso Carlisle. Eu vou conversar com Jasper... novamente. - acrescentei quando meu pai me olhou com a sobrancelha erguida. –, mas foi como eu expliquei, ele não estava em um bom momento ontem depois da nossa reunião.

- Eu tenho certeza que Charlie acabou não contando tudo, mas eu sei o suficiente para entender o quanto a minha família fez parte disso e mesmo que eu esteja muito atrasado para dizer isso, eu sinto que preciso dizer. - ele suspirou e se movimentou para segurar minha mão, já que ainda estávamos parados na frente um do outro. - Eu sinto muito Bella. Eu lamento que nossas escolhas a deixaram vulnerável, eu lamento que algumas falhas tenham afetados diretamente a você.

Suas escolhas de palavras me incomodou.

- Se por falha você quer se referir ao acidade que eu sofri no meu aniversário, saiba que eu não culpa Jasper. Eu nunca o culpei, nem mesmo quando eu estava caída no meio de sua sala sangrando. Você estava errado Carlisle, todos vocês erraram em não acreditar nele.

- Eu sei que falhei com Jasper, quando não acreditei tanto na sua capacidade…

- Você falhou em não conhecê-lo. Eu posso afirmar que eu o conheço melhor do que todos vocês, e nem vivi tempo suficiente com ele para isso, mas eu o ouvi mesmo quando ele não estava dizendo nada, eu o via pela casa sempre tentando ficar fora do meu caminho porque vocês achavam que isso era o melhor. Eu o via tentando se enquadrar se esforçando em se tornar alguém que os agradaria, quando na verdade vocês nem fizeram questão de conhecê-lo por si mesmo. Eu até mesmo conheci mais de Jasper quando se quer estava próximo a ele… me diga, você ao menos fez um esforço em conhecer os irmãos de Jasper? Aqueles que se arriscaram em voltar para resgatá-lo do inferno em que ele estava preso?

- Nossos encontros com Peter sempre foram breves, por conter alguns… conflito. - não pude conter o riso.

- Certo, dessa vez não posso atribuir a culpa a vocês. Peter Whitlock, pode ser irritantemente difícil.

- Insuportável, você quer dizer. - meu pai reclamou da sua cadeira, com seus olhos ainda preso em um papel que estava lendo.

- Tanto faz, pai. Mesmo assim, eu ouvi a história de um Major selvagem, de como ele destroçava recém-nascido e qualquer outro vampiro ou humano que se colocasse em seu caminho. Eu ouvi o quanto ele era eficiente e quanto ele era o preferido de Maria. Essa parte foi um Handall choramingando em meu ouvido, então pare de tremer seu bigode pai. - eu apontei para ele, antes que ele falasse algo. - Ele era mortal, isso era tudo o que eu ouvia, até que eu descobri que ele se importou com um dos recém-nascido e fez Maria ver potencial nele. E quando alguns anos depois essa mesma história não funcionou, ele apenas desobedeceu à ordem de matar Charlotte e a mandou embora junto com Peter, ele não foi apenas um pouco rebelde, ele quebrou uma regra de sua senhora, ele abriu mão de quem era o seu melhor amigo naquele lugar, apenas para que esse amigo não perdesse a sua companheira. Eu acredito que essa realidade de estar sozinho novamente naquele lugar pode ter sido mais doloroso do que qualquer castigo que Maria possa ter aplicado a ele naquela noite.

Eu encarei o homem a minha frente com a sua cabeça baixa, mas muito atento as coisas que eu dizia. Eu não o culpava por acreditar nas histórias, eu mesmo tinha lá minhas dúvidas se muitas elas foram de fatos inventadas, mas Jasper ajudar dois vampiros a fugir deveria ter contado como algo, além disso o fato de ele ter decidido aceitar o convite para um mundo melhor e segui-los alguns anos depois deveria ter deixado claro que ele realmente não queria ser apenas aquilo que Maria insistia que fosse, para o que ele foi criado. Ele acreditava que poderia ser diferente.

- Eu não estava apenas sendo uma cadela quando disse a sua filha que Jasper ficou fraco depois de conhecê-la. Jasper Whitlock nunca teve problemas com descontrole Carlisle. Ele criou Peter e Charlotte e muitos outros recém-nascido. Ele caçava humanos para alimentá-los. Seu único problema em se alimentar era a dor, nada a dele, mas a que ele sentia que infringia a vítima em seus braços. Ele viveu 70 anos com você e sua família, aguentando a forme de 7 vampiros vegetarianos. Ele aguentou muito por muito tempo. Então eu não senti medo e nem raiva, eu apenas estava muito preocupada com ele, no que aquilo faria com ele, não era culpa dele. E isso parece que não chegou a passar pela mente de vocês.

- Não era ele que estava sangrando no chão da minha sala, Bella.

- E não foi por culpa dele que eu parei lá naquele estado, Carlisle. Jasper se quer tocou em mim, não foi ele quem me empurrou.

A acusação não dita chamou o pegou de surpresa. Eu posso não ter dito com todas as palavras, mas Carlisle era um homem inteligente, seu único mal era sua ingenuidade.

- Você culpa Edward?

Meu sorriso não foi tão animado. Eu tive muito tempo para pensar no assunto, por mais que eu dissesse que não me importava mais, eu tinha muito tempo livre quando Handall me acorrentava, ou me trancava em uma sala com humanos esperando conseguir me quebrar de alguma forma. Quando eu não estava a fim de entrar em seus jogos, eu apenas deixava minha mente vagar. Então, depois que a dor do abandono perdeu para dor da transformação e todo aquele mundo novo que eu estava conhecendo, um completamente diferente de qual eu vivi, e um totalmente o oposto do que Edward e sua família me apresentou, eu me permiti divagar um pouco nas minhas lembranças.

- Eu não sei se essa informação chegou até você, mas Damian era um menino de rua quando o caminho dele cruzou com Handall em Dallas, ele tinha 14 anos quando eu coloquei meus olhos nele, amarrado, amordaçado e furioso. Eu já estava a 5 dias sem me alimentar e tinha acabado de sair do cativeiro de Handall, então estava cheio de férias que precisavam ser cicatrizadas, mas o cheiro de seu sangue era mil vezes mais atrativo para mim do que qualquer outro, de uma forma que encheu minha boca de veneno. Isso tudo porque ele cantava para mim, e meus instintos queria apenas responder ao chamado.

- Damian era seu cantor? Por isso Maria o transformou?

- O que eu sentia não era fome, era apenas desejo pelo seu sangue, o liquido vermelho e quente que corria pelo corpo dele. Mas o ódio de vê-lo rendido nas mãos de Handall superou tudo aquilo. Eu o queria, ele era meu, então eu o tomei. E a única coisa que se passava na minha mente era que eu não sabia o que iria fazer com ele. Damian não tinha para quem voltar, ninguém que pudesse sentir sua falta, sua morte não seria um problema para ninguém, a não ser para mim. Eu não o queria morto, eu apenas o queria comigo, então eu cuidei dele por 2 anos, lhe dei um teto em minha casa, o alimentei, o vesti e o treinei. Cuidei que ele ficasse longe de todos aqueles que fossem um risco e os fiz entender que ele fazia parte de nós. Ele era um menino humano vivendo no meio de um exercito de vampiro, e era importante para mim, todos sabiam e respeitavam isso, menos Handall claro. Não foi Maria quem o transformou. Eu o mordi, quando Handall invadiu nosso casebre e o feriu no peito.

- O que isso tem a ver com Edward…

- Eu ainda consigo me lembrar do cheiro do sangue de Damian, de todas das vezes em que ele se machucou e eu tive que ajudá-lo tendo que colocar meu autocontrole em prova para que ele não virasse o próximo jantar, meu e de nenhum outro. A atração pelo sangue é imensa e real. Edward vivia grudado em mim me cheirando e me tocando achando que isso o faria se acostumar, mas nada se comparava a ele ser pego de surpresa como foi, ainda mais depois dele já tê-lo experimentado depois da situação de James. Edward pode ter me empurrado para me manter longe de Jasper, mas ele também pode ter me empurrado para longe de si mesmo Carlisle.

- Edward era seu namorado, Bella. Como você poderia pensar isso. - seu questionamento não me incomodou e nem insultou e eu respondei com a sinceridade que ele precisava.

- Do mesmo jeito que todos vocês desconfiaram de Jasper. Mas vou ser legal e confessar que isso mesmo só passou pela minha cabeça quando comecei a conviver com Damian, já que eu mesmo tive que chutar sua bunda para longe de mim por algumas longas horas.

A pele perfeitamente esticada de seu rosto estava um pouco franzida e eu optei por dar-lhe um tempo para entender tudo o que eu falei desde que cheguei. Eu posso tê-lo bombardeado um pouco, mas um choque nas pessoas poderiam fazer bem, e Carlisle estava precisando e muito disso. Por um momento eu encarei meu pai, que ainda estava sentado nos dando um tempo.

Charlie não tinha se metido nesse assunto, ele me conhecia perfeitamente e me respeitou e seu silêncio durante a conversa era o claro apoio em tudo o que eu disse, mesmo não concordando alguma escolhas de palavras.

Decidindo que tinha falado o suficiente, eu toquei no braço de Carlisle chamando sua atenção e garantindo que estava tudo bem, comigo e com Jasper. Ele poderia estar preocupado com a mudança de alimentação, mas eu deixei claro que eu estava tranquila com isso, que apoiaria meu companheiro no que ele precisasse, fosse continuar do jeito que estava, ou voltar ao sangue animal. Eu não me importava com o que ele se alimentava, eu apenas me importava que ele continuasse vivo e comigo. Longe de uma vida dolorosa e limitada.

Eu fiquei presente na sala, sentada em uma das poltronas enquanto os via conversar sobre as coisas da cidade, o hospital estava funcionando perfeitamente, os suprimentos segurariam as pontas por mais algum tempo e meu pai garantiu que poderíamos já ir estudando um plano de ação para fazer futuras viagens. Mas agora o foco deles era garantir a segurança das crianças na escola. O último ataque e a morte dos jovens tinha sido algo que afetou bastante a cidade. Eles sentiram um gostinho do que seria a tragédia que muitas outras cidades ao longo do estado sentiram ao ter seus jovens, homens e mulheres desaparecendo.

O assunto continuou até que Carlisle comentou ter recebido mensagem de Aro solicitando uma reunião logo depois que saímos. Ele estava preocupado com seu amigo e estava realmente arrependido das decisões que tomou no passado, entre elas em enviar Laurent para seus amigos em Denali.

Para ser sincera e na verdade eu fui, eu deixei claro que não estava confortável em sair e ir até o Alasca no momento, mas eu entendia a sua preocupação e que na verdade faria isso mais por ele, do que por Aro e seu medo de ser superado.

Eu sabia que ela estava lá. E não era que eu tinha receio de encontrar com Victória novamente. Eu tinha prometido a mim mesma que a próxima vez que a encontraria eu colocaria um ponto final nisso. Eu só queria que meu passado parasse de bater a minha porta a todo instante. Ironicamente meu tempo seguindo ordens e sendo um dos lacaios de Maria, controlando um banco de recém-nascido estressados era um mar de rosas comparados a todo esse entra e sai de pessoas em minha vida. Eu precisava mais do que nunca estar entrada e focada, ser leviana em qualquer decisão poderia me custar muito. Victória era conhecido por ser ardilosa e traiçoeira, caso contrário ela não teria indo tão longe. Eu me negava a entrar em seu jogo sujo e ser arrastada para a lama com ela, Victória não estaria me tirando mais nada.

Carlisle se despediu quando seu telefone começou a tocar, o hospital estava precisando de sua atenção, mesmo quando não era o seu plantão, e eu fiquei contente com isso, já que mostrava que eles estavam confiando nele, mesmo depois da descoberta de quem era o Dr. Cullen e sua família perfeita.

A essa altura eu e meu pai tínhamos largado a nossa postura rígida, eu estava confortável na poltrona com minhas pernas cruzadas e as minhas mãos apoiadas no braço da poltrona. Já Charlie estava com sua poltrona bem reclinada, e eu tinha ciência de sua agitação pela forma nervosa em que sua perna tremia.

- Porque você não senta aqui do meu lado pai. E eu prometo tentar responder as perguntas que você tem.

Agora, era algo que precisava ficar claro. A relação que Charlie Swan tinha com sua filha nunca foi fácil. E eu sendo a outra parte dessa história e ter muito conhecimento sobre isso, me fazia querer que as coisas funcionassem certas e principalmente diferente a partir de agora.

Quando eu era criança nossa relação era fácil, mas conforme fui crescendo e Renée achou que seria melhor podar um pouco a situação foi quando tudo se complicou. Eu sabia que minha mãe tinha medo de ficar sozinha, mesmo que tenha sido sua escolha separar a família, eu não tinha plano de ir embora e não importava quantas vezes eu dissesse isso, ou o fato de eu nunca ter expressado tal interesse. Eu gostava do sol de Arizona, do calor, assim como eu amava as férias com meu pai, as noites de pizzas, as pescarias muitas das vezes fracassadas por minha culpa, eu até mesmo gostava das chuvas e a desculpa de não sair de casa. Eu amava ter um pouco dos dois mundos, me considerando até mesmo um pouco sortuda por tê-los. Até que… até mesmo escolher ir com Charlie se tornou estressante demais e desistir de ir, foi primeira falha como filha.

Eu não fiquei magoada com minha mãe quando ela decidiu que era uma boa ideia eu me mudar para Forks, mesmo depois de fazer de tudo para tirar de mim qualquer vontade de voltar para a cidade que um dia ela abandonou. Mas agora estava tudo bem, ela tinha se casado e estava super animada em viver essa nova fase com Phill e eu não me importei, eu sentiria falta de tudo o que estava deixando para trás, mas naquele momento eu me vi sentindo mais falta ainda do meu pai, mas como nem tudo são flores, eu tinha crescido e Charlie não sabia nenhum pouco como lidar com uma adolescente que cresceu desenvolvendo uma independência e responsabilidade além do normal para a sua idade. Ele estava pronto para cuidar da sua filha, e não tinha nada errado nisso, sendo que passar boa tarde da minha vida cuidando e me preocupando com as minhas próprias necessidades e tomando para mim responsabilidades de ir além e cuidar da casa e da minha mãe, não me fez apreciar a ideia de que tudo poderia ser diferente... Aquela Bella não estava pronta para agir diferente.

Charlie se quer pensou antes de levantar e puxar a poltrona para mais próximo de mim, sua mão direita agarrou a minha e acabou prendendo-a entre as duas. Estranhamente seu toque estava transmitindo um calor tão bom e reconfortante. Diferente do que eu me lembrava. Por estar sempre de plantão o que significava estar constantemente fazendo rondas pela cidade, mesmo sendo o chefe de polícia, meu pai raramente se mantinha aquecido. Charlie tinha as mãos muito frias, seus toques eram gelados não importava a época do ano, até mesmo no verão. Mas agora, senti-la quente quando a nossa nova fisiologia era tão diferente do que costumávamos ser mostrava o quando as coisas poderiam ser tão absurdamente fora do normal.

- Porque você não a odeia? - eu sabia que isso seria difícil para ele. E eu também não queria que isso pesasse na relação deles.

- Ah, mas as vezes eu a odeio. Agora por exemplo, estou odiando-a o suficiente por achar que está tudo bem me tratar como criança e me colocar de castigo trabalhando na delegacia, quando eu estava fazendo apenas o meu trabalho. - minha brincadeira e risadinha não aliviou muito a sua tensão. O que me fez suspirar. - Eu a odiei algumas vezes pai, quando Maria não conseguia ver o que que eu conseguia ver, quando ela matou aqueles vampiros me deixando ser a única viva naquele primeiro ano. Quando ela era teimosa o suficiente para não aceitar que era possível sim conseguir mais do que alguns pedaços de terras desertas. Eu a odiei tanto quando tive que engolir que ela também estava certa ao dizer que eu não poderia salvar todo mundo, que nem todos serviriam para essa vida, a minha nova vida. Eu a odiei por motivos completamente diferentes do que de fato você está me perguntando.

- Foi difícil para eu ouvir aquilo Bella e eu sei que ela não me contou tudo. Ela nunca escondeu de mim quem era. Eu só nunca tinha parado para te enxergar naquele cenário. Você chegou aqui sendo tão forte.

- E você não precisa pensar nisso pai. Passar por aquilo foi parte da minha trajetória, não foi fácil e nem… saudável, mas foi uma escolha minha. Eu não pedi os Cullens para irem embora e me deixar para trás. Eu não pedi que Victória me levasse e me fizesse te deixar, mas eu tinha a esperança de que se eu fosse sem causar problemas ela não voltaria por você ou Renée para me atingir. Não foi um pedido meu ser transformado por Maria, mas foi minha escolha ficar. Tudo aquilo era uma versão tão diferente do que os Cullens tinham me mostrado, era tão cru e verdadeiro, não havia promessas, não havia mentiras e nem mesmo a monotonia de viver uma vida-longa e próspera. As pessoas que tinham me prometido isso foram as mesmas que me deixaram abandonaram na primeira oportunidade, então eu não estava procurando por isso quando eu acordei com todas as minhas lembranças.

- Eu os odeio por isso. Eu sei que você está bem com a volta deles, mas não tem como simplesmente passar um pano encima da falta de responsabilidade deles.

- Eu apenas não me importo pai. Eu não preciso deles, eu não precisava naquela época, eu só era jovem e emocionada demais para perceber isso. A força e determinação que eu senti quando despertei vinha de dentro de mim, então sempre esteve comigo. Eu vi que não precisava deles para me tornar aquele algo a mais que eu queria ser mesmo quando ainda era humana, só que era tarde demais para eu perceber isso sem precisar mudar minha vida, eu só não poderia desperdiçar essa nova chance sendo apenas mais uma para Maria. Não foi meu dom que me manteve viva, eu não o utilizava porque eu não queria ser importante pelo que eu tinha, mas sim por que eu era. E eu consegui isso.

- Eu não consigo entender… você poderia ter vindo embora, porque você não saiu quando tudo estava difícil, filha. Maria poderia sim ter te matado a qualquer momento.

- Porque eu queria ficar. Eu acreditava que poderíamos fazer algo grande daquilo, e nós fizemos. Eu salvei tanto quanto perdi, pai, mas apenas ficar e tentar foi o suficiente para a diferença, eu consegui. Eu não tinha ideia que depois disso eles seria a causa que me faria querer voltar em busca de um lugar seguro para nós e assim garantir que todos aqui também ficasse seguros dos que tudo estava preste a se tornar. Eu não me arrependia de ter ficado pai, antes de voltar… e nem me arrependo de tudo o que aconteceu comigo mesmo estando aqui agora. Eu não olho para trás com amargura, então você pode ficar tranquilo com isso também.

- É meio difícil para um pai fazer isso, Bella. Não quando faz parte da nossa natureza proteger e preservar pela segurança de nossos filhos e eu sinto que falhei nisso.

- E eu sinto que falhei como filha, porque muitas das vezes fui contra todo o ensinamento que o senhor me ensinou, mesmo que em muitas delas ser o vilão para alguém foi o que garantiu a minha sobrevivência e a do meu pessoal. Então aprendi a conviver com isso.

- Então me resta aprender a conviver também né. - foi pequeno mas o seu sorriso estava lá. - Maria está arisca desde ontem não querendo se aproximar de mim, e olha que eu nem fui eu que fugi correndo da sala de reunião.

- Eu digo que ela é bipolar e ela não acredita, teve um tempo que eu me arriscava a dizer que ela ficou até mesmo mais mole do que eu. Ela carrega alguns arrependimentos assim como todos nós. E ela também estar aprendendo a conviver com isso, ainda depois que o karma brincou legal com ela e a fez se acasalar justamente com o meu pai.

- Isabella. - eu tinha certeza que se fosse possível suas orelhas teriam ficado vermelhas.

- Essa daí não precisou nem mesmo cuspir para o alto para cair na cara dela.

Eu rir sentindo mais felicidade de ver seu bigode tremendo, mesmo que ele se esforçasse em manter uma cara severa pelo meu comentário. Seu bigode era a minha característica preferida, em todos os meus desenhos na infância tinha um homem de bigode grande, um sempre maior que eu outro, com uma estrela amarela desenhada no peito. E isso não tinha mudado agora.

- Eu vou atrás dela. - com certeza ele iria.

- Sim faça isso, eu vou trocar de roupa e ir atrás de Jasper na floresta, vamos percorrer uma trilha que quero averiguar, então eu preciso…

- Ser uma boa menina e ir para a delegacia que é aonde você está trabalhando pelos próximos dias, querida.

Estava claro que sua diversão voltou a minha custas, nem todo o momento emocionado que passamos juntos naquela sala com um segurando a mão do outro e tendo um bom papo profundo serviu para conseguir fugir de toda aquela palhaçada que Maria inventou, sim eu com certeza desgostava muito dela agora, mas sabe, só em não vê-lo com os olhos carregados de uma culpa e fracasso que não o pertencia estava muito bom para mim.